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Malamed, Emergências Médicas em Odontologia (7Ed)

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Prévia do material em texto

© 2016 Elsevier Editora Ltda.
 
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei n. 9.610, de 19/02/1998.
Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais
forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.
 
MEDICAL EMERGENCIES IN THE DENTAL OFFICE, SEVENTH EDITION
Copyright © 2015 by Mosby, an imprint of Elsevier Inc.
Copyright © 2007, 2000, 1993, 1987, 1982, 1978 by Mosby, Inc., an affiliate of Elsevier Inc.
This translation of Medical Emergencies in the Dental Office, by Stanley F. Malamed, was undertaken by Elsevier Editora Ltda
and is published by arrangement with Elsevier Inc.
Esta tradução de Medical Emergencies in the Dental Office, de Stanley F. Malamed, foi produzida por Elsevier Editora Ltda e
publicada em conjunto com Elsevier Inc.
 
Capa: Mello e Mayer Design
Editoração Eletrônica: WM Design
Produção de ePub: SBNigri Artes e Textos Ltda.
 
Elsevier Editora Ltda.
Conhecimento sem Fronteiras
Rua Sete de Setembro, 111 – 16o andar
20050-006 – Centro – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
 
Rua Quintana, 753 – 8o andar
04569-011 – Brooklin – São Paulo – SP – Brasil
 
Serviço de Atendimento ao Cliente
0800-0265340
sac@elsevier.com.br
 
ISBN: 978-85-352-8387-7
ISBN versão eletrônica: 978-85-352-8542-0
ISBN da Edição original: 978-0-323-17122-9
 
Consulte nosso catálogo completo, os últimos lançamentos e os serviços exclusivos no site www.elsevier.com.br
Nota:
Como as novas pesquisas e a experiência ampliam o nosso conhecimento, pode haver necessidade de alteração dos métodos
de pesquisa, das práticas profissionais ou do tratamento médico. Tanto médicos quanto pesquisadores devem sempre basear-
se em sua própria experiência e conhecimento para avaliar e empregar quaisquer informações, métodos, substâncias ou
experimentos descritos neste texto. Ao utilizar qualquer informação ou método, devem ser criteriosos com relação a sua
própria segurança ou à segurança de outras pessoas, incluindo aquelas sobre as quais tenham responsabilidade profissional.
Com relação a qualquer fármaco ou produto farmacêutico especificado, aconselha-se o leitor a cercar-se da mais atual
informação fornecida (i) a respeito dos procedimentos descritos, ou (ii) pelo fabricante de cada produto a ser administrado, de
modo a certificar-se sobre a dose recomendada ou a fórmula, o método e a duração da administração, e as contraindicações.
É responsabilidade do médico, com base em sua experiência pessoal e no conhecimento de seus pacientes, determinar as
posologias e o melhor tratamento para cada paciente individualmente, e adotar todas as precauções de segurança apropriadas.
Para todos os efeitos legais, nem a Editora, nem autores, nem editores, nem tradutores, nem revisores ou colaboradores
assumem qualquer responsabilidade por qualquer efeito danoso e/ou malefício a pessoas ou propriedades envolvendo
http://www.elsevier.com.br
responsabilidade, negligência etc. de produtos ou advindos de qualquer uso ou emprego de quaisquer métodos, produtos,
instruções ou ideias contidos no material aqui publicado.
 
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M236e
7. ed.
Malamed, Stanley F.
Emergências médicas em odontologia / Stanley F. Malamed ; tradução Renata Rezende. - 7. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2016.
il. ; 28 cm.
 
Tradução de: Medical emergencies in the dental office
Apêndice
Inclui bibliografia e índice
ISBN 978-85-352-8387-7
 
1. Odontologia. 2. Emergências odontológicas. I. Rezende, Renata. II. T ítulo.
16-30635 CDD: 617.6CDU: 616.314
22/02/2016 23/02/2016
Para minha mãe e meu pai,
que tornaram tudo possível,
para minha esposa, Beverly, e meus filhos,
Heather, Jennifer e Jeremy,
e para meus netos,
Matthew, Rachel, Gabriella, Ashley, Rebecca, Elijah e Ethan,
que fazem tudo valer a pena,
eu dedico esta sétima edição.
TRADUÇÃO E REVISÃO
CIENTÍFICA
Dra. Renata Mello Dias Rezende
(Tradução, revisão científica e adaptação dos capítulos 1 a 31 e Apêndice; revisão científica do Índice)
Cirurgiã-dentista
Paramédica pela Chattahoochee Technical College
Graduanda de Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Silvia Mariângela Spada (Tradução do Índice)
Professora pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
Certificada em Tradução por Curso Extracurricular de Prática de Tradução da USP
Agradecemos a colaboração do Dr. Eduardo Claudio de Chaves e Mello Dias.
PREFÁCIO À SEXTA
EDIÇÃO
Estou muito feliz por ter sido convidado a oferecer o prefácio à sexta edição do livro Emergências Médicas em Odontologia.
Ao lembrar da publicação original de 1978, qualquer um fica impressionado com o conhecimento e o talento criativo dos “titãs
do ensino” – Dr. Frank McCarthy (“Cap”) e Dr. Stanley Malamed. Eles enxergaram a necessidade e desenvolveram formas
lógicas básicas de avaliar o estado físico do paciente quando o mesmo se apresenta para tratamento odontológico.
A graduação em odontologia muitas vezes se encontra limitada no que diz respeito à preocupação em oferecer o que há de
melhor ao paciente, uma vez que luta para ensinar o que se encontra nos manuais de técnicas e procedimentos. Entretanto, nós
sabemos que “a boca é realmente uma parte do corpo” e nossa atenção envolve o indivíduo como um todo, por completo,
especialmente aqueles comprometidos por patologias sistêmicas de base.
Ainda que uma ponte ou implante possa cair ou falhar, eles são reparáveis. Quando um paciente desenvolve um acidente
vascular encefálico secundário a uma crise hipertensiva não suspeitada ou quando aspira um pedaço de material de moldagem
que acaba por bloquear a respiração, estamos diante de uma tragédia em potencial. Aprender como avaliar o estado físico e
emocional de cada paciente nos fornece uma proteção contra desastres.
Eu sempre acreditei que o currículo de graduação em odontologia deveria incluir um melhor conhecimento em fisiopatologia
para fornecer uma base mais sólida para a prática. A profissão odontológica avançou na prática de registro de pressão arterial
quase que rotineiramente, principalmente no atendimento a novos pacientes e na busca de qualificação em suporte básico de
vida (BLS) e suporte avançado de vida em cardiologia (ACLS). Além disso, aparelhos de monitoramento são agora
obrigatórios na maioria dos estados americanos, para aqueles dentistas que utilizam agentes sedativos e anestésicos.
É impressionante ver o quanto esses conhecimentos se modificaram ao longo do tempo; importantes algoritmos, os quais
eram vistos como “divinos”, já foram descartados, à medida que mais conhecimento foi sendo adquirido. A sexta edição deste
livro retrata essas melhorias. Tais mudanças nos obrigam a manter nossos estudos atualizados, no que diz respeito ao nosso
conhecimento e prática.
Algumas tragédias são inevitáveis quando lidamos com pacientes, mas, ao tomarmos ciência de como e quando antecipar e
tratar as emergências médicas, reduzimos a probabilidade de que uma tragédia aconteça. Os gastos para treinar os
profissionais de saúde e o público leigo no reconhecimento e no tratamento das emergências é enorme, mas a realização de
uma reanimação com sucesso, salvando a vida de um ente querido, vale todos os gastos.Norman Trieger, DMD, MD*
Chairman Emeritus and Professor
Department of Dentistry
Albert Einstein College of Medicine/Montefiore Medical Center
Bronx, New York
*Falecido
PREFÁCIO À SÉTIMA
EDIÇÃO
Em dezembro de 1975, comecei a escrever Emergências Médicas em Odontologia. Aquela primeira edição foi publicada
em abril de 1978. Conforme escrevi no prefácio para a primeira edição, meu principal objetivo no livro era, assim como ainda
é hoje, estimular membros da minha profissão – cirurgiões-dentistas, higienistas, assistentes de consultório odontológico e
todos os outros membros da equipe – a melhorar e manter seus conhecimentos na prevenção das emergências médicas e no
reconhecimento e tratamento dessas situações de emergência, as quais inevitavelmentepodem ocorrer. Esse objetivo está
ainda mais enraizado na minha mente nessa sétima edição do Emergências, escrita em 2014.
Aproximadamente 75% das emergências médicas observadas no consultório odontológico podem ser prevenidas através da
implementação de um sistema de avaliação do paciente, controle e modificação no plano de tratamento.
Mesmo que a maioria das emergências médicas possa ser prevenida, episódios com potencial risco de morte ainda ocorrem.
Eu constantemente recebo e-mails e ligações telefônicas a respeito desses incidentes. Já conheci diversos dentistas e outros
profissionais do ramo odontológico que enfrentaram reais situações com potencial risco de morte. Quase todos esses casos
aconteceram no consultório odontológico. Entretanto, um considerável número ocorreu fora do consultório: em passeios
familiares, durante viagens, em restaurantes ou dentro de casa.
Existe uma significativa necessidade de aumento de conhecimento pelos profissionais da área da odontologia, no que diz
respeito às emergências médicas. Ainda que a maioria dos estados e províncias da América do Norte exija “certificação” em
suporte básico de vida* (reanimação cardiopulmonar [RCP]) para que os cirurgiões-dentistas mantenham suas licenças, nem
todos os estados e províncias ressaltam tal exigência. O porquê de não ressaltarem essa exigência não é compreendido por
mim.
Como alguém que se comprometeu, a longo prazo, em ensinar suporte básico de vida (SBV), suporte avançado de vida em
pediatria (SAVP), e suporte avançado de vida em cardiologia (SAVC), eu enxergo um imenso valor no treinamento de todos
os adultos em procedimentos simples, coletivamente conhecidos como suporte básico de vida. Sociedades odontológicas
locais e estaduais, bem como grupos especializados, deveriam continuar a fornecer cursos de SBV ou iniciar o fornecimento
dos mesmos, assim que possível.
Houve progresso, mas ainda há muito que ser feito. A consciência dentro da nossa profissão tem sido expandida, temos
observado realizações louváveis. A American Dental Association inaugurou um programa de controle das vias aéreas, o
“Managing Sedation Complications”. Quatorze estados americanos exigiram a presença de um DEA (desfibrilador externo
automático) nos consultórios odontológicos.
Ainda devido à verdadeira natureza do problema, o que nós na odontologia necessitamos é da manutenção de um alto nível
de treinamento em prevenção, reconhecimento e tratamento das emergências médicas. Para tal, precisamos participar de
programas de conhecimento estabelecidos por indivíduos da área de saúde, para satisfazer as nossas necessidades nos
consultórios odontológicos. Tais programas devem incluir o comparecimento anual em educação continuada em medicina de
emergência; acesso a informações atualizadas nesse assunto (pela internet, artigos científicos e livros-texto); programas de
“recertificação” anual ou semianual em suporte básico de vida, SAVP ou SAVC; sessões práticas obrigatórias dentro dos
consultórios odontológicos sobre procedimentos de emergência para toda a equipe. Tais programas são discutidos mais
detalhadamente no Capítulo 3.
O objetivo principal no preparo do consultório odontológico frente às emergências médicas deve fazer com que você, leitor,
se coloque em uma posição de vítima de uma séria complicação médica no seu consultório odontológico, para que você tenha
confiança suficiente de que a sua equipe saberá reagir pronta e eficientemente no reconhecimento e tratamento de tal condição.
A medicina de emergência é uma especialidade médica em rápida evolução e, devido a isso, muitas mudanças têm sido
realizadas desde a publicação da primeira edição deste livro. O meu objetivo agora, que já era meu objetivo antes, é permitir
que o leitor consiga controlar uma situação de emergência de maneira eficaz e sem complicações. Tratamentos e
medicamentos alternativos que também têm se mostrado eficazes têm sido defendidos por outros autores. O meu objetivo,
assim como o de outros, é simplesmente permitir que você seja capaz de manter a vítima viva até que ela se recupere ou até
que a assistência médica de emergência se torne disponível e assuma o atendimento... contanto que sejam melhores do que
você no controle da situação de emergência.
O material nesta sétima edição foi revisado e atualizado.
Em outubro de 2010 a American Heart Association e o International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR)
publicaram diretrizes revisadas para SBV, SAVC e SAVP. Mudanças significativas, tanto na filosofia quanto nas técnicas de
reanimação, foram recomendadas e, por isso, incluídas nas seções apropriadas dessa sétima edição: Capítulo 5 (Perda de
Consciência: Considerações Gerais), Capítulo 11 (Obstrução das Vias Aéreas por Corpo Estranho), Capítulo 26 (Dor
Torácica: Considerações Gerais), Capítulo 30 (Parada Cardiorrespiratória) e Capítulo 31 (Considerações Pediátricas).
O formato básico deste texto – reconhecimento e tratamento baseados nos sinais e sintomas clínicos em vez de uma
abordagem orientada por sistemas – tem sido bem recebido e continua na sétima edição.
Foi dada ênfase ao novo algoritmo para o tratamento de todas as emergências médicas: P... posição, C... circulação, A...
vias aéreas, B... respiração e D... tratamento definitivo.
O tratamento das emergências médicas não é, e não deve ser, complicado. Ao enfatizar esse conceito através deste livro,
pretende-se fazer com que tais procedimentos, de alguma maneira, se mostrem mais fáceis, de modo que toda a equipe do
consultório odontológico seja capaz de alcançar a importância dos passos básicos para salvar uma vida (P, C, A, B, D).
Stanley F. Malamed, DDS
Los Angeles, California,
Agosto de 2014
*“A American Heart Association não ‘certifica’ competências em qualquer nível de ‘suporte de vida’. Os cartões fornecidos após o término dos
cursos SBV, SAVC ou SAVP declaram que “o indivíduo acima completou com sucesso as avaliações práticas e cognitivas de acordo com o
currículo dos programas de SBV (ou SAVC ou SAVP) da American Heart Association.”
AGRADECIMENTOS
Assim como nas edições anteriores desse livro, eu tive a sorte de me associar a um número de pessoas que ajudaram o
trabalho de revisão – com toda a seriedade – a ser bastante agradável. Percebo, com as edições anteriores, que é impossível
mencionar cada uma das pessoas envolvidas na produção desses livros. Entretanto, devo mencionar diversas pessoas sem as
quais esse volume não teria sido concluído: Dra. Amanda Okundaye e Dr. Kenneth Reed, que participaram como modelos
fotográficos e toleraram todos os tipos de injustiças e indignidades em nome da ciência e da educação, assim como Sr. Illo
Apelby e Matthew Boyd. O Sr. Derek Delahunt, Sr. Ken Rosenblood e Srª. Rose Dodson também auxiliaram nas fotografias
e nas informações necessárias para melhorar este volume.
O Sr. Derek Delahunt, o Sr. Ken Rosenblood e a Sra. Rose Dodson também ajudaram com as fotografias e com
informações necessárias para melhorar esse volume.
Um “Obrigado” especial é direcionado ao meu editor da Elsevier, Sr. Brian Loehr, com quem interagi quase que diariamente
durante o preparo deste livro. Eu trabalhei com muitos editores ao longo dos anos, nas diversas edições dos meus três livros-
texto, e reconheço que o Brian foi o mais agradável dos meus “carrascos”.
A leitura das edições anteriores e as sugestões a respeito de novos itens para inclusão em futuras edições têm se mostrado
de inestimável valor. Eu verdadeiramente aprecio, e mais ainda, solicito, futuros comentários provenientes de meus leitores.
Stanley F. Malamed, DDS
SUMÁRIO
PARTE 1 - PREVENÇÃO
1 Introdução
Morbidade
Morte
Fatores de Risco
Número aumentado de pacientes mais velhos
Avanços médicos
Consultas longas
Consumo aumentado de medicamentos
Classificação das Situações de Emergência com Potencial Risco de Morte
Divisão das Emergências Médicas Específicas
Referências
2 Prevenção
Objetivos da Avaliação
Avaliação Física
Questionário de história médica
Exame físico
Sinais vitais
Inspeçãovisual
Procedimentos adicionais na avaliação
Diálogo com o paciente
Reconhecimento do Medo do Tratamento Odontológico e da Ansiedade
Exame psicológico
Determinação do risco médico
Consulta médica
Protocolo de diminuição do estresse
Referências
3 Preparação
Informação Geral
Necessidade geográfica para o treinamento emergencial
Equipe do consultório
Medicamentos e equipamento de emergência
Kits de emergência comerciais e caseiros
Kits de Medicamentos de Emergência
Componentes do kit de emergência
Administração de medicamentos injetáveis
Módulo 1: Medicamentos de Emergência Críticos (Essenciais) e Equipamentos
Medicamentos injetáveis críticos
Medicamentos críticos não injetáveis
Módulo 2: Medicamentos e Equipamentos de Emergência Secundários (Não Críticos)
Medicamentos injetáveis secundários
Medicamentos não injetáveis
Equipamento de emergência secundário
Módulo 3: Suporte Avançado de Vida em Cardiologia (ACLS)
Medicamentos essenciais no ACLS
Módulo 4: Medicamentos Antídotos
Medicamentos antídotos
Organização do Kit de Emergência
Referências
APÊNDICE: Administração Parenteral dos Medicamentos
Administração de medicamentos intramusculares (IM)
Administração de medicamentos intravenosos (IV)
4 Considerações Legais
Crises Modernas sobre o Seguro de Responsabilidade
Teorias sobre a Responsabilidade
Violação do estatuto
Lei do contrato
Lei criminal
Responsabilidade civil
Ônus
Infração
Causalidade
Dano
Bom senso
Consentimento
Estatuto das limitações
Situações Emergenciais
Padrão de tratamento nas emergências
Consentimento durante as emergências
Definindo a emergência
Resgates emergenciais – o estatuto do bom samaritano
Relacionamento profissional-paciente em emergência
Previsibilidade
Limitando a Responsabilidade para Emergências
Prevenção e preparação
Decisões ruins
Respondeat superior
Padrões da comunidade
Relações profissionais
Coleguismo
Aspectos filosóficos do tratamento das emergências
Referências
PARTE 2 - PERDA DA CONSCIÊNCIA
5 Perda da Consciência: Considerações Gerais
Fatores Predisponentes
Prevenção
Manifestações Clínicas
Fisiopatologia
Circulação cerebral inadequada
Privação de oxigênio
Mudanças metabólicas gerais ou locais
Ações no sistema nervoso central
Mecanismos psíquicos
Tratamento
Reconhecimento da perda de consciência
Tratamento do paciente inconsciente
Referências
6 Síncope Vasodepressora
Fatores Predisponentes
Prevenção
Posicionamento
Alívio da ansiedade
Considerações na terapia odontológica
Manifestações Clínicas
Pré-síncope
Síncope
Pós-síncope (recuperação)
Fisiopatologia
Pré-síncope
Síncope
Recuperação
Tratamento
Pré-síncope
Síncope
Recuperação tardia
Pós-síncope
ADENDO relato de caso – síncope vasodepressora
Referências
7 Hipotensão Postural
Fatores Predisponentes
Administração e ingestão de medicamentos
Decúbito e convalescença prolongados
Reflexo postural inadequado
Gravidez
Idade
Defeitos venosos nas pernas
Recuperação após simpatectomia para hipertensão
Doença de Addison
Exaustão física e fome prolongada
Hipotensão postural crônica (síndrome de Shy-Drager)
Prevenção
Exame físico
Considerações no tratamento odontológico
Manifestações Clínicas
Fisiopatologia
Mecanismos regulatórios normais
Hipotensão postural
Tratamento
Referências
8 Insuficiência Adrenal Aguda
Fatores Predisponentes
Prevenção
Considerações sobre o Tratamento Odontológico
Cobertura glicocorticosteroide
Manifestações Clínicas
Fisiopatologia
Função adrenal normal
Insuficiência adrenal
Tratamento
Paciente consciente
Paciente inconsciente
Referências
9 Estado de Inconsciência: Diagnóstico Diferencial
Idade do Paciente
Circunstâncias Associadas à Perda de Consciência
Posição do Paciente
Sinais e Sintomas da Pré-síncope
Nenhum sinal clínico
Palidez e pele fria e pegajosa
Formigamento e dormência nas extremidades
Dor de cabeça
Dor no peito
Odor na respiração
Movimentos do tipo tônico-clônico e incontinência
Frequência cardíaca e pressão arterial
Duração do estado de inconsciência e recuperação
PARTE 3 - DIFICULDADE RESPIRATÓRIA
10 Dificuldade Respiratória: Considerações Gerais
Fatores Predisponentes
Prevenção
Manifestações Clínicas
Fisiopatologia
Manejo
Referências
11 Obstrução das Vias Aéreas por Corpo Estranho
Incidência
Prevenção
Dique de borracha
Anteparo com gaze
Posição da cadeira
Assistente odontológica e sucção
Fórceps de intubação de Magill
Fórceps de língua
Ligadura
Manejo
Reconhecimento da obstrução das vias aéreas
Manobras básicas das vias aéreas
Estabelecimento de uma via respiratória de emergência
Procedimentos invasivos: traqueostomia e cricotireoidostomia
Referências
12 Hiperventilação
Fatores Predisponentes
Prevenção
Questionário sobre o histórico médico
Avaliação física
Sinais vitais
Considerações sobre a terapia odontológica
Manifestações Clínicas
Sinais e sintomas
Efeitos nos sinais vitais
Fisiopatologia
Tratamento
Referências
13 Asma
Fatores Predisponentes
Asma extrínseca
Asma intrínseca
Asma mista
Status asmaticus
Prevenção
Diálogo médico (Anamnese)
Considerações para o atendimento odontológico
Manifestações Clínicas
Progressão clínica usual
Status asmaticus
Fisiopatologia
Controle neural das vias aéreas
Inflamação das vias aéreas
Respostas imunológicas
Broncospasmo
Edema da parede brônquica e hipersecreção das glândulas mucosas
Respiração
Tratamento
Crise aguda de asma (broncospasmo)
Broncospasmo grave
Referências
14 Insuficiência Cardíaca e Edema Agudo de Pulmão
Fatores Predisponentes
Prevenção
Diálogo com o paciente (anamnese)
Avaliação física
Considerações no tratamento odontológico
Manifestações Clínicas
Insuficiência ventricular esquerda
Insuficiência ventricular direita
Edema agudo de pulmão
Fisiopatologia
Função do ventrículo esquerdo normal
Insuficiência cardíaca
Tratamento
Referências
15 Dificuldade Respiratória: Diagnóstico Diferencial
História Médica
Idade
Gênero
Circunstâncias Relacionadas
Sintomas Clínicos entre Episódios Agudos
Posição
Sons Anexos
Sintomas Associados a Dificuldades Respiratórias
Edema Periférico e Cianose
Parestesia das Extremidades
Uso de Musculatura Respiratória Acessória
Dor Torácica
Pressão Arterial e Frequência Cardíaca
Duração da Dificuldade Respiratória
PARTE 4 - ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA
16 Alteração do Nível de Consciência: Considerações Gerais
Fatores Predisponentes
Prevenção
Manifestações Clínicas
Fisiopatologia
Tratamento
Referências
17 Diabetes Melito: Hiperglicemia e Hipoglicemia
Complicações Agudas
Complicações Crônicas
Fatores Predisponentes
Classificação da Diabetes
Diabetes melito tipo 1
Diabetes melito tipo 2
Diabetes melito gestacional
Tolerância à glicose diminuída/tolerância à glicose diminuída em jejum
Hiperglicemia
Hipoglicemia
Controle da Diabetes
Tratamento da diabetes melito tipo 1
Tratamento da diabetes melito tipo 2
Prevenção
Diálogo da história médica:
Exame físico
Considerações sobre o tratamento odontológico
Manifestações Clínicas
Hiperglicemia
Hipoglicemia
Fisiopatologia
Insulina e glicose sanguínea
Hiperglicemia, cetose e acidose
Hipoglicemia
Tratamento
Hiperglicemia
Hipoglicemia
Referências
18 Disfunção da Glândula Tireoide
Fatores Predisponentes
Hipotireoidismo
Tireotoxicose
Prevenção
Diálogo da história médica
Exame físico
Considerações de tratamento odontológico
Manifestações Clínicas
Hipotireoidismo
Tireotoxicose
Fisiopatologia
Hipotireodismo
Tireotoxicose
Tratamento
Hipotireoidismo
Tireotoxicose
Referências
19 Acidente Vascular Encefálico
Classificação
Infarto lacunar
Infarto cerebral
Ataque isquêmico transitório (AIT)
AVE hemorrágico: hemorragia intracerebral e hemorragia subaracnóidea
Fatores Predisponentes
Diabetes melito
Desordens do ritmo cardíaco
História familiar e genética
Tabagismo
Ausência de atividade física
Prevenção
Diálogo da história
Exame físico
Sinais vitais
Apreensão
Considerações de terapia odontológica
Manifestações Clínicas
Ataques isquêmicos transitórios
Infarto cerebral
Embolia cerebral
Hemorragia cerebral
Fisiopatologia
Isquemia cerebrovascular e infarto
AVE hemorrágico
Tratamento
Acidentevascular encefálico e ataque isquêmico transitório
Paciente consciente com resolução de sinais e sintomas: ataque isquêmico
transiente
Paciente consciente com sinais e sintomas persistentes: acidente vascular
encefálico
Referências
20 Alteração do Nível de Consciência: Diagnóstico Diferencial
História Médica
Idade
Gênero
Circunstâncias Relacionadas
Início dos Sinais e Sintomas
Presença de Sintomas entre os Episódios Agudos
Perda de Consciência
Sinais e Sintomas
Aparência da pele (rosto)
Ansiedade óbvia
Parestesia
Dor de cabeça
Aparência “embriagada”
Mau hálito
Sinais Vitais
Respiração
Pressão arterial
Frequência cardíaca
Resumo
PARTE 5 - CONVULSÕES
21 Convulsões
Tipos de Desordens Convulsivas
Convulsões parciais
Convulsões generalizadas
Causas
Fatores Predisponentes
Prevenção
Causas não epiléticas
Causas epiléticas
Diálogo da história médica
Exame físico
Implicações psicológicas de epilepsia
Considerações no tratamento odontológico
Manifestações Clínicas
Convulsões parciais
Convulsão de ausência (pequeno mal)
Convulsão tônico-clônica
Condição convulsiva tônico-clônica (grande mal)
Fisiopatologia
Tratamento
Crises de ausência e convulsões parciais
Convulsões tônico-clônicas (grande mal)
Diagnóstico Diferencial
Referências
PARTE 6 - EMERGÊNCIAS RELACIONADAS AO USO DE MEDICAMENTOS
22 Emergências Relacionadas ao Uso de Medicamentos: Considerações Gerais
Prevenção
Cuidados com a administração de medicamentos
Classificação
Reação de overdose
Alergia
Idiossincrasia
Emergências Relacionadas a Medicamentos
Uso de medicamentos na odontologia
Referências
23 Reação de Sobredosagem dos Medicamentos
Reações de Overdose aos Anestésicos Locais
Fatores predisponentes
Prevenção
Manifestações clínicas
Fisiopatologia
Conduta
Reação de Overdose pela Adrenalina (Vasoconstritor)
Fatores precipitantes e prevenção
Manifestações clínicas e fisiopatologia
Conduta
Reações de Overdose aos Depressores do Sistema Nervoso
Fatores predisponentes e prevenção
Manifestações clínicas
Controle
Resumo
Referências
24 Alergia
Fatores Predisponentes
Antibióticos
Analgésicos
Ansiolíticos
Anestésicos locais
Outros agentes
Prevenção
Diálogo da história médica
Consulta com o médico
Testes de alergia no consultório odontológico
Modificações no tratamento odontológico
Tratamento
Alergia alegada em relação aos anestésicos locais
Alergia ao anestésico local confirmada
Manifestações Clínicas
Início
Reações cutâneas
Reações respiratórias
Anafilaxia generalizada
Fisiopatologia
Antígenos, haptenos e alérgenos
Anticorpos (imunoglobulinas)
Mecanismo de defesa do organismo
Reação alérgica tipo I – anafilaxia
Sinais e sintomas respiratórios
Sinais e sintomas cardiovasculares
Sinais e sintomas gastrintestinais
Urticária, rinite e conjuntivite
Tratamento
Reações cutâneas
Reações respiratórias
Adrenalina e alergia
Reação anafilática generalizada
Edema da laringe
Referências
25 Emergências Relacionadas com Medicamentos: Diagnóstico Diferencial
História Médica
Idade
Gênero
Posição
Início dos Sinais e Sintomas
Exposição Prévia ao Medicamento
Dose do Medicamento Administrado
Incidência Global de Ocorrência
Sinais e Sintomas
Duração da reação
Mudanças na aparência da pele
Aparência de nervosismo
Perda de consciência
Presença de convulsões
Sintomas respiratórios
Sinais Vitais
Frequência cardíaca
Pressão arterial
Resumo
Referências
PARTE 7 - DOR TORÁCICA
26 Dor Torácica: Considerações Gerais
Fatores Predisponentes
Fatores de risco para doença aterosclerótica
Prevenção
Manifestações Clínicas
Fisiopatologia
Aterosclerose
Localização
Dor no peito
Tratamento
Referências
27 Angina Pectoris
Fatores Predisponentes
Prevenção
Diálogo da história médica
Exame físico
Angina pectoris instável
Considerações sobre a Terapia Odontológica
Duração da consulta odontológica
Oxigênio suplementar
Controle da dor durante o tratamento
Sedação
Considerações adicionais
Manifestações Clínicas
Sinais e sintomas
Exame físico
Complicações
Prognóstico
Fisiopatologia
Tratamento
Paciente com histórico de angina de peito
Nenhum histórico de dor no peito
Referências
28 Infarto Agudo do Miocárdio
Fatores Predisponentes
Localização e extensão do infarto
Prevenção
Diálogo da história médica
Exame físico
Considerações da Terapia Odontológica
Redução do estresse
Oxigênio suplementar
Sedação
Controle da dor
Duração do tratamento
Seis meses após o infarto do miocárdio
Consulta médica
Terapia anticoagulante ou antiplaquetária
Manifestações Clínicas
Dor
Outros sinais e sintomas clínicos
Achados físicos
Complicações agudas
Fisiopatologia
Tratamento
Tratamento intra-hospitalar imediato
Referências
29 Dor Torácica: Diagnóstico Diferencial
Dor Torácica de Origem Não Cardíaca
Dor Torácica de Origem Cardíaca
História médica
Idade
Gênero
Circunstâncias relacionadas
Sinais e sintomas clínicos
Sinais vitais
Resumo
Referências
PARTE 8 - PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA
30 Parada Cardiorrespiratória
Sobrevivência da Parada Cardiorrespiratória
Parada cardiorrespiratória testemunhada versus a não testemunhada
Ritmo inicial
RCP feita por leigos
Tempo de resposta
Cadeia da Sobrevivência
Primeiro elo: acesso precoce
Segundo elo: SBV precoce (RCP)
Terceiro elo: desfibrilação precoce
Quarto elo: SAVC precoce
Quinto elo: cuidados integrados pós-RCP
O Consultório Odontológico
Parada Cardiorrespiratória
Parada pulmonar (respiratória)
Parada cardíaca
Suporte Básico de Vida (RCP)
Abordagem da equipe
Suporte básico de vida
Parada cardiorrespiratória no consultório odontológico
Sequência de RCP – vítima adulta
Especificidades sobre a RCP – ativando o serviço médico de emergências
Especificidades da RCP – circulação
Especificações da RCP – desfibrilação
Iniciando e interrompendo o SBV
Transporte da vítima
Referências
31 Considerações Pediátricas
Preparo
Suporte básico de vida
Equipe de emergência do consultório odontológico
Acesso ao serviço médico de emergência
Medicamentos e equipamentos de emergência
Tratamento Básico
Posição
Circulação
Vias aéreas e respiração
Cuidado definitivo
Emergências Específicas
Broncospasmo (ataque agudo de asma)
Convulsão tônico-clônica generalizada (Crise Grande Mal)
Sobredosagem de sedação
Sobredosagem do anestésico local
Parada respiratória
Parada cardiorrespiratória
Referências
Apêndice
Índice
PREVENÇÃO PARTE 1
1 Introdução
2 Prevenção
3 Preparação
4 Considerações Legais
CAPÍTULO 1
Introdução
As emergências médicas potencialmente fatais, capazes de pôr a vida do paciente em risco, podem ocorrer – e de fato
ocorrem – na prática odontológica. Tais emergências podem acontecer com qualquer um – paciente, cirurgião-dentista,
membro da equipe do consultório odontológico, ou com a pessoa que simplesmente está acompanhando o paciente. Ainda
que a ocorrência destas emergências potencialmente fatais nos consultórios odontológicos não seja frequente, muitos fatores
podem aumentar a probabilidade de que tais incidentes ocorram. Estes fatores incluem: (1) o número cada vez maior de
pessoas idosas buscando tratamento odontológico, (2) os avanços terapêuticos nas profissões médica e farmacológica, (3) a
tendência maior para consultas odontológicas mais longas e demoradas e (4) o uso e administração cada vez maior de
medicamentos na odontologia.
Felizmente, existem outros fatores que minimizam o desenvolvimento dessas situações de emergência potencialmente fatais
no consultório odontológico. Estes fatores incluem uma avaliação física de cada paciente antes do tratamento, que consiste em
um questionário com a história médica, no diálogo com o paciente sobre seu histórico médico e exame físico, além de
possíveis modificações no tratamento odontológico para minimizar os riscos médicos.
 Morbidade
Apesar dos protocolos mais meticulosos, que são estabelecidos para impedir o desenvolvimento de situações que põem em
risco a saúde e vida do paciente, as emergências médicas ainda podem ocorrer. Considere, por exemplo, artigos de jornais
descrevendo mortes repentinas e inesperadas de atletas jovens e bem condicionados.1, 2 Taisemergências podem acontecer
em qualquer ambiente. A ocorrência de tragédias desta magnitude dentro do consultório odontológico não é um evento
surpreendente, dado o estresse que muitos pacientes associam ao tratamento odontológico. Numa pesquisa sobre emergências
médicas ocorrendo dentro de consultórios odontológicos na Escócia, foram relatadas quatro mortes com pessoas que
sofreram parada cardiorrespiratória, listadas como acompanhantes, isto é, indivíduos não agendados para o tratamento
odontológico no consultório, no dia em que morreram.3 Este texto estuda as situações emergenciais que se desenvolvem na
prática odontológica. Entretanto, os cirurgiões-dentistas primeiro devem entender que nenhuma emergência médica é exclusiva
da odontologia. Por exemplo, até mesmo uma overdose de anestésico local pode ser encontrada fora do ambiente
odontológico, tal qual uma overdose de cocaína.
TABELA 1-1 Emergências na clínica odontológica particular
Situação de emergência Número relatado
Síncope 15.407
Reação alérgica leve 2.583
Angina pectoris 2.552
Hipotensão postural 2.475
Convulsões 1.595
Ataque asmático (hipoglicemia) 1.392
Hiperventilação 1.326
“Reação à adrenalina” 913
Choque insulínico (hipoglicemia) 890
Parada cardiorrespiratória 331
Reação anafilática 304
Infarto do miocárdio 289
Overdose de anestésico local 204
Edema pulmonar agudo (insuficiência cardíaca) 141
Coma diabético 109
Acidente vascular encefálico 68
Insuficiência adrenal 25
Crise tireotóxica 4
TOTAL 30.608
n = 4.309 cirurgiões-dentistas entrevistados. Dados combinados de Fast TB, Martin MD, Ellis TM: Emergency preparedness: a
survey of dental practitioners. J Am Dent Assoc 112:499-501, 1986; e Malamed SF: Managing medical emergencies. J Am Dent
Assoc 124:40-53, 1993.
TABELA 1-2 Emergências na University of Southern California School of Dentistry (1973-junho 2012)
Situação de emergência Número relatado
TIPO
Síncope 65
Hiperventilação 54
Convulsão 53
Hipotensão postural 30
Hipoglicemia 29
Reação alérgica leve 18
Angina pectoris 18
Ataque agudo de asma 13
Infarto agudo do miocárdio 1
Parada cardiorrespiratória 1
VÍTIMA
Paciente (durante o tratamento) 185
Paciente (antes ou depois do tratamento) 56
Equipe odontológica 27
Outras pessoas (expectadores, acompanhantes, pais, cônjuges) 14
A Tabela 1-1 apresenta os achados combinados de dois levantamentos desenvolvidos nos Estados Unidos, um feito por
Fast, Martin e Ellis4 em 1985, e o outro por Malamed5 em 1992. Um total de 4.309 entrevistados de todos os 50 estados dos
Estados Unidos e 7 províncias canadenses relataram 30.608 emergências durante o período de 10 anos. Dos 4.309
entrevistados, 96,6% responderam positivamente à seguinte questão: “Nos últimos 10 anos, houve alguma emergência médica
ocorrida no seu consultório odontológico?” (Os cirurgiões-dentistas utilizaram suas próprias definições para situações de
emergência).
Cerca de 50% de todas estas emergências (15.407) foram listadas como síncope (p. ex., desmaio), uma ocorrência
geralmente benigna. (Cuidado com a palavra benigna em qualquer descrição de emergência. Quando tratada
inadequadamente, qualquer emergência – mesmo um simples desmaio – pode se tornar uma catástrofe. O leitor deve se referir
ao adendo no Capítulo 6 para ter um exemplo dessa situação). Por outro lado, uma proporção considerável (25,35%) das
emergências relatadas foi cardiovascular (3.381), relacionada ao sistema nervoso central (1.663) e respiratório (2.718), todas
sendo potencialmente fatais e ameaçadoras da vida.
TABELA 1-3 Emergências médicas ocorridas em uma faculdade de odontologia nos Estados Unidos (2000-2008)
Tipo de emergência
(suspeitada ou confirmada)
Número de eventos relacionados com
pacientes odontológicos
Número de eventos relacionados com
não pacientes
Situação cardiovascular 15 6
Síncope 12 3
Complicação anestésica 9 0
Complicação diabética / hipoglicêmica 9 0
Objeto aspirado / deglutido 4 0
Reação alérgica 3 1
Ansiedade 3
Tonteira / perda de consciência, sem
etiologia óbvia
3 2
Situação relacionada a medicamentos 2 1
Queda 2 1
Convulsão 2 0
Enfisema subcutâneo 2 0
Abuso de substância 1 1
Complicação de doença conhecida
entre empregados
n/a 2
TOTAL 67 17
Dados obtidos por Anders PL, Neiders ME: The nature and frequency of medical emergencies among patients in a dental school
setting,. J Dent Educ 74:392-396,2010.
TABELA 1-4 Incidência de emergências médicas durante todo o tempo de profissão de cirurgiões-dentistas australianos*
Emergência Número de eventos
Reação adversa à anestesia local (AL) 1.753†
Convulsão tônico-clônica 381
Angina 252
Choque insulínico 88
Asma grave 160
Todas as ressuscitações 35
Reanimação cardiopulmonar 20
Ventilação artificial‡ 15
Infarto do miocárdio 19
Acidente vascular encefálico 12
*Um período de 40 anos foi utilizado para representar o tempo de carreira profissional nestes cálculos.
†Quadro extrapolado com base numa subamostra de 661 respostas (82% do total).
‡Incluindo a respiração com ar expirado (RAE) e o uso de reanimação.
De Chapman PJ: Medical emergencies in dental practice and choice of emergency drugs and equipment: a survey of Australian
dentists. Austral Dent J 42;103-108, 1997.
A Tabela 1-2 sumariza as situações de emergências médicas ocorridas na University of Southern California School of
DentistryUniversity of Southern California School of Dentistry (USC), de 1973 até meados de 2012. Embora a maioria das
situações de emergência tenha ocorrido enquanto o paciente se encontrava sob tratamento, outras se desenvolvem enquanto o
paciente não se encontrava na cadeira odontológica. Alguns pacientes experimentaram episódios de hipotensão ortostática
(postural) no banheiro, diversos sofreram convulsões epilépticas na sala de espera e um deles sofreu uma convulsão logo na
entrada da clínica odontológica. Um adulto acompanhante de um paciente desenvolveu uma reação alérgica cutânea após
ingerir ácido acetilsalicílico para tratar sua dor de cabeça.6 Em outras duas circunstâncias, um estudante de graduação, vendo
fotos de lesões bucomaxilofaciais agudas numa sala de conferências, e um cirurgião-dentista, tratando um paciente, sofreram
episódios de síncope vasodepressora. Tais exemplos ressaltam a necessidade dos profissionais da odontologia em estarem
preparados para a ocorrência de emergências médicas.
A Tabela 1-3 resume as emergências médicas que ocorreram em outra faculdade de odontologia nos Estados Unidos,
durante um período de 8,5 anos. Destes casos, 20% (17 de 84) das situações ocorreram com pessoas que no momento não
se encontravam como pacientes (p. ex., membros da universidade, estudantes, acompanhantes de pacientes).7
As Tabelas 1-4 a 1-9 apresentam os resultados de levantamentos similares feitos na Austrália,8 Nova Zelândia,9 Reino
Unido,3, 10 Fiji11 e Brasil,12 os quais buscaram determinar a incidência de emergências médicas na prática odontológica.
Embora qualquer emergência médica possa se desenvolver no consultório odontológico, algumas são mais frequentes que
outras. Muitas destas situações estão relacionadas com o estresse (p. ex., dor, medo e ansiedade) ou envolvem condições
preexistentes que se tornam exacerbadas quando os pacientes são colocados em ambientes estressantes. Situações induzidas
pelo estresse incluem a síncope vasodepressora e a hiperventilação, enquanto condições médicas preexistentes que podem ser
exacerbadas pelo estresse incluem a maioria das emergências cardiovasculares agudas, broncoespasmo (asma) e convulsões.
O tratamento efetivo da dor e da ansiedade no consultório odontológico é essencial na prevenção e minimização dessas
situações potencialmente catastróficas.
TABELA 1-5 Incidência de emergências médicas durante o tempo de profissão – cirurgiões-dentistas da Nova Zelândia*
Evento de emergência
Número de dentistas relatando o episódio, período de
10 anos (%)
Número médio de eventos por dentista
(variação)
Desmaios – 2,8 (1–15)
Hiperventilação – 2,9 (1–30)
Angina 29 (14,6) 1,7 (1–5)Depressão circulatória 22 (11,1) 1,9 (1–10)
Infarto do miocárdio 5 (2,5) 1
Acidente cardiovascular 5 (2,5) 1
Depressão respiratória 34 (17,2) 6,1 (1–40)
Obstrução respiratória 3 (1,5) 1,3 (1–2)
Asma grave 15 (7,6) 2,1 (1–8)
Epilepsia (Grande Mal) 45 (22,7) 1,5 (1–3)
Status epilético 7 (3,5) 1,1 (1–2)
Reação alérgica ao
medicamento
60 (30,3) 2,7 (1–10)
Anafilaxia 7 (3,5) 1,1 (1–2)
Hipoglicemia 41 (20,7) 3,1 (1–30)
Corpo estranho engolido ou
inalado
41 (20,7) 1,7 (1–5)
Overdose anestésica 10 (5,1) 1,4 (1–2)
Interação medicamentosa 11 (5,6) 2 (1–6)
Outras emergências 18 (9,1) 2,4 (1–10)
*199 entrevistados no levantamento.
De Broadbent JM, Thompson WM: The readiness of New Zealand general dental practitioners for medical emergencies. N Z
Dent J 97;82-86, 2001.
TABELA 1-6 Número de eventos emergenciais não associados com anestesia geral (AG) e sua frequência*
Inglaterra e
País de Gales
(N = 701)
Escócia
(N = 328)
Evento Número Número
Convulsões 417 282
Objeto deglutido 230 139
Eventos asmáticos 198 88
Eventos diabéticos 155 72
Angina pectoris 148 89
Reações medicamentosas 135 45
Outros eventos 37 12
Parada cardiorrespiratória 20 17
Infarto do miocárdio 17 8
Acidente vascular encefálico 14 4
Objeto inalado 9 4
*Expresso em 40 anos de prática, relatado pelos entrevistados na Inglaterra e País de Gales e na Escócia quando começaram a
carreira no Serviço de Clínica Geral.
De Atherton GJ, MCcaul JA, Williams SA: Medical emergencies in general dental practice in Great Britain. Part 1: their
prevalence over a 10-year period. Br Dent J 186:72-79, 1999.
TABELA 1-7 Emergências médicas ocorrendo entre cirurgiões-dentistas na Inglaterra, em um período de 12 meses
Situação de emergência
Porcentagem de cirurgiões-dentistas relatando a
emergência
Número de casos
relatados
Síncope vasovagal 63 596
Angina pectoris 12 53
Hipoglicemia 10 54
Convulsão, epilepsia 10 42
Obstrução de vias aéreas por corpo
estranho
5 27
Asma 5 20
Parada cardiorrespiratória 0,3 1
Dados obtidos de Jevon P: Updated guidance on medical emergencies and resuscitation in the dental practice, Br Dent J 212:41–
43, 2012.
TABELA 1-8 Emergências médicas ocorrendo entre cirurgiões-dentistas em Fiji, em 2004
Situação de emergência Porcentagem do total
Desmaio 27,9
Hipotensão ortostática 23,5
Hipoglicemia 19,5
Convulsão 11,1
Asma 8
Dados obtidos de Morse Z, Murthi VK: Medical emergencies in dental practice in the Fiji Islands, Pacific Health Dialog 11:55–58,
2004.
Reações adversas relacionadas ao uso de medicamentos constituem outra categoria de situações de emergências com
potenciais riscos, que ocorrem com mais frequência do que pensam os cirurgiões-dentistas. As mais frequentes estão
associadas aos anestésicos locais, que são o tipo de que são o tipo de fármaco mais importante e utilizado na prática
odontológica. Reações psicogênicas, overdose medicamentosa e reações alérgicas são apenas alguns dos problemas
associados com a administração dos anestésicos locais. A maioria das emergências “relacionadas com os medicamentos” está
na verdade relacionada ao estresse (psicogênica); entretanto, outras reações (sobredosagem, reação alérgica) representam
respostas aos medicamentos em si. A maior parte das reações adversas ao uso de medicamentos pode ser prevenida. Desta
forma, o profundo conhecimento farmacológico a respeito da substância e da sua administração adequada é crítico na
prevenção das complicações relacionadas ao uso de medicamentos.
TABELA 1-9 Emergências médicas ocorrendo entre cirurgiões-dentistas no Brasil, em 2004
Situação de emergência
Porcentagem de cirurgiões-dentistas relatando a
emergência
Número de casos
relatados
Lipotimia 54,20 785
Hipotensão ortostática 44,37 891
Reação alérgica moderada 16,86 183
Crise hipertensiva 15,06 255
Asma 15,06 65
Síncope 12,65 85
Angina pectoris 6,82 73
Convulsão, epilepsia 6,22 24
Hipoglicemia 5,62 52
Crise de hiperventilação 5,22 215
Obstrução de vias aéreas por corpo
estranho
2,2 34
Acidente cerebrovascular 0,8 5
Anafilaxia 0,4 2
Infarto do miocárdio 0,2 1
Parada cardiorrespiratória 0,2 1
Colapso inespecífico 1,6 9
Dados obtidos de Arsati F, Montalli VA, Florio FM, et al.: Brazilian dentists’ attitudes about medical emergencies during dental
treatment, J Dent Educ 74:661–666, 2010.
TABELA 1-10 Tratamento realizado no momento da complicação
Tratamento Porcentagem do total
Na sala de espera 1,5
Durante ou logo depois da anestesia local 54,9
Durante o tratamento 2
Após o tratamento (no consultório) 15,2
Após a saída do consultório 5,5
Dados de Matsuura H: Analysis of systemic complications and deaths during treatment in Japan. Anesth Prog 36:219-228, 1990.
Matsuura13 avaliou situações de emergências médicas em consultórios odontológicos no Japão (Tabelas 1-10 e 1-11).
Apenas 1,5% das situações emergenciais ocorreram na sala de espera. A maior porcentagem das situações de emergência,
54,9%, ocorreu durante a administração do anestésico local, o qual de acordo com os pacientes e com os cirurgiões-dentistas
é o procedimento mais estressante realizado no consultório odontológico. Cerca de 22% destas emergências se
desenvolveram durante o tratamento odontológico, enquanto 15% ocorreram no consultório odontológico após o término do
atendimento. A maior parte dessas emergências foi representada pela hipotensão ortostática (postural) ou síncope
vasodepressora.
TABELA 1-11 Tratamento realizado no momento da complicação
Tratamento Porcentagem do total
Extração dentária 38,9
Extirpação pulpar 26,9
Desconhecido 12,3
Outro tratamento 9
Preparo 7,3
Restauração 2,3
Incisão 1,7
Apicectomia 0,7
Remoção das restaurações 0,7
Plastia alveolar 0,3
Dados de Matsuura H: Analysis of systemic complications and deaths during treatment in Japan. Anesth Prog 36:219-228, 1990.
Uma pesquisa com 1.029 cirurgiões-dentistas na Inglaterra, no País de Gales e na Escócia demonstrou que a maioria das
emergências (36,7%) ocorreu durante o tratamento odontológico; 23,1% ocorreram antes do início do tratamento; 20,1%,
após a administração do anestésico local; e 16,4%, após a finalização do procedimento odontológico.3
Aproximadamente 3% dos eventos na Inglaterra e no País de Gales e 2,2% destes ocorridos na Escócia afetaram pessoas
que não estavam em tratamento odontológico. Este grupo era composto por acompanhantes de pacientes, pessoas que
passavam pelo consultório e cinco membros da equipe odontológica, incluindo um dentista e um técnico.3
A natureza do tratamento odontológico administrado no momento da emergência vem sendo esclarecedora. No artigo de
Matsuura, mais de 65% dos casos foram observados durante dois tipos de tratamento odontológico – extração dentária
(38,9%) e extirpação pulpar (26,9%).13 No artigo britânico, 52,2% dos eventos ocorreram durante tratamentos
odontológicos conservadores e 23,5% ocorreram durante cirurgia dentoalveolar.3 Todos os tipos de tratamentos foram
relacionados com essas condições médicas, incluindo 1,1% das emergências ocorrendo durante o tratamento ortodôntico.3
Embora informações sobre as causas específicas dos problemas nem sempre estejam disponíveis, estas emergências
ocorreram muito provavelmente no momento em que o paciente experimentou dor repentina e inesperada. Em um dos casos
no qual a causa é conhecida, um anestésico local foi administrado a um paciente relatando sensibilidade dolorosa dentária
(molar inferior) e o controle da dor foi obtido (lábios e língua com parestesia). Após o tratamento começar, o paciente
experimentou um espasmo de dor intensa e inesperada, à medida que a broca se aproximava da câmara pulpar. Numa
situação similar, acreditou-se que o controle da dor fora obtido, mas o paciente sentiu dor intensa no momento do começo da
extração dentária. Em ambos os casos, a dor repentina e inesperada desencadeou a liberação de catecolaminas endógenas,
tais como adrenalina e noradrenalina, as quais levaram ao desencadeamento de uma emergência. Assim, a importância do
controle da dor na clínicapara um tratamento odontológico seguro não pode ser descartada.
 Morte
A maioria das situações de emergência que ocorrem no consultório odontológico é definida como sendo capaz de gerar um
potencial risco de morte. Ainda assim, somente em raras ocasiões o paciente realmente morre no consultório odontológico
(Fig. 1-1).
Numa pesquisa feita pela American Dental Association, em 1962, contando com quase 4.000 cirurgiões-dentistas, 45
mortes nos consultórios odontológicos foram relatadas.14 Adicionalmente, 7 dessas mortes ocorreram na sala de espera, antes
mesmo que os pacientes pudessem ser tratados. Numa pesquisa com os cirurgiões-dentistas do Texas, Bell15 relatou 8 mortes
nos consultórios odontológicos, com 6 delas ocorrendo em consultórios de clínicos gerais e 2 em consultórios de cirurgiões
orais; 1 morte ocorreu na sala de espera antes do início do tratamento. Apenas 2 mortes foram associadas com a
administração de anestesia geral.
Em 1985, Adelman16 documentou 3 mortes resultantes de aspiração de dispositivos odontológicos.
Em 1989, Lytle17 relatou 8 mortes associadas à administração de anestesia geral durante um período de 20 anos (1 morte a
cada 673.000 procedimentos utilizando anestesia geral) e Robinson18 relatou 8 mortes relacionadas ao uso de anestésicos. Na
verdade, qualquer uma das emergências mencionadas na seção anterior poderia potencialmente dobrar ou triplicar estes
números. A falha em reconhecer e tratar adequadamente os sinais e sintomas clínicos associados com a situação de
emergência pode transformar uma situação relativamente inócua em uma tragédia no consultório.
FIGURA 1-1 Tanto o cirurgião-dentista quanto o paciente sofreram ataques cardíacos.
TABELA 1-12 Circunstâncias das mortes ocorridas no levantamento
Evento (número) Local Estágio do tratamento Procedimento
INGLATERRA E PAÍS DE GALES
Parada cardiorrespiratória (1) Sala de espera Antes Próteses totais
Parada cardiorrespiratória (1) Cirurgia Durante Próteses totais
Parada cardiorrespiratória (1) Sala de espera Antes Raspagem
Parada cardiorrespiratoria (1) Sala de espera Antes Não declarado
Acidente vascular encefálico (1) Sala de espera Antes Nenhum
Acidente vascular encefálico (1) Cirurgia Durante Raspagem
Infarto do miocárdio (2) Sala de espera Antes Não declarado
Infarto do miocárdio (1) Pós- operatório Antes Nenhum
ESCÓCIA
Parada cardiorrespiratória (1) Sala de espera Antes Moldagem
Parada cardiorrespiratória (1) Sala de espera Antes Nenhum
Parada cardiorrespiratória (1) Sala de espera Antes Não declarado
Parada cardiorrespiratória (3) Sala de espera Depois Não declarado
Infarto do miocárdio (1) Acompanhante
De Atherton GJ, McCaul JA, Williams AS: Medical emergencies in general dental practice in Great Britain. Part 1: their
prevalence over a 10-year period. Br Dent J 186:72-79, 1999.
Chapman, em 1997, ao pesquisar sobre o preparo em emergências e as experiências de 811 cirurgiões-dentistas
australianos, observou que 20 emergências com reanimações cardiopulmonares (RCPs) foram relatadas e 75% desses
pacientes sobreviveram.8 Cinco pacientes morreram. Ele relatou 4 casos de anafilaxia, 3 dos quais desenvolveram parada
cardiorrespiratória, com todos os pacientes sobrevivendo.
Em um artigo britânico produzido em 1999, 10 mortes foram relatadas na Inglaterra e País de Gales e 10 foram relatadas na
Escócia.3 A Tabela 1-12 resume estes estudos. Catorze dessas situações de emergências foram listadas como parada
cardiorrespiratória, 4 como infarto do miocárdio e 2 como acidente vascular encefálico.3
Quatro dessas mortes listadas na Escócia ocorreram com pessoas que passavam pelo consultório e não com pacientes.
Considerando esse fato, essas fatalidades foram resultado de 0,7% das emergências ocorridas na Inglaterra, no País de Gales
e na Escócia.3
Em outro levantamento feito na Nova Zelândia com 199 cirurgiões-dentistas, 2 mortes por parada cardiorrespiratória após
um infarto agudo do miocárdio foram relatadas num período de 10 anos de estudo.9 Uma parada cardiorrespiratória primária
foi relatada em um paciente submetido à anestesia geral. O paciente foi reanimado com sucesso.9
Um caso de parada cardiorrespiratória foi relatado no estudo feito na Inglaterra em 2012, com 300 cirugiões-dentistas,10
bem como 1 morte foi relatada em um estudo com 498 cirurgiões-dentistas brasileiros.12
A adequada avaliação física antes do tratamento odontológico, associada ao uso apropriado das muitas técnicas para o
controle da dor e da ansiedade, podem prevenir muitas dessas emergências e mortes. O autor desse livro acredita
seguramente que todos os participantes dentro da área odontológica devem objetivar a prevenção vigorosamente. O Capítulo
2 deste livro é dedicado a este objetivo, bem como outros excelentes livros-texto encontrados atualmente no mercado.19
Infelizmente, mesmo as precauções e os preparos mais rígidos nem sempre podem impedir que a morte aconteça. Todo ano
nos Estados Unidos, 10% de todas as mortes não acidentais ocorrem repentina e inesperadamente em pessoas relativamente
jovens que acreditavam serem portadoras de boas condições de saúde – ressaltando o termo “parada cardiorrespiratória
repentina a inesperada”. A causa da morte mais comum é uma arritmia cardíaca fatal, geralmente a fibrilação ventricular.
Medidas preventivas não podem eliminar completamente a possibilidade deste acontecimento e exatamente por isso nós,
cirurgiões-dentistas, devemos estar preparados. Resultados bem sucedidos em relação à reanimação do paciente são possíveis
quando a “equipe odontológica” age rapidamente para reconhecer e tratar a situação de emergência. A taxa de sobrevivência
nos casos de “emergências com reanimação cardiopulmonar” na Austrália foi de 75%; adicionalmente, outros 3 pacientes com
parada cardiorrespiratória secundária ao choque anafilático sobreviveram.8
TABELA 1-13 Expectativa de vida ao nascer, em anos, nos Estados Unidos
Todas as etnias* Brancos Negros†
Ano Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
2009 76 80,9 76,4 81,2 71,1 77,6
2005 74,9 79,9 75,4 80,4 69,3 76,1
2000 74,1 79,3 74,7 79,9 68,2 75,1
1990 71,8 78,8 72,7 79,4 64,5 73,6
1980 70,9 77,4 70,7 78,1 63,8 72,5
1970 67,1 74,7 68,0 76,6 60 68,3
1960 66,6 73,1 67,4 74,1 61,1† 66,3†
1950 65,6 71,1 66,5 72,2 59,1† 62,9†
1940 60,8 65,2 62,1 66,6 51,5† 54,9†
1930 58,1 61,6 59,7 63,5 47,3† 49,2†
1920 53,6 54,6 54,4 55,6 45,5† 45,2†
1910 48,4 51,8 48,6 52 33,8† 37,5†
1900 46,3 48,3 46,6 48,7 32,5† 33,5†
*As estatísticas a respeito da população hispânica estão incluídas em “Todas as etnias”, mas não estão disponíveis em relação às
idades específicas como estão em “Brancos” e “Negros”
†Anteriormente a 1970, as estatísticas sobre a população negra não estavam disponíveis.
Dados obtidos a partir do U.S. Department od Health & Human Services Centers for Disease Control ans Prevention: National
vital statistics reports 62, No. 7, Hyattsville, MD, January 6, 2014.
FIGURA 1-2 O segmento que cresce mais rápido na população dos Estados Unidos é o de 65 anos ou mais em função do
grande número de bebês nascidos após a Segunda Guerra Mundial.
Entretanto, nem todas as mortes ocorrem dentro dos consultórios odontológicos. O estresse associado ao tratamento
dentário pode desencadear eventos que resultam em óbito mesmo dias depois de o tratamento odontológico ter sido efetuado.
Em um levantamento feito pela Southern California Society of Oral and Maxillofacial Surgeons, 10 incidentes desta natureza
foram relatados.17 De especial interesse, foram 3 mortes secundárias ao infarto agudo do miocárdio e 1 morte secundária ao
acidente vascular encefálico. Outra morte estava relacionada à reação alérgica ao hidrocloreto de propoxifeno, o qual o
cirurgião-dentista havia prescrito para o alívio da dor pós-operatória do paciente. No estudo de Matsuura feito no Japão,
5,5% de todas as emergências médicas ocorreram “depois de o paciente ter deixado o consultório odontológico”.13
 Fatores de Risco
Número aumentado de pacientes mais velhos
A expectativade vida das pessoas nascidas nos Estados Unidos tem aumentado progressivamente. Em 1900, a expectativa de
vida para um caucasiano era de 46,6 anos; para uma caucasiana, de 48,7 anos. Em 2009, estes números foram 76,4 para
caucasianos, 81,2 para caucasianas, 71,1 para negros e 77,6 para negras (Tabela 1-13).20 Os bebês que nasceram após a
Segunda Guerra Mundial se tornaram o segmento de idosos (65 anos ou mais) que cresceu mais rapidamente na população
norte-americana (Fig. 1-2), e esta população mais idosa está buscando tratamento odontológico.
Em 2010 (ano mais recente para qual dados estatísticos se encontram disponíveis), 40,4 milhões de norte-americanos se
encontravam com a idade de 65 anos ou mais, representando 13,1% da população total dos Estados Unidos, ou ainda 1 em
cada 8 estadunidenses.21 O número de americanos mais velhos aumentou em 5,4 milhões de pessoas, ou 15,3% desde 2000,
quando comparado com um aumento de 8,7% de pessoas abaixo de 65 anos de idade. Entretanto, a quantidade de norte-
americanos com idades entre 45 e 64 anos – os quais alcançarão a idade de 65 anos dentro das próximas duas décadas –
aumentou em 31% durante este mesmo período.21 Em 2010, o grupo de pessoas que se enquadrava entre 65 a 74 anos de
idade (20,8 milhões) era 10 vezes maior do que em 1990. Em contraste, o grupo de pessoas com idades entre 75 a 84 anos
(13,1 milhões) era 17 vezes maior, enquanto o grupo de cidadãos com mais de 85 anos (5,5 milhões) era 45 vezes maior.21
TABELA 1-14 Dez principais causas de morte por grupos de idade nos Estados Unidos, em 2010
Grupos de idade
Posição <1 1–4 5–9 10–14 15–24 25–34 35–44 45–54
1 Anomalias
congênitas
Injúria não
intencional
Injúria não
intencional
Injúria não
intencional
Injúria não
intencional
Injúria não
intencional
Injúria não
intencional
Neoplasias
malignas
5107 1394 758 885 12.341 14.573 14.792 50.211
2 Gestação pré-
termo
4148
Anomalias
congênitas
507
Neoplasias
malignas
439
Neoplasias
malignas
477
Homicídio
4.678
Suicídio
5.735
Neoplasias
malignas
11.809
Doença cardíaca
36.729
3 Síndrome da
morte súbita
do lactente
2.063
Homicídios
385
Anomalias
congênitas
163
Suicídio
267
Suicídio
4.600
Homicídio
4.258
Doença cardíaca
10.594
Injúria 
intencional
19.667
4 Complicações
maternas na
gravidez
1.561
Neoplasias
malignas
346
Homicídios
111
Homicídios
150
Neoplasias
malignas
1.604
Neoplasias
malignas
3.619
Suicídio
6.571
Suicídio
8.799
5 Injúria não
intencional
1.110
Doenças
cardíacas
159
Doenças
cardíacas
68
Anomalia
congênita
135
Doenças
cardíacas
1.028
Doenças
cardíacas
3.222
Homicídio
2.473
Doença hepática
8.651
6 Anormalidades
de placenta,
cordão
umbilical e
membranas
1.030
Influenza e
pneumonia
91
Doença
respiratória
baixa crônica
60
Doenças
cardíacas
117
Anomalia
congênita
412
HIV
741
Doença hepática
2.423
Doença
cerebrovascular
5.910
7 Sepse
bacteriana
583
Septicemia
62
Doença
cerebrovascular
47
Doença
respiratória
baixa crônica
73
Doença
cerebrovascular
190
Diabetes melito
606
Doença
cerebrovascular
1.904
Diabetes melito
5.610
8 Dificuldade
respiratória
514
Neoplasias
benignas
59
Neoplasia
benigna
37
Neoplasia
benigna
45
Influenza e
pneumonia
181
Doença
cerebrovascular
517
HIV
1.898
Doença
respiratória
baixa crônica
4.452
9 Doenças do
sistema
circulatório
507
Período
perinatal
52
Influenza e
pneumonia
37
Doença
cerebrovascular
43
Diabetes melito
165
Doença hepática
487
Diabetes melito
1.789
HIV
3.123
10 Enterocolite
necrotizante
472
Doença
respiratória
baixa
crônica
51
Septicemia
32
Septicemia
35
Complicações da
gravidez
163
Anomalias
congênitas
397
Influenza e
pneumonia
773
Hepatite viral
2.376
Dados obtidos em National Vital Statistics System, National Center for Health Statistics, CDC.
Embora muitos pacientes mais idosos aparentem se encontrar em bom estado de saúde, o cirurgião-dentista deve sempre
procurar por doenças subclínicas significativas. Todos os sistemas principais do corpo (cardiovascular, hepático, renal,
pulmonar, endócrino e nervoso central) devem ser avaliados em pacientes idosos, sendo o sistema cardiovascular o que
merece especial atenção. A função e a eficiência cardiovasculares diminuem como parte do processo normal de
envelhecimento. Em alguns casos, uma eficiência diminuída se manifesta em si como insuficiência cardíaca ou angina pectoris,
mas os sinais aparentes nem sempre estão presentes. Quando submetido ao estresse (dor, medo, ansiedade, umidade elevada,
extremos de frio ou calor), o sistema cardiovascular de uma pessoa idosa pode não ser capaz de atender às demandas
corporais para aumento de oxigênio e nutrientes, déficit este que pode causar uma descompensação que pode gerar
complicações cardiovasculares agudas tais quais arritmias potencialmente fatais e dor do tipo angina.
QUADRO 1-1 Modificações nos pacientes geriátricos
SISTEMA NERVOSO CENTRAL
Número reduzido de células cerebrais
Arteriosclerose cerebral
Acidente vascular encefálico
Memória diminuída
Modificações emocionais
Parkinsonismo
SISTEMA CARDIOVASCULAR
Doença da artéria coronária
Angina pectoris
Infarto do miocárdio
Arritmias cardíacas
Contratilidade diminuída
Pressão sanguínea elevada
Doença renovascular
Doença cerebrovascular
Doença cardíaca
SISTEMA RESPIRATÓRIO
Enfisema senil
Modificações artríticas no tórax
Problemas pulmonares relacionados aos poluentes
Fibrose intersticial
SISTEMA GENITOURINÁRIO
Fluxo sanguíneo renal diminuído
Número reduzido de glomérulos em funcionamento
Reabsorção tubular reduzida
Hipertrofia prostática benigna
SISTEMA ENDÓCRINO
Resposta reduzida ao estresse
Diabetes melito tipo 2 (início na fase adulta)
Modificado de Lichtiger M, Moya F; Curr Rev Nurse Anesth 1;1, 1978.
Atualmente a doença cardiovascular é a causa principal de óbitos em pessoas acima dos 65 anos nos Estados Unidos
(Tabela 1-14).22 Situações que podem ser completamente inócuas na juventude podem se tornar bastante danosas 20 anos
depois. Esta incapacidade relativa dos mais idosos em tolerar o estresse foi demonstrada em um levantamento sobre os efeitos
da idade em motoristas de carro fatalmente acidentados. Baker e Spitz23 verificaram que a proporção de motoristas com 60
anos de idade ou mais era cinco vezes maior entre os motoristas que morreram do que entre os motoristas mais jovens que
sobreviveram aos acidentes automobilísticos.
Muitos motoristas com 60 anos ou mais morreram após acidentes que se mostraram não fatais aos motoristas mais jovens. A
correlação entre idade e tempo de sobrevivência sugere que, enquanto os motoristas mais jovens se recuperam das injúrias,
muitos motoristas mais velhos morrem por causa de complicações. O processo de envelhecimento envolve tanto mudanças
fisiológicas como patológicas que podem alterar significativamente a capacidade do paciente em se adaptar com sucesso ao
estresse.
O Quadro 1-1 lista as mudanças que os pacientes mais idosos frequentemente encontram. A diminuição na elasticidade
tecidual é a mudança fisiológica principal, com efeito significativo em todos os órgãos do corpo. Por exemplo, num indivíduo
de 75 anos de idade, o fluxo sanguíneo cerebral é de apenas 80% do que era aos 30 anos, o débito cardíaco cai para 65%,
com a função renal diminuindo para 45%. As mudanças no fluxo sanguíneo renal podem afetar as ações de certos
medicamentos, especialmente aqueles que dependem da excreção urinária para remoção do medicamento e dos seus
metabólitos do corpo. Penicilina, tetraciclina e digoxina, por exemplo, exibem tempo de eliminação e meia-vida aumentada em
pacientes idosos.
TABELA 1-15 Mudanças pulmonares nos pacientes com 65 anos ou mais
Função Porcentagem comparada com a capacidade na idade 30 anos
Capacidade pulmonar total 100
Capacidade vital 58
Captação de O2 durante o exercício 50
Capacidade respiratória máxima 55
De Lichtiger M, Moya F: Curr Rev Nurse Anesth 1;1, 1978.
QUADRO 1-2 Fatores aumentando o risco durante o tratamento odontológico
Número aumentado depacientes mais velhos
Avanços médicos
Terapia medicamentosa
Número aumentado de procedimentos cirúrgicos (p. ex., implantes)
Consultas mais demoradas
Uso aumentado de medicamentos
Anestésicos locais
Sedativos
Analgésicos
Antibióticos
Modificado de Lichtiger M, Moya F; Curr Rev Nurse Anesth 1;1, 1978.
A elasticidade tecidual diminuída também afeta os pulmões. A complacência pulmonar diminui com a idade e pode progredir
para o enfisema pulmonar senil. A exposição de longo prazo a tabaco, poeira e poluentes pode diminuir a função respiratória
em pacientes mais velhos, produzindo desordens como a asma e a bronquite crônica. A função pulmonar no paciente idoso
está consideravelmente reduzida quando comparada ao paciente mais jovem (Tabela 1-15).24
Entretanto, durante as últimas três décadas, os cirurgiões-dentistas começaram a tratar um número maior de pacientes acima
dos 60 anos que ainda possuem grande parte da sua dentição natural. Estes pacientes necessitam de todo o tipo de tratamento
odontológico – periodontia, endodontia, coroas, próteses, trabalho restaurador, implantes e cirurgia oral. Em função da idade
e da possibilidade da existência de incapacidades físicas preexistentes, muitos destes pacientes têm menor capacidade de lidar
com o estresse normalmente associado ao tratamento odontológico. Esta tolerância reduzida ao estresse deve alertar o
cirurgião-dentista de que os pacientes mais idosos estão em maior risco durante o tratamento odontológico, mesmo que seja
na ausência de doença clinicamente evidente (Quadro 1-2). Adicionalmente, o cirurgião-dentista deve tomar todos os passos
para minimizar esses riscos (veja os protocolos de redução do estresse25 no Cap. 2).
Avanços médicos
Com a idade, a incidência de doenças aumenta. Pacientes diabéticos e pacientes com doenças cardiovasculares (insuficiência
cardíaca, arteriosclerose) possuem maior expectativa de vida hoje do que 25 ou 35 anos atrás. Muitos pacientes antes
confinados aos seus lares ou que necessitavam de cadeiras de rodas e que eram incapazes de trabalhar e provavelmente de
comparecer ao consultório odontológico vivem agora sua vidas praticamente normais em função de avanços nas terapias
medicamentosas e nas técnicas cirúrgicas. O tratamento com radiação e a quimioterapia permitem que muitos pacientes com
câncer vivam mais. Procedimentos cirúrgicos, como o bypass da artéria coronária e a cirurgia de enxerto e substituição de
válvula cardíaca, se tornaram comuns, permitindo que pacientes previamente incapacitados tenham atualmente estilos de vida
ativos. Transplantes de órgãos unitários ou múltiplos possuem maior taxa de sucesso e são realizados com maior frequência do
que nos últimos anos. Terapias medicamentosas mais novas e efetivas estão disponíveis para o tratamento de desordens
crônicas tais como pressão sanguínea elevada, diabetes e infecção pelo vírus da imunodeficiência humana.
Estes avanços médicos são realmente significativos. Eles também significam que os cirurgiões-dentistas devem saber lidar
bem com as necessidades bucais desses pacientes com riscos potenciais, muitos dos quais possuem desordens crônicas que
são meramente controladas ou tratadas, não curadas. McCarthy chamou estas pessoas de “feridos ambulantes, com
emergências médicas procurando um lugar para acontecer”.26
Consultas longas
Nos últimos anos muitos cirurgiões-dentistas têm aumentado o tempo de suas consultas. Embora consultas com menos de 60
minutos ainda sejam bastante comuns, muitos dentistas agora agendam consultas de 1 a 3 horas de duração.27 O tratamento
odontológico pode ser estressante para o paciente, para o cirurgião-dentista e para os membros da equipe e consultas
demoradas naturalmente criam mais estresse. Pacientes com comprometimento sistêmico têm maior chance de reagir
adversamente sob estas condições do que os indivíduos saudáveis, mas mesmo os pacientes mais saudáveis podem sofrer com
o estresse, o que pode criar complicações não previstas. A redução do estresse se tornou um conceito importante na
prevenção das emergências médicas no consultório odontológico.
Consumo aumentado de medicamentos
O uso de medicamentos desempenha um papel importante na prática odontológica contemporânea. Medicamentos para
prevenção da dor, controle do medo e da ansiedade e para o tratamento das infecções são componentes importantes do
armamentário de qualquer cirurgião-dentista. Entretanto, todos os medicamentos exercem múltiplas ações: nenhum
medicamento é completamente isento de riscos. O conhecimento das ações farmacológicas do medicamento e a técnica
adequada de administração do mesmo diminuirão muito a ocorrência de emergências médicas medicamentosas.
Adicionalmente, muitos cirurgiões-dentistas trabalham com pacientes que previamente utilizavam medicamentos não
receitados por seus dentistas ou médicos. Halpern28 verificou que 18% de todos os seus pacientes faziam uso de algum tipo
de medicamento. Esta incidência aumentou ainda mais com a idade; 41% dos pacientes acima dos 60 anos utilizavam um ou
mais medicamentos regularmente. Os cirurgiões-dentistas devem tomar o cuidado especial de antecipar e reconhecer
complicações relacionadas às ações farmacológicas dos medicamentos ou as complexas interações entre os medicamentos
mais comumente utilizados na odontologia, com os demais medicamentos. Por exemplo, a hipotensão ortostática está
comumente associada com muitos medicamentos utilizados no tratamento da pressão arterial elevada.
Outros exemplos incluem as interações potencialmente significativas entre os inibidores do sistema monoamino oxidase e os
opioides (p. ex., meperidina e fentanil) ou entre adrenalina e bloqueadores beta-adrenérgicos não cardioespecíficos. Diversos
pacientes, tanto homens quanto mulheres, fazendo uso de inibidores da fosfodiesterase (p. ex., ViagraTM, CialisTM,
LevitraTM), apresentam riscos significativamente aumentados para hipotensão no decorrer de um episódio de infarto agudo do
miocárdio, durante o qual se requer a utilização de um vasodilatador coronariano, tal qual a nitroglicerina.29 Este texto visa, em
parte, a aumentar a conscientização do cirurgião-dentista para os pacientes de alto risco, de modo que modificações
apropriadas possam ser incorporadas ao tratamento odontológico planejado. Um segundo objetivo é aumentar o
reconhecimento imediato e o tratamento efetivo de tais situações, as quais continuarão a ocorrer apesar dos protocolos de
prevenção mais exigentes.
QUADRO 1-3 Classificação conforme os sistemas
DOENÇAS INFECCIOSAS
Sistema imune
Alergias
Edema angioneurótico
Dermatite de contato
Anafilaxia
PELE E ANEXOS
OLHOS
NARIZ, OUVIDO E GARGANTA
TRATO RESPIRATÓRIO
Asma
Hiperventilação
SISTEMA CARDIOVASCULAR
Doença cardíaca arteriosclerótica
Angina pectoris
Infarto do miocárdio
Insuficiência cardíaca
SANGUE
TRATO GASTRINTESTINAL E FÍGADO
OBSTETRÍCIA E GINECOLOGIA
SISTEMA NERVOSO
Perda da consciência
Síncope vasodepressora
Hipotensão ortostática
Desordens convulsivas
Epilepsia
Reações de overdose aos medicamentos
Acidente vascular encefálico
Doenças endócrinas
Diabetes melito
Hiperglicemia
Hipoglicemia
Glândula tireoide
Hipertireoidismo
Hipotireoidismo
Glândula adrenal
Insuficiência adrenal aguda
Goldberger30 escreveu: “Quando você se prepara para uma emergência, a emergência deixa de existir”. O objetivo final no
tratamento de qualquer emergência é a preservação da vida. Este objetivo primário é a costura que une cada seção deste
livro-texto.
 Classificação das Situações de Emergência com Potencial Risco de Morte
Diversos métodos estão disponíveis para classificar as emergências médicas. A abordagem tradicional tem sido a
classificação orientada pelos sistemas, a qual lista os principais sistemas do organismo e discute as situações de emergência
com potencial risco de morte associado às mesmas (Quadro 1-3).
TABELA 1-16 Classificação conforme o sistema cardíaco
Não cardiovascular Cardiovascular
Relacionada com o estresse Síncope vasodepressora
Hiperventilação
Convulsão
Insuficiênciaadrenal aguda
Crise tireotóxica
Asma (broncoespasmo)
Angina pectoris
Infarto agudo do miocárdio
Insuficiência cardíaca aguda (edema pulmonar)
Isquemia cerebral e infarto
Parada cardiorrespiratória repentina
Não relacionada com o estresse Hipotensão ortostática (postural)
Reação de overdose (tóxica)
Hipoglicemia
Hiperglicemia
Alergia
Infarto agudo do miocárdio
Parada cardiorrespiratória repentina
Embora uma classificação através dos sistemas seja considerada adequada para propósitos educacionais, do ponto de vista
clínico, ela ainda é incompleta. Um segundo método de classificação divide as situações emergenciais em duas categorias
amplas – emergências cardiovasculares e emergências não cardiovasculares, as quais podem ser divididas ainda mais em
emergências relacionadas e não relacionadas ao estresse. Este sistema oferece uma divisão bastante abrangente das
emergências com potencial risco de morte, muito útil aos cirurgiões-dentistas. A combinação dos sistemas fornece duas
divisões para se trabalhar – cardiovascular vs. não cardiovascular e relacionadas com o estresse vs. não relacionadas com o
estresse (Tabela 1-16).
Esta classificação pode auxiliar o cirurgião-dentista no preparo de um protocolo de tratamento exequível para a prevenção
de tais situações de emergência. O risco de desenvolvimento de uma emergência relacionada ao estresse pode ser reduzido
através da incorporação, no tratamento odontológico, de diversas medidas redutoras de estresse. Tais ações incluem o uso de
técnicas sedativas, controle efetivo da dor e limitações na duração das consultas odontológicas. O protocolo para redução do
estresse é descrito no Capítulo 2.
QUADRO 1-4 Emergências médicas comuns no consultório odontológico
PERDA DE CONSCIÊNCIA
Síncope vasodepressora
Hipotensão ortostática
Insuficiência adrenal aguda
DIFICULDADE RESPIRATÓRIA
Obstrução das vias aéreas
Hiperventilação
Asma (broncoespasmo)
Insuficiência cardíaca e edema pulmonar agudo
ALTERAÇÃO DE CONSCIÊNCIA
Diabetes melito: hiperglicemia e hipoglicemia
Disfunção da glândula tireoide (hipertireoidismo e hipotireoidismo)
Acidente vascular encefálico
CONVULSÕES
EMERGÊNCIAS RELACIONADAS COM OS MEDICAMENTOS
Reações de overdose aos medicamentos
Alergia
DOR TORÁCICA
Angina pectoris
Infarto agudo do miocárdio
PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA REPENTINA
Embora o sistema de emergência cardiovascular seja efetivo na prevenção de emergências médicas, os cirurgiões-dentistas
necessitam de um método que os ajude a reconhecer e tratar mais facilmente tais situações. Desta maneira, devemos
abandonar classificações baseadas nos órgãos dos sistemas. Na maioria das situações clínicas reais, os cirurgiões-dentistas
frequentemente não possuem ciência das condições patológicas preexistentes dos pacientes. Os dentistas precisam reconhecer
e iniciar o tratamento dessas situações de emergência potencialmente fatais, tendo apenas os sinais e sintomas clínicos mais
óbvios como indicadores. Por este motivo, uma classificação das emergências médicas, com base nos sinais e sintomas
clínicos, se mostra útil desde a primeira publicação deste livro em 1978.
Em primeira instância, o cirurgião-dentista irá basear o tratamento inicial da maioria das emergências médicas nestas dicas
clínicas até que um diagnóstico mais definitivo seja obtido. Sinas e sintomas vistos comumente incluem alterações do nível de
consciência (inconsciência, problemas ou alterações no nível de consciência), dificuldade respiratória, convulsões, emergências
medicamentosas e dor torácica. Em cada situação, um resultado bem sucedido dependerá da adesão do cirurgião-dentista ao
protocolo de tratamento estabelecido. Uma vez que estas etapas tenham sido seguidas com sucesso, etapas adicionais
(secundárias) podem direcionar o cirurgião-dentista para um diagnóstico mais definido, o qual pode por sua vez auxiliar na
correção do problema.
Este texto está ajustado para o uso de protocolos definidos e etapas de tratamento. Cada seção principal é dedicada a um
sintoma comum complexo. Cada seção contém uma lista das manifestações mais comuns daquele sintoma complexo. Os
procedimentos básicos são discutidos e seguidos com uma revisão detalhada das emergências mais comuns dentro da
categoria. Cada seção termina com um diagnóstico diferencial (Quadro 1-4).
Estas classificações são concebidas para colocar cada situação de emergência potencialmente fatal na categoria que
representa de forma mais apropriada a manifestação clínica mais comum do problema em si. Diversas situações também
poderiam ser incluídas numa classificação diferente daquela em que foram incluídas. Por exemplo, o infarto agudo do
miocárdio e o acidente vascular encefálico são possíveis causas da perda de consciência, mas discussões mais amplas destas
emergências são encontradas nas manifestações mais comumente estabelecidas em relação às mesmas – dor torácica para o
infarto agudo do miocárdio e alteração do nível da consciência para o acidente vascular encefálico.
 Divisão das Emergências Médicas Específicas
Na discussão de cada uma das situações de emergência, diversos fatores serão apresentados. Estão incluídos os seguintes
tópicos com seus respectivos objetivos:
1. Considerações gerais: Uma seção introdutória apresenta a informação geral sobre a situação de emergência. Definições e
sinônimos estão incluídos quando relevantes.
2. Fatores predisponentes: A discussão envolve a incidência e causa da desordem e aqueles fatores que podem predispor um
paciente a experimentar uma situação potencialmente ameaçadora da vida.
3. Prevenção: Esta seção é construída sobre as seções anteriores para minimizar a ocorrência de uma exacerbação aguda da
desordem. O questionário de história médica, os sinais vitais e o diálogo com o paciente (anamnese) são utilizados para
determinar uma categoria de risco para cada paciente, baseado no sistema desenvolvido pela American Society of
Anesthesiologists (ASA).31 Sugestões para modificações específicas no tratamento odontológico completam a discussão.
4. Manifestações clínicas: Esta seção envolve os sinais e sintomas clinicamente evidentes que antecipam o reconhecimento da
desordem.
5. Fisiopatologia: A discussão se baseia no processo patológico subjacente aos sinais e sintomas clínicos. Um entendimento
mais completo da causa do problema pode permitir que o cirurgião-dentista trate da situação com mais facilidade.
6. Tratamento: O tratamento passo a passo dos sinais e sintomas clínicos é o objetivo desta seção.
7. Diagnóstico diferencial: Cada seção é finalizada com um capítulo que auxilia o cirurgião-dentista a identificar a provável
causa da emergência no paciente.
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