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Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento Apresentação É devido às variações individuais que podemos perceber diferentes estilos de aprendizagem, personalidades e temperamentos. Nesta Unidade de Aprendizagem vamos abordar o modo como estas variações incidem sobre o desenvolvimento educacional. Cada pessoa aprende e se expressa de forma singular. Conhecer as diferentes dimensões que compõem a totalidade humana permite que o ensino seja organizado de forma mais adequada e que o processo de ensino e aprendizagem seja mais fluido e harmônico, respeitando a personalidade, o temperamento e o estilo de aprendizagem de cada estudante. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar os diversos estilos de aprendizagem e pensamento.• Definir os conceitos de personalidade e temperamento.• Listar três tipos de temperamento infantil e avaliar estratégias de ensino para cada um destes temperamentos. • Desafio Mais espectador que um participante, o aluno tímido tende a sair de cena no lugar de encarar uma situação em que deverá se expor. Ao agir dessa maneira, uma criança tímida pode ser mal interpretada, passando-se por uma pessoa mal-humorada ou até mesmo hostil, alguém que não está "afim de papo" ou que "não está para brincadeira". Ocorre que na maior parte do tempo a criança que é simplesmente tímida até deseja se envolver com seus colegas, mas sente-se incapaz de iniciar uma conversação, demonstrando ainda grande dificuldade em conservar relacionamentos. Diante de sua retração, até mesmo os professores podem confundi-la com um aluno individualista, pouco interessado em relacionar-se com os demais, ou mesmo alguém com problemas mais sérios de aprendizagem. E ainda, se a timidez for confundida com educação ou bom comportamento, os educadores podem dispensar pouca atenção à este aluno tímido. Em todos esses casos, ainda que a criança tímida seja um aluno aplicado, seu desenvolvimento pode ser considerado inadequado ou insuficiente, se a questão da timidez não for trabalhada adequadamente. Entretanto, um professor que reconheça entre seus alunos alguém que pode ser prejudicado devido à própria timidez, pode agir de modo a estimular e transmitir ao aluno a confiança necessária para que seus relacionamentos e sua postura no mundo se desenvolvam de forma sadia. Pensando nisso, seu desafio consiste em apontar três estratégias efetivas com as quais o professor pode ajudar um aluno tímido em seu desenvolvimento integral. Lembre-se que é fácil negligenciar os alunos tímidos, pois esses raramente causam problemas em sala. E então, que estratégias um professor em sala de aula poderá adotar nesse caso? Infográfico O Infográfico a seguir apresenta os principais conceitos sobre variações individuais de aprendizagem: Conteúdo do livro Para aprofundar os seus conhecimentos acerca das variações individuais, faça a leitura do capítulo Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento, da obra Psicologia da Educação. Veja as variações individuais nos estilos de aprendizagem e o modo como as diversas personalidades e temperamentos influenciam a tarefa educacional. Boa leitura. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Carla Flores Carvalho Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Explicar os diversos estilos de aprendizagem e pensamento. � Definir os conceitos de personalidade e temperamento. � Listar três tipos de temperamento infantil e avaliar estratégias de ensino para cada um deles. Introdução Neste capítulo, estudaremos os diversos estilos de aprendizagem e pen- samento, os conceitos de personalidade e temperamento, bem como os tipos de temperamento infantil e as formas de avaliar as estratégias de ensino para eles. As principais teorias da aprendizagem são: o behaviorismo de Skinner, o construtivismo de Piaget e o humanismo de Rogers. Cada pessoa tem o seu estilo de aprender e pensar, bem como apresenta personalidade e temperamento diferentes, variações individuais que podem ser perce- bidas em diferentes estilos de aprendizagem. Estilos de aprendizagem e pensamento Estilos de aprendizagem e pensamento não são capacidades, mas, sim, maneiras preferidas de utilização das capacidades (STERNBERG, 1997). Dessa forma, podemos aprender e pensar por meio de diversas maneiras. Aprender é construir “[...] seus conhecimentos e sua afetividade na interação [...]” com outros sujeitos e “[...] por meio de influências recíprocas que vão estabelecendo cada sujeito constrói o seu conhecimento de mundo e o conhecimento de si mesmo como sujeito histórico [...]” (LOPES, 1996, p. 111). Cada pessoa apresenta diferenças individuais, sendo assim, a sua história de vida irá influenciará no modo pelo qual ela organizará e processará as informações recebidas pelo meio. É inegável que cada pessoa apresente interesses, valores, motivações, cultura, aspirações diferentes umas das outras, pois a forma como assimila os dados recebidos do meio onde está inserida é percebida de maneira diferente, ou seja, individual. Os estudos sobre os estilos cognitivos foram desenvolvidos com base em interesses nas diferenças individuais da capacidade de pensar, perceber, lembrar de fatos e situações e resolver problemas. Santos, Bariani e Cerqueira (2000) afirmam que, desde o século IX, estudiosos já tinham interesse pelas variações individuais nos modos de pensamento, porém a expressão “estilo cognitivo” foi usada pela primeira vez por Allport, em 1937. Esse autor considerava que todas as pessoas tinham tendências ou predisposições cognitivas e afetivas, que seriam os modos básicos para atuar e pensar e determinariam as percepções e os julgamentos, sendo denominados de estilos cognitivos (ALLPORT, 1973). Bariani (1998) destaca que os estilos cognitivos, além de serem carac- terísticas da estrutura cognitiva do indivíduo, também são modificados direta ou indiretamente pela influência de novos eventos, como os fatores biológicos, a própria cultura e as experiências de vida. Para o autor, os estilos são estruturas relativamente estáveis e podem sofrer impacto de experiências vividas durante os anos de escolaridade, inclusive na etapa do ensino superior. Santos, Bariani e Cerqueira (2000) estudaram os estilos cognitivos por meio de seus fatores psicológicos, adotando quatro dimensões. Veja, a seguir. Campo dependente versus campo independente Campo dependente: este estilo cognitivo caracteriza indivíduos que re- querem reforçamento extrínseco em suas atividades e têm como base uma estrutura externa de referência; assim, optam por conteúdos e sequências preestabelecidos. Preferem trabalhar em grupo e atribuem importância a uma Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento2 interação informal no ambiente escolar (relação professor-aluno); no entanto, apresentam dificuldades em fazer avaliações críticas. Quando nos referimos que o indivíduo requer um reforço extrínseco, estamos dizendo que ele precisa de um apoio externo. Campo independente: característica própria de indivíduos que tomam como base estruturas internas de referência e, por isso, optam por participar da organização de conteúdos e sequências. Preferem trabalhar individualmente e importam-se mais com o conteúdo do que com a interação professor-aluno. Não apresentam dificuldades em fazer análises críticas referentes às outras pessoas. Impulsividade de resposta versus reflexividade Impulsividade de resposta: característica comum às pessoas que costumam responder sem uma prévia reflexão. Não dão importância à ponderação e à organização que precede a ação. Reflexividade de resposta: diz respeito às pessoas que se atêm mais às pon- derações e organizações que antecedem uma resposta. Seus pensamentos são mais ordenadose contínuos. A dimensão impulsividade/reflexividade de resposta está ligada à organi- zação da atenção. A impulsividade tende a dar respostas imediatas e, conse- quentemente, muitas vezes, imprecisas, com pouca ponderação e organização prévia. Já a reflexividade se refere a uma tendência para analisar e diferenciar estímulos complexos. Convergência de pensamento versus divergência Convergência de pensamento: constitui um aspecto que identifica indivíduos, cujo pensamento obedece ao raciocínio lógico, que têm habilidades para lidar com questões que exigem uma solução determinada a partir das informações fornecidas. Têm mais facilidade em trabalhar com tarefas mais convencionais e estruturadas, que requerem lógica. São pessoas disciplinadas, acomodadas e conservadoras. Há uma identificação do pensamento convergente com o pensamento lógico e o raciocínio. Indivíduos com essa dimensão acentuada são hábeis em lidar 3Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento com problemas que requerem uma clara resposta convencional (uma solução correta), com base nas informações fornecidas. São inibidos emocionalmente e identificados como mais conformistas, disciplinados e conservadores (BA- RIANI, 1998; BARIANI; SISTO; SANTOS, 2000). Divergência de pensamento: é relativo à imaginação, criatividade, origina- lidade e fluência. São indivíduos que apresentam pouca sociabilidade e traba- lham melhor com problemas menos estruturados, que requerem quantidade, variedade, originalidade e generalidade das respostas. O pensamento divergente é associado à criatividade, a respostas imagina- tivas, originais e fluentes. Os indivíduos com essa predominância preferem problemas informais, sendo hábeis em tratar de problemas que demandam a generalização de várias respostas igualmente aceitáveis. Socialmente, são considerados irritadiços, disruptivos e até ameaçadores (BARIANI, 1998; BARIANI; SISTO; SANTOS, 2000). Holista versus serialista Holista: caracteriza aqueles que analisam uma tarefa sob o ponto de vista global, tentando estabelecer relações entre suas partes com a elaboração de hipóteses complexas. Indivíduos com pensamento holista dão maior ênfase ao contexto global desde o início de uma tarefa, preferem examinar uma grande quantidade de dados, buscando padrões e relações entre eles. Usam hipóteses mais complexas, às quais combinam diversos dados (RIDING; WHEELER, 1995; SANTOS; BARIANI; CERQUEIRA, 2000; BARIANI; SISTO; SANTOS, 2000; ZHANG, 2002). Serialista: são os indivíduos que trabalham com um problema, partindo de aspectos específicos e separados, que posteriormente serão integrados para a confirmação ou refutação de hipóteses simples, as quais, “passo a passo”, possibilitarão a resolução de um problema. Os serialistas dão maior ênfase a tópicos separados e em sequências lógicas, buscando padrões e relações somente mais tarde no processo, para confirmar ou não suas hipóteses, as quais são mais simples, além de uma abordagem lógico- -linear (RIDING; WHEELER, 1995; SANTOS; BARIANI; CERQUEIRA, 2000; BARIANI; SISTO; SANTOS, 2000; ZHANG, 2002). Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento4 Salienta-se que o estilo cognitivo indica a tendência da pessoa a se comportar de determinada maneira, o que, por exemplo, influencia nas suas atitudes. Sendo assim, eles representam o modo preferido da pessoa processar a informação e descrevem o modo de ela pensar, relembrar ou resolver problemas. Percebe-se a importância dos estilos cognitivos para o desenvolvimento da aprendizagem, pois eles possibilitam a valorização das características de cada indivíduo, oferecendo a oportunidade de se adaptarem as diversas exigências do mundo contemporâneo. Para saber mais sobre as teorias de aprendizagem, leia o livro Teorias de aprendizagem, escrito por Marco Antonio Moreira, 2. ed. (2011). Conceitos de personalidade e temperamento Vários são os conceitos atribuídos à personalidade e ao temperamento. Para a Associação Americana de Psicologia - APA (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002, p. 771), a personalidade é constituída por “[...] padrões persistentes de perceber, se relacionar e pensar sobre o ambiente e sobre si mesmo [...]”. O senso comum utiliza o termo personalidade para referir uma característica marcante de uma pessoa, e esse apresenta muitas variações de significado, mas, em geral, dá uma noção da unidade que integra o ser humano. Tavares (2006) diz que a personalidade pode ser conceituada como um conjunto de características que conferem uma identidade única a cada indi- víduo, determinando os padrões de pensar, sentir e agir. Essas característi- cas são moldadas pela interação entre disposições naturais do indivíduo e experiências ao longo da vida. Embora elas sejam relativamente estáveis ao longo do tempo, têm certa flexibilidade a fim de permitir um bom ajuste do indivíduo ao ambiente. 5Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento Uma das formas de diferenciar um ser humano do outro é a personali- dade, que se estrutura a partir das experiências e vivências concretas das pessoas no meio onde estão inseridas, considerando seus aspectos culturais, educacionais, seus hábitos, suas crenças, entre outros. Uma das teorias da personalidade mais conhecidas é a psicanálise, postulada por Sigmund Freud, em 1890, a qual afirma que a estrutura da personalidade já está formada aos quatro ou cinco anos de idade. A personalidade engloba assuntos como temperamento e caráter. Delisle (1999) caracteriza a personalidade como um específico e relati- vamente estável modo de organizar os componentes cognitivos, emotivos e comportamentais da própria experiência. O significado (cognitivo) que uma pessoa atribui aos eventos (de comportamento) e os sentimentos (emocional) que acompanham esses eventos permanecem relativamente estáveis ao longo do tempo e proporcionam um senso individual de identi- dade. Personalidade é esse senso de identidade e o impacto que ele provoca nas outras pessoas. Segundo Cloninger, Svrakic e Przybeck (1993), a personalidade é concebida como uma interação dinâmica entre dimensões de temperamento, componente constitucional herdado, e dimensões de caráter, que são características adqui- ridas por meio do aprendizado e da experiência. O temperamento reflete diferenças individuais no aprendizado de hábitos por meio de recompensa e punição e é representado por quatro dimensões: busca de novidades, esquiva ao dano, dependência de gratificação e persistência. De acordo com o modelo de Cloninger, Svrakic e Przybeck (1993), o caráter é desenvolvido a partir das relações do eu: eu - comigo, eu - com o outro e eu – com o meio, cujo objetivo é adaptar o indivíduo ao meio. As dimensões de caráter são: � Autodirecionamento (AD): diz respeito à relação do sujeito consigo próprio e refere-se à força de vontade, autodeterminação, habilidade de controle das situações, adaptação de comportamentos de acordo com as metas estabelecidas e os valores pessoais, ao adiamento de gratificação imediata, à aceitação de suas fraquezas e ao reconhecimento de suas qualidades. Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento6 � Cooperatividade (CO): representa a relação do indivíduo com o outro e envolve empatia, tolerância, aceitação social, prontidão para ajudar e amabilidade. � Autotranscendência (AT): refere-se à relação do indivíduo com o meio — isto é, sentir-se parte integrante da natureza, do universo — e envolve sentimentos de contemplação, meditação, aceitação espiritual e misticismo. A personalidade é resultado da interação entre temperamento e caráter, que salientam e dão significado a toda experiência (CLONINGER; SVRAKIC; PRZYBECK, 1993). Freud, em 1923, começa a escrever sobre as estruturas da personalidade, ou seja, sobre o id, ego e superego (Figura 1). Para Freud, o id é o reservatório inconsciente das pulsões,as quais estão sempre ativas, e é regido pelo prin- cípio do prazer, exigindo satisfação imediata desses impulsos, sem levar em conta a possibilidade de consequências indesejáveis. Cabe lembrar que o id representa o nosso mundo interno, ou seja, a experiência subjetiva, não tendo conhecimento da realidade, que é a nossa experiência objetiva. Já o ego funciona geralmente a nível consciente e pré-consciente, embora também contenha elementos inconscientes, pois evoluiu do id. Ele é regido pelo princípio da realidade, buscando, assim, agir de maneira adequada frente às diversas situações apresentadas, reprimindo os impulsos do id. O ego se manifesta por meio da memória, dos sentimentos, pensamentos, ou seja, ele estrutura a personalidade do indivíduo. O superego é a estrutura que serve como um sensor das funções do ego, sendo a fonte dos sentimentos de culpa e do medo de punição. Ele é a interna- lização do julgamento moral e a percepção das normas e dos valores sociais e morais, que nos foram transmitidos quando crianças, bem como os nossos conceitos de certo e errado, sendo a arma moral da personalidade. Ele costuma nos controlar e nos punir, tendo como principais funções: inibir os impulsos do id e lutar pela perfeição. O id, o ego e o superego são estruturas que não atuam com propósitos diferentes, pois trabalham juntas, interagindo entre si, sob a liderança do ego. É sempre bom lembrar que a personalidade funciona como uma unidade, sendo o id o seu componente biológico, o ego o seu componente psicológico e o superego o seu componente de personalidade. 7Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento Figura 1. Demonstração da teoria de id, ego e superego. Fonte: Adaptada de Crystal Eye Studio/Shutterstock.com. Inconsciente Consciente Preconsciente Para saber mais, assista ao filme Freud além da alma, que mostra todo o percurso que Freud fez, por meio de observações, estudos e tratamentos de pacientes até chegar à criação da psicanálise. Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento8 Os três tipos de temperamento infantil e as estratégias de ensino para cada um deles Segundo LaHaye (1997), não existe outra coisa, humanamente falando, que possa influenciar tanto a nossa vida quanto o temperamento ou a combinação deles. “O temperamento influencia tudo o que você faz – desde os hábitos de sono e de estudo, o estilo de alimentação, até a maneira que você se relaciona com outras pessoas [...]” (LAHAYE, 1997, p. 9). Primeiramente, vamos conhecer as fases do desenvolvimento infantil, preconizadas por Freud e Piaget, para posteriormente compreendermos melhor os tipos de temperamento infantil e as estratégias de ensino que devem ser trabalhadas com elas. Para Freud (1984), são cinco as fases do desenvolvimento infantil. � Fase oral (do nascimento aos 12-18 meses): fase importantíssima para o desenvolvimento da personalidade. Nesta fase, a exploração e a grati- ficação são orais. Os lábios, a boca e a língua são os principais órgãos de prazer da criança. Seus desejos e suas satisfações se manifestam na oralidade, e ela começa a conhecer e explorar o próprio corpo. � Fase anal (12-18 meses aos 3 anos): fase importantíssima para o desen- volvimento da personalidade. A criança apresenta interesse nas relações familiares, aprende a controlar os seus esfíncteres, ou seja, suas fezes e urina, sua atenção se localiza no funcionamento anal. Dessa forma, a criança começa a controlar o ambiente. � Fase fálica (3 a 6 anos): fase importantíssima para o desenvolvimento da personalidade. Nesta fase, dá-se o complexo de Édipo. A menina tem sua identificação com a mãe e ligação romântica com o pai, e o menino se identifica com o pai, e a ligação romântica é com a mãe. Apresentam interesse pelas diferenças anatômicas entre os sexos. � Fase de latência (6 anos até puberdade): o relacionamento se dá com crianças do mesmo sexo, onde podemos citar o “clube da Luluzinha” e o “clube do Bolinha”, fortalecendo, assim, a identidade sexual. Aqui, o complexo de Édipo é suspenso, e a criança se volta ao conhecimento do mundo e inicia o ensino fundamental, quando se inicia a aprendizagem dos valores e dos papéis culturalmente aceitos. � Fase genital (puberdade até fase adulta): inicia-se a adolescência e ocorrem mudanças físicas, psicológicas e sociais. O desejo se volta para o objeto externo, ou seja, para o outro, desenvolvendo a consciência de identidades sexuais distintas. 9Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento Piaget, entre os anos de 1940 e 1945, escreveu, em seus livros, que o desenvolvimento infantil se dá por meio de quatro estágios. � Sensório-motor (do nascimento aos 2 anos): neste estágio, a criança começa a construir esquemas de ação para assimilar o meio e desenvolve noções de espaço e tempo, e a inteligência se dá de forma prática. � Pré-operatório (2 a 7/8 anos): a criança aqui está num estágio ego- cêntrico, ou seja, centrada em si mesma, não sabe e não consegue se colocar no lugar do outro. Neste estágio ocorre o desenvolvimento da linguagem e do pensamento. � Operatório-concreto (8 a 11 anos): o desenvolvimento ocorre a partir do pensamento pré-lógico para as soluções de problemas concretos. A criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, causalidade. Não se limita à representação imediata, mas ainda depende do mundo concreto para chegar à abstração. Inicia-se a capacidade do raciocínio do concreto para o abstrato. � Operatório-formal (11 anos a toda idade adulta): neste estágio, a criança começa a desenvolver soluções lógicas de todas as classes de problemas. O raciocínio passa a ser abstrato, e é possível formar esquemas con- ceituais abstratos, como amor, fantasia, justiça. Com isso, ela adquire capacidade para criticar os valores sociais e propor novos códigos de conduta; discute valores morais de seus pais e constrói os seus próprios; torna-se capaz de aceitar suposições pelo gosto da discussão, é capaz de levantar hipóteses e testá-las. No campo de estudo do temperamento, uma primeira abordagem adveio de um trabalho pioneiro realizado por Thomas e Chess, denominado Estudo Longitudinal de Nova Iorque (THOMAS et al., 1963 apud MURIS; OL- LENDICK, 2005). Nela, o temperamento é entendido como uma categoria derivada de comportamentos exibidos em um determinado momento de vida, resultantes de todas as influências passadas e presentes, as quais os modelam e modificam em um processo constante e interativo. Agora que você já conhece como se dá o desenvolvimento humano, vamos abordar as nove categorias de temperamento, segundo Muris e Ollendick (2005): nível de atividade, ritmo, aproximação ou retraimento, adaptabilidade, limiar de responsividade, intensidade de reação, qualidade de humor, distraibilidade e período de atenção e persistência. Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento10 � Nível de atividade é referente ao componente motor presente no funcio- namento de uma criança e na proporção diurna de períodos de ativação e passividade. � Ritmo é direcionado à previsibilidade e/ou imprevisibilidade no tempo de qualquer função. � Aproximação ou retraimento estão ligados à resposta inicial a um estímulo novo, por exemplo, uma nova comida ou um novo brinquedo. � Adaptabilidade se refere à facilidade com que a criança modifica uma situação nova ou alterada na direção desejada. � Limiar de responsividade está voltada à intensidade do nível de esti- mulação necessária para evocar uma resposta deliberada, independen- temente da forma específica que esta pode assumir ou da modalidade sensorial afetada. � Intensidade de reação diz respeito ao nível de energia da resposta, independentemente da sua qualidade ou direção. � Qualidade de humor fala da quantidade de prazer, divertimento ou comportamento amistoso em comparação ao desprazer, choro e com- portamentonão amistoso. � Distraibilidade está direcionada à efetividade de um estímulo ambiental externo em interferir no comportamento vigente e alterar sua direção. � Período de atenção e persistência é referente, respectivamente, ao pe- ríodo de tempo que uma atividade particular é realizada pela criança e à continuação de uma na presença de obstáculos para a manutenção da direção da atividade. Segundo Rothbart et al. (2003), essas categorias deram origem às seguintes classificações de tipos de temperamento: � Temperamento fácil, que é caracterizado por regularidade nas funções biológicas, respostas de aproximação positiva a estímulos novos, alta adaptabilidade à mudança, assim como intensidade de humor de leve à moderada e preponderantemente positiva. � Temperamento difícil, e se caracteriza por sinais de irregularidade nas funções biológicas, respostas de retraimento negativo a novos estímulos, não adaptação ou adaptação lenta a mudanças e expressões de humor intensas, frequentemente negativas. � Temperamento lento para reagir, que é caracterizado pela combinação de respostas negativas a estímulos novos com adaptabilidade lenta após contatos repetidos. 11Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento Podemos dizer, segundo as ideias de Rothbart et al. (2003), que as crianças de temperamento fácil têm a tendência de se adaptarem rapidamente a novas demandas do ambiente, enquanto as de temperamento difícil apresentam dificuldades de adaptação a novas situações e humor negativo. Já as crianças de temperamento lento apresentavam dificuldades moderadas de adaptação frente a novas demandas. O artigo “Temperamento e desenvolvimento da criança: revisão sistemática da literatura”, de Vivian Caroline Klein e Maria Beatriz Martins Linhares, fala sobre os diferentes autores que trabalham o tema. Acesse o link a seguir ou o código ao lado. https://goo.gl/9CTQzu ALLPORT, G. W. Personalidade: padrões e desenvolvimento. São Paulo: EDUSP, 1973. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-IV-TR: manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais. 4. ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2002. BARIANI, I. C. D. Estilos cognitivos de universitários e iniciação científica. 1998. 170 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1998. BARIANI, I. C. D.; SISTO, F. F.; SANTOS, A. A. A. Construção de um instrumento de avalia- ção de estilos cognitivos. In: SISTO, F. F.; SBARDELINI, E. T. B.; PRIMI, R. (Org.). Contextos e questões da avaliação psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000. CLONINGER, C. R.; SVRAKIC, D. M.; PRZYBECK, T. R. A psychobiological model of tempe- rament and character. Archives of General Psychiatry, v. 50, n. 12, p. 975-990, Dec. 1993. DELISLE, G. Personality disorders: a gestalt-therapy perspective. Otawa: Sig Press, 1999. LAHAYE, T. Porque agimos como agimos? –2. ed. São Paulo: Press Abba, 1997. LOPES, A. O. Relação de interdependência entre ensino e aprendizagem. In: VEIGA, I. P. Alencastro (Org). Didática: o Ensino e suas relações. Campinas: Papirus, 1996. Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento12 MURIS, P.; OLLENDICK, T. H. The role of temperament in the etiology of child psycho- pathology. Clinical Child and Family Psychology Review, v. 8, n. 4, p. 271-289, Dec. 2005. RIDING, R. J.; WHEELER, H. H. Occupational stress and cognitive style in nurses: 1. British Journal of Nursing, v. 4, n. 2, p. 103-106, Jan. 1995. ROTHBART, M. K. et al. Developing mechanisms of temperamental effortful control. Journal of Personality, v. 71, n. 6, p. 1113-1143, Dec. 2003. SANTOS, A. A. A.; BARIANI, I. C. D.; CERQUEIRA, T. C. S.Estilos cognitivos e estilos de aprendizagem. In: SISTO, F. F.; OLIVEIRA, G. C.; FINI, L. D. T. Leituras de psicologia para formação de professores. Petrópolis: Vozes, 2000. STERNBERG, R. J. Thinking styles. New York: Cambridge University Press, 1997. TAVARES, H. Personalidade, temperamento e caráter. In: BUSATTO FILHO, G. (Ed.). Fisiopatologia dos transtornos psiquiátricos. São Paulo: Ateneu, 2006. p. 191-205. ZHANG, L.-F. 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New York: Brunner/Mazel, 1977. 13Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento Dica do professor O vídeo a seguir aborda os diversos estilos de aprendizagem e pensamento, personalidades e temperamentos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/8362275fe800480aeb054123f24046ec Exercícios 1) O conceito de Inteligência refere-se à uma capacidade cognitiva que permite o pensamento. Já os estilos de aprendizagem não são capacidades, mas maneiras preferidas de utilização das capacidades. Podemos observá-los no modo como os alunos elaboram um problema, ou apresentam a solução de um exercício. Considere, por exemplo, um aluno que não apresenta dificuldades de captar o ponto central de uma determinada questão e que, por isso, costuma errar o foco ao tentar respondê-la. Mesmo produzindo uma resposta, ela nem sempre é satisfatória, pois o aluno não se concentrou em responder exatamente ao que lhe foi perguntado, mesmo tendo capacidade para fazê-lo. Nesse caso, podemos dizer que tal aluno possui um estilo de aprendizagem: A) impulsivo. B) impulsivo ou superficial. C) profundo. D) reflexivo. E) superficial. 2) Por personalidade compreendemos os tipos de pensamentos, emoções e comportamentos distintos que caracterizam o modo como o indivíduo se adapta ao mundo. Assim como ocorre com a pesquisa sobre múltiplas inteligências, alguns psicólogos são propensos a identificar cinco principais dimensões da personalidade. Desse modo, para cada um dos “cinco grandes” fatores da personalidade, podem ser atribuídas características e comportamentos específicos. Um aluno cujo fator de personalidade é majoritariamente escrupuloso, é muito provavelmente: A) amante da diversão ou melancólico. B) calmo ou ansioso. C) independente ou conformado. D) organizado ou desorganizado. E) colaborador ou não colaborador. 3) O temperamento está relacionado à personalidade e aos estilos de aprendizagem e pensamento. Temperamento é o estilo comportamental de uma pessoa, em seus modos característicos de reação. Alguns estudantes são ativos, outros são calmos. Alguns reagem calmamente; outros com nervosismo e ansiedade. Tais descrições envolvem as variações temperamentais. Existem basicamente três tipos de comportamento: ● Uma criança de temperamento fácil geralmente está́ de bom humor, rapidamente estabelece rotinas na infância e adapta-se com facilidade a novas experiências. ● Uma criança de temperamento difícil reage negativamente e chora com frequência, não estabelece rotinas diárias e tem dificuldade em adaptar-se a mudanças. ● Uma criança de aquecimento lento tem um baixo nível de atividade, de certa forma é́ negativa e apresenta baixa intensidade de humor. Um outro modo de classificar o temperamento é́ focar as diferenças entre uma criança tímida, retraída e uma criança sociável, extrovertidae comunicativa. Com base nisso, apresente a alternativa em que a reação corresponde ao temperamento descrito. A) Uma criança que apresenta uma baixa intensidade de humor é mais constante e por isso é de temperamento fácil. B) Uma criança que tem dificuldades a adaptar-se às mudanças é uma criança cujo temperamento é o de aquecimento lento. C) Um criança que rapidamente estabelece rotinas da infância, mas que muda essas rotinas conforme as circunstâncias externas, tem temperamento difícil. D) Uma criança que tende a ficar quieta e realiza menos atividades é, possivelmente, uma criança de aquecimento lento. E) Um criança expansiva e comunicativa é uma criança de temperamento difícil. 4) A melhor maneira para se caracterizar a personalidade de um indivíduo é levar em conta uma situação envolvida, pois os pesquisadores concluíram que os estudantes preferem determinadas situações e evitam outras, de acordo com a própria personalidade. Esse tipo de observação caracteriza o conceito de interação pessoa-situação. Ciente disso, considere uma aluna de nome Maria, uma criança expansiva, agradável e alegre. De acordo com o conceito de interação pessoa-situação, qual afirmação a seguir mais caracteriza Maria? A) Maria gosta de ajudar aos outros em todas as situações, pois é bastante atenta às suas necessidades. B) Maria gosta de trabalhar em situações que envolvem interação com outros estudantes C) Maria gosta de trabalhar sozinha em situações que envolvem detalhes. D) Maria precisa aprender a controlar seus impulsos. E) Maria prefere brincar sozinha exercitando sua imaginação. 5) Certo professor recebeu a tarefa de substituir um colega em uma das salas de aula em que trabalhava. O colega se ausentaria até o final do semestre e, por isso, decidiu passar ao professor substituto um arquivo no qual havia transcrito, além de informações, uma descrição sucinta de cada aluno. O professor substituto abriu então o arquivo em seu tablet e viu que havia ali nas primeiras linhas de um quadro a foto da primeira aluna da lista de chamada, seguida da seguinte descrição: "quieta, insegura e um pouco ansiosa". Recordando-se dos fatores de personalidade, o professor substituto logo percebeu tratar-se de uma aluna de: A) temperamento fácil. B) certa instabilidade emocional. C) personalidade extrovertida. D) personalidade escrupulosa. E) temperamento difícil. Na prática No vídeo a seguir, você verá mais sobre os estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Veja agora um exemplo que mostra como o professor pode lidar com as variações individuais em sala de aula: https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/bfe3b7cea65bd8c21f559b28a3188704 Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Escolas avaliam traços de personalidade. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Respeitar as diferenças. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Adequar é o caminho. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://epoca.globo.com/ideias/noticia/2013/10/carater-se-aprende-em-sala-de-aula-escolas-avaliam-btracos-de-personalidadeb.html https://novaescola.org.br/conteudo/294/respeitar-diferencas https://novaescola.org.br/conteudo/1352/adequar-e-o-caminho
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