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Aula 4 – Civilização Grega 33 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência Um mito acaba por reproduzir valores culturais e sócio- políticos da sociedade a que se refere, incorporando e fantasiando pessoas e situações reais. O poder do minotauro provavelmente expressa a hegemonia cretense sobre o mundo grego e o triunfo de Teseu sobre o monstro simboliza a nova hegemonia do mundo grego , representada por Atenas. DIVISÃO HISTÓRICA DA GRÉCIA De forma didática, a história grega é dividida em quatro grandes períodos, a saber: • Tempos Homéricos ou Período Micênico; • Período Arcaico; • Período Clássico; • Período Helenístico. Tempos Homéricos De 1.200 a 800 a.C. o mundo grego passou por uma etapa de transição entre o mundo dos palácios e o das cidades que floresciam posteriormente. Quatro séculos enigmáticos, chamados de “séculos obscuros”. Um período mal conhecido, no qual ocorreu o desaparecimento do sistema burocrático, a extinção do comércio de longo curso e o abandono da escrita. A ausência de documentos escritos confere enorme importância à pesquisa arqueológica, que sublinha uma enorme diversidade de modos de vida na Grécia. Existiam formas precoces de cidade, comunidades agrárias coletivistas, grupos nômades e, quem sabe, outros modelos de vida em sociedade. De qualquer maneira, os indícios apontam o predomínio de uma sociedade agropastoril. Os homens viviam em pequenas células agrícolas definidas como genos ou comunidades gentílicas. Nelas 34 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. prevalecia uma economia coletivizada e a liderança do pater (geronte), chefe político e líder religioso. A preservação do passado se fazia pela tradição oral, em que poetas, chamados aedos, contavam a história por meio da poesia. Para tornar suas narrativas mais atraentes aos ouvintes, os aedos as iam ampliando, geração após geração. Ninguém na plateia estava preocupado em apurar a verdade. O essencial era a beleza e a emoção que a narração poderia despertar. Durante o século VIII a. C., logo após o período homérico, um indivíduo chamado Homero teria reunido essas histórias nas epopeias Ilíada e Odisseia (ninguém sabe ao certo se essas epopeias foram ambas escritas por Homero). Por trás dessas obras, havia séculos a fio de uma poesia até então oral, composta, recitada e transmitida pelos aedos sem auxílio de uma palavra escrita. Esses dois poemas épicos narram a Guerra de Tróia e o regresso de Ulisses a Ítaca. Na Ilíada é narrado o último ano da guerra, ocorrida séculos antes da época de Homero, durante o período micênico, provocada pelo rapto de Helena, filha do rei de Esparta, por Páris, príncipe de Tróia. Helena era tão bela e tinha tantos pretendentes que seu pai promoveu uma grande reunião com todos os interessados e obteve um deles um compromisso: qualquer que fosse o escolhido por ela, os demais se comprometiam a defender o casal contra as ofensas que pudessem sofrer. O escolhido foi Menelau, que assim também tornou-se rei de Esparta. A vida transcorria até o dia em que Páris conheceu Helena e por ela se apaixonou. Não tendo sido um dos preferidos e não estando, portanto, amarrado ao compromisso firmado por estes, raptou a amada e levou-a para Tróia. Agamenon, irmão do ofendido Menelau, convocou todos os antigos pretendentes à mão de Helena, lembrou-lhes o pacto de fidelidade e organizou a primeira expedição contra Tróia. Foram dez longos anos de luta em que a sorte pendeu ora a para um lado, ora para outro. Finalmente Ulisses, um guerreiro espartano sem nenhum poder extraordinário, a não ser uma cabeça fértil para inventar truques e expendientes, criou o estrategema da vitória: um grande cavalo de madeira capaz abrigar alguns guerreiros em seu interior. Os troianos, que consideravam o cavalo um animal sagrado, recolheram o presente deixado diante do portão de suas muralhas, acreditando ser um reconhecimento da derrota por parte dos gregos, e passaram a noite comemorando a vitória. Os soldados escondidos dentro do cavalo aproveitaram a festa para sair, incendiar e destruir Tróia. Essa é a origem da expressão “presente de grego”. Estudos arqueológicos contestam vários episódios narrados na Ilíada. As mais recentes escavações feitas no local levaram a concluir que Tróia não foi destruída por um incêndio. Há provas claras de que o que houve ali foi um terremoto. Diante disso, o historiador inglês Moses Finley, falecido em 1986, propôs que se retirasse definitivamente a Guerra de Tróia dos livros de História. Segundo ele, não há uma só prova consistente de que a guerra entre troianos e gregos tenha acontecido. Por mais que os historiadores e arqueólogos tentem demonstrar o quanto há de verdade e mentira nas epopeias gregas, o que parece prevalecer na memória do homem comum é a imagem poética da lenda, que tem contornos muito mais fortes do que a realidade. Em Homero fica claro que a guerra era um dos valores primordiais dos gregos. Rivalizar, competir era o único modo de ser digno dos deuses. A excelência humana era conferida principalmente pela bravura e habilidade na batalha. O mundo grego considerava a violência como algo absolutamente natural e um meio para se obterem metais e escravos. O mundo em que vivemos condena moralmente a guerra como um meio para se atingir determinado objetivo. Vemos também na descrição de Homero o germe de uma concepção mais ampla da excelência humana: a que une o pensamento à ação. Como na esperteza do jovem Ulisses ao usar o cavalo de madeira pra vencer os troiano e, consequentemente, a guerra. Para os mesopotâmios e egípcios, os deuses eram os principais responsáveis pelo bem ou pelo mal que advêm aos seres humanos. Para Homero, os deuses ainda estão muito envolvidos nos negócios do homem, mas o poeta converte o indivíduo numa personagem decisiva para os destinos do mundo. Os homens homéricos tributam respeito aos deuses, porém escolhem seu próprio caminho, chegando às vezes a desafiá-los. Buscam seus objetivos e enfrentam seus problemas; os deuses podem ajudá-los ou frustrá-los, mas o êxito ou o fracasso só aos homens pertence. O Período Arcaico Esse período é marcado pelo aparecimento do escravismo, da filosofia (filos: amigo; sofo: saber), o movimento colonizador que levou à fundação de colônias gregas ao longo do Mediterrâneo e, principalmente , pelo surgimento das cidades-estados. Os gregos chamavam de pólis as suas cidades. Política era o assunto que dizia respeito aos assuntos coletivos da cidade e do exercício da cidadania. O espírito público era tão intenso que os gregos chamavam de idiota (idi: cidadão; ota: particular) quem não se interessava por política .Eram centenas as cidades gregas, todas independente politicamente, contudo as duas cidades mais representativas da Grécia são Atenas e Esparta. A pólis grega Pouco a pouco, as cidades-Estados gregas –– definidas como pólis ou urbes –– foram surgindo. Essas urbes não têm certidão de nascimento. Só as reconhecemos quando já estavam funcionando, por volta do final do século IX e no século VIII a.C. Além disso, não houve um desenvolvimento simultâneo. Cada urbe era independente, tinha as suas próprias instituições e frequentemente entrava em atrito com as outras. Sua dimensão era pequena; a maioria delas tinha menos de 5 mil cidadãos do sexo masculino. Atenas, que era uma grande cidade Estado, contava com cerca de 35 mil cidadãos homens; o resto de seus 350 mil habitantes era constituído de mulheres, crianças, estrangeiros residentes e escravos, nenhum dos quais tinha direitos políticos. A pólis amadurecida era uma comunidade com governo próprio que expressava a vontade de cidadãos livres, não os desejos de deuses, monarcas hereditários ou sacerdotes. A pólis grega também nasceu como umainstituição religiosa na qual os cidadãos buscavam conservar uma aliança com suas divindades. Mas, pouco a pouco, eles reduziram a importância dos deuses na vida política e basearam o governo da razão, e não mais nos poderes mágicos de governantes divinos. A emergência de atitudes racionais não implicava, é claro, o fim da religião, especialmente para os camponeses, que permaneciam fiéis a seus antigos cultos, deuses e santuários. Nem os dirigentes gregos deixavam de consultar presságios e oráculos antes de tomar decisões. Cada gesto da vida pública ou da vida privada conservava uma dimensão sagrada. A tradição mítico-religiosa jamais desapareceu na Grécia, mas coexistiu com crescente racionalismo. Quando a civilização ateniense atingiu seu apogeu, em meados do século V a.C., a Aula 4 – Civilização Grega 35 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência religião já não era um fator dominante na política. O que tornou a vida política grega diferente da de civilizações primitivas, e lhe conferiu um significado duradouro, foi a capacidade dos gregos de, aos poucos, compreender que os problemas da comunidade são provocados pelos seres humanos e exigem soluções humanas. Assim, eles chegaram a entender que a lei é uma conquista da mente racional mais do que algo imposto pelos deuses. Tempos Homéricos Homero foi um poeta cego da região da Jônia; Provavelmente trata- se de uma personagem mitológica contudo os gregos atribuem a ele as duas principais obras literárias que retratam este período: “Ilíada” e “Odisseia”. A Ilíada narra a guerra de Tróia travada entre gregos e troianos, motivada pelo rapto de Helena (mulher de Menelau, general espartano) por Páris, general troiano. As cidades gregas se aliaram e fizeram um cerco a Tróia, que resistiu por um período de dez anos. Tróia só caiu quando os gregos ofereceram um “presente” em forma de um enorme cavalo de madeira que, ao ser levado para o interior de Tróia, continha vários soldados gregos que abriram as fortalezas troianas possibilitando a ocupação militar da Grécia. A Odisseia, por sua vez, narra as aventuras do retorno do herói grego Ulisses, rei de Ìtaca, após ter lutado na Guerra de Tróia. Os monstros enfrentados na longa travessia e o reencontro de Ulisses com a rainha Penélope tornam esta leitura mitológica fascinante. O confronto das obras de Homero com um profundo resgate arqueológico conduzem os historiadores à conclusão que a Grécia foi palco de sucessivas invasões de quatro povos principais: • Aqueus: São os fundadores de Micenas (+ ou – 2000 a.C.). Após conquistarem Creta absorveram parte da sua cultura, dando origem à civilização Creto-Micênica. • Jônios: São os fundadores de Atenas (+ ou – 1700 a.C.). Realizaram ainda um expansionismo imperialista pela Ásia Menor, fundando várias cidades como Mileto, Éfeso, Esmirra, entre outras. • Eólios: São os fundadores de Tebas (+ ou – 1700 a. C.). Ao invés de terem destruído a civilização Creto-Micênica, se integraram a ela. • Dórios: São os fundadores de Esparta (+ ou – 1200 a.C.). Guerreiros violentos, realizaram invasões e dominações sobre cretenses e micênicos. Durante o período Homérico a Grécia estava dividida em diversas organizações familiares chamadas genos. A base produtiva era a agricultura e a pecuária. O trabalho era coletivo e a produção era repartida igualitariamente, uma vez que neste período não existia nem propriedade privada nem estratificação social. Cada geno era liderado por geronte, membro mais velho da comunidade, que era simultaneamente chefe religioso e político. As reuniões de genos aconteciam na acrópole, ponto mais elevado da comunidade , e ocorriam por razões religiosas ou militares. O final do Período Homérico é marcado pela desintegração da comunidade gentílica. O crescimento demográfico e a pobreza do solo provocaram uma crise que conduziu a desagregação dos genos e o aparecimento das cidades-estados. ESPARTA: Uma cidade em estado de guerra Fundada pelos primitivos invasores dórios e localizada no interior da Grécia, em uma região chamada de Lacônia, Esparta era um verdadeiro acampamento militar. A sociedade espartana era conservadora e xenófoba, dividida em três classes básicas: • Espartanos ou esparciatas: dedicados exclusivamente as atividades militares, compunham a classe dominante. • Periecos: estrangeiros, não gozavam de participação política. • Hilotas: os servos do Estado, viviam uma situação de absoluta exploração. Os hilotas, por constituírem uma maioria oprimida, estavam em constante estado de revolta. Isso ajuda a compreender o militarismo dos espartanos, sempre em estado de alerta para sufocar as rebeliões dos hilotas, submetidos frequentemente aos kryptios, extermínio do excedente populacional hilota. O conservadorismo de Esparta era tão intenso que a elaboração da sua única Constituição foi atribuída a um legislador provavelmente mitológico, chamado Licurgo. Quando nascia uma criança em Esparta, os anciãos se reuniam no alto de um abismo e a examinavam. Se fosse forte, deixavam-na viver, se fraca, lançavam-na no abismo. Julgavam que a vida é uma guerra e quem não tivesse força para enfrentá-la não merecia viver A educação espartana era rigorosa e voltada para preparar guerreiros. Ser lacônico implicava em ouvir mais e falar menos não fornecendo informações da cidade se, por acaso, fosse feito prisioneiro. A mulher espartana gozava de certa liberdade. Deveria ser forte e saudável para gerar bons guerreiros para Esparta, era educada em igualdade de condição com os homens, participava dos jogos e chegava a ocupar cargos públicos em períodos de guerra. A estrutura política de Esparta era constituída dos seguintes órgãos: • Gerúsia: Conselho de anciãos formado por 28 membros com mais de 60 anos. • Éforos: Poder Executivo, formado por cinco espartanos com mais de 30 anos. • Diarquia: Dois reis; um tratava de assuntos religiosos, enquanto outro cuidava de assuntos militares. • Apela: Assembleia popular, dela participavam todos os cidadãos espartanos. ATENAS: a educadora da hélade A cidade de Atenas localizava-se na Ática, península do sudeste grego. Apesar do solo pouco fértil, os atenienses cultivaram oliva, a vinha e diversos cereais. Contudo, a base econômica era o comércio marítimo e a estrutura produtiva era baseada na exploração do braço escravo. A origem mitológica de Atenas é atribuída ao herói Teseu, porém a origem da cidade deve ser atribuída à desintegração da comunidade gentílica e ao processo de cinecismo. A sociedade era dividida em três classes básicas: eupátridas, cidadãos atenienses possuidores de direitos políticos; metecos, estrangeiros excluídos da cidadania, pagavam impostos, serviam ao exército e dedicavam-se ao comércio e ao artesanato; escravos, que constituíam a imensa maioria da população. O grande legado ateniense foi o desenvolvimento da democracia, que era direta, escravista, militarista e imperialista. Todos os cidadãos se reuniam na eclésia (assembleia popular) para decidir os destinos da cidade. Vale destacar que a democracia ateniense era restrita aos cidadãos, ou seja, indivíduos adultos, do sexo masculino, filhos de pais atenienses e nascidos em Atenas. Assim mulheres, estrangeiros, escravos e crianças não gozavam da cidadania. A sociedade ateniense era patriarcal e foi organizada para o mundo masculino. As mulheres de Atenas, confinadas ao gineceu – um espaço restrito as mulheres (os homens autorizados a entrarem neste espaço eram o pai, o marido, o filho, o irmão, o tio, ou seja, todos ligados à mulher por laços de parentesco) - eram preparadas para a vida doméstica e a submissão aos homens. 36 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. EVOLUÇÃO POLÍTICA DE ATENAS Originalmente Atenas foi uma Monarquia governadapor um rei chamado basileu. Aos poucos o poder foi transferido para os chefes das principais famílias, os eupátridas. Assim a monarquia foi substituída por uma oligarquia. Os nobres reuniam-se num conselho chamado Areópago. Mais tarde, o Arcontado, composto por nove arcontes , substituiu o rei nas funções executivas. Alguns arcontes importantes eram o Epônimo (administração), Basileu (religião), Polemarca (militarismo) e Temostetas (justiça). O poder oligárquico beneficiava os aristocratas em detrimento das camadas populares, provocando insatisfação e revoltas sociais. Diante deste quadro crítico surgiram os reformadores ou legisladores, de importância vital para Atenas, a saber: • Drácon: Arconte eupátrida, estabeleceu as primeiras leis escritas de Atenas acabando assim com o Direito Consuetudinário. Suas leis eram rigorosas e conservavam os privilégios dos aristocratas, não alterando a situação social das classes subalternas. O quadro crítico continuava, era preciso novas leis. • Sólon: Eupátrida de nascimento e comerciante de profissão, estabeleceu leis de cunho mais social decretando a seisachtéia (fim da escravidão por dívidas), devolução de terras confiscadas pelos eupátridas e o princípio da eunomia com a igualdade de todos diante das leis. No plano político, Sólon dividiu a sociedade em quatro classes de acordo com a renda dos cidadãos (censitarismo). As reformas de Sólon não pacificaram Atenas. O quadro de tensão social continuava, favorecendo o aparecimento de tiranos, indivíduos que governavam com poderes totais e forte apoio popular. O primeiro tirano, Pisístrato, governou Atenas por 19 anos, realizando várias reformas com forte conteúdo social, a exemplo da reforma agrária. Os governos dos filhos de Psístrato não tiveram o mesmo sucesso do pai. Hiparco acabou assassinado e Hípias radicalizou a tirania, provocando forte convulsão social. Acabou derrubado por um aristocrata, Clístenes, com apoio das camadas média e popular. • Clístenes: Considerado o “pai da Democracia ateniense”, Clístenes adotou importantes medidas como a extensão dos direitos políticos a todos os cidadãos, participação direta dos cidadãos no governo, divisão da Ática em cem distritos chamados demos. Cada dez demos formava uma tribo, esta divisão gerou o Conselho dos Quinhentos. Principalmente, Clístenes implantou o ostracismo, que para proteger a democracia contra os tiranos, consistia num exílio desonroso por dez anos para qualquer pessoa considerada nociva para a democracia. • Péricles: Sob o seu governo, Atenas atingiu o apogeu da democracia escravista e ocorreu ainda um notável florescimento das artes, da literatura, do teatro e da filosofia. Isso tudo ocorreu já no período clássico da história grega. Pintura grega, século V a.C. LEITURA COMPLEMENTAR 1 Ciência e escravidão Numa sociedade em que o trabalho manual é humilhante e tido como apropriado apenas para os escravos, o método experimental não prospera. Foi o que fez com que a ciência grega apresentasse vários erros que o método experimental poderia resolver. Por exemplo: apesar de não podermos ver na escuridão total, eles acreditavam que a visão depende de uma espécie de radar que emana no olho, ricocheteia no que estamos vendo e retorna ao globo ocular. O mecanismo da visão foi melhor compreendido com a possibilidade do estudo da anatomia. Voto feminino na democracia contemporânea Em 1848, a Convenção dos Direitos Femininos, realizada em Nova Iorque, publicou a “Declaração de Sentimentos”, na qual defendia o direito de voto para as mulheres. Nas ruas, enquanto eram agredidas com frutas podres, elas gritavam: “Homens, seus direitos e nada mais! A imprensa, tomada de conservadorismo, ou as insultou ou as ignorou. Como frequentemente ocorre, a mudança de mentalidade é lenta e apenas em 1920 as mulheres norte- americanas conquistaram o direito de voto. No Brasil, o movimento organizado em defesa do voto feminino surgiu em 1922, quando foi fundada a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, no Rio de Janeiro. Em 1928, o estado do Rio Grande do Norte passou a permitir o voto e a candidatura de mulheres. Anos mais tarde, em 1931, foi criada a Cruzada Feminista Brasileira, engrossando as reivindicações pela participação das mulheres no processo político nacional. Em 1932, o governo federal estabeleceu as novas regras eleitorais que iriam nortear a política no país. Pela primeira vez as mulheres poderiam votar e candidatar-se. Em 1934, tomava posse a primeira deputada federal, Carlota Pereira de Queirós, eleita por São Paulo. O PERÍODO CLÁSSICO O período clássico foi simultaneamente o apogeu e o início da decadência grega. As maiores manifestações culturais do gênio grego ocorreram no século V a.C. ( o século de ouro ou século de Péricles ). Os gregos mostraram sua força militar ao derrotarem os persas nas Guerras Médicas. Contudo mostraram também sua fragilidade nas lutas internas entre suas cidades Estados ( Guerra do Peloponeso), que prepararam terreno para a invasão macedônica, pondo fim à autonomia grega. As Guerras Médicas As guerras médicas ou greco pérsicas ocorreram devido aos choques de imperialismo nas disputas por áreas orientais do Aula 4 – Civilização Grega 37 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência Mediterrâneo. O início do conflito ocorreu quando o imperador persa Dário l atacou as cidades gregas de Mileto, Éfeso e as ilhas de Samos e Lesbos. Atenas enviou, então, navios e tropas para auxiliá-las .Ainda assim os persas saíram vitoriosos. Este primeiro triunfo animou os persas que atacaram a Grécia continental dando início as Guerras Médicas. Em 490 a.C., uma expedição persa enviada por Dario e liderada por Mardônio foi derrotada pelas tropas atenienses comandadas por Milcíades na célebre batalha de Maratona. Temendo um novo ataque, os atenienses reforçaram sua marinha e com o auxílio das outras cidades gregas criaram uma simaquia (aliança defensiva). Quando ocorreu a segunda ofensiva persa, comandada pelo filho e sucessor de Dario, Xerxes, os gregos estavam preparados e saíram vitoriosos na batalha naval de Salamina. Os persas sofreram sua definitiva derrota em Eurimedonte e acabaram por reconhecer a derrota pelo Tratado de Calias, dando aos gregos a supremacia sobre o mar Egeu. Vista do Partenon, nas ruínas da Acrópole de Atenas. A HEGEMONIA ATENIENSE Atenas foi a mais importante força militar grega nas guerras médicas e acabou por se tornar na cidade mais rica e poderosa da Grécia. Durante as guerras contra os persas, surgiu a Liga de Delos, uma aliança militar naval hegemonizada por Atenas. Com o final da guerra, a liga transformou-se em um instrumento de poder ateniense. Os impostos pagos pelas diversas cidades eram desviados para Atenas, a moeda ateniense foi imposta para as cidades. Revoltas contra essa supremacia eram sufocadas como as de Naxos e Tasos. A grande aliança contra os persas acabou por se transformar em um instrumento da opulência de Atenas. Os tributos pagos pelas cidades gregas favoreciam o “milagre ateniense”. Obras públicas e palácios foram erguidos, surgiram grandes historiadores como Heródoto, geniais filósofos como Sócrates, teatrólogos como Sófocles e artistas e arquitetos como Fídias e Miron. A democracia escravista atingia o seu apogeu e Atenas transformava-se na “educadora da hélade”. A Guerra do Peloponeso Várias outras cidades gregas não aceitavam a supremacia ateniense e, temendo o crescente poderio da cidade de Péricles, as cidades de Corinto, Megara e principalmente Esparta, criaram a Liga do Peloponeso. Estava plantada a semente de uma guerra civil que acabaria por significar a decadência do mundo grego: A Guerra do Peloponeso. O temor da supremacia ateniense era tamanho que até o império persa auxiliou Esparta, enviando ouro e prata à Liga do Peloponeso. As Guerras do Peloponesoacabaram com o imperialismo ateniense, que deu lugar à hegemonia espartana. Não se pode reduzir este conflito ao aspecto econômico, é necessário observar ainda o seu caráter político e cultural expresso nas profundas diferenças e rivalidades entre o universo ateniense e o modelo espartano. A Guerra do Peloponeso durou 27 anos (431 a 404 a.C.). Foram anos não apenas de guerra, mas também de peste e destruição comercial. É claro que em meio a esse estado caótico a democracia ateniense desmoronou. Ao final do conflito Atenas saiu destruída, sua frota naval foi aniquilada e a vitoriosa Esparta passou a estender a sua hegemonia para outras cidades gregas. Esparta também, obviamente, saiu fragilizada da guerra e acabou perdendo a supremacia do mundo grego (pouco tempo depois) para Tebas. O resultado desta guerra é um saldo de nenhum vencedor, só de derrotados. A guerra foi o suicídio político das cidades gregas que, enfraquecidas militarmente, acabaram caindo sob o jugo da dominação macedônia. O PERÍODO HELENÍSTICO O Período Helenístico corresponde ao período da supremacia macedônia sobre os gregos. Tidos como bárbaros pelos gregos, os macedônios eram um povo indo-europeu que se habitavam a região montanhosa ao norte da Grécia. A Macedônia não possuía litoral, dificultando assim sua economia. No governo de Felipe II este império progrediu econômica e militarmente e, aproveitando-se da fragilidade do outrora poderoso mundo grego, invadiu e conquistou as cidades gregas (batalha de Queronéia). Felipe II planejava construir uma liga greco macedônia contra o império persa que, mais uma vez, ameaçava o mundo grego. Acabou assassinado. Seu sucessor foi seu filho Alexandre Magno, que comandou o apogeu do mundo macedônico. Alexandre, “o grande”, estendeu suas fronteiras, sufocou rebeliões e atingiu até o Oriente. O Império persa foi derrotado, o Egito foi conquistado e lá Alexandre foi consagrado faraó, tendo fundado uma cidade chamada Alexandria, famosa pelo magnífico farol e por uma notável biblioteca. As conquistas militares de Alexandre Magno no Oriente deram origem à chamada cultura helenística, que corresponde à fusão dos padrões culturais gregos com padrões orientais. Alexandre morreu aos 33 anos sem deixar herdeiros assim o império macedônico acabou dividido entre os seus principais generais. O império macedônico, outrora tão poderoso, agora estava dividido e em constante conflito, onde cada parte reivindicava ser a legítima herdeira do império alexandrino. Estas disputas internas abriram terreno para a dominação de um novo grande império, o romano. 38 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. CULTURA GREGA Religião A religião grega era politeísta e antropomórfica . Os vários deuses gregos habitavam o Monte Olimpo, possuindo virtudes, defeitos e características humanas. Para os gregos o homem não era servo de Deus, sua religião não se baseava na ideia de um pecado original , um messias salvador dos homens ou um paraíso após a morte corpórea. Ao contrário da tradição hebraico cristã, os deuses é que foram feitos à imagem e semelhança dos homens. Um dos raros cultos era o de caráter familiar, o que gerou uma certa unidade religiosa entre os gregos. A esperança em um futuro melhor fez os gregos acreditarem em Oráculos, sendo o mais importante era o de Delfos. Lá o deus Apolo falava pela boca de uma pitonisa (sacerdotisa). Acreditava-se que a própria fumaça tóxica dos vulcões submersos influenciava este jogo de adivinhação e alucinação. O culto aos deuses gregos gerou os Jogos Olímpicos, competições esportivas e culturais realizados a cada quatro anos na cidade de Olímpia. As Olimpíadas eram os jogos da paz, pois enquanto estivessem sendo realizados os jogos não ocorriam guerras na Grécia. Artes Os gregos desenvolveram praticamente todas as vertentes artísticas, com destaque especial na arquitetura e escultura, caracterizadas pela simplicidade, equilíbrio de formas, leveza do conjunto e harmonia entre as partes. Na escultura sobressaem-se o Discóbulo, de Miron, e o Hermes com Dionísio menino, de Praxíteles. As maiores manifestações arquitetônicas gregas encontram-se na Acrópole com destaque para o Partenon e Erecteion. São três os estilos arquitetônicos gregos: dórico (simples com apenas uma placa de mármore), jônico (com traços elegantes e adorno em espiral) e coríntio (rico em detalhes, tem a forma de um sino invertido envolvido em folhas de acanto). Coluna dórica, simples e sóbria Coluna jônica, elegante e trabalhada Coluna corintia, exuberante e rebuscada Medicina Os egípcios foram os primeiros a realizar cirurgias cranianas. Contudo, foi entre os gregos que a Medicina apareceu despida de misticismos ou dogmatismos. Destaque para Hipócrates (“o pai da Medicina”) que, por exemplo, afirmou que os ataques epiléticos derivavam de uma disfunção cerebral - e não da ira dos deuses sobre os homens. Literatura A poesia foi o primeiro gênero literário grego, com destaque para Homero (“Ilíada” e a “Odisseia”) e Hesíodo, que na obra “Teogonia” descreve a vida dos deuses gregos. O Teatro grego surgia nas festas dionisíacas e se dividia em duas vertentes: • Tragédia: Ésquilo (“Os persas”, “Prometeu acorrentado”), Sófocles (“Édipo Rei” e “Antígona”) e Eurípedes (“Alceste” e “Mulheres troianas”). • Comédia: Aristófanes (“Os cavaleiros” e “As nuvens”). Oratória A capacidade da eloquência e do convencimento através da retórica e da persuasão era bastante valorizada entre os gregos. Destaque para dois grandes oradores: Demóstenes, autor de “Filípicas”, e Péricles. Ciências Os gregos concebiam a ciência como vertente da filosofia e se destacaram na Matemática através de Tales de Mileto e Euclides; Astronomia, com Aristarco de Samos que antecipou o pensamento de Copérnico e Física com Arquimedes que elucidou o princípio da alavanca e elaborou diversos tratados sobre os princípios básicos da Hidrostática. Filosofia A Grécia é o berço da razão antropocêntrica. Na busca incansável de desvendar os mistérios do homem e do mundo, os gregos elaboraram um culto à razão e ao saber despido do misticismo dos povos orientais. Um dos precursores do pensamento filosófico foi Tales, que possuía uma preocupação metafísica de descobrir o elemento gerador de todas as coisas, este elemento básico seria a água. Da escola de Mileto merecem destaque ainda Anaxímenes, para quem o elemento básico seria o ar, e Anaximandro, para quem o elemento básico seria a matéria. Já no século VI a.C. surgiu a Escola Pitagórica, fundada por Pitágoras, que considerava o número a essência de todas as coisas. A Escola de Eléia, baseada em Parmênides e Heráclito, afirmava a mutabilidade de todas as coisas, dando origem ao pensamento dialético. A Escola Atomista de Demócrito defendia a tese de que o átomo era o elemento gerador e explicador de tudo. A Escola Sofista negava a existência de uma verdade eterna e imutável. Para essa corrente “a verdade é filha do seu tempo” ou ainda “o homem é a justa medida de todas as coisas”. Os sofistas, a exemplo de Protágoras e Górgias, defendiam o humanismo e o relativismo filosófico, enfatizando a retórica e comercializando o seu saber. Acabaram definidos por seus opositores como mercenários e enganadores. Sócrates foi o maior adversário dos sofistas. Defensor da virtude e da moral, elaborou a maiêutica, método de reflexão filosófica baseadas em constantes indagações. Aos discípulos não fornecia respostas acabadas, pois acreditava que “mestre não é aquele que ensina e sim aquele que desperta no discípulo o amor ao conhecimento” ou ainda “conhece-te a ti mesmo”. Sem jamais ter escrito um livro sequer, Sócrates influenciou um sem número de pensadores, acabou condenado à morte com cicuta (veneno), sob a acusação de corromper a juventude.“Jesus e Sócrates foram consideradas pessoas enigmáticas no tempo que viveram. Nenhum dos dois deixou qualquer registro escrito de suas ideias. Assim não nos resta outra saída senão confiar na imagem deles que nos foi legada pelos seus discípulos. Uma coisa, porém, é certa : ambos eram mestres na retórica. Além disso, ambos tinham tanta autoconfiança no que diziam, que