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CONTEÚDO INTRODUÇÃO ������������������������������������������������������������������������ 5 Pré-História da Via Sacra................................................................ 7 O Papel das Indulgências .................................................................8 Começos da moderna Via Sacra.....................................................9 Primeiras Construções ...................................................................10 Por que Catorze Estações? ............................................................12 A Via Sacra em Jerusalém ...............................................................14 Definição das Cenas e sua Ordem .............................................. 15 Fixação e Oficialização.................................................................. 17 Regulamentos Modernos ...............................................................20 Conclusão .............................................................................................23 BREVE INSTRUÇÃO DE S� LEONARDO DE PORTO MAURÍCIO ��������������������25 EXERCÍCIO DA VIA SACRA ������������������������������������������31 Oração diante do altar-mor ........................................................ 31 1ª Estação: Jesus é condenado à morte por Pôncio Pilatos ........34 2ª Estação: Jesus recebe a pesada Cruz ..........................................37 3ª Estação: Jesus cai sob o peso da Cruz .......................................39 4ª Estação: Jesus encontra sua Mãe ...............................................41 5ª Estação: Simão, o cireneu, ajuda Jesus a carregar a Cruz ... 43 6ª Estação: Verônica enxuga o rosto de Jesus ...............................45 7ª Estação: Jesus cai pela segunda vez ............................................47 8ª Estação: Jesus consola as santas mulheres ...............................49 9ª Estação: Jesus cai pela terceira vez .............................................51 10ª Estação: Jesus é despojado de suas vestes ...............................53 11ª Estação: Jesus é pregado à Cruz ...............................................55 12ª Estação: Jesus morre sobre a Cruz ...........................................57 13ª Estação: Jesus é retirado da Cruz .............................................59 14ª Estação: Jesus é deposto no túmulo ..........................................61 Oração Final Solene .......................................................................62 STABAT MATER, TRADUÇÃO ��������������������������������������66 SALMOS PENITENCIAIS �������������������������������������������������69 Salmo 6: A alma penitente implora a misericórdia divina ......... 69 Salmo 31: Felicidade daquele que obteve o perdão ........................70 Salmo 37: Apelo do pecador para a misericórdia divina .............72 Salmo 50: David penitente .................................................................73 Salmo 101: Oração e esperanças de Israel infeliz .........................76 Salmo 129: Esperança e oração do pecador ....................................78 Salmo 142: Outra súplica no meio duma angústia ......................79 • 5 • INTRODUÇÃO A Via-Sacra, também chamada de Estações da Cruz, Via Crucis ou Via Dolorosa, é uma série de figu-ras ou encenações que representam determina- das cenas da Paixão de Cristo, cada uma correspondendo a um incidente particular, ou uma forma especial de devoção conectada com essas representações. No primeiro sentido, as vias-sacras podem ser de pedra, madeira, esculpidas, entalhadas ou podem ser sim- plesmente pinturas ou impressos. Algumas vias-sacras são valiosas obras de arte, como, por exemplo, aquelas na Catedral de Antuérpia, que já foram bastante copiadas. As diferentes estações são geralmente colocadas em interva- los entre as janelas de uma igreja, mas também podem ser encontradas ao ar livre, especialmente em caminhos que levam a uma igreja ou santuário. Em monastérios são fre- quentemente colocadas nos claustros. A construção e uso das Estações da Cruz não se tornou geral até o fim do séc. xvii, mas hoje são encon- tradas em quase qualquer igreja. Antigamente, seu número variava bastante de lugar para lugar, mas hoje está definido pela Igreja o número de catorze: • 6 • VIA SACRA i. Cristo é condenado à morte; ii. Cristo toma a Cruz; iii. Primeira queda; iv. Encontra sua Mãe; v. Simão de Cirene o ajuda a carregar a Cruz; vi. Seu rosto é enxugado por Verônica; vii. Segunda queda; viii. Encontra as mulheres de Jerusalém; ix. Terceira queda; x. É despojado de suas vestes; xi. É crucificado; xii. Morre na Cruz; xiii. Seu corpo é descido da Cruz e xiv. É colocado no túmulo. O objetivo das vias-sacras é ajudar os fiéis a fazer em espírito, por assim dizer, uma peregrinação às principais cenas dos sofrimentos e morte de Cristo, o que veio a se tornar uma devoção das mais populares. Esse exercício de piedade é feito passando de estação em estação, com certas orações e uma meditação em cada uma. Quando é feito em público, é comum que se cante uma estrofe da Sequência Stabat Mater ao se passar de uma estação para outra. [Nesta edição incluímos também o hino A morrer crucificado, muito popular no Brasil.] • 7 • VIA SACRA PRÉ-HISTÓRIA DA VIA-SACRA V isto que a Via-Sacra, realizada dessa forma, constitui uma peregrinação em miniatura aos locais sagrados em Jerusalém, a origem remota dessa devoção pode ser tra- çada até a Terra Santa. A Via Dolorosa em Jerusalém (apesar de não ser chamada assim antes do séc. xvi) foi reverente- mente sinalizada desde os tempos mais antigos e foi destino de numerosos peregrinos desde os tempos de Constantino. A tradição nos informa que a Santíssima Virgem visitava diariamente as cenas da Paixão de Cristo1 e S. Jerônimo fala de multidões de peregrinos de todos os países que visi- tavam diariamente os locais sagrados no seu tempo. Não há, entretanto, evidência direta da existência de qualquer forma estabelecida da devoção em data tão remota. É digno de nota que S. Sílvia (c. 380) não diz nada a respeito na sua obra Peregrinatio ad loca sancta (Peregrina- ção aos lugares santos), apesar de descrever em detalhes muitos outros exercícios de piedade que presenciara em Jerusalém. 1. Adricômio, também chamado Christianus Crucius Adrichomius (1533 - 1585), na Descrição de Jerusalém, n. 118, atribui o princípio da Via-Sacra à Santíssima Virgem, nestas palavras: "A piedosa tradição dos grandes afirma que a Santíssima Virgem, que seguiu com seus passos os atormentados passos de seu Filho até a Cruz, depois de te-lo sepultado, voltou ao caminho do Cal- vário, sendo a primeira, que por devoção, percorreu a Via Crucis." Vide também as revelações a Santa Brígida, Livro 6. Revel. c. 6. • 8 • VIA SACRA Um desejo de reproduzir os lugares santos em outras terras para satisfazer a devoção daqueles que não podiam fazer a verdadeira peregrinação, parece ter se manifestado bastante cedo. No monastério de S. Stefano, em Bolonha, Itália, um grupo de capelas conectadas foram construídas, pelo menos em parte, ainda no séc. v por S. Petrônio, bispo de Bolonha, com o intuito de reproduzir os santuários mais importantes de Jerusalém. Por isso, o monastério ficou conhecido como Hierusalem. Essas capelas podem ser consideradas o germe a partir do qual as Estações da Cruz mais tarde se desenvol- veram, apesar de ser bastante certo que nada do que conhe- cemos que seja anterior ao séc. xv possa ser chamado de Via-Sacra no sentido moderno. É verdade que muitos via- jantes que visitaram a Terra Santa durante os séculos xii, xiii e xiv mencionaram uma Via-Sacra, isto é, uma rota fixa ao longo da qual os peregrinos eram conduzidos. Mas não há nada nos seus relatos que possa ser identificado com a Via-Sacra como nós a entendemos hoje, incluindo lugares específicos de parada com indulgências atreladas. O PAPEL DAS INDULGÊNCIAS N a verdade, são justamente essas estações com indul-gências atreladas que devem ser consideradascomo a verdadeira origem da devoção que praticamos hoje. Não • 9 • VIA SACRA é possível afirmar com certeza quando essas indulgências começaram a ser concedidas, mas o mais provável é que se devam aos franciscanos, aos quais a custódia dos lugares santos foi confiada, em 1342. Lucius Ferraris, um canonista italiano do séc. xviii, menciona as seguintes estações com indulgências atreladas: • o lugar onde Cristo encontrou sua Mãe, • onde Ele falou com as mulheres de Jerusalém, • onde Ele encontrou Simão de Cirene, • onde os soldados sortearam suas vestes, • onde Ele foi pregado à Cruz, • a casa de Pilatos e • o Santo Sepulcro. Analogamente pode-se mencionar que em 1520 o papa Leão X concedeu indulgência de cem anos para cada uma das estações de um conjunto de esculturas represen- tando as sete dores de Nossa Senhora, no cemitério de um mosteiro franciscano em Antuérpia, Flandres. A devoção atrelada a ele se tornou muito popular. COMEÇOS DA MODERNA VIA-SACRA O uso mais antigo da expressão estações, aplicado aos locais de parada costumeiros de Jerusalém, ocorre na narrativa de um peregrino inglês, William Wey, que visitou • 10 • VIA SACRA a Terra Santa em 1458, e novamente em 1462. Ele descreve como era habitual à época seguir as pegadas de Cristo na sua dolorosa jornada. Parece que, até aquele tempo, a prá- tica geral tinha sido começar no monte Calvário, prosse- guindo, assim, na direção contrária da de Cristo, até a casa de Pilatos. Pelo começo do séc. xvi, no entanto, a forma razoável de percorrer o trajeto, começando na casa de Pila- tos e terminando no Calvário, passou a ser considerada a mais correta, e passou a ser considerada um exercício de devoção completo em si mesmo. PRIMEIRAS CONSTRUÇÕES D urante os séculos xv e xvi muitas reproduções dos lugares santos foram montadas em diversas partes da Europa. O Beato Alvarez (†1420), ao retornar da Terra Santa, construiu uma série de pequenas capelas no mosteiro dominicano de Córdoba, Andaluzia, em que foram pintadas as principais cenas da Paixão, seguindo o padrão das esta- ções separadas. Na mesma época, a beata Eustáquia, uma pobre cla- rissa, construiu um conjunto de estações no seu convento em Messina, Sicília. Outros exemplos que podem ser citados são os de Görlitz, na Saxônia, construído por G. Emmerich, em cerca de 1465, e em Nuremberg, na Baviera, por Ketzel, em 1468. Imitações destes foram feitas em • 11 • VIA SACRA Lovaina, Bélgica, em 1505, por Peter Sterckx; na igreja de S. Getreu [Santa Fé] em Bamberg, Saxônia, em 1507; em Friburgo, Suíça, e Rodes, Grécia, em torno da mesma data - estas duas últimas sendo encomendas dos Cavaleiros de Rodes [a Ordem de Malta]. As de Nuremberg, que foram esculpidas por Adam Krafft, assim como algumas das outras, consistiam em sete estações, popularmente chamadas de as Sete Quedas, porque em cada uma delas Cristo era representado pros- trando-se ou caindo sob o peso da Cruz. Um conjunto famoso de estações foi erigido em 1515 pelo comerciante de tecidos Romanet Bofin na atual Romans-sur-Isère, França, imitando os que vira em Fri- burgo. Um conjunto similar foi erigido em 1491, em Varallo Sesia, Piemonte2, por iniciativa do franciscano beato Ber- nardino Caimi, que havia sido guardião dos lugares santos em Jerusalém. Em muitos destes exemplos mais antigos um esforço foi feito para não meramente duplicar os pontos mais famosos da Via Dolorosa de Jerusalém, mas também repro- duzir os exatos intervalos entre eles, medidos em passos, de forma a permitir que os devotos cobrissem exatamente 2. O monumental complexo de capelas e jardins Sacro Monte di Varallo, junto com outros oito complexos similares (Sacri Monti) no Pie- monte e na Lombardia, foram inscritos como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO (http://whc.unesco.org/en/list/1068). Site oficial: https://sacro- montedivarallo.com/. http://whc.unesco.org/en/list/1068 https://sacromontedivarallo.com/ https://sacromontedivarallo.com/ • 12 • VIA SACRA as mesmas distâncias que cobririam se estivessem em Jeru- salém. Boffin e alguns dos demais visitaram Jerusalém com o intuito expresso de obter medidas precisas, mas, infeliz- mente, apesar de todos afirmarem estar corretos, há uma enorme divergência entre eles. POR QUE CATORZE ESTAÇÕES? C om relação ao número de estações, não é simples deter-minar como vieram a ser fixadas em catorze, pois esse número parece ter variado consideravelmente em diferentes tempos e lugares. E, naturalmente, com números diferentes, as cenas da Paixão também variavam grandemente. O relato de Wey, escrito em meados do séc. xv, traz catorze estações, mas das quais somente cinco correspon- dem às atuais, e, das demais, apenas sete se conectam de alguma forma com a nossa Via-Sacra: • a casa do homem rico, • o portão da cidade pelo qual Cristo passou, • a piscina de Siloé [cf. Jo 9], • o arco do Ecce homo [Eis o homem], • a casa de Nossa Senhora, • a casa de Herodes e • a casa de Simão, o fariseu. • 13 • VIA SACRA Quando Romanet Boffin visitou Jerusalém em 1515 com o fim de obter detalhes para o seu conjunto de esta- ções em Romans, dois frades lhe disseram que deveriam haver trinta e uma estações no total. Mas, nos manuais de devoção publicados mais tarde para uso dos visitantes apresentam ora dezenove, vinte e cinco ou trinta e sete estações - o que leva a crer que mesmo em um mesmo local o número de estações não era muito bem determinado. Um livro chamado Jerusalem sicut Christi tempore flo- ruit [Jerusalém nos tempos de Cristo], escrito pelo cientista holandês Andricômio e publicado em 1584, apresenta 12 estações que correspondem exatamente às primeiras doze da nossa Via-Sacra. Essa evidência parece apontar decisi- vamente para a origem da seleção de estações mais tarde autorizada pela Igreja, especialmente por esse livro ter tido grande circulação e ter sido traduzido em diversas línguas europeias. Se essa hipótese procede ou não, é difícil afirmar com certeza. Em todo caso, durante o séc. xvi muitos manuais de devoção foram publicados nos Países Baixos apresen- tando orações para cada uma das estações, e algumas das nossas catorze estações aparecem pela primeira vez. • 14 • VIA SACRA A VIA-SACRA EM JERUSALÉM E nquanto isso era feito na Europa para benefício daque-les que não podiam visitar a Terra Santa, mas podiam ir a Lovaina, Nuremberg ou Romans, ou algumas das outras reproduções da Via Dolorosa, parece duvidoso que houvesse qualquer forma fixa da devoção realizada publicamente em Jerusalém, mesmo no fim do séc. xvi. Giovanni Zuallardo, um cavaleiro do Santo Sepul- cro que escreveu um livro a respeito3, publicado em Roma em 1587, apesar de apresentar por completo uma série de orações, etc., para os santuários dentro do Santo Sepul- cro, que estavam sob a guarda dos franciscanos, não apre- senta nenhuma para a estações da Via-Sacra. Ele explica o motivo: não é permitido fazer qualquer parada, nem fazer qualquer reverência às estações com a cabeça descoberta, nem fazer qualquer outra demonstração. Disso se infere que após Jerusalém passar para o domínio dos turcos otomanos, em 1517, os piedosos exercícios da Via-Sacra podiam ser feitos muito mais devotamente em Nuremberg ou Lovaina do que na própria Jerusalém. Pode ser conjecturado, com muita probabilidade, que a nossa atual lista de estações, juntamente com as suas costumeiras orações, chegou até nós não vinda de Jerusa- lém, mas de alguma imitação da Via Dolorosa em alguma 3. Il devotissimo Viaggio di Gierusalemme, fatto e descritto in sei libri. • 15 • VIA SACRA parte da Europa. E também, que devemos a propagação dessa devoção, assim como o número e seleção das esta- ções, muito mais ao engenho de alguns devotos escritores do séc. xvi do que à prática real dos peregrinos na Terra Santa. DEFINIÇÃO DAS CENAS E SUA ORDEM C om relação às cenas em particular que foram retidas na nossa série de estações, pode ser notado que quasenenhum relato medieval faz menção da segunda estação (Cristo recebe a Cruz) ou da décima (Cristo é despojado de suas vestes), enquanto outras cenas que aparecem em quase todas as listas acabaram por ficar de fora. Uma das mais fre- quentes desse grupo é a estação nos arcos do Ecce homo, a varanda da qual essas palavras foram pronunciadas. Adi- ções e omissões como essas confirmam a suposição de que as nossas estações são derivadas dos manuais de devoção e não de Jerusalém. Três quedas de Cristo (terceira, sétima e nona estações) são aparentemente tudo o que restou das Sete Quedas, conforme representadas em Nuremberg por Krafft e seus imitadores4, nas quais Cristo é sempre representado caindo ou tendo já de fato caído. Uma explicação para isso 4. Veja fotos em https://de.wikipedia.org/wiki/Nürnberger_Kreu- zweg (em alemão). https://de.wikipedia.org/wiki/Nürnberger_Kreuzweg https://de.wikipedia.org/wiki/Nürnberger_Kreuzweg • 16 • VIA SACRA é que as outras quatro quedas coincidem com os encontros de Cristo com sua Mãe, Simão de Cirene, Verônica e as mulheres de Jerusalém, e que nessas estações a menção das quedas acabou ficando de fora, enquanto que nas outras três sobreviveram por não haver mais nenhum fato para distingui-las. Alguns escritores medievais apresentam como simultâneos o encontro com Simão e com as mulheres de Jerusalém, mas a maioria os apresenta como eventos sepa- rados. O incidente com Verônica não aparece em muitos dos relatos mais antigos, enquanto que na maioria dos que o mencionam, o colocam imediatamente antes da chegada ao monte Calvário, em vez de mais cedo na jornada, como no nosso arranjo atual. Uma variação interessante é encon- trada em um conjunto especial de onze estações encomen- das em 1799 para uso na diocese de Viena: • a agonia no Jardim • a traição por Judas • a flagelação • a coroação de espinhos; • a condenação à morte; • o encontro com Simão de Cirene; • as mulheres de Jerusalém; • prova o fel; • é pregado à Cruz; • morte na Cruz e • Seu corpo é descido da Cruz. • 17 • VIA SACRA Percebe-se que apenas cinco destas correspondem exatamente às nossas estações. As outras, apesar de englo- barem eventos importantes da Paixão, não são incidentes da Via Dolorosa propriamente. Outra variação que ocorre em diferentes igrejas se relaciona ao lado da igreja em que começam as estações. O lado do Evangelho é talvez o mais usual. Em resposta a uma pergunta, a Sagrada Congregação das Indulgências disse, em 1837, que apesar de nada ter sido definido nesse ponto, começar do lado do Evangelho [o lado direito dos fiéis] parecia mais apropriado. Ao decidir a questão, no entanto, o arranjo e formato da igreja poderiam fazer com que fosse mais conveniente começar do lado oposto. A posição das figuras nos qua- dros, também, poderiam por vezes determinar a direção da rota, pois parece mais conforme o espírito da devoção que a procissão, ao passar de estação a estação, deva seguir Cristo, e não encontrar-se com Ele. FIXAÇÃO E OFICIALIZAÇÃO A construção de Estações da Cruz nas igrejas não se tornou comum até o final do séc. xvii, e a populari- dade da prática parece ter se dado principalmente por causa das indulgências atreladas. O costume originou-se com os • 18 • VIA SACRA franciscanos, mas a sua conexão especial com essa ordem agora já desapareceu. Já foi dito que numerosas indulgências foram atre- ladas aos lugares santos em Jerusalém. Percebendo que poucas pessoas, comparativamente, podiam ganhar essas indulgências através de uma peregrinação pessoal à Terra Santa, o papa Inocêncio xi, em 1686, concedeu aos fran- ciscanos, em resposta a um pedido, o direito de erigir as estações em todas as suas igrejas. Declarou ainda que todas as indulgências que foram alguma vez concedidas para quem visitasse com devoção as cenas da Paixão de Cristo, poderiam ser ganhas pelos franciscanos e todos os ligados a essa ordem se fizessem a Via-Sacra nas suas próprias igrejas da maneira costumeira. O papa Inocêncio xii confirmou esse privilégio em 1694 e Bento xiii o estendeu a todos os fiéis em 1726. Em 1731, o Papa Clemente xii fixa definitivamente o número de estações em catorze, e permite a sua colo- cação em todas as igrejas. Bento xvi, em 1742, exortou todos os padres a enriquecerem as suas igrejas com "tão grande tesouro", de forma que hoje há poucas igrejas que não tenham a Via-Sacra. Em 1857 os bispos da Inglaterra receberam da Santa Sé a faculdade de erigirem as estações eles próprios, com as indulgências atreladas, onde quer que não houvesse franciscanos disponíveis. Em 1862 essa última restrição foi removida e os bispos passaram a poder • 19 • VIA SACRA erigir as estações, seja pessoalmente, seja por delegados, em qualquer lugar dentro da sua jurisdição, independente da presença ou não de franciscanos na diocese. Essas faculdades são quinquenais. Há alguma incerteza sobre quais seriam precisamente as indulgências atreladas às estações. Ninguém discorda de que todas as indulgências já concedidas aos fiéis que visitassem pessoalmente os lugares santos podem agora ser ganhas fazendo a Via-Sacra em qualquer igreja em que as estações tenham sido erigidas legalmente. Mas a Instrução da Sagrada Congregação, aprovada por Clemente xii, em 1731, proíbe padres e qualquer um de especificar quais ou quantas indulgências podem ser ganhas5. Em 1773, Clemente xiv atrelou a mesma indulgência, sob certas condições, a crucifixos devidamente bentos para o propósito, para uso dos doentes, daqueles no mar ou na prisão, e outros legalmente impedidos de percorrerem as estações numa igreja. As condições são que, enquanto se segura o crucifixo nas mãos, deve-se dizer o Pai nosso e a 5. Sobre isso comenta S. Leonardo de Porto Maurício na sua Via Crucis Explicada: "E com razão e suma prudência fez essa disposição, porque tendo ocorrido um incêndio no Santo Sepulcro no tempo de S. Pio v, fica- ram reduzidas a cinzas as tabuinhas que davam a notícia certa e autêntica das indulgências. Assim, sem prejuízo da verdade, não se pode assegurar o número certo e determinado das indulgências. Basta saber que são muitas e grandes. E ainda que para ti mesmo não possas ganhar mais que uma indulgência ple- nária ao dia, é certíssimo que, aplicando as demais pelas benditas almas do Purgatório todas as vezes que praticares esse santo exercício, podes esperar que sejam retiradas muitas almas daquelas chamas." Traduzido da edição espa- nhola. Madrid, 1758. • 20 • VIA SACRA Ave Maria catorze vezes, e então Pai nosso, Ave Maria e Glória cinco vezes, e então uma última vez pelas intenções do Papa. Se uma pessoa segurar o crucifixo, os demais presentes também podem ganhar as indulgências desde que também cumpram as demais condições. Tais crucifixos não podem ser vendidos, emprestados, ou doados, sem que se percam as indulgências. REGULAMENTOS MODERNOS S eguem os principais regulamentos atualmente em vigor [em 1912] para a Igreja universal com relação às Estações: • Se um pároco ou superior de convento, hospi- tal, etc., gostaria de ter as estações erigidas nos seus locais, deve pedir permissão ao bispo. Se houver padres franciscanos na mesma cidade, o seu superior deve ser solicitado para abençoar as estações ou delegar um padre de seu próprio mosteiro ou um padre secular. Caso não haja padres franciscanos, os bispos que receberam da Santa Sé a dispensa de empregar francisca- nos podem delegar qualquer padre para erigir as estações, o que deve necessariamente ser feito por escrito. O pároco da igreja, ou superior do hospital, convento, etc., deve assinar o docu- • 21 • VIA SACRA mento enviado pelo bispo ou superior francis- cano, de forma a deixar expresso seu consen- timento para a instauração das estações, pois o consentimento do bispo e do respectivo pároco ou superior deve ser obtido antes que as esta- ções sejam abençoadas. Do contrário, a bênção será nula e ineficaz; • Figurase representações das várias estações não são necessárias. A indulgência é atrelada à cruz colocada sobre cada uma delas. Essas cruzes devem ser de madeira, [como a Cruz do Salvador]. Nenhum outro material é permitido. Se forem apenas pintadas na parede a instaura- ção das estações é nula (Cong. Ind., 1837, 1838 e 1845); • Se as cruzes forem movidas para uma reforma, para colocar as estações numa posição mais con- veniente, ou por qualquer outro motivo razoá- vel, isso pode ser feito sem perda das indulgên- cias (1845); • 22 • VIA SACRA • Se qualquer uma das cruzes, por alguma razão, tiver que ser trocada, não é necessário ou nova bênção, a não ser que mais da metade delas seja trocada (1839); • Deve haver, se possível, uma meditação sepa- rada em cada uma das catorze estações da Via Crucis, e não uma meditação geral sobre a Paixão, nem sobre outros incidentes não incluí- dos na Via-Sacra. Nenhuma oração em particu- lar é obrigatória; • Não se exige nenhuma distância específica entre as estações. Mesmo quando só o clero se move entre as estações, os fiéis ainda podem ganhar a indulgência sem se moverem; • É necessário fazer todas as estações ininterrup- tamente (sci, 22 de janeiro de 1858). Assistir missa, confessar-se ou comungar entre as esta- ções não é considerado interrupção. É comum a opinião de que seria possível fazer a Via-Sacra mais de uma vez no mesmo dia, e a indulgên- cia ganha mais de uma vez. Mas isso não é de forma alguma algo certo (sci, 10 de setembro de 1883). Confissão e comunhão no mesmo dia de feita a Via-Sacra não são necessárias, desde que • 23 • VIA SACRA a pessoa esteja em estado de graça; • De ordinário as estações devem ser erigidas dentro de uma igreja ou oratório público. Se a Via-Sacra se estende ao ar livre, como num cemitério ou claustro, deve, se possível, começar e terminar dentro de uma igreja. CONCLUSÃO P ode-se dizer que não há devoção mais ricamente agra-ciada com indulgências do que a Via-Sacra, e nenhuma que mais de perto nos permite seguir o convite de Cristo de tomarmos nossas cruzes e segui-Lo. Um exame das orações geralmente dadas para esta devoção em qualquer manual mostrará que, além das indulgências, abundantes graças espirituais podem ser obtidas através da sua prática correta. E o fato da Via-Sacra poder ser feita tanto publicamente como privadamente a torna conveniente para todos. Uma das vias-sacras mais popularem hoje em dia é aquela que é realizada todas as sextas feiras no Coliseu de Roma por uma padre franciscano. A Via-Sacra do Coli- seu foi erigida pelo papa Bento xiv para o jubileu de 1750, a pedido de S. Leonardo de Porto Maurício (1676 - 1751), franciscano e um dos maiores defensores do exercício da Via-Sacra. • 24 • VIA SACRA Desde o grande terremoto de 1349, o lado ociden- tal do Coliseu, que desabara, vinha sendo usado como pedreira pelos romanos. A crença de que muitos mártires cristãos teriam sido mortos naquela arena (é normalmente muito difícil precisar os locais de martírio), compartilhada por cardeais influentes e até S. Pio V (1504 - 1572), ajudou a motivar Bento xiv a proibir a prática. A construção daquela via sacra foi um ponto de virada na tendência de degradação do Coliseu, inscreven- do-o na lista dos lugares importantes da Igreja, chegando até a ser tido como santuário. Aquela primeira via-sacra de 1750 também foi o primeiro rito cristão celebrado no antigo Anfiteatro Flaviano. Apesar daquela via-sacra ter sido removida em 1874, desde aquele ano, essa piedosa tra- dição se mantém ininterruptamente e toda a Sexta-Feira Santa o papa faz pessoalmente o rito penitencial. Alston, G.C. (1912). Way of the Cross. In The Catho- lic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. Em New Advent: http://www.newadvent.org/cathen/15569a.htm, acessado em 13 de março de 2021. Tradução nossa, com pequenos acréscimos. Aprovação eclesiástica do original: Nihil Obstat. 1º de outubro de 1912. Remy Lafort, S.T.D., Censor. Imprimatur. † Cardeal John Farley, Arcebispo de Nova York. http://www.newadvent.org/cathen/15569a.htm • 25 • BREVE INSTRUÇÃO DE S. LEONARDO DE PORTO MAURÍCIO O Sacrossanto exercício da Via-Sacra, que na rea-lidade não é outra coisa que uma representação devota daquela viagem dolorosa que fez o amo- roso Jesus, desde a casa de Pilatos até o Calvário, foi sempre venerado pela piedade cristã. Cabe chamá-lo, também, de Via Dolorosa, porque uma viagem tão penosa, na reflexão dos contemplativos, foi o martírio mais atroz que sofreu aquela Sacrossanta Humanidade, já destroçada com tantas penas anteriores. De forma que, praticar a Via-Sacra é o mesmo que contemplar com ternura de coração todas aque- las violências e dores que, desde a casa de Pilatos até o Cal- vário, sofreu debaixo da Cruz o nosso amantíssimo Jesus. O fato de ter sido, segundo a opinião de muitos autores, a Santíssima Virgem a primeira a percorrer devo- tamente a Via-Sacra, deveria ser por si só motivo sufi- ciente para as almas devotas se aferrarem a esse exercício. Conforme a mesma Senhora revelou a Santa Brígida: “Em todo o tempo, depois da Ascenção de meu Filho, visitei os • 26 • VIA SACRA lugares nos quais padeceu e manifestou suas maravilhas” (Livro 6, revel. C.6). Vê-se aqui o engano daqueles que se furtam desse santo exercício, e, colocando em dúvida o ganho das indul- gências, se abstém de o praticar. Como se uma devoção tão bela (que é também a mais antiga, mais piedosa e mais excelente de todas) não contivesse em si mesma o mais nobre motivo para excitar o coração à dolorosa Paixão do Redentor. O motivo de ganhar as indulgências sem dúvida é santíssimo. Mas não é esse o motivo mais doce para mover as pessoas de maior talento, juízo, e que preferem um pouco mais de graça a muitas indulgências. O motivo mais sólido e santo deve ser o gosto que esse exercício dá ao Coração Dulcíssimo de Jesus. Conforme manifestou a um servo de Deus, que, desejando saber qual seria o exercício mais estimado de sua Majestade, apareceu-lhe o Redentor com a Cruz aos ombros dizendo: “Meu filho, não podes me fazer gentileza maior do que me ajudar a levar esta minha amada Cruz. Pratica muitas vezes a Via-Sacra e saiba que darás grande consolo ao meu Divino Coração.” Eis porque tantos santos e doutores exaltam até as estrelas esse santo exercício. São Boaventura diz: “Não há exercício de piedade que ocasione efeitos mais nobres de santidade do que a devota memória da Paixão do Reden- tor (que é o único fim do exercício da Via-Sacra), pois faz • 27 • VIA SACRA o homem não somente angélico, senão divino. Portanto, o que deseja retirar-se dos vícios, adquirir as santas vir- tudes, e subir rapidamente à perfeição, agarre-se a este santo exercício, e logo experimentará maravilhosos efeitos em seu coração. O próprio beato Alberto Magno chegou a dizer “que se merece mais com um só pensamento na Paixão de Cristo, do que jejuar todas as sextas-feiras do ano a pão e água, que disciplinar-se muitas vezes até san- grar, que rezar todo o Saltério e andar descalço até San- tiago de Compostela.” Esse é o principal motivo pelo qual quero que todos abracem este santo exercício. Não são as indulgências. Porque todas as indulgências do mundo, enquanto tais, não aumentam a graça ou a preferência aos olhos de Deus, nem preparam maior glória no Céu – somente abreviam as penas no Purgatório. O efeito mais precioso, que se deve preferir a qualquer outro, é o sumo gosto que se dá ao Altíssimo, o mérito incomparável que se adquire, e as grandes graças que por meio dele vêm a nossas almas. Um pároco bondoso costumava dizer: “Desde que tenho na minha paróquia a Via-Sacra, vejo melhorados os costumes do meu povo”. E eu digo que, tendo ido à missão a uma localidade entre os alpes, encontrei um povoado santo. Porque aquela pobre gente praticava todos os dias a Via-Sacra. No inverno, pela manhã, antes de ir ao campo; no verão, pela tarde, assimque voltavam do campo. Iam • 28 • VIA SACRA visitar a Via-Sacra, e em cada cruz faziam promessa de não cometer culpa mortal, e mantinham, com admiração mara- vilhosa, esse propósito tão santo. Bem aventurado, pois, o que se propõe a fazer em si mesmo a experiência, pois verá em pouco tempo seu coração mudado em outro bem diferente. Não creias, tampouco, que esta devoção tão santa não seja de grande utilidade também temporal. Pois quanto a isso proponho em primeiro lugar aquilo que se lê na vida da Venerável Irmã Maria, a Antiga, livro 2, cap. 6. Eis que um dia nosso Senhor lhe falou assim: “Sabe, filha, que por uma só alma que pratique devotamente a Via-Sacra, Eu protegerei a todo aquele povoado que honra desta forma a memória da Minha Paixão Santíssima, e será livre de muitos e grandes perigos, tanto temporais como espiritu- ais.” Como prova disso, escreve um pároco digno de grande fé que todas as vezes que precisou de água para a secura dos campos da sua paróquia, ao fazer com o povo o exer- cício da Via-Sacra, sempre a conseguiu, como ocorreu no ano de 1745 em 15 de julho, e no ano seguinte, 1746. No mesmo ano aconteceu a outros povoados que experimen- tavam a mesma dificuldade. Agora veja se não é mais que verdadeiro que o exer- cício da Via-Sacra é um mineral precioso, de onde saem muitos bens, ainda que temporais: experimente-o nas tuas enfermidade, desastres e semelhantes infortúnios. Procure • 29 • VIA SACRA também que outros o pratiquem por ti e encontrareis um grande alívio. Reflita cada um sobre tão grande utilidade, e resolva escolher este santo exercício como a sua mais amada devoção. E procure induzir também a outros a que sejam participantes de tão grande bem. • • • O exercício da Via Sacra que apresentamos a seguir foi extraído do Missal Quotidiano e Vesperal de D. Gaspar Lefebvre, edição de 1940, páginas 1916 e seguintes. • 31 • EXERCÍCIO DA VIA-SACRA O s Soberanos Pontífices ligaram a este exercício todas as indulgências concedidas aos que percor-rem a Via dolorosa, em Jerusalém. Para ganhá-las é necessário: 1. Percorrer realmente cada uma das estações1, a menos que a grande multidão não o permita. 2. Meditar, cada qual segundo a sua capacidade, a paixão do Salvador. ORAÇÃO DIANTE DO ALTAR-MOR E m união com Maria, a Mãe das dores, vamos, ó Jesus, percorrer o caminho doloroso por onde passastes para consumar a nossa redenção no Calvário. Oxalá esta medi- tação dos principais mistérios de vossa paixão, nos encha o coração de compunção por nossos pecados e reconheci- mento pelo vosso grande amor para conosco. 1. As imagens dos 14 diferentes mistérios são muito úteis, mas não são absolutamente necessárias. Bastam cruzes de madeira marcando as 14 esta- ções. Porém, essas, são absolutamente exigidas. • 32 • Dirigindo-se à 1ª estação, recita-se ou canta-se: Ou • 34 • 1ª ESTAÇÃO Jesus é condenado à morte por Pôncio Pilatos Antes de cada estação diz-se, de joelhos: V/. Nós vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos. R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo. S e livras a Jesus, clamam os judeus, "não és amigo de César: pois todo aquele que se faz rei, eleva-se contra César". Vendo Pilatos que não ganhava coisa alguma e que o tumulto ia crescendo, manda buscar água e, lavando as mãos diante do povo, diz: "Sou inocente do sangue deste justo. Vós respondereis por ele." Vocifera todo o povo: "Caia o seu sangue sobre nós e sobre nossos filhos!" Então, Pilatos lhes abandonou Jesus para ser crucificado. Fazei-me, ó divino Salvador, detestar o pecado que vos condena em meu lugar. Depois de cada estação se diz: • 35 • Pater noster... / Pai nosso... Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai... Senhor, Tende piedade de nós. R/. Senhor, tende piedade. As almas dos fieis, pela misericórdia de Deus, des- cansem em paz. R/. Amém. 2. Com a cruz é carregado E do peso acabrunhado Vai morrer por teu amor (2x) Pela Virgem dolorosa... Ou • 37 • 2ª ESTAÇÃO Jesus recebe a pesada Cruz Adorámus te.../Nós Vos adoramos... D epois de haver ainda zombado de Jesus, os soldados o arrastam para fora da cidade, para crucificá-lo. Jesus, carregando a cruz, põe-se a caminho para o lugar chamado Calvário. É para me livrar que ele carrega a sua cruz. Prece- de-o um lictor levando a inscrição indicadora da causa do suplício: Jesus Nazareno, rei dos judeus. “Regnavit a ligno Deus.” Por vossa morte na cruz, tornastes-vos, ó Jesus, o rei de nossas almas. Pater noster... / Pai nosso... Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai... Miserére... /Tende misericórdia... 3. Pela cruz tão oprimido Cai Jesus desfalecido Pela tua salvação (2x) Pela Virgem dolorosa... Ou • 39 • 3ª ESTAÇÃO Jesus cai sob o peso da Cruz Adorámus te.../Nós Vos adoramos... N o estado a que o reduziram a agonia no jardim das Oliveiras, os maus tratos da noite na casa dos sumos sacerdotes e, principalmente, a flagelação e a coroação de espinhos, Jesus se acha exausto. A própria cruz é um peso superior às suas energias físicas. Seu corpo verga sob o fardo, extenuado, a desfalecer. Jesus sucumbe mais pelo peso dos nossos pecados do que pelo da cruz. Em minhas fraquezas, reerguei-me, Senhor. Pater noster... / Pai nosso... Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai... Miserére... /Tende misericórdia... 4. De Maria lacrimosa Sua mãe tão dolorosa Vê a imensa compaixão (2x) Pela Virgem dolorosa... ou • 41 • 4ª ESTAÇÃO Jesus encontra sua Mãe Adorámus te.../Nós Vos adoramos... M aria, diz uma antiga tradição, achava-se à passagem do cortejo, presa de profundo sofrimento. Cons- truiu-se nesse lugar uma igreja chamada do Espasmo, em lembrança da imensa dor sofrida pela mais amável das mães, ao ver em tal estado o mais amado dos filhos. Uma espada, diz a liturgia, traspassou a alma de Maria, que gemeu abis- mada em pena e desolação. Que homem poderia conter as lágrimas, vendo a Mãe do Cristo em tal suplício? Nossos pecados são a causa dessa dor. Ó Maria, obtende-nos a graça de detestai-os. Pater noster... / Pai nosso... Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai... Miserére... /Tende misericórdia... 5. No caminho do Calvário, Um auxílio necessário Não lhe nega o cireneu (2x) Pela Virgem dolorosa... • 43 • 5ª ESTAÇÃO Simão, o cireneu, ajuda Jesus a carregar a Cruz Adorámus te.../Nós Vos adoramos... A extrema fadiga de Jesus fazia recear que Ele não pudesse chegar ao lugar da execução. Ao sair da cidade os soldados encontraram um certo Simão de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo, o qual voltava de sua granja. Requi- sitaram-no brutalmente e lhe puseram a cruz aos ombros, constrangendo-o a levá-la atrás do Salvador. Designando-o como pai de dois cristãos, conhecidos dos primeiros fiéis, São Marcos faz compreender que Deus o abençoou em seus filhos. Para nós lambem virão graças da cruz de Jesus. Fazei- -me, Senhor, levai-a, seguindo-vos, em expiação de minhas faltas. Pater noster... / Pai nosso... Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai... Miserére... /Tende misericórdia... 6. O seu rosto ensanguentado Por Verônica enxugado Eis no pano apareceu (2x) Pela Virgem dolorosa... • 45 • 6ª ESTAÇÃO Verônica enxuga o rosto de Jesus Adorámus te.../Nós Vos adoramos... A o passar o cortejo, uma mulher, conta piedosa tradi-ção, rompe a multidão. Aproxima-se rapidamente do Salvador e, com o seu véu, enxuga-lhe caridosamente o rosto. Em reconhecimento por essa corajosa gentileza, Jesus deixa a sua Santa Face impressa no véu da Verônica, vene- rada há tantos séculos, pela piedade cristã, como tipo das nobres e santas ousadias. Dai-me, Senhor, a coragem de vencer sempre o respeito humano e imprimir no íntimo de minha alma os traços do Homem das dores, a fim de asseme- lhar-me a Ele por meus sofrimentos. Pater noster... / Pai nosso... | Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai...| Miserére... /Tende misericórdia... 7. Outra vez desfalecido Pelo peso abatido Cai por terra o Salvador (2x) Pela Virgem dolorosa... Ou • 47 • 7ª ESTAÇÃO Jesus cai pela segunda vez Adorámus te.../Nós Vos adoramos... D esde a 6ª Estação, o caminho sobe por um declive bas-tante íngreme. A marcha fora penosa nas ruas escor- regadias e estreitas de Jerusalém. Na extrema fraqueza de Jesus, o calor do meio-dia, a subida, os embaraços do cami- nho, as brutalidades dos soldados, as zombarias dos judeus e, sobretudo, o peso da cruz, explicam a segunda queda do Salvador. É ao peso esmagador dos pecados, sempre repe- tidos por mim, que Jesus torna a cair. Oxalá me levante Ele sempre de novo. Pater noster... / Pai nosso... Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai... Miserére... /Tende misericórdia... 8. Das matronas piedosas, De Sião, filhas chorosas É Jesus consolador (2x) Pela Virgem dolorosa... • 49 • VIA SACRA 8ª ESTAÇÃO Jesus consola as santas mulheres Adorámus te.../Nós Vos adoramos... I mensa multidão seguia a Jesus, assim como mulheres a chorar e se lamentar. Jesus voltou-se para elas e lhes disse: “Filhas de Jerusalém, não chorai por mim, mas chorai por vós e por vossos filhos. Pois, se assim é tratada a madeira verde, que se fará do lenho seco?” Jesus predizia o castigo que ia, em breve, cair sobre a nação deicida, a qual foi dispersa, sendo o Templo, todo o seu orgulho, reduzido a cinzas. Se a vida da graça não anima a minha alma, qual lenho seco que se queima, a justiça divina, deverá entregar-me àquele que tem o poder de lançar na geena do fogo inextinguível. Quero, portanto, evitar o pecado. Pater noster... / Pai nosso... Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai... Miserére... /Tende misericórdia... 9. Cai terceira vez prostrado/ Pelo peso redobrado Dos pecados e da cruz (2x)/ Pela virgem dolorosa... 8ª ESTAÇÃO Jesus consola as santas mulheres Adorámus te.../Nós Vos adoramos... I mensa multidão seguia a Jesus, assim como mulheres a chorar e se lamentar. Jesus voltou-se para elas e lhes disse: “Filhas de Jerusalém, não chorai por mim, mas chorai por vós e por vossos filhos. Pois, se assim é tratada a madeira verde, que se fará do lenho seco?” Jesus predizia o castigo que ia, em breve, cair sobre a nação deicida, a qual foi dispersa, sendo o Templo, todo o seu orgulho, reduzido a cinzas. Se a vida da graça não anima a minha alma, qual lenho seco que se queima, a justiça divina, deverá entregar-me àquele que tem o poder de lançar na geena do fogo inextinguível. Quero, portanto, evitar o pecado. Pater noster... / Pai nosso... Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai... Miserére... /Tende misericórdia... 9. Cai terceira vez prostrado/ Pelo peso redobrado Dos pecados e da cruz (2x)/ Pela virgem dolorosa... • 51 • 9ª ESTAÇÃO Jesus cai pela terceira vez Adorámus te.../Nós Vos adoramos... A o chegar Jesus ao pé do montículo do Gólgota, o pensamento do que lhe resta a sofrer renova-lhe no ser humano o desfalecimento de Getsêmani. Uma variante autorizada do Evangelho de S. Marcos parece mesmo indi- car que, em dado momento, foi tal a fraqueza do divino Mestre, que os soldados tiveram de reerguê-lo e, talvez o sustentar até ao Calvário. O príncipe das trevas tem a sua hora, a hora da suprema iniquidade. Mas é também a hora do perdão completo e universal, graças à profunda humilha- ção do Deus feito homem. Obrigado, ó meu Jesus, por vos terdes assim humilhado, a fim de me levantar novamente. Adorámus te.../Nós Vos adoramos Pater noster... / Pai nosso... Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai... Miserére... /Tende misericórdia... 10. Dos vestidos despojado/ Por verdugos maltratado Eu Vos vejo, meu Jesus (2x)/ Pela Virgem dolorosa... • 53 • 10ª ESTAÇÃO Jesus é despojado de suas vestes Adorámus te.../Nós Vos adoramos... Q uando os soldados arrancaram a Jesus as suas vestes todas as chagas por Ele recebidas na flagelação se rea- briram. “Nós o vimos”, diz Isaías, “Ele não tem beleza nem esplendor. Parece-nos um objeto de desprezo, o último dos homens um homem de dores, votado ao sofrimento. Nós o considerávamos como um leproso, como um homem ferido por Deus e humilhado, mas por nossas iniquidades é que Ele foi coberto de chagas, por nossos crimes é que foi tor- turado. O castigo que nos devia dar a paz caiu sobre Ele e nós fomos curados por suas cicatrizes.” Desse modo expiais minhas imodéstias, ó Jesus. Dai-me o espírito de pureza e penitencia. Adorámus te.../Nós Vos adoramos Pater noster... / Pai nosso... Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai... Miserére... /Tende misericórdia... 11. Sois na cruz por mim pregado/ Insultado e blasfemado Com cegueira e com furor (2x)/ Pela Virgem dolorosa... • 55 • 11ª ESTAÇÃO Jesus é pregado à Cruz Adorámus te.../Nós Vos adoramos C hegados ao Jogar chamado Calvário, os solda dos cru-cificaram a Jesus e, com Ele, dois ladrões, um à sua direita, outro à esquerda. Cumpriu-se desse modo a pala- vra da Sagrada Escritura: “Foi contado entre os celerados.” “Ó, meu povo”, dizem os impropérios da Sexta-feira Santa, “que te fiz eu? Em que te contristei? Responde-me. Será por te haver eu tirado da terra do Egito, que levantaste uma cruz para o teu Salvador? Será por ter eu sido, durante qua- renta anos, teu guia no deserto, nutrindo-te com o maná, e por te haver, depois, introduzido numa terra excelente, que preparaste uma cruz para o teu Salvador? Eu te elevei, empregando a minha onipotência; tu, porém, me pregaste ao patíbulo da cruz. Ó, meu povo, que te fiz eu? Em que te afligi? Responde-me.” Jesus, convosco eu quero ser pregado à minha cruz de cada dia. Pater noster... / Pai nosso... | Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai... | Miserére... /Tende misericórdia... 12. Por meus crimes padecestes/ Meu Jesus, por mim morrestes Como é grande a minha dor (2x)/Pela Virgem dolorosa... • 57 • 12ª ESTAÇÃO Jesus morre sobre a Cruz Adorámus te.../Nós Vos adoramos J esus exclama na Cruz: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem.” Depois, dirigindo-se ao bom ladrão: “Em verdade eu te declaro: hoje mesmo estarás comigo no Paraíso.” Vendo, em seguida, sua Mãe e, de pé junto dela, o discípulo a quem amava, disse á sua Mãe: “Mulher, eis aí teu filho!” E ao discípulo disse: “Eis aí tua Mãe.” Então obs- cureceu-se o sol, e, do meio-dia até às três horas, as trevas envolveram o mundo. Aprende, ó minha alma, a morrer ao pecado, pois a sua gravidade é tanta que exige a morte do Homem-Deus para ser expiado. Oxalá nunca mais o cometa! Por vossa cruz, vossa paixão e vossa morte, livrai- -me, Senhor. Pater noster... / Pai nosso... | Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai... | Miserére... /Tende misericórdia... 13. Do madeiro Vos tiraram/ E à Mãe vos entregaram Com que dor e compaixão (2x) / Pela Virgem dolorosa... • 59 • 13ª ESTAÇÃO Jesus é retirado da Cruz Adorámus te.../Nós Vos adoramos A proximando-se a noite, José, rico habitante de Arima-teia, dirigiu-se ao Calvário, depois de obter de Pilatos o corpo de Jesus. Nicodemos para ali se dirigiu também, levando uma mistura de mirra e de aloés. Eles, então, despre- garam docemente Cristo dá cruz e o depuseram nos braços de sua mãe, em pranto. Em seguida, cobriram-no com uma mortalha de finíssimo pano e enterraram-no segundo o cos- tume dos judeus. Oh! Mãe de dores, que chorais sobre os vossos filhos mortos pelo pecado, alcançai-me sincera dor de minhas faltas. Pater noster... / Pai nosso... Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai... Miserére... /Tende misericórdia... 14. No sepulcro vos deixaram Enterrado vos choraram Magoado o coração (2x) Pela Virgem dolorosa... • 61 • 14ª ESTAÇÃO Jesus é deposto no túmulo Adorámus te.../Nós Vos adoramos P erto do lugar onde tinha sido crucificado Jesus, havia um jardim e, nessejardim um sepulcro pertencente a José. O sepulcro, cavado na rocha, era novo. Como estava para começar a festa do grande Sabbat pascal, Nicodemos e José aí depuseram o corpo de Jesus e, tendo rolado uma grande pedra à entrada do monumento, afastaram-se, assim como as santas mulheres quando já a noite caía. Oxalá seja eu sepultado convosco, ó Jesus, e morto ao mundo, para convosco ressuscitar a uma vida nova, segundo a promessa feita, em meu nome, no batismo. “Por vosso sepulcro e santa ressurreição, livrai-me, Senhor.” Pater noster... / Pai nosso... | Ave Maria... / Ave Maria... Glória Patri... / Glória ao Pai... | Miserére... /Tende misericórdia... 15. Meu Jesus, por vossos passos Recebei em vossos braços A mim, pobre pecador (2x) Pela Virgem dolorosa... • 62 • VIA SACRA Pode-se terminar, recitando cinco Pater, Ave e Gloria Patri com os braços estendidos, em honra das cinco chagas de Nosso-Senhor. Depois acrescenta-se a oração: Respice quaesumus, vide abaixo. ORAÇÃO FINAL SOLENE Quando o exercício da Via-Sacra é feito com solenidade, o sacer- dote, tendo voltado ao altar-mor, diz: V/. Adorámus te, Christe, et benedícimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemísti mundum. V/. Ora pro nobis, Virgo dolorosíssima, R/. Ut digni efficiámur promissiónibus Christi. V/. Orémus pro pontífice nostro N. R/. Dóminus consérvet eum, et vivíficet eum, et beátum fáciat eum in terra, et non tradat eum in ánimam inimicórum ejus. V/. Orémus pro fidélibus defúnctis. R/. Réquiem aetérnam dona eis, Dómine, et lux per- pétua lúceat eis. Orémus. Réspice, quaésumus, Dómine, super hanc famíliam tuam, pro qua Dóminus noster Jesus Christus non dubi- távit mánibus tradi nocéntium et crucis subíre torméntum. Dómine Jesu Christe Fili Dei vivi, qui hora sexta, pro redemptióne mundi, crucis patíbulum ascendísti, et Sánguinem tuum pretiósum in remissiónem peccatórum • 63 • nostrórum fudísti, te humíliter deprecámur ut, post óbitum nostrum, jánuam paradisi nos gaudéntes introíre concédas. Intevéniat pro nobis, quaesumus, Dómine Jesu Christe, nunc et in hoa mortis nostrae, apud tuam clemén- tiam, beáta Virgo María, mater tua, cujus sacratíssimam animam, in hora tuae Passiónis, dolóris gládios pertransívit. Dómine Jesu Christe, qui frigescénte mundo, ad inflammándum corda mostra tui amóris igne, in carne bra- tíssimi Francísci Passiónis tuae sacra stígmata renovásti: concede propítius, ut, ejus méritis et précibus crucem júgi- ter ferámus, et dignos fructus poeniténtiae faciámus. Omnipotens sempitérne Deus, miserere fámulo tuo pontífice nostro N., et dirige eum secúndum tuam clemén- tiam in viam salútis aetérnae; ut, te donánte, tibi plácita cúpiat, et tota virtúte perfíciat. Deus, véniae largítor et humánae salútis amátor, quaésumus cleméntiam tuam, ut nostrae congregatiónis fratres, propínquos et benefactóres, qui ex hoc saécuo transiérunt, beáta María sempre Vírgine intercedente, cum ómnibus Sanctis tuis, ad perpétuae beatitúdinis consor- tium perveníre concedas. Per Dóminum nostrum. Parce, Dómine, parece pópulo tuo; ne in aetérnum irascáris nobis. (ter) Pie Jesu, Dómine, dona eis réquiem. R/. Sempitérnam. • 64 • VIA SACRA O leitor: Jube, Dómine, benedícere. Dá-se a Bênção com a cruz. Benedícat nos Dóminus, Jesus Christus, qui pro nobis flagellátus est, crucem portávit, et fuit crucifíxus. R/. Amen. Tradução Oremos: Lançai o Vosso olhar, súplices vos pedimos, Senhor, sobre esta vossa família pela qual Nosso Senhor Jesus Cristo não hesitou entregar-se nas mãos dos perversos e suportar o tormento da Cruz. Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, que à sexta hora do dia subistes ao patíbulos da Cruz, para a redenção do mundo, e derramastes o vosso precioso sangue para a remissão dos nossos pecados, humildemente vos suplica- mos a graça de poder, depois da nossa morte transpor com alegria a porta do paraíso. Interceda por nós, como vos pedimos, ó Senhor Jesus Cristo, agora e na hora de nossa morte junto à vossa clemência, a Virgem Maria vossa Mãe, cuja sacratíssima alma, na hora da Vossa Paixão, for transpassada pelo gládio de dor. Senhor Jesus Cristo que ao arrefecer-se a caridade do mundo, renovastes os sagrados estigmas de Vossa Paixão • 65 • na carne do bem-aventurado Francisco, a fim de abrasar os nossos corações com o fogo do Vosso amor, concedei-nos, em vossa bondade, que, por seus méritos e orações, carre- guemos sempre de penitência. Deus onipotente e eterno, tende piedade de vosso servo, o nosso santo Padre N., e o conduzi, segundo a vossa clemência, pelo caminho da salvação eterna, para que, mediante a vossa graça, execute sempre, com todo esforço, o que for mais de vosso agrado. Ó Deus, que concedeis o perdão e amais a salvação dos homens, nós imploramos a vossa clemência para os irmãos, parentes e benfeitores de nossa congregação, que saíram deste mundo, a graça de chegar, por intercessão da sempre Virgem Maria e de todos os vossos santos, à par- ticipação da bem-aventurança eterna. Por Nosso Senhor. • 66 • STABAT MATER, TRADUÇÃO Estava a Mãe dolorosa Ao pé da Cruz lacrimosa E o Filho pendente dela 2. Dura espada lhe rasgava A alma pura e lhe ensopava Com dor, tristeza e gemidos 3. Ó, quão triste, quão aflita Foi a Virgem bendita Mãe do Unigênito 4. Dor e angústia a possuía E toda trêmula via As penas do ilustre Filho 5. Que homem ali não chorará Se a Mãe do Cristo observará Padecendo tal suplício 6. Que feito não se partira Quando a Mãe piedosa vira Com seu Filho suspirando 7. Porque o povo delinquiu Jesus em tormentos viu Sofrendo cruéis flagelos • 67 • VIA SACRA 8. Viu o Filho seu amado Morrendo desamparado Lançar o espírito extremo 9. Eia, Mãe, fonte de amores, Fazei que estas fortes dores Eu sinta, e convosco chores 10. Fazei que a alma se me inflame Porque a Cristo Deus só ame E só busque seu agrado 11. Santa Mãe, isto vos peço Fique o peito bem impresso Das chagas do Crucifixo 12. De vosso Filho chagado O que por mim se há dignado Sofrer, reparti comigo. 13. Fazei-me, enquanto eu viver Com meu Jesus condoer Convosco chorar deverás 14. Junto à cruz convosco estar Vosso pranto acompanhar Unicamente desejo 15. Quando a morte me levar Fazei que a alma vá gozar A Glória do Paraíso. Amém. • 69 • SALMOS PENITENCIAIS Recitam-se de joelhos. SALMO 6 A alma penitente implora a misericórdia divina 1. Para o fim: Cântico e salmo de David, para a oitava. 2. Não me argúas no teu furor, nem me castigues na tua ira. 3. Tem misericórdia de mim, Senhor, porque sou enfermo; sara-me, Senhor, porque (até) os meus ossos estremeceram, 4. E a minha alma turbou-se em extremo, mas tu, Senhor, até quando?6... 5. Volta-te, Senhor, e livra a minha alma; salva-me pela tua misericórdia. 6. Porque na morte não há quem se lembre de ti; e na habitação dos mortos quem te louvará? 7. Estou esgotado à força de tanto gemer; lavarei o meu leito com lágrimas todas as noites, regarei com elas o lugar do meu descanso. 8. Os meus olhos se turbaram por causa do furor, envelheci no meio de todos os meus inimigos. 6. Até quando farás durar a minha tribulação... • 70 • VIA SACRA 9. Apartai-vos de mim todos os que praticais a iniqui- dade, porque o Senhor ouviu a voz do meu pranto, 10. O Senhor ouviu a minha súplica, o Senhor recebeu a minha oração. 11. Sejam confundidos, e em extremo conturbados todos os meus inimigos; retirem-se, e sejam num momento cobertos de ignomínia. SALMO 31 Felicidade daquele que obteve o perdão dos seus pecados Do mesmo David, instrução. 1. Bem-aventurados aqueles, cujas iniquidades foram perdoadas, e cujos pecados são apagados. 2. Bem-aventurado o homem, a quem o Senhor não arguiu de pecado, e cujo espírito é isento de fraude. 3. Porque calei, os meus ossos envelheceram, enquanto eu clamava todo o dia.7 4. Porque a tua mão tornou-se pesada sobre mim de dia e de noite; eu revolvia-me na minha dor, enquanto se cravava a espinha (do castigode Deus). 5. Eu te manifestei o meu pecado, e não ocultei a minha 7. Porque calei, recusando, por orgulho, reconhecer os meus crimes diante de Deus, os meus ossos... isto é, as minhas forças físicas diminuíram, por causa da violência dos sofrimentos morais. • 71 • VIA SACRA injustiça. Eu disse: Confessarei ao Senhor, contra mim mesmo, a minha injustiça; e tu perdoaste a malí- cia do meu pecado. 6. Por isto orará a ti todo o (homem) santo no tempo oportuno. E, na inundação das muitas águas, estas não se aproximarão dele.8 7. Tu és o meu refúgio na tribulação que me cercou, ó alegria minha, livra-me dos que me cercam. 8. Inteligência te darei (disseste), e ensinar-te-ei o cami- nho que deves seguir; fixarei sobre ti os meus olhos. 9. Não queirais ser como o cavalo e o mulo, que não têm entendimento. Com o cabresto e com o freio sujeita (o Senhor) as suas queixadas, quando não quiserem aproximar-se de ti. 10. Muitas dores esperam o pecador, mas o que espera no Senhor será cercado de misericórdia. 11. Alegrai-vos no Senhor e regozijai-vos, ó justos, e gloriai-vos todos os que sois de coração reto. 8. Na inundação... Esta inundação representa os castigos de Deus, aos quais escapam os santos, por uma graça especial (estas não se aproximarão dele). • 72 • VIA SACRA SALMO 37 Apelo do pecador para a misericórdia divina 1. Salmo de David para memória, no sábado. 2. Senhor, não me repreendas no teu furor, nem me castigues na tua ira; 3. porque as tuas setas se me cravaram, e assentaste sobre mim a tua mão. 4. Não há parte sã na minha carne por causa da tua ira; não há paz nos meus ossos à vista dos meus pecados. 5. Porque as minhas iniquidades se elevaram acima da minha cabeça, e, como uma carga pesada, me oprimiram. 6. Apodreceram e corromperam-se as minhas chagas, por causa da minha loucura.9 7. Tornei-me miserável, e continuamente todo encur- vado; todo o dia andava oprimido de tristeza. 8. Porque as minhas entranhas estão cheias de ilusões, e não há parte alguma sã na minha carne. 9. Estou aflito e grandemente abatido; o gemido do meu coração arranca-me rugidos. 10. Ó Senhor, bem vês todos os meus desejos, e o meu gemido não te é oculto. 9. O pecado é uma loucura, porque, por um breve e doentio prazer, atrai tantos castigos da justiça divina. • 73 • VIA SACRA 11. O meu coração está conturbado, a minha força desamparou-me; e a própria luz dos meus olhos já não está comigo.10 12. Os meus amigos e os meus próximos avançaram e puseram-se contra mim. E os meus parentes puse- ram-se ao longe. 13. E os que buscavam a minha vida, usavam de violên- cia. E os que me procuravam males falaram coisas vãs, e todo o dia maquinavam enganos, 14. Mas eu, como um surdo, não ouvia; e, como um mudo, não abria a boca. 15. E tornei-me como um homem que não ouve, e que não tem na sua boca palavras com que replicar. 16. Porque em ti, Senhor, esperei; tu me ouvirás, Senhor Deus meu. 17. Porque disse: Nunca triunfem de mim os meus ini- migos, eles que, tendo visto os meus pés vacilantes, falaram insolentemente de mim. SALMO 50 David penitente 1. Para o fim: Salmo de David, 2. quando o profeta Natan foi ter com ele depois de 10. Própria luz... Quase ceguei com tanto chorar. • 74 • VIA SACRA haver pecado com Betsabeia. 3. Tem piedade de mim, ó Deus, segundo a tua grande misericórdia; e, segundo a multidão das tuas clemên- cias, apaga a minha iniquidade. 4. Lava-me mais e mais da minha iniquidade, e purifica- -me do meu pecado. 5. Porque eu conheço a minha maldade, e o meu pecado está sempre diante de mim. 6. Pequei contra ti só, e fiz o mal diante dos teus olhos, para que (perdoando-me) sejas encontrado justo nas tuas palavras, e venças quando fores julgado.11 7. Eis que eu fui concebido em iniquidades, e minha mãe concebeu-me no pecado, 8. Eis que tu amaste a verdade, e me revelaste o segredo e o mistério da tua sabedoria. 9. Tu me borrifarás com o hissope, e serei purificado; lavar-me-ás, e me tornarei mais branco que a neve, 10. Tu me farás ouvir uma palavra (do perdão que é) de gozo e de alegria e se regozijarão os meus ossos humilhados. 11. Aparta o teu rosto dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. 11. Pequei... Os pecados cometidos contra o próximo, como foram os de David, ofendem mais a Deus do que o homem, porque toda a lei moral e todo o direito do homem vem de Deus. Por isso o perdão dado por Deus, mesmo sem o perdão do homem ofendido, não pode ser considerado uma injustiça. • 75 • VIA SACRA 12. Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova nas minhas entranhas um espírito reto, 13. Não me arremesses da tua presença, e não tires de mim o teu espírito santo, 14. Dá-me a alegria da tua salvação, e conforta-me com um espírito magnânimo, 15. Ensinarei aos iníquos os teus caminhos, e os ímpios se converterão a ti. 16. Livra-me do sangue, Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua exaltará a tua justiça.12 17. Senhor, abrirás os meus lábios, e a minha boca anun- ciará os teus louvores. 18. Porque, se quisesses um sacrifício, eu o teria ofere- cido; mas tu não te comprazes (só) com holocaustos. 19. O sacrifício (mais) digno de Deus é um espírito com- pungido; não desprezarás, ó Deus, um coração con- trito e humilhado. 20. Senhor, sê benigno com Sião por tua boa-vontade, para que se edifiquem os muros de Jerusalém. 21. Então aceitarás os sacrifícios legítimos, as oferendas e os holocaustos; então serão colocados sobre o teu altar bezerros (para o sacrifício). 12. Livra-me do castigo que mereço por causa do sangue de Urias, que fiz derramar. • 76 • VIA SACRA SALMO 101 Oração e esperanças de Israel infeliz 1. Oração de um aflito quando estiver na tributação, e derramar as suas preces na presença do Senhor. 2. Senhor, ouve a minha oração, e chegue a ti o meu clamor. 3. Não apartes de mim o teu rosto; em qualquer dia em que me achar atribulado, inclina para mim o teu ouvido. Em qualquer dia que te invocar, ouve-me prontamente, 4. porque os meus dias dissiparam-se como fumo, e os meus ossos se secaram como gravetos. 5. Fui ferido como feno, e o meu coração secou-se, porque até me esqueci de comer o meu pão. 6. A força de soltar gemidos, fiquei somente com a pele pegada aos ossos. 7. Tornei-me semelhante ao pelicano do deserto; tor- nei-me como a coruja no seu (triste) albergue. 8. Velei e tornei-me como o pássaro solitário no telhado. 9. Todo o dia me improperavam os meus inimigos, e os que me louvavam conjuravam-se contra mim. 10. Porque comia a cinza com o pão, e misturava a minha bebida com as minhas lágrimas,13 13. Comia a cinza... Alusão à cinza que era costume espalhar sobre a cabeça em sinal de dor e de penitência, e da qual cairia alguma sobre o prato em que comiam. • 77 • VIA SACRA 11. à vista da tua ira e indignação, porque, depois de me teres elevado, me arrojaste. 12. Os meus dias passaram como a sombra, e eu sequei- -me como feno. 13. Mas tu, Senhor, permaneces para sempre, e a memó- ria de teu nome estende-se de geração em geração. 14. Tu, levantando-te, terás piedade de Sião, porque é tempo de teres piedade dela, e a hora já chegou. 15. Porque as suas próprias ruínas são amadas pelos teus servos e eles olham com ternura (até o pó de) aquela terra. 16. E as nações temerão o teu nome, Senhor, e todos os reis da terra respeitarão a tua glória. 17. Porque o Senhor edificou Sião, e será visto na sua glória. 18. Atendeu à oração dos humildes, e não desprezou a sua prece. 19. Sejam escritas estas coisas para a geração futura, e o povo, que há-de ser criado, louvará o Senhor, 20. porque olhou do alto do seu santuário; o Senhor olhou do céu sobre a terra, 21. para ouvir os gemidos dos encarcerados, para liber- tar os filhos dos condenados à morte,14 22. a fim de que anunciem em Sião o nome do Senhor, e 14. Encarcerados e como condenados à morte eram os Israelitas no cativeiro de Babilônia. • 78 •VIA SACRA o seu louvor em Jerusalém, 23. quando se juntarem os povos e os reis para servirem ao Senhor. 24. Disse-lhe (o justo) na expansão da sua força: Mani- festa-me (Senhor) o curto número de meus dias. 25. Não me chames na metade de meus dias; os teus anos estendem-se de geração em geração. 26. No princípio, Senhor, fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos. 27. Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles envelhecerão como um vestido. E como roupa os mudarás, e serão mudados; 28. tu porém és sempre o mesmo, e os teus anos não terão fim.15 29. Os filhos dos teus servos habitarão (tranquilos em Jerusalém), e a sua posteridade será estável para sempre. SALMO 129 Esperança e oração do pecador 1. Cântico gradual. Desde o mais profundo clamei a ti, Senhor; 15. A eternidade de Deus, que excede infinitamente a dura- ção da vida humana, é invocada como motivo para que Deus conceda vida mais longa. • 79 • VIA SACRA 2. Senhor, ouve a minha voz; estejam atentos os teus ouvidos à voz da minha súplica. 3. Se examinares, Senhor, as nossas maldades, quem, Senhor, poderá subsistir (em tua presença)? 4. Mas em ti se acha a clemência, e por causa da tua lei pus em ti, Senhor, a minha confiança. A minha alma está confiada na sua palavra; 5. a minha alma esperou no Senhor. 6. Desde a vigília da manhã ate à noite, espere Israel no Senhor; 7. Porque no Senhor está a misericórdia, e há nele copiosa redenção. 8. E ele mesmo redimirá Israel de todas as suas iniquidades. SALMO 142 Outra súplica no meio duma angústia Salmo de David. 1. quando seu filho Absalão o perseguia. Senhor, ouve a minha oração, presta ouvidos aos meus rogos, segundo a tua verdade; atende-me na tua justiça. 2. E não entres em juízo com o teu servo, porque nenhum vivente será encontrado justo na tua presença. • 80 • VIA SACRA 3. Porque o inimigo perseguiu a minha alma; humilhou a minha vida até ao chão. Colocou-me em lugares obscuros como a mortos de muito tempo. 4. O meu espírito angustiou-se sobre mim; dentro de mim se turbou o meu coração. 5. (Mas) lembrei-me (logo) dos dias antigos, meditei em todas as tuas obras; meditei nas obras das tuas mãos. 6. Estendi as minhas mãos para ti; a minha alma diante de ti é como terra sequiosa. 7. Atende-me, Senhor, com presteza; o meu espírito desfaleceu. Não apartes de mim a tua face para que não seja semelhante aos (mortos) que descem à cova. 8. Faze-me sentir desde manhã a tua misericórdia, porque em ti tenho esperado. Faze-me conhecer o caminho em que hei-de andar, porque a ti elevei a minha alma. 9. Livra-me dos meus inimigos, Senhor; junto de ti me refugio. 10. Ensina-me a fazer a tua vontade, porque tu és o meu Deus. O teu bom espírito me conduzirá à terra da retidão.16 11. Por causa do teu nome, Senhor, me darás a vida. Tirarás a minha alma da tribulação, 16. À terra da retidão, isto é, à santidade. • 81 • VIA SACRA 12. e, pela tua misericórdia, dissiparás os meus inimigos, e destruirás todos os que atribulam a minha alma, porque eu sou teu servo, © Santa Cruz – Editora & Livraria, 2021. Projeto Editorial | Equipe Santa Cruz Todos os direitos reservados. 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A Via-Sacra em Jerusalém Definição das Cenas e sua Ordem Fixação e Oficialização Regulamentos Modernos Conclusão Breve Instrução de s. leonardo de porto maurício ExercÍcio da Via-Sacra Oração diante do altar-mor 1ª Estação 2ª Estação 3ª Estação 4ª Estação 5ª Estação 6ª Estação 7ª Estação 8ª Estação 9ª Estação 10ª Estação 11ª Estação 12ª Estação 13ª Estação 14ª Estação Oração Final Solene Stabat Mater, tradução Salmos penitenciais Salmo 6 Salmo 31 Salmo 37 Salmo 50 Salmo 101 Salmo 129 Salmo 142 Botão 1:
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