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_O local do testemunho

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Literatura, memória 
e história
Disciplina: Crítica literária
 O local do testemunho - Márcio Seligmann-Silva 
Análise do conceito de testemunho;
Diário como auto escritura performática e exemplo de local de testemunho, e a incomensurabilidade do “real”;
O caso da ditadura civil-militar no Brasil ou o não-lugar do testemunho;
Análise do texto literário “K o relato de uma busca”- Bernardo Kucinski e relação com o texto base
Conceito Geral
Declaração ou afirmação de uma experiência vivenciada pessoalmente;
Vínculo com a visão - proximidade com o ocorrido;
Implica em uma capacidade de julgar:Testemunho jurídico.
“témoin” - “o que vê”;
“weitwops” - “é aquele que sabe por ter visto”;
Termos etimológicos
terstis: O terceiro que se coloca no lugar do testemunho, “testemunha externa”
Transita entre o tempo da cena histórica/criminal e o tempo em que se escreve a história (ou se desenrola o tribunal). 
superstes: Sobrevivente-“manter-se no fato” 
Misto entre visão, oralidade narrativa e capacidade de julgar.
 Análise do testemunho
Portador do Testemunho X Testemunha;
Vértice entre a história e a memória:
“Ninguém testemunha para quem testemunhou, para quem vivenciou o invivível. Mas o testemunho ocorre, “se dá” e é prova e manifestação destes encontros.”
“Aschenglorie”- Paul Celan (2012)
“Encontro misterioso”- “Der Meridien”(1962);
“Niemand /zeugt für den/ Zeugen” - “Aschenglorie”- Paul Celan (2012)
 relação particular com o “real”
Entre as palavras e a experiência da morte:
Negacionismo;
Resistência.
Diário como auto escritura performática e exemplo de local de testemunho
No campo literário o diário é um local de testemunho;
Marcelo Duarte Mathias no artigo Autobiografias e diários, é possível colocar os diários ao lado dos escritos que, em geral, atribuem centralidade à questão da memória, como as autobiografias ou as próprias memórias;
Diário como testemunho, uma tradução imagética dos fatos arrolados, traços materiais como letra, rasuras etc, reforçam esse teor testemunhal;
A força de convencimento é tamanha no diário que ela repercutiu na literatura romântica como vemos com Goethe, Graciliano Ramos, Kafka, Thomas Bernhard e outros; 
Desde do Romantismo essa escrita espelho vem caminhando até chegar hoje num boom que se denomina autoficção;
A literatura desde o Romantismo vive com a crise de quem é a autoria das obras? um dilema entre a terceira pessoa mais objetiva e realista e a primeira pessoa, subjetiva que vive em um discurso indireto livre;
O diário é paratático,(Algo que está junto com outros, lado a lado, sem ter uma relação corporal, uma conexão) 
os fragmentos não se encontram em relação explícita uns com os outros. https://www.dicionarioinformal.com.br/parat%C3%A1tico/
A ligação entre eles só é possível a partir da construção de roteiros de leitura possíveis, que não podem, no entanto, se afirmar como absolutamente corretos ou verdadeiros em detrimento de outros;
A incomensurabilidade do “real”
As escritas sobre morte, experiências que não podem ser mensuradas são as que têm mais alto teor de testemunho 
O Negacionismo acompanha o genocídio, pois ao eliminar um grupo, ele elimina as narrativas, as marcas dos seus crimes. 
A autora JUÇARA LUZIA LEITE, em seu artigo, "Diários de Guerra: mulheres, livros e testemunhos", nos diz que o testemunho é inseparável da testemunha e o crédito está na confiança que damos a testemunha. Muitos autores consideram a memória como a matriz da história. 
A linearidade da narrativa, repetições, tudo trabalha para dar nova dimensão aos fatos antes enterrados. O testemunho funciona para o sobrevivente como uma ponte para fora daquela sobrevida.
O caso da ditadura civil-militar no Brasil ou o não-lugar do testemunho
Testemunho;
Brasil-ditadura 1964 a 1985;
Anistia\ Lei;
Rosalina Santa Cruz – coletividade;
Século XX – Consequências;
Nova cultura do testemunho;
Cunho testemunhal;
América Latina x Brasil;
Existência de um filme fundamental de testemunho da ditatura no Brasil – que bom te ver viva- de Lúcia Murat 1989;
 Projeto de entrevistas com ex-combatentes do Regime militar/2009;
O Livro A chave de Casa (2007) de Tatiana Salem Levy;
Comissão de Familiares de Mortos e de Desaparecidos Políticos;
Dossiê Ditadura mortos e de desaparecidos políticos 1964- 1985;
Ensaio de Jean-François Lyotard:
É característico da vítima não poder provar que ela sofreu um dano. Um sujeito que acusa [plaignant] é alguém que sofreu um prejuízo e dispõe de meios para prová-lo. Ele os perde, se por exemplo, o Autor do prejuízo acontece de ser diretamente ou indiretamente o seu juiz”.
Brasil- Busca de verdade e Justiça;
Testemunhas/tentativa de apresentação das provas;
O papel da mídia e dos agentes de opinião;
Cultura do esquecimento.
 Conceitos de memória, ficção e testemunho
O estudo de uma obra que se reporta ao período ditatorial representa, para a sociedade contemporânea, uma tentativa de resgate da memória;
 
 K relato de uma busca - Bernardo Kucinski
A obra escrita em 2014 apresenta k,imigrante judeu,militante político na Polônia pré-holocausto que se vê,em abril de 1974,diante da súbita ausência da filha;
Epígrafe de abertura:
"Tudo neste livro é invenção,mas quase tudo aconteceu".
Não associa a identidade entre narrador e autor(pacto autobiográfico),assim,não é possível saber se autor,narrador e personagem são a mesma pessoa;
Narrativa polifônica: Esta pluralidade de vozes não segue uma sequência cronológica pré-definida;
Pode ser considerado um narrador onisciente seletivo,uma vez que apresenta o ponto de vista de um ou vários personagens no momento presente,pela mente deles.
Há uma ausência de descrições,todo o espaćo parece ser atópico,ou seja,desconhecido e hostil;
Enredo desenvolve-se a partir do desaparecimento de uma professora universitária,durante a ditadura no Brasil;
A 1ª impressão relacionada ao protagonista e o fato de não ser nomeado.Do início ao fim,é identificado como k;
Nenhum personagem importante tem nome na obra,apenas militares - Sérgio Fleury,e personagens secundários,que são mencionados pelo primeiro nome ou apelido;
O público estava alheio ao que acontecia nesse período da história,como relata o narrador:
"lá fora segue a vida inalterada:senhoras vão às compras,operários trabalham, crianças brincam, mendigos suplicam, namorados namoram" 
(Kucinski,2014,p.24)
K é um personagem desesperado, dilacerado pela dúvida do paradeiro da filha e , pior ainda, pela dúvida se está viva ou não;
Nesse sentido, faz uma comparação entre a ditadura brasileira e o nazismo, uma vez que no último registravam-se os presos e mortos, pois esses tinham uma identificação:
" Até os nazistas que reduziam suas vítimas à cinzas registravam os mortos...os goim de cada lugar sabiam que os seus judeus estavam enterrados naquele buraco,sabiam quantos eram e quem era cada um. Não havia a agonia da incerteza, eram execuções em massa, não era um sumidouro de pessoas".(Kucinski,2014,p.23)
O protagonista na impossibilidade de fazer uma lápide para A,decide compor um pequeno livro de memórias,uma "lápide em forma de livro";
Sendo o testemunho da ditadura militar brasileira o principal pano de fundo da obra, não é uma surpresa o fato de determinadas indicações espaço-temporais serem comuns ao texto;
A ficção ancora-se no real, mas não necessariamente o representa. A partir do momento em que o foco se encontra no mundo interior dos personagens, os dramas narrados, muitas vezes relacionados diretamente ao momento histórico em que vivem, e seus efeitos para os personagens, são muito mais importantes que os acontecimentos propriamente ditos.
Através da literatura, problematiza-se a memória socialmente construída e,dessa forma,a ficção coloca-se a favor do social.Memória e ficção não se opõem,mas complementam-se.
ReferênciasBibliográficas
Seligmann-Silva, Márcio - O local do Testemunho- Tempo e argumento - Revista do Programa de Pós-graduação em História. Florianópolis, v. 2, n. 1, p. 3 – 20, jan. / jun. 2010.
Kucinski,Bernardo- K Relato de uma busca - Companhia das letras,São Paulo 2014.
MATHIAS, Marcello Duarte "Autobiografias e diários" / Marcello Duarte Mathias. In: Revista Colóquio/Letras. Ensaio, n.º 143/144, Jan. 1997, p. 41-62. Resumo · Assuntos · Registo completo
http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300940511_ARQUIVO_Anpuh2011-JucaraLeite.pdf LEITE JUÇARA LUZIA , Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011

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