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Professor(a) Esp. Ana Paula Taborda do Nascimento FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIA REITORIA Prof. Me. Gilmar de Oliveira DIREÇÃO ADMINISTRATIVA Prof. Me. Renato Valença DIREÇÃO DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Me. Daniel de Lima DIREÇÃO DE ENSINO EAD Profa. Dra. Giani Andrea Linde Colauto DIREÇÃO FINANCEIRA Eduardo Luiz Campano Santini DIREÇÃO FINANCEIRA EAD Guilherme Esquivel COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Profa. Ma. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Profa. Ma. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Me. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DE PLANEJAMENTO E PROCESSOS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA EAD Profa. Ma. Sônia Maria Crivelli Mataruco COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Caroline da Silva Marques Eduardo Alves de Oliveira Jéssica Eugênio Azevedo Marcelino Fernando Rodrigues Santos PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Bruna de Lima Ramos Hugo Batalhoti Morangueira Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira Carlos Henrique Moraes dos Anjos Kauê Berto Pedro Vinícius de Lima Machado Thassiane da Silva Jacinto FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP N244f Nascimento, Ana Paula Taborda do Fonoaudiologia preventiva e geriatria / Ana Paula Taborda do Nascimento. Paranavaí: EduFatecie, 2024. 73 p.: il. Color. 1. Fonoaudiologia. 2. Geriatria. 3. Idosos – Cuidado e tratamento. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23. ed. 616.855 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas do banco de imagens Shutterstock . 2023 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. https://www.shutterstock.com/pt/ 3 Professor(a) Esp. Ana Paula Taborda do Nascimento • Bacharel em Fonoaudiologia (Unicesumar); • Pós-graduação em Fonoaudiologia Hospitalar (ISEPE); • Pós-graduação em Terapia Cognitivo-Comportamental (FAMEESP); • Pós-graduação em Intervenção ABA aplicada ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) (FAMEESP); • Curso PROMPT: Introdução à Técnica (The PROMPT Institute); • Curso Multigestos Fala (MultiGestos Cursos); • Curso DTTC – Dynamic Temporal and Tactile Cueing (Borges e Caetano Cursos); • Especialista em desenvolvimento de fala e linguagem; • Fonoaudióloga Clínica. Trabalhou como Fonoaudióloga Home Care na área da fonoaudiologia Hospitalar entre 2019 a 2022. AUTOR 4 Olá, caro(a) aluno(a)! É com grande satisfação que damos as boas-vindas a você nesta jornada de aprendizado. Esta apostila foi cuidadosamente elaborada para guiá-lo(a) por um percurso enriquecedor de conhecimento e descobertas. Nossa missão é fornecer as ferramentas necessárias para que você não apenas absorva informações, mas também compreenda e aplique conceitos de maneira prática em seu cotidiano. Como está estruturada a nossa jornada? • Na unidade I, vamos conhecer sobre “Fonoaudiologia preventiva: área de co- nhecimento”, sendo uma breve contextualização do percurso da fonoaudiologia preventiva, conceito e atuação da ciência fonoaudiológica e preventiva. • Já na unidade II, você irá saber mais sobre “Conceitos e teorias de base da fonoaudiologia, envelhecimento e qualidade de vida”. • Na sequência, na unidade III falaremos a respeito da “Relação entre Fonoau- diologia, envelhecimento e qualidade de vida”. Identificação das alterações estruturais, orgânicas e funcionais da deglutição e comunicação bem como os processos neurológicos degenerativos e do envelhecimento. • Em nossa unidade IV, vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina com a “Avaliação e Reabilitação Fonoaudiológica dentro do contexto Gerontológico, prevenção da saúde e Reabilitação do idoso. Sem mais delongas, desejamos a você uma experiência de aprendizado estimulan- te e gratificante. Vamos começar esta jornada juntos! Bons estudos! APRESENTAÇÃO DO MATERIAL 5 UNIDADE 4 Prevenção da Saúde e Reabilitação do Idoso Avaliação e Reabilitação Fonoaudiológica Dentro do Contexto Gerontológico UNIDADE 3 Conceitos e Teorias de Base da Fonoaudiologia Preventiva e Geriatria UNIDADE 2 Fonoaudiologia Preventiva e Geriatria UNIDADE 1 SUMÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Fundamentos da Fonoaudiologia Preventiva; • Intervenção Preventiva e Promoção à saúde. Objetivos da Aprendizagem • Breve contextualização do percurso da fonoaudiologia preventiva; • Conceito, campo de atuação da ciência fonoaudiológica e preventiva; Professor(a) Esp. Ana Paula Taborda do Nascimento FONOAUDIOLOGIA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E PREVENTIVA E GERIATRIAGERIATRIA1UNIDADEUNIDADE INTRODUÇÃO 7FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 1 Oi, tudo bem? Seja bem-vindo (a) a nossa primeira unidade da disciplina de Fo- noaudiologia Preventiva e Geriatria. Acredito que, assim como eu, você deve estar com muitas expectativas para iniciar essa trilha de aprendizagem. Portanto, procure um lugar confortável e se acomode, porque vamos realizar uma introdução da Fonoaudiologia pre- ventiva e geriatria. A Fonoaudiologia Preventiva aborda a importância da prevenção em Fonoaudiolo- gia, destacando a necessidade de intervir e agir de forma antecipada para evitar ou reduzir alterações em indivíduos, grupos, comunidades ou ambientes. O texto destaca três níveis de prevenção fonoaudiológica: primária, secundária e terciária, cada uma com seu foco específico, desde a promoção da saúde até a reabilitação de problemas fonoaudiológicos. Além disso, o texto discute a evolução da Fonoaudiologiano contexto das ciências da saúde e como a promoção da saúde é um elemento essencial na prevenção de patolo- gias da comunicação. Destaca a importância de entender os fatores ambientais e pessoais que influenciam a saúde fonoaudiológica, como nutrição, moradia, trabalho, educação e acesso ao sistema de saúde. O objetivo central é promover uma imagem positiva de si mesmo como comunicador eficaz. A introdução também faz referência à relevância da promoção da saúde como um compromisso fundamental das ciências da saúde e destaca a necessidade de avançar na prevenção e promoção da saúde em Fonoaudiologia, reconhecendo a influência dos fatores ambientais e pessoais na saúde da comunicação. Portanto, o texto enfatiza a importância de uma abordagem interdisciplinar e flexível para alcançar o bem-estar da população. Está preparado?! Então vem comigo! Bons estudos! FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA1 TÓPICO 8FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 1 Intervir, prevenir, agir voluntariamente e de forma antecipada implica tomar medidas antes do tempo, antecipando ações para evitar ou reduzir alterações em indivíduos, grupos, comunidades ou ambientes. Isso pode ser aplicado tanto em uma perspectiva mais restrita quanto ampla. A figura 1 nos indica atos de prevenção. FIGURA 1- ATO DE PREVENÇÃO Fonte: PEXELS. Disponível em: https://www.pexels.com/ Prevenir envolve antecipar, chegar antes, evitar, prever e se preparar para possí- veis desafios. Não podemos ficar inertes em nossas rotinas preestabelecidas, ignorando as 9FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 1 transformações e inovações que ocorrem ao longo do tempo. É fundamental unir esforços preventivos para alcançar, no futuro, uma população mais saudável, progressista e feliz. Existem três níveis de prevenção a serem considerados: Prevenção Primária: Envolve a promoção da saúde e a proteção específica, visando evitar que problemas ocorram em primeiro lugar. Prevenção Secundária: Inclui o diagnóstico precoce, pronto atendimento e a limi- tação do agravamento de problemas já existentes. Prevenção Terciária: Concentra-se na redução e reabilitação de problemas fo- noaudiológicos, como a fonoterapia. O diagnóstico precoce é crucial, pois permite identificar problemas de comunicação com base em seus sintomas, o que abre caminho para intervenções precoces. A inter- venção pode incluir o uso de dispositivos, como óculos, próteses auditivas ou aparelhos ortodônticos, fonoterapia (reabilitação fonoaudiológica), orientação a pais, responsáveis, professores e outros cuidadores, bem como procedimentos adicionais necessários em casos específicos. Em relação aos estágios da vida, podemos considerar três fundamentais: Ser: Após a concepção, o embrião é uma nova vida em formação, pronta para se tornar um ser que existe. Representada na figura 2. FIGURA 2- SER Fonte: PEXELS. Disponível em: https://www.pexels.com/ Ter: O indivíduo nasce, cresce e, ao chegar à idade adulta, esforça-se para possuir, sustentar, alcançar e conquistar tanto bens pessoais quanto materiais. Representada na figura 3. https://www.pexels.com/ 10FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 1 FIGURA 3- TER Fonte: PIXABAY. Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/realizacao-conquista-celebrar- comemorar-267885/ Estar: Na velhice, é essencial alcançar o estágio de “estar”, onde o foco se volta para viver harmoniosamente, interagir com familiares e o ambiente, cultivando sentimentos, emoções e experiências de vida, transmitindo calor humano, amor, carinho e amizade para aqueles ao redor, deixando de lado a busca incessante por bens materiais. É um estágio em que a espiritualidade e as relações interpessoais se tornam mais significativas do que a acumulação de bens materiais. Representada na figura 4. “A vida é uma longa caminhada, na qual, além dos sonhos, dos prazeres, dos direitos, dos deveres, há muitas situações difíceis de serem vencidas, quer de saúde ou financeiras, quer emocionais ou sociais...Precisamos saber viver a vida, desenvolvendo o caráter, e personalidade; e que não tenhamos uma visão imediatista e parcial, pois tudo passa nesta vida, tudo é muito fugaz, nosso corpo é muito frágil” (CANONGIA, 2000). FIGURA 4- ESTAR Fonte: PIXABAY. Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/realizacao-conquista-celebrar-comemorar-267885/ https://www.pexels.com/pt-br/foto/realizacao-conquista-celebrar-comemorar-267885/ https://www.pexels.com/pt-br/foto/realizacao-conquista-celebrar-comemorar-267885/ https://www.pexels.com/pt-br/foto/realizacao-conquista-celebrar-comemorar-267885/ 11FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 1 Ao longo da história da humanidade, como observado por Rosen em 1994, os maiores desafios de saúde enfrentados pelas pessoas estavam ligados à natureza de suas comunidades. Isso incluiu o controle de doenças transmissíveis, melhorias no saneamento, fornecimento de água e comida limpas em quantidades adequadas, assistência médica e alívio da incapacidade e do desamparo. A ênfase dada a cada um desses problemas variou ao longo do tempo, e a interconexão entre eles deu origem à saúde pública da maneira que a conhecemos atualmente. A preocupação central da terapia fonoaudiológica é o paciente, como alguém existindo no mundo, que não pode apenas ser categorizado em quadro clíni- cos, mas que precisa ser compreendido para que possa, não por meio de téc- nicas preestabelecidas, mas na intersubjetividade, encontrar-se e, encontran- do-se, movimentar-se-no-mundo-com-os- outros de maneira mais própria, e poder falar o que reflete; é poder dizer o seu discurso. (CAPPELLETTI, 1985). Após as duas grandes guerras mundiais, vários países se uniram para criar a Or- ganização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de avaliar e discutir coletivamente seus desafios sociais, visando alcançar a paz mundial. Em 1948, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi estabelecida para facilitar um diálogo contínuo entre os países, com foco na promoção, recuperação e proteção da saúde. Nesse mesmo ano, a Declaração Univer- sal dos Direitos Humanos foi aprovada pela ONU e assinada por diversos países, incluindo o Brasil. Isso oficializou a saúde como parte dos Direitos Humanos, representando uma importante conquista simbólica, já que anteriormente a saúde estava sob responsabilidade dos governos ou instituições religiosas e de caridade. No entanto, apesar dos avanços nas discussões globais sobre estratégias de cui- dado, promoção e recuperação da saúde, a história das políticas de saúde no Brasil indica que as ações de saúde estavam quase exclusivamente focadas na intervenção terapêutica. Durante muitos anos, houve tentativas de criar estruturas administrativas e gerenciais para lidar com a disponibilidade de serviços de saúde para a população. A partir da década de 1980, sob a influência do paradigma social, surgiu um novo modelo médico-sanitário que via a saúde como um direito do cidadão e um processo di- nâmico envolvendo o indivíduo em suas dimensões biológicas, psicológicas e sociais. Isso levou à distinção entre os diferentes níveis de atenção à saúde. Atualmente, há um foco prioritário nos aspectos relacionados ao atendimento primário à saúde no planejamento das ações de saúde, incluindo intervenções terapêuti- cas direcionadas a necessidades específicas de saúde, promoção da qualidade de vida e prevenção de riscos à saúde. Isso representa uma mudança significativa na discussão de saúde no Brasil, com um forte enfoque na prevenção e promoção da saúde pública. 12FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 1 Conforme Foucault (1993) observou, esses conceitos têm especificidades relacio- nadas aos diferentes momentos históricos de reformas na saúde, em diferentes formações socioeconômicas. Aqui estão algumas definições-chave: Saúde Pública: Refere-se às ações políticas ou governamentais, como programas, serviços e instituições,voltadas para atender às necessidades sociais de saúde. Esse ter- mo abrange diversas conotações, incluindo o setor governamental e serviços direcionados para a dimensão coletiva, grupos específicos ou problemas de saúde comuns. Saúde Coletiva: Considera a diversidade e especificidade dos grupos populacio- nais e indivíduos, reconhecendo suas maneiras únicas de adoecer e representar o processo de adoecimento. Essa abordagem está relacionada à medicina social e ao movimento pre- ventivista, que se afastam das instituições governamentais, tradicionalmente responsáveis pela saúde pública. Medicina Social/Preventiva/Comunitária: Essas áreas acadêmicas se concen- tram em entender o adoecimento para além de sua dimensão biológica, abordando os determinantes sociais, políticos, econômicos e ideológicos da saúde. Essas perspectivas têm um grande impacto na intervenção coletiva em saúde, buscando a promoção do bem-estar da população por meio de ações e medidas que pre- vinam, reduzam ou minimizem os problemas de saúde, garantindo as condições para a manutenção da vida humana. O compromisso essencial da ciência está em melhorar a qualidade de vida das pessoas e de seu ambiente. Esse compromisso é particularmente relevante nas ciências da saúde, onde a prevenção desempenha um papel fundamental. Ao direcionar esforços para quantificar e qualificar medidas e serviços preventivos, podemos reduzir a exposição das pessoas a doenças e fortalecer sua capacidade de resistir a elas. O objetivo central é eliminar ou, pelo menos, reduzir tanto em quantidade quanto em qualidade a ocorrência de doenças, um objetivo valorizado por muitos pesquisadores nesse campo. A fonoaudiologia, como uma disciplina das ciências da saúde, compartilha desse ob- jetivo. No entanto, essa busca tem sido influenciada por ideologias e valores de outras áreas do conhecimento, como Medicina, Psicologia e Odontologia, e ainda não alcançou completa autonomia. O caminho para alcançar a promoção da saúde e prevenir ou interromper o desen- volvimento de patologias da comunicação começa com a disponibilidade de dados científicos qualitativos e quantitativos nacionais e regionais sobre a história natural dessas doenças. Uma mudança de perspectiva é necessária para reconhecer a importância da comunicação humana não apenas como algo útil, mas como um elemento funcional crítico e determinante para o bem-estar geral, desenvolvimento pessoal e a sociedade como um todo. Essa transformação envolve a expansão do escopo da fonoaudiologia, que não deve 13FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 1 se limitar a aconselhamentos, diagnósticos e tratamentos, mas sim envolver a produção e aplicação de novos conhecimentos para aprimorar as especialidades e valorizar o papel do fonoaudiólogo generalista. No entanto, muitos fonoaudiólogos não recebem formação adequada em prevenção. Os currículos de graduação muitas vezes não valorizam adequadamente as ações preven- tivas, resultando em ementas desatualizadas e inflexíveis que dificultam a integração entre teoria e prática. Teoria e prática devem ser indissociáveis em uma abordagem dialética. A fonoaudiologia foi construída com base em construtos teóricos de outras discipli- nas, especialmente a medicina preventiva, o que limitou seu desenvolvimento autônomo. Para avançar, a fonoaudiologia precisa abraçar a promoção da saúde como um componente essencial da prevenção, independentemente da área científica que a estude. Isso envolve ações políticas, econômicas, culturais e ecológicas que promovem o desenvolvimento econômico e a justiça social, eliminando a pobreza, a fome e a miséria. É comum que profissionais de saúde se sintam incapazes de atuar nesse nível, uma vez que mudar as condições sociais, econômicas, culturais e ecológicas desfavoráveis pode parecer além de seu alcance. No entanto, é fundamental que reconheçamos que essa é uma parte crucial da promoção da saúde, e não devemos nos limitar ao papel de modificadores das condições individuais inadequadas. A promoção da saúde é um processo dinâmico que envolve melhorar a qualidade de vida para todos os cidadãos. Quanto aos níveis de prevenção fonoaudiológica, há uma interação constante e dinâmica entre as fases e níveis preventivos, bem como entre as ações preventivas fonoaudiológicas e a promoção da saúde em geral. Isso exige uma abor- dagem flexível e interdisciplinar para alcançar o bem-estar da população. Figura 5) FIGURA 5 - PROMOÇÃO DA SAÚDE GERAL Fonte: Andrade 1996. PROMOÇÃO DA SAÚDE FONOAUDIOLÓGICA2 TÓPICO 14FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 1 Um programa de promoção da saúde fonoaudiológica pode ser dividido de ma- neira didática em duas áreas: atenção aos fatores ambientais, como a realidade social, econômica, cultural, política e ecológica, e atenção aos fatores pessoais, que englobam características físicas, psicológicas, espirituais e sociais próximas. Muitas vezes, os fonoaudiólogos não estão plenamente conscientes da influência dos fatores ambientais sobre os problemas de comunicação. Por exemplo, o controle da poluição do ar pode prevenir distúrbios vocais relacionados a condições das vias superiores. Da mesma forma, a regulação de substâncias como radiações e asbestos pode ajudar a prevenir distúrbios de linguagem causados por exposição a agentes tóxicos. Além disso, o controle do ruído ambiental desempenha um papel fundamental na prevenção de problemas auditivos que afetam significativamente a população. Essa influência pode ser observada em várias áreas da vida, afetando a saúde fonoaudiológica de diferentes maneiras. Alguns exemplos incluem: Aspectos Nutricionais: Isso se relaciona a problemas de saúde decorrentes de má nutrição, baixo peso, e deficiências cognitivas relacionadas à alimentação inadequada. Moradia: As condições de habitação podem favorecer infecções e acidentes que afetam a saúde da comunicação. Transporte: O tempo gasto em deslocamentos pode prejudicar o envolvimento da família na vida de pessoas com distúrbios de comunicação. Trabalho: Ambientes de trabalho insalubres podem impactar a voz e a audição, afetando a saúde fonoaudiológica. 15FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 1 Lazer: Fatores como o estresse e a falta de oportunidades para atividades físicas e convívio familiar podem influenciar a saúde da comunicação. Segurança: A garantia de direitos e uma remuneração justa, especialmente para aposentados, é essencial para manter um bom padrão de vida e, por consequência, a saúde fonoaudiológica. Educação: A educação desempenha um papel fundamental na promoção da saú- de, na ascensão social e na prevenção de problemas de comunicação. Acesso ao Sistema de Saúde: Um sistema de saúde eficiente, baseado em evi- dências científicas sólidas, é crucial para a promoção da saúde fonoaudiológica, garantindo atendimento de qualidade. Todos esses fatores têm um impacto direto na qualidade de vida e, por sua vez, influenciam a saúde geral, incluindo a saúde da fala e da audição. É importante destacar que muitas atividades que podem não ser consideradas pro- motoras de saúde geral em outras áreas da medicina desempenham um papel fundamental na promoção da saúde fonoaudiológica. A saúde da fala e da audição está intimamente ligada a diversos fatores, incluindo: • Aconselhamento genético; • Imunizações; • Exames clínicos abrangentes e específicos, que incluem avaliações otorrinola- ringológicas, neurológicas e musculoesqueléticas adequadas; • Condições orais gerais, como cáries, inflamações nas gengivas e problemas dentários; • Saúde mental, abrangendo equilíbrio emocional, desenvolvimento da persona- lidade e bem-estar psicológico. Em relação aos aspectos pessoais, a comunicação desempenha um papel crucial na vida das pessoas. A capacidade de se expressar e se comunicar eficazmente é funda- mental para o ajuste pessoal, o sucesso na educação ena carreira. A promoção da saúde fonoaudiológica pessoal envolve uma série de atividades, como: • cuidados pré-natais adequados; • uma dieta saudável, resistência a doenças físicas e mentais; • apoio familiar sólido, um ambiente que estimule a livre expressão; • além de amor e atenção às necessidades emocionais e específicas de cada indivíduo. 16FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 1 Todas essas condições são essenciais para que as pessoas desenvolvam e mante- nham uma imagem positiva de si mesmas como comunicadores eficazes. (Figura 6). Figura 6 – Promoção da saúde fonoaudiológica. Fonte: Andrade 1996. 17FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 1 Creio que muitos problemas podem ser prevenidos, evitando-se determinados distúrbios cardíacos, res- piratórios, neurológicos, psiquiátricos, ortopédicos etc. que, por conseguinte, irão incapacitar o idoso, tornando-o dependente e muitas vezes incapaz de andar, falar, escrever, pensar, enfim, de comunicar-se. Quando se encontra nessa circunstância, ele precisa de atendimento especializado de uma equipe inter e multidisciplinar e de cuidados dos familiares, muitas vezes, para poder locomover-se e para efetuar as mais simples atividades da vida diária. É penoso observar um desses quadros, em que, geralmente, há alterações associadas e em que o problema envolve não só o paciente, mas os familiares e o contexto social. Fonte: (CONONGIA, 2000, p. 47) Devemos desenvolver bem o nosso espírito para que possamos ter uma sólida estrutura física e mental ante as adversidades que surgem. É preciso que gostemos de nós mesmos, que cuidemos do corpo, proporcionando alimentação saudável, higiene corporal e exercícios físicos regulares, de modo que este receba os nutrientes necessários a sua conservação. Fonte: (CONONGIA, 2000, p. 54) 18FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 1 Chegamos ao final da nossa primeira unidade! Espero que você tenha aproveitado ao máximo os conhecimentos apresentados aqui. Você sabe que os estudos sobre esses assuntos não acabam aqui, né?! Agora é o momento de procurar por mais informações, continuar suas pesquisas em sites, revistas, artigos científicos, livros e vídeos, a fim de enriquecer ainda mais seu repertório sobre o assunto! Sabendo que você vai continuar seus estudos depois de finalizar a leitura da nossa unidade, precisamos fechar nossas discussões, tendo a compreensão da prevenção da saúde fonoaudiológica é um campo crucial que visa não apenas tratar problemas de co- municação, mas também prevenir esses problemas, melhorando a qualidade de vida das pessoas. Este texto destaca a importância da prevenção em fonoaudiologia, destacando três níveis de prevenção: primária, secundária e terciária. Além disso, enfatiza a necessi- dade de uma abordagem interdisciplinar e uma mudança de perspectiva na profissão para abraçar a promoção da saúde como um componente essencial da prevenção. A promoção da saúde fonoaudiológica não se limita apenas ao diagnóstico e trata- mento, mas também aborda fatores ambientais e pessoais que influenciam a saúde da co- municação. Isso inclui aspectos nutricionais, moradia, trabalho, lazer, segurança, educação e acesso ao sistema de saúde. A saúde da fala e da audição está intrinsecamente ligada a esses fatores, e melhorar a qualidade de vida nesses aspectos contribui para a promoção da saúde fonoaudiológica. Em resumo, a promoção da saúde fonoaudiológica é uma abordagem abrangente que busca não apenas tratar problemas de comunicação, mas também os prevenir, me- lhorando a qualidade de vida das pessoas. Isso requer uma mudança de perspectiva na profissão e uma abordagem interdisciplinar para abordar fatores ambientais e pessoais que influenciam a saúde da comunicação. É fundamental reconhecer que a fonoaudiologia de- sempenha um papel importante na promoção da saúde geral e no bem-estar das pessoas. Até mais!! CONSIDERAÇÕES FINAIS 19FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 1 Artigo: Comunicação humana e saúde da criança: reflexão sobre promoção da saúde na infância e prevenção de distúrbios Resenha: O texto em questão aborda a atuação fonoaudiológica na promoção e manutenção da saúde da criança, bem como a identificação precoce de distúrbios de linguagem, voz, fala e audição na infância. O estudo foi conduzido de forma transversal com 65 crianças matriculadas no ensino fundamental em escolas públicas, que não tinham histórico de avaliação ou tratamento fonoaudiológico, mas foram indicadas pelo núcleo de orientação pedagógica da escola devido a suspeitas de distúrbios fonoaudiológicos. Fonte: GOULART, B. Human communication and children health promotion – reflect on the actions of health promotion in childhood and prevention of communication disorders, p. 691-695, 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rcefac/a/Tnwg9yvBQBt- ghH4GR3krSPS/?format=pdf&lang=en. Acesso em 05 nov.2023. LEITURA COMPLEMENTAR https://www.scielo.br/j/rcefac/a/Tnwg9yvBQBtghH4GR3krSPS/?format=pdf&lang=en https://www.scielo.br/j/rcefac/a/Tnwg9yvBQBtghH4GR3krSPS/?format=pdf&lang=en MATERIAL COMPLEMENTAR 20FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 1 FILME/VÍDEO • Título: Fonoaudiologia preventiva AVC • Ano: 2012 • Sinopse: O vídeo nos traz algumas informações referente a prevenção do AVC, o que pode causar e sinais. LIVRO • Título: Fonoaudiologia Preventiva • Autor(a): Claudia Regina Furquim de Andrade • Editora: Lovise • Sinopse: Fonoaudiologia preventiva é uma subárea da fonoaudio- logia que se concentra na prevenção de distúrbios da comunicação e da deglutição. Ela envolve a identificação de fatores de risco e a implementação de estratégias para evitar ou reduzir a ocorrência de problemas de comunicação, voz, linguagem e deglutição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Introdução à Fonoaudiologia Preventiva e Geriatria; • Geriatria • Abordagens preventivas na comunicação. Objetivos da Aprendizagem • Compreensão dos Fundamentos da Fonoaudiologia preventiva; • Conhecimento dos aspectos específicos da geriatria. Professor(a) Esp. Ana Paula Taborda do Nascimento CONCEITOS E CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E PREVENTIVA E GERIATRIAGERIATRIA UNIDADEUNIDADE2 INTRODUÇÃO 22CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 Oi, tudo bem? Seja bem-vindo (a) a nossa segunda unidade da disciplina. Fo- noaudiologia Preventiva e Geriatria. Acredito que, assim como eu, você deve estar com muitas expectativas para iniciar essa trilha de aprendizagem. Portanto, procure um lugar confortável e se acomode, porque vamos realizar um estudo sobre conceitos e teorias de base da fonoaudiologia preventiva e geriatria. A Fonoaudiologia Preventiva e a Geriatria são áreas interdisciplinares que de- sempenham papéis cruciais na promoção da saúde e na melhoria da qualidade de vida, especialmente para a população idosa. Enquanto a Fonoaudiologia Preventiva se concen- tra na prevenção de distúrbios da comunicação e deglutição, a Geriatria visa cuidar das necessidades específicasdos idosos. Está preparado?! Então vem comigo! Bons estudos! 23CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 INTRODUÇÃO À FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIA1 TÓPICO Na busca pelo conhecimento, o primeiro passo é identificar e nomear as realidades que nos cercam. Essa atribuição de nomes utiliza palavras como elementos essenciais da linguagem para refletir a realidade sociolinguística e cultural de uma sociedade. As palavras, nesse contexto, são produtos e expressões de uma ideologia, representando uma visão de mundo e um conjunto de valores de diferentes culturas. Atualmente, a ciência e a tecnologia desempenham um papel fundamental na criação de novas palavras e, por conseguinte, na introdução de conceitos subjacentes. O surgimento de uma nova palavra indica evolução, conectando as mudanças no mundo exterior às transformações nos hábitos e comportamentos dos grupos sociais. A cultura, ao incorporar um novo vocabulário, sinaliza sua própria evolução. Inicial- mente, compreender uma nova palavra é um processo delicado, sujeito a instabilidades e conflitos conceituais. No entanto, à medida que o conceito é assimilado e compreendido pelo uso repetido, a palavra passa a agregar informações, tornando-se um elemento trans- formador da sociedade. No contexto da fonoaudiologia, uma ciência em construção, o foco vai além do desenvolvimento tecnológico. Busca-se também expandir o conteúdo formal, mantendo uma consciência da responsabilidade social e política. A fonoaudiologia visa conhecer o ser humano e melhorar suas condições de vida. No percurso desse desenvolvimento, destaca-se a importância de estabelecer um discurso próprio, capaz de interagir com outras áreas do conhecimento. É essencial possuir 24CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 um discurso que facilite a comunicação entre os profissionais e entre estes e a comunidade, permitindo a ampliação e aprofundamento do conhecimento em seu campo de estudo. O conhecimento fonoaudiológico estrutura-se pela articulação dos discursos científicos e tecnológicos, complementando-se mutuamente. A relação entre ambos é de articulação, onde o conhecimento científico alimenta o tecnológico, e este valida o saber científico, estabelecendo uma dinâmica mantida por uma tensão dialética que assegura o desenvolvimento harmonioso e produtivo de ambos. Uma maneira de compreender a visão de mundo de uma comunidade é através da pesquisa sobre o significado dos conceitos importantes para esse grupo. Esse conhe- cimento possibilita uma comunicação mais precisa, objetiva e operacional entre os profis- sionais, sendo crucial para a sistematização dos conhecimentos e o subsequente avanço das ciências. É importante construir uma visão mais precisa da realidade, onde os profissionais não permaneçam isolados numa terminologia fechada, de domínio de poucos iniciados, esquecendo-se que a efetividade máxima da comunicação se dá quando é atingido um ponto comum de compreensão entre os interlocutores. No caso dos fonoaudiólogos, de forma ampla, a questão terminológica tem sido pouco explorada. Para a autora, essa terminologia obscura tem levado a dificuldades tento para identificação quanto para procedimentos na atividade profissional, já que frequen- temente o profissional tem acesso a seu cliente por meio de informações recebidas de parentes, professores, médicos, psicólogos e etc., podendo ser difícil o consenso sobre a problemática do indivíduo (LAHEY, 1990). O não-estabelecimento de uma terminologia adequada tem dificultado a possibili- dade de uma visão mais integrativa e holística dos conceitos fonoaudiológicos. Entretanto, para qualquer encaminhamento nesta direção, há necessidade de um estudo da própria comunicação técnico-científico corrente entre os fonoaudiólogos, requerendo pesquisas linguísticas, psicolinguísticas e sociolinguísticas de seus discursos peculiares. Um ponto de partida básico é o estudo do significado de campos determinados por um léxico específico e de sua intersecção com outras áreas do conhecimento. No caso da fonoaudiologia, a área da prevenção, só recentemente tem sido incluída como campo de estudo. O fazer fonoaudiológico, ainda tem sido caracterizado como pre- dominantemente técnico, sendo que os poucos e limitados programas desenvolvidos junto a população são parciais, não-sequenciais, atemporais e frequentemente caracterizados como treinamentos. Frente ao sistema de saúde nacional, tais esforços são vistos como de relativa importância, mas não críticos ou essenciais. 25CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 Mesmo o paciente fonoaudiológico vê seu terapeuta como um especialista fracas- sado, que trata de problemas específicos, com uma visão predominantemente técnica, utilizando instrumentos e procedimentos primários e artesanais. Para eles, suas patologias são vistas como dificuldades que podem trazer implicações para a personalidade, trabalho, relacionamento pessoal e integração à sociedade. As próprias patologias são definidas como automatismos, falhas de recurso natural e vícios, que podem ser corrigidos com exercícios ou técnicas específicas. Sobre o fazer profissional alguns fonoaudiólogos situam-se como técnicos, outros como se a fonoaudiologia fosse uma arte, outros com especialistas de uma área da saúde e alguns como educadores. O discurso oficial é de um profissional que desenvolve atividades técnico-paramédicas. Essa realidade remete a uma urgência no repensar da identidade profissional, o que reverteria em melhores níveis de assistência a população, de qualidade do ensino para a formação do fonoaudiólogo e de expansão do conhecimento dos modelos teóricos e práticos, incentivado pelo aprimoramento através da pós-graduação e de desenvolvimento de pesquisas identificadas com as nossas necessidades. É crucial desenvolver uma compreensão mais precisa da realidade, evitando que os profissionais se isolem em uma terminologia restrita, compreendida apenas por alguns iniciados. A eficácia da comunicação, de acordo com a autora, atinge seu ponto máximo quando há um entendimento comum entre os interlocutores. No contexto da fonoaudiologia, a questão terminológica tem sido pouco explorada de maneira abrangente. A autora destaca que a obscuridade dessa terminologia contribui para dificuldades na identificação e nos procedimentos profissionais. Muitas vezes, os fo- noaudiólogos obtêm informações sobre seus clientes por meio de familiares, professores, médicos, psicólogos, etc., o que pode dificultar o consenso sobre as questões enfrentadas pelos indivíduos (LAHEY, 1990). A ausência de uma terminologia adequada tem impedido uma visão mais integrativa e holística dos conceitos fonoaudiológicos. Contudo, para avançar nessa direção, é neces- sário estudar a comunicação técnico-científica atual entre os fonoaudiólogos, envolvendo pesquisas linguísticas, psicolinguísticas e sociolinguísticas em relação aos seus discursos específicos. Um ponto de partida essencial é o estudo do significado de termos específicos e sua interseção com outras áreas do conhecimento. No campo da fonoaudiologia, a área da prevenção foi incluída como objeto de estu- do apenas recentemente. A prática fonoaudiológica ainda é predominantemente percebida como técnica, com programas limitados e parciais desenvolvidos para a população. Esses 26CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 programas são frequentemente descritos como não-sequenciais, atemporais e caracteriza- dos mais como treinamentos do que intervenções estruturadas. Mesmo os pacientes fonoaudiológicos veem seus terapeutas como especialistas que abordam problemas específicos com uma visão predominantemente técnica, utilizando instrumentos e procedimentos básicos e artesanais. Suas condiçõessão muitas vezes vistas como desafios que podem impactar a personalidade, trabalho, relacionamentos pessoais e integração à sociedade. As patologias são concebidas como automatismos, falhas naturais e vícios, que podem ser corrigidos com exercícios ou técnicas específicas. Alguns fonoaudiólogos se veem como técnicos, outros como artistas, outros como especialistas em saúde e alguns como educadores. O discurso oficial destaca um profissional que realiza atividades técni- cas-paramédicas. Essa realidade destaca a urgência de repensar a identidade profissional, o que resultaria em melhores níveis de assistência à população, qualidade no ensino da formação do fonoaudiólogo e expansão do conhecimento de modelos teóricos e práticos. Isso poderia ser incentivado por meio do aprimoramento da pós-graduação e do desenvolvimento de pesquisas alinhadas com as necessidades da área. O caminho para a implementação de modelos preventivos em fonoaudiologia co- meça com a compreensão do conceito de prevenção de forma geral, suas características e principais atributos, independentemente da área específica de saúde, como medicina, odontologia, fonoaudiologia, etc. A “filosofia preventiva” como um valor ético-moral pode ser rastreada até papiros egípcios, com referências à sua validade e algumas ações menciona- das nos escritos de Hipócrates e Galeno, bem como nos estudos de Paracelso. Até o final do século XIX, pouco progresso foi feito em termos de conhecimento e aplicação de medidas específicas. Com a Revolução Industrial, que resultou no êxodo rural e na superpopulação dos centros urbanos, as condições de vida e saúde das comunidades tornaram-se sérios problemas sociais devido à falta de infraestrutura básica, água, sanea- mento e habitação adequados. Esses problemas, de natureza ampla e fora do âmbito indivi- dual, levaram à intervenção do Estado nos problemas de saúde das comunidades humanas. A partir desse ponto, começou a ser reconhecida a inter-relação entre problemas médicos e estrutura social, embora de forma inicial e restrita, com foco no controle de doenças transmissíveis. Com as profundas mudanças sociais após a Segunda Guerra Mundial, tornou-se mais evidente a necessidade de disponibilizar avanços científicos e tecnológicos, especialmente na medicina e na saúde pública, para a população, através de ações preventivas e curativas. 27CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 Nessa realidade, surgiu a necessidade de uma formação profissional que visse o paciente inserido em seu contexto social, compreendendo que o processo patológico depende da compreensão da fisiologia integral do organismo, associada às características de personalidade e ambiente. Essa abordagem integral permitiu a aplicação de medidas de promoção de saúde, proteção contra doenças, práticas de diagnóstico precoce e pronto atendimento, com o objetivo de evitar sequelas incapacitantes e buscar a maior recupera- ção funcional possível. A prevenção, como disciplina curricular, teve origem na escola médica americana e rapidamente se disseminou para outros países, buscando, entre outras coisas, superar a frag- mentação do conhecimento médico, acentuada pela especialização e tecnologia complexa. As funções do ensino da prevenção envolvem menos aspectos técnicos e mais fun- damentos essenciais para analisar e compreender a realidade. Este ensino deve abranger condutas de quatro tipos: DIAGNÓSTICAS Utilizam técnicas e métodos para identificar desvios, suas causas, natureza e intensidade TERAPÊUTICAS Envolvem intervenção no processo saúde/doença para recuperar, in-terromper ou atenuar os desvios PREVENTIVAS Utilizam técnicas para interferir nas ocorrências que podem levar a desvios, evitando sua evolução REABILITATIVAS Consistem em ações para reintegrar indivíduos após desvios, incluin- do readaptação de danos residuais funcionais ou estruturais, com o objetivo de restabelecer o máximo de saúde possível Fonte: Adaptado de SILVA (1973). A alteração na perspectiva dos profissionais da saúde, incluindo médicos e outros influenciados por essa mudança, trouxe significativos avanços para a saúde e a expectativa de vida ao longo deste século. Graças às medidas de saúde pública, como melhorias na qualidade e tratamento da água, alimentos, padrão de vida, nutrição, moradia e higiene, diversas doenças que costumavam ser fatais no início do século, como tuberculose, tifo, difteria, entre outras, praticamente desapareceram. Como resultado dessas melhorias, as pessoas estão menos expostas a essas doenças, e atualmente, as principais causas de morte estão relacionadas a doenças crôni- co-degenerativas que afetam a meia-idade e a velhice, sendo evidente que essas também são passíveis de prevenção ou adiamento por muitos anos. No entanto, Wang (1992) destaca uma ressalva importante: enquanto os efeitos benéficos da prevenção são amplamente reconhecidos, seus riscos e custos ainda não foram devidamente explorados. Há a necessidade de aprofundar pesquisas sobre a rela- 28CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 ção custo/benefício e determinar os tipos de recursos a serem alocados para aumentar a efetividade dos programas. Além disso, a autora aponta para o potencial de produção de estigmas sociais pela prevenção, um aspecto que, segundo ela, tem sido negligenciado na literatura sobre a sociologia da promoção da saúde. Campanhas de prevenção, especialmente aquelas rela- cionadas a injúrias e outras questões gerais, podem contribuir para a criação de estigmas em pessoas que já possuem características rotuladas como “previsíveis” (WANG, 1992). Nessa perspectiva, Eakin e Lean (1992) também ressaltam a importância de cuidados específicos ao abordar a prevenção de doenças e a promoção da saúde. Eles observam que os pesquisadores na área de promoção da saúde tendem a recorrer predo- minantemente a métodos qualitativos para avaliar modelos de vida e como esses padrões, se modificados, podem prevenir e reverter expectativas. A conclusão destaca a complexidade da relação multidisciplinar inerente às ações de promoção da saúde, ressaltando a falta de compreensão sobre como diferentes discipli- nas podem ser efetivamente combinadas ou integradas (EAKIN; LEAN, 1992). O desenvolvimento efetivo da prevenção depende de uma formação profissional cuidadosa e adequada, embora a implementação dessa proposta enfrente desafios, como indicam os programas de educação em saúde nos EUA, que mostram mudanças lentas na visão dos profissionais da área (LITTLE; FINCHAM, 1992). Apesar do reconhecimento de que essas mudanças são gradualmente implemen- tadas, alguns tópicos têm sido fundamentais nesse percurso. A noção de responsabilidade pessoal, a consciência da responsabilidade individual e a necessidade de modificar com- portamentos para a manutenção da boa saúde são considerados aspectos cruciais. Outro ponto importante é a correlação entre baixa saúde e baixo status socioeconô- mico, que tem sido amplamente referenciada e documentada, levando a ações que buscam modificar essa realidade (HEALTHY, 1990). No ano 2000, foi estabelecida uma plataforma que utilizou dados estatísticos para servir como base na formulação de objetivos e diretrizes para modelos práticos de ações prioritárias. Essas ações foram organizadas em três categorias fundamentais: promoção da saúde, proteção à saúde e serviços preventivos. Tal abordagem delineia as condições específicas de risco, as condições de doenças e a promoção da saúde para todas as pessoas, considerando diversas variáveis grupais, como idade, gênero, relacionamentos familiares, identidades étnicas e raciais, nível de renda, educação e ocupação. A estruturação desse campo fonoaudiológico possibilita uma mudança abrangente, superando a barreira em que o profissional deixa de se perceber apenas como reabilita- dor, entendido como elementopassivo, incapaz de modificar, para se tornar um agente 29CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 transformador competente na prevenção, habilitação, aprimoramento e reabilitação da comunicação humana e de suas desordens. Essa redefinição na área da fonoaudiologia contribuirá de maneira significativa para o contínuo processo de investigação da realidade, com o objetivo constante de melhorar a qualidade de vida e saúde tanto do indivíduo quanto da sociedade (CAPPELLETTI, 1985). 1.1 Ação programática em fonoaudiologia preventiva O desenvolvimento de modelos organizacionais para o trabalho fonoaudiológico é sele- cionado com base em um diagnóstico populacional, o qual orientará a elaboração e implemen- tação de programas específicos de saúde fonoaudiológica. Para efetivar essas ações, é crucial contar com um sistema de referência e contrarreferência para os serviços de fonoaudiologia. Isso envolve a estruturação da prática fonoaudiológica em ações integradas e articuladas, seguindo um modelo assistencial programático. Esses modelos específicos e parciais são parte integrante de modelos mais amplos nos quais se inserem, colaborando de maneira cooperativa com outros serviços da instituição e com as demandas do território ao qual se referem. 1.2 Assistência à saúde em fonoaudiologia preventiva Assistência à saúde fonoaudiológica refere-se ao conjunto de intervenções rea- lizadas pelo fonoaudiólogo com o propósito de preservar a qualidade da comunicação humana. Essas ações abrangem a promoção e proteção da saúde fonoaudiológica, bem como a recuperação e reabilitação de indivíduos afetados por diversas patologias, incluindo medidas preventivas. 1.3 Campo de atuação em fonoaudiologia A área é encarregada da prevenção, diagnóstico e tratamento de questões rela- cionadas à fala, linguagem, audição e deglutição. Além disso, realiza estudos científicos, avaliações e diagnósticos da competência e desempenho dos indivíduos nessas áreas, considerando fatores educacionais, biológicos, sociais e psicológicos. O profissional planeja, supervisiona e executa programas educacionais, de trata- mento e reabilitação com o objetivo de restaurar a eficiência comunicativa, seja para pro- blemas de comunicação de origem orgânica ou não orgânica. Essa atuação pode envolver consultoria a grupos profissionais relacionados, como educadores, médicos, psicólogos, ortodontistas, entre outros, além de prática clínica, ensino e orientação de projetos cien- tíficos. Também pode conduzir pesquisas para desenvolver técnicas e dispositivos para o diagnóstico e tratamento das patologias da comunicação humana. 30CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 GERIATRIA2 TÓPICO A definição precisa de “velhice” nos Estados-Membros da União Europeia geral- mente considera a idade de 65 anos como a entrada no mundo geriátrico, marcando a aposentadoria. No entanto, é comum observar pessoas acima dessa idade trabalhando efetivamente. Nessa fase, questões de saúde, como doenças neurológicas e perdas auditi- vas, visuais e motoras devido ao envelhecimento, tornam-se mais evidentes. Independentemente da saúde física e mental dos idosos, as habilidades de comu- nicação verbal tendem a deteriorar-se com o avanço da idade. A perda de audição afeta significativamente de 30 a 50% das pessoas com mais de 65 anos, e as mudanças na voz são praticamente inevitáveis após os 60 anos. Essas alterações nos órgãos de comu- nicação, especialmente após os 70 anos, resultam em presbiacusia devido a mudanças degenerativas no órgão de Corti e suas conexões centrais. Os efeitos do envelhecimento no sistema de comunicação humano manifestam-se de várias formas, incluindo mudanças no tom, intensidade e qualidade da voz. O sistema de produção de voz, ao contrário do aparelho auditivo, não foi especificamente projetado para esse propósito, envolvendo órgãos respiratórios, de proteção e de mastigação no processo de fonação. O envelhecimento afeta pulmões, cartilagens laríngeas, articulações e estruturas da boca, influenciando a resiliência, elasticidade e função muscular. As mudanças incluem atrofia do revestimento epitelial, espessamento da secreção de glândulas mucosas e redução das terminações nervosas. Além disso, ocorrem alte- rações nas atividades dos centros cerebrais superiores. As mudanças hormonais podem afetar o alcance vocal em direção a frequências mais baixas, e as cordas vocais tornam-se mais espessas. 31CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 FIGURA 01 - PESSOA IDOSA COM DISPOSITIVO AUDITIVO Fonte: Schutterstock (2024) Além disso, as mudanças relacionadas à idade na sensibilidade absoluta afetam a percepção da fala em ambientes silenciosos, enquanto, em condições menos favoráveis, fatores cognitivos específicos, como memória e atenção, também influenciam o processa- mento da linguagem falada em idosos. Além das alterações nas funções periféricas, estudos indicam que outros fatores além das deficiências sensoriais podem impactar as capacidades de percepção da fala em idosos, enfatizando a importância das funções cognitivas. Em relação a doenças comuns em idosos, como o Parkinson, os distúrbios da fala são evidentes, causando constrangi- mento e isolamento social. Considerando o aumento da longevidade da população geriátrica, a comunicação verbal eficaz torna-se crucial para o bem-estar psicológico e social dos idosos. O desafio futuro não será apenas adicionar anos à vida, mas tornar esses anos mais significativos, exigindo uma comunicação efetiva para uma interação social bem-sucedida. 32CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 REABILITAÇÃO3 TÓPICO Entendemos bastante sobre os desafios enfrentados pelos idosos nas comuni- cações verbais, mas o que pode ser feito para auxiliar esse segmento em crescimento na nossa sociedade? Até agora, não parece haver uma maneira de deter o processo de envelhecimento ou reverter seus efeitos fisiológicos. Na falta de estratégias preventivas eficazes, é necessário confiar em abordagens de reabilitação, substituição e amplificação para preservar e manter a comunicação humana. Nesse contexto, um programa abrangente de reabilitação para indivíduos com alterações pode incluir aprimoramento da fala, treinamento auditivo, instruções sobre o uso de aparelhos auditivos e ajustes. A leitura labial, idealmente, deve ser ensinada individual- mente a cada pessoa idosa com perda auditiva, permitindo que acompanhem a conversa observando os lábios e as expressões faciais do interlocutor. Nos estágios iniciais da perda auditiva, muitos indivíduos compensam inconscien- temente sua deficiência, obtendo pistas visuais da fala por meio dos lábios e expressões faciais do falante. A leitura labial pode ser aprendida relativamente rápido, especialmente para reconhecer conjuntos de palavras familiares, enquanto frases inteiras exigem mais prática, esforço, incentivo e paciência. O apoio da família e dos amigos é fundamental para esse progresso, com a cla- reza do discurso sendo crucial e uma fala mais lenta beneficiando a compreensão. Isso é particularmente importante, considerando que estudos de inteligibilidade confirmam que o tempo de processamento diminui com o envelhecimento. 33CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 A terapia fonoaudiológica abrange reabilitação, substituição e amplificação para preservar e manter as comunicações, especialmente para pacientes com dificuldades auditivas. Isso pode envolver leitura labial, treinamento auditivo e aprimoramento da fala. Pacientes com deficiências na fala e voz, podem se beneficiar da reeducação conduzida por profissionais qualificados, e com a assistência de especialistas em comunicação, os idosos podem alcançar níveis elevados de satisfação na trocade comunicações pessoais. Fonte: PEXELS. Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/procurar/fotos Enfim, a Fonoaudiologia desempenha um papel significativo na área da geriatria, que é o campo da medicina dedicado ao estudo, prevenção e tratamento de doenças relacionadas ao envelhecimento. A importância da fonoaudiologia nesse contexto está re- lacionada a diversos aspectos que afetam a comunicação, deglutição, audição e cognição em idosos. Aqui estão alguns postos-chave: • Avaliação da Comunicação: A fonoaudiologia ajuda na avaliação e tratamento de distúrbios da comunicação em idosos, como dificuldades na fala, linguagem e compreensão. Problemas como a afasia (dificuldade em compreender ou ex- pressar palavras) e disartria (dificuldades na articulação) podem ser abordados por fonoaudiólogos. • Tratamento de Disfagia: A disfagia, ou dificuldade de deglutição, é comum em idosos e pode levar a problemas nutricionais e respiratórios. Fonoaudiólogos ajudam na avaliação e implementação de estratégias para melhorar a deglutição, reduzindo o risco de aspiração e melhorando a qualidade de vida. • Reabilitação Auditiva: Perda de audição é comum em idosos, e fonoaudiólogos desempenham um papel crucial na avaliação e reabilitação auditiva. O uso de https://www.pexels.com/pt-br/procurar/fotos 34CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 aparelhos auditivos, estratégias de comunicação e treinamento auditivo são algumas das abordagens utilizadas. • Cuidado Cognitivo: Distúrbios cognitivos, como demência e Alzheimer, podem afetar a comunicação. A fonoaudiologia auxilia na implementação de estratégias para melhorar a comunicação em pacientes com comprometimento cognitivo, adaptando métodos de interação e apoiando a comunicação não verbal. • Melhoria da Qualidade de Vida: Intervenções fonoaudiológicas visam melhorar a qualidade de vida dos idosos, promovendo a participação social e a autonomia nas atividades diárias. • Prevenção de Problemas: Fonoaudiólogos podem fornecer orientações e estratégias preventivas para evitar problemas de comunicação e deglutição em idosos, contribuindo para uma vida saudável e independente. FASE DA SENILIDADE (senescência): Senilidade é a etapa final de toda uma existência humana, compreendendo um somatório de tudo que determinado indivíduo viveu. Fonte: (CONONGIA, 2000) É conveniente que cada um de nós determine o que pretende ser no futuro, aliando o trabalho às suas áreas de interesse, aptidões, habilidades, de modo que possa vir a ser feliz no que irá fazer. Grande parte de nosso tempo levamos no trabalho, que deverá ser prazeroso e nos estimular o bem-estar e a viver em sociedade, como um cidadão, de uma forma ativa e enriquecedora, tanto particularmente quanto para o meio ambiente onde vivemos. Fonte: (CONONGIA, 2000) 35CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 Chegamos ao final da nossa primeira unidade! Espero que você tenha aproveitado ao máximo os conhecimentos apresentados aqui. Você sabe que os estudos sobre esses assuntos não acabam aqui, né?! Agora é o momento de procurar por mais informações, continuar suas pesquisas em sites, revistas, artigos científicos, livros e vídeos, a fim de enriquecer ainda mais seu repertório sobre o assunto! Em conclusão, a integração efetiva da Fonoaudiologia Preventiva na Geriatria pode resultar em abordagens mais abrangentes e eficazes para a promoção da saúde e bem-es- tar da população idosa. A compreensão dos princípios fundamentais dessas disciplinas é crucial para o desenvolvimento de estratégias preventivas e intervenções que atendam às necessidades específicas dessa faixa etária. CONSIDERAÇÕES FINAIS 36CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 Artigo: Fonoaudiologia em doença de Parkinson Resenha: Vinte e seis pacientes com distúrbio de fala da doença de Parkinson rece- beram terapia fonoaudiológica diária (exercícios prosódicos) em casa durante 2 a 3 semanas. Houve melhorias significativas na fala, avaliadas pelas pontuações de anormalidade prosó- dica e inteligibilidade, e estas foram mantidas em parte por até 3 meses. O grau de melhora foi clínica e psicologicamente importante, e os familiares comentaram sobre os benefícios sociais. O uso de um dispositivo de reforço visual produziu benefícios limitados, além dos exercícios prosódicos isolados, exceto para pacientes com distúrbios graves de fala Fonte: Scott, S., & Caird, F. I. (1983). Speech therapy for Parkinson’s disease. Jour- nal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, 46(2), 140–144. doi:10.1136/jnnp.46.2.140. Disponível em https://jnnp.bmj.com/content/46/2/140.short. Acesso em 26 nov. 2023. LEITURA COMPLEMENTAR https://jnnp.bmj.com/content/46/2/140.short 37CONCEITOS E TEORIAS DE BASE DA FONOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIAUNIDADE 2 MATERIAL COMPLEMENTAR FILME/VÍDEO • Título: Saúde Auditiva - Prevenção de Perda Auditiva • Ano: 2012 • Sinopse: Como manter a saúde auditiva? Assista à palestra promovida pelo Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, com o dr Lulo Baraúna e saiba mais sobre os cuidados e prevenção, além dos principais sintomas que levam à perda da audição e os tratamentos disponíveis. LIVRO • Título: Fonoaudiologia: informação para formação - Prevenção • Autor (a): Maria Renata José Paganini • Editora: Guanabara • Sinopse: “Fonoaudiologia: informação para formação” e aborda a prevenção em Fonoaudiologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Relação entre fonoaudiologia, envelhecimento e qualidade de vida • Identificação das alterações estruturais, orgânicas e funcionais de deglutição e comunicação • Processo neurológico degenerativo do envelhecimento. Objetivos da Aprendizagem • Identificação das alterações na deglutição e comunicação; • Análise do processo neurodegenerativo no envelhecimento. Professor(a) Esp. Ana Paula Taborda do Nascimento AVALIAÇÃO E AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO REABILITAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA FONOAUDIOLÓGICA DENTRO DO CONTEXTO DENTRO DO CONTEXTO GERONTOLÓGICOGERONTOLÓGICO UNIDADEUNIDADE3 39AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA DENTRO DO CONTEXTO GERONTOLÓGICOUNIDADE 3 INTRODUÇÃO Oi, tudo bem? Seja bem-vindo (a) à nossa terceira unidade da disciplina de FO- NOAUDIOLOGIA PREVENTIVA E GERIATRIA. Acredito que, assim como eu, você deve estar com muitas expectativas para iniciar essa trilha de aprendizagem. Portanto, procure um lugar confortável e se acomode, porque vamos realizar uma introdução da fonoaudio- logia preventiva e geriatria. O envelhecimento, intrínseco à jornada da vida, representa um período marcado por transformações no equilíbrio interno do organismo, conhecido como homeostase. Es- sas mudanças tornam o indivíduo mais vulnerável a sobrecargas fisiológicas, desafiando sua capacidade de lidar com os desafios do envelhecimento. Além de ser uma categoria biológica, a velhice é socialmente construída e frequentemente discriminada, apresentando desafios significativos para a Saúde Pública devido ao aumento de doenças crônicas. Neste contexto, a fonoaudiologiaemerge como um elemento essencial na promo- ção do envelhecimento ativo e na melhoria da qualidade de vida dos idosos. Ao analisar as alterações estruturais e funcionais na deglutição e comunicação durante o envelhecimento, os profissionais dessa área desempenham um papel crucial na prevenção e avaliação de transtornos disfágicos. Além disso, a fonoaudiologia desempenha um papel fundamental na abordagem das mudanças na comunicação em idosos, contribuindo para uma compreensão abrangente dos desafios e oportunidades que essa fase da vida apresenta. Dessa forma, a integração da fonoaudiologia na promoção da saúde e qualidade de vida torna-se imperativa, propor- cionando uma visão holística para enfrentar os desafios inerentes ao envelhecimento. Está preparado?! Então vem comigo! Bons estudos! RELAÇÃO ENTRE FONOAUDIOLOGIA, ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA1 TÓPICO 40AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA DENTRO DO CONTEXTO GERONTOLÓGICOUNIDADE 3 O que é o envelhecimento? Já parou para pensar? O envelhecimento é uma fase da vida em que ocorre uma mudança no equilíbrio interno do organismo, conhecido como ho- meostase. Essa transformação deixa o indivíduo mais frágil, tornando-o vulnerável a possíveis sobrecargas fisiológicas. Já refletiu sobre esse aspecto? (Gordilho; Sérgio; Silvestre, 2000). FIGURA 1 - TRAÇOS FÍSICOS DO ENVELHECIMENTO Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/foto-em-escala-de-cinza-de-mao-esquerda-humana-54321/ Segundo alguns autores, a velhice é encarada como uma categoria social, cons- truída culturalmente (Minayo; Coimbra, 2002). Embora o ciclo biológico humano siga o padrão comum de nascimento, crescimento e morte observado em outros seres vivos, as sociedades conferem significados distintos às diferentes fases da vida, incluindo a velhice. Embora o envelhecimento envolve alterações biológicas perceptíveis no corpo, esse processo é também moldado simbolicamente por meio de rituais. Estes, ao delinear fronteiras etárias, atribuem um sentido político e organizador ao sistema social. Assim, o envelhecimento se revela como um fenômeno simultaneamente biológico e social. 41AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA DENTRO DO CONTEXTO GERONTOLÓGICOUNIDADE 3 FIGURA 2 - IDOSO REFLEXIVO Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/foto-em-tons-de-cinza-de-um-homem-vestindo-um-casaco-segurando-uma-bengala-236214/ A pessoa idosa é frequentemente discriminada culturalmente, considerada um far- do social. Essa perspectiva é alimentada por uma generalização na sociedade que atribui pouco valor àqueles que não estão ativamente produzindo para a comunidade. O envelhecimento é muitas vezes encarado como um desafio para a Saúde Pública/ Coletiva, visto que o rápido aumento da população idosa sobrecarrega o sistema de saúde devido ao aumento de doenças crônicas não infecciosas, como problemas cardiovasculares, articulares, respiratórios, diabetes melito, depressão e demências senis. Como resultado, os formuladores de políticas no Brasil costumam se referir ao custo social associado à população idosa (Minayo; Coimbra, 2002). FIGURA 3 - REPRESENTAÇÃO DE DUAS GERAÇÕES Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/duas-mulheres-adultas-lado-a-lado-3768114/ https://www.pexels.com/pt-br/foto/foto-em-tons-de-cinza-de-um-homem-vestindo-um-casaco-segurando-uma-bengala-236214/ https://www.pexels.com/pt-br/foto/duas-mulheres-adultas-lado-a-lado-3768114/ 42AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA DENTRO DO CONTEXTO GERONTOLÓGICOUNIDADE 3 A velhice, vista como uma categoria social, destaca um “novo protagonista indivi- dual e coletivo” que influencia na redefinição das relações familiares, sociais e até mesmo na política, como evidenciado pelo surgimento do movimento dos aposentados brasileiros. Isso resulta na criação de uma nova imagem cultural e de um novo lugar na so- ciedade, dotado do poder de provocar mudanças significativas, tanto qualitativa quanto quantitativamente. De acordo com Minayo; Coimbra (2002), “não sem dor e conflitos, os papéis sociais estão mudando e podem mudar mais, à medida que os idosos se coloquem como atores das transformações com que sonham”. A definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre saúde, que a concebe como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, é questionada. Autores argumentam que essa definição é irreal, visto que atingir um “perfeito bem-estar” é utópico, uma vez que a perfeição e o bem-estar são subjetivos e contextuais. Além disso, consideram a definição ultrapassada por fragmentar o psíquico e o corporal, enquanto estudos recentes integram esses aspectos e incluem também o social para uma compreensão abrangente do sujeito (Segre; Ferraz, 1997). Na promoção da saúde e qualidade de vida no envelhecimento, a Promoção da Saúde tem sido destacada nas últimas décadas como um ponto crucial nas políticas de saúde globais. A ideia subjacente a esse conceito é que a saúde está intrinsecamente ligada a fatores como boas condições de vida e trabalho, educação, lazer e descanso, entre outros (Assis; Pacheco; Menezes, 2002). (...) é produto de um amplo espectro de fatores relacionados com a quali- dade de vida, incluindo um padrão adequado de alimentação e nutrição, e de habilitação e saneamento, boas condições de trabalho, oportunidades de educação ao longo da vida, ambiente físico limpo, apoio social para famílias e indivíduos, estilo de vida responsável, e um espectro adequado de cuidados de saúde (GAMBURGO; MONTEIRO; CHUN, 2006). O princípio da Promoção da Saúde, conforme delineado na Carta de Ottawa, está vinculado a valores como qualidade de vida, saúde, solidariedade, equidade, democracia, cidadania, participação e parceria. Ele também se refere a uma sinergia de ações realiza- das por indivíduos, comunidade, Estado e sistemas de saúde, buscando uma abordagem conjunta na responsabilidade pelos problemas e soluções. O documento destaca a saúde como “o maior recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, além de ser uma dimensão crucial da qualidade de vida”. O autor argumenta que, ao considerar a saúde como um estado de bem-estar que transcende a ideia de formas saudáveis de vida, a promoção da saúde ultrapassa os limites do setor de saúde (Buss, 2000). 43AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA DENTRO DO CONTEXTO GERONTOLÓGICOUNIDADE 3 Embora as ações promotoras de saúde na Fonoaudiologia tenham avançado signi- ficativamente nas últimas décadas, ainda estão predominantemente concentradas entre os profissionais e pesquisadores da área de saúde pública/coletiva (Chun, 2014). (...) uma representação social criada a partir de parâmetros subjetivos (bem- -estar, felicidade, amor, prazer, realizações pessoais), e objetivos, cujos re- ferenciais são a satisfação das necessidades básicas e das necessidades criadas pelo grau de desenvolvimentos econômico e social de determinada sociedade (Gamburgo; Monteiro; Chun, 2006). A área de atuação da Fonoaudiologia tem se expandido, incluindo o trabalho com idosos em diversas frentes, como pesquisa, prevenção, avaliação, assessoria, consultoria, perícia, diagnóstico, terapia, ensino, orientação, promoção de saúde e aperfeiçoamento nas áreas de Linguagem, Voz, Audiologia, Motricidade Orofacial e Saúde Coletiva. A participação da Fonoaudiologia em equipes multidisciplinares é respaldada pelo conceito de Saúde Coletiva. Isso implica fornecer cuidados de saúde que ampliem o bem- -estar do indivíduo, intervindo especialmente em situações de risco, redimensionando o foco para a qualidade de vida, não se limitando apenas ao tratamento. Para promover um envelhecimento ativo, é crucial aprimorar a saúde, visando aumentar a expectativa de uma vida saudável e melhorar a qualidade de vida ao longo desse processo natural. Considerando o entendimento de que o envelhecimento é uma redução gradual da reserva funcional dos indivíduos (senescência), um processo naturalque geralmente não causa transtornos, destaca-se a importância de adotar um estilo de vida participativo e ativo para minimizar os efeitos de certas alterações decorrentes da senescência. É relevante ressaltar que o envelhecimento e a velhice são experiências heterogê- neas na busca pelo bem-estar e qualidade de vida, sendo fenômenos multidimensionais e multideterminados. IDENTIFICAÇÃO DAS ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS, ORGÂNICAS E FUNCIONAIS DE DEGLUTIÇÃO E COMUNICAÇÃO2 TÓPICO 44AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA DENTRO DO CONTEXTO GERONTOLÓGICOUNIDADE 3 O envelhecimento é uma parte natural do ciclo da vida, marcada por transfor- mações características dessa fase. Essas mudanças podem ser categorizadas como estruturais e funcionais, conhecidas como senescência, e se manifestam de maneiras diversas entre as pessoas. Alguns exemplos incluem o enfraquecimento de grupos musculares, redução da capacidade funcional, atrasos psicomotores e declínio da memória recente (Maksuda, 2012). Com o advento da velhice, ocorrem alterações significativas, especialmente na estrutura muscular, devido ao comprometimento dos membros do aparelho motor e de suas articulações, resultando em impactos no funcionamento e na restrição dos movimentos. Além disso, há uma contínua diminuição de enzimas essenciais para a contração muscular. Todas essas mudanças, mencionadas até este ponto, afetam as estruturas orgânicas, inclusive as relacionadas à fonoarticulação (Accosta, 2012). 2.1 Fases envolvidas na deglutição Quando o alimento é inserido na boca, passa por processos para modificar sua textura, facilitando seu transporte pelo sistema faringoesofágico. A duração dessa etapa está diretamente ligada ao tempo de mastigação do alimento sólido, que compreende três estágios principais: incisão, trituração e pulverização (Jotz, 2009). 45AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA DENTRO DO CONTEXTO GERONTOLÓGICOUNIDADE 3 FIGURA 4 - REPRESENTAÇÃO DE DEGLUTIÇÃO Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/abacate-garrafa-frasco-jarra-4057739/ Logo após a formação do bolo alimentar, ele se desloca com a ajuda do ântero posterior da língua, gerando pressão e facilitando a transição do alimento para a faringe. Nesse ponto, ocorre necessariamente a fase involuntária da deglutição (Costa, 2000). A deglutição é dividida em três fases: Oral, Faríngea e Esofágica. A fase oral é voluntária, enquanto as fases faríngea e esofágica são involuntárias (Garcia, 2017). FASES DA DEGLUTIÇÃO PRINCIPAIS EVENTOS ORAL ● Captura, contenção oral e pressão intraoral (anterior e lateral); ● Mastigação; ● Contenção e formação do bolo; ● Ejeção/propulsão. FARÍNGEA ● Isolamento da cavidade nasal ou oral; ● Propulsão faríngea; ● Elevação e anteriorização laríngea; ● Fechamento esfincteriano da laringe; ● Passagem do bolo para o esôfago. ESOFÁGICA ● Entrada do bolo no esôfago; ● Passagem do bolo para o estômago. Fonte: (Garcia; Queija, 2017). https://www.pexels.com/pt-br/foto/abacate-garrafa-frasco-jarra-4057739/ 46AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA DENTRO DO CONTEXTO GERONTOLÓGICOUNIDADE 3 2.2 Deglutição em idosos O sistema orofacial e suas funções associadas compõem a estrutura estomatog- nática, sendo independentes entre si. Essa estrutura está primariamente ligada ao ato de engolir, sendo essencial que esteja em harmonia para facilitar a deglutição (Bilton, 2000). Os estágios iniciais da mastigação enfrentam desafios decorrentes da limitação de movimentos e da redução da percepção muscular, resultando em dificuldades no controle do bolo alimentar. Outros fatores, como a diminuição do paladar, a ausência de dentes ou o uso de próteses mal ajustadas, também contribuem para essas dificuldades. Posterior- mente à mastigação, as fases da deglutição demandam a mesma harmonia que a fase preparatória (Schneider; Moriguchi, 2009). Nos idosos, as etapas oral, faríngea e esofágica sofrem alterações devido à flaci- dez muscular, afetando diretamente a deglutição. Esse impacto é acentuado pela redução do ritmo metabólico do corpo, resultando na presbifagia, uma condição que modifica o funcionamento dessa parte do sistema com o avanço da idade (Jales, 2005). A disfagia é caracterizada por modificações no ato de deglutir, relacionadas a com- plicações na transição do alimento da cavidade oral para o aparelho estomacal. Considera- da um sinal de doença, a disfagia pode ser congênita ou adquirida, crônica ou temporária, e resulta de diversos distúrbios, sejam motores ou neurológicos, especialmente em idosos, além de fatores psicogênicos ou iatrogênicos. Essa condição coloca em sério risco a situa- ção nutricional e respiratória do idoso, levando a uma degradação significativa da qualidade de vida e podendo apresentar risco de vida (Schneider; MoriguchI, 2009). As alterações orofaríngeas são comuns, principalmente em idosos do sexo masculino, e estão associadas à prolongada duração da fase orofaríngea. Essas mudanças estão corre- lacionadas à diminuição da atividade e sensibilidade orofacial, além da propensão aumentada à diminuição do reflexo de defesa das vias aéreas. Isso facilita a entrada de corpos estranhos, como aspiração, resultando em pneumonias recorrentes (Schneider; Moriguchi, 2009). 2.3 Deglutição na Senescência Na senescência, há transformações nos processos e sistemas relacionados à alimen- tação, gerando a presbifagia, uma condição resultante das alterações decorrentes do declínio do potencial fisiológico na deglutição. Isso torna a disfagia orofaríngea um indicativo comum, especialmente devido ao prolongamento da fase orofaríngea da deglutição (Accosta, 2012). Durante esse período da vida, aspectos neurobiológicos e fisiológicos afetam o sis- tema nervoso central, influenciando a função da deglutição em idosos saudáveis. Isso inclui a deglutição ou redução do peso cerebral, diminuição do número de neurônios e a fusão de 47AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA DENTRO DO CONTEXTO GERONTOLÓGICOUNIDADE 3 neurotransmissores como dopamina, norepinefrina e acetilcolina, resultando na contusão de células neurais e na redução dos receptores desses neurotransmissores (Santoro, 2011). A presbifagia ocorre devido a alterações na mastigação e deglutição, levando a mudanças nos hábitos alimentares, perda de ritmo no transporte do alimento em Idosos (Accosta, 2012). A redução do tônus na língua e a rigidez muscular dificultam a mastigação de alimentos mais duros, levando os idosos a escolherem alimentos triturados para facilitar a deglutição, o que pode resultar em sintomas de disfagia devido à diminuição do tônus muscular e à falta de coordenação associada à idade (Bigal, 2007). Essas alterações ocorrem simultaneamente à diminuição da sensibilidade e à perda de movimentos na capacidade orofacial. A limitação potencial na capacidade involuntária de obstruir as vias aéreas torna possível a entrada de corpos estranhos no sistema respira- tório, resultando em pneumonias aspirativas e déficits nutricionais (Accosta, 2012). A ingestão reduzida de alimentos leva os idosos a enfrentarem deficiências ener- géticas, proteicas, vitamínicas e minerais, resultando em desidratação e má qualidade de vida. Isso demanda assistência constante (Orlandoni, 2012). As mudanças associadas ao envelhecimento tornam o idoso suscetível à disfagia. Essa susceptibilidade tem origem na anatomia da cabeça e do pescoço, que, associada a papéis fisiológicos e neurais, passa por adaptações naturais com o avanço da idade. Essas transformações influenciam a redução causada pelo esgotamento biológico, predispondo o idoso ao desenvolvimento de disfagia (Guijarro, 2011). A disfagia é considerada um transtorno comum do envelhecimento, desempenhando um papel clinicamente relevante e ocorrendo frequentemente. Investigar sua fisiopatologia, compreender as transformações neurais e fisiológicas relacionadas à deglutição decorrente
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