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LICENCIAMENTO AMBIENTAL W B A 01 55 _v 2. 0 2 Fernanda Brusa Molino Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 LICENCIAMENTO AMBIENTAL 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Henrique Salustiano Silva Juliana Caramigo Gennarini Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Juliana Caramigo Gennarini Revisor Fabiano Melo Gonçalves de Oliveira Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) __________________________________________________________________________________________ Molino, Fernanda Brusa. M723l Licenciamento ambiental/ Fernanda Brusa Molino, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2020. 44 p. ISBN 978-65-87806-63-1 1. Direito Ambiental. 2. Licenciamento. 3. Instrumentos. I. Título. CDD 343.091 ____________________________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 6/2786 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Introdução ao licenciamento ambiental _____________________________ 05 Legislação e licenciamento ambiental _______________________________ 22 Atividades econômicas e licenciamento ambiental __________________ 39 Os estudos ambientais ______________________________________________ 61 LICENCIAMENTO AMBIENTAL 5 Introdução ao licenciamento ambiental Autoria: Fernanda Brusa Molino Leitura crítica: Fabiano Melo Gonçalves de Oliveira Objetivos • Conhecer aspectos históricos do licenciamento ambiental. • Compreender conceitos iniciais relacionados ao licenciamento ambiental. • Compreender a importância do aspecto qualitativo em relação ao ambiente. 6 1. Introdução Você conhecerá a história e origem do licenciamento ambiental, compreendendo cenários que colaboraram para o seu surgimento. Ademais, tomará ciência sobre aspectos introdutórios importantes no licenciamento ambiental e compreenderá a evolução deste instituto considerando a legislação nacional. Outro aspecto extremamente relevante é a preservação e garantia na qualidade ambiental para a sociedade, devendo ser um norteador relevante dentro do processo de licenciamento ambiental. 2. Evolução histórica da legislação ambiental e do licenciamento ambiental No âmbito nacional, analisando a evolução histórica das questões ambientais, não há como desvencilhar da relação com Portugal. Logo após a descoberta do Brasil, inexistia legislação relacionada à proteção do meio ambiente, o deixando extremamente vulnerável no aspecto jurídico. Desse modo, Rocha (2019) apresenta que o Brasil era colônia de Portugal e vigou no Brasil as Ordenações Afonsinas de 1446, que previa a proibição de corte de arvores frutíferas. Segundo Rocha (2019), em 1521 vigoraram as Ordenações Manuelinas que mantiveram a proibição de corte de árvores frutíferas e proibiram certas formas de caça com a possibilidade de apreensão dos instrumentos de caça. Em 1603, com o domínio espanhol sobre o Brasil, segundo Trennepohl & Trennepohl (2020) passaram a vigorar as Ordenações Filipinas, mantendo a proibição de corte de arvores frutíferas com a imposição de multa. Contudo, em 1605, referidos autores informam sobre o surgimento do Regimento do Pau-Brasil, tendo como finalidade a proteção florestal e coibir a exploração indiscriminada do pau-brasil, 7 sendo possível o corte mediante a existência expressa de licença real, sendo que os bens naturais como rios, nascentes e encostas passaram a ser declarados de propriedade da Coroa real. Segundo Costa Neto citado por Rocha (2019), apesar do Regimento do Pau-Brasil, apenas em 1799 surge o primeiro texto legal destinado a disciplinar os cortes de madeira no Brasil, com a previsão de normas sobre abate, serragem, identificação e romaneio de arvores, entretanto, sem efetividade à proteção do meio ambiente. Com a outorga da Primeira Constituição Brasil, em 1824, também conhecida como Constituição Imperial por intermédio de Dom Pedro I, conforme Rocha (2019), ocorre a apresentação de normas que contemplam a proteção à saúde dos cidadãos, destacando a necessidade na proteção ao meio ambiente mesmo que de modo indireto, como se verifica no art. 179, inciso XXIV. Na Constituição Republicana de 1891, o art. 34 estabeleceu a competência da União para legislar sobre terras e minas, e o art. 148, apresentou à União a competência em matéria de riquezas de subsolo, mineração, aguas, florestas, caça e pesca nem como sua exploração, observando o art. 5º, inciso XIX, alínea j, segundo informa Rocha (2019). Com a promulgação da Constituição de 1934, houve o estabelecimento da competência exclusiva da União para legislar sobre fauna e caça, entretanto, conforme leciona Rocha (2019): A Constituição de 1937 inovou no que tange ao meio ambiente quando dispôs no seu art. 18 “e” sobre medidas de polícia com vistas a proteção das plantas e dos rebanhos contra a moléstia ou agentes nocivos, dispensando preocupação com a proteção dos monumentos históricos, artísticos e naturais, bem como das paisagens e locais especialmente dotados pela natureza conforme previsão constante no art. 134. (ROCHA, 2019, p. 25) 8 A década de 1970 foi um período de grande destaque no cenário jurídico ambiental, ocorrendo o fomento de debates e documentos de cunho ambiental com escopos para proteção do meio ambiente e dos recursos naturais diante da possibilidade de sua escassez e possível desaparecimento sem sua exploração consciente. Assim, apesar do foco consistir na apresentação da evolução histórica no cenário brasileiro, um evento internacional influenciou sobremaneira o Brasil e houve uma mudança de paradigma no cenário jurídico brasileiro. O evento marco ocorreu em 1972, em Estocolmo na Suécia, com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, que apresentou no final um documento denominado Declaração de Estocolmo sobre o Ambiente Humano contendo vinte e seis princípios que passaram a gerir o meio ambiente e o desenvolvimento econômico e social, sendo estes princípios a pauta para o surgimento das principais inovações legislativas de cunho ambiental no Brasil. Figura 1 – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (1972) Fonte: https://www.unmultimedia.org/s/photo/detail/145/0145658.html. Acesso em 10 ago. 2020. https://www.unmultimedia.org/s/photo/detail/145/0145658.html 9 Com a Conferência de Estocolmo, a influência foi extrema no Brasil, de modo a fomentar no advento de uma das legislações de maior impacto no cenário jurídico ambiental brasileiro, que no caso foi a Lei n. 6938/1981, denominada Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) que ainda está em vigor. A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) tem como finalidade a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental para a vida, permitindo também assegurar o desenvolvimentosocioeconômico do país, estando expresso em seu art. 2º. Ainda apresenta a criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e estabelece os seus instrumentos junto ao art. 9º (BRASIL, 1981), sendo eles: Figura 1 – Instrumentos da PNMA Fonte: elaborada pelo autor. 10 Atente à finalidade da Política Nacional do Meio Ambiente, pois é um dos primeiros textos durante a ditadura militar que trata expressamente da necessidade de melhoria da qualidade ambiental, sendo um ponto bastante relevante. Como você pode observar a Política Nacional do Meio Ambiente é a pedra fundamental para o desenvolvimento e consolidação do Direito Ambiental no Brasil, apresentando objetivos, conceitos básicos, princípios e instrumentos para a preservação, melhoria e recuperação do meio ambiente e de seus recursos naturais. Quanto ao licenciamento ambiental, é importante destacar que sua origem está contida na Política Nacional do Meio Ambiente, compreendendo um de seus instrumentos conforme estabelece o art. 9º, inciso IV. Segundo Rocha (2019), merece destaque que na década de 1980, foi criada a Lei da Ação Civil Pública por meio da Lei n. 7347/1985, que permitiu a defesa de interesses difusos e coletivos, sendo que a defesa do meio ambiente se encaixa nesse rol, consistindo em um direito da sociedade. Ademais, com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil em 1988, houve a consolidação de princípios e objetivos que antes só se apresentava na Política Nacional do Meio Ambiente, reconhecendo, assim, a sua importância e a elevando a norma constitucional, estando expressa em seu art. 225. Dessa forma, a evolução do licenciamento ambiental tem início na Política Nacional do Meio Ambiente, em 1981, em que contem a competência para estabelecer critérios para o licenciamento ambiental está sob a responsabilidade do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), segundo dispõe a Política Nacional do Meio Ambiente em seu art. 8º. Não se esqueça que a Política Nacional do Meio Ambiente criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), sendo que o CONAMA corresponde a um dos órgãos que compõe o SISNAMA (BRASIL, 1981). 11 O Decreto n. 99.274/1990, também contribuiu na evolução do licenciamento ambiental, com a apresentação dos artigos 17 a 22 totalmente dedicados a tratar do licenciamento ambiental, seja apresentando conceitos versando sobre os tipos de licenças entre como a possibilidade de interposição de recurso administrativo, ensejando a alteração do texto da Política Nacional do Meio Ambiente. Desse modo, as regras sobre licenciamento ambiental são expedidas pelo CONAMA, sendo que em 1986, foi expedida a Resolução CONAMA nº 01/1986 que estabelecia critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental e posteriormente foi alterada pela Resolução CONAMA nº 237/1997, com a revogação dos artigos 3º e 7º, sendo que a Resolução CONAMA nº 237/1997 apresenta a regulamentação atinente aos aspectos de licenciamento ambiental estabelecidos na Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1997). Outra legislação que apresenta impactos no procedimento de licenciamento ambiental é a Resolução CONAMA n. 9/1987, que versa sobre a realização das audiências públicas no procedimento de licenciamento ambiental, apresentando as normas para sua efetivação. Você precisa conhecer ainda a Lei n. 9605/1998, também conhecida como Lei de Crimes Ambientais. Nessa legislação, o art. 66 estabelece a caracterização do tipo penal acerca da falsificação, omissão e sonegação de informações técnicas em procedimentos de licenciamento ambiental realizado por funcionário público, e existe a punição para quem falsificar ou omitir informações de estudos e laudos técnicos referentes ao licenciamento ambiental como estabelece o artigo 69-A. Por fim, a Lei Complementar n. 140/2011, que trata da fixação da cooperação entre os entes federados União, Estados, Distrito Federal e Municípios nas ações administrativas advindas do exercício da competência comum relacionadas à proteção do meio ambiente e ao combate de poluição, que também acarretou alteração junto ao texto da Política Nacional de Meio Ambiente. 12 Dessa forma, é possível identificar uma série de textos legais que se alinham e articulam-se para direcionar regras que tem como objetivo maior a proteção e a preservação do meio ambiente e de seus recursos naturais, de modo a articular a preservação e o desenvolvimento econômico concomitantemente. 3. Conceitos introdutórios e os projetos de leis sobre licenciamento ambiental É importante que conheça alguns conceitos básicos. Assim, o primeiro a ser tratado será o meio ambiente, que segundo a Política Nacional de Meio Ambiente, presente em seu art. 3º, inciso I menciona como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981). Assim, corresponde a um sistema que envolve todos os elementos naturais existentes como a fauna, flora, atmosfera, águas e subsolo, englobando ainda as reações e interações químicas e físicas que ocorrem e interferem na vida em todas as suas formas, envolvendo as bactérias e vírus até os maiores seres como exemplares de algumas espécies arbóreas até cadeias rochosas. Outro conceito importante versa sobre o próprio licenciamento ambiental que, segundo a Resolução CONAMA nº 237/1997, estabelece em seu art. 1º, inciso I como o: Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. (BRASIL, 1997) 13 Antunes (2020, p. 183) ensina que “o licenciamento ambiental é, juntamente com a fiscalização, a principal manifestação do poder de polícia exercido pelo Estado sobre as atividades utilizadoras de recursos ambientais”, de modo a esclarecer que compreende uma manifestação referente à atuação da Administração Pública. Outro conceito relevante é a licença ambiental, que está presente também na Resolução CONAMA nº 237/1997, no art. 1º, inciso II e consiste em um: Ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental. (BRASIL, 1997) Assim, verifica-se que em ambos os conceitos se relacionam com o exercício do poder de polícia da Administração Pública junto aos empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos naturais ou possam causar degradação ambiental. Desse modo, o procedimento de licenciamento ambiental se vinculará sempre a empreendimentos e atividades que tenham essa interação não benéfica junto ao meio ambiente. A partir desses conceitos é importante que conheça a existência de projetos de lei com a temática relacionada à atualização do procedimento de licenciamento ambiental que estão em tramitação junto ao Congresso Nacional. Inicialmente, há um caso de projeto de lei em tramitação junto ao Senado, conhecido como PLS n. 168/ 2018, sendo de autoria de senador Acir Gurgacz (PDT/RO), denominado como Lei Geral de Licenciamento Ambiental. Esse projeto de lei, prevê uma série de exclusões de atividades ou empreendimentos que estão sujeitas ao licenciamento ambiental considerando as normas vigentes, como a Resolução 14 CONAMA nº 237/1997 e a Lei Complementar n. 140/2011, estabelecendo ainda a criação de diferentes modalidades de licençasambientais. Um outro ponto tratado por esse projeto de lei está relacionado ao prazo de validade de licenças ambientais. Existe também um projeto de lei em tramitação junto à Câmara de Deputados, que é o mais antigo se comparado ao PLS 168/2018, sendo designado como PL 3.729/2004, de autoria dos deputados Luciano Zica (PT/SP), Walter Pinheiro (PT/BA), Zezéu Ribeiro (PT/BA) e outros, também conhecido como Projeto de Lei Geral de Licenciamento. Analisando o texto do Substitutivo ao PL 3.729/2004 de autoria do deputado Mauro Pereira, apresentado em abril de 2017, este documento traz diversos pontos de atenção como a desnecessidade da participação de demais órgãos envolvidos no licenciamento ambiental como ICMBio, IPHAN e FUNAI entre outros. Outro ponto de atenção é o amplo poder discricionário que os órgãos licenciadores obteriam, permitindo a dispensa do procedimento de licenciamento ambiental para diversas atividades e empreendimentos. Do mesmo modo que o projeto de lei do Senado, o PL 3.729/2004 estabelece novos tipos de licenças ambientais que não estão previstas na Resolução CONAMA nº 237/1997, estabelecendo ainda a flexibilidade no prazo de validade máxima às licenças que estão previstas junto à Resolução CONAMA n. 237/1997 em seu art. 18 e incisos. O PL 3.729/2204 ainda estabelece a possibilidade de adoção da arbitragem como mecanismos de resolução de conflitos em relação aos direitos patrimoniais disponíveis, excluindo da decisão pública e transferindo-a para a esfera privada, sendo um tema de interesse público. Outro ponto que requer atenção no PL 3.729/2004 é a eliminação da responsabilidade objetiva, presente no direito ambiental e expresso na Política Nacional do Meio Ambiente em seu art. 14, § 1º e que se caracteriza pela necessidade de reparação e indenização em caso de dano, independentemente da existência de culpa. Esse ponto ainda viola 15 o princípio da responsabilidade expressa na Constituição Federal em seu art. 225, § 3º, merecendo destaque o seu conhecimento. O PL 3.729/2004 possui 23 (vinte e três) projetos de lei anexados a ele e houve muitos debates e evolução em seu processo de tramitação sob o argumento de que faz-se necessário reduzir a burocracia e simplificar os procedimentos de licenciamento ambiental, dando maior celeridade para a implantação e operacionalização de atividades e empreendimentos, inclusive impulsionado pela Lei n. 13.874/2019, em seu art. 3º, inciso IX. Diante das análise apresentadas, é possível que compreenda a repercussão e os impactos que as normas apresentadas acarretarão ao meio ambiente e também ao âmbito jurídico caso sejam aprovadas com as redações analisadas, sendo consideradas por alguns doutrinadores, legisladores e pessoas da sociedade como mecanismo simplificador e desburocratizante que o licenciamento ambiental representa, e para a outra parcela da sociedade, como retrocesso legal no meio jurídico e também ineficaz à proteção do meio ambiente e ao uso sustentável aos recursos naturais. 4. A qualidade ambiental como uma razão para se fazer o licenciamento ambiental Em 1972, ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente em Estocolmo (Suécia), sendo apresentado vinte e seis princípios norteadores, expressos na Declaração de Estocolmo sobre o Ambiente Humano, com o fim de preservação do meio ambiente de modo a permitir o desenvolvimento social e econômico. Essa conferência foi marcada sobre a viabilidade de articulação entre a preservação do meio ambiente combinado ao desenvolvimento socioeconômico, sendo o evento fomentador da 16 ideia de desenvolvimento sustentável vindo a ser utilizado o termo sustentabilidade e desenvolvimento sustentável somente no Relatório de Brundtland, correspondendo a um dos pilares sobre a questão ambiental global. A Organização das Nações Unidas, em 1983, criou a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, objetivando analisar as questões críticas no aspecto ambiental global e, assim, apresentar propostas exequíveis para seu enfrentamento, considerando especialmente a cooperação internacional entre os países. A Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento apresentou em 1987 um relatório, conhecido como Nosso Futuro Comum ou Relatório Bruntdland, elencando uma série de medidas factíveis sendo que ficou marcado pela apresentação do conceito de desenvolvimento sustentável (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1987) que corresponde “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. As medidas contidas no relatório Nosso Futuro Comum visavam à promoção do desenvolvimento sustentável, sendo elas: Tabela 1 – Medidas para o desenvolvimento sustentável Limitação do crescimento populacional. Garantia de recursos básicos a longo prazo. Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas. Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis. Aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas. 17 Controle da urbanização desordenada e integração entrecampo e cidades menores. Atendimento das necessidades básicas. Adoção da estratégia de desenvolvimento sustentável pelas organizações de desenvolvimento. Proteção dos ecossistemas supra-nacionais como a Antárctica, oceanos etc., pela comunidade internacional. Banimento das guerras; Implantação de um programa de desenvolvimento sustentável pela Organização das Nações Unidas (ONU). Fonte: elaborada pelo autor. Analisando o cenário nacional, houve a aprovação da Política Nacional de Meio Ambiente em 1981 e logo após a Constituição Federal apresenta o art. 225 (BRASIL, 1988) estabelecendo que todos tem direito ao meio ambiente equilibrado, sendo de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida sadia, cabendo ao Poder Público e à toda a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo, inclusive para as futuras gerações. Desse modo, está claro que ambos os documentos primam pela qualidade seja, do meio ambiente como da vida e estas palavras também estão expressas na Declaração de Estocolmo como no relatório Nosso Futuro Comum, sendo que para promover a preservação do meio ambiente deve-se considerar a qualidade, permitindo fomentar o desenvolvimento social e econômico, devendo ocorrer o uso e a exploração do meio ambiente e de seus recursos de modo criterioso 18 permitindo a exploração de recursos ambientais compatível com a sua preservação para o futuro. Importante que se conheça o conceito de qualidade ambiental, porém, não existe uma definição precisa e objetiva sobre o tema. Assim, Sewell (1978 apud MAZETTO, 2000) ensina: Padrões quantitativos, o limite máximo ou mínimo aceitável e fixado para a maioria dos parâmetros ambientais, estão sujeitos a mudança e, na verdade, frequentemente mudam. E a direção da mudança é quase invariavelmente no sentido de níveis mais rígidos, que causam insatisfação entre aqueles que concordaram com padrões anteriores. (...) Eles são fixados pelo exame de critérios, na evidência empírica, descritiva, dos efeitos que os diferentes níveis de um poluente possam ter sobre o ambiente, incluindo-se a saúde humana. A seguir – em teoria – o padrão arbitrariamente fixado por especialistas que, pelo estudo dos critérios ponderam a ameaça total conhecida do poluente contra as consequências de padrões mais rígidos. Na prática, muitos padrões evoluem através do tempo e não são significativamente alterados por especialistas porque faltam critérios adequados e forças políticas contrarias seriam desencadeadas. (SEWELL, 1978 apud MAZETTO, 2000, p. 22) Desse modo, o CONAMA deve considerar a regras que promovam a preservação, porém, que esteja alinhado ao desenvolvimento. Assim, deve estabelecer normas e padrões que mensurem o controle e a manutenção da qualidade domeio ambiente, permitindo o uso racional dos recursos ambientais junto ao desenvolvimento socioeconômico, como estabelece o art. 8º, inciso VII da Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981). Importante destacar que os demais entes da federação podem legislar sobre o estabelecimento de normas e padrões relacionados à preservação do meio ambiente e do controle da poluição como estabelece a Constituição Federal em seu art. 24, inciso IV (BRASIL, 1988), harmonizando-se ainda com a Lei Complementar nº 140. 19 Para isso deve recorrer novamente à Política Nacional do Meio Ambiente, pois em seu art. 3º, inciso II (BRASIL, 1981), apresenta o conceito de degradação da qualidade ambiental como aquela que corresponde “a alteração adversa das características do meio ambiente”. Recorrendo ao dicionário, Cunha (2011, p. 246) conceitua como qualidade “aquilo que se pode predicar de alguma coisa; aspecto sensível da percepção”. Ou seja, compreende uma percepção relacionada à sensibilidade, e, portanto, pode considerar como aquela percepção que possibilite a vivência e a existência do meio ambiente de modo equilibrado, possibilitando a existência de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. O conceito também advém de um valor que lhe é conferido, permitindo que seja estabelecido juízos de valor ou limites que mensurem faixas delimitando algo que se aproxima do aceitável e o que não é aceitável. Assim, o licenciamento deverá observar regras que possam delimitar o alcance de limites e padrões que possibilitem a convivência humana, a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento econômico, por meio de padrões que garantam a qualidade ambiental, seguindo inclusive a orientação de Sewell citado por Mazetto (2000), de que são estabelecidos por evidencias empíricas e descritivas fixadas por especialistas. Importante destacar que esse padrão de qualidade será refletido em diversos recursos naturais como água, ar entre outros, sendo para estes casos adotados padrões técnicos e científicos nacionais como internacionais. Entretanto, para a qualidade ambiental, deve seguir o padrão que permita conciliar padrões consideráveis sadios e saudáveis para seres humanos, fauna e flora bem como o desenvolvimento de atividades econômicas que promovam o fomento econômico como social. Desse modo, o conhecimento sobre a evolução histórica do licenciamento ambiental, com o conhecimento de aspectos históricos 20 e jurídicos colaboram para a identificação de conceitos e princípios básicos como desenvolvimento sustentável, meio ambiente e qualidade ambiental verificando os caminhos para o futuro. Referências Bibliográficas ANTUNES, Paulo de B. Direito ambiental. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2020. BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: D.O.U. 1988. 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Sociedade & Natureza, v. 12, n. 24, 15 dez./2014. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/ sociedadenatureza/article/view/28533. Acesso em: 11 ago. 2020. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm https://www.icmbio.gov.br/cecav/images/download/CONAMA%20237_191297.pdf https://www.icmbio.gov.br/cecav/images/download/CONAMA%20237_191297.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp140.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp140.htm https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/132865 https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/132865 https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=257161 https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=257161 http://www.seer.ufu.br/index.php/sociedadenatureza/article/view/28533 http://www.seer.ufu.br/index.php/sociedadenatureza/article/view/28533 21 ONU. Organização das Nações Unidas. Report of the World Commission on Environment and Development – Our Common Future. Portal do Federal Office for Spatial Development. Item Sustainable development. ROCHA, Debora C. de Castro da. Licenciamento ambiental: irregularidades e seus impactos socioambientais. Curitiba: Juruá Editora, 2019. TRENNEPOHL, Curt; TRENNEPOHL, Terence. Licenciamento ambiental. 8. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020. 22 Legislação e licenciamento ambiental Autoria: Fernanda Brusa Molino Leitura crítica: Fabiano Melo Gonçalves de Oliveira Objetivos • Conhecer a legislação relacionada ao licenciamento ambiental. • Compreender a aplicação da legislação e os conceitos empregados no procedimento de licenciamento ambiental. • Conhecer os tipos de licenças ambientais. 23 1. Introdução Você conhecerá a legislação relacionada ao procedimento de licenciamento ambiental, como a Resolução CONAMA nº 237/1997 (BRASIL, 1997) como a Lei Complementar nº 140/2011 (BRASIL, 2011). Ademais, será importante conhecer os passos que compreende o procedimento de licenciamento ambiental ordinários, sendo mencionados algumas modalidades de licenciamento ambiental. Por fim, será apresentado os tipos de licenças ambientais e sua aplicação. 2. A Resolução CONAMA nº 237/1997 Você tomou conhecimento que o licenciamento ambiental constitui um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, contudo sua aplicação está expressa em outras normas como a Resolução CONAMA nº 237/1997. Dessa forma, necessário retomar alguns conceitos apresentados na Política Nacional do Meio Ambiente presente em seu art. 3º, inciso II (BRASIL, 1981) como a degradação da qualidade ambiental que consiste na alteração contrária às características do meio ambiente. O mesmo texto faz menção, em seu art. 8º (BRASIL, 1981), sobre a competência do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que é integrante do SISNAMA, elencando o estabelecimento de normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras. Assim, segundo a Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981), surgeo Conselho Nacional do Meio Ambiente, sendo operacionalizada com a publicação de resoluções e recomendações, com a finalidade de: 24 [...] assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida. (BRASIL, 1988) A Resolução CONAMA nº 237/1997 apresenta informações relevantes para o procedimento de licenciamento como seus conceitos, documentos necessários e espécies de licenças, considerando o procedimento ordinário. Já no primeiro artigo da Resolução CONAMA nº 237/1997 (BRASIL,1997), há a apresentação de definições de termos que reiteradamente são utilizados como licenciamento ambiental, licença ambiental, estudos ambientais e impacto ambiental regional. Ademais, a Lei Complementar nº140/2011, que é a legislação mais recente que apresenta o conceito sobre licenciamento ambiental em seu art. 2º, inciso I (BRASIL, 2011), o elenca como: Procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental. (BRASIL, 1988) Dessa forma, com a leitura do conceito apresentado na Resolução e considerando ainda o conceito apresentado pela Lei Complementar nº 140/2011, que também busca apresentar o conceito para licenciamento ambiental em seu art. 2º, inciso I, pode-se extrair alguns termos chaves e compreender o seu significado. Assim, sucintamente, o licenciamento ambiental corresponde a um procedimento de natureza administrativa que objetiva licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, capazes de causar degradação ambiental em razão de sua efetiva ou potencial capacidade de poluição. 25 Importante que tenha ciência acerca do conceito de licença ambiental, outro tema bastante controverso, e que está presente na Resolução CONAMA nº 237/1997 em seu artigo 1º, II (BRASIL, 1997) sendo expresso como: Ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental. (BRASIL, 1997) Assim, apesar do uso dos termos licenciamento e licença, presentes na Resolução CONAMA nº 237/1997 como também na Lei Complementar nº 140/2011, segundo Trennepohl & Trennepohl (2020, p. 54), a expressão licenciamento é a mais utilizada apesar de não ser o modo mais correto de empregá-la, pois “o processo de anuência do Poder Público com as obras ou atividades condicionadas à aprovação do Estado, embora, em muitas vezes, não se trate de uma licença na concepção administrativista da palavra, mas de autorização”. Dessa forma, a expressão “licença ambiental” merece atenção, isso por conta de distinção encontrada para o mesmo termo na esfera administrativa. Assim, no âmbito do Direito Administrativo, segundo Alexandrino e Paulo (2012): Licença é ato administrativo vinculado e definitivo, editado com fundamento no poder de polícia administrativa, nas situações em que o ordenamento jurídico exige a obtenção de anuência previa da administração pública como condição para o exercício, pelo particular, de um direito subjetivo de que ele seja titular. (ALEXANDRINO; PAULO, 2012, p. 486) Em contrapartida, referidos autores ainda definem que: 26 Autorização é um ato administrativo por meio do qual a administração pública possibilita ao particular a realização de alguma atividade de predominante interesse deste, ou a utilização de um bem público. Na maior parte dos casos, a autorização configura um ato de polícia administrativa – quando constitui uma exigência imposta como condição para a prática de uma atividade privada ou para o uso de um bem público –. Segundo o entendimento doutrinário há muito consagrado, a autorização, seja qual for seu objeto, é um ato discricionário [...]. Ademais, o mesmo depois de obtida a autorização, não tem o particular direito à sua manutenção, podendo a administração revogá-la a qualquer tempo, ou seja, trata-se de um ato administrativo precário. (ALEXANDRINO; PAULO, 2012, p. 486) Diante da apresentação dos conceitos na seara administrativa, está claro a distinção entre eles, e resumidamente pode ser compreendida da seguinte forma: Figura 1 – Distinção entre Licença e Autorização no Direito Administrativo Fonte: elaborada pelo autor. O caráter vinculado da licença sinaliza que sua emissão independe de análise da Administração Pública, bastando o atendimento às normas estabelecidas, distintamente do caráter discricionário, que 27 nessa hipótese dependerá da decisão e conveniência da Administração Pública. Quanto a distinção entre a definitividade e precariedade do ato, o primeiro é conferido de modo pleno em face de direito individual de quem requere, não cabendo revogação. Entretanto, no segundo, não gera direito adquirido ao requerente e pode ser revogado a qualquer tempo sem direito à indenização. Contudo, na seara ambiental considerando especificamente a Resolução CONAMA nº 237/1997, há distinção entre os conceitos acima apresentados, pois, segundo Fiorillo citado por Trennepohl & Trennepohl (2020, p. 70), “a licença ambiental deixa de ser um ato vinculado para ser um ato com discricionariedade sui generis”, ou seja, é um ato que depende da decisão da Administração contudo, apresentando algumas especificidades. Sobre a distinção entre licença administrativa e licença ambiental, Antunes (2020) descreve: A licença administrativa, que possui caráter de definitividade, só podendo ser revogada por interesse público ou por violação das normas legais (STF – RE 106931/PR. Min. Carlos Madeira. 2º Turma. DJU:16/5/1986, p.8188), sendo que, na primeira hipótese, a revogação far-se-á mediante indenização (STF – RMS 2810. Min. Mario Guimarães. Pleno. DJU:24/12/1956, p. 2465); importante ressaltar que somente será legal a revogação precedida de ampla defesa e contraditório, haja vista que a licença, em tese, concede direitos ao seu titular; já a autorização expedida a título precário é revogável a qualquer momento pelo poder autorizante, mediante um juízo de conveniência e oportunidade. As licenças e autorizações ambientais tem as suas origens e com estas mantem uma relação intensa e, por vezes, conflitante. Assim, não há que se confundir a licença ambiental com a autorização ambiental. As duas modalidades de alvarás são perfeitamente validas. Ocasiões existirão em que a hipótese será de concessão de licença ambiental; em outras, a questão será resolvida mediante autorização ambiental. A LC nº 140/2011, 28 expressamente, e em várias passagens, reconhece a existência das “autorizações ambientais”. Este fato tem enorme repercussão jurídica que ainda não foi devidamente analisado pela doutrina e jurisprudência. Ao longo dos anos temos sustentado a tese de que há uma diferença clara entre as licenças de direito ambiental e as licenças de administrativas, havendo uma natureza especial para a licença ambiental. (ANTUNES, 2020, p. 184) Analisando o entendimento de Antunes (2020), este registra a diferença entre os termos licença utilizados no âmbito administrativo e ambiental, destacando que deve-se adotar entendimentos distintos para cada uma das esferas. Apesar da relação existente entre elas, contudo, apresenta uma nova reflexão, ou seja, sobre a existência da licença ambiental e da autorização ambiental, sendo ambos os conceitos válidos. Porém, não apresentam a diferenciação entre eles, sendo algo ainda bastante incipienteconsiderando doutrina e jurisprudência, conforme o próprio professor relata em sua explicação. Desse modo, para facilitar seu entendimento frente a essa questão apresentada referente aos conceitos, importante que compreenda e adote uma das ideias defendidas por cada ala de doutrinadores apresentados, trazendo argumentos e justificativas embasadas para defender seu entendimento, haja vista não existir unanimidade sobre o tema, especialmente considerando os conceitos de autorização e licença no âmbito ambiental. Importante destacar que as licenças ambientais são solicitadas junto ao órgão ambiental competente, devendo estes serem acompanhados de estudos e apresentação de uma série de documentos solicitados conforme estabelece o art. 3º da Resolução CONAMA nº 237/1997, o qual informa que a licença deverá ser acompanhada de prévio estudo de impacto ambiental e de seu respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA) para empreendimentos e atividades 29 consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente. Tal dispositivo ainda destaca a necessidade da publicidade, já que serão os documentos e estudos apresentados em audiências públicas. Vale destacar que a audiência pública ocorrerá em situações especificas, conforme estabelece a Resolução CONAMA nº 9/1987. Com essa análise realizada sobre a Resolução CONAMA nº 237/1997, detalhando especialmente os conceitos apresentados, abordando conceitualmente o procedimento de licenciamento bem como apresentando o uso da expressão licença, diante da diversidade de entendimento acerca de seu conceito e emprego no âmbito ambiental e administrativo. 3. Lei Complementar n. 140/2011 (BRASIL, 2011) A Política Nacional do Meio Ambiente foi uma legislação inovadora e de grande importância no cenário jurídico ambiental, porém, não apresentou competências claras entre os entes federados em termos legislativos. Dessa forma, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 23 dispôs sobre a competência comum entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios na proteção e preservação do meio ambiente e ao combate à poluição, trazendo expressamente a necessidade de fixação de normas para a cooperação entre os entes federados. Dessa forma, até o surgimento da Lei Complementar n. 140/2011, surgiram diversos mecanismos para preenchimento dessa lacuna por intermédio de leis ordinárias, decretos, resoluções e até portarias, que foram ineficazes para definir competências para a emissão destas licenças. Podemos, inclusive, elencar a própria Resolução CONAMA nº 237/1997, que não foi o tipo normativo adequado para apresentar os mecanismos de cooperação entre os entes na defesa do meio ambiente. 30 Isso, de fato, foi um grande problema, pois, considerando a espécies legislativas, há o aspecto material relevante, justamente porque a Constituição estabelece taxativamente a regulamentação que ocorrerá por meio da Lei Complementar, cabendo à lei ordinária, atuação residual. Portanto, no caso do art. 23 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), em seu parágrafo único, caberia apenas à Lei Complementar fixar estas normas de cooperação, não podendo utilizar nenhuma outra espécie. No aspecto prático, essa ausência de lei complementar para a definição das áreas de atuação dos diferentes entes da federação acabou ocasionando diversos desentendimentos entres os órgãos pertencentes ao SISNAMA, gerando risco à implantação desse sistema e também muita insegurança jurídica, com demandas que buscavam recorrentemente o Judiciário diante da lacuna legislativa, de modo a não incentivar investimentos em virtude de possíveis prejuízo em razão de embargo às atividades e autuações. Sobre esse problema do conflito de competência, Freitas citado por Trennepohl & Trennepohl (2020, p. 55), explica que: Há – é inegável – disputa de poder entre órgãos ambientais, fazendo com que, normalmente, mais de um atribua a si mesmo competência legislativa e material. Há, também, outra controvérsia histórica que jamais desaparecerá: o poder central está distante e desconhece os problemas locais; o poder local está mais próximo dos fatos, porém é influenciado e envolvido nos seus próprios interesses. (FREITAS apud TRENNEPOHL; TRENNEPOHL, 2020, p. 55) A primeira grande inovação da Lei Complementar n. 140/2011 foi a impossibilidade de duplicidade no licenciamento ambiental conforme estabelece seu art. 13 (BRASIL, 2011), competindo a apenas um único ente federativo a atribuição sobre o licenciamento ou autorização. 31 Outro ponto relevante é o art. 17 da Lei Complementar n. 140/2011 (BRASIL, 2011) que estabelece: Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada. [...] § 2º Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o ente federativo que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão competente para as providências cabíveis. § 3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput. (BRASIL, 2011) Assim, verifica-se a necessidade de articulação entre os artigos 13 e 17 da Lei Complementar n. 140/2011, pois apesar da atribuição comum de fiscalização entre os entes federados, haverá a predominância do auto de infração ambiental que for lavrado pelo órgão licenciador responsável no caso do licenciamento ambiental. Outro destaque é a distinção entre as atuações supletiva e subsidiária, presente no art. 2º da Lei Complementar (BRASIL, 2011): II–atuação supletiva: ação do ente da Federação que se substitui ao ente federativo originariamente detentor das atribuições, nas hipóteses definidas nesta Lei Complementar; 32 III–atuação subsidiária: ação do ente da Federação que visa a auxiliar no desempenho das atribuições decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente federativo originariamente detentor das atribuições definidas nesta Lei Complementar. (BRASIL, 2011) Importante destacar que na atuação supletiva, existe uma gradação para essa substituição presente no art. 15 da Lei Complementar n. 140/2011, conforme destacado a seguir: Figura 2 – Atuação Supletiva segundo LC n. 140/2011 Fonte: elaborada pelo autor. Assim, a atuação supletiva sempre ocorrerá por intermédio da substituição de um ente federado que detém a atribuição para um outro ente federado, que originariamente não a detém, sendo observado a regra estabelecida no art. 15 e incisos da Lei Complementar n. 140/2011, ou seja, na falta de órgão ambiental na esfera estadual ou no Distrito Federal, caberá à União. Para o caso de ausência de órgão ambiental 33 licenciador no Município, a atuação supletiva será do Estado; e na ausência de órgão ambiental licenciador no Município e no Estado, a atuação supletiva será da União. Para a atuação subsidiária, significa que o órgão ambiental licenciador originária responsável pelo licenciamento ambiental atuará, contudo, contará com a participação de outro órgão ambiental, que não detém originariamente a atribuição, que o auxiliará, sendo essa participação solicitada pelo órgão licenciador originário. Assim, por exemplo, em uma atuação do IBAMA para licenciar determinado empreendimento que terá impacto em dois Estados, o órgão poderá solicitar auxílio junto aos órgãos ambientais dos dois Estados nafiscalização desse empreendimento, pois, originariamente, essa competência pertence apenas à União. Entre as ações de cooperação presentes na Lei Complementar n. 140/2011, no art. 7º, foram definidas as ações administrativas de responsabilidade da União, contemplando o licenciamento ambiental de responsabilidade do órgão ambiental licenciador no âmbito federal, estando expresso em seu inciso XIV, (BRASIL, 2011) observando as seguintes especificidades: 34 Figura 3 – Competência da União para licenciamento de atividades Fonte: elaborada pelo autor. No caso dos Estados, a Lei Complementar n. 140/2011 definiu em seu art. 8º, inciso XIV a responsabilidade para licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes de causar degradação ambiental, ressalvando a competência da União e dos Municípios. Para contextualizar, há necessidade de recorrer a um exemplo real, assim, é de conhecimento notório o destino turístico de Ceará e de sua capital, Fortaleza, sendo um passeio frequente a muitos turistas a ida ao Beach Park, um parque aquático e complexo turístico e hoteleiro. O licenciamento desse empreendimento tem como responsável o órgão ambiental estadual, Semace. Contudo, o que é desconhecimento de muitos turistas é a localização do complexo, situado no município de Aquiraz, que é vizinho a Fortaleza. Apesar, da existência de órgão 35 ambiental municipal, diante do impacto ambiental na região e não apenas no município de Aquiraz, o órgão responsável pelo licenciamento para este empreendimento é o Semace. Já para o caso dos Municípios, a Lei Complementar estabeleceu em seu art. 9º, inciso XIII o exercício do controle e fiscalização de atividades e empreendimentos cuja atribuição para licenciar ou autorizar, ambientalmente, for cometida ao Município, sendo que este atuará quando a atividade ou empreendimento causar impacto ambiental local, conforme tipologia definida pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente, considerando os critérios de porte, potencial poluídos e natureza da atividade. Além disso, caberá ao Município a fiscalização e controle em unidades de conservação instituídas pelo próprio ente, com exceção da área de proteção ambiental. Por fim, um outro dispositivo importante está expresso no art. 14, § 4º da lei Complementar nº 140/2011 (BRASIL, 2011), estabelecendo como prazo mínimo de antecedência para a renovação de licença ambiental o período de 120 (cento e vinte) dias da expiração do seu prazo de validade, permitindo a prorrogação automática da licença até a manifestação definitiva do órgão competente. Assim, é possível verificar a importância da Lei Complementar n. 140/2011 para o processo de licenciamento e para o cenário legislativo ambiental. 4. Licenças ambientais Na Política Nacional do Meio Ambiente, em seu art. 10 (BRASIL, 1981), há a determinação de que a construção, instalação, ampliação e funcionamento de atividades e estabelecimentos que utilizam os recursos ambientais, que efetiva ou potencialmente causam 36 poluição e que possam causar degradação ambiental, dependerão de licenciamento ambiental prévio. Assim, será necessário a exigência de estudos ambientais prévios. A Resolução CONAMA nº 237/1997 apresenta as espécies de licença em seu art. 8º (BRASIL, 1997): O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças: I–Licença Prévia (LP)–concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação; II–Licença de Instalação (LI)–autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante; III–Licença de Operação (LO)–autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação. Parágrafo único–As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do empreendimento ou atividade. (BRASIL, 1997) Sucintamente, os tipos de licenças se distribuem da seguinte forma: a) Licença prévia (LP), que deve ser pleiteada na fase preliminar de planejamento e terá como fim atestar a viabilidade ambiental e requisitos básicos; b) Licença de instalação (LI), sendo solicitada para a autorização e instalação do empreendimento ou atividade 37 observando especificações contidas em planos, programas e projetos, além da imposição de medidas de controle ambiental; e c) Licença de Operação, cuja solicitação busca autorizar a operação da atividade ou empreendimento, devendo atestar que houve o efetivo cumprimento das medidas estabelecidas nas licenças anteriores. Essa tipologia segue o licenciamento trifásico, contudo, existem diversos outros procedimentos de licenciamento que possuem uma distribuição distinta de licenças, muitos deles sendo licenciamentos específicos, conforme estabelece o art. 9º da Resolução CONAMA nº 237/1997, ocorrendo nos âmbitos federal e estadual. E por fim, é importante que conheça os prazos de validade de cada tipo de licença que está expresso no art. 18 da Resolução CONAMA nº 237/1997 (BRASIL, 1997): Figura 4 – Validade das licenças Fonte: elaborada pelo autor. Desse modo, é possível conhecer sucintamente os conceitos e normas do procedimento de licenciamento ambiental apresentados na Lei Complementar nº 140/2011 e Resolução CONAMA nº 237/1997, conhecendo os tipos de licenças e seus prazos de validade permitindo maior propriedade, considerando o procedimento ordinário. 38 Referências Bibliográficas ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 20. ed. São Paulo: Método, 2012. ANTUNES, Paulo de B. Direito ambiental. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2020. BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: D.O.U., 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 11 ago. 2020. BRASIL. Presidência da República. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Brasília: DO.U., 1981. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm. Acesso em: 11 ago. 2020. BRASIL. Presidência da República. Lei Complementar nº 140/11. Fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, [...]. Brasília: D.O.U., 2011. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp140.htm. Acesso em: 11 ago. 2020. BRASIL. Presidência da República. Resolução CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de 1997. Dispõe sobre a revisão e complementação dos procedimentos e critérios utilizados para o licenciamento ambiental. Disponível em: https://www.icmbio.gov. br/cecav/images/download/CONAMA%20237_191297.pdf. Acesso em: 11 ago. 2020. TRENNEPOHL, Curt; TRENNEPOHL, Terence. Licenciamento ambiental. 8. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp140.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp140.htm https://www.icmbio.gov.br/cecav/images/download/CONAMA%20237_191297.pdf https://www.icmbio.gov.br/cecav/images/download/CONAMA%20237_191297.pdf 39 Atividades econômicase licenciamento ambiental Autoria: Fernanda Brusa Molino Leitura crítica: Fabiano Melo Gonçalves de Oliveira Objetivos • Conhecer os tipos de atividades que devem se submeter ao procedimento de licenciamento ambiental. • Compreender os órgãos responsáveis pelo licenciamento ambiental. • Compreender o procedimento de licenciamento ambiental. 40 1. Introdução Você conhecerá as atividades que obrigatoriamente devem se submeter ao procedimento de licenciamento ambiental, diante de sua potencialidade ou até mesmo danosidade junto ao meio ambiente, considerando ainda seu porte e não apenas sua natureza poluidora. Ademais, serão apresentados os órgãos envolvidos e responsáveis pelo licenciamento ambiental considerando o âmbito de atuação junto aos entes federados. Por fim, será apresentado o procedimento de licenciamento ambiental de modo sucinto, considerando o âmbito federal e procedimento ordinário, permitindo analisar e compreender as etapas que devem ser observadas minimamente. 2. Empreendimentos e atividades que necessitam de licenciamento ambiental A Política Nacional do Meio Ambiente em seu art. 10 (BRASIL, 1981) estabeleceu a necessidade de que construções, instalações, ampliações e funcionamentos de empreendimentos e atividades que efetiva ou potencialmente podem causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental. Do mesmo modo, a Resolução CONAMA nº 237/1997 (BRASIL, 1997), em seu art. 2º, apresenta texto semelhante, dispondo que a localização, construção, instalação, ampliação, modificação e operação de empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, ou de empreendimentos capazes de causar degradação ambiental, dependerão, obrigatoriamente, de prévio licenciamento junto ao órgão ambiental competente sem prejuízo de exigibilidade de outras licenças. 41 Assim, é evidente a necessidade de autorização junto aos órgãos competentes para que ocorra o licenciamento ambiental. Porém, como identificar estas atividades ou empreendimentos? Para o âmbito federal, você encontrará a resposta analisando a Resolução CONAMA n. 237/1997(BRASIL, 1997), em seu art. 2º, § 2º, ou seja, há necessidade de licenciamento ambiental junto aos empreendimentos e atividades relacionadas no Anexo 1 da mesma Resolução, sendo que estão distribuídas em tipos de indústrias, e em cada indústria ainda são apresentadas os tipos de atividades, sendo elas: Quadro 1 – Atividades ou empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental (Resolução CONAMA nº 237/1997) INDÚSTRIA ATIVIDADE Extração e tratamento de minerais Pesquisa mineral com guia de utilização. Lavra a céu aberto, inclusive de aluvião, com ou sem beneficiamento. Lavra subterrânea com ou sem beneficiamento. Lavra garimpeira. Perfuração de poços e produção de petróleo e gás natural. Indústria de produtos minerais não metálicos Beneficiamento de minerais não metálicos, não associados à extração Fabricação e elaboração de produtos minerais não metálicos tais como: produção de material cerâmico, cimento, gesso, amianto e vidro, entre outros. 42 Indústria metalúrgica Fabricação de aço e de produtos siderúrgicos. Produção de fundidos de ferro e aço/forjados/arames/ relaminados com ou sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia. Metalurgia dos metais não-ferrosos, em formas primárias e secundárias, inclusive ouro. Produção de laminados/ligas/artefatos de metais não- ferrosos com ou sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia. Relaminação de metais não-ferrosos, inclusive ligas. Produção de soldas e anodos. Metalurgia de metais preciosos. Metalurgia do pó, inclusive peças moldadas. Fabricação de estruturas metálicas com ou sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia. Fabricação de artefatos de ferro/aço e de metais não- ferrosos com ou sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia. Têmpera e cementação de aço, recozimento de arames, tratamento de superfície. Indústria mecânica Fabricação de máquinas, aparelhos, peças, utensílios e acessórios com e sem tratamento térmico e/ou de superfície. Indústria de material elétrico, eletrônico e comunicações Fabricação de pilhas, baterias e outros acumuladores. Fabricação de material elétrico, eletrônico e equipamentos para telecomunicação e informática. Fabricação de aparelhos elétricos e eletrodomésticos. 43 Indústria de material de transporte Fabricação e montagem de veículos rodoviários e ferroviários, peças e acessórios. Fabricação e montagem de aeronaves. Fabricação e reparo de embarcações e estruturas flutuantes. Indústria de madeira Serraria e desdobramento de madeira. Preservação de madeira. Fabricação de chapas, placas de madeira aglomerada, prensada e compensada. Fabricação de estruturas de madeira e de móveis. Indústria de papel e celulose Fabricação de celulose e pasta mecânica. Fabricação de papel e papelão. Fabricação de artefatos de papel, papelão, cartolina, cartão e fibra prensada. Indústria de borracha Beneficiamento de borracha natural. Fabricação de câmara de ar e fabricação e recondicionamento de pneumáticos. Fabricação de laminados e fios de borracha. Fabricação de espuma de borracha e de artefatos de espuma de borracha, inclusive látex. 44 Indústria de couros e peles Secagem e salga de couros e peles. Curtimento e outras preparações de couros e peles. Fabricação de artefatos diversos de couros e peles. Fabricação de cola animal. 45 Indústria química Produção de substâncias e fabricação de produtos químicos. Fabricação de produtos derivados do processamento de petróleo, de rochas betuminosas e da madeira. Fabricação de combustíveis não derivados de petróleo. Produção de óleos/gorduras/ceras vegetais-animais/óleos essenciais vegetais e outros produtos da destilação da madeira. Fabricação de resinas e de fibras e fios artificiais e sintéticos e de borracha e látex sintéticos. Fabricação de pólvora/explosivos/detonantes/munição para caça-desporto, fósforo de segurança e artigos pirotécnicos. Recuperação e refino de solventes, óleos minerais, vegetais e animais. Fabricação de concentrados aromáticos naturais, artificiais e sintéticos. Fabricação de preparados para limpeza e polimento, desinfetantes, inseticidas, germicidas e fungicidas. Fabricação de tintas, esmaltes, lacas, vernizes, impermeabilizantes, solventes e secantes. Fabricação de fertilizantes e agroquímicos. Fabricação de produtos farmacêuticos e veterinários. Fabricação de sabões, detergentes e velas. Fabricação de perfumarias e cosméticos. Produção de álcool etílico, metanol e similares. 46 Indústria de produtos de matéria plástica Fabricação de laminados plásticos. Fabricação de artefatos de material plástico. Indústria têxtil, de vestuário, calçados e artefatos de tecidos Beneficiamento de fibras têxteis, vegetais, de origem animal e sintéticos. Fabricação e acabamento de fios e tecidos. Tingimento, estamparia e outros acabamentos em peças do vestuário e artigos diversos de tecidos. Fabricação de calçados e componentes para calçados. 47 Indústria de produtos alimentares e bebidas Beneficiamento, moagem, torrefação e fabricação de produtos alimentares. Matadouros, abatedouros, frigoríficos, charqueadas e derivados de origem animal. Fabricação de conservas. Preparação de pescados e fabricação de conservas de pescados. Preparação, beneficiamento e industrialização de leite e derivados. Fabricação e refinação de açúcar. Refino/preparação de óleo e gorduras vegetais. Produção de manteiga, cacau, gorduras de origem animal para alimentação. Fabricação de fermentos e leveduras. Fabricação de rações balanceadas e de alimentos preparados para animais. Fabricação de vinhos e vinagre. Fabricação de cervejas, chopes e maltes. Fabricação de bebidas não alcoólicas, bem como engarrafamento e gaseificação de águas minerais. Fabricação de bebidas alcoólicas.Indústria de fumo Fabricação de cigarros/charutos/cigarrilhas e outras atividades de beneficiamento do fumo. 48 Indústrias diversas Usinas de produção de concreto. Usinas de asfalto. Serviços de galvanoplastia. Obras civis Rodovias, ferrovias, hidrovias, metropolitanos. Barragens e diques. Canais para drenagem. Retificação de curso de água. Abertura de barras, embocaduras e canais. Transposição de bacias hidrográficas. Outras obras de arte. 49 Serviços de utilidade Produção de energia termoelétrica. Transmissão de energia elétrica. Estações de tratamento de água. Interceptores, emissários, estação elevatória e tratamento de esgoto sanitário. Tratamento e destinação de resíduos industriais (líquidos e sólidos). Tratamento/disposição de resíduos especiais tais como: de agroquímicos e suas embalagens usadas e de serviço de saúde, entre outros. Tratamento e destinação de resíduos sólidos urbanos, inclusive aqueles provenientes de fossas. Dragagem e derrocamentos em corpos d’água. Recuperação de áreas contaminadas ou degradadas. Transporte, terminais e depósitos Transporte de cargas perigosas. Transporte por dutos. Marinas, portos e aeroportos. Terminais de minério, petróleo e derivados e produtos químicos. Depósitos de produtos químicos e produtos perigosos. 50 Turismo Complexos turísticos e de lazer, inclusive parques temáticos e autódromos. Atividades diversas Parcelamento do solo. Distrito e polo industrial. Atividades agropecuárias Projeto agrícola. Criação de animais. Projetos de assentamentos e de colonização. Uso de recursos naturais Silvicultura. Exploração econômica da madeira ou lenha e subprodutos florestais. Atividade de manejo de fauna exótica e criadouro de fauna silvestre. Utilização do patrimônio genético natural. Manejo de recursos aquáticos vivos. Introdução de espécies exóticas e/ou geneticamente modificadas. Uso da diversidade biológica pela biotecnologia. Fonte: elaborado pelo autor. A Política Nacional do Meio Ambiente também apresenta a relação de atividades e empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental por meio da apresentação do Anexo VIII (BRASIL, 1981). Desse modo, 51 a relação de empreendimentos e atividades é muito similar, porém, se diferencia em alguns aspectos. O primeiro aspecto é a ausência da apresentação de atividades relacionadas ao parcelamento de solos e em relação às atividades agropecuárias. O segundo aspecto é que na Política Nacional do Meio Ambiente, há a apresentação de classificação para cada atividade considerando seu potencial poluidor relacionado ao grau de utilização (Pp/Gu), sendo que esse indicador não é apresentado junto às atividades na Resolução CONAMA n. 237/1997. Contudo, importante que ambos textos se articulem, justamente porque a Resolução CONAMA n. 237/1997 deve observar as regras apresentadas pela Política Nacional do Meio Ambiente. Em relação às atividades e empreendimentos sujeitos ao procedimento de licenciamento ambiental, é importante correlacionar a um dispositivo da Política Nacional do Meio Ambiente, que consiste na criação e cobrança da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA), pois consiste em um espécie de tributo que tem como fato gerador o exercício regular do poder de polícia atribuído ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), atinente ao controle e fiscalização de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais. Sucintamente é possível correlacionar como atividade ou empreendimento que existe a obrigatoriedade do licenciamento caso estes estejam sujeitos ao pagamento do TCFA, justamente por abarcar as atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais, conforme estabelece o artigo 17-C da Política Nacional do meio Ambiente (BRASIL, 1981). Contudo, compreenda que a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental, não está vinculada à competência para o licenciamento ambiental, sendo que ele é cobrado em razão do poder de polícia do ente federado IBAMA que é o órgão federal. Por conta do TCFA ser uma taxa de cobrança federal, diversos órgãos estaduais de meio ambiente celebram convênios com o IBAMA para se beneficiarem dos recursos originados pelo TCFA, conforme estabelece os artigos 17-P e 17-Q da Política Nacional do 52 Meio Ambiente (BRASIL, 1981), especialmente considerando as atividades de fiscalização ambientais. Trennepohl & Trennepohl (2020, p. 116) explicam a questão da cobrança entre os entes federados explicitando que: Em vez de cobrar a TCFA e conceder o crédito do pagamento efetuado ao órgão estadual pelo administrado, o setor de arrecadação do IBAMA e o órgão de arrecadação estadual já emitem um boleto de arrecadação único, ficando 60% do valor para o Estado e 40% para a União. (TRENNEPOHL; TRENNEPOHL, 2020, p. 116) Apenas para que você possa compreender, a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental, surgiu posteriormente à Politica Nacional do Meio Ambiente, por meio da Lei n. 10.165/2000 que a alterou, por essa razão há menção ao Anexo contido na Política Nacional de Meio Ambiente, entretanto, é utilizado com referencial para o procedimento no âmbito federal, o Anexo 1 presente na Resolução CONAMA nº 237/1997. Lembre-se que ambos os textos, Resolução CONAMA nº 237/1997 e a Política Nacional de Meio Ambiente, se complementam para regulamentar o procedimento de licenciamento ambiental no âmbito federal. Com a apresentação das atividades que necessitam de licença da Administração Pública, considerando a esfera federal, justamente pelo impacto junto ao meio ambiente, é possível identificar quais atividades e empreendimentos necessitam do licenciamento ambiental prévio. 3. Órgãos responsáveis pelo licenciamento ambiental Considerando a Resolução CONAMA n. 237/1997, em seu art. 4º estabelece a competência pelos licenciamento ambiental no âmbito nacional ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos 53 Naturais Renováveis (IBAMA) e , e observando a Constituição Federal em seu art. 23, a competência para a proteção do meio ambiente está compartilhado entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Assim, é importante considerar a Lei Complementar n. 140/2011 para estabelecer os mecanismos de cooperação, para verificar que em cada esfera administrativa, haverá agentes distintos responsáveis pelo licenciamento ambiental. Desse modo, IBAMA atuará nos licenciamentos de atividades ou empreendimentos de responsabilidade da União conforme estabelece a Lei Complementar n. 140/2011 em seu art. 7º, inciso XIV (BRASIL, 2011). As atividades ou empreendimentos sob a responsabilidade dos Municípios nos termos do art. 9º, inciso XIV da Lei Complementar n. 140/2011 (BRASIL, 2011), cabendo ao ente a criação de órgão competente para esse fim, do mesmo modo que os Estados, observando o artigo 8º, incisos XIV e XV. Portanto, de modo sucinto, pode estabelecer como órgãos competentes aqueles estabelecidos em cada âmbito considerando os entes federados, assim, terá um órgão federal, materializando-se na figura do IBAMA, como também no âmbito dos Estados e Distrito Federal e ainda nos municípios. Para o caso específico do Distrito Federal, o ente acabará acumulando as responsabilidades de Estado e Município, conforme estabelece o art. 10 da Lei Complementar nº 140/2011 (BRASIL, 2011). No caso dos Estados, há necessidade de detalhar qual é o órgão responsável pelo licenciamento, e isso é bastante facilitado quando se busca auxílio junto ao site do Portal Nacional de Licenciamento Ambiental (PNLA), onde há a relação de todos órgãos licenciadores, sendo eles: 54 Tabela 1 – Órgãos licenciadores por Estado ACRE: Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac). ALAGOAS: Instituto do Meio Ambiente (IMA). AMAPÁ: Instituto do Meio Ambiente e de Ordenamento Territorial do Amapá (Imap). AMAZONAS: Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). BAHIA: Institutodo Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema). CEARÁ: Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). DISTRITO FEDERAL: Instituto Brasília Ambiental (Ibram). ESPÍRITO SANTO: Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema). GOIÁS: Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e assuntos Metropolitanos (Secima). MARANHÃO: Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema). MATO GROSSO: Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema). MATO GROSSO DO SUL: Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (Imasul). MINAS GERAIS: Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). PARÁ: Secretaria de Estadual de Meio Ambiente (Sema). PARAÍBA: Superintendência do Meio Ambiente (Sudema). PARANÁ: Instituto Ambiental do Paraná (IAP). 55 PERNAMBUCO: Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH) PIAUÍ: Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semar). RIO DE JANEIRO: Instituto Estadual do Ambiente (Inea). RIO GRANDE DO NORTE: Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN (Idema). RIO GRANDE DO SUL: Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (Fepam). RONDÔNIA: Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam). RORAIMA: Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh). SANTA CATARINA: Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA). SÃO PAULO: Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). SERGIPE: Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema). TOCANTINS: Instituto Natureza do Estado do Tocantins (Naturatins). Fonte: adaptada de Brasil ([s.d.]). Importante destacar que cada órgão estabelece normas técnicas específicas e cada Estado pode estabelecer legislações próprias para os órgãos competentes, devendo sempre recorrer ao estudo das normas específicas de cada Estado. Para os municípios, vale o mesmo alerta, justamente pela possibilidade de criação e implementação de normas específicas para determinado órgão ambiental e legislação local. Portanto, resumidamente podemos apresentar do seguinte modo: 56 Figura 1 – Competência entes federados versus órgãos licenciadores Fonte: elaborada pelo autor. A Política Nacional do Meio Ambiente estabelece em seu art. 17 (BRASIL, 1981): Art. 17. Fica instituído, sob a administração do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis–IBAMA [...] II–Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais, para registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a atividades potencialmente poluidoras e/ou à extração, produção, transporte e comercialização de produtos potencialmente perigosos ao meio ambiente, assim como de produtos e subprodutos da fauna e flora. (BRASIL, 1981) Diante do dispositivo a Administração Pública só poderá exercer o poder de polícia por meio de seus órgãos competentes com o cadastro das atividades, independentemente do processo administrativo de 57 licenciamento ambiental. Dessa forma, o interessado deve realizar a inscrição por meio do site ou presencialmente em uma unidade do IBAMA , que é o órgão responsável por esse cadastro. Em seguida, é emitido o Certificado de Registro juntamente com a apresentação de formulários necessários para a elaboração do Relatório Anual de Atividades, e a partir desse momento ocorre o controle e gestão sobre a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental, que será cobrada trimestralmente. Sobre a TCFA é importante que você tenha conhecimento que caso uma atividade seja interrompida ou suspensa, o responsável deve realizar a alteração da situação da mesma junto ao Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais, visando à não geração da TCFA, que é feita automaticamente caso nada seja sinalizado, gerando débitos, e possibilitando a Inscrição no Cadastro Inadimplentes e na Dívida Ativa. Sucintamente, é importante analisar cada ente federado e sua competência para compreender a responsabilidade sobre o licenciamento ambiental de cada órgão ambiental. 4. Procedimento de licenciamento ambiental Considerando a Lei Complementar n. 140/2011 (BRASIL, 2011), que estabelece mecanismos de cooperação entre os entes federados, inclusive para o procedimento de licenciamento ambiental, será apresentado o procedimento no âmbito federal. Assim, será necessário analisar as normativas estaduais e municipais a depender do caso que estará tratando, em razão da pluralidade de legislações e normas que cada ente pode apresentar, porém a Resolução CONAMA nº 237/1997 apresenta as etapas comumente encontradas em um procedimento comum, que será aqui apresentado. 58 Conforme já destacado, há três tipos de licenças, comumente encontradas. Contudo, existem outras possibilidades a depender da atividade ou empreendimento que está em análise como o caso dos procedimentos especiais. Estas licenças são requeridas em momentos distintos representando um procedimento de licenciamento ambiental diferente, que observará o art. 10 da Resolução nº 237/1997, observando as seguintes etapas: Figura 2 – Etapas do procedimento de licenciamento ambiental Fonte: elaborada pelo autor. 59 Se atente que no procedimento de licenciamento ambiental deverá ser apresentado a certidão da prefeitura municipal obrigatoriamente, constando a informação de que o local e o tipo de empreendimento ou atividade estão em conformidade com a legislação aplicável ao uso e ocupação do solo e, caso seja necessário, deverá apresentar a autorização para supressão de vegetação e a outorga para o uso da água, emitidas pelos respectivos órgãos competentes. Quando o empreendimento ou atividade for considerada efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente dependerá de prévio estudo de impacto ambiental. Assim, caso tenha a necessidade de nova complementação em razão de esclarecimentos já prestados, o órgão ambiental competente poderá formular novo pedido de complementação, mediante a motivação dessa decisão e com a participação do empreendedor. O órgão ambiental competente, de acordo com o art. 12 da Resolução CONAMA n. 237/1997 (BRASIL, 1997), poderá definir procedimentos específicos para as licenças ambientais, considerando características, natureza e particularidades da atividade ou empreendimento, permitindo sua compatibilização diante das etapas de planejamento, implantação e operação. O mesmo art. 12, em seus parágrafos (BRASIL, 1997) permite a adoção de procedimentos simplificados para atividades e empreendimentos desde que apresentem baixo potencial de impacto ambiental e sejam de pequeno porte, devendo ser aprovado pelo respectivo Conselho de Meio Ambiente. A Resolução CONAMA n. 237/1997 (BRASIL, 1997), em seu art. 19, ainda permite que o órgão ambiental competente modifique condicionantes e medidas de controle, bem como suspenda ou cancele licença expedida, devendo sempre ser motivada, desde que ocorra a violação de normas legais ou de condicionantes; ou ocorra a omissão ou falsa descrição 60 de informações relevantes relacionadas à expedição da licença ou que advenha graves riscos à saúde e ao ambiente. Deste modo, sucintamente, o procedimento se subdivide em etapas, devendo ser analisados o tipo e natureza da atividade, que poderá alterar esse percurso bem como os documentos necessários para a sua análise, sendo que necessariamente se inicia com a definição dos documentos, projetos e estudos necessários a apresentação, para que o órgão ambiental competente siga com a análise, e caso seja necessário, proceda às complementações e possível audiência pública, quando for ocaso, finalizando com o deferimento ou indeferimento do pedido de licença. Referências Bibliográficas BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: D.O.U., 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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