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Capítulo 7164 8. A Lei de Joule e o calor molar Vimos que, quando um gás ideal vai de um estado A para um estado B, a quantidade de calor trocado (Q) e o trabalho realizado (š) dependem da maneira como ocorreu a transformação. porém, a variação da energia interna (ΔU) não depende da transformação, pois, de acordo com a lei de Joule, a energia interna depende apenas da temperatura. Vamos usar esse fato para chegar a outro modo de calcular a variação da energia interna. Na figura 14a representamos dois estados A e B de um gás ideal. o gás pode passar do estado A para o estado B de vários modos; assim, na figura 14a, representamos três modos (entre os vários): aXb, aYb e azb. para qualquer um desses modos, a variação da energia interna será a mes- ma. então, vamos escolher uma sequência especial, a que está representada na figura 14b. • em primeiro lugar fazemos uma transformação isotérmica aC. • em seguida fazemos uma transformação isocórica Cb. Sejam ΔU aC e ΔU Cb , respectivamente, as variações de energia interna nas transformações aC e Cb. a variação total de energia interna entre o estado inicial A e o estado final B (ΔU ab ) deve ser igual à soma das variações parciais: ΔU ab = ΔU aC + ΔU Cb porém, como a transformação aC é isotérmica, temos ΔU aC = 0. para a transformação isocórica sabemos que: ΔU Cb = Q V = calor trocado a volume constante assim: ΔU ab = ΔU aC + ΔU Cb = Q V 0 QV Mas vimos que: Q V = m · c V (ΔT) = n · C V (ΔT) ΔU AB = Q V = m · c V (ΔT) = n · C V (ΔT) 10 9. Transformação adiabática Quando um gás sofre uma transformação de modo que não recebe nem fornece calor ao ambiente, dizemos que a transformação é adiabática. essa palavra deriva do grego adiábatos, que significa “impenetrável”. Um modo óbvio de conseguir uma transformação adiabática é colocar gás em um recipiente cujas paredes sejam isolantes térmicos. Mas a transformação adiabática pode também ocorrer quando o gás sofre uma compressão ou uma expansão muito rápida. No curto intervalo de tempo em que ocorre a com- pressão ou a expansão, não há tempo para o gás trocar calor com o ambiente. Como exemplo de compressão rápida, podemos citar o caso em que uma bola é cheia com ar usando-se uma bomba (fig. 15). Como exemplo de expan- são rápida, podemos citar os gases que saem de uma garrafa de refrigerante quando ela é aberta. X Z B Y A V p V A B C isoterma p (a) (b) Figura 14. Figura 15. Exemplo de uma trans- formação adiabática: no caso, uma compressão rápida. C R iS T iN a X a V ie R As leis da Termodinâmica 165 Pela Primeira Lei da Termodinâmica, temos: ΔU = Q – ö Mas como Q = 0, concluímos que: ΔU = – ö (transformação adiabática) Expansão adiabática Se o gás sofrer uma expansão adiabática, o seu trabalho será positivo, isto é, ö > 0. Assim, teremos − ö < 0 e, portanto: ΔU = – ö < 0 isto é, a energia interna diminui, o que significa que a temperatura diminui. expansão adiabática ⇒ T diminui Compressão adiabática Numa compressão adiabática, o trabalho do gás será negativo (pois o volume dimi- nui): ö < 0. Portanto, teremos – ö > 0 e, assim: ΔU = – ö > 0 isto é, a energia interna aumenta, o que significa que a temperatura aumenta. compressão adiabática ⇒ T aumenta Esse aumento de temperatura pode ser observado no exemplo da bomba enchendo a bola (fig. 15). Ao fazermos isso, percebemos que a bomba se aquece. Diagrama de uma transformação adiabática Em uma transformação adiabática há variação de temperatura. É possí- vel demonstrar que, nessa transformação, o gráfico p × V tem o aspecto indicado na figura 16. Se o gás vai do estado A para o estado B, seu volume aumenta e sua temperatura diminui (expansão adiabática). Se o gás vai do estado B para o estado A, seu volume diminui e sua tem- peratura aumenta (compressão adiabática). No diagrama, as linhas pontilhadas são isotermas. Equação de Poisson O físico e matemático francês Denis Poisson (1781-1840) demonstrou que, numa transformação adiabática, vale a equação: p A V A γ = p B V B γ (Lei de Poisson) onde γ é um número denominado raz‹o de Poisson, cujo valor é dado por: γ = c p c V = C p C V Na tabela 2 (página 159) apresentamos os valores da razão de Poisson para alguns gases. ProCurE no CD No capítulo 7 do CD mostramos como calcular o trabalho em uma transformação adiabática. V p p B A B T A T B V A 0 V B p A Figura 16. zA PT Capítulo 7166 54. A temperatura de 5,0 mols de moléculas de um gás ideal aumenta 200 K. Sabendo que o calor molar a volume constante desse gás é CV = 29 J/mol·K, calcule a variação da energia interna do gás. Pela Lei Geral dos Gases Perfeitos: p1V1 T1 = p2V2 T2 ⇒ (9,6)(1,0) 300 = (3,0)(2,0) T2 ⇒ ⇒ T2 ≅ 188 K Exercícios de Aplicação 55. Um gás ideal está inicialmente ocupando um volume V1 = 1,0 L à temperatura T1 = 300 K e sob pressão p1 = 9,6 atm. Esse gás sofre uma transformação adiabática, passando a ocupar um volume V2 = 2,0 L. Sabendo que a razão de Poisson desse gás é γ = 53 , calcule a pressão e a temperatura do gás no final. Resolução: Pela Lei de Poisson, temos: p1V1 γ = p2V2 γ ⇒ (9,6)(1) 5 3 = p2(2) 5 3 ⇒ ⇒ 9,6 = p22 5 3 Elevando ao cubo os dois membros da equação: (9,6)3 = p32 2 5 3 3 ⇒ (9,6)3 = p322 5 ⇒ ⇒ (9,6)3 = p32 32 ⇒ 9,6 p2 3 = 32 ⇒ 9,6 p2 = 32 3 Usando uma calculadora, obtemos 32 3 ≅ 3,2. Assim: 9,6 p2 ≅ 3,2 ⇒ p2 ≅ 3,0 atm 56. Uma quantidade de gás ideal, de massa 80 gra- mas, sofre uma expansão adiabática, realizando um trabalho de 1,3·104 J. O calor específico desse gás a volume constante é cV = 0,65 J/g·K. a) Calcule a quantidade de calor trocada entre o gás e o ambiente externo. b) Qual é a variação da energia interna desse gás? c) Durante a expansão, a pressão do gás aumen- tou ou diminuiu? d) Durante a expansão, a temperatura do gás aumentou ou diminuiu? e) Qual é a variação de temperatura sofrida pelo gás? 57. Certa quantidade de gás ideal ocupa inicialmente volume de 4,0 litros, sob pressão de 2,0 atm e à temperatura de 200 K. Esse gás sofre uma com- pressão adiabática, passando a ocupar um volu- me de 2,0 litros. Sabendo que a razão de Poisson desse gás é 32 , calcule a pressão e a temperatura desse gás no final da compressão. Exercícios de Reforço 58. Um gás perfeito, cujo calor específico a pressão constante é 20,8 J/mol·K, está inicialmente à temperatura de 150 ºC. O gás passa por uma transformação tal que no final sua temperatura é 30 ºC. Sabendo que o número de mols de molécu- las do gás é 2,5 e que R = 8,3 J/mol·K, calcule a variação da energia interna sofrida pelo gás. 59. (U. F. Uberlândia-MG) Um gás ideal é comprimido tão rapidamente que o calor trocado com o meio é desprezível. É correto afirmar que: a) a temperatura do gás diminui. b) o gás realiza trabalho para o meio exterior. c) a energia interna do gás aumenta. d) o volume do gás aumenta. e) a pressão do gás diminui. 60. (ITA-SP) Uma bolha de gás metano com volume de 10 cm3 é formado a 30 m de profundidade num lago. Suponha que o metano comporta-se como um gás ideal de calor específico molar CV = 3R e considere a pressão atmosférica igual a 105 N/m2. Supondo que a bolha não troque calor com a água ao seu redor, determine seu volume quan- do ela atinge a superfície.