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1 DISTÚRBIOS NEUROPSICOLÓGICOS E BATERIAS DE TESTES BÁSICOS E ESPECÍFICOS 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)............................................................................................................ 3 TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA ....................................... 5 DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM .................................................... 7 PRINCIPAIS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM ........................... 9 DISGRAFIA ...................................................................................... 9 DISLEXIA ....................................................................................... 10 DISCALCULIA ................................................................................ 11 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ........................................................... 12 CAUSALIDADE DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL........................ 15 SÍNDROME DE RETT ........................................................................ 19 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA: BATERIAS E TESTES .............. 20 TESTES UTILIZADOS ....................................................................... 22 MEMÓRIA ...................................................................................... 25 LINGUAGEM .................................................................................. 26 ATENÇÃO ...................................................................................... 27 FUNÇÕES EXECUTIVAS .............................................................. 27 LOBOS FRONTAIS ........................................................................ 28 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 32 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A nossa instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO Os distúrbios neuropsicológicos também conhecidos como distúrbios do neurodesenvolvimento são problemas neurológicos que podem interferir com a aquisição, retenção, ou aplicação de habilidades ou conjuntos de informações específicos. Eles podem envolver disfunção da atenção, da memória, da percepção, da linguagem, da solução de problemas ou da interação social. Esses distúrbios podem ser leves e de fácil controle com intervenções comportamentais e educacionais ou podem ser mais graves, e as crianças afetadas podem precisar de mais apoio. Os distúrbios do neurodesenvolvimento incluem: ► Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade/impulsividade; ► Transtornos do espectro autista; ► Distúrbios da aprendizagem; ► Deficiência intelectual; ► Síndrome de Rett; TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) constitui um problema de saúde mental que tem três características básicas: a desatenção, a hiperatividade/agitação e a impulsividade, causando grande impacto na vida da criança ou adolescente portador e das pessoas que fazem parte do seu convívio. Pode gerar dificuldades emocionais e de relacionamento familiar e social, bem como dificuldade de aprendizagem e baixo rendimento escolar. A hiperatividade é o aumento da atividade motora. A pessoa hiperativa é inquieta e está quase constantemente em movimento. Quando se trata de 4 criança, os professores descrevem que ela se levanta da carteira a todo instante, mexe com um ou com outro, fala muito. Parece que é elétrica, ou que está com um motorzinho ligado o tempo todo. Raramente consegue ficar sentada, mas se é obrigada a permanecer sentada, se revira, bate com os pés, mexe com as mãos, ou então acaba adormecendo. Dificilmente consegue se interessar por uma brincadeira em que tenha que ficar quieta, mas está sempre correndo, subindo em móveis, árvores, e frequentemente em locais perigosos. Uma criança mais hiperativa nem mesmo para comer consegue sentar, quanto mais para assistir a um programa de televisão, ler um livro ou uma revista. Impulsividade é a deficiência no controle dos impulsos, é “agir antes de pensar”. Podemos entender impulso como a resposta automática e imediata a um estímulo. Por exemplo, se vemos alguma coisa apetitosa, queremos comê- la; se estamos de dieta, temos que controlar o impulso. Se alguém nos incomoda ou agride, nosso impulso é afastá-lo ou revidar, agredindo-o de volta; mas isto pode ser algo ruim para todos e deve ser controlado. Se observarmos uma criança pequena, fica fácil ter uma ideia do que é impulsividade, porque nessa fase ela naturalmente ainda não desenvolveu nenhum controle dos seus impulsos. Em outras palavras, ela não tem freio. Somente à medida que a criança cresce é que a educação vai criando esse freio interno, através de um processo de inibição da resposta imediata. No TDAH, as reações tendem a ser imediatas, sem reflexão. Imagem: 1 5 Na desatenção a pessoa não consegue manter a concentração por muito tempo, se começar a ler um livro, na metade da página não consegue lembrar o que acabou de ler. Até mesmo numa conversa é capaz de perder o fio da meada. A desatenção é responsável por erros tolos que o estudante comete em matérias que ele seguramente domina, mas que no momento da prova sua atenção caiu. Outras vezes, a mente da pessoa com TDAH parece que não tem um “filtro”, e por isso qualquer estímulo é capaz de desviar sua atenção. Assim é que numa aula, por exemplo, basta passar alguém no corredor ou acontecer um ruído na rua para deixar a pessoa perdida em relação ao que está sendo falado pelo professor. Outra forma de desatenção é quando a pessoa não é capaz de dar um recado, simplesmente por não se lembrar disso no exato momento em que encontra a pessoa a quem deve dar o recado. No entanto, basta alguém perguntar qual o recado que ela ficou de transmitir que frequentemente irá lembrá-lo. Dito de outra forma, sua memória está conservada, a questão é que essa pessoa não consegue se lembrar de algo no momento em que deveria fazê- lo. TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA Os transtornos do espectro autista (TEAs) são problemas nos quais as pessoas têm dificuldade em desenvolver relacionamentos sociais normais, usam linguagem de maneira anormal ou não a usam em absoluto e se comportam de maneiras compulsivas e ritualistas. ► As pessoas afetadas têm dificuldades para se comunicar e se relacionar com terceiros. ► As pessoas com transtornos do espectro autista também têm padrões de comportamento, interesses e/ou atividades restritas e com frequência seguem rotinas rígidas. ► O diagnóstico se baseia na observaçãoe nos relatos dos pais e outros cuidadores. 6 ► A maioria das pessoas responde melhor a intervenções comportamentais altamente estruturadas. Os transtornos do espectro autista (TEAs) são considerados um espectro de transtornos, porque as manifestações variam amplamente em tipo e gravidade. Anteriormente, os TEAs eram classificados como autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância e transtorno generalizado do desenvolvimento não especificado. Contudo, os médicos atualmente não usam essa terminologia e consideram todos esses como TEAs (exceto para a síndrome de Rett, que é um distúrbio genético distinto). Os TEAs são diferentes da deficiência intelectual, ainda que muitas crianças com TEAs tenham ambas as coisas. O sistema de classificação enfatiza que, dentro desse amplo espectro, diferentes características podem ocorrer de maneira mais ou menos intensa em um dado indivíduo. Os sintomas de um transtorno do espectro autista podem aparecer nos primeiros dois anos de vida, mas em formas mais leves, os sintomas podem não ser detectados até à idade escolar. Esses transtornos ocorrem em cerca de uma em cada 68 pessoas com base em estatísticas populacionais recentes, e são quatro vezes mais comuns entre meninos do que entre meninas. As causas específicas dos transtornos do espectro autista não são completamente compreendidas, embora elas frequentemente estejam relacionadas a fatores genéticos. No caso de pais com um filho com um TEA, o risco de ter outro filho com um TEA é 50 a 100 vezes maior. Diversas anomalias genéticas, como a síndrome do X frágil e o complexo da esclerose tuberosa e a síndrome de Down, podem estar associados a um TEA. Infecções pré-natais, como infecções virais como a rubéola ou o citomegalovírus, também podem ter alguma participação. No entanto, está claro que os TEAs não são causados por má educação, condições adversas da infância ou por vacinação. 7 DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM Distúrbios de aprendizagem são dificuldades que algumas pessoas apresentam, ainda na infância, na hora de aprenderem algo novo. Crianças com algum distúrbio de aprendizagem possuem dificuldades para aprender a escrever, a ler, possuem dificuldades de concentração e são agitadas. Muitas vezes essas crianças são consideradas problemáticas, rebeldes ou preguiçosas. Os distúrbios de aprendizagem acontecem quando há uma falha no sistema nervoso central (SNC) e as informações recebidas não são processadas corretamente. Ao receber as informações a criança que possui algum distúrbio de aprendizagem não consegue processar corretamente as informações. Os distúrbios de aprendizagem se dividem em três: I- Dislexia II- Disgrafia III- Discalculia A dislexia é um distúrbio caracterizado pela dificuldade de decodificar as palavras simples, essa dificuldade acaba causando distúrbios na fala e na escrita. O diagnóstico da dislexia precisa ser feito por uma equipe multidisciplinar que envolve pediatras, professores, psicólogos e outros profissionais. Já a disgrafia, que também é conhecida como letra feia, é um distúrbio de aprendizagem onde a criança não consegue se lembrar da grafia da letra e acaba escrevendo muito devagar unindo incorretamente certas letras. Esse distúrbio não está relacionado a nenhum distúrbio intelectual. A discalculia é um distúrbio onde a pessoa não consegue assimilar símbolos matemáticos, escreve os números de forma incorreta. As pessoas com discalculia também apresentam dificuldade para posicionarem os símbolos matemáticos na folha e não tem noção de espaço. Os distúrbios de aprendizagem envolvem uma incapacidade de adquirir, reter ou usar habilidades ou informações gerais, o que resulta de dificuldades com a atenção, com a memória ou com o raciocínio e afeta o desempenho acadêmico. 8 As crianças afetadas podem ser lentas para aprender os nomes das cores ou das letras, para contar ou para aprender a ler e escrever. Os distúrbios de aprendizagem são distúrbios de neurodesenvolvimento. Os distúrbios de aprendizagem são bastante diferentes da deficiência intelectual (anteriormente denominada retardo mental) e ocorrem em crianças com desempenho intelectual normal ou mesmo elevado. Os distúrbios de aprendizagem afetam somente certas funções, enquanto que nas crianças com deficiência intelectual as dificuldades afetam de maneira ampla as funções cognitivas. Os três tipos comuns de distúrbios de aprendizagem são: I- Distúrbios da leitura II- Distúrbios da expressão escrita III- Distúrbios envolvendo a capacidade matemática Assim, crianças com distúrbios de aprendizagem podem ter dificuldades significativas para compreender e aprender matemática, mas nenhuma dificuldade para ler, escrever e se sair bem em outras matérias. A dislexia é o distúrbio de aprendizagem mais conhecido. Os distúrbios de aprendizagem não incluem as dificuldades de aprendizagem que se devem a problemas de visão, audição e de coordenação ou a distúrbios emocionais, embora esses problemas possam também ocorrer em crianças com distúrbios de aprendizagem. As crianças podem nascer com um distúrbio de aprendizagem ou desenvolver um à medida que crescem. Ainda que as causas dos distúrbios de aprendizagem não sejam completamente conhecidas, elas incluem anomalias dos processos básicos envolvidos na compreensão ou no uso da linguagem falada ou escrita ou do raciocínio numérico ou espacial. As possíveis causas incluem doença da mãe ou uso de drogas tóxicas pela mãe durante a gravidez, complicações durante a gravidez ou parto (por exemplo, pré-eclâmpsia ou trabalho de parto prolongado) e problemas com o recém-nascido no momento do parto (por exemplo, prematuridade, baixo peso ao nascimento, icterícia grave ou pós-maturidade). Após o nascimento, possíveis fatores incluem exposição a toxinas ambientais como chumbo, infecções do sistema nervoso central, 9 cânceres e seus tratamentos, desnutrição e isolamento social grave ou abuso ou negligência emocional. As dificuldades de aprendizagem (DAs) consideradas como inespecíficas são aquelas que não afetam o desenvolvimento de modo a impedir alguma aprendizagem em particular. PRINCIPAIS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM DISGRAFIA Crianças disgráficas são aquelas que apresentam dificuldades no ato motor da escrita, tornando a grafia praticamente indecifrável; sendo assim, disgrafia é a perturbação da escrita no que diz respeito ao traçado das letras e à disposição dos conjuntos gráficos no espaço utilizado. Relaciona-se, portanto, esta às dificuldades motoras e espaciais. Estudos apontam que a criança com disgrafia escreve de maneira desviante ao padrão, contemplando uma caligrafia deficiente, com letras pouco diferenciadas e mal elaboradas/ proporcionadas. Quando a criança apresenta esse distúrbio, são comuns características como: 10 ► letra excessivamente grande ou excessivamente pequena – macrografia e micrografia, respectivamente; ► forma das letras irreconhecível; ► traçado exagerado e grosso ou demasiadamente suave; ► grafismo trêmulo ou com irregularidade; ► escrita demasiadamente rápida ou lenta; ► espaçamento irregular das letras ou palavras; ► erros e borrões que podem impossibilitar a leitura da escrita; ► desorganização geral no texto e ► utilização incorreta do instrumento com que escrevem. Para confirmar esse distúrbio, a criança deve contemplar o conjunto ou quase a totalidade das condições supracitadas; além disso, é possível que sejam notados outros comportamentos relacionados a outras dificuldades específicas de aprendizagem. DISLEXIA Durante o período de aprendizagem, mais especificamente, no processo de alfabetização, a criança é exposta a aprender diversas habilidades, como habilidadesmotoras, linguísticas e cognitivas, a fim de realizar a decodificação das palavras e ter a habilidade motora suficiente para a execução das atividades, resultando no aprendizado dos processos de leitura e escrita. Durante a segunda infância, período compreendido entre os 6 e 10 anos de idade da criança, o uso dessas habilidades se torna mais requerido e mais utilizado. Dessa forma, é nessa etapa da vida da criança que também é possível identificar os distúrbios de aprendizagem, como a dislexia, uma vez que alterações no processo de ensino-aprendizagem ficam mais evidentes, tanto para os professores quanto para a família e até mesmo para a criança. 11 A dislexia é entendida como um transtorno de aprendizagem, resultado de um déficit específico na linguagem. O indivíduo apresenta, primeiramente, dificuldades na fala devido à dificuldade o processamento fonológico e reflete-se nos processos de leitura. Os principais sinais apresentados pelos indivíduos disléxicos são leitura e escrita, muitas vezes, incompreensíveis, atraso do desenvolvimento da fala e da linguagem, dificuldade na identificação de letras, confusões de letras na grafia, confusão de sons semelhantes, dificuldade de aprender letra-som (inversões de sílabas ou palavras), redução do léxico, substituição de palavras semelhantes, supressão ou adição de letras ou silabas, repetição de sílabas ou palavras, fragmentação incorreta de sílabas, imaturidade fonológica, TDA/H e/ou transtorno de aprendizado. DISCALCULIA O aprendizado da leitura e da matemática têm se tornado cada vez mais imprescindíveis no atual e competitivo mercado de trabalho. Tal a importância que pesquisas sobre os distúrbios de aprendizagem têm crescido consideravelmente. Entretanto, apresentar dificuldade em matemática parece “incomodar” menos que dificuldades em leitura e escrita, talvez por ser considerada uma área difícil e privilégio de poucos. Para Hallahan, Kauffman e Pullen (1944), os distúrbios em matemática têm sido tão frequentes quanto às outras desordens de linguagem, leitura e escrita, perdendo apenas para dificuldade em leitura. O transtorno relacionado às habilidades matemáticas é conhecido como discalculia, palavra que provém do grego (dis = mal) e do latim (calculare = contar). No entanto, as inabilidades matemáticas podem ser conhecidas por duas terminologias: Discalculia ou Discalculia do Desenvolvimento e Acalculia. A primeira, quando forem constitucionais, e a segunda, quando forem adquiridas após doenças neurológicas, doenças cérebro vasculares e demências, podendo ocorrer em crianças, adolescentes e adultos, posterior aquisição da função, quando já havia se consolidado a habilidade. 12 De acordo com a classificação de Kosc (1974 apud BERNARDI, 2006) há seis tipos de discalculia: verbal, practognóstica, léxica, gráfica, Ideognóstica e operacional. A discalculia verbal Corresponde à dificuldade na nomeação de quantidades, números, termos e símbolos. Discalculia Practognóstica Diz respeito à dificuldade para enumerar, comparar e manipular objetos reais ou imagens. Discalculia Lexical Dificuldades na leitura de símbolos matemáticos, como numerais. Discalculia Gráfica Dificuldades na escrita de símbolos matemáticos, como números ou sinais matemáticos. Discalculia Ideognóstica Trata-se da dificuldade na compreensão de conceitos e na realização de operações mentais; e, por último, a operacional refere-se à dificuldade em executar operações e cálculos numéricos. DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A definição de deficiência intelectual passou, ao longo do tempo, por modificações, como, por exemplo, a mudança do termo. Em 2010, foi publicada a 11ª edição do manual “Deficiência Intelectual: Definição, Classificação e Níveis de Suporte”, pela AAIDD (Associação Americana em Deficiência Intelectual e do Desenvolvimento), que manteve a definição de 2002, mas incorporou a mudança do termo “retardo/ deficiência mental” para deficiência intelectual com a seguinte redação: 13 Deficiência intelectual é uma incapacidade caracterizada por limitações significativas tanto no funcionamento intelectual (raciocínio, aprendizado, resolução de problemas) quanto no comportamento adaptativo, que cobre uma gama de habilidade sociais e práticas do dia a dia. Esta deficiência se origina antes da idade de 18 (Shalock et al. 2010, p. 6) Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais – DSM-V, publicado pela Associação Americana de Psicologia em 2014, as características essenciais da deficiência intelectual incluem prejuízos nas funções intelectuais que envolvem raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem pela educação escolar e experiência e compreensão prática. Outra característica se refere a déficits no funcionamento adaptativo, que envolve três domínios: conceitual, social e prático. O domínio conceitual envolve memória, raciocínio matemático, leitura e escrita, linguagem, solução de problemas; o domínio social envolve empatia, habilidades de comunicação, julgamento social, percepção de pensamentos, sentimentos e experiências dos outros. Já o domínio prático envolve aprendizado e autogestão, cuidados pessoais, controle de dinheiro, organização de tarefas, entre outros. Por fim, a deficiência intelectual também é caracterizada por seu início durante o período de desenvolvimento (APA, 2014). Em relação aos comportamentos adaptativos, são definidos como habilidades conceituais, sociais e práticas que as pessoas aprendem para atuar em sua rotina diária, como comunicar, se alimentar, ler, utilizar conceitos matemáticos. As habilidades adaptativas são a comunicação, que diz respeito às habilidades de compreender e expressar informações por meio de comportamentos simbólicos, como palavras faladas ou escritas, ou comportamentos não simbólicos, como expressões faciais e movimentos corporais. A habilidade de autocuidado também é adaptativa e se refere às habilidades que asseguram a higiene pessoal, alimentação, vestuário, uso do sanitário, entre outros. Habilidades de vida no lar dizem respeito às habilidades necessárias para o funcionamento do lar, como cuidado com roupas, com o ambiente doméstico. 14 As habilidades sociais estão relacionadas às trocas sociais, como receber e responder a solicitações adequadamente, reconhecer sentimentos, demonstrar autocontrole, compartilhar e cooperar, respeitar limites e normas e demonstrar comportamento social e sexual adequado. O desempenho na comunidade são habilidades relacionadas ao uso apropriado dos recursos da comunidade, compras em lojas e mercados, utilizar transporte e serviços públicos; as habilidades de auto direção estão relacionadas a fazer escolhas, cumprir planejamentos, tomar iniciativas, completar tarefas e auto advocacia. As habilidades de saúde e segurança dizem respeito às habilidades para cuidar da saúde em termos de alimentação, identificação, tratamento e prevenção de doenças, além de cuidar da própria segurança. As habilidades acadêmicas funcionais se referem a habilidades como ler, escrever, utilizar conceitos básicos e práticos de matemática. A habilidade de lazer diz respeito às habilidades para desenvolver interesses e participar de atividades de entretenimento; por fim, tem-se as habilidades de trabalho, que se referem a manter um trabalho em tempo parcial ou total, comportamentos sociais apropriados e habilidades relacionadas ao trabalho, como cumprir horários, gerenciar dinheiro, enfrentar críticas e aplicar as habilidades acadêmicas funcionais. A deficiência intelectual pode ser classificada em leve, moderada, severa e profunda; com base no funcionamento intelectual do indivíduo. No entanto, é o funcionamento adaptativo que determina o nível de apoio necessário que esse indivíduoprecisa para realizar diversas atividades (APA, 2014). Assim, foram definidos quatro níveis de suporte/apoio para as pessoas com deficiência intelectual: apoio intermitente, apoio limitado, apoio amplo e apoio permanente (ALMEIDA, 2012). ► O apoio intermitente é oferecido conforme as necessidades do indivíduo. É caracterizado como de natureza episódica, pois a pessoa nem sempre necessita dele. Geralmente se faz necessário por períodos curtos durante transições ao longo da vida, como, por exemplo, perda do emprego ou uma crise médica aguda. O apoio intermitente pode ser de alta ou baixa intensidade. 15 ► A intensidade de apoio limitado é caracterizada por consistência ao longo do tempo. Por exemplo, o treinamento para o emprego no mercado de trabalho por um tempo limitado ou o apoio na transição da vida escolar para a vida adulta (ALMEIDA, 2012). ► O apoio amplo é caracterizado pelo apoio regular (por exemplo, apoio diário) em pelo menos alguns ambientes (por exemplo, no trabalho, na escola) e não por tempo limitado (por exemplo, apoio permanente nas atividades de vida diária) (ALMEIDA, 2012). ►Apoio permanente é caracterizado pela constância e alta intensidade. É oferecido nos ambientes onde a pessoa vive e é de natureza vital para a sustentação da vida do indivíduo (ALMEIDA, 2012). É importante destacar que não há instrumentos padronizados que avaliam as condutas adaptativas dos indivíduos e os níveis de apoio que eles necessitam. Assim, um indivíduo não pode ser diagnosticado com deficiência intelectual apenas por testes de QI – quociente de inteligência, outros testes devem ser utilizados para indicar limitações no comportamento adaptativo, que envolve habilidades conceituais, sociais e práticas; considerando o ambiente cultural e da comunidade que o indivíduo está inserido, a diversidade linguística e diferenças culturais. Também se deve considerar o sistema de suporte/apoio que a pessoa necessita (ALMEIDA, 2012). CAUSALIDADE DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Na medicina permanecem diversos livros que falam sobre as causas da deficiência intelectual, sendo a decorrência de anos de pesquisas, e muitas destas análises foram retiradas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (UNESCO), que visa à propagação do entendimento do que se tem estudado até então sobre as causas da deficiência intelectual. 16 Dano genético: causado por genes anormais herdados dos pais. Dano causado dentro do útero: resultado e um desenvolvimento inapropriado do embrião ou do feto durante a gravidez. A rubéola é um exemplo comum de doença que pode afetar o bebê assim como o vírus HIV que pode também danificar o crescimento do cérebro. Dano ocorrido no nascimento ou logo depois: quando o bebê tem problemas durante o parto, como por exemplo, se não recebe oxigênio suficiente por muito tempo. Acidentes e doenças: Lesões causadas no cérebro decorrentes de quedas ou acidentes podem causa deficiências intelectuais, assim como algumas doenças, como sarampo ou meningite pode estar na origem de uma deficiência mental, se não forem tomados todos os cuidados de saúde necessários. Causas sociais: Crianças que são extremamente privadas de carinho, afeição e estimulação também podem apresentar casos extremos de deficiência intelectual. Porém, estudos apontam que um terço ou mais de crianças não encontraram uma causa para sua deficiência. Recomendando que a mesma causa possa produzir efeitos diferentes, ou seja, cada caso é um caso restrito. A criança pode crescer e se desenvolver de maneira muito parecida com as demais crianças. Enquanto algumas, com o mesmo dano genético possuem uma deficiência intelectual abrangida. Muitas causas da deficiência intelectual podem ser evitadas com ações de prevenção em diversos campos (médico, social, comportamental e educacional). Quando os profissionais possuem conhecimento das causas, estes se tornam sujeitos importantes na prevenção, estimulação e orientação das pessoas com DI e suas famílias. 17 A identificação do fator etiológico da Deficiência Mental (DM) permite que se possa instituir a sua prevenção e controle. Entretanto, muitas vezes torna-se difícil o reconhecimento das causas, tornando-as fatores suspeitos ou hipóteses etiológicas, porém não comprovadas. Em alguns casos, muitos fatores poderão estar simultaneamente envolvidos, devendo-se, portanto, determinar quais os fatores primários e os secundários que ocasionaram a deficiência mental. Os fatores etiológicos da Deficiência Mental podem ser de origem genética, ambiental, multifatorial e de causa desconhecida. Embora esses fatores etiológicos sejam muito variáveis, podem ser, ainda, subdivididos em fatores pré-natais (de origem genética, ambiental e multifatorial), perinatais (ambiental) e pós-natais (ambiental). A ocorrência da Deficiência Mental de etiologia desconhecida apresenta uma prevalência de 28 a 30% dos casos. Os fatores que atuam no período pré- natal envolvem causas genéticas e ambientais, consistindo nos fatores 18 etiológicos mais importantes no surgimento da DM, com cifras ao redor de 50% dessa população. CAUSAS COMUNS DE DEFICIÊNCIA INTELECTUAL 19 SÍNDROME DE RETT A Síndrome de Rett foi identificada em 1966 por Andréas Rett, tendo ficado mais conhecida após o trabalho de Hagberg. É uma desordem do desenvolvimento neurológico, acometendo em sua maioria crianças do sexo feminino, aproximadamente 1 em cada 10.000 a 20.000, mas também atinge criança do sexo masculino meninas nascidas vivas (os meninos normalmente não resistem e morrem precocemente). Aparece em todos os grupos étnicos. A Síndrome de Rett compromete progressivamente as funções motora e intelectual, e provoca distúrbios de comportamento e dependência. No caso típico, a menina se desenvolve de forma aparentemente normal entre 8 a 18 meses de idade, depois começa a mudar seu padrão de desenvolvimento. Ocorre uma regressão dos ganhos psicomotores, a criança torna-se isolada e deixa de responder e brincar. O crescimento craniano, até então normal, demonstra clara tendência para o desenvolvimento mais lento, ocorrendo microcefalia adquirida. Aos poucos, deixa de manipular objetos, surgem movimentos estereotipados das mãos (contorções, aperto, bater de palmas, levar as mãos à boca, lavar as mãos e esfregá-las), culminando na perda das habilidades manuais e estagnação do desenvolvimento neuropsicomotor. 20 Do ponto de vista clínico, a Síndrome de Rett pode ser organizada em quatro etapas, de acordo com Mercadante (2007), conforme segue: ❖ Estagnação precoce: Dos 6 aos 18 meses, caracterizando-se pela estagnação do desenvolvimento, desaceleração do crescimento do perímetro cefálico e tendência ao isolamento social. ❖ Rapidamente destrutiva: Entre o primeiro e o terceiro ano de vida, com regressão psicomotora, choro imotivado, irritabilidade, perda da fala adquirida, comportamento autista e movimentos estereotipados das mãos. Podem ocorrer irregularidades respiratórias e epilepsia. ❖ Pseudoestacionária: Entre os dois e dez anos de idade, podendo haver certa melhora de alguns dos sintomas como, por exemplo, o contato social. Presença de ataxia, apraxia, espasticidade, escoliose e bruxismo. Episódios de perda de fôlego, aerofagia, expulsão forçada de ar e saliva. ❖ Deterioração motora tardia: Inicia-se em torno dos dez anos de idade, com desvio cognitivo grave e lenta progressão de prejuízos motores, podendo necessitar de cadeira de rodas. Mesmo com a identificação do gene, os mecanismos envolvidos na Síndrome de Rett ainda são desconhecidos. Reduções significativas no lobo frontal, no núcleo caudato e no mesencéfalo têm sido descritas, havendo também algumas evidências de desenvolvimento sináptico.AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA: BATERIAS E TESTES A avaliação neuropsicológica é recomendada em qualquer caso onde exista suspeita de uma dificuldade cognitiva ou comportamental de origem neurológica. Ela pode auxiliar no diagnóstico e tratamento de diversas 21 enfermidades neurológicas, problemas de desenvolvimento infantil, comprometimentos psiquiátricos, alterações de conduta, entre outros. A contribuição deste exame na criança é extensiva ao processo de ensino- aprendizagem, pois nos permite estabelecer algumas relações entre as funções corticais superiores, como a linguagem, a atenção e a memória, e a aprendizagem simbólica (conceitos, escrita, leitura, etc.). O modelo neuropsicológico das dificuldades da aprendizagem busca reunir uma amostra de funções mentais superiores envolvidas na aprendizagem simbólica, as quais estão, obviamente, correlacionadas com a organização funcional do cérebro. Sem essa condição, a aprendizagem não se processa normalmente, e, neste caso, podemos nos deparar com uma disfunção ou lesão cerebral. Ao fornecer subsídios para investigar a compreensão do funcionamento intelectual da criança, a neuropsicologia pode instrumentar diferentes profissionais, tais como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos, promovendo uma intervenção terapêutica mais eficiente. O conjunto dos instrumentos utilizados nos possibilita uma avaliação global das capacidades da criança, bem como das dificuldades encontradas por ela em seu desempenho dia a dia. Não se trata de rotular ou enquadrar a criança como integrante de grupos problemáticos, e sim de evitar que tais dificuldades possam impedir o desenvolvimento saudável da criança. Ainda quanto à avaliação em crianças, torna-se importante salientar algumas questões, entre elas o fato de o desenvolvimento cerebral ter características próprias a cada faixa etária. Portanto, dentro desse padrão de funcionamento cerebral, é importante a elaboração de provas de acordo com o processo maturacional do cérebro. Por exemplo, quando se fala de imaturidade na infância, esta não deve ser entendida unicamente como deficiência, devido às peculiaridades do desenvolvimento cerebral na infância. Diferentemente do adulto, o cérebro da criança está ainda em desenvolvimento, tendo características próprias que garantem uma diferenciação e especificidade de funções. Segundo Antunha (1987), as baterias de testes neuropsicológicos adaptados para crianças são em número bastante reduzido. Devem contemplar: 22 a organização e o desenvolvimento do sistema nervoso da criança; a variabilidade dos parâmetros de desenvolvimento entre crianças da mesma idade; a estreita ligação entre o desenvolvimento físico, neurológico e a emergência progressiva de funções corticais superiores. TESTES UTILIZADOS Estão relacionados a seguir alguns testes utilizados na avaliação neuropsicológica, descrevendo-se, de maneira sucinta, as potencialidades de cada teste ou bateria como instrumento de ajuda na investigação neuropsicológica. Inteligência Os testes de inteligência para crianças medem primariamente habilidades essenciais ao desempenho acadêmico. Entre eles, o de Stanford-Binet foi o primeiro nos Estados Unidos. Adaptado das escalas originais de BinetSimon, baseia-se maciçamente no desempenho verbal e cobre desde os 2 anos até a idade adulta (23 anos), fornecendo uma idade mental e um quociente de inteligência (QI). O padrão-ouro internacional para a quantificação das capacidades intelectuais são as escalas Wechsler de inteligência, subdivididas pela faixa de idade. Essas escalas consistem em uma série de perguntas e respostas padronizadas que medem o potencial do indivíduo em áreas intelectuais diferentes, como o nível de informação sobre assuntos gerais, a interação com o meio ambiente e a capacidade de solucionar problemas cotidianos. O teste WPPSI5 (do inglês Wechsler Preschool and Primary Scale of Intelligence - Escala de Inteligência Wechsler para Pré-Escolares e Primário) é uma versão para crianças menores das escalas Wechsler, permitindo avaliar a inteligência de crianças entre 4 e 6,5 anos. É constituída por seis subtestes verbais e cinco de natureza manipulativa. Normalmente, a aplicação de cinco subtestes de cada uma das subescalas (verbal e de execução) é suficiente para uma análise fidedigna. A escala também permite recolher algumas informações sobre a organização do comportamento da criança. 23 O WISC-III6 (Wechsler Intelligence Scale for ChildrenIII - Escala de Inteligência Wechsler para Crianças-III) é a escala mais usada para avaliar a inteligência de crianças cobrindo as idades de 6 anos a 16 anos, 11 meses e 30 dias. Fornece escores nas escalas verbal e de execução, bem como um QI de escala total. Inclui muitos tipos de tarefas, oportunizando a observação das dificuldades da criança e de suas habilidades. É importante salientar que crianças com dificuldades motoras em geral são penalizadas neste teste, que não deve ser usado quando tal deficiência estiver presente. O subteste Cubos do WISC-III (Figura 1) visa averiguar a capacidade de análise, síntese e planejamento de coordenadas vísuoespaciais e a praxia construtiva. Pede-se ao sujeito que reproduza, com cubos de faces coloridas, desenhos que lhe são mostrados. Para cada modelo é estipulado um prazo limite para execução. Embora o QI não seja uma medida para localizar disfunções cerebrais, o resultado de QI contribui para dar maiores informações sobre o nível geral de funcionamento do paciente e, assim, servir de referência para outras funções mais específicas, como memória, linguagem, etc. Tanto o Stanford-Binet como o WISC-III e o WIPPSI são administrados individualmente a cada sujeito. Quando o paciente não apresenta condições de expressar-se verbalmente, usam-se os testes Matrizes Progressivas de Raven e Escala de Maturidade Mental Colúmbia8, que avaliam a inteligência geral e estimam a capacidade de raciocínio geral de crianças de uma forma não-verbal. O objetivo do teste Matrizes Progressivas de Raven (Figura 2) é descobrir as relações que existem entre as figuras e imaginar qual das oito figuras apresentadas completaria o sistema. Tradicionalmente, a inteligência está relacionada com as habilidades acadêmicas, porém existem outros tipos de inteligência (como, por exemplo, a caracterizada pela capacidade de relacionar ideias complexas, formar conceitos abstratos, derivar implicações lógicas através de regras gerais) que, muitas vezes, não é possível mensurar através dos testes convencionais. A este respeito, prime salienta que, nas abordagens da inteligência, duas são 24 tratadas como fundamentais: a inteligência cristalizada (que prioriza o conhecimento) e a inteligência fluida (que prioriza o raciocínio). A primeira se refere à profundidade das informações adquiridas via escolarização e geralmente é usada na resolução de problemas semelhantes ao que se aprendeu no passado (como nos testes tradicionais de inteligência). A segunda se refere à capacidade de processamento cognitivo, ou seja, a capacidade geral de processar informações ou as operações mentais realizadas quando se resolvem problemas relativamente novos. Com o propósito de avaliar a inteligência de uma forma global, foi padronizada para a população brasileira a bateria de provas de raciocínio (BPR-5), a qual oferece estimativas do funcionamento cognitivo geral e das habilidades do indivíduo em cinco áreas específicas: raciocínio abstrato, verbal, espacial, numérico e mecânico. Este instrumento auxilia os examinadores a tomarem decisões sustentadas na avaliação das aptidões e raciocínio geral, tais como, por exemplo, na avaliação das dificuldades de aprendizagem. É organizado em duas formas: A) para estudantes da 6ª à 8ª sériedo ensino fundamental; B) para alunos da 1ª à 3ª série do ensino médio. 25 MEMÓRIA Para esta função, são utilizados instrumentos que avaliam a capacidade de aprendizado de funções de memória, como, por exemplo, o Teste de Aprendizado Auditivo Verbal de Rey (Rey Auditory Verbal Learning Test - RAVLT) e o Teste de Aprendizado Visual de Desenhos de Rey (Rey Visual Design Learning Test - RVDLT). Os testes que envolvem aprendizado, isto é, a repetida exposição ao material a ser recordado, são mais sensíveis para detectar prejuízos de memória do que testes apresentados somente uma vez. No teste de Aprendizado Auditivo Verbal de Rey (Figura 3), lê-se a lista de palavras para o examinando, pausadamente, cinco vezes consecutivas. Após cada uma das vezes em que 26 são apresentadas as 15 palavras, o sujeito deve fazer a evocação do material, sem precisar seguir a mesma ordem de apresentação. O WRAML (do inglês Wide Range Assessment of Memory and Learning Short Form) é um instrumento psicométrico destinado a avaliar a capacidade de aprender e memorizar ativamente vários tipos de informação em pacientes na faixa etária de 5 a 17 anos (memória visual, aprendizado verbal, memória para histórias). LINGUAGEM Um dos testes mais utilizados para a avaliação da linguagem é o Boston Naming Test, que utiliza figuras de objetos para avaliar a capacidade de reconhecimento e nomeação. É empregado em crianças com dificuldades de compreensão ou produção de palavras ou material verbal escrito. Pode ser usado a partir dos 6 anos de idade. Também são utilizados o Teste de Fluência verbal (FAS, do inglês Verbal Fluency), testes de compreensão, como o Teste de Token, compreensão de textos, escrita e leitura. A avaliação inclui, ainda, os seguintes tópicos: órgãos fonoarticulatórios, hábitos orais e desenvolvimento da linguagem. Algumas particularidades precisam ser respeitadas e levadas em conta quando se avalia uma criança com lesão cerebral. Cabe ao profissional ter clareza dos propósitos, conhecimentos, habilidade e adequação das técnicas e instrumentos de investigação a serem utilizados, como também ter conhecimento das possíveis alterações e limitações decorrentes da lesão cerebral, para que não sejam cometidos equívocos ao concluir-se a avaliação neuropsicológica. Em muitas das crianças com lesão cerebral, encontram-se alterados os canais formais de expressão e comunicação com o meio. Sendo assim, o profissional por vezes precisa criar estratégias a fim de que a criança possa se comunicar e, então, interagir e melhor entender o que se passa com ela. Devemos auxiliar a criança a nos mostrar seu potencial e a comunicar-se utilizando recursos que lhe possibilitem compreender o que está sendo 27 solicitado, a representar o que compreende e/ou quer realizar (através de gestos, mímicas, fala, expressão gráfica ou ação). ATENÇÃO É uma função que possibilita a pessoa a manter o foco e as informações no cérebro durante a realização de tarefas, ignorando demais distratores menos relevantes que possam interferir na finalização do trabalho. A atenção seletiva refere-se à capacidade de prestar atenção em alguns estímulos e concomitantemente ignorar outros. Atenção dividida refere-se à distribuição de recursos disponíveis na atenção para coordenar a performance de mais de uma atividade simultaneamente (Sternberg, 2008). A atenção é considerada uma base para que diferentes processos cognitivos possam funcionar de forma adequada. Os principais instrumentos para avaliar a atenção são: Subteste Dígitos Ordem Direta, Códigos, Aritmética do WISC-IV (Wechsler, 2013) e D2-Teste de Atenção Concentrada. Também pode ser utilizada Bateria Psicológica para Avaliação da Atenção (BPA), que tem como objetivo avaliar a capacidade geral de atenção, além avaliar de forma individualizada tipos de atenção específicos: atenção concentrada (AC); atenção dividida (AD) e atenção alternada (AA). FUNÇÕES EXECUTIVAS É um conjunto de habilidades cognitivas e processos críticos do comportamento e pensamento complexo. Tais funções complexas avaliam organização, planejamento e utilização de estratégias de resolução de problemas, que inclui o automonitoramento, analisar e modular o comportamento, de acordo com a demanda. As funções executivas abrangem adaptação a situações novas, que vão além do conhecimento adquirido, que desenvolvem novas formas e recursos de pensar, cumprindo uma função importante na capacidade de aprender novos conteúdos. 28 Os instrumentos mais utilizados para avaliação das funções executivas em crianças são: Compreensão de provérbios para abstração-raciocínio; Torre de Londres, que avalia planejamento; Controled Word test, que avalia a fluência verbal; Five-Point Test, para fluência de desenhos; Trail Making Test, que avalia a flexibilidade mental; Wisconsin Card Sorting Test (WCST) para avaliar a flexibilidade mental, formação de conceitos, solução de problemas, abstração- raciocínio; Tarefas Go-No go, que avaliam modulação-inibição de resposta; Stroop, que mede modulação inibição de resposta; Teste de Raven, que avalia abstração-raciocínio; California Verbal Learning Test-Children’s Version (CVLT- C), que mensura a aprendizagem verbal e memória. Além destes, na literatura são mencionadas as Escalas de Inteligência Wechsler, como Sequência de Números e Letras (SNL), Aritmética (AR), Semelhanças (SM) e Dígitos Ordem Inversa. LOBOS FRONTAIS Nos últimos anos, cresceu muito o interesse pelas funções do lobo frontal. É nessa parte do cérebro que se encontram as maiores diferenças entre os seres humanos e seus antepassados na evolução. Os lobos frontais constituem uma das maiores regiões do encéfalo, com funções ainda pouco conhecidas, embora nos últimos anos tenham se acumulado importantes conhecimentos sobre suas atividades. Agora se sabe que é no lobo frontal que se situam as habilidades humanas mais complexas, como o planejamento de ações sequenciais, a padronização de comportamentos sociais e motores, parte do comportamento automático emocional e da memória. Para a adequada avaliação das funções frontais (funções executivas), é necessário ter conhecimento das etapas evolutivas desta estrutura, isto é, do seu processo de maturação, o que é particularmente importante quando avaliamos uma criança. A avaliação do lobo frontal é, em geral, mais difícil de ser realizada, pois envolve funções mais complexas e pouco conhecidas. 29 Entre as diversas funções dos lobos frontais estão a plasticidade do pensamento, a capacidade de julgamento, a habilidade de produzir ideias diferentes, a organização da informação, a capacidade de dar respostas adequadas aos estímulos, de estabelecer e trocar estratégias e de planejar uma ação. Essas habilidades podem ser avaliadas através do teste de fluência verbal, fluência para desenhos, Wisconsin Card Sort Test (WCST), Trail Making Test e Stroop Test18, que avaliam a capacidade de manter a atenção concentrada e de não sofrer interferências de respostas não-exigidas no momento. No teste Trail, a tarefa do sujeito na parte A (Figura 4) é ligar, com o lápis, círculos consecutivamente numerados, distribuídos aleatoriamente em uma folha de papel; na parte B (Figura 5), existem, além dos números, também letras impressas na folha de resposta, e a sequência a ser ligada deve intercalar as duas séries, números e letras (1-A, 2-B, 3-C). A tarefa deve ser realizada o mais rapidamente possível. O WCST avalia a função executiva do lobo frontal. Mede a modulação de respostas impulsivas, a direção do comportamento, as habilidades em desenvolver e manter uma estratégia na solução de um problema, apesar das mudanças de contingência, a flexibilidade, o planejamento, a organização, a ineficiência de conceitualizaçãoinicial e a dificuldade em encontrar soluções para problemas cotidianos, bem como o nível de perseveração, que vem a ser o problema que muitas pessoas têm de ficar remoendo um mesmo assunto ou 30 repetindo um mesmo comportamento motor. Pode ser aplicado a partir dos 6 anos de idade. Diversos subtestes da Escala de Inteligência Wechsler (WISC III e WPPSI) também auxiliam na investigação de disfunções frontais, tais como analogias, compreensão, códigos, etc. Lobos parieto-occipitais. As funções relacionadas às habilidades vísuoespaciais, organização vísuo-espacial (percepção) e planejamento são avaliados pelo teste de cópia da Figura Complexa de Rey-Osterrieth, enquanto que habilidades percepto-vísuo- espaciais são avaliadas pelo teste de Hooper Visual Organization. As figuras de Rey (Figura 6) objetivam avaliar a atividade perceptiva e a memória, verificando o modo como o sujeito apreende os dados perceptivos que lhe são apresentados e o que foi conservado espontaneamente pela memória. A testagem é composta de duas etapas: a primeira é a cópia da figura, e a segunda é a recordação da mesma após 30 minutos. A avaliação também pode ser realizada através do subteste Cubos das escalas Wechsler. O Bayley II é um teste destinado à avaliação do desenvolvimento de crianças nas idades de 1 a 42 meses. O teste é dividido em três escalas: motora, mental e de comportamento, com quociente de desempenho para cada área. As três escalas são consideradas complementares, tendo cada uma sua importância na avaliação da criança. A escala mental avalia aspectos relacionados com o desenvolvimento cognitivo e com a capacidade de comunicação (capacidade de discriminar formas, atenção, habilidade motora 31 fina, compreensão de instruções, nomeação, resolução de problemas e habilidades sociais). A escala motora avalia o grau de coordenação corporal (aspectos como sentar, levantar, caminhar, subir e descer escadas) e motricidade fina das mãos e dedos. A escala comportamental permite avaliar aspectos qualitativos do comportamento da criança durante o teste, tais como atenção, compreensão de orientações, engajamento frente às tarefas, regulação emocional, entre outros. O material do teste é atraente e de fácil utilização. Também existe o Bayley Infant Neurodevelopment Screener BINS, que é uma versão simplificada, usada para triagem de desenvolvimento em crianças de 3 a 24 meses, assim como o Denver II. 32 REFERÊNCIAS ADAMS W, Sheslom D. Wraml Manual. Wilmington, De: Jastak Associates; 1990. ALMEIDA, M. A. (Org.). Deficiência Intelectual: Realidade E Ação. Secretaria Da Educação. Núcleo De Apoio Pedagógico Especializado – Cape. São Paulo: Se, 2012. P. 133-144. AMERICAN Psychiatric Association (Apa). Manual Diagnóstico E Estatístico De Transtornos Mentais: Dsm-5. Porto Alegre: Artmed, 2014, P. 33- 41. ANTUNHA El. Investigação Neuropsicológica Na Infância. Boletim De Psicologia Da Sociedade De Psicologia De São Paulo. 1987;37(87):80-102. ANTUNHA El. Investigação Neuropsicológica Na Infância. Boletim De Psicologia Da Sociedade De Psicologia De São Paulo. 1987;37(87):80-102. BAYLEY N. Bayley Scales of Infant Development. 2nd Ed. 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