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1 ABORDAGEM INICIAL DA TCE INTRODUÇÃO: • Dentre os tipos de trauma, o cranioencefálico é um dos mais frequentes no serviço de Emergência. • O objetivo do tratamento dos doentes vítimas de TCE é prevenir a lesão cerebral secundária ao trauma. Para isso, tenta-se manter a oxigenação adequada e a manutenção da pressão arterial para perfusão do cérebro. • Após a realização do ABCDE, é essencial a identificação de lesões em massa, que possam necessitar de cirurgia, para isso deve realizar a Tc de crânio. FISIOLOGIA: • A pressão intracraniana (PIC) pode reduzir a perfusão para o cérebro e causar ou intensificar a isquemia. A doutrina Monro-Kellie afirma que o volume total do conteúdo intracraniano é constante porque o crânio é rígido e não se expande. • Quando há aumento da pressão, o sangue venoso e o líquido cefalorraquidiano (LCR) podem ser comprimidos para fora, resultando em certo grau de compensação em resposta à pressão. • Porém, quando atingido o limite de deslocamento do LCR e sangue venoso, a PIC aumentará rapidamente. • A pressão de perfusão cerebral (PPC) é definida como pressão sanguínea arterial média (PAM) menos a PIC. • Os vasos cerebrais têm a capacidade de se contrair ou dilatar, em resposta a mudanças na PAM. • O TCE grave pode prejudicar essa auto-regulação pressórica: se PAM muito baixa, pode ocorrer isquemia e infarto; se PAM muito alta, inchaço com aumento da PIC. Os vasos cerebrais reagem a alterações na pressão parcial de oxigênio (PaO2) e dióxido de carbono (PaCO2) do sangue. • Lesões secundárias podem ocorrer, por hipotensão, hipóxia, hipercapnia ou por hipercapnia iatrogênica. • Objetivo do tratamento: aumentar perfusão e fluxo sanguíneo cerebral; redução de PIC, quando elevada; manter volume intravascular e PAM normais; e manter oxigenação e ventilação. CLASSIFICAÇÃO E MONITORIZAÇÃO: • O TCE é classificado como: • Leve: escala de coma de Glasgow de 13 a 15. • Moderado: escala de coma de Glasgow de 9 a 12. • Grave: escala de coma de Glasgow menor ou igual a 8. 2 ABORDAGEM INICIAL DA TCE 3 ABORDAGEM INICIAL DA TCE TRATAMENTO: MEDIDAS GERAIS – PROFILAXIA E SUPORTE GERAL: • Posicionamento: cabeceira elevada e manter em posição neutra, pensando na facilidade do retorno venoso e auxiliando na diminuição da pressão intracraniana. • Qualquer sinal de trombose deve ser pesquisado e tratado. • Evitar a passagem de cateter venoso central (CVC) em acessos cervicais. Essa medida é importante por diminuir chance de trombose e facilitar o retorno venoso. • Analgesia adequada: qualquer paciente, especialmente após o trauma, deve ser tratado adequadamente com analgesia. • Ventilação: deve-se evitar hipoxemia e manter a normocapnia. • As vítimas de TCE grave habitualmente requerem ventilação mecânica. • Os objetivos da ventilação mecânica são a manutenção de PaO2 > 80 mmHg e de PaCO2 entre 35 e 40 mmHg. 4 ABORDAGEM INICIAL DA TCE • Pressão arterial (PA): os pacientes com TCE sem sinais de HIC não precisam de controles intensos da PA, mas deve-se evitar hipotensões. • Nutrição enteral: trabalhos mostram que a nutrição deve ser precoce, se possível, pela via oral. Caso não seja possível, deve-se passar sonda oroenteral ou nasoenteral (cuidado com fraturas de base de crânio, geralmente, associadas ao TCE). Só em último caso indicar a nutrição parenteral. • Controle glicêmico: hiperglicemia aumenta as lesões secundárias. Recomenda-se a utilização de protocolo de controle glicêmico que mantenha a glicemia abaixo de 180 mg/dL. • Eletrólitos: o poder osmótico do sódio é importante, a monitorização seriada e correção devem ser instituídas. Pacientes com TCE necessitam manter sódio entre 145 e 150 mEq/L, evitando-se, dessa forma, hiponatremia. • Hemoglobina: a perfusão cerebral melhora com o aumento do hematócrito e hemoglobina. • Em excesso, a hiperviscosidade pode piorar a oxigenação. A meta atual para hemoglobina é em torno de 10 mg/dL. • Controle de temperatura: importante para evitar hipertermias que aumentam o metabolismo cerebral e, consequentemente, lesão secundária. • Anticonvulsivantes profiláticos: o uso de medicações anticonvulsivantes após TCE é controverso. Nas situações em que existem antecedentes de epilepsia ou presença de coleções hemorrágicas no parênquima e ventrículos cerebrais, devendo limitar-se a 7 dias de uso profilático. • TCE com escala de coma de Glasgow menor que 10, contusão cortical, fratura de crânio penetrante, hematoma subdural e epidural e convulsões dentro de 24 horas após o trauma, há risco de convulsões pós-traumáticas. • O seu emprego na fase aguda não reduz a incidência de convulsões em longo prazo e não é recomendado de maneira rotineira. • A fenitoína (15 a 20 mg/kg – dose de ataque seguida de 100 mg a cada 8 horas) é a droga de primeira escolha na fase aguda do trauma. Se possível, realizar coleta periódica de nível sérico • Profilaxia de tromboembolismo venoso (TEV): uso de profilaxia mecânica (meias elásticas e compressão pneumática). O uso de heparina aumenta o risco de sangramento. Recomenda-se início precoce do uso de heparina, dentro de 24 a 48 horas, quando o quadro se estabiliza e o hematoma já foi drenado. No mais, sugere-se preferencialmente heparina não fracionada em razão de apresentar fácil reversão e meia-vida curta. • Profilaxia de úlcera de estresse: No TCE moderado e grave está sempre indicada. Contudo, quando houver melhora do paciente, extubado e sob dieta enteral ou por via oral, considerar a suspensão da profilaxia. • Uso de corticosteroide: o uso de corticosteroide como rotina no trauma encefálico para diminuir edema não está indicado ABORDAGEM CIRURGICA: