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Texto para as questões 18 e 19. O presbítero Eurico era o pastor da pobre paróquia de Carteia. Descendente de uma antiga família bárbara, gardingo na corte de Vítiza, depois de ter sido tiufado ou milenário do exército visigótico vivera os ligeiros dias da mocidade no meio dos deleites da opulenta Toletum. Rico, poderoso, gentil, o amor viera, apesar disso, que- brar a cadeia brilhante da sua felicidade. Namorado de Hermengarda, filha de Favila, Duque de Cantábria, e irmã do valoroso e depois tão célebre Pelágio, o seu amor fora infeliz. O orgulhoso Favila não consentira que o menos nobre gardingo pusesse tão alto a mira dos seus desejos. Depois de mil provas de um afeto imenso, de uma paixão ardente, o moço guerreiro vira submergir todas as suas esperanças. Eurico era uma destas almas ricas de subli- me poesia a que o mundo deu o nome de imaginações desregradas, porque não é para o mundo entendê-las. Desventurado, o seu coração de fogo queimou-lhe o viço da existência ao despertar dos sonhos do amor que o tinham embalado. A ingratidão de Hermengarda, que parecera ceder sem resistência à vontade de seu pai, e o orgulho insultuoso do velho prócer deram em terra com aquele ânimo, que o aspecto da morte não seria capaz de abater. A melancolia que o devorava, consumindo-lhe as forças, fê-lo cair em longa e perigosa enfermidade, e, quando a energia de uma constituição vigorosa o arran- cou das bordas do túmulo, semelhante ao anjo rebelde, os toques belos e puros do seu gesto formoso e varonil transpareciam-lhe a custo através do véu de muda tristeza que lhe entenebrecia a fronte. O cedro pendia fulminado pelo fogo do céu. (HERCULANO, A. Eurico, o presbítero. 2.ed. São Paulo: Martin Claret, 2014. p. 26-27.) 18 UEL 2015 Sobre o romance Eurico, o presbítero, consi- dere as armativas a seguir. I. A história das personagens se passa em meio às lutas pela defesa do território da Península Ibérica diante da tentativa de dominação pelos muçulma- nos. II. A guerra santa, que é pano de fundo do romance, diz respeito ao contexto da reforma protestante, em que católicos e reformistas se enfrentam em batalhas sangrentas. III. Hermengarda escapa do clichê romântico e é a única personagem da obra cujo nal é feliz, visto que consegue se casar com um soldado e dar à luz três lhos. IV. Romance da primeira geração romântica, coloca a história de amor em segundo plano, na medida em que evidencia a questão histórica. Assinale a alternativa correta. A Somente as armativas I e II são corretas. Somente as armativas I e IV são corretas. c Somente as armativas III e IV são corretas. d Somente as armativas I, II e III são corretas. E Somente as armativas II, III e IV são corretas. 19 UEL 2015 Com base na leitura do romance Eurico, o presbítero e, especicamente, do trecho apresenta- do, é correto armar que este é o momento em que o narrador conta A a saga de Eurico perante sua família e a de Her- mengarda, que eram as responsáveis pelo seu sofrimento. o desencanto de Eurico diante de um amor impossível, o que o levaria a dedicar sua vida a professar a fé. c como Eurico abandona a batina para lutar por seu grande amor, a nobre Hermengarda. d como Eurico se torna um guerreiro contra a Igreja Católica, a quem responsabiliza pelo m de seu noi- vado. E como Hermengarda abandona Eurico diante do al- tar, apenas porque ele não é de família nobre como a dela. 20 Unicamp 2019 Picado pelo ciúme, abriu o ourives seu pei- to à órfã, ofereceu-lhe a mão, e uma pulseira de brilhantes nela, com a condição de me esquecer. Leontina disse que sim, cuidando que mentia; mas passados oito dias admi- rou-se de ter dito a verdade. Nunca mais soube de mim, nem eu dela; até que, um ano depois, a criada, que a ser- via, me contou que a menina casara com o padrinho e que as enteadas, coagidas pelo pai, se tinham ido para o recolhimento do Grilo com uma pequena mesada e a esperança de ficarem pobres. Não sei mais nada a respeito da primeira das sete mulheres que amei, em Lisboa. (Camilo Castelo Branco, Coração, cabeça e estômago, p. 4. Disponível em www.dominiopublico.gov.br. Acessado em 20/05/2018.) O excerto anterior apresenta uma síntese acerca do primeiro dos setes amores da personagem Silvestre da Silva. Considere essa experiência amorosa no contex- to da primeira parte da narrativa e assinale a alternativa correta. A A mulher é idealizada em cada caso relatado, não havendo espaço para uma ótica realista. A experiência amorosa recebe tratamento solene e sublime por parte das personagens. c A personagem masculina se caracteriza pelo inte- resse sexual; a feminina, pela devoção ao marido. d O protagonista da narrativa se frustra em sua cren- ça amorosa a cada vez que se apaixona. LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 4 Romantismo: o arrebatamento das emoções352 A poesia romântica é uma poesia universal progressiva. Sua destinação não é apenas reunificar todos os gêneros separados da poesia e pôr a poesia em contato com filosofia e retórica. Quer e também deve ora mesclar, ora fundir poesia e prosa, genialidade e crítica, poesia de arte e poesia de natureza, tornar viva e sociável a poesia, e poéticas a vida e a sociedade, poetizar o chiste, preencher e saturar as formas da arte com toda espécie de sólida matéria para cultivo, e as animar pelas pulsações do humor. Abrange tudo o que seja poético, desde o sistema supremo da arte, que por sua vez contém em si muitos sistemas, até o suspiro, o beijo que a criança poetizante exala em canção sem artifício. Pode se perder de tal maneira naquilo que expõe, que se poderia crer que caracterizar indivíduos de toda espécie é um e tudo para ela; e no entanto ainda não há uma forma tão feita para exprimir completamente o espírito do autor: foi assim que muitos artistas, que também só queriam escrever um romance, expuseram por acaso a si mesmos. Somente ela pode se tornar, como a epopeia, um espelho de todo o mundo circundante, uma imagem da época. E, no entanto, é também a que mais pode oscilar, livre de todo interesse real e ideal, no meio entre o exposto e aquele que expõe, nas asas da reflexão poética, sempre de novo potenciando e multiplicando essa reflexão, como numa série infinita de espelhos. É capaz da formação mais alta e universal, não apenas de dentro para fora, mas também de fora para dentro, uma vez que organiza todas as partes semelhantemente a tudo aquilo que deve ser um todo em seus produtos, com o que se lhe abre a perspectiva de um classicismo crescendo sem limites. A poesia romântica é, entre as artes, aquilo que o chiste é para a filosofia, e sociedade, relacionamento, amizade e amor são na vida. Os outros gêneros poéticos estão prontos e agora podem ser completamente dissecados. O gênero poético romântico ainda está em devir; sua ver- dadeira essência é mesmo a de que só pode vir a ser, jamais ser de maneira perfeita e acabada. Não pode ser esgotado por nenhuma teoria, e apenas uma crítica divinatória poderia ousar pretender caracterizar-lhe o ideal. Só ele é infinito, assim como só ele é livre, e reconhece, como sua primeira lei, que o arbítrio do poeta não suporta nenhuma lei sobre si. O gênero poético romântico é o único que é mais do que gênero e é, por assim dizer, a própria poesia: pois, num certo sentido, toda poesia é ou deve ser romântica. SCHLEGEL, Friedrich. O dialeto dos fragmentos. SUZUKI, Márcio (Trad.). São Paulo: Iluminuras, 1997. p. 64-5. Texto complementar Romantismo: origens e características O Romantismo na Europa: y As transformações históricas: Revolução Industrial e Revolução Francesa. y A ascensão da burguesia. y As novas classes sociais e os renovados rumos da sociedade. y A subjetividade e o sentimentalismo como expressão de novos sujeitos. y O individualismo e a originalidade. y O crescimento dos gêneros modernos, em especial o romance. y O ponto de vista mudado: a nova literatura e os novos instrumentos de legitimação cultural. O Romantismo no Brasil: y O surgimento do sistema literário brasileiro. y A Independência do Brasile as necessidades de definir a recente nação. y A transferência de modelos maduros e prontos da Europa para o Brasil. y As incompatibilidades de realidades distintas. y O indianismo e a idealização do passado colonial. O Romantismo em Portugal: y O conturbado cenário histórico-político. y A literatura e sua função política. y A exaltação do caráter nacional. y A figura do herói. y O sentimentalismo – a emoção em detrimento da razão. y O perfil literário dos principais autores românticos portugueses: Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco. Resumindo F R E N T E 2 353 1 Ufam 2013 O trecho abaixo foi extraído do romance A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo: Entre todas essas elegantes e agradáveis moças, que com aturado empenho se esforçam por ver qual delas vence em graças, encantos e donaires, certo que sobrepuja a travessa Moreninha, princesa daquela festa. Hábil menina é ela! Nunca seu amor-próprio produziu com tanto estudo seu toucador e, contudo, dir-se-ia que o gênio da simplicidade a penteara e vestira. Enquanto as outras moças haviam esgotado a paciência de seus cabe- leireiros, posto em tributo toda a habilidade das modistas da Rua do Ouvidor e coberto seus colos com as mais ricas e preciosas joias, D. Carolina dividiu seus cabelos em duas tranças, que deixou cair pelas costas; não quis ornar o pescoço com seu adereço de brilhantes nem com seu lindo colar de esmeraldas; vestiu um finíssimo, mas simples vestido de garça, que até pecava contra a moda reinante, por não ser sobejamente comprido. Vindo assim aparecer na sala, arrebatou todas as vistas e atenções. Porém, se um atento observador a estudasse, desco- briria que ela adrede se mostrava assim, para ostentar as longas e ondeadas madeixas negras, em belo contraste com a alvura de seu vestido branco, e para mostrar, todo nu, elevado colo de alabastro. A partir do excerto acima, arma-se: I. Observa-se nele uma das características român- ticas mais marcantes: a idealização da mulher, como forma de valorizá la. II. Como o público consumidor de folhetins era, ba- sicamente, o feminino, os escritores procuravam descrever o vestuário das heroínas dos romances. III. Os ambientes dos romances urbanos eram, em maioria, burgueses, pois a descrição de espaços miseráveis não atrairia público para os folhetins. IV. D. Carolina, chamada de Moreninha, para sobres- sair na festa, opta pela simplicidade, conseguindo, com esse artifício, o destaque que desejara. V. O “colo de alabastro” revela que a Moreninha era branca, pois alabastro é uma pedra de cor clara; sendo assim, seu apelido se justifica no sentido europeu, a de ser branca com cabelos negros. Assinale a armativa correta: A Somente as afirmativas I, II e IV estão corretas. Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas. c Somente as afirmativas II, III e V estão corretas. d Somente as afirmativas II, IV e V estão corretas. E Todas as afirmativas estão corretas. 2 UPE 2015 Iracema Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acá- cia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto. Iracema saiu do banho; o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a Exercícios complementares Quer saber mais? Filme y O conde de Monte Cristo. Direção: Kevin Reynolds, 2002. Touchstone, EUA. O filme é baseado no romance de Alexandre Dumas e narra a história de um marinheiro preso injustamente. Sites y As obras dos autores do Romantismo português estão disponibiliza- das no site Camões – Instituto de Cooperação da Língua. Almeida Garrett: <http://p.p4ed.com/PEXGO>. Alexandre Herculano: <http://p.p4ed.com/PEXGP>. Camilo Castelo Branco: <http://p.p4ed.com/PEXGA>. Livros y HUGO, Victor. Os miseráveis. CARRASCO, Walcyr (Trad. e adapt.). São Paulo: Moderna, 2012. Esse clássico da literatura, que tem forte cunho social, narra a história de Jean Valjean, que rouba um pão para salvar a família da fome; a partir disso, são apresentados todos os desdobra- mentos e as desventuras decorrentes desse fato. O livro já foi adaptado para o cinema e, recentemente, ganhou uma adaptação para musical. y GOETHE, Johann Wolfgang von. Os sofrimentos do jovem Werther. São Paulo: Hedra, 2006. A obra é um marco do Romantismo mundial e narra a história de uma paixão arrebatadora. LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 4 Romantismo: o arrebatamento das emoções354
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