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Capítulo 16 O que é auto-regra?' Am lró l.uiz Jonds* WSP - IA C -C A M P S egundo Skinner, todo comportamento é modelado pelas contingências ambientais (Skinner, 1966,1969). Em Ciência e Comportamento Humano, Skinner diz que, ao darmos ênfase ao poder controlador das variáveis ambientais, deixamos o organismo em uma posição peculiarmente desamparada. Seu comportamento parece ser apenas e tão-somente um "repertório", um vocabulário de ações em que cada item se torna mais ou menos provável, à medida que o ambiente se altera. É certo que as variáveis podem se dispor em padrões complexos; mas este fato não muda muito a situação de desamparo, pois a ênfase ainda está no comportamento, não em quem se comporta. (1953, p. 133) Os seres humanos, ao contrário de organismos não-verbais, são suscetíveis a uma importante parte do ambiente denominada "regras". Os seres humanos apresentam um subconjunto da classe mais geral de comportamento modelado pelas contingências, 1 O autor agradece à Prol*. Dra. Maria Amelia Matos pela revisão deste texto. 3 Doutorando em Psicologia Experimental - USP - Bolsista CNPq. 144 AmlrÉ l.uiz Jon.is que é controlado por contingências especiais denominadas regras. A este subconjunto damos o nome de "comportamento controlado por regras". O comportamento verbal através do qual a regra é expressa e a consciência (discriminação de contingências) necessários à formulação e ao seguimento de regras são, ambos, modelados através de contingências mediadas pela comunidade verbal (Skinner, 1957,1969). Na verdade, Hayes (1987) sugere que regras poderiam ser vistas como estímulos verbais especificadores de contingências. Regras, como estímulos verbais, são o resultado do comportamento verbal de alguém e, portanto, são eventos ambientais independentes dos comportamentos aos quais elas controlam (Glenn, 1987); isto é, de comportamento de seguir a regra. Exemplos de comportamento controlado por regras envolvem o seguir conselhos, instruções, ordens, ou qualquer outra forma de comportamento verbal que descreva contingências, isto é, que prescreva a relação entre condições, ação e conseqüência s. Contudo, é preciso lembrar que os tipos de contingências responsáveis pelo estabelecimento e manutenção do comportamento de seguir regras já foram colocados pelo ambiente não- verbal. De interesse neste momento, é a relevância do papel que as regras podem terem controlar o comportamento, e as instâncias nas quais os seres humanos aparentemente formulam e seguem suas próprias regras. Se agimos de acordo com contingências, por que regras controlam o comportamento? Porque através das regras podemos reagir mais efetivamente tanto agora quanto mais tarde, quando o comportamento modelado por contingências estiver enfraquecido. As regras são formuladas debaixo do controle de contingências sociais planejadas para induzir uma pessoa a relatar o que faz e por que o faz, isto é, em que condições o faz. Segundo Skinner, a comunidade verbal gera "consciência" quando ensina um indivíduo a descrever seu comportamento (passado, presente e ou futuro), e a identificar as variáveis das quais este comportamento é função (foi, é e será). A descrição assim gerada ainda não é uma regra, mas tanto a pessoa que realiza a descrição, como seu interlocutor, que a ouve, podem usar a descrição para ordenar seu próprio comportamento, tornar decisões, formular planos, estabelecer propósitos e metas e, assim fazendo, estarão construindo regras. Quando, pois, estas descrições controlam outros comportamentos do "descritor" (aquele que descreve) ou do ouvinte, elas deixam de ser meras descrições e se tornam regras. Quando elas são formuladas ou reformuladas pelos indivíduos cujo comportamento passam a controlar, dizemos que são auto-regras. As auto-regras podem ser vistas como estímulos verbais especificadores de contingências que são produzidos pelo comportamento verbal do próprio indivíduo a quem estas contingências se aplicam. Neste sentido, auto-regras exemplificam o caso em que uma parte do meu repertório (no caso, verbal) comportamental afeta outra parte de meu repertório (verbal e não-verbal). Auto-regras podem ser explícitas (públicas) ou encobertas (pensamentos). Ocasionalmente, a comunidade verbal também pode estabelecer contingências planejadas para modelar estas descrições verbais do comportamento feitas pelo e para o próprio indivíduo. Por exemplo, contingências para treinar correspondências mais precisas entre o dizer e o fazer. Sobre comportamento e cogniçdo 145 Uma vez que a formulação de regras tenha sido adquirida, um outro conjunto adicional de contingências pode auxiliar a manutenção e/ou fortalecimento de tal comportamento. Como foi sugerido por Skinner (1969), um indivíduo cujo comportamento é suscetível a um conjunto de contingências pode formular auto-regras a respeito dessas contingências porque “ele próprio pode então reagir mais eficazmente quando o controle por essas contingências estiver enfraquecido". Contingências de reforçamento, quer naturais quer arbitrárias, também podem fortalecer a relação de controle entre auto-regras, quer como comportamentos encobertos (ou pensamentos) quer como comportamentos manifestos e outros comportamentos manifestos. Desta forma, não é somente o comportamento produzido pelo seguir a regra que é reforçado, mas também o próprio comportamento de seguimento de regras, (como uma outra classe de respostas funcionais) e nesse sentido ambos são fortalecidos. Colocado de outra maneira, uma contingência suporta uma relação de controle entre uma situação que leva à formulação de regras (comportamento R1), por um lado, e o produto dessa formulação (a própria regra) e o seguir regras (comportamento R2), por outro lado; colocando numa mesma classe o pensar sobre o problema (formular regra) e o resolver o problema (agir). O primeiro comportamento é reforçado arbitrariamente pela comunidade que modela autoconsciência (formulação de regras) e o segundo é reforçado por contingências naturais relacionadas à própria solução do problema, ou como dizem Zettle e Hayes (1983) um poderoso conjunto de contingências relacionado ao seguimento de regras, seria o reforçamento arbitrário mediado pela comunidade verbal. A comunidade verbal, retrospectivamente, pode questionar os indivíduos sobre quais auto-regras eles utilizaram para controlar outros comportamentos e reforçá-los pela correspondência entre esses outros comportamentos e seus relatos acerca deles. Do mesmo modo, a comunidade verbal pode solicitar aos indivíduos que estabeleçam planos que serão utilizados no futuro para orientar seu comportamento em uma determinada situação e reforçar esta verbalização e posteriormente reforçar também uma correspondência entre o comportamento verbal e o não-verbal (ação). É preciso lembrar que estamos usando a palavra "ação", aqui, em seu sentido estrito, pois verbalizar também é uma ação. Nos exemplos que acabamos de ver, estamos diante de duas relações de controle: ação motora (R) - ação verbal (falamos de regra por relato retrospectivo) e ação verbal (formulação de regra no plano prospectivo) - (R) ação motora, ambas sob interferência da comunidade verbal. Conseqüentemente, mesmo que seguir a regra (ação motora) não resulte em conseqüências naturais que mantenham este comportamento, o comportamento de formular regras (ação verbal) ainda poderá ocorrer devido às conseqüências sociais. O grande debate é se basta formular regras para que estas controlem outros comportamentos? Evidentemente que não. Sem o controle das contingências naturais temos a fala esquizofrênica, megalomaníaca e a do mentiroso patológico. Muitas das regras que guiam nosso comportamento sâo aprendidas de outros. Da mesma maneira que a formulação de uma auto-regra pode ser um problema, problemas podem ocorrer nas práticas de formulação de regras por uma comunidade verbal. Culturas 146 Amlré Luiz Jon.is e subculturas podem descreverregras ambíguas, inexatas e até mesmo inadequadas para a sobrevivência deste grupo. Por exemplo, um grupo religioso pode desenvolver regras sobre a cura pela fó que proíba seus praticantes de procurar auxílio médico no tratamento de suas doenças. Similarmente, os representantes de um órgão do governo podem falhar em dar uma orientação adequada para evitar a AIDS. Outro exemplo: pessoas com problemas de conduta, geralmente, possuem auto-regras que os distanciam de uma interação adequada com a realidade, e até mesmo impedindo de reformular suas auto- regras. Estas pessoas precisam de auxílio de um segmento da comunidade verbaí, especialmente treinados, para lidar com estas questões: o terapeuta. Bibliografia GLENN, S. S. (1987). Rules as environmental events. The analysis of Verbal Behavior. 5, 29-32. HAYES, S. C. (1987). A contextual approach to therapeutic change. In N. S. Jacobson (Ed.), Psychotherapists in clinicai practice: Cognitive and behavioral perspectives. New York: Guilford, (pp. 327-387). SKINNER, B. F. (1953). Science and human behavior. New York: Macmillan. _(1978). O Comportamento Verbal. Tradução de Maria da Penha Villalobos. São Paulo: Cultrix: Ed. da USP. Trabalho publicado originalmente em 1957. (1966). An operant analysis of problem solving. In: B. Kleinmuntz (Ed.), Problem-solving: Research, method, and theory. New York : Wiley, (pp. 225-257). _ _(1969). Contingencies of reinforcement: A theoretical analysis. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall. ZETTLE, R. D., & HAYES, S. C. (1983). Effects of social context on the impact of coping self-statements. Psychological Reports, 52,391-401. ZETTLE, R. D. (1990). Rule-govemed behavior: A radical answer to the cognitive challenge. The Psychological Record, 40, 41-49. Sobre comportamento e cotf»lç<lo 147
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