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Libras II (UniFatecie) (1)

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Prévia do material em texto

Libras II
Professora Me. Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell 
Reitor 
Prof. Ms. Gilmar de Oliveira
Diretor de Ensino
Prof. Ms. Daniel de Lima
Diretor Financeiro
Prof. Eduardo Luiz
Campano Santini
Diretor Administrativo
Prof. Ms. Renato Valença Correia
Secretário Acadêmico
Tiago Pereira da Silva
Coord. de Ensino, Pesquisa e
Extensão - CONPEX
Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza
Coordenação Adjunta de Ensino
Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman 
de Araújo
Coordenação Adjunta de Pesquisa
Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme
Coordenação Adjunta de Extensão
Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves
Coordenador NEAD - Núcleo de 
Educação à Distância
Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal
Web Designer
Thiago Azenha
Revisão Textual
Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Geovane Vinícius da Broi Maciel
Kauê Berto
Projeto Gráfico, Design e
Diagramação
André Dudatt
2021 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2021 Os autores
Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade 
exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi-
tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem 
a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
 
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP 
 
F697L Forcadell, Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch 
 Libras II / Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell. 
 Paranavaí: EduFatecie, 2022. 
 165 p. : il. Color. 
 
 
 
1. Língua brasileira de sinais. 2. Crianças surdas - Linguagem. 
3. Aquisição da linguagem. I. Centro Universitário 
 UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. 
 
 CDD: 23 ed. 371.912 
 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 
 
UNIFATECIE Unidade 1 
Rua Getúlio Vargas, 333
Centro, Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
UNIFATECIE Unidade 2 
Rua Cândido Bertier 
Fortes, 2178, Centro, 
Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
UNIFATECIE Unidade 3 
Rodovia BR - 376, KM 
102, nº 1000 - Chácara 
Jaraguá , Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
www.unifatecie.edu.br/site
As imagens utilizadas neste
livro foram obtidas a partir 
do site Shutterstock.
AUTORA
Professora Me. Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell
● Mestre em Ensino Formação Docente Interdisciplinar (UNESPAR). 
● Especialista em Educação Especial: Área da Surdez – Libras (ESAP). 
● Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica (ESAP). 
● Especialista em Atendimento Educacional Especializado – AEE (UEM).
● Graduada em Pedagogia (UEM).
● Graduada em Letras com Habilitação em Libras (EFICAZ).
● Proficiência em Tradução/Interpretação de Libras (FENEIS).
● Proficiência em Tradução/Interpretação de Libras (PROLIBRAS).
● Técnica em Tradução/Interpretação de Libras (IFPR).
● Docente Universitária da Disciplina de Libras.
● Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Especial e Inclusiva 
– GEPEEIN (IFPR)
Currículo Lates: http://lattes.cnpq.br/4629794516295407 
http://lattes.cnpq.br/4629794516295407
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Prezado(a) acadêmico(a)!
Seja bem-vindo(a) à Disciplina de Libras II. Para que você alcance um nível razoável 
em seu desempenho comunicativo, precisará ter o desejo e oportunidade de se comunicar 
em Libras. Por isso, os tópicos que passaremos a conhecer neste material didático servirão 
para direcionar seus estudos, sabendo que, para efetivar o processo de ensino e aprendi-
zagem, você deverá ir além, colocar em prática com os usuários dessa língua o que você 
aprenderá em cada Unidade.
Queremos, que ao decorrer dos estudos, você compreenda que a Língua Brasileira 
de Sinais não é um conjunto de gestos soltos e isolados, mas uma língua que possui suas 
características próprias como qualquer outra língua oral.
Sabemos que não esgotaremos o assunto a ser estudado aqui, mas esperamos 
poder contribuir na construção, divulgação e compreensão desta língua enquanto alicerce 
para o desenvolvimento integral do educando surdo e enquanto língua adicional a ser 
apreendida por você, acadêmico(a).
Para que o processo de aprendizagem dessa língua adicional seja aos poucos assi-
milada, compreendida e utilizada por você, dividimos esse material em 4 Unidades a saber:
Unidade I - AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM POR CRIANÇAS SURDAS, você vai 
adquirir noções básicas sobre o artefato cultural, literatura visual surda, o ensino da Língua 
Portuguesa e métodos didáticos para o ensino dessa língua para surdos, além dos recursos 
didáticos para o ensino de Libras na formação acadêmica como segunda língua. 
Unidade II - ESTRUTURA, EXPRESSÃO, CONCEITOS DÊITICOS/ANAFÓRICOS 
E FIGURAS DE LINGUAGEM NA LÍNGUA DE SINAIS, passaremos a conhecer a estrutura 
de frases em Libras, as dimensões evolutivas dessa língua em suas expressões metafó-
ricas e descritivas, bem como o uso de espaços nas suas enunciações compreendendo a 
dêixis enquanto processo de descrição.
Unidade III - A LINGUÍSTICA DAS LÍNGUAS DE SINAIS, aprofundaremos os conhe-
cimentos sobre a linguística da Língua Brasileira de Sinais, em seus aspectos fonológicos, 
morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos.
Unidade IV - GRAMÁTICA DE LIBRAS apresenta-se o léxico da Libras, o uso de 
verbos, o sistema pronominal e as limitações na formação dos sinais.
Vamos lá?
Bons estudos e abraços sinalizados!
SUMÁRIO
UNIDADE I ...................................................................................................... 3
Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
UNIDADE II ................................................................................................... 33
Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de 
Linguagem na Língua de Sinais
UNIDADE III .................................................................................................. 80
A Linguística das Línguas de Sinais
UNIDADE IV ................................................................................................ 124
Gramática de Libras
3
Plano de Estudo:
● Cultura surda;
● Literatura visual;
● Literatura visual surda, Libras e o ensino;
● Desenvolvimento das etapas do ensino de Língua Portuguesa para Surdos;
● Produção didática para o aprendizado de Libras como segunda língua 
 na formação dos acadêmicos.
Objetivos da Aprendizagem:
●Pensar na cultura da comunidade surda, para descrever elementos 
identitários e artefatos da literatura brasileira surda;
● Compreender como trabalhar com as crianças surdas;
● Perceber as estratégias docentes no ensino de surdos 
nos espaços educacionais.
UNIDADE I
Aquisição da Linguagem 
por Crianças Surdas
Professora Me. Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell
4UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a), nesta Unidade conversaremos sobre a comunidade surda, 
para compreendermos sua cultura, a construção da sua identidade, e a importância da 
sua experiência visual, além de visualizarmos como trabalhar com as crianças surdas e 
apresentá-las aos artefatos culturais como a literatura surda em Libras.
É preciso fazer as crianças surdas construírem sua identidade e sua cultura. Por 
acaso, você já conhece as produções literárias em Libras para trabalhar com seus futuros 
alunos surdos? Caso não, fique atento, pois essa Unidade de Estudos está repleta de suges-
tões para serem trabalhadas em sala de aula e incentivar as crianças surdas a aceitarem-se 
surdas, e as crianças ouvintes a interagirem com literaturas que lhes apresentem o mundo 
surdo. Além desses, existem outros clássicos infantis que foram traduzidos para a língua de 
sinais, e com isso estimular a inserção das crianças surdas nas práticas sociais deleitura. 
O(a) professor(a) pode valorizar os aspectos culturais da criança surda, se isso 
acontecer, ficará mais fácil alcançar bons níveis de qualidade no ensino e na aprendizagem, 
num trabalho educacional bilíngue ou inclusivo que respeite os direitos fundamentais dos 
surdos e o ambiente em que esses sujeitos precisam estar inseridos. Um espaço de edu-
cação que priorize a Língua de Sinais, que o surdo tenha representatividade e que também 
seja protagonista de um sistema formativo, requer a articulação de todos os envolvidos no 
espaço educacional, seja esse espaço público ou privado, de caráter linguístico e cultural.
Para isso, precisamos refletir e perguntar a nós mesmos o que é currículo para 
surdos? A resposta pode variar muito e pode depender da visão de mundo que se tem, mas 
é importante perguntar a opinião dos professores surdos, o que pensam desse currículo 
adequado à cultura surda e o que pensam que deve ser inserido na grade curricular? Deve-
mos pensar sobre como situar o papel do professor surdo nas escolas de surdos e a visão 
dos ouvintes sobre ele, bem como o currículo na Educação de Surdos. 
5UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
1. CULTURA SURDA
A pesquisadora Karin Strobel em sua publicação “As imagens do outro sobre a 
cultura surda” (2008), antes de iniciar a discussão propriamente dita sobre a cultura surda, 
apresentou dois principais questionamentos que servem para refletirmos sobre essa temá-
tica: Existe uma cultura surda? Os surdos produzem cultura? 
Abrimos nossa Unidade de Estudos com esses questionamentos para compreende-
mos alguns artefatos que estão diretamente ligados à cultura surda, abordados por Strobel.
Bom, antes porém, é necessário saber que o marco da definição de cultura surda é 
feito por Carol Padden, também uma acadêmica surda, no início dos anos 1980, como um: 
[...] conjunto de comportamento aprendido de um grupo de pessoas que têm 
sua própria língua, valores, regras de comportamento e tradição, [...] mem-
bros da cultura surda se comportam como surdos, usam a língua dos surdos 
e compartilham as crenças das pessoas surdas em relação a si mesmas e 
outras pessoas que não são surdas. (PADDEN, 1980, p. 92-93). 
Assim, até o final da década de 1980, os Estudos Surdos se baseavam princi-
palmente na dicotomia entre cultura surda/mundo surdo e mundo/cultura ouvinte. Essa 
distinção foi reforçada por aqueles estudiosos – surdos principalmente – líderes no ensino 
da ASL, já que essas aulas começaram a aumentar significativamente nos EUA, visto que 
os ouvintes se matricularam em grande número para aprender o idioma. Por exemplo, Carol 
Padden e Tom Humphries publicaram o curso para a aprendizagem de ASL como segunda 
língua (L2), intitulado “Um curso básico da Língua de Sinais Americana” (HUMPHRIES; 
PADDEN; O’ROURKE, 1980, p.1), no qual a Língua de sinais foi vista como o idioma nativo 
e/ou principal dos surdos, incorporando seus valores e experiências. 
6UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
Assim, Pimenta (2001, p.24), ator surdo brasiliense, declara que ‘a surdez deve 
ser reconhecida como apenas mais um aspecto das infinitas possibilidades da diversidade 
humana, pois ser surdo não é melhor ou pior do que ser ouvinte, é apenas diferente’. Se 
consideramos que os surdos não são ‘ouvintes com defeito’, mas pessoas diferentes, es-
taremos aptos a entender que a diferença física entre pessoas surdas e pessoas ouvintes 
gera uma visão não-limitada, não determinística de uma pessoa ou de outra, mas uma visão 
diferente de mundo, um ‘jeito Ouvinte de ser’ e um ‘jeito Surdo de ser’, que nos permite falar 
em uma cultura da visão e outra da audição.
Os questionamentos trazidos acima por Strobel (2008), ocorrem pelo fato das pes-
soas não conhecerem ou não saberem como é a cultura surda/mundo surdo. 
Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo, a fim 
de se torná-lo acessível e habitável ajustando-os com suas percepções visuais, que contri-
buem para a definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. Isso 
significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo 
surdo. Sobre essas identidades, Perlin (2004) descreve que:
[...] As identidades surdas são construídas dentro das representações pos-
síveis da cultura surda, elas moldam-se de acordo com a maior ou menor 
receptividade cultural assumida pelo sujeito. E dentro dessa receptividade 
cultural, também surge aquela luta política ou consciência oposicional pela 
qual o indivíduo representa a si mesmo, se defende da homogeneização, dos 
aspectos que o tornam corpo menos habitável, da sensação de invalidez, de 
inclusão entre os deficientes, de menos valia social. (PERLIN, 2004, p.77-78) 
É essencial entendermos que a cultura surda é a identidade do povo surdo, povo 
esse que tem uma comunidade, que compartilham em comum as normas, os valores e os 
comportamentos.
PERLIN (1998) apud SKLIAR (2005, p. 51-73) em seus estudos sobre a questão 
identitária do surdo, diz que identificar essa identidade dependerá de como esse sujeito se 
assume dentro da sociedade, ela apresenta como pode ser definida essas identidades:
Identidade flutuante: na qual o surdo se espelha na representação hege-
mônica do ouvinte, vivendo e se manifestando de acordo com o mundo ou-
vinte; Identidade inconformada: na qual o surdo não consegue captar a re-
presentação da identidade ouvinte, hegemônica, e se sente numa identidade 
subalterna; Identidade de transição: na qual o contato dos surdos com a co-
munidade surda é tardio, o que os faz passar da comunidade visual-oral (na 
maioria das vezes truncada) para a comunicação visual sinalizada – o surdo 
passa por um conflito cultural; Identidade híbrida: reconhecida nos surdos 
que nasceram ouvintes e se ensurdeceram e terão presentes as duas línguas 
numa dependência dos sinais e do pensamento na língua oral; Identidade 
surda: na qual o ser surdo é estar no mundo visual e desenvolver sua expe-
riência na língua de sinais. Os surdos que assumem a identidade surda são 
representados por discursos que os veem capazes como sujeitos culturais, 
uma formação de identidade que só ocorre entre os espaços culturais surdos.
7UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
Mas, existe uma cultura surda? Sim, se compreendermos que a cultura não está 
apenas relacionada às etnias, ou nacionalidades, quase sempre vinculadas a concepções 
biológicas (raciais) ou geográficas (de localização no espaço), mas como elementos ma-
teriais e simbólicos que não apenas expressam, mas, sobretudo, constituem os vínculos 
identitários que definem a organização de grupos sociais.
Os surdos, por exemplo, não possuem nenhuma marca “física” racial que os iden-
tifique e, tampouco, habitam um mesmo território geográfico. No entanto, é inegável nossa 
percepção de que os surdos compartilham experiências pautadas em referências diferen-
ciadas dos não surdos, que os identificam como parte de uma cultura minoritária, cujo maior 
símbolo identitário é a língua de sinais. Ainda que a comunicação visual seja a principal 
marca linguística que aproxima os membros dessa comunidade, existem outros traços que 
se somam a essa experiência, dependentes das relações que os surdos vivenciam em meio 
a outras referências culturais religiosas, étnico-raciais, econômicas e assim por diante.
Sobre os artefatos culturais que a pesquisadora Karin Strobel (2008), surda da 
Universidade Federal de Santa Catarina menciona em sua publicação, trago uma síntese 
de cada um deles:
● Artefato cultural: linguístico – a língua de sinais é uma das principais marcas 
da identidade de um povo surdo, por ser uma forma de comunicação que capta as 
experiências visuais dos sujeitos surdos e possibilita a apropriação e transmissão 
do conhecimento universal. Decorrente de sua modalidade visual-espacial, a 
língua de sinais possui um sistemade escrita de base ideográfica, denominado 
SignWriting (SW), contribuindo para superar o mito de seu caráter ágrafo;
● Artefato cultural: familiar – a experiência de mais de 90% dos surdos perten-
cerem a famílias ouvintes criarem uma forma de integração típica, marcada pela 
carência de diálogo e entendimento da questão da cultura surda e da língua de 
sinais. Em contrapartida, famílias surdas apresentam modos interativos muito 
singulares em relação à questão da surdez de seus filhos. Na comunidade surda 
é comum o casamento entre surdos e o debate sobre a identidade cultural dos 
filhos de pais surdos, fazendo com que muitos casais almejem ter filhos surdos, 
como decorrência natural da vida comunitária;
● Artefato cultural: literatura surda – a literatura surda traduz a memória das 
vivências através das várias gerações dos povos surdos e se materializa em 
diferentes gêneros: poesia, história de surdos, piadas, literatura infantil, clássi-
cos, fábulas, contos, romances, lendas e outras manifestações culturais. Essa 
8UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
produção é transmitida de geração em geração pela língua de sinais, a maioria 
delas parte de experiências das comunidades surdas que transmitem seus 
valores e orgulho da cultura surda que reforça os vínculos que une as gera-
ções surdas mais jovens. A literatura surda faz referência às ações de grandes 
líderes e militantes surdos e a valorização de suas identidades na luta contra a 
opressão de uma sociedade majoritariamente ouvinte;
● Artefato cultural: vida social esportiva – a vida social esportiva do povo surdo 
é marcada por acontecimentos culturais, como casamentos entre os surdos, 
festas, lazeres e atividades nas associações de surdos, eventos esportivos e 
outros. As associações de surdos funcionaram, historicamente, como espaços 
de recreação e lazer e, mais recentemente, como espaço de organização de 
suas lutas políticas. A Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS), 
o Comitê Internacional de Esportes dos Surdos (CISS), o Pan Americano de 
Deportes de Surdos (Panamdes), a Confederação Sudamericana Deportiva 
de Surdos (Consudes), são entidades que buscam a difusão das atividades 
culturais e esportivas dos surdos;
● Artefato cultural: artes visuais – as artes visuais são um meio para criações 
artísticas que sintetizam emoções, histórias, subjetividades e cultura do povo 
surdo. O artista surdo cria a arte para explorar novas formas de “olhar” e inter-
pretar a cultura surda, além da denúncia de cenas de opressões ouvintistas;
● Artefato cultural: política – outro artefato cultural influente das comunidades 
surdas são as lutas políticas organizadas pelos movimentos e lutas em favor de 
seus direitos. Os movimentos surdos são organizados politicamente no mundo 
todo, como, por exemplo, a Federação Nacional de Educação e Integração dos 
Surdos (Feneis), a principal entidade representativa no Brasil, filiada à Federa-
tion of The Deaf (WFD), com sede na Finlândia;
● Artefato cultural: materiais – o TDD (Telephone Device for the Deaf) um pouco 
maior que um telefone convencional, na parte de cima existe um encaixe de fone 
e, embaixo, um visor onde aparece escrito o que foi digitado e, mais embaixo, 
as teclas para digitar; instrumentos luminosos como a campainha em casas 
e escolas de surdos; despertadores com vibradores; legendas closed caption; 
babá-sinalizadores, são exemplos de artefatos materiais da comunidade surda.
9UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
SAIBA MAIS
Para finalizarmos este tópico sobre a criança surda e a construção da sua identidade, 
convido-lhe a assistir o documentário “Sou surdo e não sabia.”
Esse documentário conta a história de Sandrine, uma menina surda de nascença que 
é filha de pais ouvintes. Ao frequentar a escola, a menina começa a questionar como 
os demais colegas compreendem o que a professora estava ensinando. A partir disso 
vamos compreender junto com Sandrine, como uma criança surda descobre que as 
crianças de sua sala se comunicam através de sons, e que esses sons são produzidos 
pelo movimento dos lábios através das palavras. 
Esse documentário olha para a questão a partir de dentro, pela perspectiva de Sandrine 
e sua história verídica. Paralelamente ao relato da autonomia conquistada com a Língua 
de Sinais, o filme levanta a discussão sobre a conveniência do implante coclear e da 
oralização de crianças surdas. 
Depois de assistir a esse filme, podemos fazer uma relação entre ele, seu título e o tex-
to que estudamos a respeito da identidade surda. Já sabemos que é muito importante 
refletir sobre as crianças surdas nos espaços educacionais onde devem construir a sua 
identidade. Vamos assistir a esse filme inédito!!
Filme: “Sou Surdo e Não Sabia” https://www.youtube.com/watch?v=Vw364_Oi4xc 
Fonte: UNIASSELVI. A Experiência visual: educação infantil e ensino fundamental. Caderno de Estudos, 
capítulo 3, Indaial-SC, 2012.
https://www.youtube.com/watch?v=Vw364_Oi4xc
10UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
2. LITERATURA VISUAL 
A maioria de nós quando indagados sobre o que é literatura, trazemos à memória 
algo que é escrito ou oral, histórias que nossos pais, avós, tios ou tias nos contavam, 
quando éramos crianças e que ficaram guardados na nossa memória. Ouvir histórias pelo 
prazer de conhecer histórias, imaginar cenários e personagens, acompanhar as aventuras 
dos heróis ao fugir de bruxas, ao esconder-se de madrastas más, encontrar príncipes, 
acordar princesas, vencer dragões, enfim esperar e torcer pelo final feliz, tudo isso criava 
em nós as expectativas de mergulhar nesse mundo de fantasias e imaginações, causando 
em nós uma atitude leitora, mesmo sem, nem ao menos ter o contato com o significado das 
palavras grafadas nos mais diversos livros de histórias infantis.
A literatura infantil, portanto, tem a criança como principal representante, pois a 
representa sempre em busca de uma explicação que, mesmo quando mais lógica, é ainda 
mágica. Por isso, o gosto pelo mundo sobrenatural com fadas, ogros e bruxas serve para 
‘dar asas à imaginação’. 
Essas são as maravilhas sem precedentes da leitura: o poder dos livros em 
criar mundos e a fácil absorção do leitor, a qual permite que o frágil mundo do 
livro, todo ar e pensamento mantenha-se por um instante, uma casa de bam-
bu e papel entre terremotos; dentro dele os leitores adquirem paz, tornam-se 
mais poderosos, sentem-se mais bravos e mais sábios pelos caminhos do 
mundo. (NELL, 2001, p. 53).
11UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
Pensar que a literatura escrita vem de aproximadamente 5000 anos atrás, regis-
trada em tábuas de argila com escrita cuneiforme na antiga Babilônia, com a epopeia de 
Gilgamesh. Registros literários da Grécia e da Roma Antigas têm sido preservados de forma 
que até os dias de hoje podemos realizar sua leitura – seja no idioma original, seja em suas 
traduções. Nós também podemos pensar nos clássicos da literatura ao redor do mundo, 
como “Fausto”, de Goethe, “Anna Karenina”, de Tolstoy, ou as peças e poesias de William 
Shakespeare. Na língua portuguesa, talvez nos recordemos das obras de Camões no caso 
da Europa, enquanto no Brasil podemos considerar grandes clássicos como “Grande Ser-
tão Veredas”, de João Guimarães Rosa, ou as obras de Jorge Amado. Também podemos 
pensar na literatura infantil, como “O Menino Maluquinho”, de Ziraldo. Todos esses são 
livros impressos, mas se pensarmos na literatura oral, temos a Literatura de Cordel que 
parece ter sido disseminada pelo Brasil por meio da reprodução impressa, porém a tradição 
da declamação e do canto persiste até os dias de hoje. 
Acadêmico(a), não é surpreendente, então, pensarmos que a Libras, uma língua 
que é visual-gestual, também deve possuir uma literatura? 
Neste tópico, queremos apresentar a você, acadêmico(a) quatro tipos de literaturas 
destacadospor Rachel Sutton-Spence (2021), para cada literatura ela apresenta critérios 
nas suas produções, mas ressalta que essas produções não precisam contemplar simulta-
neamente esses quatro tipos de literaturas com seus critérios.
1. Literatura feita por surdos: pode ser criada e apresentada por surdos ou ela-
borada originalmente por não surdos, mas adaptada e apresentada por pessoas surdas. A 
narrativa Golf Ball, por Stefan Goldschmidt, é um exemplo desse tipo de literatura, pois é 
feita por um ator surdo e destinada (principalmente) aos surdos, porém não fala da expe-
riência surda e não usa Libras, porque usa a técnica Vernáculo Visual (é a técnica de contar 
histórias de uma forma muito visual sem utilizar o vocabulário de sinais).
Fonte: Reprodução/Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Gl3vqLeOyEE
https://www.youtube.com/watch?v=Gl3vqLeOyEE
12UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
2. Literatura que atingir um público surdo: os ouvintes também podem apreciar 
essa literatura, por exemplo os pais de crianças surdas ou professores que trabalham com 
alunos surdos, semelhante à literatura infantojuvenil, que espera ter como leitores crianças e 
jovens, sabendo, porém, que os adultos podem ser os seus leitores também. A maior parte da 
literatura surda em que o destinatário imaginado é o público surdo é criada por surdos, mas 
não é preciso ser assim. Autores ouvintes, ou autores surdos e ouvintes em parceria, também 
criam literatura surda destinada aos surdos e que trata da experiência ou do conhecimento dos 
surdos. Podemos ver um exemplo na narrativa O Negrinho do Pastoreio, de Roger Prestes, 
foi apresentada em Libras por um autor surdo e é destinada principalmente ao público surdo, 
mas tem origem não surda e não fala da experiência dos surdos.
Fonte: Reprodução/Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZZnxEAVkMaU 
3. Literatura com assuntos que tratam da experiência de ser surdo: existem 
muitos exemplos de literatura surda com a temática do “sujeito surdo”. Um autor surdo pode 
escrever sobre a experiência surda para atingir um público ouvinte. Por outro lado, alguns 
livros infantis têm autores ouvintes, mas desde que fale de uma pessoa surda e esteja 
destinado ao público surdo, digamos que é um tipo de literatura surda. Como exemplo, 
podemos citar o Livro “A Verdadeira Beleza”, de Vanessa Lima Vidal, foi escrito por uma 
autora surda e fala da experiência de uma pessoa surda. Não está apresentado em Libras, 
mas em português, e o público esperado é tanto de ouvintes quanto de surdos.
Fonte: https://www.libras.com.br/surdos-famosos-vanessa-lima-vidal
https://www.youtube.com/watch?v=ZZnxEAVkMaU
https://www.libras.com.br/surdos-famosos-vanessa-lima-vidal
13UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
Literatura surda produzida em Libras: pessoas surdas, convivendo com ouvintes, 
em seu ambiente de trabalho ou com a família, se apropriam de meios visuais para entender 
o mundo e se relacionar com as pessoas ouvintes. Essa experiência visual, além do uso 
da língua de sinais, implica dividir a comunicação, o desejo de estarem juntos é a força da 
vida em comunidade e a força de sua língua, de sua diferença e isso também caracteriza 
a cultura surda. Alguns materiais existentes em Libras traduzem os textos clássicos da 
literatura brasileira para a Libras, ou seja, literatura adaptada de uma língua oral para uma 
língua sinalizada. A editora “Arara Azul” disponibiliza a coleção “Clássicos da Literatura em 
CD-R em Libras/Português, traduzidos por intérpretes de Libras como: Alice no País das 
Maravilhas de Lewis Carrol; As Aventuras de Pinóquio de Carlo Collodi; A História de Aladim 
e a Lâmpada Maravilhosa (autor desconhecido); Iracema de José de Alencar; O Velho 
da Horta de Gil Vicente; O Alienista; O Caso da Vara; A Missa do Galo; A Cartomante; O 
Relógio de Ouro, contos de Machado de Assis. Outro exemplo de literatura surda produzida 
em Libras é história A Rainha das Abelhas, contada por Mariá de Rezende Araújo, foi 
apresentada por uma tradutora ouvinte e tem origem não surda (por ser um conto de fadas 
dos irmãos Grimm), então não fala da experiência dos surdos. Porém, está contada em 
Libras e é destinada ao público surdo.
Fonte: Reprodução/Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nXI4aO2_G3E
A partir do ano 2000 a Literatura surda produzida em Libras, passou a contar com 
a análise de livros infantis impressos contendo personagens surdos como:
https://www.youtube.com/watch?v=nXI4aO2_G3E
14UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
IMAGEM 1 - LITERATURA SURDA
Fonte: Arquivos da autora (2021)
Rapunzel Surda: é um livro de literatura infantil do Brasil escrito em língua de sinais. 
O livro Rapunzel Surda é uma versão do tradicional conto que insere elementos da cultura e 
identidade surda. Essa releitura inédita da história é acompanhada da escrita dos sinais (SW), 
ilustrações e uma versão em português. Voltada para o público surdo infantil, a obra é o resultado 
da pesquisa desenvolvida por Lodenir Becker Karnopp, Caroline Hessel e Fabiano Rosa.
Patinho Surdo: conta o nascimento de uma ave pertencente a outra espécie em 
um ninho de cisnes ouvintes e a dificuldade em estabelecer-se uma comunicação entre 
eles são contados em ‘Patinho surdo’. No livro, o protagonista reencontra a sua família e 
aprende a linguagem de sinais usada pelos bichinhos da lagoa. 
Tibi e Joca: este livro pode ser facilmente compreendido por crianças surdas e 
ouvintes. Esta é a história de Joca, um menino especial, e seu amigo Tibi. Joca é surdo. 
Juntos, eles fazem uma descoberta que mudará as vidas de Joca e sua família. Uma des-
coberta que pode ser importante para você também.
Adão e Eva: os autores contam a origem da língua de sinais através da criação do 
casal feita por Deus. Na história, os dois ficam sem roupa após comerem a maçã e veem-se 
obrigados a usar a fala, já que as mãos estão ocupadas em esconder a nudez dos corpos. A 
versão dessa história é recorrente de encontro entre os autores e a comunidade de surdos, 
no qual são contados e recontados vários clássicos da literatura.
Cinderela Surda: a estrutura da narrativa é a mesma do conto tradicional, apenas 
com a inserção de elementos significativos na comunidade surda. Cinderela é uma jovem 
surda que convive com a madrasta e as irmãs. Que desconhecem a língua de sinais e se 
comunicam por poucos gestos, por isso, sente-se sozinha e abandonada. O conto destaca 
elementos importantes da cultura surda, como sua história, sua língua e a valorização des-
ses aspectos, ao final do livro, invertendo a lógica de opressão em relação às diferenças 
culturais relativas aos surdos. Tal como no conto tradicional, Cinderela surda conquista a 
felicidade depois de superar muitas dificuldades difíceis obstáculos relativos à discrimina-
ção e enfrentar duras tribulações.
15UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
3. LITERATURA VISUAL SURDA, LIBRAS E O ENSINO 
A literatura desempenha um importante papel no desenvolvimento de todas as 
crianças. Andrews e Baker (2019, p. 7) explicam que histórias e outras formas de jogos de 
linguagem em língua de sinais são importantes para aspectos como:
[...] desenvolvimento motor, comunicação, habilidades socioemocionais, co-
nhecimento do mundo, cognição, linguagem e alfabetização.” O ensino de 
literatura infantil deve incluir histórias e jogos que “[...] manipulam a estrutura 
abstrata, sublexical ou fonológica dos sinais para fornecer às crianças expe-
riências de linguagem lúdicas. (ANDREWS; BAKER, 2019, p. 5). 
Essa literatura surge simultaneamente para instruir, divertir e educar, trazendo a 
criança ao mundo com o qual ela se identifica e no qual ela se sente livre para formar suas 
capacidades intelectuais, pessoais e sociais, visto que ela ainda está em um processo de 
formação de experiências reais. 
A literatura nada mais é do que uma fonte saudável de alimentaçãopara a imagina-
ção infantil. A palavra tem sua beleza própria, mas só reconhece quem sabe usá-la: 
(...) já aos dois anos e meio as crianças constroem monólogos nos quais 
inter-relacionam a reflexão sobre sua experiência com a contemplação da lin-
guagem, como um jogo de repetições e variações. Muito rapidamente estes 
monólogos e cadências se integram no quadro proporcionado pelas conven-
ções culturais das narrativas, canções ou poemas (...) a inclusão de várias 
fórmulas de início e fim, o uso de imperfeito, a intenção de estabelecer rela-
ções causais entre os acontecimentos, etc., supõem indícios que mostram 
que as crianças aprenderam, que as histórias requerem o uso diferenciado 
da linguagem. (COLOMER, 2003, p. 90). 
16UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
As histórias infantis podem, assim, trabalhar na formação moral, social e literária da 
criança, acompanhando-a em seus momentos particulares e provendo, por intermédio da 
transposição do real, a melhor compreensão do mundo. 
Quando a criança surda é inserida no mundo da escrita, tornando-se parte em 
atividades em que a leitura é feita para que se conheça mais sobre um tema de interesse, 
quando ela mesma com esse texto internalizado sinaliza as histórias infantis lidas, des-
pertando nelas o prazer em conhecer essas histórias, quando o professor prioriza esse 
envolvimento com a literatura, atribuindo sentido à leitura, torna-se uma possibilidade de 
tornar possível a formação de uma atitude positiva da criança surda em relação à escrita. 
Com isso, cria-se nessa criança uma atitude em relação à leitura que favorece sua apren-
dizagem e seu desenvolvimento.
Nos tópicos anteriores vimos várias possibilidades de trabalharmos a literatura com 
as crianças surdas, porém o desafio está em formar nessa criança surda um motivo para 
a leitura de um texto escrito por ela ou para ela, e que esse traga à tona a sua cultura, sua 
comunidade e sua identidade, ou seja, temos que despertar na criança surda uma atitude 
de leitura, motivada pela compreensão da informação e do sentimento expresso no texto.
Na formação das crianças ouvintes frente ao sentido para a leitura e da escrita ade-
quada ao seu significado social, podemos observar duas situações distintas: uma em que 
a criança inicia o contato com a cultura escrita na escola; e outra em que a criança chega 
à escola, tendo já formado para si um sentido para a escrita alheio a sua função social, 
porém, tanto em um como em outro, a literatura infantil pode contribuir fortemente para formar 
nessas crianças uma atitude leitora e produtora de textos e aí, é claro que precisamos levar 
em consideração que essas crianças vêm de um ambiente familiar onde circulam com mais 
facilidades o contato com a leitura, a escrita e a comunicação em sua língua natural.
Mas, e nas crianças surdas? Como podemos formar nelas essa atitude leitora e 
produtora de textos, como elas vão criar um sentido para a cultura escrita e tornar esse 
momento prazeroso, visto que a maioria está inserida em um espaço familiar e escolar 
onde não existe uma circulação e, muitas vezes, aceitação para essas produções literárias 
adaptadas ou mesmo com personagens que as representem, que sirvam de referência 
para a sua comunidade?
Sabemos que as marcas históricas de uma proibição do uso da língua de sinais, 
perduram até hoje, as consequências desse longo período, resultaram num ensino que 
prioriza a aprendizagem da fala e da Língua Portuguesa, no reconhecimento de uma cultura 
surda e na produção de literatura surda, tardiamente.
17UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
O registro da literatura surda começou a ser possível principalmente a partir do re-
conhecimento da Libras aprovada na Lei Federal nº10436/02 e regulamentada no Decreto 
Federal 5626/05, com o desenvolvimento tecnológico, que possibilitaram formas visuais de 
registro dos sinais.
Nesse sentido, precisamos trazer a cultura surda e a Literatura Surda para as salas 
de aula bilíngues (STROBEL, 2008; MOURÃO, 2011) e também para as salas de aulas 
inclusivas, possibilitando que surdos e ouvintes conheçam esse tipo de literatura. Para 
fazer isso de maneira mais eficaz, precisamos pedir a opinião dos professores surdos na 
literatura (ROSA; KLEIN, 2011). A Pedagogia Visual é um elemento importante da educação 
(CAMPELLO, 2007) e a literatura mostra a Libras na sua forma mais criativa e visual. 
Lembramos também que, mesmo o ensino e a aprendizagem de Literatura Surda 
sendo fundamentais para as crianças surdas, também são importantes para os adultos 
surdos e os adultos ouvintes aprendizes da Libras como segunda língua – por exemplo, 
os pais de filhos surdos, professores bilíngues e outros profissionais que trabalham com 
surdos. Da mesma forma, os alunos ouvintes que têm colegas surdos na mesma sala de 
aula devem aprender Libras como segunda língua nas escolas para que haja uma real 
inclusão escolar naquele espaço. Nesse contexto, a Literatura Surda se mostra como uma 
maneira de ensinar a Libras por meio da ludicidade. 
Com certeza, o ensino de literatura em Libras tem um caráter de entretenimento 
e diversão, um dos principais motivos para que ela seja inserida nas aulas. Além disso, 
pode ser utilizada no ensino de diferentes áreas do conhecimento – nas aulas de História, 
Geografia, Ciências e até Matemática, as quais podem contar com histórias e jogos de 
linguagem. Para os alunos surdos, a literatura tem um papel de aculturação e auxílio na 
exploração e desenvolvimento da língua, analisando seus limites e dando ao autor/narrador 
uma oportunidade de mostrar suas habilidades linguísticas. 
Os professores precisam chamar a atenção dos alunos para a linguagem (SUT-
TON-SPENCE; RAMSEY, 2010). É importante que os alunos surdos entendam o objetivo 
de estudar a Literatura Surda (SCOTT, 2010). Idealmente, eles devem ver seus professores 
apresentando a literatura, mas se o professor não tiver as habilidades necessárias para 
a produção, eles podem assistir outras obras em vídeo e o professor pode enfatizar os 
elementos literários ali presentes. 
Mas como o aluno aprende a contar histórias? Primeiramente, pela observação 
enquanto o professor conta histórias ou as apresenta em vídeo; em seguida, no momento 
em que o aluno copia essa história do professor. Num ato coletivo, o professor pode in-
centivar a história de um aluno enquanto os outros assistem, apoiam e comentam, ou os 
alunos podem criar histórias coletivamente. Porém, nada disso deve acontecer sem que o 
professor ensine explicitamente quais são as técnicas de contação de história.
18UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
4. DESENVOLVIMENTO DAS ETAPAS DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA 
 PARA SURDOS
Focamos até agora na literatura visual, principalmente na Literatura em Libras, 
porém sabemos que o letramento em Libras adianta o desenvolvimento do letramento 
em português. Assim, o ensino da Literatura Surda em Libras pode apoiar o estudo da 
Literatura na Língua Portuguesa, ajudando os alunos a apreciar a literatura escrita e 
mantendo o “bi” em bilíngue. 
 O ensino da Língua Portuguesa para alunos surdos é um processo complexo tanto 
para o aluno quanto para o professor, um procedimento que deve ser regido por metodolo-
gias que valorizem e respeitem a experiência visual e linguística do surdo. Dessa forma, é 
necessário pensar em metodologias e concepções que assegurem aos alunos surdos bom 
desempenho na aprendizagem, assim como na avaliação. 
Muitos surdos não gostam de literatura escrita, seja porque é difícil de entender as 
referências linguísticas ou culturais, seja porque não conhecem as convenções da língua 
em questão (SUTTON-SPENCE, 2020; SPOONER, 2016). Nesse viés, as traduções de 
literatura escrita para formas literárias em Libras, pautadas nas normas surdas de literatura, 
auxiliam muito no estudo do texto original. Além disso, é sabido que discutir sobre a literatu-
raescrita pela língua de sinais permite que os alunos compreendam melhor as ideias nela 
inseridas (LANG, 2007). 
19UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
O livro “Ensino de Língua Portuguesa para Surdos: caminhos para a prática peda-
gógica” volume II, publicado em 2007 pela autora Heloisa Maria Moreira Lima Salles, nos 
faz compreender a relação entre a leitura em português (L2) e Libras, segundo a autora, é 
importante considerar que é por meio da Libras que o indivíduo surdo fará a leitura de mun-
do para só após a essa compreensão em sua língua natural fazer a leitura da palavra em 
Língua Portuguesa, destaca ainda que a leitura deve ser uma das principais preocupações 
no ensino de português como segunda língua para surdos, tendo em vista que constitui 
uma etapa fundamental para a aprendizagem da escrita. 
A língua de sinais deverá ser sempre contemplada como língua por excelência 
de instrução em qualquer disciplina, especialmente na Língua Portuguesa, o que coloca 
o processo ensino e aprendizagem numa perspectiva bilíngue. Considerando que o aluno 
surdo tem a Libras como língua materna, na escola ele aprenderá uma Língua Adicional, no 
caso, a Língua Portuguesa na modalidade escrita. A língua adicional é construída a partir 
da língua que o aluno já conhece. O sistema linguístico envolvendo a semântica, o léxico e 
a sintaxe, é construído sobre a língua já conhecida, muitas vezes constituindo contrastes, 
como, por exemplo, na estrutura da língua.
A autora Heloisa Salles (2007), com base nos estudos de Garcez (2001 p. 24), 
reconhece que entender a organização sintática de um texto, torna a leitura mais produtiva 
para isso e sugere uma série de procedimentos importantes que envolvem aspectos ma-
croestruturais: gênero, tipologia, pragmática e semântica (textuais e discursivos) e microes-
truturais: gramaticais/lexicais, morfossintáticos e semânticos (lexicais e sentenciais) podem 
ser executados com os alunos surdos nesse processo.
Aspectos macroestruturais:
● Analisar e compreender todas as pistas que acompanhem o texto escrito: figu-
ras, desenhos, pinturas, enfim, todas as ilustrações;
● Identificar, sempre que possível, nome do autor, lugares, referência temporais e 
espaciais internas ao texto;
● Situar o texto, sempre que possível, temporal e espacialmente;
● Observar, relacionando com o texto, título e subtítulo;
● Explorar exaustivamente a capa de um livro, inclusive as personagens, antes 
mesmo da leitura;
● Elaborar, sempre que possível, uma sinopse antes da leitura do texto;
20UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
● Reconhecer elementos paratextuais importantes tais como: parágrafos, negri-
tos, sublinhados, travessões, legendas, maiúsculas e minúsculas, bem como 
outros que concorram para o entendimento do que está sendo lido;
● Estabelecer correlações com outras leituras, outros conhecimentos que venham 
auxiliar na compreensão;
● Construir paráfrases em Libras ou em português (caso já tenha um certo domínio);
● Identificar o gênero textual;
● Observar a importância social e discursiva, portanto pragmática, do gênero textual;
● Identificar a tipologia textual;
● Ativar e utilizar conhecimentos prévios;
● Tomar notas de acordo com os objetivos.
Aspectos microestruturais:
● Reconhecer e substituir palavras-chave;
● Tentar entender, se for o caso, cada parte do texto, correlacionando-as entre si: 
expressões, frases, períodos, parágrafos, versos, estrofes;
● Identificar e sublinhar ou marcar na margem fragmentos significativos;
● Relacionar, quando possível, esses fragmentos a outros;
● Observar a importância do uso do dicionário;
● Decidir se deve consultar o dicionário imediatamente ou tentar entender o signi-
ficado de certas palavras e expressões observando o contexto, estabelecendo 
relações com outras palavras, expressões ou construções maiores;
● Substituir itens lexicais complexos por outros familiares;
● Observar a lógica das relações lexicais, morfológicas e sintáticas;
● Detectar erros no processo de decodificação e interpretação;
● Recuperar a ideia geral de forma resumida.
Em suma, segundo a autora, é importante ressaltar que, para cada texto, existe 
um conjunto de procedimentos adequados à compreensão, e, portanto, é impraticável a 
aplicação de todos os procedimentos listados à leitura de um único texto.
No cenário da educação de alunos surdos, frequentemente nos deparamos com 
professores afirmando que alunos surdos não usam adequadamente a Língua Portuguesa 
escrita. A limitação auditiva, certamente, é apontada como a responsável por essa inaptidão 
quanto a essa modalidade da língua, transferindo a responsabilidade da não aprendizagem 
para o aluno surdo. O processo de aprendizagem envolve professores, alunos e práticas 
utilizadas para o ensino de Língua Portuguesa, necessitando, portanto, de reflexão.
21UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
Em relação à aprendizagem de Língua Portuguesa, o aluno ouvinte tem uma van-
tagem notória sobre o aluno surdo, pois apreende a língua e suas facetas no convívio 
diário, o que favorece sua compreensão e sua formulação de hipóteses, durante o processo 
de construção do conhecimento linguístico. O sujeito surdo, por sua vez, não aprende a 
Língua Portuguesa de forma natural, uma vez que ela é um registro escrito de uma língua 
oral-auditiva, e a surdez impede que sua aprendizagem aconteça de forma completa, já que 
não possui acesso ao input necessário a essa aquisição. 
Segundo a teoria sociointeracionista, o desenvolvimento cognitivo se dá através da 
interação em situações sociais concretas, e é facilitado quando o aprendiz recebe suporte 
de um interlocutor mais experiente, seja professor ou colega de aula. No caso do aluno 
surdo, é necessário um mediador que possa orientá-lo durante a interação, permitindo a 
ele relacionar os conhecimentos linguísticos da Libras e os conhecimentos linguísticos da 
Língua Portuguesa escrita, sendo esse o princípio para pensar ou repensar metodologias.
22UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
5. PRODUÇÃO DIDÁTICA PARA O APRENDIZADO DE LIBRAS COMO SEGUN 
 DA LÍNGUA NA FORMAÇÃO DOS ACADÊMICOS
O compartilhamento dos materiais expostos, a partir de agora, foram pensados, 
elaborados e produzidos pelos acadêmicos ouvintes dos cursos de Pedagogia, Letras, 
Ciências Biológicas, História, Geografia, Matemática, Serviço Social, Educação Física e 
Enfermagem da Universidade Estadual do Paraná, campus Paranavaí durante os anos de 
2015 e 2016 sob a orientação da professora autora dessa Unidade de Estudos em conjunto 
com o professor surdo Murilo Sbrissia Pitarch Forcadell. Em todas as produções foi ressal-
tada a importância do professor surdo avaliar e contribuir no sentido de que esses materiais 
fossem preparados e adaptados para atender especificamente aos alunos surdos. A visão 
e as orientações de um educador, também surdo, e com ampla experiência na área educa-
cional dos surdos, fez com que o trabalho acadêmico fosse além de simplesmente construir 
um material para receber uma nota bimestral; mas, passou a ser elaborado e produzido 
pelos acadêmicos, valorizando a diferença que esses materiais poderiam fazer na vida 
educacional dos alunos surdos e na ação docente dos professores, enquanto educadores 
de alunos surdos.
Toda produção deste material pode ser encontrada na Dissertação de Mestrado da 
professora Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell (2017).
23UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
● Literatura Surda: produção de histórias infantis com personagens surdos
Por meio da produção dessa literatura, os acadêmicos ouvintes puderam conhecer, 
produzir e interagir com obras criadas ou adaptadas para o público surdo, uma vez que 
a elaboração e a produção dessas literaturas traziam como personagens principais da 
história, surdos que se comunicavam com outros personagens utilizando-seda língua de 
sinais. Nessa perspectiva, apresentamos, a seguir, uma mostra das literaturas de histórias 
infantis com personagens surdos, produzidas pelos acadêmicos ouvintes da Universidade 
em parceria com surdos de diferentes ambientes sociais e educacionais.
IMAGEM 2 - PRODUÇÃO ACADÊMICA DE LITERATURAS COM PERSONAGENS SURDOS
Fonte: Forcadell, Elizete (2017). Dissertação de Mestrado
● Lúdico em Libras: produção de jogos e brincadeiras para educação 
 de surdos e ouvintes em Língua de Sinais
Apresenta-se como um material para surdos e ouvintes, o professor, mesmo não 
tendo amplo conhecimento da Língua de Sinais, poderá introduzir no ambiente educacional 
os primeiros contatos com a língua, em sala de aula regular, priorizando a prática lúdica 
da aprendizagem da Libras. Ao trabalhar como docente da disciplina de Libras na Univer-
sidade, pudemos perceber que, na medida em que os conteúdos teóricos ensinados aos 
acadêmicos eram expostos, havia a necessidade de transformar essa teoria em prática 
para que eles pudessem, por meio da atividade lúdica, compreender esses conteúdos.
24UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
IMAGEM 3 - PRODUÇÃO ACADÊMICA DE JOGOS ADAPTADOS PARA SURDOS
Fonte: Forcadell, Elizete (2017). Dissertação de Mestrado
● Literatura em Libras: produção de histórias infantis adaptadas para 
 a Língua Brasileira de Sinais
Atualmente, já existem várias literaturas clássicas infantis traduzidas da Língua 
Portuguesa para a Língua Brasileira de Sinais. Essas adaptações literárias estão sendo 
utilizadas pelas escolas bilíngues para surdos, mas, também, têm sido usadas, inclusive, 
por escolas regulares inclusivas para surdos. A representação desse tipo de literatura tem 
permitido que alunos ouvintes se interessem e aprendam a língua de sinais e acima de 
tudo, reconheçam, valorizem e respeitem a comunidade surda ou o povo surdo. A produção 
que ora apresentamos foi feita em equipes, e cada equipe escolheu uma história infantil já 
existente em Língua Portuguesa para adaptá-la para a Língua Brasileira de Sinais. Além 
disso, a escolha também se deu pelo fato de que, os trabalhos realizados demonstraram 
muito envolvimento com a atividade proposta. Um exemplo claro desse fato é que eles 
reconheceram a importância da literatura, que propicia sentimentos, emoção e reflexão, 
considerando o valor da cultura surda. Os produtores dessas literaturas, não são Traduto-
res/Intérpretes de Libras, não são professores da língua de sinais, também não são fluentes 
em língua de sinais, muitos nunca tiveram contato com surdos ou com a Libras em seu dia 
a dia, são apenas acadêmicos aprendizes da língua de sinais.
25UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
IMAGEM 4 - PRODUÇÃO ACADÊMICA DE LITERATURA ADAPTADA PARA SURDOS
Fonte: Forcadell, Elizete (2017). Dissertação de Mestrado
26UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
SAIBA MAIS
A pesquisadora surda Karin Strobel procura desconstruir o conceito de várias culturas 
surdas em que ela diz: “A cultura surda, ao analisarmos a sua história, vê-se que ela foi 
marcada por muitos estereótipos, seja através da imposição da cultura dominante, ou 
das representações sociais que narram o povo surdo como seres deficientes.
Existem muitos autores que escrevem bonitos livros sobre oralismo, bilinguismo, comu-
nicação total, ou sobre os sujeitos surdos... Mas eles realmente conhecem-nos? Sabem 
sobre a cultura surda? Eles sentiram na própria pele como é ser surdo?
Essa é uma reflexão importante a ser feita atualmente, porque essas metodologias cita-
das não foram criadas pelo povo surdo e sim pelos ouvintes, não digo que seja errado, 
o que quero dizer é que essas metodologias não seguem a cultura surda... o que o povo 
surdo almeja realmente é a pedagogia surda. Para a comunidade ouvinte que está mais 
próxima de povo surdo - os parentes, amigos, intérpretes, professores de surdos – para 
os mesmos, reconhecer a existência da cultura surda não é fácil, porque no seu pensa-
mento habitual acolhem o conceito unitário da cultura e, ao aceitarem a cultura surda, 
eles têm de mudar as suas visões usuais para reconhecerem a existência de várias 
culturas, de compreenderem os diferentes espaços culturais obtidos pelos povos dife-
rentes. Mas não se trata somente de reconhecerem a diferença cultural do povo surdo, 
e sim, além disso, de perceberem a cultura surda através do reconhecimento de suas 
diferentes identidades, suas histórias, suas subjetividades, suas línguas, valorização de 
suas formas de viver e de se relacionar.
Acadêmico(a), essa foi uma parte da entrevista concedida pela pesquisadora em 2 de 
março de 2008 ao blog Vendo Vozes, que você pode saber mais através deste link: 
http://www.blogvendovozes.com/search/label/Karin%20Strobel 
Fonte: Strobel (2008). Disponível em: http://www.blogvendovozes.com/search/label/Karin%20Strobel 
Acesso em: 27 de out. 2021.
http://www.blogvendovozes.com/search/label/Karin%20Strobel
http://www.blogvendovozes.com/search/label/Karin%20Strobel
27UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
REFLITA
VOCÊ PRECISA SER SURDO PARA ENTENDER
Como é “ouvir” uma mão? 
Você precisa ser surdo para entender! 
O que é ser uma pequena criança
na escola, numa sala sem som
com um professor que fala, fala e falae, então quando ele vem perto de você
ele espera que você saiba o que ele disse?
Você precisa ser surdo para entender! 
Ou o professor que pensaque para torná-lo inteligente
você deve, primeiro, aprendercomo falar com sua voz
assim
colocando as mãos no seu rosto
por horas e horas
sem paciência ou fim
até sair algo indistinto
assemelhado ao som?
Você precisa ser surdo para entender! 
Como é ser curioso 
na ânsia por conhecimento próprio
com um desejo interno
que está em chamas
e você pede a um irmão, irmã e amigo
que respondendo lhe diz:
“Não importa”?
Você precisa ser surdo para entender!
Como é estar de castigo num canto
embora não tenha feito
realmente nada de errado 
a não ser tentar fazer uso das mãos 
para comunicar a um colega silencioso 
um pensamento que vem, de repente, a sua mente? 
Você precisa ser surdo para entender!
Como é ter alguém a gritar 
pensando que irá ajudá-lo a ouvir
ou não entender as palavras
de um amigo que está tentando
tornar a piada mais clara
e você não pega o fio da meada 
porque ele falhou? 
28UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
Você precisa ser surdo para entender! 
Como é quando riem na sua face 
quando você tenta repetir o que foi dito 
somente para estar seguro que você entendeu 
você descobre que as palavras foram mal entendidas? 
E você quer gritar alto: 
“Por favor, me ajude, amigo! 
Você precisa ser surdo para entender! 
Como é ter que depender de alguém 
que pode ouvir 
para telefonar a um amigo
ou marcar um encontro de negócios
e ser forçado a repetir o que é pessoal 
e, então, descobrir que seu recado 
não foi bem transmitido? 
Você precisa ser surdo para entender! 
Como é ser surdo e sozinho 
em companhia dos que podem ouvir 
e você somente tenta adivinhar
pois não há ninguém lá com uma mão ajudadora
enquanto você tenta acompanhar 
as palavras e a música?
Você precisa ser surdo para entender! 
Como é estar na estrada da vida 
encontrar com um estranho que abre a sua boca 
e fala alto uma frase a passos rápidos 
e você não pode entendê-lo e olhar seu rosto 
porque é difícil e você não o acompanha? 
Você precisa ser surdo para entender! 
Como é compreender alguns dados ligeiros 
que descrevem a cena
e fazem você sorrir 
e sentir-se sereno 
com a “palavra falada’ de mão em movimento 
que torna você parte deste mundo tão amplo? 
Autores: Willerd e Madsen
29UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta Unidade, foram enfocados três principais assuntos: a Cultura Surda, abor-
dando as identidades dos surdos e os artefatos culturais desse povo; a Literatura Surda 
em Libras, que criauma experiência prazerosa e visual no público surdo e a importância de 
ensinar essa literatura nas escolas para alunos surdos e ouvintes. É preciso não esquecer 
que a língua de sinais brasileira é o produto da própria cultura Surda que de modo subjetivo 
e objetivo criou a própria identidade, devido à “experiência visual” que constitui todo o 
seu ser como sujeito, apesar de as identidades serem fragmentadas, produzindo várias 
identidades. E, com o efeito do multiculturalismo e as transformações às quais os Surdos 
foram submetidos pelos colonizadores, criaram uma resistência, no pós-modernismo, 
transformando-se em sujeito atuante e participativo dentro da sociedade não-surda.
Vimos que o letramento dos alunos surdos vai além dos livros, por isso qualquer 
professor – seja ele surdo ou ouvinte, com o dom de contar histórias ou não – pode mostrar 
aos seus alunos surdos a riqueza da Literatura Surda em Libras. Juntos, os professores 
e alunos podem assistir à literatura, explorar e conhecer a riqueza da linguagem estética, 
estimulando ainda mais a produção artística e criativa da Libras.
A “experiência visual” também é um “espaço de produção” (QUADROS, 2007), 
igualmente na teoria cultural e de Estudos Surdos, que provêm da constituição dos Surdos 
apresentando seus diversos artefatos, como: língua de sinais, história cultural, identidade, 
pedagogia, literatura, artes, trabalho, tecnologia, teatro, pintura, e outros. E destes cria-se um 
pertencimento cultural que, por meio da visualidade, se apropria, se medeia e transmite a cul-
tura, proporcionando vários significados capazes de promover a sociabilidade e a identidade 
através da visualidade e da “experiência visual” como protagonistas dos processos culturais 
da comunidade Surda. A língua de sinais é um dos artefatos de comunicação e de instrução.
30UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
LEITURA COMPLEMENTAR
Recomendo a leitura do artigo “Existe uma cultura surda?” de Nídia Limeira de Sá, 
mãe de surda, psicóloga, mestre e doutora em Educação, professora da Faculdade de 
Educação da Universidade Federal da Bahia, coordenadora do Espaço Universitário de Es-
tudos Surdos. A autora expõe argumentos em favor de os surdos apresentarem processos 
culturais específicos, em oposição a serem tratados apenas como um grupo de deficientes 
ou incapacitados. Você pode encontrar esse artigo acessando o link: www.feneis.org.br/
arquivos/identidade_surdas.pdf 
http://www.feneis.org.br/arquivos/identidade_surdas.pdf
http://www.feneis.org.br/arquivos/identidade_surdas.pdf
31UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO 
Título: As imagens do outro sobre a cultura surda
Autor: Karin Strobel.
Editora: UFSC - Florianópolis (2008).
Sinopse: O livro narra a experiência visual dos surdos e os di-
ferentes artefatos culturais que corroboram a existência de uma 
cultura surda, buscando inverter a lógica da visão patológica que 
vê os surdos apenas como um grupo de deficientes para a com-
preensão deles como um povo que, organizados em comunidades, 
produzem uma cultura própria.
LIVRO
Título: Literatura em Libras
Autor: Rachel Sutton-Spence.
Editora: Arara Azul - Petrópolis - RJ (2021).
Sinopse: “Literatura em Libras”, celebra a riqueza, a criatividade e 
a genialidade da Libras. Apresenta alguns conceitos fundamentais 
da literatura em Libras, detalhando a produção de narrativas, os 
elementos da linguagem estética de Libras e a inter-relação entre 
a sociedade e esta literatura. Tenta entender melhor como ela é 
enquanto é possível conhecer as obras literárias de Libras, analisar 
os exemplos e comentar sobre eles. No livro há uma sequência de 
obras literárias que é possível assistir, ler/ver, além de atividades 
que ajudam na compreensão do leitor.
LIVRO
Título: Ensino de Língua Portuguesa para Surdos: 
caminhos para a prática pedagógica
Autor: Heloisa Maria Moreira Lima Salles.
Editora: MEC, SEESP - Brasília (2007).
Sinopse: Os livros têm como objetivo, apoiar e incentivar a forma-
ção profissional de professores proporcionando acesso a mate-
riais que tratam do ensino da Língua Portuguesa a alunos surdos 
usuários de Libras.
32UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas
FILME/VÍDEO 
Título: Mãos Aventureiras
Ano: 2017.
Sinopse: Na internet, vemos uma quantidade significativa de 
traduções em Libras de livros escritos por autores ouvintes, origi-
nalmente em português. Essas traduções não têm um conteúdo 
surdo, porém esses livros traduzidos oferecem uma boa oportuni-
dade para que alunos surdos leiam e compreendam as mesmas 
histórias que seus colegas ouvintes. A coleção “Mãos Aventurei-
ras”, de Carolina Hessel Silveira, disponível no link: https://www.
ufrgs.br/maosaventureiras/ é uma das plataformas com muitos 
recursos, traduzidos por artistas surdos brasileiros que trago como 
sugestão. Mesmo não sendo histórias que envolvem personagens 
surdos, as traduções permitem que pelo menos os elementos 
estéticos da Libras entrem na sala de aula. Nas boas traduções, 
as crianças surdas vão identificar exemplos da utilização criativa e 
imaginativa da Libras, sentindo orgulho de sua língua visual. O blog 
apresenta uma série de livros publicados por autores brasileiros ou 
estrangeiros, para crianças. As aventuras são narradas em Libras 
para a comunidade surda, com o objetivo principal de unir a Língua 
Brasileira de Sinais com a literatura infantil. São apresentadas 
variadas histórias com diversos assuntos, ilustrações diferentes.
https://www.ufrgs.br/maosaventureiras/
https://www.ufrgs.br/maosaventureiras/
33
Plano de Estudo:
● A estrutura de frases em Libras;
● Expressão e conceitos em Libras: dimensões evolutivas em Libras metafóricas 
 e descritivas;
● Uso de espaços na enunciação em Libras dêixis em processos de descrição;
● Figuras de linguagem na língua de sinais e suas diferentes formas de manifestação.
Objetivos da Aprendizagem:
● Expressões da Libras;
● Descrição e uso do espaço;
● Referentes locais: aspectos sintáticos da Libras e figuras de linguagens;
● Uso dêitico e processos anafóricos.
UNIDADE II
Estrutura, Expressão, Conceitos 
Dêiticos / Anafóricos e Figuras de 
Linguagem na Língua de Sinais
Professora Me. Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell
34UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas 34UNIDADE II Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de Linguagem na Língua de Sinais
INTRODUÇÃO
É com satisfação que iniciamos e lhes entregamos mais uma Unidade de Estudos, 
um material instrucional de Língua Brasileira de Sinais, que traz em sua composição um 
ensino sistemático dessa língua, para que você, acadêmico(a) aprenda a se comunicar 
com os surdos e oferecer um melhor atendimento docente para essa comunidade.
Para começar, vamos explorar as expressões da modalidade visual da Libras, pensa-
remos também como a iconicidade e a incorporação afetam a linguagem figurativa da Libras. 
Conhecer uma língua requer conhecer bem como se podem dizer as coisas nessa lín-
gua. Nem sempre uma palavra isolada tem o mesmo significado quando ela está em uma frase, 
pois os sinais assim como as palavras vão estabelecendo uma rede de relações. Isso quer dizer 
que unidades linguísticas não são totalmente autônomas do ponto de vista conceitual.
Com a inserção da gramática da Língua Brasileira de Sinais, é necessário entender 
também as propriedades dessa língua de acordo com sua modalidade viso-gestual.
Para ter a “imersão” da Língua Brasileira de Sinais, é fundamental ter na mente a 
ampliação de conhecimento sobre o uso dessas propriedades da Língua de Sinais utilizada 
pela comunidade Surda, e, a partir desses estudos e práticas, por você aprendiz.
35UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas 35UNIDADE II Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de Linguagem na Língua de Sinais
1. A ESTRUTURA DE FRASES EM LIBRAS
Uma breve revisão da literatura permite-noscontemplar e apresentar diferentes 
definições de língua. Tais definições fornecem subsídios para a indicação de propriedades 
consideradas pela linguística essenciais às línguas naturais. 
Segundo Saussure (1995, p.17), 
[...] língua não se confunde com linguagem: é um conjunto de convenções ne-
cessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculda-
de nos indivíduos, é, portanto, um produto social da faculdade de linguagem. 
Chomsky (apud Quadros & Karnopp, 2004, p. 25), considera que uma língua “é 
um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em comprimento e construída 
a partir de um conjunto finito de elementos”, considera ainda duas perspectivas: a língua 
externa e a língua interna. 
● Língua Externa: associa o som à palavra ao seu significado. 
● Língua Interna: define a “noção de estrutura” como parte estável, livre das 
expressões que podem variar de falante para falante. 
Fernandes (2002, p.16) traz a definição de Linguagem e Língua, vejamos:
36UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas 36UNIDADE II Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de Linguagem na Língua de Sinais
IMAGEM 1 - DEFINIÇÃO DE LINGUAGEM 
Fonte: Fernandes (2002), adaptado pela autora
Linguagem: tudo que envolve significação, que pode ser humano (pintura, música, cine-
ma), animal (abelhas, golfinhos, baleias) ou artificial (linguagem de computador, código 
Morse, código internacional de bandeiras). Ou seja, “sistema de comunicação natural ou 
artificial, humana ou não”.
IMAGEM 2 - DEFINIÇÃO DE LÍNGUA
Fonte: Fernandes (2002), adaptado pela autora
Língua: um conjunto de palavras, sinais e expressões organizados a partir de 
regras, sendo utilizado por um povo para sua interação. Sendo assim, a língua seria uma 
forma de linguagem: a linguagem verbal. As línguas estariam em uma posição de destaque 
entre todas as linguagens, ou seja, podemos falar de todas as outras linguagens utilizando 
as palavras ou os sinais.
Entendemos por propriedades das línguas os traços comuns, características pre-
sentes em todas as línguas naturais humanas em relação aos outros sistemas de línguas 
(animais, matemática, tecnológicos). 
No quadro a seguir, junto às propriedades das línguas naturais orais apresentamos 
como essas propriedades se expressam nas línguas de sinais, comprovando que as línguas 
de sinais são línguas naturais. A coluna à esquerda apresenta as propriedades nas línguas 
– elaboradas com base na publicação de Quadros & Karnopp (2004) e a coluna à direita 
reproduz o trabalho de Ronice M. Quadros, Aline L. Pizzio e Patrícia F. Rezende (2009):
37UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas 37UNIDADE II Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de Linguagem na Língua de Sinais
QUADRO 1 - PROPRIEDADE DAS LÍNGUAS HUMANAS E NAS LÍNGUA DE SINAIS
FLEXIBILIDADE E VERSATILIDADE 
Segundo Lyons (1981), nenhum outro sistema de 
comunicação parece ter o mesmo grau de flexibili-
dade e versatilidade que o humano, pode-se usar 
a língua para dar vazão às emoções e sentimen-
tos; para solicitar a cooperação de companheiros; 
para ameaçar ou prometer; para dar ordens, fazer 
perguntas ou afirmações. É possível fazer referên-
cia ao passado, presente e futuro; a realidades re-
motas em relação à situação de enunciação e até 
mesmo a coisas que não existem.
As línguas de sinais são usadas para pensar, são 
usadas para desempenhar diferentes funções. 
Você pode argumentar em sinais, pode fazer poe-
sia em sinais, pode simplesmente informar, pode 
persuadir, pode dar ordens, fazer perguntas em si-
nais.
Glosas em LIBRAS:
VOCÊ GOSTAR MAÇÃ. VOCÊ 
<GOSTAR MAÇÃ>sn
IX CASA DEFEITO EU PRECISO ARRUMAR
< PROJETO> to AULA EU APRESENTAR
ARBITRARIEDADE
As palavras e os sinais são arbitrários entre a forma 
e o significado, visto que, dada a forma, é impos-
sível prever o significado, e dado o significado é 
impossível prever a forma. 
As línguas de sinais apresentam palavras em que 
não há relação direta entre a forma e o significado. 
Glosas em LIBRAS: 
CONHECER AMIGO
TRABALHO 
DESCONTINUIDADE
As palavras que diferem de maneira mínima na 
forma, normalmente apresentam uma considerável 
diferença no significado. Por exemplo, a palavra 
fada e faca diferem minimamente na forma, tanto 
na língua escrita como na falada. Esse fato tem por 
efeito mostrar o caráter descontínuo da diferença 
formal entre forma e significado. 
Na língua de sinais verificamos o caráter descon-
tínuo da diferença formal entre a forma e o signi-
ficado. Há vários exemplos: o sinal de MORENO 
e de SURDO são realizados na mesma locação, 
com a mesma configuração de mão, mas com uma 
pequena mudança no movimento, mesmo assim 
nunca são confundidos ao serem produzidos em 
um enunciado. Tais sinais apresentam uma dis-
tribuição semântica que não permite a confusão 
entre os significados apresentados dentro de um 
determinado contexto. 
Glosas em LIBRAS: 
TRABALHO 
VIDEOCASSETE 
TV 
MORENO-SURDO 
38UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas 38UNIDADE II Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de Linguagem na Língua de Sinais
Todos os sistemas linguísticos possibilitam a seus 
usuários construir e compreender um número in-
definido de enunciados. A estrutura gramatical na 
produtividade é extremamente complexa e hete-
rogênea seguindo os princípios que as mantêm 
e constituem. Chomsky coloca ainda, que tanto a 
complexidade como a heterogeneidade é regida 
por regras, dentro dos limites estabelecidos pela 
regra da gramática. 
As línguas de sinais são produtivas assim como 
quaisquer outras línguas. 
Glosas em LIBRAS: 
EU AMAR GISELE PORQUE ELA BONITA, LE-
GAL, ESPECIAL, 1AJUDAR2, GOSTAR TRABA-
LHAR, INTELIGENTE .... 
DUPLA ARTICULAÇÃO
A organização da língua em duas 
camadas – a camada dos sons que se combinam 
em uma segunda camada de unidades maiores é 
conhecida como dualidade ou dupla articulação. 
Por exemplo, os sons f, g, d, o, a - nada significam 
separadamente, já quando combinados eles ad-
quirem um significado, como em fogo, gado, dado, 
fado etc. As línguas humanas têm em torno de trin-
ta a quarenta fonemas ou unidades. 
As línguas de sinais também 
apresentam o nível da forma e o nível do significa-
do. Por exemplo, as configurações por si só não 
apresentam significado, mas ao serem combinadas 
formam sinais que significam alguma coisa. 
Exemplos em LIBRAS: 
CM sem significado
L sem significado 
M sem significado 
CM+L+M=significado (L + bochecha + semicírculo 
para trás) 
PADRÃO
Cada item lexical apresenta um padrão de combi-
nação ou substituição por outros itens, conforme 
ilustram os exemplos abaixo: 
O rapaz caminhou rapidamente; 
Rapidamente, caminhou i rapaz;
O rapaz rapidamente caminhou.
As outras combinações são agramaticais. Na pala-
vra sal, por exemplo, a vogal ‘a’ poderia ser substi-
tuída por ‘o’ ou ‘u’, mas não por ‘z’ ou ‘h’. Em sínte-
se o português apresenta restrições na maneira em 
que itensaparecem.
As línguas de sinais são altamente restringidas por 
regras. Você não pode produzir os sinais de qual-
quer jeito ao usar a Língua de Sinais Brasileira, por 
exemplo. Você deve observar suas regras.
Exemplo em LIBRAS:
Obedecer às regras de formação de sinais e de 
sentenças.
(ajudar com CM S mostrar exemplos de sinais com 
CM errada, ou L errada, ou M errada).
DEPENDÊNCIA ESTRUTURAL
Uma língua contém estruturas dependentes que 
possibilitam entendimento da estrutura interna de 
uma sentença, independente do número de ele-
mentos linguísticos envolvidos. 
Também é observada uma dependência estrutural 
entre os termos produzidos nas línguas de sinais. 
Glosas em LIBRAS: 
PAULO TRABALHAR+asp 
*TRABALHAR+asp PAULO 
SINAL BRASIL 
*BRASIL SINAL 
Fonte: Quadros & Karnopp (2004) Quadros, Pizzio e Rezende (2009)
39UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas 39UNIDADE II Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de Linguagem na Línguade Sinais
Estrutura de Frases
As línguas de sinais utilizam as expressões faciais e corporais para estabelecer 
tipos de frases, como as entonações na língua portuguesa, por isso para perceber se uma 
frase em LIBRAS está na forma afirmativa, exclamativa, interrogativa, negativa ou imperati-
va, precisa-se estar atento às expressões facial e corporal que são feitas simultaneamente 
com certos sinais ou com toda a frase, exemplos:
● Forma Afirmativa: a expressão facial é neutra
IMAGEM 3 - MEU NOME M-A-R-I-A
Fonte: Felipe (1998), adaptado pela autora 
● Forma Interrogativa: A forma interrogativa em Libras também pode acontecer a 
partir da mudança da “expressão não manual”. Segundo Felipe (1998), há a necessidade 
de franzir a sobrancelha e inclinar a cabeça para cima, essa expressão deve ser feita 
simultaneamente ao sinal.
IMAGEM 4 - NOME - NOME QUAL?
Fonte: Felipe (1998), adaptado pela autora 
● Forma Exclamativa: Felipe (1998), explica que, para a construção da forma 
exclamativa em Libras, se modifica a expressão facial, as sobrancelhas são levantadas e 
há um ligeiro movimento da cabeça, inclinando-se para cima e para baixo. A boca retraída 
com movimento para baixo pode compor a exclamação apresentada na sinalização abaixo, 
intensificando a expressão de admiração. 
40UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas 40UNIDADE II Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de Linguagem na Língua de Sinais
IMAGEM 5 - EU VIAJAR RIO DE JANEIRO, BOM! BONIT@ LÁ!
Fonte: Felipe (1998), adaptado pela autora 
● Forma Negativa: Além das formas de negação preestabelecida na Libras, um 
mesmo sinal da testa também pode assumir a forma negativa a partir do uso simultâneo 
de uma expressão não manual determinada. No exemplo a seguir, observe que as so-
brancelhas franzidas e o movimento do corpo para trás indicam desconfiança, descrédito, 
mudando o significado do sinal, do afirmativo para o negativo. 
IMAGEM 6 - ACREDITAR - NÃO ACREDITAR
Fonte: Felipe (1998), adaptado pela autora 
A negação então, pode ser feita através de três processos:
a) com o acréscimo do sinal NÃO à frase afirmativa:
IMAGEM 7 - BLUSA FEI@ COMPRAR NÃO (NEGAÇÃO)
Fonte: Felipe (1998), adaptado pela autora 
b) com a incorporação de um movimento contrário ao do sinal negado:
41UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas 41UNIDADE II Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de Linguagem na Língua de Sinais
IMAGEM 8 - GOSTAR-NÃO (NEGAÇÃO) CARNE, PREFERIR PEIXE
Fonte: Felipe (1998), adaptado pela autora 
c) com um aceno de cabeça que pode ser feito simultaneamente com a ação que 
está sendo negada ou juntamente com os processos acima:
IMAGEM 9 - EU VIAJAR PODER (NÃO)
Fonte: Felipe (1998), adaptado pela autora 
Em todas as línguas humanas existem, pelo menos, três elementos sintáticos 
principais, que podem se ordenar na frase de diferentes maneiras. Esses elementos são: 
sujeito – é o termo que expressa o agente da ação (que pratica ou sofre); verbo – é o 
termo que expressa a ação; objeto – é o termo que qualifica ou detalha o verbo.
Quadros e Karnopp (2004) apontam que a ordem dos elementos na sentença da 
Libras é, geralmente, SVO (sujeito – verbo – objeto). Elas dizem que, além dessa ordem, 
são possíveis também as seguintes: OSV, SOV e VOS, sendo estas derivadas da ordem 
canônica e construídas a partir de operações sintáticas, tais como topicalização ou focali-
zação, conforme pesquisa de Pizzio (2006). A seguir, exemplificamos algumas sentenças 
com a ordem básica da Libras:
IMAGEM 10 - (SVO) EU GOSTAR LARANJA
Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora
42UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas 42UNIDADE II Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de Linguagem na Língua de Sinais
IMAGEM 11 - (SVO) VOCÊ TER DINHEIRO
Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora
IMAGEM 12 - (SVO) EL@ SABER LIBRAS
Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora
Essa é a ordem chamada canônica, básica, e dela derivam as outras ordens – 
apontadas anteriormente – exemplificadas a seguir:
IMAGEM 13 - (OSV) LARANJA EL@ AMAR
Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora
43UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas 43UNIDADE II Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de Linguagem na Língua de Sinais
IMAGEM 14 - (OSV) BOLO EU FAZER
Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora
IMAGEM 15 - (OSV) TELEVISÃO VOCÊ VER
Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora
IMAGEM 16 - (VOS) GOSTAR LARANJA EL@?
Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora
IMAGEM 17 - (VOS) PASSEAR PRAIA VOCÊ
Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora
44UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas 44UNIDADE II Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de Linguagem na Língua de Sinais
IMAGEM 18 - (VOS) COMPRAR CASA EU
Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora
Deve-se ressaltar, ainda, que alguns elementos apontados na frase podem ser 
apagados, pois na Libras, assim como em outras línguas, é possível que ocorra o apaga-
mento, não apenas do sujeito, mas também do objeto. Na frase gostar laranja, o interlocutor 
identifica que há o sujeito eu oculto.
IMAGEM 19 - GOSTAR LARANJA
Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora
45UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas 45UNIDADE II Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de Linguagem na Língua de Sinais
2. EXPRESSÃO E CONCEITOS EM LIBRAS: DIMENSÕES EVOLUTIVAS 
 EM LIBRAS METAFÓRICAS E DESCRITIVAS
FIGURA - SINAIS EM LIBRAS: COMPARAÇÃO, METÁFORA E METONÍMIA
Fonte: Arquivos da autora (2021)
A Língua de Sinais, também faz uso das figuras de linguagem como a Compara-
ção, Metáfora e Metonímia. Existe uma pequena diferença entre esses três processos. Na 
comparação se estabelece a aproximação de dois seres (objetos, ideias, realidades), por 
se perceber entre eles uma característica em comum ou distinta; gramaticalmente, a com-
paração é caracterizada pela presença de conectivos e/ou advérbios de intensidade. Já na 
metáfora a depreensão de uma característica comum entre um ser e outro, pode determinar 
o emprego de uma palavra no lugar de outra. No caso de metonímias há substituição de 
um elemento pela citação de outro que lhe está relacionado, ou seja, que lhe é próximo 
(ALBRES, 2006).
46UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas 46UNIDADE II Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de Linguagem na Língua de Sinais
IMAGEM 20 - COMPARAÇÃO - SINAL DE DIFERENTES
Fonte: Feneis (2008), adaptado pela autora
Existe necessidade do uso de termos de comparação (IGUAL, PARECE) e estabe-
lecimento de dois pontos no espaço Exemplo: 
IMAGEM 21 - METÁFORA - CAIR-CARA
Fonte: Feneis (2008), adaptado pela autora
Um termo substitui o outro, como, por exemplo:
IMAGEM 22 - METONÍMIA - CABELOS-GRISALHOS SIGNIFICANDO IDADE AVANÇADA
47UNIDADE I Aquisição da Linguagem por Crianças Surdas 47UNIDADE II Estrutura, Expressão, Conceitos Dêiticos / Anafóricos e Figuras de Linguagem na Língua de Sinais
No Brasil, a metáfora na Libras foi tema de dissertação defendida por Faria (2003), 
onde teceu delineamentos teóricos acerca desse tipo de figura de linguagem, buscando 
alicerces nos estudos metafóricos na ASL (Língua de Sinais Americana).
Lembrando que a metáfora tem seu fundamento, sua construção, sua inteligência 
e entendimento alicerçado na cultura de cada falante ou sinalizante de um país, nota-se 
que os surdos acham estranhas as palavras ditas em português em que existe certa pecu-
liaridade nos significados atribuídos pelos ouvintes na sua interação social. Isso acontece 
com o significado real da expressão dada pelos ouvintes, em que se constrói com base nas 
relações e ressignificações de cada grupo social, cultural. A seguir apresentaremos o trecho 
de Faria

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