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27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 1/49 Controle microbiológico de medicamentos estéreis Prof. Magno Maciel Magalhães Descrição Métodos de esterilização de medicamentos e produtos para a saúde, contextualização das chamadas “salas limpas”, locais onde eles são produzidos, e testes laboratoriais para comprovação de sua esterilidade. Propósito A compreensão sobre os métodos de esterilização aplicáveis à produção de medicamentos estéreis, as características desejáveis das salas limpas, onde eles são produzidos, e os testes laboratoriais utilizados para verificar se eles se encontram realmente estéreis, é essencial para atuação do farmacêutico em todas as etapas da produção de um medicamento, assim como em seu controle de qualidade. Objetivos Módulo 1 Métodos de esterilização e validação de processos 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 2/49 Distinguir os diferentes métodos de esterilização aplicados na produção de medicamentos estéreis. Módulo 2 Salas e zonas limpas e indicadores biológicos Identificar as características fundamentais das salas limpas onde os medicamentos estéreis são produzidos. Módulo 3 Pirogênios e teste de esterilidade Distinguir os principais testes laboratoriais aplicados aos medicamentos estéreis. Introdução Existem algumas condições que precisam ser cumpridas quando se pensa em produção de medicamentos estéreis e outros produtos para a saúde que tenham essa característica como requisito obrigatório (agulhas e seringas, por exemplo). Uma delas é a esterilização, tanto dos materiais utilizados na produção quanto do produto, de modo a evitar que o produto cause alguma contaminação no usuário. Por isso, nesse conteúdo abordaremos a importância da construção de salas e zonas limpas em indústrias, e atentaremos para alguns conceitos e características desses espaços. Veremos quais os principais métodos utilizados na esterelização de produtos e matérias-primas, e como garantir que o processo está funcionando da maneira correta. Por fim, apresentaremos 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 3/49 alguns dos testes laboratoriais que precisam ser realizados em produtos estéreis para comprovar que se encontram livres de microrganismos e, desta maneira, evitar a contaminação do usuário. 1 - Métodos de esterilização e validação de processos Ao �nal deste módulo, você será capaz de distinguir os diferentes métodos de esterilização aplicados na produção de medicamentos estéreis. Esterilidade e esterilização Antes de falar sobre o processo de esterilização, precisamos entender o que é esterilidade. Esterilidade é uma condição de um produto ou substância que, após passar por um processo de esterilização, encontra-se ausente de microrganismos viáveis. A inativação de microrganismos pode ser realizada por meio de métodos físicos ou químicos. Entre os tipos de medicamentos que precisam ser estéreis, estão aqueles administrados por: 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 4/49 Além desses, as preparações para irrigação utilizadas em cirurgias, as preparações citotóxicas (quimioterápicos, por exemplo) e outros produtos para a saúde que entrem em contato com a corrente sanguínea, como agulhas, seringas e bolsas de plástico para coleta de sangue, também precisam ser estéreis. No caso dos produtos termoestáveis (produtos metálicos como agulhas e bisturis, alguns tipos de plásticos e vidrarias utilizadas na produção dos medicamentos em condições assépticas), ou seja que suportam altas temperaturas sem perder suas características, a esterilização mais frequente é pelo calor. No entanto, para produtos termossensíveis (vacinas, nutrição parenteral, produtos contendo proteínas, fármacos termolábeis, entre outros), que sofreriam alterações fisico-químicas devido ao calor, essa abordagem Injeções intravenosas, intramusculares ou subcutâneas (como as vacinas injetáveis) Medicamentos oftálmicos (como os colírios) Otológicos (como os anti-in�amatórios para otite) 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 5/49 não pode ser empregada e o desenvolvimento do ciclo de esterilização depende do conhecimento da carga microbiana do produto. Ao esterilizar um material, deseja-se remover ou destruir todas as formas de vida, animal ou vegetal, macroscópica ou microscópica, saprófitas ou não, porém garantindo a funcionalidade daquele material. Contudo, esses processos não são capazes de garantir a inativação de toxinas e enzimas celulares. A escolha do processo adequado depende do conhecimento acerca do material a ser esterilizado, e a informação de possíveis tipos, quantidades e fontes dos contaminantes nos produtos contribui para assegurar o êxito da esterilização. Agora que você já entende o que é esterilização e quais os medicamentos que precisam ser estéreis, veja os principais métodos de esterilização! Esterilização por calor A aplicação de calor é o método esterilizante mais utilizado, por ser simples, econômico e seguro. Alguns microrganismos são mais resistentes a esse método, especialmente aqueles que possuem a capacidade de gerar esporos (esporulação). Com isso, a eficiência do processo de esterilização vai depender tanto da temperatura utilizada quanto do tempo de exposição, e se o calor aplicado será seco ou úmido, pois a presença de água, em geral, favorece o processo. No caso do calor seco, ocorrem processos oxidativos, que necessitam de maiores temperaturas e tempos de exposição, ao passo que o calor úmido provoca coagulação das proteínas microbianas. Vamos ver os detalhes de cada um! Calor seco Este processo de esterilização é aplicado principalmente para materiais sensíveis às condições utilizadas no calor úmido, e é realizado em estufa com distribuição homogênea do calor. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 6/49 Em geral, é utilizada a temperatura de 160°C por pelo menos duas horas, sendo que, em temperaturas acima de 220°C, também pode ser usado para esterilizar e despirogenizar (remover pirogênios, que são substâncias capazes de causar febre, como veremos mais à frente) materiais como vidrarias laboratoriais vidraria laboratorial. Exemplo de estufa industrial utilizada na esterilização por calor seco. Vidros, metais, pós, vaselinas, gorduras, ceras, soluções e suspensões oleosas, e tecidos especiais podem ser esterilizados pelo calor seco. Para validar e monitorar este método, pode-se utilizar uma preparação de esporos de Bacillus atrophaeus como indicador biológico. Calor úmido Nesta metodologia, é utilizado um equipamento chamado autoclave, que gera um microambiente com vapor saturado sob pressão, que gradualmente substitui o ar da câmara interna do equipamento. O ciclo-padrão para esterilizar preparações aquosas é de, no mínimo, 121°C por pelo menos 15 minutos. Outras configurações podem ser utilizadas, contanto que sejam validadas e tenham a eficácia do processo comprovada. A combinação de tempo e temperatura deve ser selecionada levando em conta alguns fatores intrínsecos ao material a ser esterilizado, tais como sua composição química, sua termolabilidade (resistência ao calor), e a penetrabilidade do vapor no produto, além de outros parâmetros determinados no processo de validação. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 7/49 Autoclaves industriais. Para que o processo de esterilizaçãoseja realmente eficiente, deve-se garantir que a distribuição dos materiais na câmara interna da autoclave seja feita de maneira a possibilitar o contato do vapor com todo o produto, levando em consideração as regiões de mais difícil acesso. Como indicador biológico do processo, pode-se utilizar uma colônia de Geobacillus stearothermophilus, e seu valor D deve ser avaliado tanto no programa de validação do ciclo esterilização quanto na ocorrência de alguma alteração nesse programa. Valor D Também conhecido como Tempo de Redução Decimal, corresponde ao intervalo de tempo à temperatura constante de tratamento necessário para a redução de 90% da população microbiana inicial no produto farmacêutico. Esterilização por radiação ionizante As radiações ionizantes são definidas como emissões de ondas eletromagnéticas de alta energia, capazes de alterar a carga elétrica do material que está sendo irradiado, por meio de deslocamento de elétrons, ionizando positiva ou negativamente os átomos irradiados. Alterar o processo de multiplicação celular e eventualmente levar o patógeno a ser destruído. Ao penetrar células, essas radiações geram radicais hidroxilas, hidrogênio livre e alguns peróxidos, que causam lesões intracelulares, e pode culminar em morte celular. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 8/49 O processo de esterilização por radiação ionizante possui algumas vantagens, como, por exemplo: Ser realizado a baixas temperaturas, possibilitando o seu uso para produtos termossensíveis. Possuir baixa reatividade química, não alterando a maioria dos materiais. Outra vantagem importante é o fato de existirem poucos parâmetros a serem controlados. Esterilizador por radiação ionizante do tipo UV. Contudo, é imprescindível controlar a dose de radiação que possa ser absorvida pelo produto. As principais radiações são os raios X, alfa, beta e gama, sendo os processos utilizados para esterilização realizados a partir do decaimento de radioisótopo (radiação gama) e radiação por feixe de elétrons energizados com auxílio de um acelerador de elétrons. A validação de processo de esterilização, no caso da radiação gama, inclui: Constatação da compatibilidade do material com o método; Definição de como o produto será carregado e o mapeamento da dose de radiação no interior do recipiente de esterilização, com 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 9/49 identificação de possíveis áreas com doses máxima e mínima de radiação; Fixação do tempo de exposição e a comprovação de que ocorreu a aplicação da dose requerida de radiação para ocorrer a esterilização. Já para a irradiação por feixe de elétrons devem ser validadas a voltagem, a corrente, a velocidade da esteira transportadora e a dimensão de varredura do feixe de elétrons. A dose de radiação absorvida padrão utilizada para esterilização é de 25 kGy, porém, podem ser utilizadas doses maiores ou menores, dependendo do material a ser esterilizado. Deve-se levar em conta que a dose escolhida precisa oferecer um nível de letalidade de microrganismos adequado e reprodutível, especialmente caso o processo seja repetido rotineiramente. Nesses casos, é necessário validar a eficácia dessa esterilização, por meio da determinação da resistência da carga microbiana do produto à radiação utilizada. Padrões de carregamento de produto específico e a distribuição de doses mínimas e máximas absorvidas devem ser estabelecidos. As doses absorvidas são verificadas com a utilização de dosímetros de radiação específicos e padronizados. Exemplo de dosímetro. Os procedimentos de validação dessa metodologia de esterilização podem tanto usar a exposição de um produto simulado inoculado com um microrganismo de referência e resistente, como o Bacillus pumilus, ou a exposição de amostras do produto acabado à dose radioativa do processo. No segundo caso, temos uma determinação mais verossimilhante da resistência microbiana da amostra, contudo, esse procedimento exige 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 10/49 conhecimento prévio da população de microrganismos, realizado por meio de uma amostragem representativa de diferentes lotes de produto. Uma vez que se conheça a carga microbiana, a dose de radiação a ser utilizada pode ser estabelecida baseando-se em tabelas disponíveis na literatura. Outra metodologia que pode ser aplicada para estabelecer a dose de radiação necessária para esterilização de um produto é aplicar incrementos de doses de radiação até alcançar, no máximo, uma única amostra positiva em 100 irradiadas. Essa dose capaz de esterilizar 99% das amostras fornece o dado necessário para obtenção da dose de radiação. A eficiência da esterilização por radiação ionizante deve ser periodicamente avaliada de duas maneiras, sendo elas as seguintes: Por meio da determinação da carga de microrganismos presente do produto estéril; Pelo emprego do indicador biológico adequado e pela utilização de dosímetros calibrados. Esterilização por �ltração e química Como �ltrar uma solução pode esterilizá-la? Na esterilização por filtração, temos uma remoção mecânica dos microrganismos, pelo uso de uma membrana porosa com poros bem pequenos, que impedem a passagem dos microrganismos, sendo esse método utilizado para esterilizar soluções termossensíveis. O material utilizado na confecção da membrana filtrante não pode liberar fibras ou materiais indesejáveis para a solução filtrada, restringindo a composição do elemento filtrante a vidro, metal inerte, polímeros sintéticos que não soltem monômeros e membranas poliméricas. Em geral, pode-se dizer que um filtro é composto por uma matriz porosa por onde escorrerá o líquido e seu abrigo impermeável tanto à solução quanto a microrganismos externos. A eficiência de um filtro depende basicamente de três fatores: 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 11/49 O efeito de peneira depende basicamente do diâmetro dos poros da membrana filtrante, e a adsorção na matriz do filtro é condicionada à composição e espessura do filtro e do líquido que está sendo filtrado. O diâmetro dos poros é estimado pela capacidade da membrana de reter microrganismos de cepas referência. Exemplo de equipamento utilizado para filtração. Em geral, a esterilização por filtração é efetuada com membranas de poro de 0,2 µm, ou menor, que são capazes de reter todos os microrganismos de uma cultura padronizada de Brevundimonas diminuta contendo 107 microrganismos por cm2 de superfície de membrana filtrante, sob uma pressão mínima de 30 psi (2,0 bar). O analista é responsável pela escolha do filtro apropriado, levando em conta as características do material a ser filtrado, de forma a atender às necessidades específicas de esterilização, devendo investigar se Tamanho do poro Adsorção de microrganismos na matriz do �ltro Efeito de peneira ou exclusão 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 12/49 parâmetros utilizados na produção do material em questão influenciarão na eficiência da retenção microbiana. Como a eficiência do processo também é influenciada pela quantidade de microrganismos presentes na solução a ser filtrada, é interessante determinar a presença e concentração microbiana das soluções antes da filtração, de forma a ajustar os parâmetros, como pressão necessária no sistema de filtro, taxa de fluxo e características da unidade filtrante. Recomendação Uma opção é utilizar o valor de redução logarítmica para avaliar a capacidade de retenção do filtro. Nesse caso, um filtrode 0,2 µm, que pode reter 107 microrganismos de uma cepa específica, terá uma taxa de redução logarítmica de, pelo menos 7, quando utilizado nas condições declaradas pelo fabricante ou previamente testadas para determinada cepa. As membranas filtrantes encontradas no mercado brasileiro atual são as seguintes: acetato de celulose; nitrato de celulose; fluorcarbonato; polímeros acrílicos; poliéster; policarbonato; cloreto de polivinila; vinil; nylon; polytef; membranas metálicas. Os filtros de membrana polimérica possuem pontos positivos quando comparados aos filtros antigos de porcelana ou material sinterizado, especialmente por serem descartáveis, evitando possíveis contaminações cruzadas. Uma vez que boa parte da superfície representa um espaço vazio ou aberto, ao realizar uma montagem correta do aparato, temos a vantagem de uma alta taxa de fluxo do líquido filtrado. Por outro lado, uma desvantagem que podemos mencionar é que, devido ao fato de a membrana ser frágil, deve-se sempre garantir que não ocorra nenhuma ruptura durante a montagem, esterilização prévia ou uso. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 13/49 Portanto, deve-se sempre testar o sistema de filtração antes e após o processo de filtração, de modo a garantir sua integridade durante o processo de filtração. Membrana filtrante aplicada em placa de Petri contendo meio de cultivo bacteriano. Alguns exemplos de testes de uso são os seguintes: O teste escolhido deve ser correlacionado com a capacidade de retenção de microrganismos, sendo o ponto de bolha o mais comumente utilizado. Por fim, testes de controle de qualidade da membrana, que já foram realizados pelo fabricante do filtro, não precisam ser repetidos pelo usuário. Teste do ponto de bolha Teste de �uxo de ar difusivo Teste de retenção sob pressão; Teste de �uxo progressivo 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 14/49 Aplicações da esterilização química A esterilização química pode ser o método de escolha para produtos que não aguentam as temperaturas empregadas no processamento por calor seco ou úmido. O gás geralmente empregado nessa forma de esterilização é o óxido de etileno. Porém, ele apresenta algumas desvantagens, como suas propriedades mutagênicas, a chance de deixar resíduos tóxicos nos produtos tratados e sua natureza altamente inflamável, exceto quando misturado com determinados gases inertes. Nesse caso, o procedimento de esterilização é efetuado em uma câmara pressurizada projetada de forma semelhante às autoclaves, mas com algumas características específicas, como um sistema que realizará a desgaseificação da câmara após a esterilização com o objetivo de reduzir a exposição dos usuários ao gás utilizado. Câmara de esterilização por gás de óxido de etileno. Com a esterilização por gás de óxido de etileno, o programa de qualificação do processo é maior que de outros processos de esterilização, havendo necessidade de controlar a temperatura, a umidade, o vácuo ou a pressão positiva e, obviamente, a concentração de gás utilizada. É importante verificar se todos esses parâmetros críticos estejam adequados no interior da câmara durante todo o procedimento. O programa de validação desse processo é comumente realizado utilizando uma amostra do produto inoculado, ou uma simulação de produto inoculado com preparações apropriadas de esporos de Bacillus atrophaeus. Atenção! 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 15/49 O indicador biológico sempre deve ser utilizado para monitoramento de ciclos de rotina, e no planejamento do ciclo de esterilização por óxido de etileno. Também deve ser considerado, quando do planejamento do processo de esterilização, a forma como o material a ser processado será acondicionado, e como será sua distribuição dentro da câmara de esterilização, uma vez que a capacidade de difusão do óxido de etileno em áreas mais internas do produto é limitada. Por fim, é extremamente importante o controle de resíduos químicos em produtos esterilizados por óxido de etileno, de modo a garantir um risco mínimo de intoxicações quando ocorrer a utilização do produto. Deve-se verificar a presença de resíduos de óxido de etileno, etilenocloridrina e etilenoglicol, que podem ser formados na câmara de esterilização, dependendo das condições utilizadas. Efeitos locais, como irritação cutânea, podem ocorrer em produtos esterilizados com gás. Validação de processos de esterilização A validação é um procedimento que deve ser realizado e devidamente documentado para comprovação de que a esterilização realizada fornecerá produtos com o nível de garantia de esterilidade exigido na legislação. Uma vez que o processo esteja validado, deve-se revalidá-lo periodicamente, e deve-se proceder um novo processo de validação sempre que houver alterações no produto ou na sua fabricação, nos equipamentos utilizados ou no processo de esterilização. Os principais elementos da validação são: Quali�cação de instalação Quali�cação de operação 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 16/49 Quali�cação de desempenho Quali�cação de instalação A qualificação de instalação fornece evidências documentadas de que determinado equipamento utilizado no processo de esterilização, assim como todos os itens auxiliares e suprimentos (como vapor, água e ar, por exemplo) foram projetados, fornecidos, instalados, calibrados e funcionam de acordo com as especificações. Para isso, deve-se utilizar instrumentação adequada para monitorar os parâmetros críticos do processo, como temperatura, tempo, umidade, concentração do gás esterilizante ou radiação absorvida. Essa qualificação compreende o equipamento, sua função e instalação, confira mais a seguir: Equipamento Documentação gerada que deve incluir uma descrição detalhada das características físicas e operacionais do equipamento, seus componentes e serviços. Desenhos e diagramas de processo e instrumentação devem ser analisados e atualizados, se necessário. Função Deve-se verificar se o equipamento e os sistemas de segurança funcionam como ditam as especificações técnicas, os ciclos de operação estão de acordo com o definido e que não ocorrem vazamentos das utilidades ou do esterilizador, quando aplicável. Instalação Qualificação da instalação é necessária tanto para novos equipamentos quanto na ocasião de realocação do esterilizador existente. Ela deve ser refeita em intervalos de tempo definidos, e quando ocorrerem alterações que possam alterar a eficácia do processo de esterilização (reforma de 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 17/49 equipamentos, ou partes, e/ou modificações nos suprimentos de processo, por exemplo). Quali�cação de operação Na qualificação de operação, o objetivo é demonstrar e documentar que o equipamento instalado é capaz de realizar o ciclo de esterilização nos parâmetros definidos no processo. Antes de realizar a qualificação, deve-se verificar se todos os equipamentos que serão utilizados se encontram devidamente calibrados e documentados. Veja a seguir mais detalhes! Como ocorre com as autoclaves, deve-se fazer um estudo de distribuição do calor em diversos pontos do interior da câmara, e confirmar que ela opera dentro dos parâmetros em todos os seus principais locais. Em ciclos de 121°C, uma variação aceitável de temperatura na câmara vazia é ± 1°C. Deve-se monitorar a umidade relativa, a concentração do gás e a temperatura, assim como os sistemas de segurança. Em esterilizadores que utilizamsoftwares de controle, deve-se aplicar condições de falha para avaliar como será a resposta. Deve-se verificar a penetração e distribuição dessa na carga, utilizando dosímetros. Esterilizadores por calor Esterilizadores a gás Esterilização por radiação ionizante Operação de filtros esterilizantes 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 18/49 A qualificação desta operação deve ser realizada pelo teste de integridade dos filtros, medição da pressão aplicada e controle da velocidade de fluxo. No caso específico desse processo, uma vez que os líquidos esterilizados podem acabar sendo expostos ao ambiente após o processamento, é parte integrante da qualificação de operação da filtração, o controle ambiental e a qualificação ou validação da área de manuseio asséptico. Quali�cação de desempenho Na qualificação de desempenho, deve-se comprovar que o processo de esterilização funciona de maneira adequada, ou seja, que é atingido o nível de esterilidade requerido, o equipamento funciona de acordo com os critérios predeterminados e o produto final esterilizado atende aos requisitos de segurança, qualidade e desempenho necessários após a esterilização. A qualificação de desempenho inclui avaliações físicas e microbiológicas que demonstram que o processo é capaz de esterilizar o produto sem alterá-lo, ou seja, mantendo suas características desejadas. São considerados, nos estudos físicos, critérios como: Integridade da embalagem após o processamento Carga teste representativa do processo Embalagem idêntica ao produto (no caso de produto simulado) 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 19/49 A quantidade de produtos para esterilização deve ser estabelecida e documentada, considerando parâmetros como: distribuição no interior da câmara; posicionamento; dimensões; composição do material. No caso de utilização de um produto simulado, este deve possuir características físicas similares ao produto e deve ser embalado de maneira idêntica. Além disso, deve-se realizar o pior ciclo possível de esterilização, ou seja, usar o máximo da capacidade da câmara, nas condições limites do processo. Nos estudos físicos, deve-se comprovar a reprodutibilidade do processo, realizando-o em triplicata. Nos estudos microbiológicos podem ser aplicados diferentes métodos, baseados na inativação ou eliminação da carga microbiana natural, inativação ou eliminação de microrganismo de referência (sobremorte ou overkill) ou uma combinação de ambos (biocarga e indicador biológico). Nesses estudos, deve-se utilizar as condições mínimas do processo, de modo a verificar se elas estão atendendo aos critérios de esterilização desejados. Esses estudos também devem ser realizados em triplicatas, assim como nos físicos. Os indicadores biológicos (microrganismos de referência) utilizados devem ser posicionados em localizações predefinidas do produto. Alterações visuais no produto Resposta de indicadores químicos ou físicos (�ta de autoclave, por exemplo) Documentação e entre outros 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 20/49 Validação de processos de esterilização Neste vídeo, o especialista falará um pouco mais sobre o processo de validação dos processos de esterilização. Vamos lá? 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 21/49 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Um dos métodos mais utilizados de esterilização é o de calor úmido, que utiliza um equipamento para gerar um ambiente quente e cheio de vapor em alta pressão. Qual equipamento é necessário para o método de esterilização de calor úmido? A Filtro a vácuo. B Câmara de gás. C Ionizador. D Autoclave. E Estufa. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 22/49 Parabéns! A alternativa D está correta. No método de esterilização por calor úmido utilizamos uma autoclave para gerar um ambiente cheio de vapor de água em condições de temperatura e pressão elevadas. Já os demais equipamentos são utilizados para outros métodos de esterilização. Questão 2 Existem alguns medicamentos e produtos para a saúde que não podem ser esterilizados por determinadas metodologias, por serem termossensíveis ou por reagirem quimicamente a gases que não sejam inertes. No caso de um produto sólido termossensível e reativo a gases não inertes, qual seria o método de esterilização mais apropriado? Parabéns! A alternativa B está correta. Como é um produto sólido, não pode ser filtrado. Por ser termossensível, não pode ser esterilizado por calor. Por reagir com gases não inertes, não poderia ser esterilizado pelo óxido de etileno. Portanto, o produto deve ser esterilizado por radiação ionizante, pois esse processo é realizado a baixas temperaturas e baixa reatividade química. A Filtração. B Radiação ionizante. C Calor seco. D Óxido de etileno. E Calor úmido. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 23/49 2 - Salas e zonas limpas e indicadores biológicos Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as características fundamentais das salas limpas onde os medicamentos estéreis são produzidos. Classi�cação de salas e zonas limpas Muitos produtos estéreis são fabricados utilizando metodologias assépticas, ou seja, por meio de processos totalmente livres de microrganismos, desde o início da produção até o envase do produto acabado. Portanto, é necessário impedir a contaminação de microrganismos nos locais de produção, em recipientes abertos durante o envase e no produto final. Com isso, um dos fatores cruciais nesse tipo de produção é a carga microbiana do ambiente de fabricação, que está intimamente relacionada ao nível de garantia de esterilidade desses produtos. Por esse motivo, existem métodos para avaliar e controlar o estado microbiológico das chamadas salas e zonas limpas, com variedade de equipamentos e métodos para amostragem microbiológica. Salas e zonas limpas são aquelas construídas e utilizadas de modo que a introdução, geração e retenção de partículas na área seja minimizada ou zerada, quer dizer, a concentração de partículas em 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 24/49 suspensão no ar dessas áreas é o fator principal de controle. Outros parâmetros ambientais, que sejam relevantes para a produção realizada nesse local, como temperatura, umidade e pressão, são controlados conforme necessário. Atenção! A norma “ABNT NBR ISO 14644-1 – Salas limpas e ambientes controlados associados – Parte 1: classificação da limpeza do ar” traz a classificação de limpeza do ar de salas e zonas limpas, por meio da análise de concentração de partículas em suspensão no ar, sendo esse documento aplicável a partículas suspensas no ar dentro de um ambiente controlado, mas sem caracterizar a natureza das partículas. Ou seja, ela não faz distinção entre o número de partículas não viáveis (poeiras, por exemplo) e a concentração de microrganismos viáveis. A indústria farmacêutica, em geral, preocupa-se principalmente com a contaminação por partículas viáveis (microrganismos viáveis). Contudo, no caso de produtos injetáveis, há preocupação adicional com a contagem de partículas totais, uma vez que microrganismos não viáveis podem gerar, por exemplo, contaminação por pirogênios. Pode-se dizer que quanto menor o número de partículas presentes em uma sala limpa, menoré a chance de existirem microrganismos no ambiente. Na tabela a seguir, estão apresentadas as classes de limpeza do ar, de acordo com a norma ABNT NBR ISO 14644-1, baseada em limites de partículas com tamanhos de 0,1 a 5 μm. Classificação (N) Limites máximos de concentração (partículas/m que os tamanhos co 0,1 μm 0,2 μm 0,3 μm ISO classe 1 10 2 ISO classe 2 100 24 10 ISO classe 3 1.000 237 102 ISO classe 4 10.000 2.370 1.020 ISO classe 5 100.000 23.700 10.200 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 25/49 Classificação (N) Limites máximos de concentração (partículas/m que os tamanhos co ISO classe 6 1.000.000 237.000 102.000 ISO classe 7 3 ISO classe 8 3 ISO classe 9 35 Tabela: Classes de limpeza do ar para partículas em suspensão, selecionadas para salas e zonas limpas, de acordo com a norma ABNT NBR ISO 14644-1. Adaptado de ABNT, 2019. Avaliação microbiológica de salas e zonas limpas Monitorar somente a quantidade de partículas suspensas no ar das salas e zonas limpas não contempla o conteúdo microbiológico do ambiente, uma vez que os contadores de partículas normalmente medem partículas de tamanho a partir de 0,5μm, incluindo outras substâncias além de microrganismos. Portanto, é necessário o monitoramento de partículas não viáveis e de microrganismos, sendo ambos imprescindíveis para atingir as exigências referentes à esterilidade para os produtos. Programas de monitoramento microbiológico para salas e zonas limpas (PMM) devem ser capazes de veri�car se os procedimentos de limpeza e desinfecção aplicados no ambiente estão sendo e�cientes. Em geral, o PMM não identi�ca e quanti�ca todos os microrganismos nos ambientes, mas deve fornecer 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 26/49 informação su�ciente para garantir que o ambiente esteja operando na classi�cação correta. A coleta de amostras ambientais deve ocorrer durante operações normais, quando os materiais utilizados e produzidos estiverem na área, as atividades de processamento estiverem acontecendo e todos os funcionários habituais estiverem no local. Limpeza de sala limpa. Observe nas roupas utilizadas pelo profissional, que está praticamente todo coberto. O PMM deve incluir a quantificação da carga microbiana presente no ar da sala, no ar comprimido que entra no ambiente, em superfícies, equipamentos, recipientes, pisos, paredes e vestimentas dos funcionários. O objetivo é obter uma estimativa representativa da carga microbiana e, uma vez compilados e analisados, os dados devem ser analisados por pessoas devidamente treinadas. Um exemplo de teste laboratorial que pode ser aplicado no PMM é o teste de envase asséptico de meio de cultura, ou “Media fill”. Nesse ensaio, o produto final é trocado por um meio de cultura de microrganismos, com a finalidade de evidenciar se o processo de produção e envase está ocorrendo de forma asséptica. Ele deve ser realizado em todos os turnos em que haja produção, e sempre durante uma operação normal da fábrica. Os meios de cultura mais indicados são o caldo de caseína e de soja, por serem nutritivos e aplicáveis a diversos microrganismos. Caso se exceda a carga microbiológica de um ambiente controlado, deve-se proceder a uma revisão minuciosa da documentação referente ao local em questão, incluindo os documentos referentes a manutenção 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 27/49 da área, processos de desinfecção executados, parâmetros físicos ou operacionais (se ocorreram alterações na temperatura ambiental e umidade relativa, por exemplo) e o estágio de treinamento dos funcionários envolvidos. Exemplo de cientista trabalhando em fluxo laminar dentro de uma sala limpa. Finalizada a etapa de investigação, as ações adotadas podem incluir: reforço no treinamento dos profissionais; amostragem em frequência aumentada; desinfecção adicional; identificação e localização da possível fonte do microrganismo e a reavaliação e revalidação dos atuais procedimentos operacionais padronizados, se necessário. A investigação deve ser totalmente documentada e arquivada no sistema de gerenciamento da qualidade. Outros parâmetros avaliados ao classificar uma sala ou zona limpa são a integridade dos filtros de ar, a verificação da existência de pressão diferencial entre sala e antessala e padrões de mudança do ar. Um método de teste de partículas no ambiente consiste em aumentar propositalmente a concentração de partículas no ambiente, utilizando fumaça no entorno das áreas limpas, e visualizar o padrão de movimentação do ar. Caso o fluxo de ar não esteja operando da maneira correta, ocorrerá a formação de vórtices e zonas turbulentas. Dessa forma, o padrão de fluxo de ar poderá ser ajustado para eliminar ou minimizar efeitos indesejáveis. Esse teste é conduzido sob condições de produção simuladas, uma vez que pode gerar contaminação, porém, com todos os equipamentos ligados e funcionários habituais no local. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 28/49 Garantir que o ambiente está operando da maneira adequada com as especificações dará garantia extra de que a carga microbiana do ambiente é apropriada para processamento asséptico. Indicadores biológicos Um indicador biológico é uma cultura bem caracterizada de microrganismos de referência, ou seja, já extensivamente estudada, que possui uma resistência conhecida e estável a um processo de esterilização. Em geral, são utilizadas bactérias formadoras de esporos, uma vez que esses microrganismos são mais resistentes aos processos de esterilização, com exceção da esterilização por radiação ionizante. Indicadores biológicos podem ser utilizados na qualificação de desempenho do equipamento de esterilização, no desenvolvimento e estabelecimento do processo de esterilização, em processos de obtenção de produto estéril em seu recipiente final e de esterilização de equipamentos, materiais e componentes de embalagem empregados no processo de fabricação asséptico, para monitorar ciclos de esterilização e para avaliar os procedimentos de descontaminação de isoladores ou salas limpas. Tipos de indicadores biológicos Existem três tipos de indicadores biológicos mais utilizados. Confira a seguir: Pode ser em papel de filtro, vidro, plástico, ou outro material embalado de modo a manter a integridade e viabilidade do material. Nesse caso, é importante garantir que nem os carreadores, nem as embalagens contenham contaminação química, física ou microbiológica capazes de comprometer o desempenho e a estabilidade do indicador biológico. Os carreadores e as embalagens primárias devem resistir ao Esporos inoculados em um suporte ou carreador 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 29/49 transporte e manuseio até o momento do uso sem perder o inóculo original. Deve ser utilizada uma suspensão de esporos com valor D conhecido, e deve-se garantir que o produto simulado, caso necessário, não possua características que comprometam a resistência do indicador biológico. Para produtos líquidos, é recomendável a determinação do valor D e valor Z (elevação de temperatura necessária para reduzir o valor D em 90%, ou produzir a redução de um ciclo logarítmico na curva de resistência térmica) do indicador biológico. Trata-se de uma apresentação na qual a embalagem destinada para incubação após a esterilização contenha o meio de cultura necessário para a recuperação do esporo. O sistema de indicador biológico + meio de cultivo deve ser resistente à esterilização, mas também deve possibilitar apenetração do agente esterilizante. Esse tipo de indicador também pode ser uma suspensão de esporos em um meio de cultura contendo indicador de pH que permita determinar visualmente a presença ou a ausência de crescimento após a incubação, a partir da mudança de coloração, ou pela turbidez decorrente do desenvolvimento do microrganismo, ou ainda, pelo exame microscópico do meio inoculado. Em ambos os casos, a capacidade do meio de cultura de promover crescimento microbiano após a exposição ao processo de esterilização deve ser comprovada. São ideais para o monitoramento dos processos de esterilização a vapor. Seleção e preparo do indicador biológico Suspensão de esporos inoculados em unidades do produto a ser esterilizado ou em um produto simulado Indicador biológico autocontido 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 30/49 Para escolher um indicador biológico apropriado para o desenvolvimento do ciclo de esterilização e sua validação ou monitoramento de rotina, é necessário conhecer bem o material que será esterilizado, incluindo seus componentes e a embalagem, assim como ter informações completas sobre a resistência do indicador frente ao processo de esterilização utilizado no produto, garantindo que o indicador biológico represente um desafio maior ao processo que a carga microbiana no produto. Deve-se, preferencialmente, utilizar indicadores biológicos padronizados nas monografias farmacopeicas para o desenvolvimento ou validação de um processo de esterilização. Quando não for possível, microrganismos “domésticos” podem ser utilizados, desde que estes tenham sido previamente descritos em literatura científica para preparo de indicadores biológicos. Nesse caso, o laboratório deve ser capaz de determinar os valores D e Z para os indicadores domésticos, e deve-se confirmar a população, pureza e validade, de modo a garantir a confiabilidade dos testes que serão realizados com esse indicador. Caso a escolha do processo de esterilização seja feita pela carga microbiana do produto, deve-se quantificar essa carga e comparar a sua resistência ao processo com a do indicador biológico. Dica Pode-se também aplicar o método de sobremorte (overkill) no desenvolvimento do processo de esterilização. Em linhas gerais, os processos que utilizam esse método são desenvolvidos levando em conta uma carga microbiana suposta de 106 microrganismos altamente resistentes. Dessa maneira, o processo definido deve resultar em uma probabilidade de não esterilidade menor que 10-6. O uso do método de sobremorte e sua validação podem minimizar ou evitar a necessidade de quantificação e identificação da carga microbiana do produto. Para esterilização por calor úmido, o indicador biológico mais recomendado são esporos de Geobacillus stearothermophilus, porém, outros microrganismos formadores de esporos resistentes ao calor úmido como Clostridium sporogenes, Bacillus atrophaeus e Bacillus coagulans, também, podem ser utilizados. No caso do calor seco, podem ser empregados esporos de Bacillus atrophaeus. Nesses casos, também podem ser realizados estudos de 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 31/49 inativação de endotoxinas bacterianas, por ser um processo muito mais lento que a inativação dos esporos. Em geral, uma redução da ordem de três ciclos logarítmicos do nível de endotoxina indica uma probabilidade de não esterilidade menor que 10-6. Ou seja, se realizarmos uma metodologia capaz de demonstrar que as endotoxinas foram inativadas (o método LAL, por exemplo, que veremos mais à frente), podemos inferir que os microrganismos viáveis e os esporos bacterianos também foram inativados, uma vez que ambos são menos resistentes ao calor que as endotoxinas. Nos processos de esterilização por radiação ionizante, podem ser utilizados esporos de Bacillus pumilus, contudo, o método mais empregado é o de estabelecimento da dose de radiação, que não usa indicadores biológicos. Já para o processo de esterilização por óxido de etileno são utilizados esporos de subespécies de Bacillus atrophaeus var. niger. Todas as operações envolvidas no preparo dos indicadores biológicos devem ser documentadas, de maneira que possibilitem a rastreabilidade dos materiais incorporados à suspensão microbiana, o carreador inoculado ou o indicador biológico. O preparo de suspensões estoque dos esporos dos microrganismos requer o desenvolvimento de procedimentos operacionais padronizados, incluindo o cultivo, a coleta, a etapa de purificação e sua manutenção. As suspensões de estoque devem conter esporos latentes (não germinativos) mantidos em meio não nutritivo, de modo a evitar sua ativação indesejada. O indicador não deve conter nenhum microrganismo diferente do microrganismo teste em número suficiente que possa afetar o produto, e deve ser produzido com todas as certificações necessárias para garantir esta ausência de contaminantes. Escolha e preparo do indicador biológico 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 32/49 Neste vídeo, o especialista explica em mais detalhes o papel dos indicadores biológicos. Vamos lá! 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 33/49 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Uma indústria farmacêutica está em vias de construir uma sala limpa para a produção de um novo medicamento. Ao verificar os requerimentos da sala, de acordo com a legislação, viu que os limites máximos necessários eram de 24 partículas de 0,2 μm e 10 partículas de 0,3 μm. De acordo com a norma ABNT NBR ISO 14644-1, qual a classe máxima de sala limpa que pode ser construída? Parabéns! A alternativa B está correta. De acordo com a tabela fornecida na norma ABNT NBR ISO 14644- 1, a classe máxima que pode ser construída é ISO classe 2, pois apresenta os limites necessários de partículas de 0,2 μm e 0,3 μm. Pode também ser construída uma sala ISO classe 1, porém, esta é A ISO classe 1. B ISO classe 2. C ISO classe 3. D ISO classe 4. E ISO classe 5. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 34/49 de construção e manutenção mais complexa. As outras classes ultrapassam a quantidade máxima de partículas desejada. Questão 2 Para cada processo de esterilização existe um indicador biológico tido como “mais indicado” para realizar o controle da esterilização. Qual o indicador biológico mais recomendado para utilização em processos de esterilização por calor úmido (autoclave)? Parabéns! A alternativa C está correta. Apesar de também poder utilizar a bactéria Bacillus atrophaeus, o indicador mais recomendável, no caso de calor úmido, é o Geobacillus stearothermophilus. Já os outros microrganismos não são bons indicadores biológicos para nenhum dos processos de esterilização estudados. A Bacillus pumilus B Escherichia coli C Geobacillus stearothermophilus D Bacillus atrophaeus E Clostridium botulinum 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 35/49 3 - Pirogênios e teste de esterilidade Ao �nal deste módulo, você será capaz de distinguir os principais testes laboratoriais aplicados aos medicamentos estéreis. Teste de pirogênio O que são pirogênios? Os pirogênios ou contaminantes pirogênicos são substância de origem química ou biológica capazes de gerar uma resposta febril no indivíduo. Em geral, elas agem no centro regulador da febre, no sistema nervoso, causando aumento da temperatura. No caso dos medicamentos estéreis,vacinas e também equipamentos utilizados na área da saúde, como agulhas e bolsas plásticas para transferência de sangue e hemoderivados, é necessária a pesquisa desses contaminantes, uma vez que entrarão diretamente na corrente sanguínea, sendo capazes de chegar ao sistema nervoso central. O teste de pirogênio clássico O teste de pirogênio em coelhos é um dos mais antigos utilizados no controle de qualidade de produtos para a saúde. Ele foi descrito por pesquisadores no princípio do século XX e introduzido na farmacopeia 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 36/49 dos Estados Unidos como método oficial na década de 1940. Em linhas gerais, o teste fundamenta-se na medida do aumento da temperatura corporal de coelhos, após injeção intravenosa da solução estéril em análise. Coelhos preparados para o teste de pirogênios. Para o desenvolvimento desse teste, é recomendável utilizar coelhos de ambos os sexos, da mesma raça, que se encontrem na fase adulta do desenvolvimento, sadios, pesando ao menos 1,5kg. Eles devem ser acondicionados em gaiolas individuais e a sala deve ser mantida em temperatura uniforme entre 20 e 23°C, livre de perturbações que possam estressá-los, tais como barulhos altos. Os animais devem passar por processo de condicionamento, ou seja, uma espécie de “treino” para o dia do teste, para evitar que a manipulação deles comprometa o teste devido ao estresse gerado. No momento do condicionamento, a temperatura retal dos coelhos deve ser mensurada. Caso algum deles apresente elevação de temperatura igual ou superior a 0,5°C, em relação à temperatura inicial, não deverá ser utilizado no teste. A alimentação dos animais deve ser suspensa duas horas antes do início do teste. Antes de iniciar, os animais devem ter a temperatura aferida novamente, e só podem ser utilizados aqueles que apresentarem valor igual ou inferior a 39,8°C. Deve-se usar sempre um termômetro clínico calibrado com precisão de ± 0,1°C ou outro dispositivo de registro de temperatura calibrado de igual sensibilidade, que deve ser introduzido no reto do coelho, em uma profundidade aproximada de 6cm. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 37/49 Posicionamento do termômetro no reto dos animais. Administração do produto a ser testado no vaso sanguíneo periférico da orelha. Procede-se ao preparo do produto farmacêutico a ser testado, conforme especificado na padronizada monografia farmacopeica, que é aquecido a (37 ± 2) °C e, então, injetado, pela veia marginal da orelha de três coelhos. O aumento total de temperatura é verificado pela diferença entre a maior temperatura atingida pelo coelho durante o teste e a sua temperatura de controle, aferida antes do início do teste. Se nenhum dos três coelhos apresentarem aumento individual da temperatura igual ou superior a 0,5°C, a amostra é considerada como apirogênica. Se algum coelho apresentar aumento da temperatura igual ou superior a 0,5°C, o teste deve ser repetido, utilizando outros cinco 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 38/49 animais. Nesse caso, o produto será considerado aprovado para ausência de pirogênios se, no máximo, três dos oito coelhos apresentarem aumentos individuais de temperatura iguais ou superiores a 0,5°C, e se a soma dos aumentos individuais de todos os coelhos não exceder a 3,3°C. O teste de pirogênio em coelhos, apesar de ser considerado um ensaio robusto, por ser capaz de detectar um amplo espectro de substâncias capazes de induzir febre, e ser aplicável à grande maioria dos produtos, não deve ser aplicado para certas classes de medicamentos, como aqueles que interferem na resposta imune e no mecanismo da febre, como os analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios. Fatores relacionados ao animal, tais como diferenças entre raças e sexo também contribuem para possíveis resultados falso-positivos e falso- negativo. Do mesmo modo, os animais são suscetíveis à influência de fatores relacionados ao ambiente onde são criados e onde o teste é realizado, tais como temperatura, ruídos, umidade e ventilação. Ao longo das últimas décadas testes in vitro para detecção de pirogênio foram desenvolvidos visando reduzir o número de animais utilizados. O mais aplicado e preconizado em todas as farmacopeias atuais é o teste de endotoxinas bacterianas, mas que infelizmente não consegue detectar todos os tipos de pirogênios. Já o teste de ativação de monócitos (MAT) tem se mostrado ser uma alternativa completa ao teste em coelhos, porém, ainda não é considerado um teste farmacopeico. Por esse motivo, o teste utilizando animais ainda é realizado em todo o mundo. Teste de endotoxinas bacterianas O que são endotoxinas bacterianas? As endotoxinas constituem o principal componente lipídico da membrana externa das bactérias Gram-negativas e são liberadas em seu ambiente tanto durante a multiplicação bacteriana quanto no evento 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 39/49 de sua morte. As endotoxinas e seus fragmentos são substâncias muito estáveis e os processos usuais de esterilização não conseguem removê-las, sendo necessário o uso de ácidos ou bases fortes, ou um processo de despirogenização a 180°C por 3 horas ou 250°C por 30 minutos, que são incompatíveis com a maioria das substâncias injetáveis, inclusive vacinas e medicamentos. Conforme determinam os órgãos reguladores, e devido à dificuldade de recuperação do produto contaminado, uma das maiores preocupações dos fabricantes de medicamentos injetáveis é a contaminação por endotoxinas, principalmente devido às suas consequências para a saúde humana, uma vez que são pirogênicas, inflamatórias e podem ser mortais, se seus níveis não estiverem dentro dos padrões estabelecidos. Como é realizado o teste de endotoxinas bacterianas? O teste de endotoxinas bacterianas (TEB), também chamado de teste do lisado de amebócitos do Limulus (LAL) é um teste realizado in vitro, ou seja, sem a utilização de coelhos, que tem como base o processo de coagulação ou gelificação de amebócitos retirados do sangue do caranguejo ferradura (Limulus polyphemus), ao entrar em contato com endotoxinas provenientes de bactérias Gram-negativas. É considerado um método rápido, fácil e sensível, e possui tanto técnicas qualitativas, como o método de coagulação em gel (Gel-Clot), e quantitativas, como o método cromogênico-cinético, um método fotométrico. Limulus polyphemus O TEB de coagulação em gel é a forma mais simples do ensaio LAL, que fornece um resultado qualitativo, ou seja, ele é capaz de indicar a presença ou ausência de endotoxina na amostra testada. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 40/49 Ele envolve a mistura do reagente contendo os amebócitos com a amostra em um tubo, com posterior incubação deste a 37°C (± 1°C) por 1 hora (± 2 minutos). Se a amostra estiver contaminada com endotoxinas bacterianas, a coagulação do líquido pelo reagente LAL será iniciada. Após o fim do período de incubação, o tubo é, então, examinado a olho nu para determinar se um coágulo gelatinoso se formou em seu fundo. Um resultado positivo é indicado pela presença de um coágulo que permanece no fundo, após uma inversão suave do tubo, enquanto um resultado negativo é indicado pelo líquido fluido. O método cromogênico-cinético de TEB baseia-se na medida da cor em diferentes intervalos de tempo após a adição de um substrato cromogênico (contendo o reagente LAL obtido dos caranguejos e o reagente cromogênico) à amostra em teste. A solução obtida é, então, monitoradaao longo do tempo para a aparência de cor amarela, medida usando métodos espectrofotométricos. Nesse caso, a quantidade de tempo necessária para a mudança de cor ocorrer é inversamente proporcional à quantidade de endotoxina presente. Ou seja: quanto mais endotoxina existir na amostra, menor será o tempo necessário para o surgimento da cor. Podemos calcular a concentração de endotoxinas nas amostras por interpolação do tempo obtido por meio de uma curva-padrão preparada anteriormente. Algumas vantagens importantes desse método são que ele pode ser totalmente automatizado para aumentar a eficiência do teste e permite a medição de muitas amostras em um curto período por um fácil processamento de dados. O ensaio LAL cromogênico-cinético é um método quantitativo e é o mais sensível dos ensaios LAL, com uma faixa de sensibilidade de 0,005 EU/ml – 50,0 EU/ml. Infelizmente, ainda não é possível substituir o teste de pirogênio em coelhos pelos métodos de TEB, uma vez que existem outros pirogênios além das endotoxinas bacterianas. Porém, visando à redução do número de animais utilizados, em geral as amostras passam primeiramente por alguma metodologia LAL e, se forem negativas, seguem para o teste em animais. Caso sejam positivas em TEB, o teste em animais é desnecessário, uma vez que a amostra já será reprovada. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 41/49 Teste de esterilidade Os testes de esterilidade são aqueles que identificam a presença de bactérias e/ou fungos em uma amostra, e são aplicados a insumos farmacêuticos, medicamentos prontos e produtos para saúde que, de acordo com a farmacopeia, devem ser estéreis. Eles devem ser executados em condições assépticas utilizando, por exemplo, uma cabine Classe II tipo A de segurança biológica, instalada em uma sala limpa, com classificação compatível aos requerimentos de controle ambiental exigidos para a realização do teste. No caso de fármacos oncogênicos, mutagênicos, antibióticos, hormônios, esteroides e outros, os testes devem ser realizados em cabine Classe II tipo B2, pois ela possui sistema de exaustão externo ao laboratório. Testes em ambientes sob exposição direta de luz ultravioleta ou em áreas sob tratamento com aerossóis podem apresentar resultados falso negativos. Portanto, não se deve proceder o ensaio nesses ambientes. As condições ambientais também devem evitar contaminação acidental da amostra durante o teste, tornando os controles microbiológicos das áreas de trabalho obrigatórios. Existem dois meios de cultura de microrganismos, que você verá a seguir, aplicáveis nos testes de esterilidade, que são o meio fluido de tioglicolato e o caldo de caseína-soja. Meio �uido de tioglicolato Utilizado principalmente para cultura de bactérias anaeróbicas, embora, também, possa detectar bactérias aeróbicas. Caldo de caseína-soja Apropriado para a cultura de leveduras, fungos e bactérias aeróbicas. Os meios utilizados devem ser previamente esterilizados e precisam cumprir com os critérios dos seguintes testes de adequação de meio de cultura: Esterilidade Para confirmar que o meio se encontra estéril, deve-se incubar parte do meio preparado sem inóculo nenhum, nas condições 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 42/49 especificadas para cada meio, por 14 dias. Não deve ocorrer crescimento microbiano. A ocorrência de crescimento microbiano inutiliza o meio para o teste de esterilidade. Promoção de crescimento O meio de cultura esterilizado deve ser capaz de promover o crescimento de microrganismos. Para testar essa capacidade, deve-se incubar parte do meio preparado com microrganismos padronizados específicos, conforme as condições definidas para cada meio. Neste caso, o teste é positivo se for observada evidência de crescimento microbiano, visualizado pela turvação e/ou por métodos microscópicos, após três dias de incubação dos meios inoculados com bactérias e após cinco dias com fungos. Incapacidade de matar microrganismos É preciso ter certeza de que nenhum componente do produto a ser testado possui atividade bacteriostática ou fungistática, ou seja, a capacidade de matar microrganismos. O teste de validação para bacteriostase e fungistase deve ser realizado quando o teste de esterilidade for realizado pela primeira vez para um produto e sempre que houver modificações na formulação do produto e/ou nas condições experimentais do teste. Existem dois métodos descritos na farmacopeia brasileira para a realização do teste de esterilidade: filtração em membrana; inoculação direta. Na inoculação direta, um pequeno volume da amostra é retirado assepticamente da unidade da amostra e inoculado diretamente em um volume adequado de meio de crescimento antes da incubação. Embora simples, este método de teste pode ter algumas limitações significativas. Somente pequenos volumes de produto podem ser inoculados no meio de cultura, o que limita a sensibilidade do teste. Se a 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 43/49 amostra tiver aspecto nebuloso ou turvo após a inoculação, pode ser complicado detectar turbidez causada pelo crescimento microbiano ao final da incubação. Além disso, se o produto tiver propriedades antimicrobianas, a amostra deverá ser neutralizada, de modo que o crescimento microbiano não seja inibido. O tipo a ser selecionado depende do produto, exceto quando já existir uma padronização na monografia farmacopeica do produto. Em ambos os casos, devem ser realizados controles negativos apropriados. Todos os materiais externos (embalagens, por exemplo) devem passar por procedimento de assepsia apropriado antes de entrar na cabine biológica, para não comprometer o ambiente de teste. Veja a seguir em quais produtos é possível empregar os métodos de filtração em membrana e inoculação direta em meio de cultura: Método de �ltração em membrana Líquidos miscíveis em veículos aquosos; Óleos e soluções oleosas; Pomadas e cremes; Sólidos solúveis (não antibióticos); Sólidos para preparações injetáveis (não antibióticos); Antibióticos sólidos para preparações injetáveis; Aerossóis estéreis; Seringas já preenchidas com ou sem agulha acoplada; Dispositivos estéreis. Método de inoculação direta em meio de cultura Líquidos não oleosos; Líquidos oleosos; Pomadas e cremes; Sólidos; Categute e outras suturas cirúrgicas; Algodão purificado, gaze, bandagem e material relacionado; Aparelhos parenterais. Deve-se observar os meios incubados diariamente para verificar a ocorrência de crescimento microbiano. Se, ao final do período de incubação, não houver presença de microrganismos, a amostra é aprovada no teste de esterilidade. Se for evidenciado surgimento de microrganismos, a amostra é reprovada, a não ser que se verifique alguma falha durante a execução do teste como, por exemplo, 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 44/49 contaminação não relacionada com o produto em análise. Um exemplo de falha pode ser a detecção de crescimento microbiano nos controles negativos. Se o teste de esterilidade for invalidado, deve-se repeti-lo. No caso de testes positivos, é recomendada a identificação do microrganismo contaminante, por meio de técnicas microbiológicas/bioquímicas convencionais ou técnicas moleculares mais sensíveis. Teste de pirogênio Neste vídeo, o especialista responde as principais dúvidas sobre os testes de pirogênio clássico e alternativos. Vamos lá! 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 45/49 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamospraticar alguns conceitos? Questão 1 O teste LAL possui duas metodologias distintas, uma quantitativa e a outra apenas qualitativa. O método de coagulação em gel para detecção de endotoxinas bacterianas se trata de um ensaio A quantitativo, com resposta medida pelo tamanho do coágulo formado. B qualitativo, com resposta medida por métodos espectrofotométricos. C quantitativo, com resposta medida pela formação de coágulo. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 46/49 Parabéns! A alternativa D está correta. No teste de endotoxinas bacterianas pelo método de coagulação em gel, temos uma técnica qualitativa, capaz apenas de responder se há ou não a contaminação por endotoxinas, através da formação de um coágulo gelatinoso. Questão 2 Para cada classe de produto existe um teste de esterilidade específico descrito nos compêndios oficiais, como a farmacopeia brasileira. Entre as classes de produtos a seguir, para qual delas é aplicado o teste de esterilidade pelo método de filtração em membrana? Parabéns! A alternativa B está correta. D qualitativo, com resposta demonstrada pela formação de um coágulo. E quantitativo, com resposta demonstrada pela formação de um coágulo. A Líquidos não oleosos. B Antibióticos sólidos para preparações injetáveis. C Líquidos oleosos. D Categute e outras suturas cirúrgicas. E Algodão purificado, gaze, bandagem e material relacionado. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 47/49 No caso dos antibióticos sólidos para preparações injetáveis, o método correto a ser utilizado é o de filtração em membrana. Para os demais produtos, é aplicado o método de inoculação direta em meio de cultura. Considerações �nais Como vimos, os processos de esterilização são extremamente importantes para a produção de medicamentos, especialmente os injetáveis. Eles devem ser pensados, padronizados e executados com o máximo rigor possível, para garantir que os produtos estejam dentro dos parâmetros desejados, e que sejam aprovados nos testes de controle da qualidade que também vimos neste material. Também conhecemos um pouco sobre as salas e zonas limpas e suas classificações, de acordo com a norma ABNT NBR ISO 14644-1, assim como os indicadores biológicos que são utilizados para testagem e padronização dos processos de esterilização. Por último, estudamos a importância dos testes de pirogênio, endotoxinas bacterianas e esterilidade, e as formas de executá-los nos medicamentos estéreis e outros produtos para a saúde que tenham essa característica essencial. Podcast Neste podcast, o especialista aborda os principais conteúdos abordados no tema. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 48/49 Explore + Pesquise pelo artigo Aplicabilidade do Teste de Ativação de Monócitos (MAT) no Brasil: importância da sua utilização como teste para detecção de pirogênios no controle da qualidade de produtos injetáveis, escrito por Silva e colaboradores (2015), e conheça um pouco sobre um teste in vitro que pretende substituir o uso de coelhos no teste de pirogênios. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Norma ABNT NBR ISO 14644-1: Salas limpas e ambientes controlados associados – Parte 1: classificação da limpeza do ar. 2. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2019. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Resolução RDC nº 658, de 30 de março de 2022. Dispõe sobre as diretrizes gerais de boas práticas de fabricação de medicamentos. Brasília: Anvisa, 2022. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Farmacopeia Brasileira. 6. ed. Brasília: Anvisa, 2019. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. POP 65.3210.063: ensaio de esterilidade. Rev. 3. Rio de Janeiro: Fiocruz/ INCQS, 2018. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. POP 65.3330.002: ensaio de pirogênio. Rev. 15. Rio de Janeiro: Fiocruz/ INCQS, 2019. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. POP 65.3330.006: ensaio para endotoxina bacteriana. Rev. 15. Rio de Janeiro: Fiocruz/ INCQS, 2020. COUNCIL OF EUROPE. The European Pharmacopoeia. 10th ed. Strasbourg: European Directorate for the Quality of Medicines & Healthcare, 2020. THE UNITED States Pharmacopeia 43. National Formulary 38. Rockville, MD: U.S. Pharmacopeia, 2020. 27/02/2024, 10:05 Controle microbiológico de medicamentos estéreis https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04746/index.html# 49/49 Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? 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