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a coLônIa portugueSa na amérIca 37 A AdministrAção coloniAl portuguesA e os poderes locAis A administração da colônia, dividida em dois go- vernos-gerais, voltou a ser unificada com o governa- dor Lourenço da Veiga, de 1578 a 1608. Nesse último ano, uma nova divisão, abandonada em seguida, foi feita. Em 1621, realizou-se outra divisão administrati- va da colônia, dessa vez entre o estado do Maranhão e Grão-Pará (com capital inicialmente em São Luís e depois em Belém) e o estado do Brasil, com capital em Salvador, e, a partir de 1763, no Rio de Janeiro. Depois de 1640, tornou-se cada vez mais comum usar-se o tí- tulo de vice-rei em lugar de governador-geral. As capitanias hereditárias e os governos-gerais continuaram convivendo até o século XVIII, enquanto se dava a progressiva criação de capitanias da Coroa, como a da Bahia de Todos-os-Santos e São Sebastião do Rio de Janeiro. Administradas por um governador nomeado pelo rei, foram aos poucos substituindo as capitanias hereditárias particulares por meio de com- pra, ou por falta de herdeiros ou, ainda, por não esta- rem efetivamente ocupadas. O governador-geral da colônia e os governadores das capitanias chegaram a contar com tropas regula- res e profissionais. Eram compostas de milícias e or- denanças. As milícias eram regimentos portugueses, uma força auxiliar formada por homens da população urbana, que não recebiam remuneração e prestavam serviço obrigatório. As ordenanças eram organizadas sempre que necessário, reunindo toda a população masculina em condições físicas e idade militar (entre 18 e 60 anos). Essa organização militar ajudou a impor as diretri- zes metropolitanas, viabilizando a exploração colonial. Na administração colonial, ocupavam papel se- cundário os senados das câmaras (câmaras munici- pais), que reuniam os administradores de vilas, povoa- dos e cidades, responsáveis pelas questões políticas, ad- ministrativas, judiciárias, fiscais, monetárias e militares no âmbito local. Os vereadores que compunham as câ- maras municipais eram todos grandes proprietários de terras, designados homens bons. Apenas os “homens bons” podiam votar e ser votados. A presidência da câ- mara cabia a um juiz, chamado de juiz de fora, quando nomeado pela autoridade régia, e juiz ordinário, quando eleito como os demais membros. A maioria da popula- ção, portanto, não participava da administração. Muito descontentamento e mesmo a desorgani- zação produtiva e a ruína de colonos foram causados pela forma abusiva com que eram feitos a arrecada- ção de tributos e os recrutamentos forçados. O reco- lhimento de tributos como o dízimo, décima parte de qualquer produção, era arrendado a particulares que detinham o poder de cobrar a população em troca de uma parcela destinada à Coroa. Da forma como estavam organizadas a adminis- tração e a exploração econômica, a colônia e a maio- ria de sua população serviam ao Estado mercantilista português. Esse panorama propiciou o desenvolvi- mento capitalista europeu, segundo as diretrizes das elites administradoras, comerciais e proprietárias da metrópole e da colônia. p Fazendeiro com esposa em viagem, tela de Henry Koster, de cerca de 1820. a autoridade do senhor de engenho ia além de suas terras, alcançando povoados e vilas, por meio de seu controle sobre as câmaras municipais. R e p ro d u ç ã o /M u s e u B ri tâ n ic o , L o n d re s , In g la te rr a . HGB_v2_PNLD2015_027a040_u1c02.indd 37 3/21/13 3:24 PM 38 europa, o centro do mundo 1 leitura e reflexão Este capítulo se iniciou com uma pergunta: “Projeto colonial para servir a quem?”. Os efeitos de uma visão europeia sobre o período colonial permanecem até os dias atuais. Com base nessa questão e na sua leitura do texto da página 29 ("Os índios e os 500 anos: a festa da exclusão"), responda: a) Por que a festa oficial do descobrimento foi excludente? b) O monumento-resistência construído pelos indígenas Pataxó e a ideia de um monumento simbolizan- do uma caravela, assim como a discordância indígena em relação ao termo “descobrimento” revelam diferentes visões e versões sobre nossa história. No seu entendimento, o discurso oficial das comemo- rações representou as visões e os sentimentos nacionais? exeRcíciOs de HistóRia frança Países Baixos (holanda) governo-geral (1548) capitanias hereditárias (1534) mercado externo escravos latifúndios câmaras municipais pau-brasil defesa colonização feitorias diversificação da economia colonial martim afonso de souza (1531) associação abastecimento interno plantation tráfico negreiro aristocracia rural presença estrangeira primeiras expedições colonização monocultura açucareira administração enfrentamento PaRa RecORdaR: montagem da colonização atiVidade • com base no esquema-resumo e no que você estudou ao longo do capítulo, responda às questões abaixo: a) Faça um levantamento das atividades e produtos desenvolvidos com a colonização portuguesa. b) Quais elementos vistos no capítulo poderiam servir para apontar a existência de uma dinâmica colonial que não se restringia apenas a fornecer benefícios, mesmo que limitados, à metrópole portuguesa? c) Quais as funções dos donatários das capitanias hereditárias e dos governadores-gerais? HGB_v2_PNLD2015_027a040_u1c02.indd 38 3/21/13 3:24 PM a coLônIa portugueSa na amérIca 39 Um visitante desprevenido, desejoso de saber com que outros documentos se faz História, além dos pa- péis dos arquivos, certamente ficaria confuso se se dirigisse a um museu histórico tradicional – e não só no Brasil. Com efeito, teria a impressão de que, nos museus, a matéria-prima do conhecimento histórico se constitui basicamente de móveis de aparato, porcelanas (de preferência brasonadas), armas vistosas e pinturas a óleo – retratos de personagens ilustres, cerimônias, cenas de batalha, etc. Aliás, os museus históricos antigos podiam ser confundidos com museus de artes decorativas, categoria cuja natureza, hoje, tem suscitado discussões. A vinculação destes museus históricos ao domínio estético não é mero acaso. Muitos deles, no modelo europeu, derivaram de museus de arte antiga. Além disso, o papel nobilitante das ar- tes, para comunicar valores cívicos, sempre foi eficaz. No universo das imagens, es- pecialmente, temos campo fértil para fixar sínteses simbólicas de alto impacto. [...] 2 Análise de charges Reveja as charges produzidas no contexto dos 500 anos da chegada dos portugueses à América (página 29) e responda: a) Que prática econômica do início da colonização está retratada na primeira charge e que grupo detinha o monopólio de sua exploração? b) Charges são ilustrações que têm por objetivo satirizar acontecimentos do passado ou do presente. As- sim, sua finalidade é a crítica, por meio do recurso do humor. Tendo isso em mente, identifique o fator humorístico da primeira charge. c) Que elementos da cultura brasileira estão presentes na charge portuguesa? d) Podemos afirmar que a charge portuguesa apresenta um anacronismo, ou seja, uma imprecisão histó- rica em relação ao período retratado? e) Com mais um ou dois colegas, crie uma charge satirizando a chegada dos portugueses no Brasil, utili- zando para isso o ponto de vista das populações indígenas. 3 pinturas históricas: leituras possíveis O texto a seguir, do historiador Ulpiano Menezes, faz uma análise da tela de Benedito Calixto sobre a fun- dação de São Vicente e as suas leituras históricas possíveis. Observe a imagem e leia-o para responder às questões propostas: p A fundação de São Vicente (1532), tela pintada no início do século XX por Benedito calixto. a pintura foi feita sob en- comenda da prefeitura de São Vicente. R e p ro d u ç ã o /M u s e u P a u li s ta d a U S P, S ã o P a u lo , S P. nobilitante: enobrecedor. HGB_v2_PNLD2015_027a040_u1c02.indd 39 3/21/13 3:24 PM 40 europa, o centrodo mundo A tela, [de Benedito Calixto] datada de 1900, retrata o desembarque de Martim Afonso de Souza, com cen- tenas de companheiros, no futuro local de São Vicente, em 1532, onde fundaria oficialmente a primeira vila do Brasil. [...] A ação não é dramática, concentrada, mas narrativa, incorporando situações diversificadas e ocupando todos os planos. Os indígenas comparecem em todos eles. E se nas extremidades, no primeiro plano, parece haver alguma tensão (um soldado português desembainhou a espada; olhando em sua direção, alguns índios se agitam), em todos os demais pontos há mescla de índios e europeus, em tranquilidade e desenvolvendo variada gama de comportamentos: diálogo com a comitiva de Martim Afonso de Souza (que constitui a ação principal), ou com missionários mais adiante, ou ainda bem longe, à beira-mar, na orla da mata, ou, até mesmo, brincadeiras de curumins. A preocupação com o detalhe preciso é evidente: transparece nas roupas e armas, nos adornos e outros artefatos de portugueses e aborígines, assim como no interior da maloca. Estaria nesta precisão o valor documental da pintura? [...]. Não há, por exemplo, nenhuma preocupação com assinalar a paisagem original ou algum traço físico do assentamento. É que aqui, a cidade (vila) não aparece, como tipo de assentamento, mas como modo par- ticular, formalmente determinado e explícito, de apropriação simbólica do território. Daí a importância fundamental dos suportes de sentido: cruzeiro, bandeiras, estandartes, armas, indumentária, gestos e expressões, etc. Note-se que, por isso mesmo, a oposição mais forte entre brancos e índios não se dá ao nível da aparência corporal, dos equipamentos ou armas em geral. É verdade que aparecem alabardas e es- padas metálicas diante de tacapes e flechas; vestimentas requintadas e volumosas diante de peles e plumas; naus, diante de uma modesta urna cerâmica funerária. Mas não se opõem valores, nem se acentuam as distâncias. [...] Em suma, esta tela de Calixto é importante documento histórico, mas não relativamente ao século XVI. Na verdade, sabemos que a marca da colonização portuguesa não foi a ocupação de território, mas a exploração de recursos; o povoamento terá caráter eminentemente rural, de grande autonomia, e com um tipo de urbanização muitíssimo particular. Em compensação, a tela nos remete aos tempos em que foi produzida e consumida. Ela é, sim, documen- to das necessidades simbólicas vividas por Calixto e sua sociedade, no final do século passado [N.E.: sé- culo XIX], procurando inventar uma história para a nação ainda jovem – e já superados os ressentimentos com a antiga metrópole. A ocupação de território – ação expressa, em seu nível formal, como pacífica, nobre e tranquila, feita sob a égide da fé cristã e da coroa lusitana – integra os novos espaços e seus habitantes a um mundo já definido e superior [...]. Uma tela como esta é fonte preciosa de informações para reconstruir e entender o imaginário de sua época. MENEZES, Ulpiano T. Bezerra de. Pintura histórica: documento histórico? Caderno de Sábado. Jornal da Tarde/O Estado de S. Paulo, 27 jul. 1991. a) De acordo com o texto, quais documentos predominam nos museus brasileiros e internacionais? b) Segundo Ulpiano, o que as artes permitem comunicar? c) Por que a tela de Benedito Calixto informa mais sobre o período em que foi produzida do que sobre o século XVI? HGB_v2_PNLD2015_027a040_u1c02.indd 40 3/21/13 3:24 PM 41 a diáspora africana3 cAPíTULO p mercado de escravos em rich- mond, Virgínia, em gravura de eyre crowe de 1861. B e tt m a n n /C o rb is /L a ti n s to ck /C o le ç ã o p a rt ic u la r deslocamentos populacionais forçados O período da escravidão moderna pode ser considerado como o tempo de uma das maiores dispersões populacionais de toda a História. Calcula-se que mais de 12 milhões de africanos tenham sido trazidos para a América, estagnando a população da África, sendo que o número dos indivíduos que saíam era bem maior do que os que chegavam aos portos americanos. Hoje em dia, vários outros fatores obrigam as populações a se deslo- car. É o caso dos confl itos armados entre povos, ou guerras civis dentro de um mesmo país. Grande parte desses confl itos tem acontecido na África. Existe uma estreita relação entre a diáspora negra e a situação atual de intensa agitação e miséria em vários países da África. Além disso, as cicatrizes do sistema escravista na história contemporânea brasileira são enormes, embora nem sempre evidentes. As formas de discrimina- ção, a má remuneração do trabalho braçal e as dívidas sociais com os descendentes das populações africanas escravizadas são alguns aspectos dessa história. Você sa- beria apontar exemplos concretos dessas cicatrizes? para pensar HistoriCaMente diáspora: deslocamento de grandes grupos populacio- nais, em geral forçado ou incentivado. HGB_v2_PNLD2015_041a049_u1c03.indd 41 3/21/13 3:26 PM
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