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ser educacional gente criando o futuro Presidente do Conselho de Admin istração Janguiê Diniz Diretor-presidente Jânyo Diniz Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira Autoria Jordoa Moreira Leite Projeto Gráfico e Capa DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Ed ição de Texto, Design lnstrucional, Ed ição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. © Ser Educacional 2021 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE - CEP 50100-1 60 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são cred itados à autoria, salvo quando ind icada a referência. Info rmamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direi tos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e pun ido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa:© Shutterstock o \ ' / U ' ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. Unidade 1 - Introdução à terapia cognitivo-comportamental Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 Contexto histórico da Psicologia Cognitivo-Comportamental .................................... 13 Bases filosóficas ............................................................................................................. 13 As fases cognitivas e comportamentais dentro da Psicologia 14 fundamentos da Psicologia Comportamental ................................................................ 16 Histórico da Psicologia Comportamental .................................................................... 17 O behaviorismo ................................................................................................................ 18 Conceitos principais da análise do comportamento/teoria comportamental 24 Fundamentos da Psicologia Cognitiva ............................................................................. 24 Histórico da Psicologia Cognitiva ................................................................................. 25 O cognitivismo .................................................................................................................. 26 Conceitos principais da teoria cognitiva ..................................................................... 28 História da terapia cognitivo-comportamental .............................................................. 28 Surgimento da TCC .......................................................................................................... 29 Princípios básicos da TCC ............................................................................................. 31 Modelo cognitivo de Beck ............................................................................................. 31 Sintetizando ........................................................................................................................... 36 Referências bibliográficas ................................................................................................. 38 Unidade 2 - Panorama atual das terapias cognitivo-comportamentais Objetivos da unidade ........................................................................................................... 40 A terapia cognitivo-comportamental na atualidade ..................................................... 41 Terapia cognitivo-comportamental baseada em evidências ................................... 42 Terapias contextuais ..................................................................... .................................. 45 O início das TCCs no Brasil ............................................................................................ 48 A visão de homem na Psicologia Cognitivo-Comportamental .................................... 50 Processos representacionais segundo a Psicologia Cognitivo-Comportamental 51 Conceituação da representação mental ..................................................................... 53 A função da percepção na TCC .................................................................................... 55 Pressupostos da relação terapêutica na TCC ................................................................. 56 Princípios da aliança terapêutica ................................................................................ 57 Empirismo colaborativo .................................................................................................. 59 Sintetizando ........................................................................................................................... 61 Referências bibliográficas ................................................................................................. 63 Unidade 3 - Teorias e técnicas na terapia cognitivo-comportamental Objetivos da unidade ........................................................................................................... 66 P ... , . 67 r1 nc I pa 1s tecn 1cas ..•.....•........•.....................•.......•...................•.•......•.....................•......•.... Técnicas da TCC clássica .............................................................................................. 67 Técnicas das terapias contextuais .............................................................................. 74 Principais técnicas: relaxamento ..................................................................................... 75 Mindfulness e atenção plena ........................................................................................ 75 Respiração diafragmática .............................................................................................. 76 Principais técnicas: técnicas cognitivas ........................................................................ 77 Técnicas para avaliar e identificar pensamentos ..................................................... 78 Técnicas para identificação e modificação das crenças ........................................ 79 Técnicas de regulação emocional/emoções ............................................................. 82 Principais técnicas: técnicas comportamentais ........................................................... 84 Dessensibilização sistemática ...................................................................................... 84 Exposição ............. .............................. .................... ........................ ...... ........................ ..... 85 Treinamento assertivo .................................................................................................... 86 Sintetizando ........................................................................................................................... 88 Referências bibliográficas ................................................................................................. 90 Unidade 4 - Terapia cognitivo-comportamental: protocolos de tratamento e alguns transtornosObjetivos da unidade ........................................................................................................... 92 Estrutura das sessões na terapia cognitivo-comportamental ..................................... 93 Planejamento do tratamento ......................... ............... .. ............................ .. ..... ............ 97 Planejando cada sessão .. ... ..... .. ..... ... ... ......... .............................. ..................... ......... .... 99 Problemas na terapia ........ .............................. ............... .. ............................ .. ..... .......... 100 Término e prevenção de recaída ... ... ... ......... .............................. ..................... ......... .. 100 Atividades próximas do término ................................................................................. 102 Sessões de reforço ....................................................................................................... 103 Depressão ............................................................................................................................ 103 Conceituação: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-V) .. 104 Diagnóstico .. ................ .. .................. .............................. .... .......................... ... ............. .. 105 Trata menta ............. .. ........................................................... .... ........ ............... .. ............. .. 106 Transtorno obsessivo-compulsivo .................................................................................. 107 Conceituação .... .......... ....... .. ................................................. ................ ....... .. ................ 107 Diagnóstico ......................... .............................. ................................... .. ....... .................. 109 Tratamento ............. .. ............... .... ......... .. ......................................................................... 110 Pânico ................................................................................................................................... 111 Conceituação ................................................................................................................. 111 Diagnóstico ..................................................................................................................... 113 Tratamento .............. ........................................................................................................ 113 Transtornos alimentares ................................................................................................... 114 Anorexia ............................................... ............... .. ............................ .. ............................ 115 Bulimia ............................................................................................................................. 116 Tratamento ...................................................................................................................... 117 Sintetizando ......................................................................................................................... 118 Referências b i bl i ográfi cas ............................................................................................... 119 A Psicologia, em seu desenvolvimento como ciência e profissão, atuou des- de sempre com o comprometimento para ajudar o indivíduo nas suas questões relacionadas à sua saúde mental. Diversas escolas de pensamento foram de- senvolvidas e estão até hoje sendo utilizadas como referencial para a prática no dia a dia do profissional da Psicologia. A Psicologia Cognitivo-Comportamental utiliza teorias de algumas dessas escolas de pensamento. Serão abordados os conceitos por trás dessa teoria, desde o seu contexto histórico até sua prática com experimentos. Um dos pontos a serem estudados é a origem das teorias, a sua relação com a Psicologia e por que foram escolhidas para serem utilizadas dentro da profis- são. É importante saber a diferença entre essa teoria e outras teorias dentro do campo da Psicologia, e por isso serão expostos diversos conceitos tanto da teoria comportamental quanto da teoria cognitiva. Serão estudados também os conceitos que perpassam a análise do com- portamento, as pesquisas dos principais percussores dentro da Psicologia, e como são utilizados atualmente. Por fim, será exposta a história da terapia cog- nitivo-comportamental (TCC), apresentando toda a revolução que ocorreu en- tre a teoria comportamental e a teoria cognitiva, seus principais temas e qual a sua contribuição para a atuação do profissional na Psicologia. Portanto, convido você para a leitura do conteúdo, enfatizando que é de suma importância para o seu aprendizado dentro da disciplina. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • A professora Jordoa Moreira Leite é especialista em Avaliação Psicológica pela Faculdade de Ciências e Tecnologia de Teresina (FACET, 2021) e graduada em Psicologia pela Faculdade Pitágoras (FAP-MA, 2018). Também é membro da comissão do Centro de Referência Téc- nica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) do Conselho Regional de Psi- cologia do Maranhão (CRP-22). Por fim, atua na clínica com a abordagem cogni- tivo-comportamental. Currículo Lattes: http:/ /lattes.cn pq. br/0505230467172228 Dedico este trabalho a Deus, aos meus guias e ao meu anjo da guarda, que me deram a força para concluir esta produção. Dedico também à minha mãe e à minha família, que me ajudaram a chegar até aqui. Agradeço aos meus amigos que me deram força e acreditaram que eu finalizaria este trabalho. Obrigada! PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • UNIDADE r educacional Obietivos da unidade Apresentar o histórico da terapia cognitivo-comportamental, destacando seus principais precursores e suas bases filosóficas; Abordar os principais conceitos utilizados dentro da prática da terapia cognitivo-comportamental. Tópicos de estudo Contexto histórico da Psicologia Cognitivo-Comportamental Bases filosóficas As fases cognitivas e comportamentais dentro da Psicologia Fundamentos da Psicologia Comportamental Histórico da Psicologia Comportamental O behaviorismo Conceitos principais da análise do comportamento/teoria comportamental Fundamentos da Psicologia Cognitiva Histórico da Psicologia Cognitiva O cognitivismo Conceitos principais da teoria cognitiva História da terapia cognitivo- -comportamental Surgimento da TCC Princípios básicos da TCC Modelo cognitivo de Beck PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • • Contexto histórico da Psicologia Cognitivo-Comportamental A história da Psicologia Cognitivo-Comportamental é marcada por diver- sos acontecimentos que auxiliaram na criação de duas teorias: a cognitiva e a comportamental. De um lado os teóricos cognitivos, criando teorias que expli- cassem a mente humana e suas particularidades, e do outro teóricos compor- tamentais, enfatizando que o comportamento humano é multifatorial e que pode ser aprendido e modificado no meio em que o indivíduo se insere. Nesse contexto em que a Psicologia se desenvolveu foi possível conhecer várias formas de se pensar o indivíduo e também de explicar como ele vive no mundo, baseado em suas concepções que podem se moldar de diversas for- mas. Ao final, conseguiram fazer uma junção que explicasse de forma completa como esse indivíduo poderia pensar, sentir e se comportar no mundo, e como esse mundo poderia o afetar. Digamos que a Psicologia é uma árvore com diversos galhos, no qual cada galho é uma opção, uma área que atue em todos os contextos do sujeito. De certa forma, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) tornou-se uma área bastante rica, repleta de técnicas e filosofias, que se formaram e fizeram com que nascesse uma teoriacompleta. • Bases filosóficas Existem dois princípios centrais nos quais a terapia cognitivo-comporta- mental se originou. • Princípio 1: aponta que nossas cognições podem nos influenciar contro- lando nossas emoções e comportamento; • Princípio 2: por outro lado, a maneira que o ser humano encontra de agir ou o seu comportamento podem alterar tanto o pensamento quanto suas emoçoes. O interessante desses princípios é que eles já eram discutidos há mais de dois mil anos pelos filósofos estoicos Epíteto, Sócrates, Sêneca, Cícero, entre outros. Podemos reconhecer que várias tradições filosóficas já desenvolviam teorias em relação à cognição, como, por exemplo, as filosofias orientais taoísmo e budis- mo, que veem a cognição como um fator que determina o comportamento. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Com o passar do tempo se foi percebendo que teorias de outros filósofos também tinham uma relação com os princípios da TCC. A mudança de pensa- mento para um estilo mais saudável era algo já defendido não só nessa gera- ção, mas em culturas passadas também. Essa mudança poderia reduzir a an- gústia e produzir uma sensação de bem-estar. Diversos filósofos construíram pensamentos que se entrecruzaram com os objetivos da Psicologia Cognitivo- -Comportamental. Um exemplo é Zoroastro, filósofo persa da Antiguidade, que desenvolveu três pilares principais: pensar bem, agir bem e falar bem. Benjamin Franklin escreveu sobre o desenvolvimento de atitudes construtivas e que essas atitudes tinham influência sobre o comportamento. Os filósofos europeus - incluindo Kant, Hei- degger, Jaspers e Frankl - desenvolveram a ideia de que os processos cognitivos conscientes têm um papel fundamental na existência humana. Por exemplo, Vik- tor Frankl afirmava persuasivamente que encontrar uma sensação de sentido da vida ajudava a servir como um antídoto para o desespero e a desilusão. A partir dessa discussão, percebe-se que a Psicologia Cognitivo-Comportamental tem em sua base diversas contribuições de filósofos e teóricos seculares. As fases cognitivas e comportamentais dentro da Psicologia •• O movimento da teoria cognitivo-comportamental se desenvolveu no que os teóricos chamam de "ondas", que foram divididas em três. A primeira onda tem como características aspectos empíricos e basea- dos em evidências. Essa visão foi pautada nos estudos de Ivan Pavlov, que desenvolveu a teoria sobre o condicionamento respondente, e de B. F. Skin- ner, que, baseado nos estudos de Pavlov, desenvolveu o conceito de condicio- namento operante. Pavlov observou a produção de saliva em cães expostos a diversos estímulos palatares (alimentos) e, ao acaso, percebeu que, após um período sendo apresentados aos estímulos, eles passaram a produzir saliva antes da apresentação do alimento. As contribuições de Skinner incluem a análise comportamental aplicada (ABA), principal ferramenta de intervenção no tratamento de pacientes com TEA, e a dessensibilização sistemática, utili- zada principalmente em quadros fóbicos (PASSOS, 2016). PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Já a segunda onda baseou-se nos processamentos cognitivos. Edward Chace Tolman foi o primeiro teórico behaviorista a propor uma teoria dife- rente. Para ele, o comportamento do indivíduo deveria ser considerado a partir de suas motivações e efeitos em um contexto; ou seja, ele propôs um modelo diferente: Estímulo - Organismo - Resposta (E-0-R) Albert Ellis, teórico psicana lista estadunidense que também é citado na segunda onda da terapia cognitiva, ini ciou sua contribuição a partir do mo- mento em que ele começou a ficar insatisfeito com a prática clíni ca, e com isso cr iou a TER - uma teoria que era influenciada pelas teorias psicodinâmi- cas, mas era mais ativa, diretiva e sistemática. Logo depois, a TER tornou-se TREC (terapia raciona l-emotiva-comportamenta l), que uti lizava práticas do behaviorismo. É uma teoria formada na rac ionalidade. Modelo ABC - Ellis A: sobre determinadas experiências ou fatos ativadores; B: são determinadas pelo sistema de crenças do indivíduo; C: consequências, as quais podem ser de natureza emocional. A Segunda Guerra Mundial também teve uma forte influência no desen- volvimento das terapias cogn it ivas. Aumentou-se a demanda por uma psi- cologia aplicada, e as teorias de Tolman e seus colaboradores aprimoraram para melhor compreender como ocorria a interação entre o ser humano e as máqu inas, também para aprimorar as habi lidades humanas para guiar instrumentos. O behaviorismo sofreu críticas pela abordagem Gestalt, que fo i responsável por abrir espaço para a Psico logia Cognitiva, a qual fez parte da segunda onda. A terceira onda, por sua vez, é baseada nos processos e no contexto social. Vários modelos de intervenção foram cr iados a partir do movimento da terceira onda, incluindo: a terapia cognitiva baseada em m indfu lness (MBCT - Mindfulness-based Cognitive Therapy) (Segai, Williams & Teasda- le, 2002); a terapia comportamental dialética (DBT - Dialectica/ Behavioral Therapy) (Linehan, 1993); a psicoterapia analít ica funcional (FAP - Functional Analytic Psychotherapy) (Kohlenberg & Tsai, 1991); a terapia de aceitação e compromisso (ACT - Acceptance and Commitment Therapy) (Hayes, Strosahl & Wilson, 1999); entre outras. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • O diferencial da terceira onda é o seu foco funcional e contextual, que se deu ao ampliar os conceitos de comportamento verbal propostos por Skinner com o intuito de acessar mais expansivamente os processos linguísticos abor- dados pela ciência cognitiva. A terceira onda das terapias comportamentais é atravessada pela teoria da complexidade, que faz parte da filosofia da ciência que surgiu em 1970 por Edgar Morin, lsabelle Stenger e llya Prigogine. O objetivo é formar um diálogo entre as ciências, criar intervenções pautadas entre diversos conhecimentos, o pensamento multidimensional, não promovendo a exclusão ou isolamento de situações, mas entendendo que estes elementos se comunicam entre si. Essa divisão em ondas teve um significado importante para a história da terapia cognitivo-comportamental, pois explica como as teorias se desenvol- veram, onde se encontram e também onde se separam, cada uma com a sua particularidade. Vale enfatizar que esse movimento entre os conceitos faz par- te do meio científico; à medida que o tempo passa, novos estudiosos surgem e, com isso, novas teorias a serem testadas. O diálogo entre pensamentos diferentes contribui para construir uma área que possa dar conta de todas as questões do ser humano contemporâneo. As ondas devem ser vistas como complemento uma da outra. • Fundamentos da Psicologia Comportamental Os estudos comportamentais foram uma das primeiras teorias a se de- senvolver dentro do campo da Psicologia como ciência. Com estudos voltados para a aprendizagem do comportamento, alguns estudiosos desenvolveram suas teorias baseando-se na observação e testagem em laboratórios de pes- quisas, que auxiliaram nas respostas de várias perguntas em re- lação ao modo como o ser humano age em sociedade desde os tempos mais remotos. Como todas as teorias, essa área também pos- sui seu referencial e base filosófica para solidifi- car seus estudos. A Psicologia Comportamental enfatiza que todo comportamento do indivíduo, observável ou não, é resposta a um estímulo ante- PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • cedente e produto de sua história, e também pode ser alterado de acordo com a aprendizagem que este desenvolve durante seu repertório de vida. No início do seu desenvolvimento, essa área desconsiderava processos internos e bus- cava o foco apenas naquilo que podia ser visto, e ser previsto. Por ser uma das principais teorias, até hoje é utilizada, e se desenvolveu de diferentes formas, passando por alterações e complementações, criandotécnicas e métodos que poderiam ajudar na identificação e na alteração de comportamentos disfuncionais. • Histórico da Psicologia Comportamental O que é a terapia comportamental? A terapia comportamental é um conjunto de teorias e técnicas que tem como foco identificar padrões de comportamentos disfuncionais e, por meio de uma análise funcional, mo- dificá-los. Essa teoria se originou do behaviorismo radical - uma filosofia que desenvolveu seus estudos investi- gando como o comportamento humano é influenciado de acordo com os estí- mulos que o indivíduo presencia em seu ambiente. Diversos teóricos influenciaram no desenvolvimento da teoria comporta- mental que conhecemos atualmente: Pavlov, Watson, Thorndike, Skinner, entre outros nomes conhecidos na Psicologia com seus experimentos. Alguns conceitos são importantes para compreender o princípio do com- portamento. O estímulo discriminativo refere-se ao contexto ou ambiente no qual o or- ganismo, ou sujeito, se encontra (estímulo antecedente); a resposta pode ser descrita como a ação em si emitida pelo sujeito frente ao estímulo discrimina- tivo; e o estímulo consequente refere-se à mudança no ambiente provocada pela resposta do sujeito. Esses conceitos formam a chamada tríplice contingên- cia, e são fundamentais para compreender a análise do comportamento, pois ela se utiliza destes para explicar alguns comportamentos do indivíduo. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Ivan Petrovich Pavlov foi um teórico russo que contribuiu para o desenvolvimen- to da teoria conhecida hoje como análise do comportamento. Era um fisiologista que começou a estudar sobre os reflexos inatos, iniciando seus estudos com cães. O condicionamento pavloviano, clássico ou respondente corresponde a um apren- dizado no qual um estímulo anteriormente neutro passa a ser discriminativo quan- do pareado a um estímulo incondicionado (que não necessita de aprendizagem pré- via para provocar mudanças no organismo). Wilhelm Wundt iniciou seus estudos no século XX. Neste período, a Psicologia passava por mudanças sobre introspecção, mente, entre outros temas que envol- viam comprovar uma psicologia científica e objetiva. Wundt e Edward Bradford Tit- chener foram os teóricos que iniciaram essas divergências entre o funcionalismo e o estrutural ismo, fazendo surgir, assim, o behaviorismo metodológico, proposto por John Broadus Watson em 1913. •• O behaviorismo O behaviorismo metodológico de Watson iniciou com o objetivo de tornar a psicologia mais científica, focada nos comportamentos observáveis e passíveis de descrição objetiva. Sem utilizar conceitos mentalistas, Watson propôs que o objeto de estudo da psicologia deveria ser apenas comportamentos mensuráveis, desconsiderando eventos privados, a biologia e a medicina. Para o desenvolvimento das teorias, os pesquisadores faziam pesquisas ex- perimentais utilizando animais, como os experimentos de Skinner com pombos e ratos e os rea lizados por Pavlov em cães. Outros animais também serviram como modelo para observar o comportamento, como cavalos e macacos, e, a partirdes- sas observações, foi possível o avanço do conhecimento sobre processos compor- tamentais humanos. O behaviorismo se desenvolve em dois estágios: 1°) Behaviorismo metodológico: desconsiderava conceitos internos ao indi- víduo, abordando apenas o comportamento observável, sendo marcado por sua orientação posit ivista; 2°) Behaviorismo radical: filosofia empírica proposta por Skinner em oposição ao behaviorismo metodológico de Watson, considerando necessária uma análise fun- cional detalhada sobre a história de vida e o meio no qual o indivíduo está inserido. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Na Figura 1 mostra-se como funcionava a observação de Ivan Pavlov para ob- ter resultados dos seus experimentos relacionados ao condicionamento. Figura 1. Observação de comportamento de Pavlov utilizando cães. Fonte: MOREIRA; MEDEIROS, 2019, p. 30. Na Figura 2 vemos o aparelho que Ivan Pavlov utilizava, contendo o cachor- ro (objeto de observação) e o estímulo (a comida), bem à frente; Pavlov incluiu também um registro para acompanhar o desenvolvimento do experimento. Registro cumulativo Estímulo (comida) o o o o o Figura 2. Aparelho utilizado por Pavlov para verificação de eliciação de estímulos reflexos. Fonte: MOREIRA; MEDEIROS, 2019, p. 31. (Adaptado). PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Tanto a Figura 1 quanto a Figura 2 mostram bem o objetivo do estudo de , Pavlov e como ele fez para obter as respostas dos seus experimentos. E impor- tante enfatizar isso, pois, como falado, foram esses experimentos que contri- buíram para entendermos a ciência do comportamento. O behaviorismo é uma teoria que também é chamada de Psicologia Com- portamental. Behavior é uma palavra em inglês cuja tradução significa "com- portamento". Esta teoria, portanto, é entendida como uma filosofia do com- portamento. Mas, afinal, qual a diferença entre a terapia cognitiva e a terapia comporta- mental? A terapia comportamental não inclui conceitos do cognitivismo. A análise funcional é uma ferramenta da terapia comportamental cujo objetivo é investigar informações sobre determinados comportamentos-alvo (queixa do paciente), por meio da tríplice contingência, buscando, juntamente ao paciente, identificar variáveis antecedentes e consequentes que podem ter função mantenedora desses padrões de comportamento. Na Psicologia Comportamental, a análise do comportamento é baseada na filosofia do behaviorismo. Esse termo possui diversos significados, e durante a sua criação foi dividido em três tipos: metafísico, metodológico e analítico. O behaviorismo metafísico é o primeiro momento do behaviorismo. Essa metodologia afirma que a mente ou os eventos mentais não existem. O beha- viorismo metodológico, por sua vez, é uma teoria um pouco diferente da primeira, tendo assim um conceito diferente de mente. Para o behaviorismo metodológico a mente existe, mas devia ser preocupação das neurociências, e não da psicologia. Já o behaviorismo analítico é aquele no qual mente e eventos mentais são enunciados que, quando analisados, referem-se ao com- portamento. John Watson foi um psicólogo que também deu sua contribuição na teoria comportamental. O experimento mais conhecido desse teórico foi "O caso do pequeno Albert". Esse experimento tratou-se de um teste da teoria de Pavlov, o condicionamento pavloviano. O pesquisador queria provar que um ser huma- no poderia aprender a ter medo de algo, e, para isso, utilizou-se de um bebê de dez meses, apelidado de Albert. Na Figura 3 temos um exemplo de como funcionava a caixa de Skinner, com o rato, que era o participante, e a barra para pressionar e obter comida. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • A famosa caixa de Skinner foi uma de suas principais contribuições para a ciência, na qual um animal poderia pressionar uma alavanca ou manipular uma chave a fim de liberar alimento ou água, por exemplo. O animal, comumente um pombo ou um rato, era colocado na câmara sem aprendizado prévio, e, naturalmente, emitia diversos comportamentos aleatórios; eventualmente, o animal pressionaria ou manipularia a alavanca, liberando o reforço (alimento). Skinner observou que, após emitir esse comportamento contínuas vezes, ou- tros comportamentos que não consequenciavam uma recompensa diminuíam de frequência, enquanto o de pressionar a alavanca aumentava. Figura 3. Caixa de Skinner. 1) Luz utilizada como estímulo discriminativo; 2) barra da esquerda; 3) bebedouro; 4) barra da direita; 5) autofalante; 6) concha com água; 7) motor do bebedouro; 8) Caixa de isolamento acústico. Fonte: MOREIRA; MEDEIROS, 2019, p. 173. (Adaptado). Burrhus Frederic Skinner era formado em Letras, mas nao seguiu nessa área. Skinner começou a se interessar pela Psicologia ao se deparar com as obras deJohn Watson e Ivan Pavlov, o que o fez entrar no Departamento de Psicologia da Universidade de Harvard. Insatisfeito com ideias que ele achava PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • pouco inteligentes, ele começou a estudar sobre o compor- tamento animal com seu mentor William Crozier, membro do Departamento de Fisiologia (B. F. SKINNER FOUNDA- TION, s.d.). Seus trabalhos desenvolvidos dentro da Psico- logia renderam diversos prêmios, por exemplo a Medalha Nacional de Ciência (1968). Em suma, Skinner se preocupava com o comportamento humano como um todo, e acreditava na ciência e na sua im- portância na construção do conhecimento. O behaviorismo de Skinner ficou conhecido como behaviorismo radical, pois, diferente do behaviorismo metodológico, seu objetivo é o de encontrar a raiz do comportamento; somente encontrando a origem (ou raiz) do compor- tamento é possível determinar sua função. A análise do comportamento é tanto uma ciência quanto uma abordagem psi- cológica, que inicialmente está focada em estudar o comportamento. O ambiente que tanto é citado na ciência do comportamento é tudo aquilo que pode afetar o comportamento, interno ou externo ao indivíduo, e tudo aquilo que pode afetar um comportamento é definido como variável. Skinner, mesmo interessado nos ensinamentos de Pavlov e Watson, tam- bém discordava de algumas ideias desses teóricos, e por isso começou a apri- morá-las. Quando estudamos o behaviorismo radical, percebe-se uma certa diferença no que se conhece das pesquisas iniciais com Pavlov e Watson. Suas principais influências foram: • Darwin (1859): a teoria da evolução pela seleção natural foi determinante nos estudos de Skinner, ao considerar o papel da filogênese e do ambiente na explicação do comportamento humano; • Thorndike (1898): a Lei do Efeito, que determina que todo comporta- mento tende a se repetir se for seguido de uma recompensa, foi a principal influência para o aparato hoje conhecido como caixa de Skinner; • Pavlov (1902): os experimentos sobre reflexos salivares em cães levaram Skinner a pesquisar mais a fundo sobre o processo de aprendizagem por meio do pareamento de estímulos, dando ori- gem ao conceito de condicionamento operante. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Para o behaviorismo radical , o ser humano é visto como um organismo, e seu comportamento é deter- minado por variáveis ambientais que ele dividiu em três níveis de seleção: filogenético, ontogenético e o cultural. O nível filogenético refere-se a um repertório inato desenvolvido ao longo da espécie; o nível ontoge- nético refere-se ao repertório operante desenvolvido ao longo da história de reforçamento e punição de um organismo; e o cultural refere-se à cultura na qual o organismo está inserido. o \ CURIOSIDADE Diferente do que foi levantado por outros tipos de behaviorismo, Skinner não ignora a existência de sentimentos, sensações ou ideias. Para Skin- ner, um pensamento, sentimento ou um desejo não podem ser a explica- ção para um comportamento (por exemplo, agredi porque estava com raiva"), pois são termos que descrevem respostas emocionais a estímulos discriminativos, e, portanto, devem ser explicados por meio de cuidadosas descrições de suas interações com o ambiente para, então, encontrar as variáveis de controle que levaram o organismo a pensar, sentir ou desejar (MOREIRA; MEDEIROS, 2019). Moreira e Medeiros (2019) salientam a importância em diferenciar alguns termos comumente utilizados e que, à primeira vista, podem ser confundidos ou usados equivocadamente como equivalentes: • Análise do comportamento: refere-se à ciência conceituai, empírica e aplicada do comportamento; • Análise experimental do comportamento: , area de pesquisa básica direcionada à produção de conheci- mento experimental; • Análise aplicada do comportamento: conhecida como ABA, refere-se à área de pesquisa e produção de conhecimento direcionada à aplicação dos princípios comportamentais e no desenvolvimento de tecnologias comportamentais; • Behaviorismo radical: filosofia na qual a ciência do comportamento se orienta. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • •• Conceitos principais da análise do comportamento/teoria comportamental Com o Quadro 1, é possível compreender melhor alguns termos que são usados dentro da terapia comportamental. QUADRO 1. CONCEITOS BÁSICOS DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Termo Estímulo Resposta Reflexo Eliciação/ eliciar Emissão/emitir Esquiva Fuga Extinção Reforço positivo Reforço negativo Punição Punição positiva Punição negativa ~ Significado Qualquer alteração no ambiente que produza alteração no organismo. Qualquer alteração no organismo produzida por uma alteração no ambiente. Uma relação entre um estímulo inato e uma resposta. Produção de uma resposta reflexa por um estímulo condicionado ou incondicionado (inato). Produção de uma resposta operante (mediante condicionamento prévio). Comportamento mantido por reforçamento negativo que ocorre antes da apresentação do estímulo aversivo. A emissão da resposta evita a apresentação do estímulo aversivo. Comportamento mantido por reforçamento negativo que ocorre quando o estímulo aversivo já está presente no ambiente. A consequência reforçadora é a retirada do estímulo aversivo do ambiente. Processo no qual um comportamento produzia uma consequência reforçadora, e, por algum motivo, esta deixa de ocorrer. Aumenta a probabilidade da emissão de uma resposta em situações semelhantes pela adição ou apresentação de um estímulo reforçador positivo ao ambiente. Aumenta a probabilidade da emissão de uma resposta em situações semelhantes pelo adiamento da apresentação (esquiva) ou retirada (fuga) de um estímulo aversivo. Punição pode ser definida funcionalmente como um processo de controle coercitivo no qual a consequência de uma resposta suprime momentaneamente a sua emissão. Suprime a emissão de uma resposta pela consequente adição de um estímulo aversivo ao ambiente. Suprime a emissão de uma resposta pela consequente retirada de um estímulo reforçador, contingente ou não, do ambiente. Fonte: MOREIRA; MEDEIROS, 2019, p. 79-80. (Adaptado). •• Fundamentos da Psicologia Cognitiva A teoria cognitiva é uma área tecnicamente nova da Psicologia. Com estudos voltados para a mente humana, essa área se desenvolveu focando no modelo de percepção do indivíduo, buscando respostas para explicar como este pensava, como sentia, como funcionavam seus pensamentos, escolhas e ideias. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • A teoria cognitiva buscou estu- dar o indivíduo de uma forma mais interna, focando naquilo que estava no seu lado mais consciente. O fun- cionamento da consciência foi desta- que nos estudos de diversos teóricos, que puderam testar e confirmar suas teorias de que o ser humano era ca- paz de pensar, e como se desenvolvia esse pensamento. Cada pesquisa de- senvolvida envolveu uma nova desco- berta, a ponto de explicar quase tudo que envolvia a mente humana, porém nem tudo ainda tem explicação. Os fundamentos da Psicologia Cognitiva também são baseados em experi- mentos que foram desenvolvidos e testados. Mesmo sendo um campo novo, desenvolveu-se de uma forma rápida e conquistou o interesse de diversos pro- fissionais que aplicam seus conceitos em diversas áreas. •• Histórico da Psicologia Cognitiva Estudos apontam que o nascimento da Psicologia Cognitiva ocorreu em 1956 devido aos avanços científicos e ao desenvolvimento da inteligência artifi- cial. Vamos entender um pouco mais sobre esse surgimento. A teoria cognitiva é um campo bem amplo dentro da Psicologia, podendo ser vista, por exemplo, na clínica, mas autores de diversas outras áreas, como do desenvolvimento, também falam sobre cognição. Ela foi se desenvolven- do e virando um campo teórico, uma abordagem teórica dentro daPsicologia. Surge como uma segunda onda das correntes psicológicas, principalmente em relação ao behaviorismo, que não se utiliza de conceitos mentalistas em seus estudos. Após alguns períodos se dedicando apenas a estudos empíricos experimen- tais, alguns teóricos começaram a desenvolver outros estudos no campo da Psicologia, e foi nesse contexto que surgiu a teoria cognitiva. Aos poucos, teóri- cos resolveram resgatar a consciência como objeto de estudo. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • •• O cognitivismo O movimento cognitivo já existia desde o início da criação da Psicologia, e filósofos como Platão e Aristóteles mencionavam processos psicológicos, como, por exemplo, o pensamento. Wundt é considerado um dos precursores da Psicologia Cognitiva, pois, em seus estudos iniciais, estudava a consciência. Assim como ele, outras escolas de pensamento também eram adeptas ao men- talismo, como o estruturalismo e o funcionalismo. 1 ' / DICA Desde o surgimento da Psicologia, diversos teóricos levantaram debates acerca da cognição dos indivíduos; como pensam, como agem, por que se comportam. Dian- te desses estudos, nasceu a questão: afinal, o que é a consciência? O vídeo O que é consciência?tenta explicar um pouco sobre esse conceito. Edward C. Tolman criou o behaviorismo intencional e também foi consi- derado como um dos teóricos do desenvolvimento cognitivo. Esse teórico reconheceu que as variáveis cognitivas tinham importância no estudo do comportamento. Dentre as escolas da Psicologia que contribuíram para o movimento cognitivo, podemos destacar também a Psicologia da Gestalt, que tinha como foco o debate sobre a percepção, a aprendizagem e a memó- ria nas organizações. Outro teórico importante foi Jean Piaget, que se voltou para os estudos da cognição, criando até o primeiro teste psicológico de habilidade mental. Piaget investigava o campo da cognição infantil e seu trabalho ajudou no de- senvolvimento da Psicologia Cognitiva. George Miller teve um maior destaque dentro do movimento, pois foi considerado um dos principais teóricos que fundaram a Psicolo- gia Cognitiva; o outro foi Ulric Neisser. Miller começou seus estudos com a teoria da estatística da aprendizagem, a teoria da informação e os modelos de mente com base no computador, e foi a partir desses resultados que ele PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • chegou à conclusão de que as pessoas reagem à representação mental que fazem dos acontecimentos, e não aos acontecimentos em si. Paralelo à cor- rente filosófica do behaviorismo, Miller voltou-se para estudos que observa- vam o funcionamento da mente humana e da orientação cognitiva. Depois de publicar, em 1956, o artigo chamado "The magicai number se- ven, plus or minus two: some limits on our capacity for processing informa- tion" ("O mágico número sete, mais ou menos dois: alguns limites da nossa capacidade de processamento de informação"), no qual mostrou a capacida- de consciente do indivíduo por meio da memória de curto prazo de número, Miller foi considerado importante para o desenvolvimento da Psicologia Cog- nitiva. Ele, em parceria com Jerome Bruner, criou uma escola para estudos da mente humana, a qual chamaram de Centro de Estudos Cognitivos. Ulric Neisser também teve sua contribuição no surgimento dos estudos cognitivos, escrevendo diversos textos sobre a Psicologia Cognitiva, e publi- cando um livro em 1967 que seria referência para os estudos dos processos cognitivos. Neisser definiu Psicologia Cognitiva como a psicologia que se refere a to- dos os processos pelos quais um input (entrada) sensorial é transformado, reduzido, elaborado, armazenado, recuperado e usado (NEUFELD; BRUST; STEIN, 2011). As máquinas tiveram sua função importante também, pois os teóricos que criaram a teoria cognitiva se utilizavam das operações dos computado- res para explicar os processos cognitivos. Para eles, o funcionamento dessas máquinas se assemelhava à mente humana. Tanto o computador quanto a mente recebem ent radas doam- biente na forma de gra nde quantidade de informação (estímu- los sensoriais ou dados). Ambos compilam essas informações, manipulando, armazenando e recuperando os dados, e agi ndo de várias maneiras. Desse modo, a programação do computa- dor foi sugerida como base para a visão cognit iva humana do processamento de informações, do raciocínio e da solução de problemas (SCHULTZ; SCHULTZ, 2019, p. 400). Todo esse movimento que estuda a cognição humana é chamado de cognitivismo. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • •• Conceitos principais da teoria cognitiva Assim como o behaviorismo, o cognitivismo possui d iversas áreas: • Psicologia cognitiva experimental: realiza estudos dos indivíduos dentro do laboratório; • Neuropsicologia cognit iva: estudo de indivíduos com deficiência cognitiva; • Ciência cognitiva computacional: envolve estudos de modelos computa- cionais para ampliar o conhecimento em cognição humana; • Neurociência cognitiva: o uso de técnicas de imagens cerebrais a fim de ampliar o estudo do funcionamento cognitivo; • Ciência cognitiva: é uma disciplina criada para estudar a cognição por meio de diferentes visões, seja ela abstrata, humana ou mecânica. Até hoje existem discordâncias sobre o verdadeiro significado da consciência, se ela existe e como comprová-la. A consciência é demonstrada por diversos aspec- tos, como o seu conteúdo, estado de consciência em que o indivíduo se encontra . • História da terapia cognitivo-comportamental A terapia cognitivo-comportamental não é apenas uma abordagem com técnicas a serem aplicadas, mas também é formada por conceitos, visto que sua criação envolveu testes científicos, e para chegar à forma que conhecemos hoje ela passou por várias etapas. A criação da TCC se desenvolveu a partir de diversos testes, em que teóricos tanto da área comportamenta l quanto da área cognitiva juntaram-se e contri- buíram para o surgimento dessa abordagem que seria uma referência dentro da Psicologia como ciência e profissão. Com experimentos desenvolvidos por meio de estudos clínicos, a TCC é uma teoria completamente baseada em evidências, ou seja, tudo que ela apresenta, sendo teorias ou técn icas, foram ap licadas, experimentadas e testadas para que se obtivesse o melhor resultado para ser colocada em prática no cotidiano e ajudar os indivíduos em seus diversos contextos de v ida. Vamos saber ma is um pouco so- bre o seu surgimento? PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • •• Surgimento da TCC Quem começou a desenvolver e testar teorias e metodologias cognitivas e comportamentais foi Aaron Temkin Beck. A TC, sigla usada para definir a terapia cognitiva, foi criada em meados da década de 1960 por Aaron Beck, um professor assistente de Psiquiatria que trabalhava na University of Pennsylvania. Aaron Beck também era psicanalista e atuava na área, e foi a partir da sua atuação que ele começou a desenvolver estudos que futuramente contribuíram para a criação da TCC que conhecemos (BECK, 2013). A psicanálise não era considerada ciência desde aquela época, por não con- ter uma epistemologia propriamente dita, e o Dr. Beck, como era cientista, pre- cisava comprovar por meio da mensuração empírica as teorias psicanalíticas a fim de que a psicanálise fosse aceita pela comunidade médica. A partir dessa inquietação sobre como validar esses conceitos, o teórico iniciou seus experi- mentos com pacientes diagnosticados com depressão. Sua investigação con- sistia em analisar os sonhos dos pacientes deprimidos para comprovar o que a psicanálise enfatizava: que a depressão é resultante de hostilidade voltada contra si mesmo. Porém, os resultados de suas observações se mostraram contrários ao que ele esperava, descobrindo que o conteúdo dos sonhos dos seus pacientes era semelhante aos pensamentos que eles tinham quando estavam acordados,o que mais adiante ele chamou de "pen- samentos automáticos". Depois de chegar a essas conclusões, Beck co- meçou a atuar para ajudar os pacien- tes a identificarem seus pensamentos, avaliarem e responderem (foco mais comportamental) de uma forma mais funcional e realista às situações. Com esses estudos, ele pôde deduzir que os pensamentos de seus pacientes também interferiam nas suas emo- ções (BECK, 2013). PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Com isso, Beck começou a ensinar seus alunos a também utilizarem o seu método, e obtiveram resultados positivos, o que futuramente resultaria em um convite para que desenvolvesse uma pesquisa científica baseada em um estu- do clínico randomizado, publicado em 1977, e que comprovaria a eficácia da terapia cognitiva para o tratamento da depressão. Nasce, então, uma psicote- rapia semiestruturada, de curta duração e que tem como foco o presente, que se tornaria referência para tratar diversas psicopatologias, como transtorno depressivo maior, depressão, transtorno de ansiedade, abuso de substâncias, insônia, transtornos alimentares, entre outros. A terapia cognitiva de Beck se propôs a estudar o processo cognitivo, como surgem os pensamentos e como eles são interpretados pelo indivíduo, e, a partir disso, desenvolver intervenções que pudessem auxiliar o paciente a entender seus pensamentos negativos que interferem nas suas emoções e comportamentos. A terapia cognitiva possui conceitos-chave, como: pensa- mentos automáticos, pensamentos disfuncionais, crenças centrais e interme- diárias, pressupostos e regras (BECK, 2013). DIAGRAMA 1. PREMISSA BÁSICA DA TEORIA COGNITIVA ~ Fonte: WENZEL 2018, 20. (Adaptado). CONTEXTUALIZANDO A terapia cognitivo-comportamental é orientada para os objetivos e focada para resolução dos problemas presentes. A atuação consiste em enumerar os problemas, estabelecer objetivos específicos e também avaliar e respon- der aos pensamentos que interferem em seus objetivos (BECK, 2013). PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • •• Princípios básicos da TCC A terapia cognitivo-comportamental possu i dez princíp ios básicos que são fundamentais para pôr em prática a teoria. Beck afirma que esses prin- cípios devem ser para todos os tipos de pacientes: 1. Deve estar sempre com uma formulação em desenvolvimento contí- nuo dos problemas do paciente e com uma conceituação individual de cada paciente em termos cognitivos; 2. Formação de uma aliança terapêut ica firme; 3. Colaboração e participação ativa do paciente durante a terapia; 4. É baseada em objetivos e tem foco nos problemas; 5. Foco no presente; 6. Ensina o paciente a tornar-se o próprio terapeuta, enfatizando na pre- venção de recaídas; 7. Deve ter um tempo limite de atendimento; 8 . As sessões devem ser estruturadas; 9. Foco na psicoeducação, ensinando os pacientes a identificarem seus pensamentos e crenças; 10. Utiliza técnicas que auxiliam na mudança de pensamento, humor e comportamento. Sobre os princípios, é importante que se entenda que a terapia var ia de paciente para paciente, afinal, cada ind ivíduo possui demandas diferentes, e o tratamento pode variar. Modelo cognitivo de Beck •• Beck criou dois métodos para as intervenções da TCC: um é o modelo cognitivo que parte do princípio que as emoções e os comportamentos do indivíduo serão influenciados pela forma como ele interpreta as situações; e a conceitualização de caso, que será uma intervenção norteadora para o tratamento do paciente, enfatizando sempre o seu efeito colaborativo entre o paciente e o terapeuta, no qual o paciente traz sua história de vida e o terapeuta traz a parte técnica e teórica (WENZEL, 2018). PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Para Beck, o indivíduo irá se sentir de determinada forma não por causa da situa- ção, mas sim por como ocorreu a interpretação dessa situação. Ou seja, seus senti- mentos e comportamentos têm relação com o pensamento e com a interpretação que tiveram no momento em que passaram por uma situação. Utilizar a TCC como base é estar sempre questionando para o indivíduo no que ele estava pensando e como se sentiu naquele dia, ou d iante daquela situação. Dentro do modelo cognitivo, Beck desenvolveu os conceitos de pensamentos automáticos e crenças para explicar como funciona a cognição do indivíduo. Um dos conceitos mais estudados dentro da TCC são os pensamentos automá- ticos, que são caracterizados como pensamentos que surgem de forma rápida e es- pontânea e que são considerados breves. Esses pensamentos muitas vezes não são percebidos de maneira consciente; é mais fácil para o indivíduo identificar as emo- ções e o comportamento, mas não consegue fazer isso com os seus pensamentos. Devido a essa não identificação, muitos desses pensamentos se tornam concretos e absolutos e acabam interferindo na forma como o sujeito vive as situações. DIAGRAMA 2. TRÍADE COGNITIVA Dentro da TCC, a avaliação desses pensamentos se torna essencial para identifi- car o que é disfuncional e o que é funcional. Quando falamos disfuncional, falamos de pensamentos que temos consciência, mas que às vezes não são verdadeiros. Vejamos um exemplo: Se você tem muita coisa a fazer, poderá ter o pensamento automático: "Eu nun- ca vou conseguir terminar tudo". Mas você pode fazer um teste automático da rea- lidade, relembrando experiências passadas e lembrando a si mesmo: "Está tudo bem. Você sabe que sempre consegue fazer o que precisa" (BECK, 2013). O objetivo da TCC é a mudança dos pensamentos automáticos. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Cada pessoa identifica uma situação de uma forma diferente, eventos iguais podem despertar visões diferentes para cada indivíduo. Mas, por que isso acontece? Por que existem pensamentos automáticos disfuncionais? Bem, para responder a isso, entraremos no outro conceito chave da TCC: as crenças. As crenças ou esquemas são ideias que o indivíduo desenvolve durante sua infância, e o conteúdo dessas crenças dizem respeito à visão que possui de si mesmo, sobre outras pessoas e o seu mundo. Desde os primeiros momen- tos de vida, as pessoas tentam entender como funciona o ambiente que elas estão inseridas, suas experiências são fatores essenciais para a forma como irão ver o mundo e como funcionarão de uma maneira adaptativa. As intera- ções com as outras pessoas e com o seu mundo são também pontos que sao influenciados para que se deter- minem seus entendimentos. Beck dividiu as crenças em nu- cleares e intermediárias. As crenças nucleares são compreensões dura- douras tão fundamentais e profun- das que frequentemente não são ar- ticuladas nem para o indivíduo em si. Geralmente as crenças nucleares são rígidas, super generalizadas e globais (BECK, 2013). Existem três tipos de crenças nucleares: desamparo, desamor e desvaler. • Os conteúdos das crenças de desamparo são pensamentos do tipo: "eu sou incompetente", "eu sou fraco"; • As crenças de desamor envolvem pensamentos do tipo "eu sou incapaz de ser amado", "eu não sou querido", "eu serei abandonado"; • Por último, as crenças de desvaler estão relacionadas à visão de valor que o sujeito dá a si mesmo: "eu não tenho valor", "eu sou inútil". As crenças nucleares se subdividem ainda nas crenças intermediárias, que são nomeadas como atitudes, regras e pressupostos. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Crença nuclear: "Eu sou incompetente" ,.; Crenças intermediárias , Atitude: "E terrível falhar" Regra: "Eu devo desistir se um desafio parecer muito grande" Pressupostos: "Se eu tentar fazer alguma coisa difícil, vou falhar. Se eu evitar fazer, vou ficar bem" ,.; Situação: Leitura de um novo texto ,.; Pensamentos automáticos: "Isto é muito difícil. Eu sou tão burro. Eu nunca vou entender isso. Eu nunca vou me sair bem como terapeuta" ,.; Reação Emocional: Desânimo Fisiológica:Peso no corpo Comportamental: Evita as tarefas e, em vez disso, vai assistir à televisão Figura 4. Conceituação cognitiva. Fonte: BECK, 2013, p. 57. (Adaptado). Na Figura 4, temos um exemplo da conceituação cognitiva de Beck, ilus- trando como os pensamentos influenciam nas emoções, no comportamento e nas reações fisio lógicas. Diante do que já foi exposto, surge outra questão: Como o termo "compor- tamental" começou a integrar a terapia cognitiva? Bem, os estudos sobre a teoria comportamental in iciaram no século XX com Ivan Pavlov e John Watson, mas foi com Burrhus Frederic Skinner que ga - nhou maior ênfase. Em resumo, essa teoria estuda o comportamento, que é produto dos três níveis de seleção e, desta forma, pode ser aprendido e man- tido com base no h istórico de reforçamento e punição (operante) ou inato. Essa perspectiva criou diversos conceitos que dariam base para o seu desen - volvimento, como: comportamento operante, comportamento respondente, eventos públicos e eventos pri vados, reforço positivo, reforço negat ivo, pu- PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • nição, fuga, esquiva, entre outros. Para essa teoria, uma resposta ou classe de respostas pode ter sua frequência alterada a depender de consequências passadas em situações similares, o que o autor denominou condicionamen- to operante; por outro lado, se um estímulo incondicionado (função adquiri- da filogeneticamente; inato) for pareado a um estímulo neutro, este adquire função similar ao primeiro (como no experimento de Pavlov, no qual a cam- painha passou a eliciar a salivação dos cães sem a apresentação do alimento), processo denominado condicionamento respondente. Joseph Wolpe e Hans Eysenck foram teóricos que começaram a utilizar os conceitos comportamentais em suas pesquisas e adicionaram ao modelo da TCC. Antes eles não se utilizavam de conceitos mentalistas, investigando questões cognitivas com a terminologia de comportamento, mas perceberam que a teoria comportamental poderia se juntar com a teoria cognitiva. Ban- dura, com sua teoria da aprendizagem, também contribuiu para o surgimento da TCC. Esse movimento realizado por esses autores foi nomeado como "revo- lução cognitiva", pois com seus estudos e experimentos possibilitaram uma abertura do conceito de cognição também dentro de algumas vertentes com- portamentais (BAHLS; NAVOLAR, 2004). A TCC foi criada com o objetivo de tornar o paciente seu próprio terapeuta. É relevante também destacar que essa abordagem é adaptada de acordo com o paciente com diferentes níveis de educação ou renda, assim como idade e cultura. Pode ser utilizada individual, em grupo, casais e famílias. Vale ressaltar que se não utilizar a cognição como foco de tratamento ou excluir o comportamento, essas teorias não são consideradas cognitivo-com- portamentais. Para ser considerada TCC é necessário que se entenda que os sintomas e os comportamentos do indivíduo são atravessados pelos proces- sos cognitivos. As TCCs possuem diferenças, mas também possuem bases em comum. Grande parte dessas teorias têm em comum o contraste com a teoria psica- nal ít ica, pois precisam ter início, meio e fim. Sugere-se até que o número máximo de sessões seja de 12 a 16 sessões ou de um a dois anos, a depender do transtorno que é apresentado pelo paciente. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Sintetizando • Até chegar ao que conhecemos hoje, a terapia cognitivo-comportamental pas- sou por diversas mudanças, rompimentos e fusões. Estudamos um pouco sobre a história da Psicologia como ciência e profissão e o desenvolvimento de duas impor- tantes escolas de pensamento. Podemos entender como a teoria cognitiva-compor- tamental se formou, e que foi atravessada até por influências filosóficas de séculos passados. Vimos que para a TCC o ser humano é influenciado pelos seus pensamen- tos e que, por conseguinte, interferem nas suas emoções e comportamento. Inicialmente, para entender a criação da TCC, foi necessário estudarmos pri- meiro o desenvolvimento da teoria comportamental desde o princípio, com Wi- lhelm Wundt e a criação do behaviorismo radical, filosofia que seria a base da aná- lise do comportamento como conhecemos. Por conseguinte, conhecemos Pavlov e seus experimentos com animais, em especial cachorros, que ajudariam a am- pliar o conhecimento sobre o comportamento humano. Observamos que naquela época esses estudos eram embasados no método de observação em laboratórios. Passamos de Pavlov para Watson e seus expe- rimentos com o bebê Albert, um caso polêmico e que ficou muito conhecido no meio da Psicologia. Watson, com suas experiências, tinha o objetivo de confirmar que o ser humano poderia aprender a ter medo de algo se o seu ambiente favore- cesse esse processo. Finalizando a parte da teoria comportamental, conhecemos Skinner e suas contribuições, especialmente o aparato conhecido como caixa de Skinner, que o tornou a maior referência na compreensão do comportamento hu- mano até hoje. Aprendemos que nossos comportamentos dependem de variáveis da nossa história prévia de contingências de reforçamento e punição, da cultura na qual estamos inseridos e até mesmo da nossa genética. Aprendemos também sobre a análise funcional e os determinantes ambientais para entender qual a fun- ção do comportamento instalado ao investigar a contingência completa (estímulos antecedentes, resposta e consequências), e não apenas as respostas emocionais. Ao nos aprofundarmos no meio da terapia cognitiva, entendemos que exis- tiram divergências sobre os conceitos de mente, consciência e como poderia ser desenvolvido um conceito que explicasse de forma científica o seu funcionamen- to. Podemos ver a influência das máquinas, como, por exemplo, os estudos da inteligência artificial. A teoria da aprendizagem também teve seu destaque. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Assim como todas as teorias possuem diferenças e semelhanças, não foi di- ferente entre as teorias cognitivas e comportamentais. Vimos que em um deter- minado momento suas bases se juntaram, mas que não deixaram de lado seus conceitos e filosofias. Por fim, conhecemos como a TCC foi criada por Aaron Beck, que, empenha- do em comprovar cientificamente suas teorias, desenvolveu diversos conceitos e experimentos que resultaram em premiações, e também no reconhecimento da teoria como referências em estudos científicos no campo da Psicologia. Vimos que o modelo cognitivo criado por Beck demonstra como os humanos pensam, sen- tem e se comportam, e como essas características podem desencadear diversas psicopatologias. Aprendemos os conceitos de pensamentos automáticos, e que as crenças nu- cleares e intermediárias surgem a partir da infância do sujeito, o que influencia na forma como ele pensa e interpreta o mundo ao seu redor, e que essas crenças podem ser difíceis de serem identificadas, sendo necessária a conceituação que objetiva a organização das informações do paciente, assim como diferentes situa- ções influenciam as reações do paciente. Falamos sobre os princípios-base da terapia cognitivo-comportamental que servem como auxílio para realizar o tratamento do paciente e como direciona- mento para o comportamento do terapeuta dentro do consultório. Desde a década de 1960, quando diversos teóricos adotaram a cognição em seus trabalhos, a TCC é vista como uma terapia estruturada, que prioriza a cola- boração que deve existir entre terapeuta e cliente. A terapia cognitivo-comporta- mental se evidenciou pela sua comprovação científica e pela sua efetividade no tratamento de diversos transtornos e demandas do dia a dia. Sua principal carac- terística é a reestruturação cognitiva que auxilia os clientes a identificarem seus pensamentos causadores de conflitos ou sofrimentos emocionais, podendo pro- porcionar a autonomia do paciente para desenvolver habilidades de lidar com o que lhe causaproblemas, aliviando, assim, seus sintomas. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Referências bibliográficas •• BAHLS, S. C.; NAVOLAR, A. B. B. Terapia cognitivo-comportamentais: conceitos e pressupostos teóricos. Psico UTP Online, Curitiba, v. 26, n. 4, 2004. BECK, J. S. Terapia cognitivo-comportamental. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. B. F. SKINNER FOUNDATION. Biographical lnformation. Cambridge, [s.d.]. Dis- ponível em: <https://www.bfskinner.org/archives/biographical-information/>. Acesso em: 20 jul. 2021. MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do comporta- mento. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. NEUFELD, C. B.; BRUST, P. G.; STEIN, L. M. Bases epistemológicas da psicolo- gia cognitiva experimental. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, DF, v. 27, n. 1, p. 103-112, jan./mar. 2011. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102- 37722011000100013>. Acesso em: 13 jul. 2021. O QUE É consciência? Postado por Minutos Psíquicos. (4min. 50s.). son. co- lor. port. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ujqgVWHcBjc>. Acesso em: 13 jul. 2021. PASSOS, J. As terapias comportamentais: um mar de siglas, ondas, concordân- cias e discordâncias. Portal Comporte-se: Psicologia e Análise do Comporta- mento, 15 mar. 2016. Disponível em: <https://comportese.com/2016/03/15/te- rapias-comportamentais>. Acesso em: 20 jul. 2021. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. 4. ed. São Paulo, 2019. WENZEL, A. Inovações em terapia cognitivo-comportamental: intervenções estratégicas para uma prática criativa. Porto Alegre: Artmed, 2018. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • UNIDADE r educacional Obietivos da unidade Debater a TCC na atualidade, apresentando seus principais conceitos e os momentos históricos que auxiliaram em sua formação; Apresentar o desenvolvimento da TCC no Brasil e seus precursores; Abordar os conceitos utilizados na formação da aliança terapêutica na TCC. Tópicos de estudo A terapia cognitivo- -comportamental na atualidade Terapia cognitivo- -comportamental baseada em evidências Terapias contextuais O início das TCCs no Brasil A visão de homem na Psicologia Cognitivo-Comportamental Processos representacionais segundo a Psicologia Cognitivo- -Comportamental Conceituação da representação mental A função da percepção na TCC Pressupostos da relação terapêutica na TCC Princípios da aliança terapêutica Empirismo colaborativo PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • • A terapia cognitivo-comportamental na atualidade O Brasil foi um dos primeiros países a desenvolver as psicoterapias basea- das em evidências e utilizando primeiramente a terapia comportamental; hou- ve, inclusive, um pupilo de Skinner, Fred Keller, que desenvolveu pesquisas fun- damentadas na análise do comportamento na Universidade de Brasília. Já em relação à chegada da prática cognitiva no Brasil, esta é um pouco mais recente. Após Aaron Beck conceber a terapia cognitivo-comportamental, ela se ex- pandiu de maneira impressionante: por ser uma teoria baseada em evidências, difundiu-se e demonstrou a capacidade de tratar diversos problemas no que diz respeito à saúde mental. Assim, atualmente a teoria de Beck é uma das principa is no campo da Psicologia justamente por sua eficácia e a apresentação de resultados decorrente de suas sessões. Figura 1. Tríade cognitiva de Beck. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 04/08/2021. (Adaptado). O termo TCC adquiriu diversos significados desde sua criação por Beck e atual- mente é possível observar numerosas teorias que surgiram a partir da Psicologia Cognitiva e da Psicologia Comportamental. Isso posto, a TCC tradicional e as TCCs contextuais são complementares, uma vez que há tratamentos nos quais a TCC tradicional é mais eficaz, ao passo que, em outros, as TCCs atuais têm melhor de- sempenho. Uma não anula a outra e ambas possuem evidências científicas. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Vale ressaltar que a TCC também passou por adaptações desde sua criação, des- locando-se dos laboratórios acadêmicos e das testagens em salas de experimentos para a atuação na prática clínica, na vida real. Houve também uma adaptação até mesmo para contextos culturais e a ferramenta passou a considerar diversas áreas da vida do indivíduo, como religião, etnia e questões sociais com um todo. •• Terapia cognitivo-comportamental baseada em evidências A TCC iniciou-se a partir de estudos voltados principalmente para a depres- são e a ansiedade, mas posteriormente se expandiu para tratamentos rela- cionados a regulação da raiva, abuso de substâncias, transtornos alimentares, transtornos de personalidade e comportamento suicida. Além disso, também foram desenvolvidos tratamentos para outras psicopatologias, como transtor- no bipolar e esquizofrenia. Todavia, a TCC não trata apenas de demandas relac ionadas a doenças psico- patológicas como também médicas, tais quais obesidade, dor crôn ica e disfun- ção sexual; além disso, ela se desenvolveu para atuar com demandas voltadas para o dia a dia do paciente, como questões relacionadas a timidez, comunica- ção e relacionamentos amorosos, entre outros. , E importante destacar que a TCC, antes voltada para o tratamento indivi- dual, atualmente também é capaz de atuar com grupos, casais e famílias. Ri- chard Heimberg foi o teórico que auxiliou a desenvolver a aplicação da TCC para grupos no tratamento do transtorno de ansiedade social e, a partir disso, também foram englobadas questões como transtornos de personalidade, per- feccionismo e fobias, entre outros. Já a TCC aplicada a casais e famílias desenvolve intervenções focadas nas principais demandas, como afeto, comunicação, expressão de emoções e mu- dança de pensamentos irracionais relacionados ao outro, e concentra-se em ações mais positivas dentro dos relacionamentos. Outra novidade é que, com a chegada da globalização e do uso da internet, a TCC também passou a ser aplicada por meios digitais, nos quais as sessões ocorrem de forma on-line por meio de e-mails, telefonemas ou videochamadas, entre outros. Ressalta-se que esses métodos possuem tanta eficácia quanto o tratamento de forma presencial. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • A TCC caminha lado a lado com a Prática Baseada em Evidências em Psicolo- gia (PBEB) ou simplesmente Psicologia Baseada em Evidências (PBE). A PBE não é uma abordagem dentro da Psicologia, mas sim um recurso que auxilia o pro- fissional a escolher práticas que obtenham bons resultados mediante estudos científicos. Cita-se ainda as abordagens da Psicologia que estão inclusas na PBE, como a terapia cognitivo-comportamental e a análise do comportamento. Essa prática surgiu em 1952 com o psicólogo alemão Hans Eysenck, que publicou dados advindos de seus estudos de psicoterapia sobre pacientes neu- róticos. Os resultados indicaram que esses estudos falharam em provar que a psicoterapia pode facilitar a recuperação desses pacientes. Estas conclusões causaram reações, uma vez que acreditava-se fielmente que a psicoterapia po- deria auxiliar a todos. De um lado houve terapeutas que continuaram acreditando na eficácia da terapia, e de outro houve aqueles que começaram a questionar a importância da demonstração empírica dos resultados das psicoterapias. Esse foi o resul- tado positivo das pesquisas de Eysenck, posto que motivou outros teóricos a submeterem seus estudos em busca de resultados mais eficazes. O principal efeito do trabalho de Eysenck (1952), entretanto, foi es- timular a busca pela demonstração empír ica dos resu ltados das psicoterapias (Barlow et ai., 2013). Revisões de pesquisas clínicas realizadas nas décadas de 1950, 1960 e 1970 surgiram na segunda metade da década de 1970 e, em sua maior ia, demonstravam que a psicoterapia é altamente efetiva e que não existem diferenças signi- ficativas entre as várias modalidades. Por exemplo, em 1975, Lubor- sky, Singer e Luborsky anal isaram 105 pesquisas que compararam o efeito de diferentes modalidades de psicoterapia entre si, ta is como psicanál ise, terapia centrada no cl iente, terapia comportamental e psicodrama, além de comparações com t ratamentos medicamento- sos e com grupos-controle. Os autores concluíram que "a maioria dos estudos comparativos das diferentes fo rmas de psicoterapia re- velaram diferenças insignificantes nas proporções de pacientes que melhoraram ao fina l da psicoterapia" (p. 1003). Em out ras palavras, todos se beneficiaram da terapia, a despeito da teoria ou técnica empregada (LEONARD!; MEYER, 2015, p. 1142). PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • O início da prática baseada em evidências auxiliou a trajetória da TCC, vis- to que nos anos 1990 houve uma necessidade de trabalhar com métodos con- fiáveis, particularmente devido à pressão dos Estados Unidos nas disciplinas da área da saúde para que utilizassem terapias sustentadas na ciência, ou seja, no método empírico. Por ser uma terapia que preenche esses requisitos, a TCC passou a ser indicada para tratamentos. Hoje em dia, teóricos enfatizam que aqueles que lançam mão da TCC de- vem levar em consideração fatores sociais e culturais. Ademais, nossa socie- dade atual reforça ideias voltadas para um ser individual, que consegue dar conta de tudo sozinho e que pode controlar seus pensamentos incessante- mente; com isso surge uma autocobrança excessiva que futuramente pode gerar diversas dificuldades. O acesso à informação possibilitou que os próprios pacientes busquem informações sobre seus diagnósticos e com qual tipo de abordagem há mais afinidade, o que indica uma maior consciência sobre si próprio. O resultado disso é um aumento da procura por ajuda profissional, demonstrando que o estereótipo de que só faz psicoterapia quem está psíquicamente adoecido vem sendo superado. O fato de a TCC ser uma abordagem efetiva e de curta duração e o ritmo rápido do mundo atual estão ligados à busca por respostas rápidas por parte dos indivíduos. Isso pode ser encarado como algo positivo, ao mesmo tempo em que pode ser uma armadilha: se o paciente busca uma resposta na pri- meira sessão, o que dificilmente irá ocorrer, isto pode causar frustração. No entanto, se o terapeuta souber manejar esta situação, conseguirá desenvol- ver seu trabalho. Nos últimos 20 anos, houve um grande desenvolvimento da TCC e de suas evidências, o que auxiliou também para o financiamento de pesquisas neste campo. Esta área encontra-se sempre em processo de mudança e adaptação, assim como qualquer outra área da ciência, e cabe aos estudiosos desenvol- verem novas práticas baseadas em evidências que ajudem a solucionar as demandas de saúde mental da sociedade. Por fim, ressalta-se que a PBE ainda está em desenvolvimento no Brasil, mas em diversos países da Europa é a base para todos os estudos. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • •• Terapias contextuais A expansão da TCC também se deu em relação ao contexto cultural. Como se sabe, as teorias antigas possuíam uma visão individual do ser humano, nas quais seu lado social era ignorado. A TCC, por exemplo, desenvolveu-se a partir da visão ocidental individualista que focava em conceitos como autonomia e independência, e seus principais tratamentos foram criados por meio de amostras de populações brancas e de classe média. Isto começou a despertar questionamentos relacionados a sua aplicação e efetividade para indivíduos que não se encontram nestes grupos; a esse olhar voltado para a cultura deu-se o nome de sensibilidade cultural. CITANDO "Pamela Hays ( ... ) desenvolveu o ADRESSING, um sistema para nos cons- cientizarmos das múltiplas influências que afetam apresentações clínicas, incluindo influências relativas a idade/geração, deficiências desenvolvi- mentais e de outros tipos, orientações religiosas e espirituais, identidade étnica e racial, condição socioeconômica, orientação sexual, herança indígena, nacionalidade e gênero" (WENZEL, 2018, p. 15). A partir de diversos testes, percebeu-se que a TCC poderia ser utilizada em diversos contextos relacionados a diferentes etnias, culturas e classes sociais; no entanto, mesmo com essa novidade na forma de intervenção, a utilização de seus princípios básicos é essencial. Wenzel afirma que "muitas pesquisas ainda são necessárias para estabelecer a eficácia da TCC com diversos grupos culturais e étnicos, bem como a eficácia de adaptações específicas que hipote- ticamente melhorariam seu resultado" (2018, p. 16). Hoje em dia, discorrer sobre a TCC é discorrer sobre a terceira onda ou, como são mais comumente conhecidas, as terapias contextuais. Lembrando que a TCC criada por Beck, denominada de tradicional, ainda é e pode ser utilizada, mas nosso intuito aqui é destacar que atualmente há novas modalidades das TCCs. As mudanças estão intimamente relacionadas ao foco: na terceira onda, por exemplo, atua-se muito com conceitos como aceitação, mindfulness e cons- ciência plena. Dentro das terapias de terceira onda, as mais trabalhadas são a terapia de aceitação e compromisso (ACT), desenvolvida por Steven Hayes; a terapia cognitiva baseada em mindfulness (MBCT), criada por Zindel Segai; a terapia comportamental dialética (DBT), criada por Marsha Linehan; e a terapia metacognitiva, desenvolvida por Adrian Wells. PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • A DBT foi inicialmente desenvolvida para o tratamento de pacientes diag- nosticados com transtorno de personalidade borderline. Esse modelo de abor- dagem comportamental baseia-se em uma hierarquia de metas terapêuticas de acordo com sua relevância na v ida do paciente, objetivando, primeiramente, reduzir comportamentos autolesivos e/ou suicidas, habilitando o paciente a identificar desregulações emocionais e impulsos. Já o mindfulness vem das práticas budistas baseadas na meditação e consiste em ter a atenção mantida no presente, aceitando as dificuldades da vida sem re- sistir a isso. Os teóricos que a criaram notaram que, para alguns pacientes, essa não aceitação acabava resultando em um alto grau de sofrimento. Vale ressaltar que essa prática não é uma forma de psicoterapia, mas sim um adicional, pois é uma técnica que auxilia os pacientes a focarem no aqui e agora, observando os pequenos momentos do cotidiano, validando suas conquistas, identificando mudanças de humor e observando sua respiração, corpo e pensamentos. Na terapia de aceitação e compromisso (ACT) há foco na maneira como o indi- víduo se relaciona com seus pensamentos, sentimentos e emoções. Seu objetivo, juntamente com o mindfulness, é a redução do sofrimento a partir do processo de aceitação e ação compromissada com os valores, no qual o sujeito assume o com- promisso de mudança perante seus comportamentos. Esse formato de terapia con- vida o paciente a entrar em contato com eventos privados e situações difíceis, mos- trando que seu controle não é necessariamente o caminho mais correto a seguir. Aceitação Desfusão cognitiva Atenção presente Self como contexto Valores Compromisso Figura 2. Modelo de flexibilidade psicológica, ou hexaflex. Fonte: MANZIONE, 2017. (Adaptado). PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL • Na Figura 2, é possível ver o hexaflex, um diagrama de flexibilidade psico- lógica utilizado na ACT, a qual se refere à habilidade do sujeito perceber o pró- prio comportamento de forma que ele não fuja de eventos privados aversivos, observando suas sensações e agindo mesmo frente à aversividade. A atenção presente, no topo do diagrama, é o domínio que envolve o mindfulness. Analise o seguinte exemplo: Maria passou por uma situação traumática em que teve uma decepção amorosa. Após isso, para ela, todas as relações que tiver terminarão dessa forma e, portanto, ela evitará se envolver com as pes- soas,
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