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UNIVERSIDADE LUEJI A´NKONDE FACULDADE DE DIREITO A TUTELA DA PERSONALIDADE JURÍDICA DO NASCITURO EM ANGOLA: ARTIGO 66º Nº1 DO CÓDIGO CIVIL. Autores: Abrão Muachi da Rosa Tito Alberto Segunda Eduardo Tchitocota André Teteca Hitxica Cangagi Bruno Simão Africano Pensamento Cariata Docente: Pedro Munzemba, MSc. CURSO: DIREITO, 2 º ANO PERÍODO: LABORAL SALA: 19 CHITATO 2022 ÍNDICE INTRODUÇÃO............................................................................................................ 1 DELIMITAÇÃO DO TEMA ........................................................................................ 1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA .............................................................................. 1 OBJECTO DE ESTUDO .............................................................................................. 1 CAMPO DE ACÇÃO ................................................................................................... 1 OBJECTIVOS DO ESTUDO ....................................................................................... 1 a) Objectivo Geral ...................................................................................................... 1 b) Objectivo Específico: .............................................................................................. 1 JUSTIFICAÇÃO DO ESTUDO .................................................................................... 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA/ANTECEDENTES DO TEMA ................................. 2 A VIDA EM SEU CONCEITO JURÍDICO .................................................................. 2 CONCEPTUALIZAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ...................................... 2 CONCEPTUALIZAÇÃO DO NASCITURO ................................................................ 3 O PROBLEMA DE NASCITURO ............................................................................... 3 AS TEORIAS ACERCA DA PERSONALIDADE JURIDICA ...................................... 3 TEORIA NATALISTA (Adoptada em Angola - artigo 66° nº 1 do Código Civil) ............. 3 TEORIA CONDICIONALISTA .................................................................................. 4 TEORIA CONCEPCIONISTA .................................................................................... 5 DIREITO COMPARADO ............................................................................................ 6 a) Direito Português ................................................................................................. 6 b) Direito Francês .................................................................................................... 7 c) Direito Argentino ................................................................................................. 7 d) Direito Italiano .................................................................................................... 7 e) Direito Espanhol .................................................................................................. 7 DIREITOS DO NASCITURO NA FASE INTRAUTERINO ....................................... 8 a) Direito à vida ...................................................................................................... 8 b) Direito à integridade física............................................................................... 9 c) Direito à imagem ................................................................................................ 9 d) Direito à alimentos .......................................................................................... 9 METODOLOGIA: ..................................................................................................... 10 TIPO DE INVESTIGAÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DA OPÇÃO PELO TIPO DE INVESTIGAÇÃO ...................................................................................................... 10 -TAREFAS E PROCEDIMENTOS/MÉTODOS ......................................................... 10 -POPULAÇÃO E AMOSTRA .................................................................................... 11 INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS ......................................................... 11 INSTRUMENTO DE TRATAMENTO DE DADOS ................................................... 11 CONCLUSÃO............................................................................................................ 11 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 12 1 INTRODUÇÃO A temática em questão é realmente muito complexa e polémica, visto que em muitos ordenamento juridicos (incluindo o nosso) levanta-se muito essa problemática (a personalidade jurídica do nascituro) que encontram-se bastante vaga e carecendo de uma revisão urgente. É nesta senda que a nossa abordagem vai cingir, falando sobre a tutela da persolidade jurídica do nascituro em Angola: Artigo 66º nº1 do Códico civil, onde veremos inicialmente o conceito jurídica da vida, isto é, como a ordem pública define e fundamenta efectivamennte o bem jurídico (vida), sequencialmente verá-se os conceitos de vários autores no que cerne os conceito de personalidade jurídica e do nascituro pois é importante saber os conceito dos mesmo para o entendimento do tema. Por conseguinte, vai se abordar também sobre a problemática do nascituro, assim como as teorias da personalidade jurídica, teorias estas que abordam de como adquire-se a personalidade, na sequência sobre as teorias vera-se a adoptada no ordenamento jurídico angolano de acordo com o artigo 66º nº1 do Codigo Civil , e posteriormente faremos um estudo comparado com os diferentes ordenamentos jurídicos que adoptaram diferentes teorias. E finalmente, fechar-se a abordagem falando sobre os direitos do nascituro na fase intrauterina. DELIMITAÇÃO DO TEMA Quanto ao espaço, o nosso tema delimita-se em Angola e na actualidade. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA Será que no âmbito civil do ordenamento jurídico angolano protege-se os direitos inatos dos nascituros? OBJECTO DE ESTUDO; Direitos inatos do nascituro que carecem de protecção jurídica civil. CAMPO DE ACÇÃO; O nosso cinge-se no âmbito do Direito Civil, que segundo a teoria da qualidade do sujeito defini-se como um conjunto de normas jurídica que regulam as relações entre os particulares ou entre estes e o Estado ou outros entes públicos, mas que venha despido de seu poder de autoridade, tornando-se como um particular. (Silva, 2018) e concretamente no Instituo da Pessoa física ou singular OBJECTIVOS DO ESTUDO a) Objectivo Geral: - Fazer entender que o nascituro tem personalidade jurídica. b) Objectivo Específico: - Sugerir a alteração imediata do artigo 66º nº. 1 do Codigo Civil; - Relacionar as características humanas ao nascituro. 2 JUSTIFICAÇÃO DO ESTUDO Segundo vários doutrinadores a proteção dos nascituros ou reconhecimento da sua persoanlidade é uma temática de grande importância no estudo do Direito Civil e, por isso, não nos cansamos de pregar a prevalência de um Direito Civil amparado na protecção dos direitos do nascituro em questões patrimonialista. Aqui, nesta abordagem a visão é personalista ganhando relevo no estudo das questões atinentes ao nascituro, ou seja, aos direitos intrínsecos a ela como direitos do feto à vida, à saúde, à alimentação, ao respeito, à dignidade, proteçãopenal garantindo-lhe o direito de nascer e outros; E também pela necessidade de introduzir no campo dos embates filosóficos, reflexão para uma reformulação dos princípios da lei civil angolana no sentido de alterar a regra relactiva ao início da personalidade do nascituro. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA/ANTECEDENTES DO TEMA A VIDA EM SEU CONCEITO JURÍDICO Segundo (Bertonceli, 2017) toda pessoa tem personalidade e capacidade jurídica, para que possa se relacionar com o meio em que vive e exercer seus direitos na vida civil. A vida é o maior bem a ser tutelado, e dela decorre os demais direitos de personalidade (direito ao corpo, à integridade física, à imagem, ao nome, etc.), ou seja, a vida antecede a própria personalidade. Sem vida humana não existe direitos, nem fundamentos, quanto mais direitos de personalidade. A palavra vida é um termo muito complexo, em seu conceito jurídico, a vida civil é a soma das atividades exercidas pela pessoa, na qual possui todas as faculdades atribuídas ao ser humano, tendo início com o nascimento com vida. Para se abordar o tema em questão sobre a tutela da personalidade do nascituro é necessário conceptualizar o que seja a personalidade jurídica, bem como o conceito de nascituro, devido ao facto destas temática serem fundamentais para o entendimento do tema. CONCEPTUALIZAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA Para ser titular autónomo de direitos e obrigações ou de situações jurídicas. A personalidade jurídica, é defenida em fórmula sobre a qual recai largo consenso, consiste na aptidão uma qualidade: a qualidade de ser pessoa. É uma qualiade que o direito se limita a constatar e respeitar e que não pode ser ignorada ou recusado. É um dado extrajurídico que se impõe ao Direito (Silva, 2018). De acordo ainda com Gagliano e Filho citado por (Oliveira) a Personalidade Jurídica para a Teoria Geral do Direito Civil é a aptidão genérica para titularizar direitos e contrair obrigações, ou em outras palavras, é o atributo necessário para ser sujeito de direito. Todo aquele que nasce com vida torna-se uma pessoa, ou seja, adquire personalidade. Pode ser definida como aptidão genérica para adquerir direitos e contrair obrigações ou deveres na ordem civil. É pressuposto para a inserção e actuação da pessoa na ordem jurídica. (Oliveira). 3 CONCEPTUALIZAÇÃO DO NASCITURO De acordo com Sidou citado por (Arruda, 2020) palavra nascituro teve origem a partir do termo latino nasciturus, e conforme o direito civil, e conforme o direito civil, é o ser humano desde a concepção até o nascimento com vida, cujos direitos a lei põe a salvo. Já o nascituro de acordo com Sílvio de Salvo Venosa citado por (Brito, 2018) o nascituro é o ser humano já concebido, que se encontra no ventre materno por nascer. O termo nascituro significa aquele que há de nascer. E o ente que já foi gerado ou concebido, mas ainda não nasceu, embora tenha vida intrauterina e natureza humana… O nascituro é o titular de direitos de personalidade: vida, honra, imagem, etc. Tem direito à filiação, direito de ser contemplado por doação ou por testamento (legado ou herança)… (Cunha, 2015) O PROBLEMA DE NASCITURO Depois dos conceitos apresentados anteriormente, pode se concluir o conceito de nascituro como sendo o ser humano que se encontra temporaraiamente entre a concepção e o nascimento. Assim sendo, será meio incorreto dizer que o nascituro é um ser que está em desenvolvimento, visto que o desenvolvimento do ser humano é algo contínuo o qual só se interrompe no momento em que cessa a personalidade jurídica nos termos do artigo 68º do Código Civil Angolano. AS TEORIAS ACERCA DA PERSONALIDADE JURIDICA Neste capítulo serão apresentados o conceito e as características da personalidade jurídica e o seu surgimento, bem como outros conceitos correlatos àquele necessários a elucidação do tema, quais sejam a personalidade civil, a capacidade de fato e a capacidade de direito. Serão analisadas também as principais correntes doutrinárias que tratam do assunto, quais sejam, a corrente natalista, a corrente concepcionista e a corrente da personalidade condicionada. Além disso, serão abordados os conceitos gerais de cada uma, bem como as suas particularidades e divergências doutrinárias. TEORIA NATALISTA (Adoptada em Angola - artigo 66° nº 1 do Código Civil) A Teoria Natalista é a que se encontra fundamentada pelo artigo 66° número 1 do Código Civil, segundo a qual a aquisição da personalidade se dá a partir do nascimento com vida. Com isso o nascituro possuí mera expectativa de direito (Oliveira). 4 Afirmam os natalistas que antes de nascer não é homem o fruto do corpo humano e não tem personalidade jurídica. Todavia, no período que decorre entre a concepção e o nascimento, existe uma expectativa de personalidade, por isso é punido o aborto provocado. De acordo com esta corrente, o nascituro não pode ser considerado pessoa, já que o Código Civil determina que para adquirir a personalidade jurídica é necessário o nascimento com vida. O nascituro não possui direitos, nem personalidade jurídica, mas mera expectativa de direitos. Ainda conforme Tartuce citado por (Arruda, 2020) , os adeptos a esta teoria partem de uma interpretação literal da lei, trazendo por conclusão que o nascituro não pode ser considerado pessoa. O grande questionamento existente dentro desta teoria é: se o nascituro não pode ser considerado uma pessoa, ele seria então um objeto, uma coisa? Depreende-se que para os natalistas a resposta para essa pergunta seria positiva, partindo-se da premissa que enquanto no ventre materno não há que se falar em personalidade. Críticas contra essa teoria, vez que um ser com actividades de natureza (batimentos cardíacos, actividade encefálica e motora) não deve ser considerado uma coisa. Outra crítica acerca da referida teoria é que ela nega ao nascituro até os direitos fundamentais relacionados a sua personalidade, quais sejam, o direito à vida, à investigação de paternidade, aos alimentos, ao nome e até à imagem. Toda a negativa vai contra vários dispositivos que garantem tais direitos aos ainda não nascidos, presentes no Código Civil, sendo este mais um motivo para que a corrente não seja aplicada (Arruda, 2020). Esta teoria encontra um grande número de adeptos, defendendo que certos direitos só poderão ser exercidos por aqueles que já existam. Percebese então que o Código Civil resguarda direitos ao nascituro, bem como poderá usufruir os mesmos com o nascimento com vida (Oliveira). TEORIA CONDICIONALISTA A teoria da personalidade condicional sustenta personalidade jurídica do nascituro, desde sua concepção, mas sob a condição de que este nasça com vida. Ou seja, a aquisição de certos direitos ocorrerá em forma de condição suspensiva, isto é, se o nascido nascer com vida, sua personalidade retroage ao momento da concepção (Bertonceli, 2017). O nascituro, segundo essa teoria, não é sujeito de direito, embora mereça proteção legal, tanto no plano civil como criminal. Essa proteção se explica, pois há nele uma personalidade condicional que surgirá em sua plenitude com o nascimento com vida, e será extinguida caso o feto não viver (Bertonceli, 2017). Segundo Tartuce citado por (Arruda, 2020), essa corrente apresenta uma problemática, pois ela é apegada a questões patrimoniais, deixando de lado os apelos de direitos pessoais ou da personalidade face ao nascituro. Afirma ainda que, os direitos da personalidade não podem estar sujeitos a condição, termo ou encargo, como determina a corrente. Ao condicionar os direitos do nascituro ao nascimento com vida, a referida teoria está admitindo que existe apenas mera expectativa dedireitos, assim como na corrente natalista. O 5 que era para ser uma teoria mista, acaba se esbarrando, quiçá confundindo com a teoria retro mencionada (Arruda, 2020). Considerar o nascituro como pessoa desde sua concepção, vai contra o conceito de “pessoa” empregado pelo ordenamento jurídico. E guardar os direitos do nascituro ao seu nascimento, apoia a ideia empregada pelo Código Civil Brasileiro e Português, o qual a personalidade se adquire com o nascimento com vida (Bertonceli, 2017). Dizer que o nascituro é pessoa, mas condicionar seus direitos com o nascimento, passa a ideia de que ele não é pessoa. Se pessoa fosse, não precisaria que seus direitos fossem guardados para quando nascessem, pois, já seriam seus em sua plenitude, apenas se extinguiram com a eventual morte ao nascer (Bertonceli, 2017). TEORIA CONCEPCIONISTA A teoria concepcionista defende que a personalidade começa antes do nascimento e que com a concepção já deve ser segurado os interesses do nascituro. No entanto, mesmo nessa corrente, o nascituro titulariza somente direitos personalíssimos e os de personalidade, ficando os de conteúdo patrimonial aguardando o nascimento com vida (Bertonceli, 2017). Segundo a escola concepcionista, a personalidade civil do homem começa a partir da concepção, tendo o nascituro direitos, deve ser considerado pessoa, uma vez que só a pessoa é sujeito de direitos, e só pessoa tem personalidade jurídica (Bertonceli, 2017). Esta teoria, tem como entendimento que o nascituro possui os mesmos direitos e deveres de uma pessoa natural, e que, o nascimento é apenas mais uma continuação da vida, dando ao nascituro essa proteção como pessoa, estaria protegendo-o de maneira mais completa (Bertonceli, 2017). Para os que defendem esta teoria, entendem que não seja justo que os direitos do nascituro fiquem sempre condicionados ao nascimento com vida. Ou seja, “Segundo a teoria concepcionista, o nascituro tem personalidade jurídica desde a concepção, podendo figurar, então como sujeito de direitos e deveres possuindo a mesma natureza que a pessoa natural. Este entendimento assenta em base antológica e biológicas. Do ponto de visa ontológico, atribuir ao nascituro a mesma natureza de pessoa implica em protegê-lo da forma mais completa possível, considerando o seu significado e o valor ontológico da vida humana. Biologicamente, é possível constatar que inexiste dúvidas sobre a existência de vida no ente que está a nascer, pois o nascimento é apenas um, dentre os passos naturais para a continuação dessa vida, sendo possível a identificação de que a vida se processa no exato momento conceptivo” (Bertonceli, 2017). Em síntese, a teoria concepcionista é a mais moderna, e pode ser a única considerada que não afronta o direito à vida. Esta teoria alega que a personalidade do homem começa desde o momento da concepção, sendo que, desde tal momento, o nascituro é considerado pessoa, assim, teria seus direitos legalmente assegurados (por ser detentor de personalidade jurídica). Vale relembrar que havendo vida, há personalidade (Arruda, 2020). 6 No que se refere, aos direitos patrimoniais, pode-se afirmar que: Personalidade – que não se confunde com capacidade – não é condicional. Apenas certos efeitos de certos direitos, isto é, os direitos patrimoniais materiais, como a herança e a adoção, dependem do nascimento com vida. A plenitude da eficácia desses direitos fica resolutivamente condicionada ao nascimento sem vida. O nascimento com vida, enunciado positivo de condição suspensiva, deve entender-se, ao reverso, como enunciado negativo de uma condição resolutiva, isto é, o nascimento sem vida, porque a segunda parte do artigo 66º do Código Civil bem como outros de seus dispositivos reconhecem direitos (não expectativas de direitos) e estados ao nascituro não do nascimento com vida, mas desde a concepção. O nascimento com vida aperfeiçoa o direito que dele dependa, dandolhe integral eficácia, na qual se inclui sua transmissibilidade. Porém, posse dos bens herdados ou doados ao nascituro pode ser exercida, por seu representante legal, desde a concepção, legitimando-o a perceber as rendas e os frutos, na qualidade de titular de direitos subordinado à condição resolutiva (Arruda, 2020). Mesmo que para a corrente concepcionista o nascituro tenha personalidade e seja considerado um sujeito de direitos, há que se observar que este não possui capacidade de fato, ou seja, não possui aptidão para exercer pessoalmente os atos da vida civil, o que enseja que este seja devidamente representado (Arruda, 2020). DIREITO COMPARADO O Direito Comparado é uma disciplina jurídica que tem por objecto a comparação de Direitos, ou seja, o estudo comparativo sistemático de diferentes ordens jurídicas – por norma, ordens jurídicas estaduais –, com vista a identificar as semelhanças e as diferenças existentes entre essas ordens jurídicas e a explicar as razões que presidem às semelhanças e às diferenças encontradas (Arruda, 2020). Sendo assim, uma análise simplificada na legislação de Portugal, França, Argentina, Itália e Espanha será feita afim de verificar qual a corrente é seguida majoritariamente em cada um. Quanto ao conceito de direito comparado, observa-se o seguinte: a) Direito Português O Código Civil Português de 1867 exigia para o início da personalidade o nascimento com vida e a forma humana. Portanto, observa-se que o referido código adotava o que chamamos de Teoria Natalista (Arruda, 2020). Na doutrina portuguesa, quando se fala em nascimento, a palavra tem um significado puramente fisiológico. Consiste, basicamente, em um indivíduo sair do (Arruda, 2020). O código vigente em Portugal, datado de 1966, segue o mesmo entendimento do código anterior, uma vez que o artigo 66 dispõe que a personalidade adquire no momento do 7 nascimento completo e com vida. Além disso, conforme SEMIÃO citado por (Arruda, 2020), os direitos que a lei reconhece ao nascituro dependem de seu nascimento. b) Direito Francês Sengundo PUSSI citado por (Arruda, 2020), O Código Civil Francês não aborda de maneira expressamente o início da personalidade jurídica, mas os artigos existentes já servem de base para as posições doutrinárias. Para alguns, a personalidade jurídica do nascituro inicia-se do nascimento com vida, desde que esta tenha viabilidade (mínimo de aptidão física para viver), o que retoma a teoria natalista; já para outros, tanto o nascer com vida, como ser viável seriam condições para a eficácia dos direitos, o que no caso daria ensejo a personalidade condicional. c) Direito Argentino O Código Civil Argentino determina que a personalidade jurídica do nascituro começa com a concepção. Em seu artigo 54 reconhece que o nascituro tem personalidade jurídica, contudo, este é declarado absolutamente incapaz. Dessa forma, o nascituro é equiparado aos menores impúberes, aos ausentes e aos surdos-mudos que não saibam expressar por escrito. Nesse sentido, observa-se que o Direito Argentino adotou a teoria concepcionista, sendo a situação do nascituro condicionada a uma situação resolutória, sendo que em nosso direito e em demais países estaria subordinada a um evento suspensivo, PUSSI citado por (Arruda, 2020). d) Direito Italiano O Código Civil vigente na Itália é datado de 1942, e em seu artigo primeiro já dispõe acerca do nascituro. Conforme leciona PUSSI citado por (Arruda, 2020), a base para proteção do nascituro encontra-se no artigo 1º do citado Código ao prever que a capacidade jurídica se conquista no momento do nascimento, e que a ele são subordinados os direitos que a lei reconhece a favor do concebido. Ainda de acordo com PUSSI citado por (Arruda, 2020),existe uma contradição na legislação italiana entre o Código Civil e a própria Constituição Federal visto que esta, apesar de não ter um dispositivo específico falando a respeito, é afirmativa ao determinar que a vida é tutelada a partir da concepção. Dessa maneira, esta contradição poderia ser sanada de duas formas: dilação da capacidade jurídica, de modo que abranja o ser humano a partir da concepção; ou uma redução da capacidade jurídica, de modo que assegure a igualdade entre sujeitos já nascidos quanto às relações jurídicas inter privadas, de forma a não prejudicar os direitos fundamentais da pessoa (vida, dignidade, saúde). Portanto, pode-se interpretar que a teoria natalista não é manifestada de uma forma expressa no Código Civil italiano, uma vez que não afirma ser a personalidade jurídica adquirida no momento do nascimento, mas sim a capacidade jurídica segundo RIBEIRO citado por (Arruda, 2020). e) Direito Espanhol Influenciado pelo Direito Romano, bem como francês, o Código Civil Espanhol é datado de 1889 e merece atenção especial os artigos 29 e 30. Além do nascimento com vida, faz-se 8 necessários a forma humana e a viabilidade. Este último requisito baseia-se num critério meramente legal, qual seja, o do decorrer de 24 horas após o nascimento. O Código Civil espanhol estabelece, em seu art. 29, que o início da personalidade é determinado pelo nascimento, além disso, fixa em seu artigo seguinte os requisitos necessários para que uma pessoa se considere nascida, sendo eles: possuir forma humana e viver 24 horas depois de seu nascimento. ALBERTON citado por (Arruda, 2020). DIREITOS DO NASCITURO NA FASE INTRAUTERINO A vida intrauterino é um ambiente interativo e estimulante ao desenvolvimento do bebê. O útero materno proporcina a criança vinvência multi-sensorias muito ricas e importantes para a sua adaptação após o nascimento. O bebê nesta é capaz inclusive de responder a estimulos do mundo externo. a) Direito à vida O direito à vida é o mais fundamental de todos os direitos, é um pré-requisito à existência de todos os demais direitos que são resguardados ao nascituro. Tal direito é o primeiro dos direitos fundamentais que prevê a atual Constituição da República de Angola conforme dispõe os artigos 30º « O Estado respeita e protege a vida da pessoa humana, que é inviolável» A ordem jurídica assegura o direito à vida de todo e qualquer ser humano, antes mesmo do nascimento. Contudo ninguém pode ser privado de sua vida, por isso, o actual Código Penal pune a prática do aborto (Artigo 154º). O Direito à Vida, conforme Carlos Alberto Bittar citado por (Oliveira): Estende-se a qualquer ente trazido a lume pela espécie humana, independentemente do modo de nascimento, da condição do ser, de seu estado físico ou de seu estado psíquico”. Basta que se trate de forma humana, concebida ou nascida natural ou artificialmente in vitro, ou por inseminação, não importando, portanto: fecundação artificial, por qualquer processo; eventuais anomalias físicas ou psíquicas, de qualquer grau; estados anormais: coma, letargia ou de vida vegetativa; manutenção do estado vital com o auxílio de processos mecânicos, ou outro daí por que questões de morte aparente e da ressurreição posterior devem ser resolvidas, à luz do Direito, sob a égide da extinção ou não, da chama vital, remanescendo a personalidade enquanto presente e, portanto, intacto o direito correspondente. [...]. (BITTAR, 1999, p.67). Portanto, o direito à vida deve ser protegido tanto no ventre materno quanto ao nascer. A vida é o direito mais precioso do ser humano. O ordenamento jurídico traz direitos que não podem ser violados e o aborto é uma dessas violações que são reprimidas através de penalizações. Segundo Alexandre de Moraes: A penalização do 9 aborto (Código Penal Angolano, art. 154º) corresponde à proteção da vida do nascituro, em momento anterior ao seu nascimento. b) Direito à integridade física Segundo o Oliveira citado por (Arruda, 2020) O nascituro é pleno titular desse direito, assim como à vida, sendo garantido o direito ao feto de se desenvolver de forma sadia e sem danos, o que é um verdadeiro dever do Estado promover medidas para sua proteção, objetivando à viabilização para seu nascimento saudável, bem como a prevenção, diagnóstico e tratamento de eventuais patologias que ele possa vir a enfrentar no período gestacional. Porém, a gestante também deve colaborar para uma gestação saudável, fazendo um acompanhamento adequado para o bom desenvolvimento do feto. Pode-se dizer que a integridade física está correlacionada com o direito à vida, pois por se encontrar em situação de vulnerabilidade, qualquer ato de ofensa ao bem-estar do nascituro pode o levar a morte. (Arruda, 2020) c) Direito à imagem Segundo Gonçalves citado por (Arruda, 2020) Assim como os direitos alhures mencionados, o direito à imagem consta do rol do (artigo 79º do Código Civil) no sentido comum da palavra, imagem é a representação pela pintura, escultura, fotografia, filme, etc. de qualquer objeto, e também da pessoa humana. Dessa forma, no que tange ao nascituro, este encontra o seu direito ferido quando da utilização da imagem de ultrassonografia, que permite a visualização do feto, a qual deve ser expressamente autorizada a sua divulgação ou captação pelo representante legal (Arruda, 2020). d) Direito à alimentos Conforme preleciona Flávio Tartuce citado por (Vieira, 2015) Os alimentos são prestações devidas a quem não pode provê-las pelo próprio trabalho, estando fundamentados em relação de parentesco, casamento ou união estável, (nos termos dos artigos 247º e seguintes do Código da Familia Angolano). O pagamento dos alimentos visa à pacificação social, estando amparado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade familiar, ambos de índole constitucional. Ao se reconhecer o pagamento de alimentos ao nascituro, temos a consagração de sua dignidade, o que é um caminho sem volta. Dessa forma, não temos dúvida de que o nascituro tem direito a esses alimentos. O dever de dar o alimentos ao filho ainda não nascido, tem o mesma natureza dos deveres que os pais têm em relação aos filhos já nascidos, ou seja, a de proteção integral. (Vieira, 2015) 10 Segundo Chinelato e Almeida citado por (Vieira, 2015) O direito a alimentos, nesse sentido, tem por finalidade assegurar a manutenção e a sobrevivência do nascituro no ventre materno, possibilitando o desenvolvimento regular do feto, com vistas ao nascimento com vida. Em outras palavras, “[...] ao nascituro são devidos, como direito próprio, alimentos em sentido lato –alimentos civis –para que possa nutrir-se e desenvolver-se com normalidade, objetivando o nascimento com vida”. Os alimentos gravídicos fixados perdurarão até o nascimento da criança e compreendem as despesas do período da gravidez até o parto, incluindo alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames, despesas com o parto e tudo mais que a gestante vier a precisar. O médico indica o que a gestante necessita para ter uma gravidez sadia. O rol não é taxativo, porquanto, o Juiz, ao seu critério, pode estabelecer outras despesas. . Existem outros direitos do nascituros, mas segundo os vários doutrinadores estes são aqueles que devem ser respeitado na fase intrauterina e também por serem inatos ao ao mesmo, ou seja, são aqueles que basta apenas ser pessoa para os adquiri-los automaticamente. METODOLOGIA: TIPO DE INVESTIGAÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DA OPÇÃO PELO TIPO DE INVESTIGAÇÃO O paradigma da investigação é qualitativa porque este tipo de pesquisa visa interpretar e compreender os fenómenose os objectos, buscando a singularidade e não necessariamente a generalidade, e é mais subjectiva. Os tipos de investigação utilizadas neste trabalho são: a) Jurídico-descritivo: utiliza-se do procedimento analítico de decomposição de um problema jurídico em seus diversos aspectos, relações e níveis. Próprio das pesquisas compreensivas (por isso, jurídicocompreensivas ou jurídico-interpretativas); b) Jurídico-comparativo: identificação de similitudes e diferenças de normas e instituições em dois ou mais sistemas jurídicos ou comparações dentro de um mesmo sistema, entre institutos jurídicos até antinômicos ou contraditórios, para descobrir e sanar falhas sistêmicas ou buscar transformações importantes na esfera teóricoargumentativas. -TAREFAS E PROCEDIMENTOS/MÉTODOS O método de abordagem utilizado é dedutivo porque é aquele que parte da generalização e quer confirmá-la na particularidade, ou seja, visa particularizar um dado fenómeno que é duma realidade geral em que qual o pesquisador observa o fenómenon e o estuda num âmbito particular. Quanto ao procedimento, o tipo de investigação utilizadas são: 11 a) Bibliográfico porque consiste no levantamento de publicações para identificar a opinião de autores diferentes sobre o assunto que se está pesquisando; b) Documental (secundária) porque faz-se com documentos já análisados, objectivando a reelaboração. -POPULAÇÃO E AMOSTRA Mediante a esse estudo, no que tange a população e amostra teve-se como entrevistados os estudantes, funcionários e docentes da Faculdade de Direito da Universidade Lueji A’Nkonde participarando 38 pessoas, que subdividem-se em 25 (65,79%) do sexo feminimo e 13(34,21%) do sexo masculino. Onde 100% do sexo feminino concordaram que o nascituro tem personalidade jurídica e nesta mesma senda deve-se revogar o art. 66º nº 1 do Código Civil e no mesmo afã 10 (75%) pessoas do sexo masculino também concordam que o nascituro tem personalidade jurídica e que o mesmo artigo deve ser alterado. De um modo geral 91% concordaram que o nascituro é pessoa e automaticamente este artigo deve ser revogado e 8% discordaram. INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS No que diz respeito a recolha de dados foi designado entrevista como recolha de dados no qual o mesmo foi aplicado de maneira sigilosa e incógnita tendo sido adequadamente protegida essa mesma informação aos entrevistados. De realçar que entrevista foi feita de forma particular para que outros não fossem influêncidos na resposta. INSTRUMENTO DE TRATAMENTO DE DADOS Quanto ao tratamento de dados utilizou-se as tecnícas de entrevista aberta porque o pesquisador deixa o entrevistado falar apartir de peguntas organizadas com antecedência, mas que podem mudar, dependendo das informações prestadas pelo entrevistado no evoluir da entrevista. CONCLUSÃO Após uma profunda análise da tematica em questão chegamos a conclusão que no cenário jurídico actual da norma do artigo 66º nº1 do Código Civil Angolano, em face aos vários aspectos dos direitos da personalidade jurídica do nascituro, verifica-se um paradoxo, conforme demonstrado nos capítulos anteriores, o nascituro é aquele que foi concebido e está prestes a nascer. Com o reconhecimento do respeito à dignidade humana nos termos da actual Constituição da República de Angola nos seus artigos 1º e 31º , passam a ter um sentido humanista e não meramente uma coisa, seria uma blasfêmia negar que o nascituro é uma pessoa, e logo um sujeito de direitos ainda no ventre materno, pois diante de toda a temática 12 actual que tende para uma protecção cada vez maior da pessoa humana, bem como valorização do princípio da dignidade da pessoa humana, não haveria que se falar que o bebê prestes a nascer não é humano, e logo não possui direitos. Em que pese as normas legais vigentes e entendimentos doutrinários diversos quanto à proteção do nascituro, conclui-se que o simples facto de existir atribui ao homem a aptidão de ser titular de direitos e, a isso, é dado o nome de personalidade. Portanto, não há consistência jurídica na afirmação de que o nascituro somente com o nascimento com vida adquire personalidade jurídica, isto é, passa ser sujeito de direitos e ou obrigações, principalmente de direitos, portanto é possível ultimar pela necessidade de introduzir no campo dos embates filosóficos, reflexão para uma nova, actual e condizente reformulação dos princípios da lei civil angolana no sentido de alterar a regra relativa ao início da personalidade do nascituro de teoria natalista para concepcionista afim de estar em conformidade com a Constituição. “O direito não vive apenas pelas pessoas, vive para as pessoas’’ José de Oliveira Ascensão BIBLIOGRAFIA Amaro, Z. S. (s.d.). O RECONHECIMENTO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DO NASCITURO DESDE A CONCEPÇÃO NO SISTEMA JURÍDICO NACIONAL – COMO FORMA DE SOLIDIFICAR A EXIGENTE ATUAÇÃO INTEGRAL DO FENÔMENO HUMANO NAS RELAÇÕES JURÍDICAS. Brasil. http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/br asilia/17_Zoraide.pdf Arruda, A. C. (2020). A Personalidade Jurídica do Nascituro. [Monografia de licenciatura] Universidade Envagélica de Goiás. Retrieved 11 de Maio de 2022, from http://45.4.96.19/handle/aee/9985 Ascensão, J. d. (2000). Direito Civil Teoria Geral. Coimbra Editora. Bertonceli, G. K. (2017). A Condição Jurídica do Nascituro e a Vexata Quaestio do Início da sua Personalidade: Uma perspectiva luso-brasileira [Dissertação de Mestrado, Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra]. Universidade de Coimbra, p. 33;47. https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/83889 Brito, T. F. (07 de Março de 2018). O Nascituro como Sujeito de Direitos. Revista Pleiade, 26. 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