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UNESP Exasiu Profª. Gabi Garcia Aula 04 - Política e Ética - Período Moderno Exasiu estretegiavestibulares.com.br EXTENSIVO Sumário APRESENTAÇÃO ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. CRONOGRAMA 4 METODOLOGIA 7 TEORIA: ÉTICA E POLÍTICA - MODERNIDADE 8 Baruch de Espinosa (1632 - 1677) 8 A imaginação 8 Deus = Natureza 9 Liberdade em Espinosa 9 A potência de existir, os afetos e a servidão 10 A Ética 11 Leibniz 13 Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) 14 O Príncipe 14 Virtú e Fortuna 15 Os fins justificam os meios? 16 Moral pública e moral privada 17 Maquiavélico 17 Maquiavel republicano 17 Thomas Hobbes (1588 – 1676) 20 O Estado de Natureza e o Estado Civil 21 O Leviatã 22 John Locke (1632 – 1704) 25 Estado de natureza e contrato social 25 A propriedade privada 26 O poder do Estado 27 Jean-Jacques Rousseau (1712 -1778) 29 O Contrato Social 29 A vontade geral 30 Denis Diderot (1713 - 1784) e Jean le Rond d’Alembert (1717 -1783) 32 Montesquieu (1689-1755) 33 A Filosofia Política 33 O Espírito das Leis 34 As leis e a democracia 34 Voltaire (1694 - 1778) 37 A Tolerância 37 Immanuel Kant (1724-1804) 38 O que é Esclarecimento? 38 Ética Kantiana: Imperativo Categórico 39 A Ação por Dever 40 Mentir é antiético 40 01 DE JANEIRO DE 2020 QUESTÕES 43 GABARITO 62 QUESTÕES COMENTADAS 63 Contratualistas 63 Maquiavel 73 Montesquieu 82 Kant 86 CONSIDERAÇÕES FINAIS 95 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 97 Cronograma AULAS TEMAS DATAS 1ª LEITURA REVISÃO AULA 00 NASCIMENTO DA FILOSOFIA FILOSOFIA CLÁSSICA E MEDIEVAL: Epistemologia Disponível Planejamento Execução Planejamento Execução AULA 01 FILOSOFIA MODERNA: Epistemologia Disponível Planejamento Execução Planejamento Execução AULA 02 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA: Epistemologia Disponível Planejamento Execução Planejamento Execução AULA 03 FILOSOFIA CLÁSSICA E MEDIEVAL: Ética e Política Disponível Planejamento Execução Planejamento Execução AULA 04 FILOSOFIA MODERNA: Ética e Política Disponível Planejamento Planejamento Execução Execução AULA 05 FILOSOFIA CONTEMNPORÂNEA: Ética e Política PARTE 1 21/03/2022 Planejamento Execução Planejamento Execução AULA 06 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA: Ética e Política PARTE 2 11/04/2022 Planejamento Execução Planejamento Execução AULA 07 DOS CLÁSSICOS AOS MODERNOS: Estética 25/04/2022 Planejamento Execução Planejamento Execução AULA 08 Estética CONTEMPORÂNEA: Estética 09/05/2022 Planejamento Execução Planejamento Execução Para planejar o seu estudo colocamos dois itens nas linhas “primeira leitura” e “revisão”. No item “Planejamento” você inclui a data que pretende estudar a matéria. Lembre-se que na coluna datas estarão os dias de liberação das aulas no site. No item “Execução” você inclui a data que realmente realizou a tarefa e em tópicos rápidos quais foram suas principais dúvidas para incluí-las no fórum. Metodologia A nossa metodologia é Estratégica. Primeiro olhamos todas as provas do ENEM para avaliar quais foram os assuntos mais cobrados. Sabemos que os alunos, para obterem aprovação, precisam estudar muitas matérias. Portanto, o foco é extremamente necessário para se obter sucesso na prova. Assim, essa professora que vos fala percorreu todas as provas do Exame Nacional do Ensino Médio para lhe entregar tudo aquilo que já caiu na prova. Nesse sentido, o nosso curso trará a teoria de todos os assuntos já cobrados em filosofia no ENEM. Contudo, caro vestibulando(a) usarei toda a minha experiência para complementar este material e montá-lo de maneira completa. Nesse contexto, todo o conteúdo do edital do ENEM estará de alguma forma presente em nosso curso. Só que com a nossa metodologia você estará preparado para o que já caiu na prova e para aquilo que tem grande possibilidade de cair. Você terá acesso a esse material em .pdf, o qual trará a teoria e muitas questões para treino. Isso mesmo, muitas, mas muitas questões para você ficar craque em resolver questões. Além disso, todas as nossas questões serão comentadas item a item. Neste material você saberá se acertou, o porquê acertou e quais são os erros das demais alternativas. Para complementar os seus estudos, teremos videoaulas com os conteúdos apresentados de forma objetiva e com a didática da Prof. Gabi para compreendermos todos os tópicos abordados. Por fim, teremos o fórum de dúvidas, no qual você não só pode, como deve, sanar todas as suas dificuldades. Pode ter certeza de que responderei o mais rápido possível. O meu foco é a sua aprovação!!!!!!! Teoria: Ética e Política - Modernidade Baruch de Espinosa (1632 - 1677) Filósofo racionalista, nasceu em Amsterdã. Filho de judeus e estudioso dos escritos sagrados judaicos, acabou por romper com o judaísmo, ou melhor, acabou excomungado de sua sinagoga, por contrariar algumas características tradicionais da religião. Entre as obras de destaque de Espinosa estão Tratado político, Tratado da correção do intelecto, Princípios da filosofia de Descartes, Ética, etc. Este último foi escrito em forma matemático-geométrica, o que o torna um dos maiores exemplos de racionalismo. “A Ética” é o livro o qual ensina que os homens são livres e criam para si um novo modo de existir e se relacionar. Sua filosofia racionalista radical se caracterizou pela crítica à superstição religiosa que dá origem às superstições políticas e filosóficas. A imaginação Ao falar de imaginação, Espinosa fala de Deus. Para o pensador Deus e o Universo nunca foram entendidos de forma correta. A construção da imagem de Deus como algo separado do Universo seria um equívoco. Ela é resultado de uma projeção das qualidades do próprio ser humano, ou seja, é uma imagem antropomórfica (atributos semelhantes aos seres humanos) de Deus. O filósofo chamou atenção pelo fato de que nós, seres humanos, imaginamos que somos livres para escolhermos, desejarmos etc. Por isso, cremos que Deus também deve ser livre. Acreditar que Deus criou o mundo a partir do nada, faz Dele um ser separado e não integrado ao Universo e é nesse ponto que Espinosa discorda. Primeiro o filósofo vai nos lembrar que diversas religiões afirmaram que pelo fato de Deus e Universo serem coisas distintas, a realidade não poderia ser totalmente compreendida. Mas para o pensador, o intelecto tem condições de compreender racionalmente toda a realidade e as leis que regem o Universo. Depois, Espinoza nos leva a refletir sobre o fato de que por Deus ter sido conhecido incorretamente, as elites religiosas usaram esse erro para se beneficiar. Transmitir aos cristãos que Deus é vingativo, punitivo e que age por caprichos. Essa classe restrita e privilegiada de sacerdotes, estabeleceu o certo e o errado. O castigo como punição ao desobediente àquele que não é fiel. Espinosa afirma que tais normas não foram criadas por Deus. Deus = Natureza Enquanto a maioria dos filósofos concebem Deus como um criador superior, Espinosa vê Deus como a substância que constitui o Universo e que não se separa dele. Ele define a substância como o que é causa de si, que depende apenas de si para existir e não de outra coisa. Portanto, existe apenas uma única substância (atributos infinitos) e tudo (modos finitos) que existe é modificação dessa substância. Quando encontramos o conhecimento verdadeiro, compreendemos que Deus não está separado do Universo. “Deus sive nature”, ou seja, “Deus ou natureza”. Deus é imanente ao Universo, é a causa natural de todo Universo, por isso age em acordo com tal natureza, que é Ele próprio. Sua filosofia ficou conhecida como panteísta. Portanto, se Deus é a substância que constitui o Universo enão se separa do que produz, todas as coisas que existem são modos finitos de um atributo infinito. Deus é causa imanente (faz parte do mundo). Liberdade em Espinosa Espinosa nos conduz a pensar sobre a essência de Deus, se ela é a causa de si, então, Ele necessariamente existe e ao mesmo tempo é causa de tudo que existe. Porém, nós não somos causas de nós mesmos, somos parte de uma cadeia infinita de acontecimentos que nos trouxeram até aqui. Não somos seres infinitos como Deus, mas temos capacidade de agir para preservar nosso ser. É importante lembrar que o Ser está no sentido de modo finito do atributo infinito (Deus); o Ser é uma potência ativa de afetar e ser afetado. Temos interesse em tudo que contribui para nossa preservação. O Conatus significa esforço físico e moral, é a essência atual de um ser, segundo Espinosa. Existe no ser humano, assim como em tudo mais que compõe a natureza uma potência. No caso do homem, essa potência nos permite criar as condições de continuar existindo. Não possuímos conatus, somos conatus, assim como tudo que existe, porque tudo realiza um esforço para permanecer em seu ser enquanto pode. Se é natural que tudo busque “perseverar no seu ser”, isso significa que queremos existir de acordo com a natureza. Somente o conhecimento racional nos permite distinguir os desejos verdadeiros - próprios da natureza, ou seja, conhecimento adequado, o que nos permite a liberdade. O conhecimento inadequado é aquele constituído por fantasias e ilusões. São afetos que nos escravizam e nos torna estranhos a nós mesmos. A potência de existir, os afetos e a servidão A potência de existir é o desejo e quando ele está alinhado com a natureza somos acometidos pela alegria. Caso contrário, quando nossos desejos se realizam fora da natureza somos acometidos pela tristeza. A alegria e a tristeza são dimensões da nossa afetividade. A tristeza vem quando somos orientados por valores exteriores a nós mesmos. O fato de Espinosa não separa corpo e mente não permite uma hierarquia. Nem o espírito é superior ao corpo e nem o corpo determina a consciência. O corpo é afetado pelo mundo e também pode afetar o mundo. Então o que são os afetos? Os afetos, ou paixões, podem ser alegres ou tristes e isso determina nossa potência de agir, que pode ser aumentada ou diminuída, a depender de tais paixões que nos afetam. Uma paixão de alegria ocorre quando passamos de uma perfeição menor para uma maior, ela nos faz agir de tal forma que permite nos tornarmos senhores da ação, senhores de nós mesmos. Uma paixão de tristeza ocorre quando passamos uma perfeição maior para uma menor. O que nos afasta de nossa potência de agir. Com isso vem o ódio, temor, aversão, vingança etc. A Ética é o caminho prático para a alegria. A afetividade humana é a matéria prima das relações e nos mostra o caminho da moral. A servidão humana é fruto da ignorância sobre aquilo que nos faz bem ou mal. Espinosa é contra as paixões tristes que só existem na ignorância. Para livrar-se da servidão é preciso que o homem deixe de ser acometido pelas paixões tristes e vá em busca de bons encontros. O homem, cansado e triste não consegue a liberdade. Seu conatus está reduzido, sua potência de agir é pequena, sua perfeição foi diminuída demais. Realizar maus-encontros nos deixa em estado de letargia e o leva a imaginar outras vidas, outros lugares. É nesse ponto que a imaginação é ruim, mas também é nela que se encontram as possibilidades de fuga. Para combater as paixões tristes, que nos levam à servidão, opressão e medo. Espinosa propõe primeiro interpretar corretamente as Sagradas Escrituras, que só fazem sentido se forem compreendidas no contexto em que foram escritas. Posteriormente, seria preciso reformar o intelecto, fazendo prevalecer o conhecimento sobre a imaginação. A Ética Podemos concluir, que Espinosa, constitui a síntese do seu pensamento ético como uma proposta de libertação do sujeito das suas afecções negativas, ou seja, das paixões tristes. Esse processo deve ocorrer sempre por meio da razão. O pensador parte do pressuposto de que quanto maior for o conhecimento que o sujeito tiver dos mecanismos afetivos aos quais encontra-se submetido, maior será seu controle sobre eles e com isso ele aumenta seu poder de se libertar das afecções negativas. Espinosa nos apresenta uma ética ontológica. A partir do entendimento do homem, que é finito e composto por mente e corpo. O filósofo holandês não permite a separação entre afeto e razão, entre paixões e conhecimento. Ele parte desses dois princípios como forma de elevar a busca do que é bom e útil para si como algo que seja imanente a si mesmo, a fim de potencializar a sua natureza. É neste sentido que o conatus é o que nos estimula a procurar as afecções positivas, como a alegria, por exemplo. O conatus nos leva a elevar a nossa potência em direção à excelência. Contudo, razão e liberdade adquirem um papel primordial durante esse processo que é a libertação ou atingir o bem verdadeiro, que é a felicidade. VEJA COMO ESSE CONTEÚDO É COBRADO NA PROVA 1- (ENEM - libras - 2017) Os filósofos concebem as emoções que se combatem entre si, em nós, como vícios em que os homens caem por erro próprio; é por isso que se habituaram a ridicularizá-los, deplorá-los, reprová-los ou, quando querem parecer mais morais, detestá-los. Concebem os homens, efetivamente, não tais como são, mas como eles próprios gostariam que fossem. ESPINOSA, B. Tratado político. São Paulo: Abril Cultural, 1973. No trecho, Espinosa critica a herança filosófica no que diz respeito à idealização de uma a) estrutura da interpretação fenomenológica. b) natureza do comportamento humano. c) dicotomia do conhecimento prático. d) manifestação do caráter religioso. e) reprodução do saber tradicional. Comentários: Ao responder essa questão, é preciso levar em consideração a ética de Espinosa, já que ele fala da natureza humana e do agir humano. Para o filósofo, é natural que tudo busque “se perseverar no seu ser”, isso significa que queremos existir de acordo com a natureza. Somente o conhecimento racional nos permite distinguir os desejos verdadeiros - próprios da natureza, ou seja, conhecimento adequado, o que nos permite a liberdade. O conhecimento inadequado é aquele constituído por fantasias e ilusões. São afetos que nos escravizam e nos torna estranhos a nós mesmos. Ao vivermos em meio a realidade, afetamos e somos afetados, o que contribui, bem ou mal, na constituição do nosso ser. O comando da questão pede que assinale sobre qual ponto Espinosa não concorda com a tradição filosófica, que sempre valorizou a razão e idealizou o homem e seu comportamento ideal, desconsiderando os afetos. a) A alternativa está incorreta. A filosofia de Espinosa não se limita a observar apenas a interpretação fenomenológica. O excerto acima refere-se à sentimentos, às paixões e não aos fenômenos. b) A alternativa está correta. Para Espinosa, o homem, quando desvia de seu comportamento e entrega-se às paixões tristes, está sendo afetado pela realidade que os cerca. Portanto, no excerto, o pensador está criticando a herança filosófica que fica julgando os homens a partir de modelos idealizados e não reais. c) A alternativa está incorreta. O excerto fala sobre dicotomia sobre as origens do agir humano e não do conhecimento prático. d) A alternativa está incorreta. Apesar de muito falar de Deus, nesse trecho o tema é o comportamento humano. e) A alternativa está incorreta. A idealização não é sobre a reprodução do saber tradicional, a filosofia, mesmo que tradicional, sempre foi expansiva na busca pelo conhecimento. Gabarito “b” Leibniz Gottfried Wilhelm Leibniz nasceu em Leipzig, Alemanha, em 1646. Filho de pai luterano,estudou direito e destaca-se muito na matemática. Mas o que nos interessa aqui é a filosofia ética de Leibniz. Para o filósofo alemão, pensar a felicidade é pensar sobre a ética. Ele dizia que a razão e a vontade buscam a felicidade. Dono de um pensamento racionalista, via no homem uma reflexão consciente dos fins e das leis. Então, o homem, quando numa vida racional, está mais próximo da felicidade. Sabendo que a felicidade só se faz tendo a razão como instrumento, podemos então pensar sobre a liberdade, que está presente na felicidade. A liberdade se dá por meio da inteligência, da capacidade racional. Ela é intrínseca a lei moral quer que o homem cumpra sua obra de ser inteligente e livre, seguindo a razão. A consciência moral dirige nossas ações, tais ações existem em nós mesmos e somente o ser humano possui uma reflexão consciente. É a reflexão consciente que torna o homem livre. Leibniz dizia que a ação, para ser livre, deve ser ao mesmo tempo "contingente, espontânea e refletida". A contingência: a ação é sempre contingente quando seu oposto é possível. Exemplo: o homem pode ser bom ou não. A espontaneidade: toda ação é espontânea porque tudo o que o sujeito faz depende dele próprio. A reflexão: é o que vai diferenciar o homem dos outros animais. É a capacidade de reflexão que, quando exercida, vai caracterizar uma ação como livre. Nota-se que o ser humano é a única espécie capaz de se projetar no futuro e para que tal projeção ocorra tendo em vista a felicidade é preciso que a razão domine o espírito e com isso liberta-se a vontade. Leibniz acreditava que a vontade se identificava com a energia viva e ativa que é fruto da substância de todo o ser organizado, constituindo sua individualidade. Assim, o ser moral depende do ser racional, projetando e agindo de tal modo que visa os melhores fins em busca da felicidade. Isto implica em liberdade, livre arbítrio. O homem livre exerce uma vontade autônoma, ele não viola as leis naturais, seguindo assim um determinismo universal. Por sua vez, a liberdade se encontra submetendo a vontade à razão. Pode-se afirmar, portanto, que para Leibniz, a doutrina moral deriva de uma ordem universal, que se justifica a partir do conhecimento das leis naturais que passam a ser aplicadas à vida humana. Quando esclarecida e dirigida pela razão, pela reflexão consciente, a existência permite ao homem o pensamento e a vontade do melhor, ou seja, do agir moral e ético. Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) Nicolau Maquiavel nasceu em Florença em 1469, conhecido como fundador da ciência política moderna, foi filho de uma família com poucos recursos financeiros. Aos 29 anos ingressou na vida política, assumindo o cargo de Segundo Chanceler da República Florentina e se ocupava dos assuntos relacionados à guerra e à política externa. Nesse período, os Médici governavam. Em 1513, devido a problemas políticos, ele foi exilado em San Casciano, onde começou a escrever suas principais obras. A fim de participar efetivamente da vida política italiana ele escreve O príncipe, que dedicou a Lourenço de Médici, um membro da família que, naquele momento, tinha o poder necessário para agir e decidir o destino não só de Florença, como também de toda Itália, na perspectiva de Maquiavel. Maquiavel foi um filósofo revolucionário no que diz respeito à política, já que ele criou uma teoria mais realista sobre o que é os políticos e a relação entre a ética e política. Relação essa que por muito tempo era bem definida, com um governante, que era descrito como um homem bom, portanto, capaz de conduzir de modo exemplar a própria vida e a vida de sua família, por isso apto a governar. Mas quando escreve O Príncipe, as discussões suscitadas sobre a ética e a política foram tão revolucionárias que não se pode mais pensar nessa relação como antes, o melhor governante já não necessita mais ser o homem mais virtuoso, como era tradicionalmente. Com isso, começa a surgir a formação do Estado Moderno - lembrando que Maquiavel encontrava-se em um contexto em que a Itália permanecia fragmentada, portanto, sujeita a disputas internas e de outras nações. Foi nessa Itália fragmentada que surgiu Nicolau Maquiavel, um pensador de seu tempo, que se preocupava com a Itália sendo invadida por estrangeiros e somente a unificação poderia torná-la um Estado forte. O Príncipe Com um pensamento inédito sobre o que é governar, o filósofo alerta para a importância de manter a república intacta, mas não menciona a finalidade ética da política, pelo contrário, ele coloca o homem bom e o homem mau lado a lado, ao definir a vida social como constituída a partir do conflito entre dois grupos sociais - os grandes e o povo, na qual os grandes são os que têm o desejo de governar e oprimir o povo e o povo carrega o desejo de não ser governado e oprimido pelos grandes. A partir desse pensamento ele sugere ao príncipe institucionalizar o conflito, regrá-lo de tal forma que seja possível o convívio e a mútua cooperação das partes conflitantes. Isso seria governar. O papel do governante é buscar o equilíbrio, contentando ora uma parte, ora outra e se necessário ele deve fazer uso da força, fazendo com que ora um, ora outro seja obrigado a ceder, permitindo que todos tenham seu desejo em parte realizado, mas nunca totalmente. Portanto, Maquiavel coloca o conflito na base da política, cabe ao governante mediar os conflitos sociais. Isso não quer dizer que o governante não tenha tempo de cuidar da virtude de seus governados, mas essa função não lhe pertence. O governante é um homem comum, com interesses e opiniões particulares que não são mais nobres ou melhores que as dos outros. Portanto, a virtude do governante está na capacidade que ele tem de articular forças sociais, ele precisa parecer ter excelência, dizia Maquiavel na obra O Príncipe. O pensador partiu da ideia de que os homens esperam de seu governante alguém virtuoso, por isso ele precisa parecer virtuoso e essa virtude existirá em sua capacidade conciliadora e articuladora. Cabe a ele inventar, instituir uma regra de justiça que pareça satisfazer a quem governa, não cabe mais apenas aplicar uma regra já pronta. A política não visa uma finalidade ética individual, mas uma finalidade própria da política, a de resolver conflitos e isso só é possível por meio da instituição de normas, regras e padrões públicos de comportamento. A ação do político cria e inaugura esse tipo de comportamento político. Virtú e Fortuna Nicolau Maquiavel, com seu manual político, O Príncipe, despertou dúvidas quanto à relação entre ética e política. Depois dele já não se pode mais cobrar da política ou dos políticos que eles sejam éticos, como em outrora, em que homem bom era sinônimo de bom governante. É preciso pensar que valores são opiniões e que estão sujeitos a discussões - vale lembrar que Maquiavel estava no século XVI e a Revolução Francesa ainda não havia ocorrido, por isso conceitos como valores universais e direitos humanos ainda não existiam. Para compreender a virtude e a fortuna em Maquiavel é necessário entender que a virtude do político consiste em saber mediar conflitos, permitir acordos, e a partilha de valores comuns. Portanto, ética e política são compatíveis, mas atribuir uma ética à política não é possível, já que ela lida com dois lados opostos, os governantes e os governados e alguém sempre terá que ceder ou ser contido. A ética do político seria o que Maquiavel chamou de virtú, ou seja, a virtude está na capacidade de criar e respeitar as instituições necessárias ao convívio comum, mas isso não implica que os políticos sejam sujeitos eticamente excepcionais. Os conflitos nunca acabam porque os valores estão sujeitos a disputa e o espaço político é adequado para que essa disputa aconteça de maneira ordenada e civil. Um bom dirigente é aquele que sabe fazer o que deve ser feito,que enxerga além dos outros homens, é o que tem força, astúcia, flexibilidade (quando necessária), firmeza (quando as circunstâncias exigirem) e a capacidade de enxergar a realidade e agir de acordo com suas vicissitudes, adaptando-se aos acontecimentos. A fortuna diz respeito aos acontecimentos imprevisíveis, que podem tanto servir ao governante quanto prejudicá-lo. Para agir bem é preciso estar atento a cada detalhe da situação concreta em que se inscreve. Para Maquiavel trata-se das coisas inevitáveis que a história traz. O conhecimento da história serve para ajudar na compreensão da situação, não necessariamente para retirar dela regras imutáveis ou ações perfeitas. Dobrar a fortuna, ou seja, tudo que há de incalculável e imprevisível é exercício do bom dirigente, escolher bem ação que a ocasião demanda. Portanto, nota-se que a obra O Príncipe de Maquiavel é um Manual Político, que revoluciona a visão sobre política no mundo ocidental, pois ensina como deve agir para ser um bom governante. Ele defendeu a ideia de que um bom dirigente deve aprender a não ser bom, já que suas ações são vistas, avaliadas, apreciadas e condenadas sempre. O príncipe deve cuidar para ser bem visto sempre para poder governar, mas ele precisa saber que nem sempre ele deve fazer o que se espera. Às vezes não ser bom é necessário, frustrar as expectativas depositadas nele, em nome do que considera necessário para o governo faz parte da governança. A melhor ação nem sempre é a mais bem avaliada. O que é bom ou mau é o que de fato contribui para estabilidade da vida pública. Os fins justificam os meios? As ações ganham caráter de boas ou más, certas e erradas, justas ou injustas de acordo com o contexto e seus efeitos. A lógica que guia as ações políticas é a manutenção do poder, ou seja, o que é melhor para cidade, por isso “os fins justificam os meios”, ora as ações tomadas prejudicam uns, ora outros, mas ela deve ser julgada pelo resultado alcançado. Por isso, em certas ocasiões o príncipe mente, engana, corrompe, usa a violência. Ele se adapta às circunstâncias para alcançar os resultados esperados em seu governo. Moral pública e moral privada Maquiavel acreditava que os valores da vida privada não poderiam interferir nos valores da vida pública, já que nem sempre eles são compatíveis. Na vida privada as pessoas podem ter valores próprios, como os do cristianismo, o que acaba por determinar suas ações individuais como justiça, piedade e compaixão, por exemplo. Na vida pública esses valores devem ser relativizados, já que os valores políticos devem ser julgados por sua utilidade social. Maquiavélico O termo maquiavélico tomou um sentido pejorativo, visto que maquiavélico é aquele que engana que é mau, que dissimula que age de má-fé. Mas vale ressaltar o contexto no qual ele está inserido, em que a fé imperava na mente e nos corações das pessoas, em que seguir conceitos e normas cristãs era supervalorizado. Portanto, falar de uma moral privada e outra pública foi uma afronta, foi o suficiente para ele ser depreciado. Maquiavel republicano A leitura de O príncipe nos leva a interpretar um Maquiavel que defende um poder centralizado nas mãos de poucos, sendo que estes poderiam fazer o que fosse necessário para o bem geral e para permanência no poder do príncipe forte e habilidoso. Ele defende as ações eficazes que visam à ordem do Estado, que no caso, visava à unificação da Itália. Assim, ele escreve um manual, baseado nos governos e governantes do passado, para indicar ao governante do presente o caminho a ser tomado para alcançar o poder, manter-se nele e fortalecer o Estado. Já na obra Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio (1517), de Nicolau Maquiavel, nota- se que o filósofo se debruça sobre os primeiros dez anos da história de Roma, ressaltando como as instituições desse período exprimiam a cisão entre os interesses dos nobres e do povo. Nesse livro, Maquiavel se mostra republicano. Maquiavel nos chama a atenção para a história da origem da cidade de Roma. Ele nos mostra como ela foi ordenada e como tal ordenação a favoreceu. Admira-se em como a virtú se manteve por tantos séculos na república romana. Para o pensador, os acidentes causados pela desunião que havia entre plebe e senado acabaram por favorecer a república romana. O pensador definiu a vida social como constituída a partir do conflito entre dois grupos sociais: os grandes e o povo. Os grandes são os que têm o desejo de governar e oprimir o povo. O povo carrega o desejo de não ser governado e oprimido pelos grandes. Como já dito: “ a fome e a pobreza fazem os homens industriosos e as leis os tornam bons. A lei não é necessária quando uma coisa funciona bem por si mesma, mas quando este bom costume está ausente, a lei é imprescindível.” (MAQUIAVEL, p. 431) Portanto, após os acidentes, que surgem das diferenças entre os indivíduos na sociedade, é que são criados os Tribunos, que fazem a mediação entre a plebe e o senado. Eles passam a legislar, criar leis. Maquiavel deixa claro que os homens nocivos podem estar tanto na plebe, que luta para conquistar espaço, quanto no senado, em que homens lutam para manter-se no poder. Ambos podem romper grandes tumultos. Porém, aqueles que possuem mais, parecem ter mais medo de perder, por isso estão mais propensos ao conflito, já que conquistar mais parece os tornar mais seguros. Ordenar uma república requer permitir os tumultos, institucionalizar o conflito e manter homens armados. O filósofo entendia que não seria possível uma república livre das discordâncias. Então, cedo ou tarde seria necessário bons guerreiros, visto que o equilíbrio não permanece. Uma república não poderá crescer, ou não poderá se manter caso cresça, se ela não tiver guerreiros armados. Os conflitos nunca acabam porque os valores estão sujeitos a disputa e o espaço político é justamente onde essa disputa acontece, de preferência de maneira ordenada e civil. Um bom ordenador de uma república deve ter vontade de servir ao bem comum, à pátria e não a si mesmo. E por isso, conservar-se sozinho no poder é fundamental. Outro ponto importante dos Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, é o papel da religião, que auxiliava no comando do exército nas histórias romanas e encorajava a plebe ao bem agir e a se envergonhar do mal agir. Deus sempre foi um apelo à aceitação dos governantes e seus feitos. Segundo o pensador: “jamais houve algum ordenador de leis extraordinárias em povo algum que não recorresse a Deus, porque, de outro modo, não teriam sido aceitas. Pois, são muitos os bens conhecidos por um homem prudente que não têm em si razões tão evidentes para serem aceitos pelos demais. Assim, os homens sábios, que queiram contornar esta dificuldade, recorrem a Deus. Assim fez Licurgo, assim, Sólon, assim, muitos outros que tinham os mesmos objetivos. (...)”. (MAQUIAVEL, p. 442) Porém, o filósofo mostra outra saída. Pois, onde falta o temor à Deus, o conflito deve se fazer presente, para que haja o temor ao príncipe. Único capaz de sanar os conflitos e assim superar os defeitos da religião. Contudo, podemos concluir que a quem desejar instituir uma república, cabe a ele ser um bom ordenador. Ou seja, um bom dirigente, que é aquele que sabe fazer o que deve ser feito, que enxerga além dos outros homens, que tem força, astúcia, flexibilidade (quando necessária), firmeza (quando as circunstâncias exigirem) e a capacidade de enxergar a realidade e agir de acordo com suas adversidades, adaptando-se aos acontecimentos. Lidar com a contradição é essencial. O conflito é a base da política e cabe ao governante mediar os conflitos sociais. Com isso, Nicolau Maquiavel funda uma nova moral, a moral do bem comum. Desse modo as ações têm seu caráter nos resultados para o bem-estar geral da cidade e do povo. Veja como esse conteúdopode aparecer na Prova 2- (Questão inédita - Gabriela C. Garcia) A qualidade capaz de dominar a Fortuna é a virtú. Esta é a capacidade de agir em face da Fortuna, aproveitar uma circunstância favorável, resistir aos fatos e, se possível, antecipar-se a eles, conquistando honra e glória para si e segurança para o Estado. Em última instância, virtú é a capacidade de produzir história. Esta é a tarefa que cabe ao príncipe. Daí a importância de toda a instrução proposta por Maquiavel. Algo, no entanto, independe de tudo que ele possa aprender pelo exercício e pelo estudo de como agiram os príncipes virtuosos: é a sua disposição de agir com ímpeto quando necessário para dominar a Fortuna. Kritsch, Raquel. (2001). Maquiavel e a construção da política. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, (53), 181-190. https://doi.org/10.1590/S0102-64452001000200009 Para compreender a virtude e a fortuna em Maquiavel é necessário entender que a) o homem, munido de virtude, tem disposição inata a praticar o bem a si e aos outros. b) aquele que é possuidor de fortuna, vale-se de riquezas para alcançar êxito na política. c) a fortuna consiste em acumular bens materiais e riquezas, guiado por interesses particulares. https://doi.org/10.1590/S0102-64452001000200009 d) a fortuna pouco se relaciona com a virtú. e) a fortuna diz respeito aos acontecimentos imprevisíveis, que podem tanto servir ao governante quanto prejudicá-lo. Comentários: A questão aborda o pensamento de Maquiavel. Conhecer o manual político, O Príncipe, obra de Maquiavel, permite que a resolução seja feita sem problemas. O filósofo fala que o homem tem uma natureza que tende a agir conforme os interesses próprios, porém o príncipe, o governante, deve agir visando o bem de seu povo. Por isso a virtude consiste e perceber nos imprevistos oportunidades de transformar o curso da situação a seu favor. A virtude está em saber lidar com o acaso e aproveitar as oportunidades. O enunciado pede que assinale o que é virtude e fortuna para Maquiavel. a) A alternativa A está incorreto. Para Maquiavel o homem age de acordo com interesses pessoas, podendo ser mau para tingir seus interesses. b) A alternativa B está incorreta. Fortuna e riqueza não são a mesma coisa para esse filósofo. c) A alternativa C está incorreta. A virtude está em reconhecer as oportunidades a fortuna é a própria oportunidade. d) A alternativa D está incorreta. Novamente, fortuna e riqueza não são a mesma coisa para Maquiavel. e) A alternativa E está correta. A fortuna está exatamente nos imprevistos que, quando bem conduzidos, podem ser usados como possibilidades a favor do príncipe. Gabarito: “e” Thomas Hobbes (1588 – 1676) Foi um filósofo inglês, autor de Leviatã (1651) e Do cidadão (1651). Em sua obra, Leviatã, o pensador nos dá um ponto de vista que leva a refletir sobre a natureza humana, a necessidade de um governo e de uma sociedade forte. No estado natural, embora alguns homens possam ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, nenhum se ergue tão acima dos demais de forma a estar isento do medo de que outro homem lhe possa fazer mal, o que leva o homem a acreditar que cada um tem direito a tudo e, uma vez que todas as coisas são escassas, existe uma constante guerra de todos contra todos (bellun https://pt.wikipedia.org/wiki/Bellum_omnia_omnes ominia omnes). No entanto, os homens têm um desejo, que é também um interesse próprio, o de acabar com a guerra e, por isso, formam sociedades por meio de um contrato social. Nada pode ser pior do que a guerra e é justamente esse o ponto de partida da filosofia de Hobbes. O estado de guerra deixa os homens inseguros e desconfiados, estado em que todo homem é inimigo de todo homem, esse estado leva os a crer que a guerra jamais será benéfica a eles. Thomas Hobbes descreve a guerra como decorrência da soma de dois fatores, a natureza humana e a fraqueza ou ausência do Estado. Toda ação voluntária é praticada em vista de um benefício individual, se não houver um poder que coloque limite a tais ações, elas tendem a se resolverem de forma não pacífica, de forma conflituosa. Por isso, se não houver confiança ou possibilidade de que o Estado solucione o conflito, o caos se instaura. O Estado deve então, ser forte o suficiente para impor limites às ações e evitar que desavenças sejam resolvidas por meio da violência. O filósofo político foi duramente criticado por dizer que os homens agem por interesses próprios, que tendem à guerra e não à associação. Ao defender tal ideia, Hobbes afirma que confiança e amor são secundários, posto que todas as ações humanas sejam realizadas em nome do seu próprio bem e que esse comportamento não é desumano, pelo contrário, ele condiz com a natureza humana. Do mesmo modo que não podemos definir o ato de um animal matar sua presa e a devorá-la como bom ou mau, não se pode julgar a ação de um homem quando ele busca meios para manter-se vivo, é nesse sentido que o filósofo diz ser o homem lobo do próprio homem. Ou seja, o comportamento natural do homem de agir visando o próprio bem acaba levando à destruição e não à preservação. O Estado de Natureza e o Estado Civil Para Hobbes, o estado de natureza é aquele em os homens vivem e se relacionam sem a presença de um Estado forte que possa controlá-los, o que leva ao estado de guerra de todos contra todos. Nesse contexto, as pessoas têm direito de agir como julgar correto ou necessário, não havendo leis, regras, punições. O homem considera-se livre para agir como quiser, porém, apesar de parecer atraente a princípio, é exatamente o direito ilimitado que leva o homem ao estado de guerra, no qual não existe regra que vale para todos, existe uma vontade prevalecendo em detrimento à outra. Vale ressaltar que o estado de natureza não é um momento que passou, pois caso não haja um Estado forte o caos se estabelece. Como, por exemplo, as capitais São Paulo e Rio de Janeiro, onde a ausência do Estado em muitas áreas cria situações de conflito, desconfiança e medo. O estado forte deve, oferecer condições para que o poder político seja suficientemente forte a fim de evitar o caos, mantendo-os em respeito e ordem, ou seja, em paz. O Leviatã Autor da obra O Leviatã, Hobbes se colocou contra a teoria do direito divino, que defendia que os reis seriam representantes escolhidos por Deus. Segundo o pensador, qualquer relação de comando e subordinação só pode ser resultado de uma decisão dos próprios homens, pois se há governantes e governados é porque os mesmos consentiram e decidiram instituir tais diferenças, percebendo a necessidade de limitar o direito natural a fim de garantir a paz. O Estado deve ter um caráter convencional, representativo e absoluto para o filósofo. Convencional no sentido de que os homens precisam concordar em limitar seu direito natural, com isso eles abrem mão de governar a si mesmos e passam esse poder a um terceiro, o soberano (que pode ser um homem ou uma assembleia de homens), nas palavras de Hobbes, cada um deve “conferir toda a sua força e poder a um homem, ou uma assembleia de homens, que possa reduzir todas as suas vontades por pluralidade de votos, a uma só vontade”. O caráter representativo se encontra no fato de que a partir do momento que os homens transferem seu poder para um governante, esta passa a representá-los, com isso os representados passam a se reconhecer como autores dos atos do soberano, visto que o representante (o soberano) tem autoridade para agir porque está autorizado a agir em nome dos representados. Como afirma Hobbes abaixo: “Considera-se que um estado tenha sido instituído quando uma multidão de homens concorda e pactua, cada um com cada um dos outros, que a qualquer homem ou assembléia de homens a quem seja atribuído pela maioria o direito de representar a pessoa de todos eles (ou seja, de ser seu representante),todos sem exceção, tanto os que votaram a favor dele como os que votaram contra ele, deverão autorizar todos os atos e decisões desse homem ou assembléia de homens, tal como se fossem seus próprios atos e decisões, a fim de viverem em paz uns com os outros e serem protegidos dos demais homens.” (HOBBES, T. Leviatã, Livro I, cap. XVIII.) Pensando agora no poder absoluto do Estado, Hobbes defendeu que o soberano deve ter autonomia total, para agir como achar necessário e que os homens devem apenas acatar todas as suas decisões, assim o soberano está fora do alcance de qualquer outra autoridade ou às leis civis, pois se houver leis acima do soberano, segundo o filósofo, deverá haver também um juiz acima dele, que seria outro soberano. Nas palavras de Hobbes: “O soberano de um Estado, quer seja uma assembléia ou um homem, não se encontra sujeito às leis civis. Dado que tem o poder de fazer e revogar as leis, pode quando lhe aprouver libertar-se dessa sujeição, revogando as leis que o estorvam e fazendo outras novas(...)” (HOBBES, T. Leviatã, Livro I, cap. XXVI.) Com isso, podemos pensar que o senso de justiça para Hobbes não existe, posto que o soberano foi colocado acima de tudo, podendo criar e abolir leis como bem entender. De fato, o conceito de justiça desse filósofo é diferente, pois se resume ao cumprimento dos pactos. Percebemos isso com a lei civil, que é uma regra que o Estado impõe ao súdito. Ela surge para acabar com os conflitos que são causados por conta das diferenças entre os homens como, por exemplo, a noção de bem e mal, uma coisa boa para um pode ser má para outro. Por isso se estabelece regras comuns que determinam o bem e o mal, são essas regras (leis civis) que dão o senso de justiça. Mas ao pensarmos que cada Estado tem sua lei civil, portanto cada Estado tem seu próprio senso de justiça, ou seja, o que é crime em um Estado não necessariamente será crime em outro, como a monogamia e a poligamia, por exemplo, no Brasil a monogamia prevalece na lei civil, não podendo um cidadão se casar com mais de uma pessoa, já no Marrocos um homem pode ter várias esposas. Muito embora, em nosso país, o judiciário já tem aceitado a ideia de uma família plural, ou seja, com diversas características que não eram aceitas historicamente. Por isso a justiça para Hobbes encontra-se no cumprimento dos pactos, pois quando os homens instituem um Estado, eles passam a ser obrigados a respeitar o pacto que o originou. Portanto, injusto seria desobedecer às leis civis e estando o Estado acima das leis, já que ele as cria, o soberano nunca poderá ser considerado injusto. "Dado que todo súdito é por instituição autor de todos os atos e decisões do soberano instituído, segue-se que nada do que este faça pode ser considerado injúria para com qualquer de seus súditos, e que nenhum deles pode acusá-lo de injustiça". (HOBBES, T. Leviatã, Livro I, cap. XVIII.) O filósofo acreditava que, caso o soberano fosse submetido às leis civis, o seu poder deixaria de ser absoluto, pois precisaria de outro que julgasse seu mau comportamento, enfraquecendo o Estado, visto que os súditos não o respeitariam por não o temerem o suficiente, e, assim, a paz não seria alcançada. O medo e a punição é que faz um indivíduo seguir regras, caso contrário, as desobedeceria quando não se visse satisfeito imediatamente. O fato de os homens não controlarem seus impulsos (estado de natureza), faz com que o temor, a coerção e a punição sejam ferramentas exclusivas do Estado. Ou seja, uma vez instituído, o Estado não pode ser contestado. Ser absoluto é estar livre de qualquer constrangimento. Portanto, para Hobbes a condição de súdito, mesmo que seja muito miserável em determinados momentos ou em determinados Estados, é preferível ao estado de guerra o qual a ausência de um soberano proporciona. Ainda que o soberano seja dotado da mesma natureza humana de seus súditos, podendo conduzir todos os homens a agirem em nome de seu próprio bem, a vida na guerra é “solitária, miserável, sórdida e curta” (HOBBES, T. Leviatã, Livro I, cap. XIII.). Por isso, a fim de manter a paz é preciso aceitar alguns inconvenientes e fazer alguns sacrifícios, visto que são menos nocivos do que a guerra. Veja como esse conteúdo pode aparecer na Prova 3- (Enem PPL 2016) A importância do argumento de Hobbes está em parte no fato de que ele se ampara em suposições bastante plausíveis sobre as condições normais da vida humana. Para exemplificar: o argumento não supõe que todos sejam de fato movidos por orgulho e vaidade para buscar o domínio sobre os outros; essa seria uma suposição discutível que possibilitaria a conclusão pretendida por Hobbes, mas de modo fácil demais. O que torna o argumento assustador e lhe atribui importância e força dramática é que ele acredita que pessoas normais, até mesmo as mais agradáveis, podem ser inadvertidamente lançadas nesse tipo de situação, que resvalará, então, em um estado de guerra. RAWLS.J. Conferências sobre a história da filosofia política São Paulo: WMF, 2012 (adaptado) O texto apresenta uma concepção de filosofia política conhecida como a) alienação ideológica. b) microfísica do poder. c) estado de natureza. d) contrato social. e) vontade geral. Comentários: A questão aborda o contexto em que ocorre o contrato social do ponto de vista de Hobbes. A alternativa D dá a resposta correta. O Contrato social para Hobbes surge para colocar fim ao estado de guerra de todos contra todos, visto que o homem no estado de natureza é mau. a) A alternativa A está incorreta. Alienação ideológica é não ter senso crítico e ser manipulado sem o consentimento, o que não ocorre no Contrato Social para Hobbes. b) A alternativa B está incorreta. Microfísica do poder é um conceito de Foucault. c) A alternativa C está incorreta. O estado de natureza termina a partir do Contrato Social, visto que era um estado de guerra. d) A alternativa D está correta. e) A alternativa E está incorreta. Vontade geral é um conceito de Rousseau. Gabarito “d” John Locke (1632 – 1704) Locke foi um filósofo inglês que se destacou nos campos da epistemologia e da política, sendo considerado o fundador do empirismo moderno e o primeiro grande teórico do liberalismo. Vindo de uma família protestante composta por comerciantes, sua filosofia política foi descrita na obra Dois tratados sobre o governo, publicado em 1690, filosofia essa que nos interessa na presente aula. Estado de natureza e contrato social Como pensador político, é prestigiado como pai do liberalismo, porque sustentou que todo governo surge de um pacto ou contrato social firmado entre indivíduos, sendo esses mesmos capazes de revogar tal governo, o que o torna bem diferente de Hobbes. Para Locke o governo tem como propósito proteger a vida, a liberdade e a propriedade das pessoas, caso isso não ocorra é direito do povo retirar sua confiança no governante. John Locke, assim como Hobbes, revela a importância do contrato social para constituir uma sociedade civil, porém, ele não descreve o estado de natureza como um ambiente de guerra e egoísmo, o que o difere de Hobbes, visto que o homem é dotado de razão. A liberdade é o elemento central da vida do homem no estado de natureza, por isso ele se via livre para desfrutar do meio conforme sua vontade e necessidade. Mas a vida no estado de natureza estava regulada pela lei da natureza, que é conhecida por todos, por meio da razão, portanto os seres racionais têm consciência de preservar a vida e a liberdade não só a sua, mas a dos outros seres. O problema é que nem todos os indivíduos respeitam a lei da natureza, e tentam transgredi-la, mas ainda assim, para o filósofo, os transgressores têm consciência de que não estão agindo de acordo com sua razão. As paixões e a parcialidade dos homens podem fazer com que as transgressões ocorrame para Locke cabe a quem sofreu a transgressão ou a quem a presenciou castigar o infrator. Por não haver juízes ou quem resolva os conflitos, pode haver um estado de guerra. Quando a natureza já não for mais abundante, quando a lei da natureza for aplicada de forma desproporcional, quando o estado de natureza desestabilizar as relações entre os indivíduos passa a ser regida pelo contrato social. Surge então, a sociedade civil, o Estado. “(...) é a grande razão pela qual os homens se unem em sociedade e abandonam o estado de natureza. Ali onde existe autoridade, um poder sobre a Terra, do qual se possa obter amparo por meio do apelo, a continuação do estado de guerra se vê excluída e a controvérsia decidida por esse poder. ( LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. 1998) Portanto, é necessária a interferência de um poder superior sobre os homens, que seja exercido de forma racional e que proteja a sociedade dos indivíduos que não respeitam a lei da natureza, ou seja, o Estado deve garantir a propriedade privada. A propriedade privada A propriedade, segundo o pensador, faz parte da lei natural e ele entende por propriedade privada o seu próprio corpo e sua força de trabalho, ou seja, tudo o que se consegue extrair da natureza com uso da força de trabalho torna-se sua propriedade privada. Então a liberdade, a vida e os bens são propriedades para Locke. Caso o indivíduo não possua bens, ainda assim ele é proprietário de seu corpo, se sua vida e de seu trabalho. É fundamental perceber que a propriedade privada é um direito inalienável, posto que antes da vida civil ela já existia. As pessoas já possuíam uma parte de terra que era pertencente a todos. Cada um se apropriou-se dessa terra na medida em que a ocupavam de acordo com sua capacidade de trabalho. Por isso, o Estado surge para garantir a propriedade que já existia no estado de natureza e não para criar uma situação oposta a esse estado. O poder do Estado Locke, diferente de Hobbes, não fala de um soberano absoluto, mas teoriza sobre a divisão dos poderes. O governo deve ser limitado e sua função é proteger a comunidade sem interferir na liberdade dos cidadãos. O poder é uma consequência do estado de natureza e não uma criação da sociedade civil e o maior poder é o legislativo, que formula as leis. As leis naturais estão na essência da vida humana, para esse pensador, são atingidas pela razão. Já as leis positivas são criadas pelos homens de acordo com a organização de cada sociedade. Pensando no poder do Estado e na importância dele não se concentrar nas mãos de um soberano absoluto, o filósofo propõe, antes mesmo de Montesquieu, a divisão desse poder em três: o legislativo, o executivo e o federativo. O poder legislativo é o que permite a mais absoluta manifestação do cidadão se autorreger, já que a lei positiva deriva da lei natural. O poder executivo tem o papel de executar as leis feitas pelo legislativo, senão fosse assim poderia haver conflito de interesses, portanto, o executivo deve estar subordinado ao legislativo e a ele prestar contas. E por fim o poder federativo, que juntamente com o poder executivo, tem a missão de estabelecer relações com outros Estados, uma espécie de ministério das relações exteriores. Veja como esse conteúdo pode aparecer na Prova 4- (Enem PPl 2014) Sendo os homens, por natureza, todos livres, iguais e independentes, ninguém pode ser expulso de sua propriedade e submetido ao poder político de outrem sem dar consentimento. A maneira única em virtude da qual uma pessoa qualquer renuncia à liberdade natural e se reveste dos laços da sociedade civil consiste em concordar com outras pessoas em juntar-se e unir-se em comunidade para viverem com segurança, conforto e paz umas com as outras, gozando garantidamente das propriedades que tiverem e desfrutando de maior proteção contra quem quer que não faça parte dela. O trecho anterior, do teórico John Locke, reflete a visão do autor sobre a liberdade individual e o papel do Estado em relação aos cidadãos. Assim, para Locke, todo homem nasce livre, e essa liberdade só pode ser limitada a) para a manutenção dos interesses dos burgueses, que, por serem mais ricos, deveriam determinar os limites da liberdade de cada cidadão. b) para a manutenção dos interesses das classes sociais mais ricas e do Estado absolutista. c) com a intenção de reforçar os laços entre homem e seu Deus, representado pela Igreja Católica. d) a partir do consentimento do cidadão, no intuito de garantir a vida em sociedade. e) a partir do interesse do rei e da Igreja Católica, que devem deter todo o poder político. Comentários: Ao se deparar com uma questão de Locke, atente-se se está falando da teoria política do mesmo ou não. Locke foi um filósofo bem plural, perambulou por algumas linhas de pensamento. A questão acima dispõe sobre o Contrato Social, no qual, segundo o pensador, o homem que era livre no estado de natureza, abre mão de suas liberdades individuais e subordina seus desejos ao desejo do Estado, no qual ele confia a garantia de sua liberdade, dentro do possível na vida social, e a propriedade privada de seus cidadãos. A alternativa correta para essa questão está na assertiva D. a) A alternativa A está incorreta. Locke se aproximou do pensamento burguês que iria florescer na revolução francesa, mas veja, a liberdade não pode ser limitada pelo interesse de um grupo social, mas sim pelo contrato social. b) A alternativa B está incorreta. No Estado Absolutista a classe social mais privilegiada era a nobreza, contudo a burguesia, com fulcro de ter regras mais sólidas para a atividade de comercio, apoiou a construção deste tipo de Estado, o qual foi questionado na revolução Francesa. Assim, Locke não condiciona a liberdade à manutenção das classes sociais mais abastadas. c) A alternativa C está incorreta. Locke era liberal e defendia a separação da igreja e do Estado. d) A alternativa D está correta. Aqui está descrito o pacto social, segundo Locke. e) A alternativa E está incorreta. A ideia de Locke separa Estado e igreja. Gabarito “d” Jean-Jacques Rousseau (1712 -1778) Rousseau viveu na França do século XVIII. Aos 16 anos saiu de casa e foi viver sozinho, o que o levou a experiências difíceis como, por exemplo, a fome. Talvez daí ele se inspire para desenvolver sua filosofia contra o absolutismo real e baseou sua teoria no pacto social que legitima o governo, por meio da vontade geral. O Contrato Social Rousseau foi um dos principais filósofos do Iluminismo, valorizava a vida natural e defendeu a teoria do “bom selvagem”, ele via o estado de natureza com otimismo, no qual os indivíduos viviam sadios cuidando da própria sobrevivência. Ao contrário de Hobbes, que também era contratualista, esse pensador não acreditava em um estado de guerra e insegurança, mas acreditava que no estado de natureza a liberdade e a igualdade eram inerentes ao homem, portanto, tê-las como anterior ao estado civil é fundamental. “Essa liberdade comum é uma consequência da natureza do homem. Sua primeira lei consiste em zelar pela própria conservação, seus primeiros cuidados são aqueles que se deve a si mesmo, e, assim que alcança a idade da razão, sendo o único juiz dos meios adequados para conservar-se, tornar-se, por isso, senhor de si (...)” ( Rousseau, Jean-Jacques. Contrato Social. 1997) O filósofo dizia que o homem original, primitivo, era livre, solitário e feliz, orientava-se pelo instinto da autopreservação. Buscava satisfazer somente seus prazeres elementares como beber, dormir, comer, procriar e fugir da dor, então os parâmetros culturais de certo e errado não pertenciam a esse homem, por isso ele era livre. Ele também acreditava que o homem no estado de natureza era dotado dos sentimentos de piedade e perfeição, que faz com que, além de evitar conflito ele buscasempre se aperfeiçoar, o que o diferencia dos outros seres. É nessa busca pela perfeição que o homem se agrupa com outros homens a fim de realizar tarefas muito grandiosas. Assim, as pessoas concluíram que a vida em conjunto parecia menos difícil. Com isso surgem as primeiras comunidades, as primeiras famílias, o amor, a linguagem, a arte, a cultura, etc. Enquanto as diferenças eram pequenas tudo fluía bem, mas depois que essas diferenças passaram a crescer muito, tornando-se uns mais fortes, mais hábeis que outros, os sentimentos de inveja, ciúmes, vaidade, cobiça, etc., surgem. “O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: ‘Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém!’” (Rousseau, Jean-Jacques. Contrato Social, 1997) O ponto alto da maldade que se instaura entre os homens surge quando surge a propriedade privada. O indivíduo que se destaca por conta do progresso da ciência e tecnologia, como agricultores, por exemplo, torna-se proprietário. Com isso, a vida nas comunidades ganha outro significado, nasce a propriedade privada e com ela a divisão entre ricos e pobres. Nesse período desencadeia um estado de guerra de todos contra todos. O fato de os proprietários serem em menor quantidade do que os despossuídos faz com que os mesmos usem o poder para manipular, posto que os homens que só tinham sua existência miserável a perder, eram fáceis de enganar, assim eles lançaram a proposta do Contrato Social, prometeram aos pobres a garantia de paz, segurança e justiça. Homens rudes e ignorantes que eram, acreditaram nas intenções. “Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes.” (Rousseau, Jean-Jacques. Contrato Social, 1997) Se vendo diante da impossibilidade de regressar ao estado de natureza, Rousseau afirmava que o Contrato Social deveria então, garantir que a liberdade aconteça. Para isso, o contrato deve ser justo e assim o será se for regido pela vontade geral, que ele dizia ser amante do bem comum. A vontade geral A vontade geral é o que legitima e garante o contrato social, porque ela é contrária aos interesses particulares, com ela, o ser humano só pode pensar em si pensando também no todo. Nada se sobrepõe a lei, que é a manifestação e a garantia de igualdade entre todos. O indivíduo que parece abrir mão de sua liberdade individual em nome do pacto, na verdade está escolhendo a si mesmo, pois se vê como integrante ativo do todo social, por isso, obedecer à lei é obedecer a si mesmo, e nesse momento ele se vê livre. Portanto, com o contrato proposto por Rousseau, o povo não perde a soberania. O que torna essa teoria inovadora, já que nas outras teorias o governo era soberano e aqui o povo é soberano, o governo somente executa as leis e caso não o faça com maestria a povo pode destituir o governante, posto que o elege, portanto também tem o poder de destituí-lo. Para que a organização da sociedade se dê de forma justa, é preciso que os indivíduos se unam com a consciência de fazer parte de um todo, em que a racionalidade de cada um se dirija a um bem comum, ou seja, à vontade geral. Perceber que faz parte de um todo com interesse comum e que é o desenvolvimento da vida em sociedade, segundo os princípios de igualdade e liberdade, que devem prevalecer, faz com que todas as decisões tomadas na sociedade beneficiem a todos os cidadãos, legitimando assim sua soberania. Na visão de Rousseau, o cidadão é uma pessoa pública, no sentido que ela também pertence ao espaço público, participando de um corpo coletivo movido por interesses comuns, expressos pela vontade geral. Veja como esse conteúdo pode aparecer na Prova 5- (Enem PPL 2012) “O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona consigo mesmo ou com seu semelhante. O homem civil é apenas uma unidade fracionária que se liga ao denominador, e cujo valor está em sua relação com o todo, que é o corpo social. As boas instituições sociais são as que melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular não se julgue mais como tal, e sim como uma parte da unidade, e só seja percebido no todo”. (ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999). A visão de Rousseau em relação à natureza humana, conforme expressa o texto, diz que: a) O homem civil é formado a partir do desvio de sua própria natureza. b) O homem é forçado a sair da natureza para se tornar absoluto. c) As instituições sociais formam o homem de acordo com a sua essência natural. d) As instituições sociais expressam a natureza humana, pois o homem é um ser político. e) O homem civil é um todo no corpo social, pois as instituições sociais dependem dele. Comentários: Para responder essa questão é preciso saber que Rousseau acreditava que o homem no estado de natureza era bom e a sociedade que o corrompe. Portanto, já nos primeiros agrupamentos humanos surge a competição, e isso tira a bondade natural do indivíduo, ou seja, desvia ele de sua própria natureza. A afirmação contida alternativa “A” responde o que pede a questão. a) A alternativa A está correta. A partir dos comentários acima fica evidente que esta é a alternativa correta. b) A alternativa B está incorreta. O homem no estado de natureza era absoluto. c) A alternativa C está incorreta. As instituições sociais tiram do homem a sua natureza livre. d) A alternativa D está incorreta. O homem, no estado de natureza, não é um ser político para Rousseau, ele torna-se um em sociedade. e) A alternativa E está incorreta. Na sociedade o homem não é um todo porque ele se corrompe. Gabarito “a” Denis Diderot (1713 - 1784) e Jean le Rond d’Alembert (1717 -1783) Filósofo francês, nascido em Langres foi um iluminista, enciclopedista e um dos idealizadores da revolução francesa. Estudou filosofia, artes, literatura e matemática em Paris. Em 1745 Diderot traduziu uma enciclopédia inglesa, a Cyclopaedia, de Chambers. Depois disso passou a trabalhar com d’Alembert e com ele elaborou e organizou a Encyclopédie (1751-1772). Nela eles reuniram o conhecimento científico e filosófico que havia sido produzido até então. D'Alembert nasceu em 1717 em Paris. Formou-se em direito e depois estudou medicina. Descobriu sua verdadeira paixão, a matemática, por volta dos 22 anos. Renunciou então, ao direito e à medicina, voltando sua atenção à matemática e encontrou em Diderot um parceiro para o grande feito. A Encyclopédie foi um importante veículo de informação e de ideias para lutar contra a igreja e o absolutismo. Diderot e d’Alembert propuseram a separação entre a Igreja e o Estado, além de combaterem as superstições e o pensamento religioso. A filosofia foi popularizada com a Enciclopédia. Os pensadores viam a filosofia vinculada ao esclarecimento. O intuito dos enciclopedistas era esclarecer a população e para isso a filosofia deveria se tornar popular. A emancipação do homem se dá pela sua inteligência, basta ter vontade e se beneficiar das luzes da razão. Os filósofos teriam o papel de levar as luzes da razão à população por meio de uma linguagem mais simples e agradável. A democratização do conhecimento exposta em tal obra, que foi um projeto coletivoe humanista, foi também uma iniciativa militante. Seus mais importantes colaboradores foram Montesquieu, Voltaire (literatura), Étienne Condillac e o Marquês de Condorcet (filosofia), Jean-Jacques Rousseau (música), Georges Louis Leclerc, conde de Buffon (ciências naturais), François Quesnay e Anne-Robert-Jacques Turgot, barão de l'Aulne (economia), Holbach (química), Diderot (história da filosofia) e D’Alembert (matemática). A Enciclopédia, também chamada de Dicionário raciocinado das ciências, das artes e dos ofícios por uma sociedade de letrados, deixa evidente que ela tinha um viés ideológico e político, visto que uma sociedade de letrados tem homens e mulheres alfabetizados, autônomos e com senso crítico. Portanto, o homem de razão deve saber julgar e distinguir as ideias com clareza. Montesquieu (1689-1755) Montesquieu, filho de Jacques de Secondat e Marie-Françoise de Pesnel, nasceu no castelo de La Brede. Membro da elite francesa formou-se em Direito. Em 1714, torna-se conselheiro do Parlamento de Bordeaux e um ano depois casou-se com Joana de Lartigue, protestante de rica família da nobreza, que lhe rendeu muito dinheiro devido a um generoso dote. Com a morte de seu tio, em 1716, Montesquieu herda uma fortuna. Logo depois, ao tornar-se presidente do Parlamento de Bordeaux, ganha o título de Barão de Montesquieu. Sua principal obra O Espírito das Leis foi publicada anonimamente em 1748, esta obra foi um enorme sucesso. Ela estabelece os princípios básicos da economia e das ciências sociais e concentra toda a substância do pensamento liberal. O livro foi aplaudido principalmente na Grã-Bretanha. Apesar de ser incluída na lista de livros proibidos da Inquisição, a obra exerceu enorme influência sobre o mundo ocidental. A Filosofia Política A filosofia desse pensador está enquadrada no espírito crítico do Iluminismo Francês, com o qual ele compartilha os princípios da tolerância religiosa, a liberdade e denuncia as diversas práticas desumanas como a tortura e a escravidão. Montesquieu defende que existem dois tipos de leis, as naturais e as positivas. As leis naturais, feitas por Deus, regem a natureza, são perfeitas e indiscutíveis. Já as leis instituídas pelo homem, chamadas “leis positivas”, seriam apenas uma modalidade da Lei. Ao contrário das leis naturais, as leis positivas são feitas por homens imperfeitos, sujeitos à ignorância e ao erro. Contudo, assim como as leis de Deus, as leis dos homens deveriam buscar expressar as necessidades dos povos, relacionando-se às formas de governo, clima e condições geográficas, conclui o filósofo. O Espírito das Leis Obras publicada em 1748, como já mencionado, trata-se de uma teoria política, no qual o pensador político sugere a tripartição do poder. Montesquieu formulou nesse ensaio, os princípios básicos para que governos tirânicos fossem evitados. Para isso, defendeu a separação da máquina política em três poderes: ▪ O Poder Executivo: tem a função de observar as demandas da esfera pública e garantir que as necessidades da coletividade sejam atendidas no interior daquilo que é determinado pela lei. ▪O Poder Legislativo: tem como função de reunir os representantes políticos que estabelecem a criação de novas leis. Assim, aos serem eleitos pelos cidadãos, eles passam a atuar de acordo com os interesses da população como um todo. ▪ O Poder Judiciário: têm por função julgar, com base nos princípios legais, de que forma uma questão ou problema sejam resolvidos. Na figura dos juízes, promotores e advogados, o judiciário garante que as questões concretas do cotidiano sejam resolvidas à luz da lei. A proposta de Montesquieu diz que cada um destes poderes deveria se equilibrar entre a autonomia e a intervenção nos demais poderes. Com isso, não haveria abuso de poder. Ao mesmo tempo, quando um deles se mostrava excessivamente autoritário ou extrapole suas designações, os outros poderes teriam podem intervir contra tal situação desarmônica. Sua teoria teve grande impacto no iluminismo europeu e serviu de molde para a organização do sistema político das nações modernas. As leis e a democracia As leis não como fruto do arbítrio de quem as escreve, elas são fruto da decorrência da realidade social e histórica de um povo, mantendo relações íntimas com essa realidade, possuindo, assim, um sentido, um “espírito”. Para Montesquieu, “quando, numa república, o povo como um todo possui o poder soberano, trata-se de uma democracia” (MONTESQUIEU, 1985, p. 31). A partir desse pensamento, percebe-se que para haver uma sociedade democrática, a população deve exercer o poder sobre o Estado. O poder deve ser exercido diretamente pelo povo ou por pessoas que o representa, desde que sejam escolhidos, ou eleitos pelos cidadãos. São as leis que garantem o direito ao voto, elas são fundamentais no governo democrático. Porém, o que notamos é esse direito sendo muitas vezes violado pelos políticos quando, de alguma maneira, tentam persuadir o povo a escolher, de maneira inadequada, seus representantes. Com isso, os cidadãos acabam sendo corrompidos por vantagens que custam sua própria liberdade política. Montesquieu foi um advogado, político e filósofo que à frente de seu tempo, lutou por liberdades e para o fim do monopólio da Igreja. Sua sugestão sobre a divisão do governo não foi inédita, Locke havia proposto algo parecido, mas sua filosofia foi mais ousada e seu sistema de governo é utilizado até hoje na maioria das repúblicas. Alinhado com as leis, que devem servir à organização social, a democracia e a harmonia no Estado deveriam prevalecer. Montesquieu também contribuiu para a concepção da célebre Encyclopédie (Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers), juntamente com Denis Diderot (1713-1784) e Jean le Rond D'Alembert (1717-1783). Veja como esse conteúdo pode aparecer na Prova 6- (Gabriela C. Garcia) “Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo de principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos”. MONTESQUIEU. Do espírito das leis. Coleção ‘Os Pensadores’. São Paulo: Abril Cultural, 1985:149 Montesquieu afirma que para haver um Estado que garanta liberdade a seu povo é preciso ocorrer a divisão dos poderes. Sobre essa divisão é correto afirmar que a) a concentração dos poderes evita conflito no governo e beneficia a população. b) a divisão dos poderes é positiva, desde que o soberano esteja acima das leis. c) cada poder: executivo, legislativo e judiciário devem sempre se reportar ao poder moderador antes. d) a decisão de não deixar em uma única mão as tarefas de legislar, administrar e julgar, evita a concentração de poder, que tende a gerar o abuso. e) a tripartição dos poderes em legislativo, executivo e federativo estabelecer uma harmonia entre os poderes e não abuso. Comentários: A questão aborda a tripartição de poder sugerida por Montesquieu, que em sua obra Espírito das Leis, propõe a “distribuição de poderes separados” (a separação dos poderes) como freio ao abuso do Poder, a partir do princípio de que somente o Poder limita o Poder. Nesta corrente cada órgão ou poder é independente a ponto de não interferir nas atribuições dos demais, porém dotado de suficiente autoridade para impedir abusos de poder (ex.: o judiciário verifica o cumprimento das leis pelo legislativo e o executivo) ou executar medidas determinadas pelos outros poderes (ex.: o executivo aplica as leis aprovadas pelo legislativo). Esse mútuo controle de atribuições, que tem como função impedir que um poder sobreponha-se aos outros, é conhecido como sistema de balanços e checagens (checks and balances). a) A alternativa A está incorreta. A divisão de poder é quebeneficia a população. b) A alternativa B está incorreta. O soberano também está sob a égide da lei. c) A alternativa C está incorreta. Os poderes devem ser independentes entre si e em relação a qualquer outro poder. d) A alternativa D está correta. A tripartição do poder evita o abuso, segundo Montesquieu. e) A alternativa E está incorreta. O poder federativo é sugerido por Locke. Gabarito “d” Voltaire (1694 - 1778) Nascido em Paris, Voltaire foi um jovem burguês e reformista moderado. Escreveu as obras Tratado sobre a Tolerância; Cândido ou O Otimismo; A Princesa da Babilônia; Cartas Filosóficas, além de ter contribuído com verbetes para a Enciclopédia, organizada por Diderot e d’Alember. Conhecido por sua perspicácia e espirituosidade em defesa das liberdades civis, religiosa e de comércio, foi uma dentre muitas figuras do Iluminismo cujas obras e ideias influenciaram pensadores importantes tanto da Revolução Francesa quanto da Americana. O pensador defendia o direito de cada indivíduo possuir e praticar sua religião sem ser perseguido. O direito de cada indivíduo de tomar essa ou aquela posição política de acordo com sua consciência e não ser reprimido por isso. Para o francês, o uso pleno da razão está relacionado à prática da liberdade. A Tolerância Um dos verbetes, escrito por Voltaire na Enciclopédia, foi sobre a tolerância. O filósofo estuda as atuações de soberanos intolerantes ao longo da história europeia e assim nota uma relação entre os conflitos civis e tal atuação. Quando a intolerância religiosa ganha espaço na política, ela torna-se um meio de poder, por isso, sujeito a disputas que comprometem as relações pacíficas. Muitas vezes as consequências dos conflitos religiosos são as guerras civis. A pluralidade religiosa seria, portanto, segundo Voltaire, a alternativa para o fim do despotismo e do caos que vem com o fanatismo. A convivência com múltiplas crenças e opiniões é benéfica, a tolerância prevalece. Voltaire foi um pensador que se opôs à intolerância religiosa e à intolerância de opinião existentes na Europa no período em que viveu. Suas ideias reformistas acabaram por fazer com que fosse exilado de seu país de origem, a França. O conjunto de ideias de Voltaire constitui uma tendência de pensamento conhecida como Liberalismo. A frase abaixo, apesar de muitos atribuírem ao pensador, ela não tem sua autoria comprovada, mas ainda assim representa bem suas ideias. " Posso não concordar com nenhuma palavra do que você disse, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo ". Immanuel Kant (1724-1804) Immanuel Kant nasceu em Königsberg, na Prússia Oriental (hoje incorporada à Rússia). Filho de um artesão era o quarto de nove filhos. Dos pais luteranos recebeu uma severa educação religiosa. Aos 16 anos ingressou na Universidade de Königsberg, como estudante de Teologia e nunca mais parou de estudar. Lecionou Filosofia Moral, Lógica e Metafísica. Considerado por muitos como o último grande filósofo dos princípios da era moderna, foi indiscutivelmente um dos pensadores mais influentes. O período do Iluminismo buscava na razão a respostas para todos os questionamentos e Kant fez isso com maestria O que é Esclarecimento? Em 1783 o jornal germânico Berlinische Monatschrift perguntava: O que é o esclarecimento? Parece que muitas respostas foram enviadas. Mas somente Immanuel daria uma resposta satisfatória à tal questão em um breve ensaio, mas um ensaio de peso. Resposta à pergunta: O que é esclarecimento (Aufklãrung)?”, obra em formato de artigo, resume que esclarecimento seria “a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado”. (KANT, Immanuel. O que é o esclarecimento? .2010. p.63- 71). Enquanto a menoridade consiste na incapacidade do indivíduo de usar o seu entendimento sem ter auxílio de outrem, o esclarecimento é a saída do homem da menoridade pela qual é o próprio culpado. O homem é o próprio culpado por esta incapacidade, quando ela existe não falta de entendimento, mas da falta de coragem de fazer uso dele sem a direção de outro alguém. Ousa fazer uso de teu próprio entendimento - Sapere Aude! Eis o lema do Esclarecimento. Kant disserta sobre os benefícios da prática do uso livre da razão em busca do esclarecimento, o pensador deixa claro que a maioria das pessoas passa pela ‘menoridade’ e muitas nela permanece, por oportunismo, medo, preguiça e covardia, como diz o filósofo: “É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes de meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um método que por mim decide a respeito de minha dieta, etc., então não preciso esforçar-me eu mesmo. Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis.” (KANT, Immanuel. O que é o esclarecimento?.2010. p.64) A liberdade para Kant é resultado de esclarecimento e para isso é preciso fazer o uso público da razão, que para Kant seria: “Entendo contudo sob o nome de uso público de sua própria razão aquele que qualquer homem, enquanto sábio, faz dela diante do grande público do mundo letrado. Denomino uso privado aquele que o sábio pode fazer de sua razão em um certo cargo público ou função a ele confiado.”(KANT, Immanuel. O que é o esclarecimento?.2010. p.64) O uso público da razão beneficia toda a sociedade, já o uso privado é mais restrito, não atinge o bem comum. O filósofo afirmava que o questionamento com obediência não conduz ao esclarecimento, porém, ele via a obediência faz-se necessária para o convívio em sociedade, ou seja, ele reconhece que obedecer não é emancipador, mas ao mesmo tempo é necessário. Então, obedecer é necessário, desde que também se faça o uso público da razão, pois somente desta forma, o esclarecimento é alcançado. Kant faz a si mesmo o seguinte questionamento: “vivemos agora em uma época esclarecida?”. Em seguida, segue respondendo que: “Não, vivemos em uma época de esclarecimento (Aufklãrung). Falta ainda muito para que os homens, nas condições atuais, tomados em conjunto, estejam já numa situação, ou possam ser colocados nela, na qual em matéria religiosa sejam capazes de fazer uso seguro e bom de seu próprio entendimento sem serem dirigidos por outrem. Somente temos claros indícios de que agora lhes foi aberto o campo no qual podem lançar-se livremente a trabalhar e tornarem progressivamente menores os obstáculos ao esclarecimento (Aufklãrung) geral ou à saída deles, homens, de sua menoridade, da qual são culpados. Considerada sob este aspecto, esta época é a época do esclarecimento (...)”(KANT, Immanuel. O que é o esclarecimento?.2010. p.69) Ética Kantiana: Imperativo Categórico Immanuel Kant criou um modelo ético que tinha por base apenas a capacidade de julgar inerente ao ser humano. Para isso, elaborou um método em que o indivíduo pode utilizar como uma espécie de conduta moral: o Imperativo Categórico. O imperativo seria uma lei moral interna, baseada na razão humana e que não possui ligação com causas transcendentais ou relacionadas a uma autoridade do Estado ou religiosa. Na obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785), Kant estabelece um fundamento moral para o dever. Se a procura de Kant, no que se refere a sua filosofia prática, em geral é sobre o que é moral, o que é certo ou errado, sua filosofia acaba recaindo sobre o que é justo. O comando moral que faz com que nossas ações sejam moralmente boas, ou seja, justas, se expressa no imperativo categórico: “age só segundo máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal” (KANT. Metafísica dos Costumes, 2004, p. 51). Essa lei está atada à razão pura prática. Kant afirmava que todo sujeito é racional (tem raciocínio lógico), por isso tem condição de sujeito moral, cheio de normas, o imperativo categórico seria umaforma a priori, pura, independente do útil ou prejudicial. É uma escolha voluntária racional, por finalidade e não causalidade, ou seja, superam-se os interesses e impõe-se o ser moral, o dever. O dever é o princípio supremo de toda a moralidade. Dessa forma, uma ação é certa quando realizada por um sentimento de dever. A Ação por Dever Para Kant, a boa vontade orientada pela razão está de acordo com o dever e quer o bem. A razão compreende o que é o dever e o ser humano pode escolher agir em acordo com esse dever ou não. Entretanto, a ação moral será sempre a ação por dever. Sendo assim, a ação deve ser compreendida como um fim em si mesma, e nunca com base em suas consequências. É a ação pela ação e o dever pelo dever, nunca em vista de outro fim. Portanto, a ética de Kant apresenta-se fundamentada na ideia do dever. Com estas considerações sobre moral, associa-se à política, do ponto de vista kantiano, uma aproximação à concepção sobre o estado de direito. O Estado de direito é aquele que tem como função principal a instituição de um estado jurídico, no qual cada um possa coexistir com o outro regidos uma lei universal. Kant vai dizer que: "Um princípio da política moral é que um povo deve congregar-se num Estado segundo os con- ceitos exclusivos da liberdade e da igualdade, e este princípio não se funda na astúcia, mas no dever". Mentir é antiético Segundo a ética kantiana mentir não é justo. A mentira não pode ser tomada como uma lei, por isso não tem como ser boa. Veja bem, em um mundo onde todos mentissem não seria possível determinar a verdade. O sujeito que mente não respeita a humanidade em si mesmo, já que usa de um meio injusto para ter algum tipo de benefício, além de não respeitar a humanidade no outro. Negando-lhe o direito à verdade e utilizando-o como um instrumento, o sujeito mentirosos aproveita-se da boa-fé do outro, que acredita em algo falso e acaba por ser conduzido a agir de acordo com mentira, sem saber. Para Kant a mentira, seja qual for, jamais passaria pelo crivo do Imperativo Categórico. Veja como esse conteúdo pode aparecer na Prova 7- (Enem 2ª aplicação 2014) Numa época de revisão geral, em que valores são contestados, reavaliados, substituídos e muitas vezes recriados, a crítica tem papel preponderante. Essa, de fato, a uma das principais características das Luzes, que, recusando as verdades ditadas por autoridades, submetem tudo ao crivo da crítica. KANT, I. 0 julgamento da razão. In: ABRAO, B. S. (Org.) Histeria da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1999. O Iluminismo tece críticas aos valores estabelecidos sob a rubrica da autoridade e, nesse sentido, propõe a) a defesa do pensamento dos enciclopedistas que, com seus escritos, mantinham o ideário religioso. Os enciclopedistas não mantinham um ideário religioso. b) o estímulo da visão reducionista do humanismo, permeada pela defesa de isenção em questões políticas e sociais. c) a consolidação de uma visão moral e filosófica pautada em valores condizentes com a centralização política. d) a manutenção dos princípios da metafísica, dando vastas esperanças de emancipação para a humanidade. e) o incentivo do saber, eliminando superstições e avançando na dimensão da cidadania e da ciência. Comentários: Kant foi um importante filósofo, transitou por várias áreas do conhecimento e destaca-se como importante pensador iluminista. O iluminismo tem como característica criticar os valores da idade média, como intolerância religiosa, a falta da liberdade de expressão e poder absolutista. A questão pede que assinale a assertiva que evidencia o que Kant criticava e a alternativa E é a correta. As outras contradizem o pensamento desse filósofo. a) A alternativa A está incorreta. Os enciclopedistas não mantinham um ideário religioso. b) A alternativa B está incorreta. A visão era ampla e não reducionista, as questões políticas e sociais eram a pauta do iluminismo. c) A alternativa C está incorreta. A busca era pela descentralização da política. Isso era a o que a filosofia desse período propunha. d) A alternativa D está incorreta. Nesse período, a metafísica se voltou para a razão e não para fé, portanto não houve manutenção. e) A alternativa E está correta. Atende ao papel do Iluminismo, a valorização da razão era o foco. Gabarito “e” Questões 1. (ENEM - libras - 2017) Os filósofos concebem as emoções que se combatem entre si, em nós, como vícios em que os homens caem por erro próprio; é por isso que se habituaram a ridicularizá-los, deplorá-los, reprová-los ou, quando querem parecer mais morais, detestá-los. Concebem os homens, efetivamente, não tais como são, mas como eles próprios gostariam que fossem. ESPINOSA, B. Tratado político. São Paulo: Abril Cultural, 1973. No trecho, Espinosa critica a herança filosófica no que diz respeito à idealização de uma a) estrutura da interpretação fenomenológica. b) natureza do comportamento humano. c) dicotomia do conhecimento prático. d) manifestação do caráter religioso. e) reprodução do saber tradicional. 2. (Gabriela C. Garcia) A qualidade capaz de dominar a Fortuna é a virtú. Esta é a capacidade de agir em face da Fortuna, aproveitar uma circunstância favorável, resistir aos fatos e, se possível, antecipar-se a eles, conquistando honra e glória para si e segurança para o Estado. Em última instância, virtú é a capacidade de produzir história. Esta é a tarefa que cabe ao príncipe. Daí a importância de toda a instrução proposta por Maquiavel. Algo, no entanto, independe de tudo que ele possa aprender pelo exercício e pelo estudo de como agiram os príncipes virtuosos: é a sua disposição de agir com ímpeto quando necessário para dominar a Fortuna. Kritsch, Raquel. (2001). Maquiavel e a construção da política. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, (53), 181-190. https://doi.org/10.1590/S0102-64452001000200009 Para compreender a virtude e a fortuna em Maquiavel é necessário entender que a) o homem, munido de virtude, tem disposição inata a praticar o bem a si e aos outros. b) aquele que é possuidor de fortuna, vale-se de riquezas para alcançar êxito na política. https://doi.org/10.1590/S0102-64452001000200009 c) a fortuna consiste em acumular bens materiais e riquezas, guiado por interesses particulares. d) a fortuna pouco se relaciona com a virtú. e) a fortuna diz respeito aos acontecimentos imprevisíveis, que podem tanto servir ao governante quanto prejudicá-lo. 3. (Enem PPL 2016) A importância do argumento de Hobbes está em parte no fato de que ele se ampara em suposições bastante plausíveis sobre as condições normais da vida humana. Para exemplificar: o argumento não supõe que todos sejam de fato movidos por orgulho e vaidade para buscar o domínio sobre os outros; essa seria uma suposição discutível que possibilitaria a conclusão pretendida por Hobbes, mas de modo fácil demais. O que torna o argumento assustador e lhe atribui importância e força dramática é que ele acredita que pessoas normais, até mesmo as mais agradáveis, podem ser inadvertidamente lançadas nesse tipo de situação, que resvalará, então, em um estado de guerra. RAWLS.J. Conferências sobre a história da filosofia política São Paulo: WMF, 2012 (adaptado) O texto apresenta uma concepção de filosofia política conhecida como a) alienação ideológica. b) microfísica do poder. c) estado de natureza. d) contrato social. e) vontade geral. 4. (Enem PPl 2014) Sendo os homens, por natureza, todos livres, iguais e independentes, ninguém pode ser expulso de sua propriedade e submetido ao poder político de outrem sem dar consentimento. A maneira única em virtude da qual uma pessoa qualquer renuncia à liberdade natural e se reveste dos laços da sociedade civil consiste em concordar com outras pessoas em juntar-see unir-se em comunidade para viverem com segurança, conforto e paz umas com as outras, gozando garantidamente das propriedades que tiverem e desfrutando de maior proteção contra quem quer que não faça parte dela. O trecho anterior, do teórico John locke, reflete a visão do autor sobre a liberdade individual e o papel do Estado em relação aos cidadãos. Assim, para Locke, todo homem nasce livre, e essa liberdade só pode ser limitada a) para a manutenção dos interesses dos burgueses, que, por serem mais ricos, deveriam determinar os limites da liberdade de cada cidadão. b) para a manutenção dos interesses das classes sociais mais ricas e do Estado absolutista. c) com a intenção de reforçar os laços entre homem e seu Deus, representado pela Igreja Católica. d) a partir do consentimento do cidadão, no intuito de garantir a vida em sociedade. e) a partir do interesse do rei e da Igreja Católica, que devem deter todo o poder político. 5. (Enem PPL 2012) “O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona consigo mesmo ou com seu semelhante. O homem civil é apenas uma unidade fracionária que se liga ao denominador, e cujo valor está em sua relação com o todo, que é o corpo social. As boas instituições sociais são as que melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular não se julgue mais como tal, e sim como uma parte da unidade, e só seja percebido no todo”. (ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999). A visão de Rousseau em relação à natureza humana, conforme expressa o texto, diz que: a) O homem civil é formado a partir do desvio de sua própria natureza. b) O homem é forçado a sair da natureza para se tornar absoluto. c) As instituições sociais formam o homem de acordo com a sua essência natural. d) As instituições sociais expressam a natureza humana, pois o homem é um ser político. e) O homem civil é um todo no corpo social, pois as instituições sociais dependem dele. 6. (Gabriela C. Garcia) “Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo de principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos”. MONTESQUIEU. Do espírito das leis. Coleção ‘Os Pensadores’. São Paulo: Abril Cultural, 1985:149 Montesquieu afirma que para haver um Estado que garanta liberdade a seu povo é preciso ocorrer a divisão dos poderes. Sobre essa divisão é correto afirmar que a) a concentração dos poderes evita conflito no governo e beneficia a população. b) a divisão dos poderes é positiva, desde que o soberano esteja acima das leis. c) cada poder: executivo, legislativo e judiciário devem sempre se reportar ao poder moderador antes. d) a decisão de não deixar em uma única mão as tarefas de legislar, administrar e julgar, evita a concentração de poder, que tende a gerar o abuso. e) a tripartição dos poderes em legislativo, executivo e federativo estabelecer uma harmonia entre os poderes e não abuso. 7. (Enem 2ª aplicação 2014) Numa época de revisão geral, em que valores são contestados, reavaliados, substituídos e muitas vezes recriados, a crítica tem papel preponderante. Essa, de fato, a uma das principais características das Luzes, que, recusando as verdades ditadas por autoridades, submetem tudo ao crivo da crítica. KANT, I. 0 julgamento da razão. In: ABRAO, B. S. (Org.) Histeria da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1999. O Iluminismo tece críticas aos valores estabelecidos sob a rubrica da autoridade e, nesse sentido, propõe a) a defesa do pensamento dos enciclopedistas que, com seus escritos, mantinham o ideário religioso. Os enciclopedistas não mantinham um ideário religioso. b) o estímulo da visão reducionista do humanismo, permeada pela defesa de isenção em questões políticas e sociais. c) a consolidação de uma visão moral e filosófica pautada em valores condizentes com a centralização política. d) a manutenção dos princípios da metafísica, dando vastas esperanças de emancipação para a humanidade. e) o incentivo do saber, eliminando superstições e avançando na dimensão da cidadania e da ciência. 8. (ENEM 2015) A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que um deles possa com base nela reclamar algum benefício a que outro não possa igualmente aspirar. HOBBES, T. Leviatã. São Paulo Martins Fontes, 2003. Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando dois homens desejavam o mesmo objeto, eles a) entravam em conflito. b) recorriam aos clérigos. c) consultavam os anciãos. d) apelavam aos governantes. e) exerciam a solidariedade. 9. (ENEM 2018) TEXTO I Tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, é válido também para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força e invenção. HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1983 TEXTO II Não vamos concluir, com Hobbes que, por não ter nenhuma ideia de bondade, o homem seja naturalmente mau. Esse autor deveria dizer que, sendo o estado de natureza aquele em que o cuidado de nossa conservação é menos prejudicial à dos outros, esse estado era, por conseguinte, o mais próprio à paz e o mais conveniente ao gênero humano. ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a origem e o fundamento da desigualdade entre os homens. São Paulo: Martins Fontes, 1993 (adaptado). Os trechos apresentam divergências conceituais entre autores que sustentam um entendimento segundo o qual a igualdade entre os homens se dá em razão de uma a) predisposição ao conhecimento. b) submissão ao transcendente. c) tradição epistemológica. d) condição original. e) vocação política. 10. (ENEM 2019) TEXTO I Eu queria movimento e não um curso calmo da existência. Queria excitação e perigo e a oportunidade de sacrificar-me por meu amor. Sentia em mim uma superabundância de energia que não encontrava escoadouro em nossa vida. TOLSTÓI, L. Felicidade familiar. Apud KRAKAUER, J. Na natureza selvagem. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. TEXTO II Meu lema me obrigava, mais que a qualquer outro homem, a um enunciado mais exato da verdade; não sendo suficiente que eu lhe sacrificasse em tudo o meu interesse e as minhas simpatias, era preciso sacrificar-lhe também minha fraqueza e minha natureza tímida. Era preciso ter a coragem e a força de ser sempre verdadeiro em todas as ocasiões. ROUSSEAU, J.-J. Os devaneios do caminhante solitário. Porto Alegre: L&PM, 2009. Os textos de Tolstói e Rousseau retratam ideais da existência humana e defendem uma experiência a) lógico-racional, focada na objetividade, clareza e imparcialidade. b) místico-religiosa, ligada à sacralidade, elevação e espiritualidade. c) sociopolítica, constituída por integração, solidariedade e organização. d) naturalista-científica, marcada pela experimentação, análise e explicação. e) estético-romântica, caracterizada por sinceridade, vitalidade e impulsividade. 11. (Enem PPL 2016) A importância do argumento de Hobbes está em parte no fato de que ele se ampara em suposições bastante plausíveis sobre as condições normais da vida humana. Para exemplificar: o argumento não supõe que todos sejam de fato movidos por orgulho e vaidade para buscar o domíniosobre os outros; essa seria uma suposição discutível que possibilitaria a conclusão pretendida por Hobbes, mas de modo fácil demais. O que torna o argumento assustador e lhe atribui importância e força dramática é que ele acredita que pessoas normais, até mesmo as mais agradáveis, podem ser inadvertidamente lançadas nesse tipo de situação, que resvalará, então, em um estado de guerra. RAWLS.J. Conferências sobre a história da filosofia política São Paulo: WMF, 2012 (adaptado) O texto apresenta uma concepção de filosofia política conhecida como a) alienação ideológica. b) microfísica do poder. c) estado de natureza. d) contrato social. e) vontade geral. 12. (Enem PPL 2012) “O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona consigo mesmo ou com seu semelhante. O homem civil é apenas uma unidade fracionária que se liga ao denominador, e cujo valor está em sua relação com o todo, que é o corpo social. As boas instituições sociais são as que melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular não se julgue mais como tal, e sim como uma parte da unidade, e só seja percebido no todo”. (ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999). A visão de Rousseau em relação à natureza humana, conforme expressa o texto, diz que: a) O homem civil é formado a partir do desvio de sua própria natureza. b) O homem é forçado a sair da natureza para se tornar absoluto. c) As instituições sociais formam o homem de acordo com a sua essência natural. d) As instituições sociais expressam a natureza humana, pois o homem é um ser político. e) O homem civil é um todo no corpo social, pois as instituições sociais dependem dele. 13. (ENEM PPL 2013) Hobbes realiza o esforço supremo de atribuir ao contrato uma soberania absoluta e indivisível. Ensina que, por um único e mesmo ato, os homens naturais constituem-se em sociedade política e submetem- se a um senhor, a um soberano. Não firmam contrato com esse senhor, mas entre si. É entre si que renunciam, em proveito desse senhor, a todo o direito e toda liberdade nocivos à paz. CHEVALIER. As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias. Rio de Janeiro:Agir 1995 (adaptado) A proposta de organização da sociedade apresentada no texto está fundamentada na a) imposição das leis e na respeitabilidade ao soberano. b) abdicação dos interesses individuais e na legitimidade do governo. c) alteração dos direitos civis e na representatividade do monarca. d) cooperação dos súditos e na legalidade do poder democrático. e) mobilização do povo e na autoridade do parlamento. 14. (Enem 2ª aplicação 2016) Texto I Até aqui expus a natureza do homem (cujo orgulho e outras paixões o obrigaram a submeter-se ao governo), juntamente com o grande poder do seu governante, o qual comparei com o Leviatã, tirando essa comparação dos dois últimos versículos do capítulo 41 de Jó, onde Deus, após ter estabelecido o grande poder do Leviatã, lhe chamou Rei dos Soberbos. Não há nada na Terra, disse ele, que se lhe possa comparar. HOBBES, T. O Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Texto II Eu asseguro, tranquilamente, que o governo civil é a solução adequada para as inconveniências do estado de natureza, que devem certamente ser grandes quando os homens podem ser juízes em causa própria, pois é fácil imaginar que um homem tão injusto a ponto de lesar o irmão dificilmente será justo para condenar a si mesmo pela mesma ofensa. LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil. Petrópolis: Vozes, 1994. Thomas Hobbes e John Locke, importantes teóricos contratualistas, discutiram aspectos ligados à natureza humana e ao Estado. Thomas Hobbes, diferentemente de John Locke, entende o estado de natureza como um(a) a) condição de guerra de todos contra todos, miséria universal, insegurança e medo da morte violenta. b) organização pré-social e pré-política em que o homem nasce com os direitos naturais: vida, liberdade, igualdade e propriedade. c) capricho típico da menoridade, que deve ser eliminado pela exigência moral, para que o homem possa constituir o Estado civil. d) situação em que os homens nascem como detentores de livre-arbítrio, mas são feridos em sua livre decisão pelo pecado original. e) estado de felicidade, saúde e liberdade que é destruído pela civilização, que perturba as relações sociais e violenta a humanidade. 15. (Questão Inédita - Gabriela C. Garcia) Locke divide o poder do governo em três poderes, cada um dos quais origina um ramo de governo: o poder legislativo (que é o fundamental), o executivo (no qual é incluído o judiciário) e o federativo (que é o poder de declarar a guerra, concertar a paz e estabelecer alianças com outras comunidades). Enquanto o governo continuar sendo expressão da vontade livre dos membros da sociedade, a rebelião não é permitida: é injusta a rebelião contra um governo legal. Mas a rebelião é aceita por Locke em caso de dissolução da sociedade e quando o governo deixa de cumprir sua função e se transforma em uma tirania. LOCKE, John. In: MORA, J. F. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2001. V. III. p. 1770. A partir da leitura do excerto acima e com base no que você conhece sobre o filósofo iluminista Locke, é correto afirmar que a) o direito de rebelião é um direito natural e legítimo de todo cidadão sob a vigência da legalidade. b) o Estado deve cuidar do bem-estar material dos cidadãos e tomar partido em questões de matéria religiosa. c) na estrutura do poder, dentro de certos limites, o Estado pode fazer as leis, mas não de obrigar que sejam cumpridas. d) o poder judiciário é mais importante, já que ele cria as leis. e) o poder legislativo é o de maior importância. 16. (ENEM 2010) O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e leal. De fato, com uns poucos exemplos duros poderá ser mais clemente do que outros que, por muita piedade, permitem os distúrbios que levem ao assassínio e ao roubo. MAQUIAVEL, N. O Príncipe, São Paulo: Martin Claret, 2009. No século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe, reflexão sobre a Monarquia e a função do governante. A manutenção da ordem social, segundo esse autor, baseava-se na a) inércia do julgamento de crimes polêmicos. b) bondade em relação ao comportamento dos mercenários. c) compaixão quanto à condenação de transgressões religiosas. d) neutralidade diante da condenação dos servos. e) conveniência entre o poder tirânico e a moral do príncipe. 17. (Questão inédita – Professora Gabi Garcia) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais e políticas, Maquiavel define o homem como um ser a) munido de virtude, sem disposição nata a praticar o bem a si e aos outros. b) o possuidor de riquezas naturais, usa da fortuna para alcançar êxito na política. c) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas em sociedade. d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social, porém não portando seus direitos naturais. e) inclinado aagir por interesses próprios, os homens promovem ações imprevisíveis e inconstantes. 18. (ENEM 2012) Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito aceita em nossos dias, devido às grandes transformações ocorridas, e que ocorrem diariamente, as quais escapam à conjectura humana. Não obstante, para não ignorar inteiramente o nosso livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos permite o controle sobre a outra metade. MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado). Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demonstra o vínculo entre o seu pensamento político e o humanismo renascentista ao a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos definidores do seu tempo. b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos. c) afirmar a confiança na razão autônoma como fundamento da ação humana. d) romper com a tradição que valorizava o passado como fonte de aprendizagem. e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé e razão. 19. (ENEM 2013) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais e políticas. Maquiavel define o homem como um ser a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros. b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política. c) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes. d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando seus direitos naturais. e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares. 20. (ENEM 2019) Para Maquiavel, quando um homem decide dizer a verdade pondo em risco a própria integridade física, tal resolução diz respeito apenas a sua pessoa. Mas se esse mesmo homem é um chefe de Estado, os critérios pessoais não são mais adequados para decidir sobre ações cujas consequências se tornam tão amplas, já que o prejuízo não será apenas individual, mas coletivo. Nesse caso, conforme as circunstâncias e os fins a serem atingidos, pode-se decidir que o melhor para o bem comum seja mentir. ARANHA, M. L. Maquiavel: a lógica da força. São Paulo: Moderna, 2006 (adaptado). O texto aponta uma inovação na teoria política na época moderna expressa na distinção entre a) idealidade e efetividade da moral. b) nulidade e preservabilidade da liberdade. c) ilegalidade e legitimidade do governante. d) verificabilidade e possibilidade da verdade. e) objetividade e subjetividade do conhecimento. 21. (Enem PPL 2013) Mas, sendo minha intenção escrever algo de útil para quem por tal se interesse, pareceu–me mais conveniente ir em busca da verdade extraída dos fatos e não à imaginação dos mesmos, pois muitos conceberam repúblicas e principados jamais vistos ou conhecidos como tendo realmente existido. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Disponível em: www.culturabrasil.pro.br. Acesso em: 4 abr. 2013. A partir do texto, é possível perceber a crítica maquiaveliana à filosofia política de Platão, pois há nesta a a) elaboração de um ordenamento político com fundamento na bondade infinita de Deus. b) explicitação dos acontecimentos políticos do período clássico de forma imparcial. c) utilização da oratória política como meio de convencer os oponentes na ágora. d) investigação das constituições políticas de Atenas pelo método indutivo. e) idealização de um mundo político perfeito existente no mundo das ideias. 22. (ENEM 2013) Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma independente para a efetivação da liberdade, sendo que esta não existe se uma mesma pessoa ou grupo exercer os referidos poderes concomitantemente. MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo Abril Cultural, 1979 (adaptado). A divisão e a independência entre os poderes são condições necessárias para que possa haver liberdade em um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo político em que haja a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas. b) consagração do poder político pela autoridade religiosa. c) concentração do poder nas mãos de elites técnico-cientifícas. d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições do governo. e) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de um governante eleito. 23. (Enem 2012) É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer; mas a liberdade política não consiste nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o que é independência e o que é liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros também teriam tal poder. MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 (adaptado). A característica de democracia ressaltada por Montesquieu diz respeito a) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as decisões por si mesmo. b) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à conformidade às leis. c) à possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse caso, livre da submissão às leis. d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proibido, desde que ciente das consequências. e) ao direito do cidadão exercer sua vontade de acordo com seus valores pessoais. 24. UFF 2010 O escritor e filósofo francês Voltaire, que viveu no século XVIII, é considerado um dos grandes pensadores do Iluminismo ou Século das Luzes. Ele afirma o seguinte sobre a importância de manter acesa a chama da razão: “Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razão, ainda renascem algumas cabeças da hidra do fanatismo. Parece que seu veneno é menos mortífero e que suas goelas são menos devoradoras. Mas o monstro ainda subsiste e todo aquele que buscar a verdade arriscar-se-á a ser perseguido. Deve-se permanecer ocioso nas trevas? Ou deve-se acender um archote onde a inveja e a calúnia reacenderão suas tochas? No que me tange, acredito que a verdade não deve mais se esconder diante dos monstros e que não devemos abster-nos do alimento com medo de sermos envenenados”. Identifique a opção que melhor expressa esse pensamento de Voltaire. a) Aquele que se pauta pela razão e pela verdade não é um sábio, pois corre um risco desnecessário. b) A razão é impotente diante do fanatismo, pois esse sempre se impõe sobre os seres humanos. c) Aquele que se orienta pela razão e pela verdade deve munir-se da coragem para enfrentar o obscurantismo e o fanatismo. d) O fanatismo e o obscurantismo são coisas do passado e por isso a razão não precisa mais estar alerta. e) A razão envenena o espírito humano com o fanatismo. 25. (ENEM 2012) Esclarecimento éa saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida. KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado). Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a compreensão do contexto filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant, representa a) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade. b) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas. c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma heterônoma. d) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento. e) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão. 26. (ENEM 2013) Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém, todas as tentativas para descobrir, mediante conceitos, algo que ampliasse nosso conhecimento, malogravam-se com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento. KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 1994 (adaptado). O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido como revolução copernicana na filosofia. Nele, confrontam-se duas posições filosóficas que a) assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do conhecimento. b) defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente o ceticismo. c) revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência e a reflexão filosófica. d) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em relação aos objetos. e) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso conhecimento e são ambas recusadas por Kant. 27. (ENEM 2017) Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante para perguntar a si mesma: não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi- Io emprestado e prometo paga-Io, embora saiba que tal nunca sucederá. KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980. De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de pagamento” representada no texto a) assegura que a ação seja aceita por todos a partir da livre discussão participativa. b) garante que os efeitos das ações não destruam a possibilidade da vida futura na terra. c) opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer como norma universal. d) materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana podem justificar os meios. e) permite que a ação individual produza a mais ampla felicidade para as pessoas envolvidas. 28. (ENEM 2019) TEXTO I Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre crescentes: o céu estrelado sobre mim e a lei moral em mim. KANT, I. Crítica da razão prática. Lisboa: Edições 70, s/d (adaptado). TEXTO II Duas coisas admiro: a dura lei cobrindo-me e o estrelado céu dentro de mim. FONTELA, O. Kant (relido). In: Poesia completa. São Paulo: Hedra, 2015. A releitura realizada pela poeta inverte as seguintes ideias centrais do pensamento kantiano: a) Possibilidade da liberdade e obrigação da ação. b) A prioridade do juízo e importância da natureza. c) Necessidade da boa vontade e crítica da metafísica. d) Prescindibilidade do empírico e autoridade da razão. e) Interioridade da norma e fenomenalidade do mundo. 29. (Enem 2ª aplicação 2014) Numa época de revisão geral, em que valores são contestados, reavaliados, substituídos e muitas vezes recriados, a crítica tem papel preponderante. Essa, de fato, a uma das principais características das Luzes, que, recusando as verdades ditadas por autoridades, submetem tudo ao crivo da crítica. KANT, I. 0 julgamento da razão. In: ABRAO, B. S. (Org.) Histeria da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1999. O Iluminismo tece críticas aos valores estabelecidos sob a rubrica da autoridade e, nesse sentido, propõe a) a defesa do pensamento dos enciclopedistas que, com seus escritos, mantinham o ideário religioso. Os enciclopedistas não mantinham um ideário religioso. b) o estímulo da visão reducionista do humanismo, permeada pela defesa de isenção em questões políticas e sociais. c) a consolidação de uma visão moral e filosófica pautada em valores condizentes com a centralização política. d) a manutenção dos princípios da metafísica, dando vastas esperanças de emancipação para a humanidade. e) o incentivo do saber, eliminando superstições e avançando na dimensão da cidadania e da ciência. 30. (ENEM 2016.3) Os ricos adquiriram uma obrigação relativamente à coisa pública, uma vez que devem sua existência ao ato de submissão à sua proteção e zelo, o que necessitam para viver; o Estado então fundamenta o seu direito de contribuição do que é deles nessa obrigação, visando a manutenção de seus concidadãos. Isso pode ser realizado pela imposição de um imposto sobre a propriedade ou a atividade comercial dos cidadãos, ou pelo estabelecimento de fundos e de uso dos juros obtidos a partir deles, não para suprir as necessidades do Estado (uma vez que este é rico), mas para suprir as necessidades do povo. (KANT, I, A metafísica dos costumes. Edipro, 2003) Segundo esse texto de Kant, o Estado: A) deve sustentar todas as pessoas que vivem sob seu poder, a fim de que a distribuição seja partidária. B) está autorizado a cobrar impostos dos cidadãos ricos para suprir as necessidades dos cidadãos pobres. C) dispõe de poucos recursos e, por esse motivo, é obrigado a cobrar impostos idênticos dos seus membros. D) delega aos cidadãos o dever de suprir as necessidades do Estado, por causa do seu elevado custo de manutenção. E) tem a incumbência de proteger os ricos das imposições pecuniárias dos pobres, pois os ricos pagam mais impostos. Gabarito 1-B 6-D 11-D 16-E 21-E 26-A 2-E 7-E 12-A 17-E 22-D 27-C 3-D 8-A 13-B 18-C 23-B 28-E 4-D 9-D 14-A 19-C 24-C 29-E 5-A 10-E 15-E 20-A 25-A 30-B Questões comentadas OBS: As sete primeiras questões estão comentadas ao longo da teoria. Contratualistas 8. (ENEM 2015) A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que um deles possa com base nela reclamar algum benefício a que outro não possa igualmente aspirar. HOBBES, T. Leviatã. São Paulo Martins Fontes, 2003. Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando dois homens desejavam o mesmo objeto, eles a) entravam emconflito. b) recorriam aos clérigos. c) consultavam os anciãos. d) apelavam aos governantes. e) exerciam a solidariedade. Comentários: Depois de ter lido o material tenho certeza de que essa vocês tiraram de letra. Para Hobbes, o homem é o lobo do próprio logo, assim no estado de natureza esse homem vivia em conflito. Logo, a alternativa certa é a letra A. a) Essa é a alternativa correta. Conforme, já descrito no comentário. b) Essa alternativa é incorreta. Não é o poder religioso que resolvia os conflitos mundanos. c) Essa alternativa é incorreta. Na antiguidade os anciões foram muitos importantes. Contudo, para Hobbes o centro estava no contrato social e antes deste contrato era, literalmente, todos contra todos. d) Essa alternativa é incorreta. Veja que o dispositivo da questão deixa claro que a sociedade civil ainda não estava constituída. Logo, não existia instituições, leia-se aqui governantes, para dirimir os conflitos. e) Essa alternativa é incorreta. Não exerciam a solidariedade, pelo contrário esse homem se podia exercer a força contra o outro, ele certamente o faria, segundo Hobbes. Gabarito letra A 9. (ENEM 2018) TEXTO I Tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, é válido também para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força e invenção. HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1983 TEXTO II Não vamos concluir, com Hobbes que, por não ter nenhuma ideia de bondade, o homem seja naturalmente mau. Esse autor deveria dizer que, sendo o estado de natureza aquele em que o cuidado de nossa conservação é menos prejudicial à dos outros, esse estado era, por conseguinte, o mais próprio à paz e o mais conveniente ao gênero humano. ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a origem e o fundamento da desigualdade entre os homens. São Paulo: Martins Fontes, 1993 (adaptado). Os trechos apresentam divergências conceituais entre autores que sustentam um entendimento segundo o qual a igualdade entre os homens se dá em razão de uma a) predisposição ao conhecimento. b) submissão ao transcendente. c) tradição epistemológica. d) condição original. e) vocação política. Comentários: A questão exige que alunos saiba sobre os filósofos contratualistas. O contratualismo é um modelo teórico criado para explicar o surgimento da sociedade. Hobbes, Locke e Rousseau, seus representantes, basearam suas teorias na ideia de que os seres humanos viviam em um estado pré-social, chamado de estado de natureza (condição original) e abandonaram-no para firmar um pacto, o contrato social. Para Hobbes, no estado natural, nenhum homem se ergue tão acima dos demais de forma a estar isento do medo de que outro homem lhe possa fazer mal, o que leva o homem a acreditar que cada um tem direito a tudo e por isso existe uma constante guerra de todos contra todos (bellun ominia omnes). Já Rousseau acreditava que o homem era bom no estado de natureza, mas a sociedade o corrompe. Ao observar o comando da questão, é preciso estar atento ao que se pede, que no caso é sobre o que fundamenta suas teorias (entender o estado de natureza) e não os conceitos das teorias. a) A alternativa A está incorreta. Nenhum dos dois textos faz referência a natureza do conhecimento. b) A alternativa B está incorreta. Esses termos não expressam nada na filosofia de Hobbes ou Rousseau. c) A alternativa C está incorreta. A tradição epistemológica busca compreender o processo do conhecimento para o ser humano e não sobre política e Estado. d) A alternativa D está correta. Entenda aqui condição original como estado de natureza, conceitos que são abordados pelos dois filósofos. Enquanto Hobbes coloca o homem como lobo do homem no estado de natureza, Rousseau diz ser o homem bom, nessa condição. e) A alternativa E está incorreta. O termo vocação política não entra nas teorias dos filósofos contratualistas (Hobbes, Locke e Rousseau). Gabarito “d” 10. (ENEM 2019) https://pt.wikipedia.org/wiki/Bellum_omnia_omnes TEXTO I Eu queria movimento e não um curso calmo da existência. Queria excitação e perigo e a oportunidade de sacrificar-me por meu amor. Sentia em mim uma superabundância de energia que não encontrava escoadouro em nossa vida. TOLSTÓI, L. Felicidade familiar. Apud KRAKAUER, J. Na natureza selvagem. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. TEXTO II Meu lema me obrigava, mais que a qualquer outro homem, a um enunciado mais exato da verdade; não sendo suficiente que eu lhe sacrificasse em tudo o meu interesse e as minhas simpatias, era preciso sacrificar-lhe também minha fraqueza e minha natureza tímida. Era preciso ter a coragem e a força de ser sempre verdadeiro em todas as ocasiões. ROUSSEAU, J.-J. Os devaneios do caminhante solitário. Porto Alegre: L&PM, 2009. Os textos de Tolstói e Rousseau retratam ideais da existência humana e defendem uma experiência a) lógico-racional, focada na objetividade, clareza e imparcialidade. b) místico-religiosa, ligada à sacralidade, elevação e espiritualidade. c) sociopolítica, constituída por integração, solidariedade e organização. d) naturalista-científica, marcada pela experimentação, análise e explicação. e) estético-romântica, caracterizada por sinceridade, vitalidade e impulsividade. Comentários: Veja a alternativa C poderia causar confusão na cabeça do estudante. Contudo, leia novamente o texto. Tolstói e Rousseau escrevem seus textos de forma poética. Eles traçam estilos aos seus textos, por isso é muito importante, além de conhecer os pensadores, analisar a forma como o texto é apresentado. Assim, percebe-se que são dois textos estéticos-românticos. Logo, a alternativa correta é a letra E. a) A alternativa está incorreta. Os textos não são objetivos, são poéticos. b) A alternativa está incorreta. Os textos não estão alinhados com o pensamento religioso ou mítico. c) A alternativa está incorreta. Quem conhece Rousseau colocaria o “x” nessa alternativa. Contudo, você deve atentar o que pede no dispositivo. Este pede para fazer uma interpretação dos textos que se apresentam. Nesse sentido, os textos têm muito mais uma característica estética- romântica do que uma característica sociopolítica. d) Essa aqui parece remeter aos empiristas, os quais serão estudados no livro digital sobre epistemologia. e) A alternativa está correta. Está aí a resposta. Leia a poesia. Releia os textos e você perceberá a linha de raciocínio. Concordo que esta questão era daquela que o aluno poderia se confundir e confesso que não é uma questão trivial, pois confunde o aluno. Entretanto, você aluno “Estratégia Vestibular” irá pegar todos os macetes de prova para não escorregar em uma questão deste tipo. Gabarito letra E 11. (Enem PPL 2016) A importância do argumento de Hobbes está em parte no fato de que ele se ampara em suposições bastante plausíveis sobre as condições normais da vida humana. Para exemplificar: o argumento não supõe que todos sejam de fato movidos por orgulho e vaidade para buscar o domínio sobre os outros; essa seria uma suposição discutível que possibilitaria a conclusão pretendida por Hobbes, mas de modo fácil demais. O que torna o argumento assustador e lhe atribui importância e força dramática é que ele acredita que pessoas normais, até mesmo as mais agradáveis, podem ser inadvertidamente lançadas nesse tipo de situação, que resvalará, então, em um estado de guerra. RAWLS.J. Conferências sobre a história da filosofia política São Paulo: WMF, 2012 (adaptado) O texto apresenta uma concepção de filosofia política conhecida como a) alienação ideológica. b) microfísica do poder. c) estado de natureza. d) contrato social. e) vontade geral. Comentários: A questão abordao contexto em que ocorre o contrato social do ponto de vista de Hobbes. A alternativa D dá a resposta correta. O Contrato social para Hobbes surge para colocar fim ao estado de guerra de todos contra todos, visto que o homem no estado de natureza é mau. a) A alternativa A está incorreta. Alienação ideológica é não ter senso crítico e ser manipulado sem o consentimento, o que não ocorre no Contrato Social para Hobbes. b) A alternativa B está incorreta. Microfísica do poder é um conceito de Foucault. c) A alternativa C está incorreta. O estado de natureza termina a partir do Contrato Social, visto que era um estado de guerra. d) A alternativa D está correta. e) A alternativa E está incorreta. Vontade geral é um conceito de Rousseau. Gabarito “d” 12. (Enem PPL 2012) “O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona consigo mesmo ou com seu semelhante. O homem civil é apenas uma unidade fracionária que se liga ao denominador, e cujo valor está em sua relação com o todo, que é o corpo social. As boas instituições sociais são as que melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular não se julgue mais como tal, e sim como uma parte da unidade, e só seja percebido no todo”. (ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999). A visão de Rousseau em relação à natureza humana, conforme expressa o texto, diz que: a) O homem civil é formado a partir do desvio de sua própria natureza. b) O homem é forçado a sair da natureza para se tornar absoluto. c) As instituições sociais formam o homem de acordo com a sua essência natural. d) As instituições sociais expressam a natureza humana, pois o homem é um ser político. e) O homem civil é um todo no corpo social, pois as instituições sociais dependem dele. Comentários: Para responder essa questão é preciso saber que Rousseau acreditava que o homem no estado de natureza era bom e a sociedade que o corrompe. Portanto, já nos primeiros agrupamentos humanos surge a competição, e isso tira a bondade natural do indivíduo, ou seja, desvia ele de sua própria natureza. A afirmação contida alternativa “A” responder o que pede a questão. a) A alternativa A está correta. A partir dos comentários acima fica evidente que esta é a alternativa correta. b) A alternativa B está incorreta. O homem no estado de natureza era absoluto. c) A alternativa C está incorreta. As instituições sociais tiram do homem a sua natureza livre. d) A alternativa D está incorreta. O homem não é um ser político para Rousseau, ele torna-se um em sociedade. e) A alternativa E está incorreta. Na sociedade o homem não é um todo porque ele se corrompe. Gabarito “a” 13. (ENEM PPL 2013) Hobbes realiza o esforço supremo de atribuir ao contrato uma soberania absoluta e indivisível. Ensina que, por um único e mesmo ato, os homens naturais constituem-se em sociedade política e submetem- se a um senhor, a um soberano. Não firmam contrato com esse senhor, mas entre si. É entre si que renunciam, em proveito desse senhor, a todo o direito e toda liberdade nocivos à paz. CHEVALIER. As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias. Rio de Janeiro: Agir 1995 (adaptado) A proposta de organização da sociedade apresentada no texto está fundamentada na a) imposição das leis e na respeitabilidade ao soberano. b) abdicação dos interesses individuais e na legitimidade do governo. c) alteração dos direitos civis e na representatividade do monarca. d) cooperação dos súditos e na legalidade do poder democrático. e) mobilização do povo e na autoridade do parlamento. Comentários: A resolução da questão vai se dar a partir do conhecimento sobre os períodos clássico, renascentista e iluminista. Ter noção do contexto histórico e social se faz necessário, já que a questão aborda conceitos como lei, democracia, parlamento, mobilização. Tais termos não fazem parte do contexto no qual encontra-se Hobbes, período do Renascimento. Outro ponto é perceber que o comando da questão direciona para evidenciar as fundamentações para o surgimento da sociedade civil, ou seja, o que foi necessário, como se deu essa organização. a) A alternativa A está incorreta. A imposição de leis (civis) se dá na sociedade civil já formada e a questão pede que aponte as fundamentações para a organização de tal sociedade. b) A alternativa B está correta. O texto citado deixa claro que os homens renunciam ao direito (natural) - abdicação dos interesses individuais - e à liberdade a fim de eleger um soberano, que garanta a legitimidade do governo, a paz e a segurança. c) A alternativa C está incorreta. Na passagem do estado natural para o civil ainda não havia direitos civis, esses se constroem na própria sociedade civil, não podendo, portanto, ser fundamento na construção desta. d) A alternativa D está incorreta. O conceito democracia aparece no período clássico, com Sócrates e Platão e só volta a ser debatido no Iluminismo, final do século XVIII. e) A alternativa E está incorreta. Nesse período, no Reino Unido já existia parlamento, embora essa instituição não apareça de maneira uniforme em todos os países do mundo. Alias, o Estado Moderno só nasce a partir da figura de Maquiavel. Contudo, é preciso ter em mente que Hobbes defende a ideia de um poder absoluto e centralizado. Nesse contexto, a figura do parlamento não se encaixa no pensamento do filosofo. Gabarito “b” 14. (Enem 2ª aplicação 2016) Texto I Até aqui expus a natureza do homem (cujo orgulho e outras paixões o obrigaram a submeter-se ao governo), juntamente com o grande poder do seu governante, o qual comparei com o Leviatã, tirando essa comparação dos dois últimos versículos do capítulo 41 de Jó, onde Deus, após ter estabelecido o grande poder do Leviatã, lhe chamou Rei dos Soberbos. Não há nada na Terra, disse ele, que se lhe possa comparar. HOBBES, T. O Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Texto II Eu asseguro, tranquilamente, que o governo civil é a solução adequada para as inconveniências do estado de natureza, que devem certamente ser grandes quando os homens podem ser juízes em causa própria, pois é fácil imaginar que um homem tão injusto a ponto de lesar o irmão dificilmente será justo para condenar a si mesmo pela mesma ofensa. LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil. Petrópolis: Vozes, 1994. Thomas Hobbes e John Locke, importantes teóricos contratualistas, discutiram aspectos ligados à natureza humana e ao Estado. Thomas Hobbes, diferentemente de John Locke, entende o estado de natureza como um(a) a) condição de guerra de todos contra todos, miséria universal, insegurança e medo da morte violenta. b) organização pré-social e pré-política em que o homem nasce com os direitos naturais: vida, liberdade, igualdade e propriedade. c) capricho típico da menoridade, que deve ser eliminado pela exigência moral, para que o homem possa constituir o Estado civil. d) situação em que os homens nascem como detentores de livre-arbítrio, mas são feridos em sua livre decisão pelo pecado original. e) estado de felicidade, saúde e liberdade que é destruído pela civilização, que perturba as relações sociais e violenta a humanidade. Comentários: Ao responder à questão atente-se ao fato de que o comando pede somente para explicar o estado de natureza segundo Hobbes. Portanto, saber que o homem é o lobo do próprio homem, e isso faz com que, no estado pré-social, ele entre em conflitos constantes a fim de salvaguardar a vida. Porém, as alternativas trazem conceitos e teorias de outros filósofos, como Agostinho, Kant, Locke e Rousseau, o que pode confundir quem não conhece tais pensadores e suas teorias. Os textos citados na questão servem denorteadores, mas não trazem neles a resposta explícita. a) A alternativa A está correta. Ela representa corretamente o estado de natureza do homem, que é mau, movido por orgulhos e paixões, entra em estado de guerra de todos contra todos, tornando necessário e eleição de um Soberano para por fim na insegurança e no medo. b) A alternativa A está incorreta. Tais conceitos como igualdade, propriedade e liberdade foram cunhados no Iluminismo e são atribuídos à Locke e não à Hobbes. c) A alternativa A está incorreta. Menoridade e exigência moral são características da filosofia de Kant. d) A alternativa A está incorreta. Termos como pecado original e livre-arbítrio encontram seu representante em Santo Agostinho (filosofia medieval) e não em Hobbes. e) A alternativa A está incorreta. Rousseau seria bem representado se a questão abordasse sua teoria de estado de natureza, já que nessa condição o homem era bom, livre e feliz. Gabarito “a” 15. (Questão inédita - Gabriela C. Garcia) Locke divide o poder do governo em três poderes, cada um dos quais origina um ramo de governo: o poder legislativo (que é o fundamental), o executivo (no qual é incluído o judiciário) e o federativo (que é o poder de declarar a guerra, concertar a paz e estabelecer alianças com outras comunidades). Enquanto o governo continuar sendo expressão da vontade livre dos membros da sociedade, a rebelião não é permitida: é injusta a rebelião contra um governo legal. Mas a rebelião é aceita por Locke em caso de dissolução da sociedade e quando o governo deixa de cumprir sua função e se transforma em uma tirania. LOCKE, John. In: MORA, J. F. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2001. V. III. p. 1770. A partir da leitura do excerto acima e com base no que você conhece sobre o filósofo iluminista Locke, é correto afirmar que a) o direito de rebelião é um direito natural e legítimo de todo cidadão sob a vigência da legalidade. b) o Estado deve cuidar do bem-estar material dos cidadãos e tomar partido em questões de matéria religiosa. c) na estrutura do poder, dentro de certos limites, o Estado pode fazer as leis, mas não de obrigar que sejam cumpridas. d) o poder judiciário é mais importante, já que ele cria as leis. e) o poder legislativo é o de maior importância. Comentários: Para responder essa questão é preciso saber sobre a relação Estado e poder para Locke. Locke, que não fala de um soberano absoluto, mas teoriza sobre a divisão de poderes. O governo deve ser limitado e sua função é proteger a comunidade sem interferir na liberdade dos cidadãos. O poder é uma consequência do estado de natureza e não uma criação da sociedade civil. As leis naturais estão na essência da vida humana, para esse pensador, são atingidas pela razão. Já as leis positivas são criadas pelos homens de acordo com a organização de cada sociedade. Pensando no poder do Estado e na importância dele não se concentrar nas mãos de um soberano absoluto, o filósofo propõe, antes mesmo de Montesquieu, a divisão desse poder em três: o legislativo, o executivo e o federativo. Nesse sentido, o maior poder é o legislativo o qual formula as leis. Com esses conceitos claros sobre poder e Estado é possível responder ao comando da questão, que exige que assinale a alternativa cita corretamente o que é o poder dentro do Estado. a) A alternativa A está incorreta. O direito à rebelião só se torna legítimo no caso da dissolução da sociedade. b) A alternativa B está incorreta. Matéria de religião não diz respeito ao Estado. c) A alternativa C está incorreta. O Estado pode fazer leis e obrigar que sejam cumpridas. d) A alternativa D está incorreta. O legislativo é que cria leis e por isso ele é o mais importante. e) A alternativa E está correta. O poder preponderante deve ser o legislativo. Gabarito: “e” Maquiavel 16. (ENEM 2010) O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e leal. De fato, com uns poucos exemplos duros poderá ser mais clemente do que outros que, por muita piedade, permitem os distúrbios que levem ao assassínio e ao roubo. MAQUIAVEL, N. O Príncipe, São Paulo: Martin Claret, 2009. No século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe, reflexão sobre a Monarquia e a função do governante. A manutenção da ordem social, segundo esse autor, baseava-se na a) inércia do julgamento de crimes polêmicos. b) bondade em relação ao comportamento dos mercenários. c) compaixão quanto à condenação de transgressões religiosas. d) neutralidade diante da condenação dos servos. e) conveniência entre o poder tirânico e a moral do príncipe. Comentários: Lembre-se que “O Príncipe”, principal livro de Maquiavel, é um manual político. Portanto, procure a alternativa relacionada com as ações políticas. Perceba que o príncipe deve fazer o necessário para manter a ordem social. Ele deve agir de acordo com a Virtú e a Fortuna. a) Essa alternativa está incorreta. Aqui estamos tratando de um tema jurídico. Embora nesse período ainda não existia a divisão de poderes, esse tema permeia mais a seara jurídica do que a seara política. Contudo, se tivesse que fazê-lo, o faria. b) Essa alternativa está incorreta. Mercenários eram guerreiros contratados para a defesa do território. Vamos combinar que a bondade em relação ao comportamento dos mercenários não serve para a manutenção da ordem social. Pelo contrário, se eles tivessem que agir iriam fazer com brutalidade. c) Essa alternativa está incorreta. Aqui temos outro tema jurídico. Inclusive, nesse período histórico, ainda existia o direito canônico e este tipo de crime era julgado por um tribunal ligado à igreja e não por um tribunal do Estado. Cabe lembrar que os períodos históricos não são determinísticos. Nesse sentido, o Estado moderno estava surgindo em alguns lugares (inclusive nasce a partir de Maquiavel) e em outros ainda se mantinha o feudalismo, que é caracterizado pela unicidade entre Igreja e Estado. d) Essa alternativa está incorreta. Outro tem jurídico. Neutralidade no julgamento de servos também não serve para a manutenção da ordem social, pelo menos não como regra geral. Se o príncipe achasse necessário realizar em algum momento ele iria fazer, mas se confunda a consequência com a causa. e) Essa alternativa está correta. Perceba que aqui temos um tema político e essa alternativa descreve, exatamente, o pensamento do filósofo. Gabarito letra E 17. (Questão inédita - Gabriela C. Garcia) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais e políticas, Maquiavel define o homem como um ser a) munido de virtude, sem disposição nata a praticar o bem a si e aos outros. b) o possuidor de riquezas naturais, usa da fortuna para alcançar êxito na política. c) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas em sociedade. d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social, porém não portando seus direitos naturais. e) inclinado a agir por interesses próprios, os homens promovem ações imprevisíveis e inconstantes. Comentários: Para essa questão, além de fazer uma boa análise de texto, é importante saber que para Maquiavel fortuna tem um significadodiferente da riqueza. A fortuna diz respeito aos acontecimentos imprevisíveis, que podem tanto servir ao governante quanto prejudicá-lo. Para agir bem é preciso estar atento a cada detalhe da situação concreta em que se inscreve. Para Maquiavel trata-se das coisas inevitáveis que a história traz. O conhecimento da história serve para ajudar na compreensão da situação, não necessariamente para retirar dela regras imutáveis ou ações perfeitas. Dobrar a fortuna, ou seja, tudo que há de incalculável e imprevisível é exercício do bom dirigente, escolher bem ação que a ocasião demanda. Repare que o comando da questão pede para que seja identificado nas alternativas a definição do homem segundo o filósofo, porém, alternativas podem ser eliminadas ao se ter domínio de alguns conceitos definidos pelo pensador. a) A alternativa A está incorreta. Essa assertiva não condiz com a descrição no trecho supracitado, já que o pensador, afirma serem os homens covardes, ávidos ao lucro, volúveis, etc. Portanto, contrário à virtude inata. b) A alternativa B está incorreta. O conceito de Fortuna para Maquiavel não diz respeito a riquezas. c) A alternativa C está incorreta. Esta afirmativa não encontra correspondente no texto de referência. d) A alternativa D está incorreta. Ao se tratar de direitos naturais essa alternativa já deveria ser eliminada, posto que Maquiavel não tratou desse assunto. e) A alternativa E está correta. Como evidenciado no trecho acima, o homem é inconstante, imprevisível e guiado por interesses. Gabarito “e” 18. (ENEM 2012) Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito aceita em nossos dias, devido às grandes transformações ocorridas, e que ocorrem diariamente, as quais escapam à conjectura humana. Não obstante, para não ignorar inteiramente o nosso livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos permite o controle sobre a outra metade. MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado). Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demonstra o vínculo entre o seu pensamento político e o humanismo renascentista ao a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos definidores do seu tempo. b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos. c) afirmar a confiança na razão autônoma como fundamento da ação humana. d) romper com a tradição que valorizava o passado como fonte de aprendizagem. e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé e razão. Comentários: Para responder essa questão é preciso contextualizar o período em que se encontra o filósofo. Situado no período renascentista, onde ocorre a retomada do uso da razão como forma de resgatar a capacidade crítica que havia sido corrompida pela Igreja Católica, que teve poder hegemônico do século V até século XVI, quando ocorre o renascimento da razão. Bom lembrar que o período histórico certamente influencia o pensamento do filósofo, mas não, necessariamente o define ou define o meio em que ele vive. Portanto, preste atenção quando a questão pergunta sobre o momento histórico ou quando a questão salienta o pensamento do filósofo. Essa questão pergunta sobre o filósofo. a. A alternativa A está incorreta. Conhecendo o pensamento de Maquiavel, sabe-se que o mesmo, ao romper com a visão do governante bom e virtuoso, também rompe com a ideia de que o Rei seria um representante de Deus na terra, onde nota-se que não houve valorização da interferência divina. b. A alternativa B está incorreta. O acaso é algo que deve ser valorizado pelo Príncipe, pelo governante, que deve ter a capacidade de enxergar a realidade e agir de acordo com suas vicissitudes, adaptando-se aos acontecimentos (fortuna). c. A alternativa C está correta. Aqui fica claro vínculo entre o pensamento político de Maquiavel e a visão renascentista/humanismo , que valorizava o uso da razão sem a direção de outros (livre- arbítrio). d. A alternativa D está incorreta. Apesar de fazer sentido, já que ao rejeitar o determinismo divino ele parece romper com a tradição que valorizava o passado. Porém, a questão pede para relacionar com o humanismo, por isso a alternativa C é a correta e não a D. e. A alternativa E está incorreta. Nada nessa assertiva condiz com o pensamento de Maquiavel, que diz que ação política deve ser guiada pela razão. Gabarito “c” 19. (ENEM 2013) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais e políticas. Maquiavel define o homem como um ser a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros. b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política. c) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes. d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando seus direitos naturais. e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares. Comentários: Para essa questão, além de fazer uma boa análise de texto, é importante saber que para Maquiavel fortuna tem um significado diferente da riqueza. A fortuna diz respeito aos acontecimentos imprevisíveis, que podem tanto servir ao governante quanto prejudicá-lo. Para agir bem é preciso estar atento a cada detalhe da situação concreta em que se inscreve. Para Maquiavel trata-se das coisas inevitáveis que a história traz. O conhecimento da história serve para ajudar na compreensão da situação, não necessariamente para retirar dela regras imutáveis ou ações perfeitas. Dobrar a fortuna, ou seja, tudo que há de incalculável e imprevisível é exercício do bom dirigente, escolher bem ação que a ocasião demanda. Repare que o comando da questão pede para que seja identificado nas alternativas a definição do homem segundo o filósofo, porém, alternativas podem ser eliminadas ao se ter domínio de alguns conceitos definidos pelo pensador. a. A alternativa A está incorreta. Esta assertiva não condiz com a descrição no trecho supracitado, já que o pensador, afirma serem os homens covardes, ávidos ao lucro, volúveis, etc. Portanto, contrário à virtude inata. b. A alternativa B está incorreta. O conceito de Fortuna para Maquiavel não diz respeito a riquezas. c. A alternativa C está correta. Como evidenciado no trecho acima, o homem é inconstante, imprevisível e guiado por interesses. d. A alternativa D está incorreta. Ao se tratar de direitos naturais essa alternativa já deveria ser eliminada, posto que Maquiavel não tratou desse assunto. e. A alternativa E está incorreta. Está afirmativa não encontra correspondente no texto de referência. Gabarito “c” 20. (ENEM 2019) Para Maquiavel, quando um homem decide dizer a verdade pondo em risco a própria integridade física, tal resolução diz respeito apenas a sua pessoa. Mas se esse mesmo homem é um chefe de Estado, os critérios pessoais não são mais adequados para decidir sobre ações cujas consequências se tornam tão amplas, já que o prejuízo não será apenas individual, mas coletivo. Nesse caso, conforme as circunstâncias e os fins a serem atingidos,pode-se decidir que o melhor para o bem comum seja mentir. ARANHA, M. L. Maquiavel: a lógica da força. São Paulo: Moderna, 2006 (adaptado). O texto aponta uma inovação na teoria política na época moderna expressa na distinção entre a) idealidade e efetividade da moral. b) nulidade e preservabilidade da liberdade. c) ilegalidade e legitimidade do governante. d) verificabilidade e possibilidade da verdade. e) objetividade e subjetividade do conhecimento. Comentários: Para responder a essa questão é preciso ter noção de que Maquiavel nos mostra um pensamento inédito sobre o que é governar, o pensador alerta para a importância de manter a república intacta, mas não menciona a finalidade ética da política, ética e política são compatíveis, mas atribuir uma ética à política não é possível, já que ela lida com dois lados opostos, os governantes e os governados e alguém sempre terá que ceder ou ser contido. Com uma visão revolucionária sobre política no mundo ocidental, ele ensina como deve agir para ser um bom governante e defendeu a ideia de que um bom dirigente deve aprender a não ser bom, já que suas ações são vistas, avaliadas, apreciadas e condenadas sempre. Ao se deparar com esse tipo de questão fique atento ao comando, que pede uma distinção trazida pelo texto, distinção essa que confronta o idealismo do mundo medieval (governante bom e virtuoso) com a efetiva ação moral do governante. a) A alternativa A está correta. Maquiavel foi inovador ao separar a moral religiosa da moral política, baseando-se nas relações humanas concretas e não nos valores Ideais e abstratos. b) A alternativa B está incorreta. Visto que o texto supracitado não aborda a nulidade (tornar nulo) e nem a liberdade. c) A alternativa C está incorreta. Para Maquiavel a ilegalidade do governante será legítima caso necessário, isso fica evidente no último trecho, onde afirma-se que pode mentir, caso seja para o bem comum. d) A alternativa D está incorreta. Os termos aqui descritos não remetem ao texto ou ao pensamento de Maquiavel. e) A alternativa E está incorreta. Maquiavel não faz distinção entre objetividade e subjetividade de conhecimento, posto que o governante pode inventar e instituir uma regra de justiça que pareça satisfazer a quem governa. Gabarito “a” 21. (Enem PPL 2013) Mas, sendo minha intenção escrever algo de útil para quem por tal se interesse, pareceu–me mais conveniente ir em busca da verdade extraída dos fatos e não à imaginação dos mesmos, pois muitos conceberam repúblicas e principados jamais vistos ou conhecidos como tendo realmente existido. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Disponível em: www.culturabrasil.pro.br. Acesso em: 4 abr. 2013. A partir do texto, é possível perceber a crítica maquiaveliana à filosofia política de Platão, pois há nesta a a) elaboração de um ordenamento político com fundamento na bondade infinita de Deus. b) explicitação dos acontecimentos políticos do período clássico de forma imparcial. c) utilização da oratória política como meio de convencer os oponentes na ágora. d) investigação das constituições políticas de Atenas pelo método indutivo. e) idealização de um mundo político perfeito existente no mundo das ideias. Comentários: Ao se deparar com essa questão é preciso ter o domínio da filosofia política de Platão. Esse sistema político era denominado de sofocracia (Sophos: sábios; Kratia: poder). Assim como a alma possuía três partes, a pólis também teria que ter três classes sociais distribuídas de acordo com as aptidões de cada cidadão. A alma racional, com a ajuda da alma irascível deve dominar a alma apetitiva. É tarefa moral da alma racional se sobrepor e dominar as outras duas, harmonizando-as. O mesmo deve ocorrer na pólis. A coragem e força são virtudes da alma racional (governantes e magistrados), ela que preserva a integridade do ser humano e discerne sobre o que é bom ou mau para a vida do corpo, transpondo isso para a cidade, o governante saberia agir com justiça no corpo social. Observe que apesar da questão trazer um texto de Maquiavel, o comando da questão cobra seus conhecimentos sobre a política de Platão, que se opõe à política de Maquiavel. a) A alternativa A está incorreta. A cidade ideal de Platão divide a sociedade em três classes: magistrados, soldados e produtores. Onde cada um exerceria suas funções de acordo com suas aptidões, sem interferência divina. b) A alternativa B está incorreta. Platão criticou a democracia como ineficiente, posto que esta acaba na Grécia Antiga enquanto ele ainda é vivo. A partir desse fato, ele vai escrever a República, onde descreve a cidade ideal. Portanto, não existe imparcialidade em sua filosofia política. c) A alternativa C está incorreta. A oratória como método de convencimento é fruto da filosofia Sofista. d) A alternativa D está incorreta. O método indutivo na investigação política diz respeito à Maquiavel e não à Platão que era idealista. e) A alternativa E está correta. Platão se baseia em uma sociedade utópica e idealizada, onde cada membro exerceria suas aptidões naturais na sociedade e isso garantiria a justiça plena, o que corrobora com tal assertiva. Gabarito “e” Montesquieu 22. (ENEM 2013) Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma independente para a efetivação da liberdade, sendo que esta não existe se uma mesma pessoa ou grupo exercer os referidos poderes concomitantemente. MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo Abril Cultural, 1979 (adaptado). A divisão e a independência entre os poderes são condições necessárias para que possa haver liberdade em um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo político em que haja a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas. b) consagração do poder político pela autoridade religiosa. c) concentração do poder nas mãos de elites técnico-cientifícas. d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições do governo. e) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de um governante eleito. Comentários: Essa questão traz no texto supracitado o pensamento de Montesquieu, que em busca de uma sociedade mais justa, propõe um Estado onde os poderes deveriam ser divididos para que a liberdade, justiça e bem-estar, fossem garantidos, já que no modelo absolutista, o governante podia legislar e praticar a justiça como um tirano com interesses próprios. Portanto, a divisão dos poderes preveniria os abusos de poder. O comando da questão é bem objetivo e pede que assinale a assertiva que se encaixa no modelo político de Montesquieu. a) A alternativa A está incorreta. O exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas não representa a divisão de poderes proposta por Montesquieu, pelo contrário, esse estado estaria próximo do absolutismo. b) A alternativa B está incorreta. Montesquieu defendeu a independência do estado quanto à igreja, tornando essa assertiva incorreta. c) A alternativa C está incorreta. Pensar o poder sendo exercido pelas elites que detêm e tecnologia e ciência a seu favor, caracteriza um estado positivo e sem distribuição do poder. d) A alternativa D está correta. O filósofo defendia a não centralização do poder nas mãos do governo, propondo a divisão dos sistemas executivo, judiciário e legislativo, a fim de evitar livre acesso dos atores públicos nas instituições e com isso dificultar a corrupção. e) A alternativa E está incorreta. Ao reunir as funções de legislar,do judiciário e do executivo nas mãos de um representante, mesmo que eleito democraticamente, já configura centralização de poder, o que não condiz com pensamento de Montesquieu. Gabarito “d” 23. (Enem 2012) É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer; mas a liberdade política não consiste nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o que é independência e o que é liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros também teriam tal poder. MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 (adaptado). A característica de democracia ressaltada por Montesquieu diz respeito a) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as decisões por si mesmo. b) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à conformidade às leis. c) à possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse caso, livre da submissão às leis. d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proibido, desde que ciente das consequências. e) ao direito do cidadão exercer sua vontade de acordo com seus valores pessoais. Comentários: Ao se deparar com essa questão, nota-se que o texto deixa evidente a diferença entre liberdade e independência. O filósofo coloca a liberdade atrelada às leis, posto que são elas que limitam as ações individuais, a fim de prevenir injustiças ou abusos. Entende-se como democracia portanto, não a independência individual, a liberdade sem limites, mas liberdade política que se encontra nas ações que devem estar em conformidade com as leis. Note que o comando da questão pede que assinale a alternativa que melhor define o conceito de democracia para Montesquieu. a) A alternativa A está incorreta. Ser cidadão é agir em conformidade com às leis e não tomar decisões próprias, caso essa infrinja a liberdade do outro. b) A alternativa B está correta. O trecho citado traz exatamente a visão de que ser livre é ter o direito de fazer tudo o que a lei permite, tornado essa alternativa correta. c) A alternativa C está incorreta. A democracia deve garantir que os cidadãos estejam submetidos às leis, o que torna essa alternativa incorreta. d) A alternativa D está incorreta. O livre-arbítrio do cidadão não tem causalidade com a democracia, que em concordância com a maioria, cria regras, leis, que devem ser obedecidas por todos, para garantir as liberdades de todos. e) A alternativa E está incorreta. Essa assertiva dispõe sobre conceitos como vontades individuais que confrontam o pensamento democrático de Montesquieu. Gabarito “b”. 24. UFF 2010 O escritor e filósofo francês Voltaire, que viveu no século XVIII, é considerado um dos grandes pensadores do Iluminismo ou Século das Luzes. Ele afirma o seguinte sobre a importância de manter acesa a chama da razão: “Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razão, ainda renascem algumas cabeças da hidra do fanatismo. Parece que seu veneno é menos mortífero e que suas goelas são menos devoradoras. Mas o monstro ainda subsiste e todo aquele que buscar a verdade arriscar-se-á a ser perseguido. Deve-se permanecer ocioso nas trevas? Ou deve-se acender um archote onde a inveja e a calúnia reacenderão suas tochas? No que me tange, acredito que a verdade não deve mais se esconder diante dos monstros e que não devemos abster-nos do alimento com medo de sermos envenenados”. Identifique a opção que melhor expressa esse pensamento de Voltaire. a) Aquele que se pauta pela razão e pela verdade não é um sábio, pois corre um risco desnecessário. b) A razão é impotente diante do fanatismo, pois esse sempre se impõe sobre os seres humanos. c) Aquele que se orienta pela razão e pela verdade deve munir-se da coragem para enfrentar o obscurantismo e o fanatismo. d) O fanatismo e o obscurantismo são coisas do passado e por isso a razão não precisa mais estar alerta. e) A razão envenena o espírito humano com o fanatismo. Comentários: Ao se deparar com uma questão de Voltaire é importante que se tenha em mente o contexto histórico no qual ele se insere, o que o enunciado já deixa claro ser o Iluminismo. O Iluminismo foi um movimento da elite europeia que valorizava a razão, buscava a liberdade e clamava pela separação entre Estado e Igreja. Voltaire muito falou sobre a tolerância e importância da pluralidade religiosa a fim de combater o fanatismo. O comando da questão pede que se assinale a alternativa que melhor representa o pensamento de Voltaire. a) Essa alternativa está incorreta. Ao contrário do que é afirmado, Voltaire defendia o uso da razão. Defendeu que os reis deveriam ser sábios para melhor governarem b) Essa alternativa está incorreta. De fato, o fanatismo se impõe, mas para o pensador francês, somente a razão poderia combater o fanatismo. c) Essa alternativa está correta. Não é simples lutar contra o obscurantismo e o fanatismo, por isso é preciso coragem para enfrentá-los. Voltaire foi preso por mais de uma vez ao lutar contra o fanatismo. d) Essa alternativa está incorreta. No período em que Voltaire viveu o fanatismo se fazia vivo e presente. e) Essa alternativa está incorreta. A razão salva o espírito humano do fanatismo. Gabarito letra C Kant 25. (ENEM 2012) Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida. KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado). Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a compreensão do contexto filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant, representa a) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade. b) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas. c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma heterônoma. d) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento. e) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão. Comentários: O texto apresentado traz definições do que é Esclarecimento para Kant, e ter domínio dos conceitos de maioridade e menoridade também ajuda na resolução da questão. A menoridade é característica do sujeito que vive às sombras de outros, seja nas tomadas de decisões ou guiados por ideologias. Kant instiga a busca por esclarecimento, conhecimento, a fim de sair da condição de tutelado para ganhar autonomia. Mas adverte, para ter coragem de fazer uso da própria razão, já que nesse momento o sujeito torna-se o único responsável pelas consequências de suas ações. A questão orienta a busca pela assertiva que define o que é o Esclarecimento para Kant. a. A alternativa A está correta. A menoridade seria a ignorância, e a busca por conhecimento (esclarecimento) pode nos trazer a capacidade racional, nos levando à emancipação (maioridade), ou seja, fazer uso da própria razão. b. A alternativa B está incorreta. Para Kant não existem verdades eternas e a racionalidade é o pressuposto maior para qualquer coisa. c. A alternativa C está incorreta. Nada disse Kant sobre impor a matemática. d. A alternativa D está incorreta.As verdades religiosas que não permitem os homens buscar esclarecimento racional. e. A alternativa E está incorreta. Essa alternativa é incoerente com o pensamento de Kant. Gabarito “a” 26. (ENEM 2013) Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém, todas as tentativas para descobrir, mediante conceitos, algo que ampliasse nosso conhecimento, malogravam-se com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento. KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 1994 (adaptado). O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido como revolução copernicana na filosofia. Nele, confrontam-se duas posições filosóficas que a) assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do conhecimento. b) defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente o ceticismo. c) revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência e a reflexão filosófica. d) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em relação aos objetos. e) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso conhecimento e são ambas recusadas por Kant. Comentários: Gente, essa questão é um gostinho do que vocês irão ver em epistemologia. Aguardem as cenas dos próximos capítulos. a) Essa alternativa está correta. Sim, as posições são empirismo e racionalismo. Para Kant as duas correntes, que aparecem como contrárias, na verdade atuam juntas, visto que o conhecimento só se dá diante do encontro do sujeito e do objeto, o que valoriza as duas correntes. b) Essa alternativa está incorreta. Kant não era cético, ele defendia a razão para se atingir o conhecimento, o esclarecimento e o agir moral. c) Essa alternativa está incorreta. Pelo contrário, para Kant, os dados das experiências são fundamentais para que possamos desenvolver reflexões filosóficas. d) Essa alternativa está incorreta. As duas correntes não concordam com a primazia da tarefa da filosofia, para uma está no sujeito, para a outra no objeto. e) Essa alternativa está incorreta. Elas se refutam entre si, mas Kant une as duas em sua teoria. Gabarito letra A 27. (ENEM 2017) Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante para perguntar a si mesma: não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi- Io emprestado e prometo paga-Io, embora saiba que tal nunca sucederá. KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980. De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de pagamento” representada no texto a) assegura que a ação seja aceita por todos a partir da livre discussão participativa. b) garante que os efeitos das ações não destruam a possibilidade da vida futura na terra. c) opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer como norma universal. d) materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana podem justificar os meios. e) permite que a ação individual produza a mais ampla felicidade para as pessoas envolvidas. Comentários: Ao se deparar com uma questão sobre Kant, identificar qual filosofia kantiana ela se refere é fundamental. Kant aborda temas como Esclarecimento, Razão e Ética. A Ética kantiana ou Moral kantiana, se baseia no Imperativo Categórico, descrito no livro a Metafísica dos Costumes, que tem por base o agir moral como algo pertencente ao ser humano. Se você agir com o outro como gostaria que agissem com você e essa prática se tornasse uma lei universal o mundo seria melhor. Kant vê o falso pagador de promessa como alguém egoísta, que não está de acordo com a máxima de agir de tal maneira que sua ação se torna lei universal, pois, se todos agissem por interesse próprio, onde os fins justificam os meios, o mundo seria ruim. Sendo detentor desse conhecimento chegar à alternativa correta será simples. O comando da questão pede que assinale a alternativa que demonstre como Kant via, de acordo com sua moral, a “falsa promessa de pagamento”. a) A alternativa A está incorreta. Kant acredita que todo ser humano é dotado de razão, por isso deve buscar ser e a agir de forma ética, ele tem o dever de agir moralmente independente de acordos. b) A alternativa B está incorreta. Segundo os filósofos, esse tipo de ação é destrutiva para a vida em sociedade sim. c) A alternativa C está Correta. Ela se opõe a teoria de Kant, que diz que devemos sempre agir de modo a podermos desejar que a regra a partir da qual agimos se transforme em lei universal. d) A alternativa D está incorreta. Se a questão abordasse o pensamento de Maquiavel essa alternativa estaria correta. Mas para Kant os meios devem ser tão justos quanto o fim. e) A alternativa E está incorreta. Não seria possível, pois ao não pagar sua dívida, o mau pagador se beneficia, porém o credor perde e não é feliz. Então a ação individual não leva a felicidade para as pessoas envolvidas. Gabarito “c” 28. (ENEM 2019) TEXTO I Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre crescentes: o céu estrelado sobre mim e a lei moral em mim. KANT, I. Crítica da razão prática. Lisboa: Edições 70, s/d (adaptado). TEXTO II Duas coisas admiro: a dura lei cobrindo-me e o estrelado céu dentro de mim. FONTELA, O. Kant (relido). In: Poesia completa. São Paulo: Hedra, 2015. A releitura realizada pela poeta inverte as seguintes ideias centrais do pensamento kantiano: a) Possibilidade da liberdade e obrigação da ação. b) A prioridade do juízo e importância da natureza. c) Necessidade da boa vontade e crítica da metafísica. d) Prescindibilidade do empírico e autoridade da razão. e) Interioridade da norma e fenomenalidade do mundo. Comentários: As duas ideias centrais destacadas no dispositivo são: a moral e a fenomenologia. Quando Kant cita a “lei moral sobre mim” ele está descrevendo o imperativo categórico e ao citar o céu estrelado o filósofo está dispondo sobre o conhecimento por meio da interação com os fenômenos. Vamos para as alternativas. a) Essa alternativa está incorreta. Para a poeta existe a possibilidade da liberdade, quando ela cita o céu estrelado dentro dela, que passa o sentido de esperança pela liberdade, já que ela faz críticas sobre a leis que a cobrem. b) Essa alternativa está incorreta. A importância da natureza não é ressaltada em nenhum dos excertos. c) Essa alternativa está incorreta. A poeta não demonstra uma inversão sobre que ´boa vontade para Kant e o filósofo nos fala sobre agir por dever e não por boa vontade. d) Essa alternativa está incorreta. Nada nos leva a refletir sobre a importância ou não do empirismo, mas sim da observação dos fenômenos. e) Essa alternativa está correta. Essa alternativa corresponde as duas ideias centrais do pensamento kantiano. Gabarito letra E 29. (Enem 2ª aplicação 2014) Numa época de revisão geral, em que valores são contestados, reavaliados, substituídos e muitas vezes recriados, a crítica tem papel preponderante. Essa, de fato, a uma das principais características das Luzes, que, recusando as verdades ditadas por autoridades, submetem tudo ao crivo da crítica. KANT, I. 0 julgamento da razão. In: ABRAO, B. S. (Org.) Histeria da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1999. O Iluminismo tece críticas aos valores estabelecidos sob a rubrica da autoridade e, nesse sentido, propõe a) a defesa do pensamento dosenciclopedistas que, com seus escritos, mantinham o ideário religioso. Os enciclopedistas não mantinham um ideário religioso. b) o estímulo da visão reducionista do humanismo, permeada pela defesa de isenção em questões políticas e sociais. c) a consolidação de uma visão moral e filosófica pautada em valores condizentes com a centralização política. d) a manutenção dos princípios da metafísica, dando vastas esperanças de emancipação para a humanidade. e) o incentivo do saber, eliminando superstições e avançando na dimensão da cidadania e da ciência. Comentários: Kant foi um importante filósofo, transitou várias áreas do conhecimento e destaca-se como importante pensador iluminista. O iluminismo tem como característica criticar os valores da idade média, como intolerância religiosa, a falta da liberdade de expressão e poder absolutista. A questão pede que assinale a assertiva evidencia o que Kant criticava e a alternativa E é a correta. As outras contradizem o pensamento desse filósofo. a) A alternativa A está incorreta. Os enciclopedistas não mantinham um ideário religioso. b) A alternativa B está incorreta. A visão era ampla e não reducionista. As questões políticas e sociais eram a pauta do iluminismo. c) A alternativa C está incorreta. A busca era pela descentralização da política era a o que a filosofia desse período propunha. d) A alternativa D está incorreta. Nesse período a metafísica se voltou para a razão e não para fé, portanto não houve manutenção. e) A alternativa E está correta. Atende ao papel do Iluminismo, valorização da razão era o foco. Gabarito “e” 30. (ENEM 2016.3) Os ricos adquiriram uma obrigação relativamente à coisa pública, uma vez que devem sua existência ao ato de submissão à sua proteção e zelo, o que necessitam para viver; o Estado então fundamenta o seu direito de contribuição do que é deles nessa obrigação, visando a manutenção de seus concidadãos. Isso pode ser realizado pela imposição de um imposto sobre a propriedade ou a atividade comercial dos cidadãos, ou pelo estabelecimento de fundos e de uso dos juros obtidos a partir deles, não para suprir as necessidades do Estado (uma vez que este é rico), mas para suprir as necessidades do povo. (KANT, I, A metafísica dos costumes. Edipro, 2003) Segundo esse texto de Kant, o Estado: A) deve sustentar todas as pessoas que vivem sob seu poder, a fim de que a distribuição seja paritária. B) está autorizado a cobrar impostos dos cidadãos ricos para suprir as necessidades dos cidadãos pobres. C) dispõe de poucos recursos e, por esse motivo, é obrigado a cobrar impostos idênticos dos seus membros. D) delega aos cidadãos o dever de suprir as necessidades do Estado, por causa do seu elevado custo de manutenção. E) tem a incumbência de proteger os ricos das imposições pecuniárias dos pobres, pois os ricos pagam mais impostos. Comentários: Prezado aluno(a) perceba o que pede o comando da questão. Ele pede que responda segundo o texto. Portanto, é importante o conhecimento sobre o autor para descartar as alternativas que fogem a esse conhecimento, mas a resposta está no próprio texto. a) Essa alternativa está incorreta. Veja que no texto de Kant ele vincula os ricos à coisa publica enfatizando o dever do pagamento de tributos. Nesse contexto, o texto não defende que todos devem ser sustentados pelo Estado. b) Essa alternativa está correta. Isso é exatamente o que diz o texto. c) Essa alternativa está incorreta. O texto não diz nada a respeito da quantidade de recurso estatal. Ademais, a passagem ressalta que os ricos devem ser os maiores financiadores do Estado d) Essa alternativa está incorreta. O Estado não delega o dever, ele impõe. e) Essa alternativa está incorreta. O texto se baseia na noção de isonomia na qual aqueles que tem mais recursos devem arcar com a maior parte do financiamento do Estado. Entretanto, não cabe o Estado privilegiar aqueles que pagam mais. Gabarito letra “b”. Considerações Finais Caros, vestibulandos(as), queridos e queridas, chegamos ao final de nossa aula. Essa aula, após ser estudada, significará que você está um passo mais próximo de sua aprovação. Espero que você tenha se deleitado com os pensamentos destes filósofos. Esses grandes pensadores nos ajudam inclusive em nossa formação como cidadão. Vamos para o nosso momento filosófico ativo. Portanto, pense nas provocações abaixo: • Na sua opinião, ser um bom governante é fazer o que for necessário para conduzir a sociedade? Se for necessário mentir, esse governante deve fazer? • Você acha que deveria pagar impostos? Para que servem os impostos? • É mais seguro que o poder seja dividido ou você acha que um governo absoluto conduziria melhor o país? • Natureza e Deus são a mesma coisa para você ou Deus é uma personalidade para além da Natureza? • Você defende a propriedade privada ou a propriedade deveria ser coletiva? • O que te faz livre? • Como você visualiza a Democracia? Nosso país é um país Democrático? O que devemos aperfeiçoar em nossa Democracia? • Você acha que sua liberdade deve estar atrelada as leis? As leis são importantes? O ENEM 2009 apresentou um tema que os conhecimentos desta aula certamente o ajudariam na construção de um bom texto: O indivíduo frente à ética nacional. Para estimulá-los a prova apresentou textos que tratavam sobre a corrupção no país. Filósofos como Kant e sua ética poderia lhe dar um bom recurso argumentativo. Certamente outras provas lhe exigirão conhecimentos sobre ética e política. Texto motivador: Vivemos em uma Democracia, embora ainda jovem e em amadurecimento. Este regime está presente inclusive em nossa Constituição, a qual não permite a sua revogação, ou seja, para que a Democracia deixe de existir seria preciso derrubar a Carta Maior. Nesse contexto, nosso país está dividido em três poderes, de forma que um deve ponderar o outro em uma estrutura de pesos e contrapesos. O legislativo tem a função principal de legislar, ou seja, de criar leis; O Executivo tem a função de executar as leis, ou seja, tirar a lei do papel torná-la realidade; O judiciário tem a função de garantir o cumprimento das leis, ou seja, em nosso país significa a defesa do Estado Democrático de Direito. Assim, caso tenha um tempinho, escreva sobre o tema a seguir: “Devemos defender a Democracia?” Explore os autores debatidos nessa aula para redigir um texto bem fundamentado. Se posicione, não fique em cima do muro! Importante já deixar claro na introdução qual é o seu posicionamento e na conclusão dizer como devemos defender ou não o Estado Democrático de Direito. Se tiverem dúvidas, o fórum é o caminho. Lá será a nossa Ágora. Lembre-se que não existe pergunta boba. Bobo é aquele que perde a oportunidade de perguntar. Saudações Filosóficas!!!!!!!! Aqui estão as minhas redes socais: @filosofando.com.gabi Filosofando com Gabi https://linktr.ee/filosofando.com.gabi https://linktr.ee/filosofando.com.gabi https://www.youtube.com/channel/UCXD1GBCUmMx4xnW1O02qbPw https://www.youtube.com/channel/UCXD1GBCUmMx4xnW1O02qbPw https://www.youtube.com/channel/UCXD1GBCUmMx4xnW1O02qbPw Referências Bibliográficas: ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. Vol. 4. 5ª Edição. Lisboa. Editorial Presença. 2000. ABBUD, Luiz Nelson Macedo. Filosofar é Perguntar: a História da Filosofia abordada através de seus grandes temas. Editora: Do Autor. 2008. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofar com textos: temas e história da filosofia. Vol. único. São Paulo: Moderna, 2012. DE MIRANDA, Luiz Francisco Albuquerque. Significado político da tolerância em Locke e Voltaire. 2007. DO VAL, F. T. R. A ÉTICA DE LEIBNIZ. Revista Brasileira Multidisciplinar, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 5-22, 1997. DOI: 10.25061/2527-2675/ReBraM/1997.v1i1.356.Disponível em: https://www.revistarebram.com/index.php/revistauniara/article/view/356. Acesso em: 9 fev. 2021 PAULA, M. (2009). Alegria e felicidade. A experiência do processo libertador em Espinosa. São Paulo: Universidade de São Paulo. PEDRO, A. A ÉTICA COMO CONATUS DE ESPINOSA. Cadernos Espinosanos, [S. l.], n. 29, 2013. DOI: 10.11606/issn.2447-9012.espinosa.2013.82747. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/espinosanos/article/view/82747. Acesso em: 9 fev. 2021. PIVA, P. J. de L. DIDEROT E KANT: ESCLARECIMENTOS. Cadernos de Ética e Filosofia Política, [S. l.], v. 1, n. 22, p. 53-70, 2013. 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