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Conceitos Básicos em Biossegurança João Pedro Viana Rodrigues Conceitos Básicos em Biossegurança 2 Introdução Este conteúdo traz uma abordagem introdutória acerca dos conceitos básicos em Biossegurança, especificamente leis e diretrizes gerais que regem a Biossegurança; e o controle de agentes de risco, destacando temas relevantes no âmbito desses dois temas. Este conteúdo também discorre que a Biossegurança tem atraído grande atenção em diversas áreas. Com o desenvolvimento da biotecnologia, o equilíbrio e o desenvolvimento da Biossegurança e da inovação tecnológica terão influência sobre os seres humanos e a natureza. As diretrizes em Biossegurança tratam de várias questões importantes levanta o conceito de desenvolvimento sustentável. Ao passo que o controle de agentes de riscos, seja por meio das boas práticas de laboratório ou equipamentos de proteção individual e coletiva garantem que as leis em Biossegurança sejam obedecidas. Desse modo, este conteúdo tem a intenção de proporcionar reflexões sobre a importância de diretrizes que regem a Biossegurança a fim de padronizar a conduta das empresas e dos trabalhadores por meio do controle dos agentes de risco. Seu conteúdo está organizado em dois tópicos: “Introdução à Biossegurança” e “Controle de Agentes de Risco”. Ao apresentar esses temas, temos, também, a intenção de demonstrar que, eles estão intrinsecamente ligados, pois ao passo que se obedece às leis de Biossegurança, assegura-se o controle dos agentes de risco, promovendo a salubridade do indivíduo, do grupo e do meio ambiente. Objetivos da Aprendizagem Ao final do conteúdo, esperamos que você seja capaz de: • Compreender as diretrizes gerais que regem a biossegurança; • Identificar as práticas de biossegurança para controlar os riscos inerentes aos processos cotidianos. 3 Introdução À Biossegurança A Biossegurança é a aplicação de conhecimentos, técnicas e equipamentos para prevenir a exposição pessoal, laboratorial e ambiental a potenciais agentes infecciosos ou riscos biológicos. A Biossegurança define as condições de contenção sob as quais os agentes infecciosos podem ser manipulados com segurança. Seu objetivo é reduzir ou eliminar a exposição acidental ou a liberação de agentes infecciosos, incluindo bactérias, fungos, vírus, parasitas e culturas celulares. Este termo é usado para descrever os esforços para minimizar os riscos potenciais que podem advir do uso de biotecnologia ou seus produtos derivados. Biossegurança e Segurança do Trabalho A comunidade científica mundialmente trabalha em laboratórios dia após dia para encontrar curas para doenças, melhorar a saúde humana, animal e vegetal e compreender melhor os agentes infecciosos e as toxinas. Como acontece com todas as profissões, os trabalhadores de laboratório enfrentam riscos específicos em seu trabalho diário, que podem variar muito de projeto para projeto. Os cientistas aplicam os princípios da Biossegurança e os seguem cuidadosamente para garantir a segurança das pessoas dentro e fora do laboratório e a segurança do meio ambiente. Figura 01: Cientistas a desenvolver suas pesquisas em ambiente laboratorial Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: Na imagem, há dois cientistas em ambiente laboratorial condu- zindo suas pesquisas. 4 A Biossegurança é o uso de práticas específicas, equipamentos de segurança e edificações especialmente projetadas para garantir que os trabalhadores, a comunidade e o meio ambiente estejam protegidos de agentes infecciosos, toxinas e riscos biológicos. Um programa de biossegurança identificará perigos biológicos, medirá o nível de riscos relacionados à saúde que os perigos biológicos apresentam e identificará maneiras de reduzir os riscos relacionados à saúde associados aos perigos biológicos (STAPENHORST et al., 2018). Em inglês, há dois vocábulos para descrever biossegurança. Enquanto biosafety representa a biossegurança visa proteger a saúde pública e o meio ambiente da exposição acidental a agentes biológicos, a biosecurity trata da prevenção do uso indevido por meio de perda, roubo, desvio ou liberação intencional de patógenos, toxinas e quaisquer outros materiais biológicos. Saiba mais Embora semelhante, a biocontenção, por outro lado, é o uso de práticas de trabalho, equipamentos de segurança e sistemas de engenharia para evitar a liberação acidental de agentes infecciosos e toxinas no meio ambiente. Os controles de biocontenção podem incluir o uso de gabinetes de biossegurança, equipamentos de proteção individual, filtragem de ar ou outros mecanismos. A biocontenção evita que agentes infecciosos e toxinas cheguem aos trabalhadores do laboratório e deixem o ambiente do laboratório. Independentemente da indústria ou perigo específico, este princípio pode levar ao desenvolvimento de protocolos de biossegurança e biocontenção para proteger cientistas e outros trabalhadores do laboratório (STAPENHORST et al., 2018). A Occupational Safety and Health Administration (OSHA) publicou padrões de trabalho relacionados à biossegurança para promover um ambiente de trabalho seguro. Exemplos incluem: o padrão de patógenos transmitidos pelo sangue; o padrão de comunicação de perigo; e o padrão de equipamento de proteção individual (EPI). O princípio subjacente na cláusula de dever geral da OSHA é que um empregador deve fornecer a cada um de seus funcionários um emprego e um local de trabalho que esteja livre de riscos reconhecidos que causem ou possam causar morte ou sérios danos físicos a seus funcionários. Atenção 5 A segurança no laboratório é alcançada pela aplicação de princípios de contenção em camadas aplicados de acordo com a avaliação de risco para prevenir a exposição dos trabalhadores do laboratório a um patógeno ou a fuga inadvertida de um patógeno do laboratório microbiológico. Pesquisadores vislumbram uma nova epidemia em breve ocasionada pelo uso inadequado de antibióticos que acarreta a geração de superbactérias, resistentes a antibioterapia usual. Para saber mais acesse o link . Saiba mais As camadas de segurança incluem contenção primária e secundária. A contenção primária fornece proteção imediata aos trabalhadores do laboratório biológico contra a exposição a riscos químicos e biológicos. As barreiras primárias incluem gabinetes de segurança biológica, coifas e outros dispositivos de engenharia usados por técnicos de laboratório durante o trabalho com um perigo biológico. A contenção secundária tem como objetivo proteger o trabalhador do laboratório, a comunidade e o meio ambiente da contaminação não-intencional com um perigo biológico. A contenção secundária consiste em elementos de projeto arquitetônico e mecânico de uma instalação que evita a contaminação do trabalhador e o escape de patógenos do laboratório para o meio ambiente. Apesar de todos os esforços alguns incidentes de biossegurança aconteceram durante a história. Incidentes de biossegurança laboratorial incluem infecções acidentais adquiridas em laboratório e liberações laboratoriais de patógenos letais, falhas de contenção em ou durante o transporte de patógenos letais e incidentes de exposição de patógenos letais ao pessoal do laboratório, descarte impróprio de resíduos contaminados e/ou o fuga de animais de laboratório. Para saber mais acesse o link . Atenção Equipamentos de proteção individual (EPI), como luvas, jalecos e óculos de segurança também podem ser considerados uma contenção primária, no entanto, os artigos usados no corpo são considerados uma última linha de defesa e são usados apenas 6 em conjunto com outros elementos de contenção primários e secundários ao trabalhar com organismos patogênicos (TEIXEIRA; VALLE, 2010). Figura 02: Ambiente laboratorial Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: Na imagem, há um laboratório com equipamentos dispostos sobre a bancada. Um importante elemento de biossegurança sugerido para todos os quatro níveis de biossegurançaé o treinamento de biossegurança. A oferta de treinamento básico em biossegurança é considerada uma boa prática e geralmente é fornecida para visitantes, estudantes e trabalhadores em laboratórios biológicos. Treinamento especializado também é exigido para trabalhos que tenham o potencial de expor funcionários de laboratório a sangue humano ou produtos de sangue humano e para procedimentos que requeiram o uso de um respirador. Santiago Ramón e Cajal escreveu um guia anedótico para o novo cientista perplexo, bem como um recurso refrescante para o velho profissional, cobrindo tudo, desde valiosos traços de personalidade para um investigador a fatores sociais que conduzem ao trabalho científico. Acesse o link e leia mais. Saiba mais 7 Os cientistas que trabalham em laboratórios biológicos geralmente precisam demonstrar competência antes de trabalhar em um laboratório, essencialmente competência e confiabilidade são necessárias para trabalhar em uma instalação de alta contenção. Como o treinamento de competência é específico de laboratório e projeto, o cientista líder ou investigador principal tem a responsabilidade de trabalhar com o responsável pela biossegurança; integrar a biossegurança aos procedimentos laboratoriais e garantir o treinamento de competência do pessoal do laboratório. A contenção é definida em níveis que aumentam de complexidade à medida que aumenta o risco associado ao trabalho no laboratório microbiológico. Todos os níveis de contenção têm recursos de contenção primários e secundários definidos. Esses níveis são descritos por uma série de práticas de trabalho, tecnologias aplicadas e projeto de instalação construído sobre uma base comum, referido como nível de biossegurança 1 (NB-1). Atenção Política Nacional de Biossegurança Em 2005, o então presidente da república à época sancionou a Lei da Biossegurança, legalmente identificada por n.° 11.105/2005. Essa lei legisla acerca da regulação e do estabelecimento de normas de biossegurança e de estratégias de fiscalização de toda e qualquer atividade, seja pública ou privada, que porventura, envolva os organismos geneticamente modificados (OGM’s) e seus derivados. Além disso, a lei também dispôs acerca da Política Nacional de Biossegurança e criou um órgão competente relacionado, a Conselho Nacional de Biossegurança. Ademais, porém não menos importante ou necessário, a lei também reestruturou a já existente Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, a fim de adequá-la à nova lei recém-sancionada (BRASIL, 2005). Lei 11.205/2005: ...estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção do meio ambiente 8 Tal ato se deve ao uso crescente de OGM’s em pesquisas científicas mundialmente, inclusive no Brasil. O desconhecimento de causa sobre o assunto e os apelos midiáticos que publicizavam a temática época ocasionavam questionamentos e insegurança à população em relação a esses organismos. O texto da lei é bastante complexo e abrangente em si, e demonstra seriedade e gravidade dos temas expostos no documento. Essencialmente, a lei é de extrema importância para o país presta-se a manter segurança da biodiversidade nacional. Os seus dispositivos acarretam várias consequências de cunho ambiental, sanitário, agrícola, jurídico, socioeconômico e cultural para a nação brasileira. Para melhor compreender a Lei 11.205/2005 que legisla acerca da Política Nacional de Biossegurança, clique aqui. Saiba mais A lei como um todo baseia-se no princípio da precaução, cuja definição é a proteção do meio ambiente através da realização de ações cautelosas. Em outras palavras, a lei preconiza que se deve aplicar medidas de precaução caso haja risco significativo de ocorrência de impactos ambientais danosos, mesmo em circunstâncias nas quais haja o desconhecimento científico sobre a probabilidade de acontecimentos. A aplicação da lei é proveniente da sinergia da incerteza científica aninhada à possibilidade de ocorrência de graves riscos ambientais (BRASIL, 2005). Figura 03: Uma maça verde com implantes de kiwi e laranja Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: Na imagem, há uma maça verde com implantes laterais de kiwi e laranja. 9 Todavia, apesar da presteza do governo em se precaver de situações negativas que envolvessem OGM’s, a lei sofre algumas críticas. A primeira e mais iminente seja as disposições da lei sobre OGM’s e células-tronco. Embora seja de extrema importância legislar sobre essas temáticas, estão são muito díspares para estarem dispostas em uma mesma lei. Também se critica a ineficiência dos órgãos relacionados – Conselho Nacional de Biossegurança e a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. Por fim, desde sua criação, a lei anda não passou por atualizações, mesmo que a ciência tenha avançado a passos largos desde aquela época. 1. Abrangência As disposições da lei sobre OGM’s e células-tronco. Embora seja de extrema importância legislar sobre essas temáticas, estão são muito díspares para estarem dispostas em uma mesma lei. 2. Ineficiência Os órgãos criados/atualizados pela própria lei – Conselho Nacional de Biossegurança e a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – mostram ineficientes de exercer a função para o qual foram criados. 3. Impacto A lei favorece prática da agricultura por multinacionais agrícolas que tem poder aquisitivo de acesso a OGM’s em detrimento a pequenos produtores familiares, causando impactos socioeconômicos, ambientais e agrícolas. 4. Desatualização Desde sua criação, a lei ainda não passou por atualizações, mesmo que a ciência tenha avançado a passos largos desde aquela época. Os riscos para a utilização de organismos geneticamente modificados é potencial, seja para o homem, para os animais ou para a o meio ambiente, pois afetam sobretudo a saúde, mas também a sobrevivência das espécies e até mesmo o comércio internacional. A soberania nacional, mesmo que supostamente preservada pela lei, é ameaçada ao mesmo tempo, pois libera a produção e o cultivo de alimentos a partir de sementes modificadas monopolizadas por multinacionais agrícolas, o que 10 pode causar uma dependência de tais insumos e ameaçar a condição do país como território de biodiversidade mundial (SCHLINK; MARTINS, 2014). Normas e Regras Gerais de Biossegurança As normas e regras de biossegurança são um conjunto de políticas, regras e procedimentos necessários a serem observados pelo pessoal que trabalha em instalações laboratoriais que lidam com agentes microbiológicos, como bactérias, vírus, parasitas, fungos, príons e outros agentes e produtos microbiológicos relacionados. As instituições que exigem adesão estrita a essas diretrizes de biossegurança incluem laboratórios clínicos e microbiológicos, instalações de pesquisa biomédica, laboratórios de ensino e treinamento e outras instituições de saúde, por exemplo, clínicas, centros de saúde, instalações hospitalares. Essas diretrizes têm como objetivo fornecer gestão e regulamentação adequadas dos programas e práticas de biossegurança implementados em todos os níveis da organização. Figura 04: Cientista manipulando sua amostra Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: Na imagem, há um cientista manipulando sua amostra em laboratório. 11 Os componentes essenciais das diretrizes de biossegurança contêm alguns ou todos os seguintes itens, dependendo da instalação: avaliação e identificação de biossegurança; medidas específicas de biossegurança, que contemplam o códigode prática, instalações físicas como projeto e instalações de laboratórios, aquisição e manutenção de equipamentos, vigilância médica, treinamento de pessoal, manuseio seguro de produtos químicos, com segurança contra incêndio, radiação e eletricidade, entre outras. Componentes adicionais podem ser incluídos, como diretrizes de comissionamento e certificação para as instalações (HIRATA; MANCINI FILHO, 2002). As práticas de biossegurança laboratorial baseiam-se no princípio da contenção de agentes biológicos para evitar a exposição dos trabalhadores do laboratório e do ambiente externo. A contenção primária protege os trabalhadores do laboratório e o ambiente imediato do laboratório da exposição a agentes biológicos. A contenção primária é obtida por meio de boas técnicas microbiológicas e do uso de equipamentos de segurança e de proteção individual. A contenção secundária protege o ambiente fora do laboratório e é fornecida pelo projeto da instalação e pelos procedimentos operacionais. O uso de boas práticas de laboratório (BPL) é o elemento de contenção mais importante. O pessoal que trabalha com agentes biológicos deve estar ciente dos perigos e deve ser treinado para manusear e descartar esses materiais com segurança. Embora sejamos todos responsáveis por nossa própria segurança, o pesquisador principal é responsável por garantir que as pessoas que trabalham em seu laboratório sejam adequadamente treinadas (HIRATA: MANCINI FILHO, 2002). Figura 05: Cientista paramentado manipulando sua amostra Fonte: Jacopo Werther, Wikimedia Commons (2011). #PraCegoVer: Na imagem, há um cientista paramentado com o equipamento de proteção individual manipulando a sua amostra em laboratório. 12 Os equipamentos de segurança incluem equipamentos de segurança e outros controles de engenharia projetados para minimizar a exposição a agentes biológicos. As cabines de segurança biológica são os equipamentos de segurança mais importantes para a proteção do pessoal e do ambiente do laboratório, e a maioria das cabines também fornece proteção ao produto. O equipamento de segurança é mais eficaz para minimizar a exposição quando os trabalhadores são treinados no uso adequado de tal equipamento e o equipamento é regularmente inspecionado e mantido (PENNA et al., 2010). Os equipamentos de proteção individual incluem óculos de segurança, jalecos, luvas e outros equipamentos de proteção, e são usados para complementar a contenção fornecida pelas práticas de laboratório e equipamentos de segurança. O equipamento de proteção individual é considerado o método de contenção menos desejável porque sua falha resulta na exposição direta do pessoal ao agente biológico. Atenção As características do projeto das instalações incluem a separação física dos laboratórios do acesso público, sistemas de ventilação especialmente projetados, para evitar que os agentes biológicos aerotransportados migrem para fora do laboratório e autoclaves. Essas características de projeto protegem o pessoal que trabalha fora do laboratório imediato, bem como o ambiente externo. Controle de Agentes de Risco Introdução O controle de agentes de risco em biossegurança ajuda a identificar a probabilidade e as consequências da ocorrência desses riscos. Isso é usado para garantir que todas as pessoas potencialmente expostas a riscos estejam protegidas do risco potencial. Somente após a realização de uma avaliação de risco, um conjunto apropriado de procedimentos de contenção pode ser selecionado para proteger os envolvidos em potenciais riscos. A avaliação e o controle de riscos geralmente considera os fatores associados, uma avaliação dos procedimentos ou tarefas envolvidas no trabalho proposto e uma revisão do pessoal que executará o trabalho. 13 Esse é o processo correspondente de seleção de medidas de contenção adequadas para garantir que os riscos biológicos sejam controlados de maneira adequada. Todo o processo de avaliação, gerenciamento e controle de riscos cobre a desde a identificação do risco até o desenvolvimento medidas de controle, ou até mesmo sua inativação. Vale ressaltar que cada etapa do processo de trabalho deve ser analisada quanto ao risco potencial para o pessoal. Boas Práticas de Laboratório As Boas Práticas de Laboratório (BPLs) são definidas como um sistema de qualidade relacionado ao processo organizacional e às condições sob as quais os estudos não clínicos de saúde e segurança ambiental são planejados, realizados, monitorados, registrados, arquivados e relatados. O objetivo das BPLs é, portanto, promover o desenvolvimento de dados de teste de qualidade e fornecer uma ferramenta gerencial para garantir uma abordagem sólida para o gerenciamento, incluindo a conduta, relatórios e arquivamento, de estudos de laboratório. As BPLs podem ser considerados como um conjunto de critérios a serem satisfeitos como base para garantir a qualidade, confiabilidade e integridade dos estudos, o relato de conclusões verificáveis e a rastreabilidade dos dados (PENNA et al., 2010). Consequentemente, as BPLs exigem que as instituições atribuam funções e responsabilidades a fim de melhorar a gestão operacional de cada estudo e se concentrem nos aspectos da execução do estudo – planejamento, monitoramento, registro, relatório, arquivamento – que são de especial importância para a reconstrução de todo o estudo. Uma vez que todos esses aspectos são de igual importância para a conformidade com as BPL, não pode haver qualquer possibilidade de usar apenas uma escolha de requisitos e ainda reivindicar conformidade com as BPL. Nenhuma instalação de teste pode, portanto, legitimamente reivindicar conformidade com as BPL se não tiver implementado, e se não estiverem em conformidade, com toda a gama de regras das BPL. Ao mesmo tempo que as BPLs fixam as regras de boas práticas laboratoriais de forma gerencial e administrativa, elas também auxiliam o pesquisador a realizar seu trabalho de acordo com o seu próprio plano pré-estabelecido, e padronizam os procedimentos de planejamento, registro, relatório e arquivamento. Atenção 14 Os regulamentações não se preocupam com o conteúdo científico ou técnico dos estudos realizados em conformidade e não visam avaliar o valor científico dos estudos, uma vez que esta última tarefa é reservada às autoridades de registro. No entanto, os requisitos para um planejamento adequado, para o registro fiel de todas as observações e para o arquivamento completo de todos os dados brutos obtidos, servirão para eliminar muitas fontes de erro nos estudos conduzidos em conformidade com este regulamento. As boas práticas de laboratório, aplicadas em qualquer que seja o setor visado, enfatizam a importância dos seguintes pontos principais: 1. Recursos Organização, pessoal, instalações e equipamentos. 2. Regras Protocolos, procedimentos operacionais padrão e regras do laboratório. 3. Caracterização Itens de teste, sistemas de teste. 4. Documentação Dados brutos, relatório final, arquivos. 5. Garantia da Qualidade Independência da condução do estudo. A implementação de BPL apresenta problemas para organizações iniciantes, não porque necessariamente requeira um grande investimento financeiro, mas porque representa um desafio organizacional. Embora existam muitas maneiras de obter conformidade com as BPL, as etapas recomendadas são baseadas em estudos, leis, diretrizes e experiência prática de cientistas que já implementaram as BPL. A implementação das BPL deve ser um esforço colaborativo, de preferência apoiado com entusiasmo pela alta administração, e envolvendo pessoal que pratica uma variedade de disciplinas, como pesquisa, garantia de qualidade, manutenção, metrologia, recursos humanos, 15 documentação, arquivos. A implementação é mais bem organizada na forma de um projeto, com uma equipe de pessoas que obtém sua autoridade diretamente da alta administração (SENNA; MÜLLER, 2020). É importante lembrar que todo o esforçodepende de a administração definir o escopo da implementação das BPL, dando à equipe do projeto seu mandato. O apoio da gestão é essencial para que o projeto avance no ritmo acordado. A alta administração não deve se envolver diretamente nos negócios do dia a dia do processo de implementação, de modo a reter alguma medida de imparcialidade para a resolução de conflitos. Os membros da equipe do projeto precisarão ter o apoio explícito de seus superiores imediatos, uma vez que necessitarão de dispensa de suas funções habituais, e necessitarão de um mandato de seus superiores para comparecer às reuniões de equipe. Finalmente, o líder da equipe do projeto deve ter acesso imediato a todos os níveis de gerenciamento em todos os departamentos envolvidos. Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) Nos locais de trabalho, as pessoas passam cerca de um terço de suas vidas. O conteúdo do trabalho e o local de trabalho têm um efeito positivo sobre o funcionário, garantindo o cumprimento dos objetivos de carreira e o bem-estar econômico. Ao mesmo tempo, afeta muito o estado da saúde humana, a produtividade e a motivação. O maior valor de qualquer empresa é o seu funcionário, aliás, saudável e apto para o desempenho qualitativo das funções que lhe são atribuídas. Do ponto de vista da proteção do trabalho, o trabalho em laboratórios deve ser considerada um dos setores mais perigosos, uma vez que os trabalhadores frequentemente estão submetidos a riscos, além de estarem mais susceptíveis a sofrer acidentes de trabalho e ser acometidos por doenças profissionais. Acidentes em laboratórios podem ter consequências graves, muitas vezes letais. O dever do empregador é fornecer um ambiente de trabalho seguro para seus funcionários - incluindo tudo o que é necessário para trabalhar com segurança (COSTA, 2000). As medidas de proteção coletiva protegem a todos ou um grupo de pessoas. Eles podem ser colocados em prática uma vez e controlam o risco para muitos. As medidas de proteção pessoal protegem um indivíduo. Cada usuário precisa ativá-lo para se proteger. Com base nos resultados da avaliação de risco do ambiente de trabalho, o empregador precisa estabelecer medidas para evitar a ocorrência de acidentes, como por exemplo: 16 1. Eliminação do Perigo Essa situação seria a ideal, todavia, frequentemente não é exequível devido a estrutura e recursos disponíveis. 2. Treinamento Realizar cursos e workshops com os laboratoristas para instrui-los acerca das condições ideais de trabalho. 3. Equipamentos Utilização de equipamentos de proteção coletiva (chuveiro de emergência, lava- olhos, extintores, capelas de exaustão etc.). 4. Manutenção Manutenção e monitoramento do uso dos equipamentos pelos colaboradores. Apesar de também haver equipamentos de proteção individual, não precisa apenas escolher um ou outro para utilizar. Pode-se usar medidas de proteção coletivas com as individuais. Ou, o uso de um tipo de controle pode eliminar a necessidade de usar outro. Os empregadores têm a responsabilidade legal de proteger seus funcionários de danos, mas decidir sobre as medidas de controle corretas geralmente é uma questão de avaliação, julgamento, orientação e experiência. A lei não diz quais medidas de controle usar, mas exige que os empregadores, e os autônomos, reduzam o risco o mais baixo possível. As medidas coletivas são denominadas coletivas porque protegem mais de uma pessoa. Eles protegem um grupo, ou mesmo todos, no desempenho da tarefa. Por exemplo, se você estiver trabalhando em altura, o uso de um andaime oferece a todos no local um acesso seguro. Normalmente, as medidas de proteção coletiva são a melhor opção e sempre devem ser consideradas em primeiro lugar. Não apenas porque protegem muitos, mas também porque geralmente não requerem ação dos indivíduos que os utilizam. Por exemplo, se sua equipe está trabalhando em um experimento manipulando um reagente cancerígeno, este deve ser manipulado dentro da capela para a segurança de todos que frequentam o laboratório (COSTA, 2000). 17 Figura 06: Capela de exaustão utilizada para manuseio de reagentes voláteis Fonte: Quimis Aparelhos Científicos, Flickr (2012). #PraCegoVer: Na imagem, há um cientista paramentado com o equipamento de proteção individual manipulando a sua amostra em laboratório. As medidas de controle coletivo devem sempre ter prioridade sobre as medidas de controle pessoal. As medidas coletivas protegem mais de uma pessoa ao mesmo tempo, por exemplo, andaimes, airbags, redes etc. e geralmente são passivos, ou seja, não exigem nenhuma ação do usuário para funcionar de maneira eficaz. Quando você deve usar medidas de controle coletivo? Bem, tanto quanto possível. Os benefícios das medidas de proteção coletiva são: proteja mais de uma pessoa por vez e muitas vezes são passivos e não requerem nenhuma ação do usuário. Portanto, os controles coletivos devem ser preferidos aos controles pessoais. Se você pode usar uma medida de controle coletivo para proteger a todos, então faz sentido fazer isso. Isso ajudará a garantir que você reduziu o risco o mais possível e protegeu o máximo de pessoas possível (VARELLA, 1999). 18 Equipamentos de Proteção Individual (EPI) Proteger-nos para que possamos continuar a ajudar os outros é uma prioridade para os profissionais de saúde em todo o mundo. Isso inclui estar consciente e atualizado com as medidas de prevenção e controle de infecções e a implementação adequada de equipamentos de proteção individual (EPI), higiene das mãos e gerenciamento de resíduos de materiais potencialmente nocivos. O equipamento de proteção individual consiste em roupas colocadas para proteger os profissionais de saúde ou qualquer outra pessoa contra o contágio. O início do processo de paramentação com o material de proteção individual se dá com a lavagem das mãos. O uso de álcool em gel não substitui a lavagem das mãos. A lavagem das mãos deve ser um reflexo automático, após atividades que possam promover o contato com contaminantes ou fluidos corporais, após o uso do banheiro, antes e após as refeições, bem como qualquer outra atividade que possa comprometer o saneamento de suas mãos. Na dúvida, lave as mãos. É importante compreender que os desinfetantes para as mãos à base de álcool não matam todos os tipos de germes ou bactérias. É uma ferramenta prudente além da lavagem das mãos, mas nunca deve substituir a prática de lavar as mãos e uma boa higiene. Atenção O EPI normalmente inclui proteção facial, óculos e máscara ou protetor facial, luvas, jaleco ou macacão, cobertura para a cabeça e botas de borracha. A proteção dos trabalhadores da saúde contra exposições a doenças infecciosas no local de trabalho requer uma combinação de controles: • Treinamento e controles administrativos: fornecendo treinamento adequado de segurança e controle de infecção para profissionais de saúde, e contro- les administrativos, como estabelecimento e aplicação de políticas e proce- dimentos de isolamento, também procedimentos para identificar pacientes com doenças transmissíveis antes da exposição ao profissional de saúde; • Controles de engenharia: como salas de pressão negativa para pacientes com doenças transmitidas pelo ar, como tuberculose; • Controle da prática de trabalho: por exemplo, não reencapar agulhas; 19 • Equipamento de proteção individual (EPI): Embora o EPI esteja no fim da hie- rarquia da prevenção, ele é muito importante para proteger os profissionais de saúde da transmissão de doenças. Figura 08: Material de proteção individual Fonte: Macrovector, Freepik (2021). #PraCegoVer: Na imagem, há um indivíduo paramentado com todo o material de proteção individual. O EPI é usado em todos os ambientes de saúde: ambientes de cuidado agudo; cuidado a longo prazo; ambulatório e cuidado comunitário. O EPI é necessário quando ocorre contato com pacientes, residentes e demais indivíduos nos locais previamente citados. Os EPIs são dos maisvariados tipos e incluem: 20 1. Luvas Protege suas mãos de micróbios e minimiza a possível disseminação de micróbios. 2. Máscaras Cubra a boca e a área nasal. Algumas máscaras têm uma peça de plástico transparente, que também cobre os olhos (escudo). Uma máscara respiratória especial (respirador) forma um selo apertado ao redor do nariz e da boca. Pode ser útil para minimizar a inalação de micróbios menores, como bactérias da tuberculose. 3. Proteção para os olhos Inclui protetores faciais e óculos de proteção. Eles podem proteger as membranas mucosas dos olhos dos fluidos corporais. Se os fluidos entrarem em contato com os olhos, os micróbios dentro do fluido podem entrar no corpo através das membranas mucosas. 4. Vestuário Inclui vestidos, aventais, coberturas para a cabeça e protetores de sapatos. 21 Conclusão Este conteúdo apresentou uma reflexão sobre os princípios básicos que norteiam a Biossegurança e quão importante essa área de estudo é para a manutenção da salubridade de trabalhadores e para o meio ambiente. Observa-se que apesar dos esforços do país em criar uma Lei de Biossegurança que promova critérios e preste- se a fiscalizar ações relacionadas, a lei em si é insipiente e precisa ser atualizada, adaptando-a para atender tópicos em biossegurança de fato. Notamos que o controle dos agentes de riscos é constituído por abordagens multifatoriais, que vão desde as boas práticas de laboratório - planejamento, monitoramento, registro, relatório, arquivamento; contemplando os equipamentos de proteção coletiva (EPC) e equipamentos de proteção individual (EPI), que não são abordagens exclusórias, mas que se complementam em sinergia para promover a segurança do indivíduo e do grupo do qual ele faz parte. Por fim, a Biossegurança baseia-se, de forma geral, na lei da cautela, que preconiza que o excesso de cuidado é essencial para prever e evitar um mal, um dano, um perigo. É importante sempre usar o bom senso e quando em ambientes laboratoriais buscar agir com prudência, precaução e muito cuidado. 22 Referências BRASIL. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados [...], e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2005]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm. Acesso em: 4 jul. 2021. CAJAL, S. R. Advice for a young investigator. Cambridge: Bradford book, 1999. Disponível em: https://bit.ly/2HKMZJa. Acesso em: July 5, 2021. COSTA, M. A. F. Qualidade em Biossegurança. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2000. HIRATA, M. H.; MANCINI FILHO, J. Manual de Biossegurança. Barueri: Manole, 2002. 496 p. LIST of laboratory biosecurity incidents. Wikipedia, July 2021. Available at: https:// en.wikipedia.org/wiki/List_of_laboratory_biosecurity_incidents. Accessed on: July 5, 2021. MEDIAVILLA, D. Superbactérias, a próxima pandemia. El País, 31 ago. 2020. 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