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Jusnaturalismo racionalista Humanismo_ o discurso contemporâneo dos Direitos Humanos - conteúdo do livro

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Conteúdo do livro
Podemos identificar as raízes do jusnaturalismo de matriz racionalista ainda em fins da Idade Média, 
mais precisamente na obra de São Tomás de Aquino. O início desta transição, entre uma concepção 
de direitos naturais inteiramente religiosa e teológica e uma concepção lastreada na razão humana, 
encontra-se na distinção elaborada por Aquino entre leis eternas (aquelas que regem o universo), 
leis divinas (as leis eternas que são reveladas aos humanos) e as leis naturais.
Leia mais no capítulo Jusnaturalismo racionalista, humanismo e o discurso contemporâneo dos 
direitos humanos do livro História do Direito, base teórica desta Unidade de Aprendizagem.
Boa leitura.
HISTÓRIA 
DO DIREITO
Henrique Abel
Revisão técnica:
Gustavo da Silva Santanna 
Bacharel em Direito
Especialista em Direito Ambiental Nacional 
e Internacional e em Direito Público
Mestre em Direito
Professor de Curso de Graduação 
e Pós-graduação em Direito
Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147
A139h Abel, Henrique.
História do direito [ recurso eletrônico ] / Henrique Abel, 
Marjorie de Almeida Araujo, Débora Cristina Holenbach 
Grivot ; revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna. – Porto 
Alegre: SAGAH, 2017.
ISBN ISBN 978-85-9502-171-6
1. Direito – História. I. Araujo, Marjorie de Almeida. 
II.Grivot, Débora Cristina Holenbach. III.Título.
CDU 34(091)
Jusnaturalismo racionalista: 
o humanismo e o discurso 
contemporâneo dos 
direitos humanos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Explicar o que é e qual é a importância do jusnaturalismo racionalista.
 � Apresentar a evolução dos direitos humanos.
 � Demonstrar a importância dos direitos humanos na contemporaneidade.
Introdução
As contradições sociais e econômicas, surgidas como efeitos colaterais dos 
processos de urbanização decorrentes da Revolução Industrial, levaram 
ao esgotamento do velho modelo clássico de Estado Liberal, o que levou 
à sua transformação — por meio de reforma política — em Estado Social 
de Direito e, posteriormente, em Estado Democrático de Direito.
Neste capítulo, você vai ler a respeito de como as concepções raciona-
listas sobre jusnaturalismo influenciaram o surgimento e estabelecimento 
do discurso contemporâneo dos direitos humanos — cujas noções atu-
almente se mostram inseparáveis do conceito vigente de democracia 
por todo o mundo ocidental.
Além disso, estudará de que forma o antigo jusnaturalismo teológico, 
de perfil religioso, sai de cena e abre espaço para o jusnaturalismo racio-
nalista. Depois, verá como surge e se desenvolve o discurso moderno 
dos direitos humanos, bem como as suas relações com as concepções 
racionalistas sobre a existência de direitos naturais.
Por fim, analisará os direitos humanos no contexto econômico e 
político da democracia contemporânea, destacando os seus principais 
desafios nos dias atuais e verificando as estratégias jurídicas encontradas 
para salvaguardar esses direitos dentro da lógica própria do constitu-
cionalismo contemporâneo.
As origens do jusnaturalismo racionalista
Podemos identificar as raízes do jusnaturalismo de matriz racionalista ainda 
em fins da Idade Média, mais precisamente na obra de São Tomás de Aquino. 
O início dessa transição, entre uma concepção de direitos naturais inteiramente 
religiosa e teológica e uma concepção lastreada na razão humana, encontra-se 
na distinção elaborada por Aquino entre leis eternas (aquelas que regem o 
universo), leis divinas (as leis eternas reveladas aos humanos) e as leis naturais 
(BITTAR; ALMEIDA, 2012).
Para Aquino, essas leis naturais apresentariam um aspecto de contingência 
e operariam como uma representação da razão humana sob diferentes cir-
cunstâncias de lugar e época. Ou seja, ao contrário das leis eternas e das leis 
divinas, as leis naturais poderiam mudar porque a própria natureza humana 
é mutável. Abre-se, assim, uma brecha para o elemento da razão humana, 
inexistente na categorização feita um milênio antes por Santo Agostinho, que 
trabalhava apenas com as noções de leis eternas e de leis humanas.
De acordo com Bittar e Almeida (2012, p. 261), “[...] o jusnaturalismo tomista não vislumbra 
na natureza um código imutável incondicionado e absoluto, mas uma justiça variável 
e contingente como a razão humana”. 
Todavia, a guinada propriamente dita do Direito Natural — da teologia 
para o racionalismo — é geralmente atribuída ao filósofo e jurista holandês 
Hugo Grócio (1583–1645). Contribuições igualmente importantes, para a 
sedimentação da ideia de direitos naturais fundamentados na razão humana, 
encontram-se também na obra de Thomas Hobbes (1588–1679), Samuel Pu-
fendorf (1632–1694) e John Locke (1632–1704).
No entanto, é com a obra de Immanuel Kant (1724–1804; Figura 1) 
que o jusnaturalismo de matriz racionalista irá se firmar em definitivo, 
Jusnaturalismo racionalista: o humanismo e o discurso contemporâneo dos direitos humanos152
com enorme influência no pensamento moderno. Filósofo alemão, ele foi 
o fundador da chamada filosofia crítica, e a sua obra máxima é a célebre 
Crítica da razão pura, de 1781.
Figura 1. Immanuel Kant (1724–1804), um dos filósofos 
mais paradigmáticos da Era Moderna, construiu as prin-
cipais bases teóricas para concepções de Direito Natural 
fundamentadas na universalidade da razão humana e 
nos princípios da liberdade e da dignidade inerentes à 
condição humana.
Fonte: Nicku/Shutterstock.com.
Para Kant, os seres humanos não têm acesso direto ao mundo para fins de 
conhecimento das coisas. Isso ocorre porque compreendem o mundo não de 
forma direta, mas sim por meio de um filtro, que vem a ser a mente. 
Ao mesmo tempo, Kant rejeitava o relativismo, ceticismo, pragmatismo e 
dogmatismo. Ele se mostrará profundamente comprometido com a possibilidade 
de que sejam enunciadas verdades válidas sobre questões filosóficas e morais. 
No entanto, para Kant, essas respostas não podem ser localizadas nos objetos 
externos ao ser humano (o que nos levaria de volta ao velho essencialismo 
próprio da filosofia clássica da Antiguidade) e nem no agir solipsista de um 
indivíduo dotado de poder (o que nos levaria ao dogmatismo).
153Jusnaturalismo racionalista: o humanismo e o discurso contemporâneo dos direitos humanos
Para superar esses problemas, criando uma espécie de composição entre o 
racionalismo e o empirismo, Kant levará adiante uma Revolução Copernicana 
na filosofia, qual seja: o objeto do conhecimento é deixado de lado em prol 
do sujeito do conhecimento, que se transforma em sujeito assujeitador. As 
respostas passam a ser pensadas e procuradas tomando como ponto de par-
tida o sujeito e a sua relação com o objeto, não mais o objeto em si. Por meio 
disso, Kant supera tanto o racionalismo quanto o empirismo e o idealismo 
existentes na sua época.
Para Kant, existem dois mundos distintos: o mundo fenomenológico, ao 
qual temos acesso por meio dos nossos sentidos, e o mundo numênico (ou 
noumenal), aquele por trás das aparências diretas do mundo fenomenológico. 
O mundo noumenal não nos é atingível, nada podemos saber sobre ele e 
qualquer filosofia nesse sentido restará, para Kant, fadada ao fracasso. Só o 
que podemos conhecer é o mundo que nos cerca, o mundo que experimentamos 
por meio dos nossos sentidos. 
O que significa isso, em termos práticos? Que o juiz da conduta do indivíduo 
deve ser ele mesmo, agindo com toda a liberdade possível, e que a regra de 
validade do seu agir deve ser a preocupação desse agente em se perguntar se 
aquilo que está fazendo (ou a forma como está fazendo) poderia se converter 
em uma lei universal, seguida por todos.
É importante perceber que Kant não dá fórmulas prontas para o agir moral em 
cada caso concreto. Ele apresenta apenas uma regra de verificação, um referencial 
norteador, uma orientação racional para que um agir moral seja objeto de reflexão 
crítica. Além disso, existem três outras ideias que surgemcomo fundamentais 
na obra de Kant: a autonomia da vontade, a liberdade e a dignidade.
Da combinação desses elementos, serão estabelecidos os fundamentos 
do jusnaturalismo de matriz racionalista. Isso porque, para Kant, as pessoas 
possuem dignidade tão somente em virtude do fato de serem integrantes da 
Jusnaturalismo racionalista: o humanismo e o discurso contemporâneo dos direitos humanos154
família humana e por sua própria natureza de criaturas racionais. Em outras 
palavras, todos os seres humanos, dentro dessa concepção, possuem digni-
dade independente de méritos ou distinções pessoais, como títulos, riquezas, 
trabalhos, realizações, papel na sociedade, entre outros. A dignidade humana 
decorre tão somente da nossa condição de criaturas racionais e conscientes.
Dessa forma, Kant irá consagrar a ideia de que o ser humano é um fim em 
si mesmo e que nunca pode ser instrumentalizado, ou seja, utilizado como 
meio por alguém, para alcance ou realização de um fim diverso. Nas palavras 
de Barretto (2013, p. 54-55):
É a possibilidade de coexistência em um “reino” em que todos são respeitados 
como fins em si mesmos que acaba produzindo no homem o interesse pela lei 
moral. E, por isso, a lei moral é a única lei que o homem pode produzir para 
si mesmo. [...] A autonomia da vontade, por outro lado, permite a liberdade 
de todos, entendida como coexistência, e, sendo assim, como obediência a 
uma lei que considera o outro como um fim em si e a não lhe fazer nada que 
não se deseje para si mesmo. [...] Por isso, Kant remete à existência de um 
princípio prático da razão que determina a vontade humana e que pressupõe 
que a natureza racional existe como fim em si.
Como se vê, essa abordagem jusnaturalista não acredita em verdades 
metafísicas escondidas nas essências das coisas ou na ordem das leis cós-
micas, tampouco recorre à figura de uma divindade criadora como fonte de 
autoridade e legitimidade para normas que estariam para além dos homens. 
A ideia de Direito Natural aqui surge como decorrente da dignidade própria 
do ser humano e possibilitada pela existência de um denominador comum 
mínimo subjacente a todos os indivíduos de diferentes culturas, lugares e 
épocas. Esse denominador comum vem a ser a razão humana.
155Jusnaturalismo racionalista: o humanismo e o discurso contemporâneo dos direitos humanos
Direitos humanos, direitos naturais e direitos fundamentais não são a mesma coisa, 
embora, às vezes, estejam muito próximos e possam ser utilizados como sinônimos 
em certas situações. Direitos naturais seriam direitos aos quais as pessoas fazem jus 
independentemente da efetiva positivação desses direitos dentro de um determinado 
ordenamento jurídico. Seriam direitos que não dependeriam de legislação para existir. 
O conteúdo dos chamados direitos naturais, ao longo da história, frequentemente 
esteve muito próximo àquilo que entendemos por direitos humanos atualmente (vida, 
liberdade, integridade física, entre outros). Mas aquilo que uma determina concepção 
jusnaturalista entende como sendo um direito natural pode muito bem ser algo fora 
do rol contemporâneo tradicional dos direitos humanos. Por exemplo: na clássica 
tragédia grega Antígona, escrita por Sófocles no século V a.C, a protagonista Antígona 
se rebelava contra o rei Creonte porque este havia proibido que ela tivesse o direito 
de dar um funeral adequado para o seu irmão morto em combate. Para Antígona, o 
direito de um morto receber os ritos religiosos fúnebres, com estrita observância aos 
costumes, tradições e crenças da época, era um direito natural que nenhum legislador 
ou governante — nem mesmo o próprio rei de Tebas — poderia revogar. Um direito 
natural, assim, pode ser qualquer direito subjetivo que uma determinada concepção 
jusnaturalista entenda como pressuposto, autônomo e maior do que qualquer estatuto 
criado por uma autoridade humana. 
Direitos humanos, por outro lado, são entendidos modernamente como frutos não 
necessariamente de legislação, mas, pelo menos, de convenções ou declarações 
internacionais. Tratam-se de direitos que não devem ficar restritos a apenas alguns 
grupos ou pessoas, mas sim serem aplicados a todo e qualquer indivíduo tão somente 
em virtude do simples fato de que essa pessoa é parte da família humana, portanto, 
portadora de dignidade. Já os chamados Direitos e garantias fundamentais são aqueles 
que independem de discussões morais ou filosóficas a respeito de sua existência e 
tampouco de debates sobre a sua universalidade, vigência ou eficácia em um dado 
ordenamento jurídico. Isso porque os direitos fundamentais, dentro da principiologia 
própria do constitucionalismo contemporâneo, são aqueles devidamente consagrados 
dentro do Direito Constitucional Positivo do ordenamento. Ou seja, são aqueles que 
decorrem de expressa previsão normativa constitucional. 
Direitos humanos: surgimento e evolução
Ideias a respeito dos direitos de liberdade das pessoas acompanham a hu-
manidade, sob diferentes formas, desde a Antiguidade. Todavia, os direitos 
humanos como hoje delimitados representam claramente um produto cultural 
próprio da Era Moderna — e, sobretudo, da passagem da Era Moderna para 
a Era Contemporânea.
Jusnaturalismo racionalista: o humanismo e o discurso contemporâneo dos direitos humanos156
Embora documentos e declarações de direitos e compromissos, como a 
Magna Carta (1215) e a Bill of Rights britânica (1689), possam ser apontados 
como precedentes normativos e embriões do moderno discurso dos direitos 
humanos, são, sobretudo, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 
(1789) e a Bill of Rights americana (1791) que lançarão os primeiros alicerces 
modernos da doutrina internacional dos direitos humanos. 
O próprio termo direitos humanos só ingressa no vocabulário político 
e jurídico internacional entre fins do século XVIII e as primeiras décadas 
do século XIX. A popularização do termo, no século XIX, está diretamente 
relacionada à sua vinculação com a luta contra o instituto da escravidão, que 
é abolida em todos os territórios do Império Britânico em 1833 e nos Estados 
Unidos em 1865, após o fim da Guerra de Secessão e com a promulgação da 
Décima-terceira Emenda à Constituição norte-americana.
Nas primeiras décadas do século XX, algumas estruturas internacionais 
lançaram as primeiras sementes de uma rede global de proteção aos direitos 
humanos, seja por meio da antiga Liga das Nações, seja por meio da Organi-
zação Internacional do Trabalho (OIT). Criada em 1920, após o término da 
Primeira Guerra, a Liga das Nações tinha a finalidade de promover a paz, a 
segurança e a cooperação internacional. 
Apesar das boas intenções que a orientavam, o órgão foi insuficiente para 
evitar que a Europa viesse a ser novamente tragada pelas sombras da guerra nos 
anos que viriam. Em abril de 1946, após o fim da Segunda Guerra, o organismo 
foi dissolvido e as suas atribuições foram transferidas para a Organização das 
Nações Unidas (ONU), órgão internacional que havia sido criado no ano anterior.
O discurso contemporâneo dos direitos humanos se desenvolve sobretudo 
nesse contexto internacional geopolítico pós-1945, com o progressivo incre-
mento do Direito Internacional, do constitucionalismo contemporâneo, da 
celebração dos valores próprios da democracia — como a dignidade da pessoa 
humana, a tolerância e a pluralidade — e da rejeição às políticas de exploração 
do ser humano, ao autoritarismo e à violência de Estado. 
Além da criação da ONU em si, igualmente fundamental para o fortale-
cimento do discurso dos direitos humanos, no mundo contemporâneo pós-
-Segunda Guerra, foi a promulgação da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos em 1948 (Figura 2). Isso porque:
O professor Norberto Bobbio identifica, na história da afirmação dos direitos 
humanos, a sua terceira etapa na universalização, que teve como ponto de 
partida a Declaração Universal dos Direitos Humanos e que significou a trans-
posição de sua proteção do plano internopara o plano internacional, alçando o 
157Jusnaturalismo racionalista: o humanismo e o discurso contemporâneo dos direitos humanos
indivíduo à qualidade de sujeito de direito internacional, com a possibilidade 
de reclamar contra o próprio Estado perante uma instância superior.
Embora o ideal contido na Declaração não seja novo, eis que remonta às 
primeiras declarações dos Estados Unidos da América (1776) e da França 
(1789), em que se podem perceber inúmeras similitudes, novo é, no entanto, 
o âmbito de validade de suas disposições, ao estabelecer, segundo o mesmo 
autor, uma proteção de segundo grau a partir do momento em que o Estado 
apresenta-se falho em suas obrigações constitucionais com os sujeitos (CUL-
LETON; BRAGATO; FAJARDO, 2009, p. 38-39).
Figura 2. A diplomata Eleanor Roosevelt (1884-1962), esposa do ex-
-presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt, protagonizou 
grandes esforços em prol dos direitos humanos e atuou como delegada 
dos Estados Unidos na Assembleia Geral das Nações Unidas entre 1945 
e 1952. Na imagem, ela exibe uma cópia em espanhol da Declaração 
Universal dos Direitos Humanos.
Fonte: Google Images.
Ou seja, é sobretudo após o término da Segunda Guerra, com a revela-
ção dos horrendos crimes cometidos pelos nazistas — experimentos com 
eugenia, o holocausto, entre outros — que o discurso dos direitos humanos 
assume uma nova roupagem, que é universalista não apenas nas suas pre-
Jusnaturalismo racionalista: o humanismo e o discurso contemporâneo dos direitos humanos158
tensões filosóficas, mas, sobretudo, nas instituições políticas e jurídicas 
estabelecidas com a missão de resguardar e garantir esses direitos. Apesar 
disso, é importante ressaltar que a Declaração, em si, não constitui norma 
jurídica vinculante. A sua observância não é obrigatória, mas facultativa. 
Ela representa, portanto, mais uma declaração de consenso político do que 
uma legislação propriamente dita.
Em termos de evolução, costuma-se apontar a existência de três distintas 
gerações de direitos humanos: uma primeira, relativa aos direitos indivi-
duais, civis e políticos; uma segunda, relativa aos direitos sociais; e uma 
terceira, relativa aos direitos à paz, ao meio ambiente saudável, à qualidade 
de vida, à autodeterminação dos povos, entre outras. Como cada uma dessas 
gerações não substitui nem invalida as anteriores, posteriormente se passou 
a dar preferência para o termo dimensões de direitos humanos, em vez 
de gerações.
O certo é que a primeira dimensão dos direitos humanos se caracterizou 
como aquela que visava proteger o indivíduo dos eventuais abusos e excessos 
do Estado. O foco, aqui, estava no direito à vida, à liberdade, à segurança, à 
igualdade perante a lei, ao devido processo legal e à propriedade. Estavam 
ligados, também, aos direitos políticos e de cidadania — como o direito 
de votar e ser votado, de eleições livres, do voto universal e secreto, do 
acesso igualitário a cargos públicos, entre outros. Já os direitos humanos 
de segunda geração formam um grupo constituído por direitos econômicos 
e sociais: direito ao trabalho, proteção contra o desemprego, direitos tra-
balhistas, assistência social, previdência, entre outros. Por fim, os direitos 
humanos de terceira geração seriam direitos culturais e ambientais, que 
transcendem a lógica das garantias individuais e operam na proteção de 
grupos e coletividades. 
Para saber mais sobre direitos humanos, consulte o artigo 
Contribuições teóricas latino-americanas para a universali-
zação dos direitos humanos, de Fernanda Frizzo Bragato. O 
artigo está disponível no link abaixo ou no código ao lado: 
https://goo.gl/8KpqqH 
159Jusnaturalismo racionalista: o humanismo e o discurso contemporâneo dos direitos humanos
Os direitos humanos no contexto econômico e 
político da democracia contemporânea
Alguns consideram que o discurso contemporâneo dos direitos humanos seria 
uma nova forma de jusnaturalismo racionalista. Essa classificação é possível, 
mas discutível. Isso porque a doutrina dos direitos humanos pós-1945 não 
busca legitimar direitos e garantias fundamentais apenas por meio da retórica 
política ou de construções teóricas filosóficas, mas por meio do Direito e das 
instituições. No contexto atual, portanto, não devemos pensar os direitos 
humanos como meros valores morais ou direitos concebidos de forma idealista 
ou hipotética, mas como direitos concretos e efetivos, no sentido jurídico 
mais estritamente normativo do termo. 
A doutrina dos direitos humanos, nas últimas décadas, tem se confundido com a 
própria noção contemporânea de democracia, além de ser inseparável daquilo que 
hoje chamamos de constitucionalismo contemporâneo — ou seja, aquele construído 
com base no constitucionalismo europeu pós-Segunda Guerra. 
Uma das formas jurídicas adotadas para garantir a eficácia da proteção aos 
direitos humanos reside justamente na construção de uma distinção técnica 
entre direitos humanos e direitos e garantias fundamentais. Embora ambos 
tenham muito em comum em termos de conteúdo e substância, os direitos 
humanos possuem um alcance indefinido e uma subjetividade conceitual 
muito ampla, que, na prática, poderia colocar em xeque a sua eficácia, validade 
e vigência. 
O mesmo não acontece com os chamados direitos fundamentais, que 
operam estritamente dentro da ideia de Direito Positivo e, portanto, a salvo 
Jusnaturalismo racionalista: o humanismo e o discurso contemporâneo dos direitos humanos160
de eventuais rótulos de jusnaturalismo ou algo semelhante. Sobre isso, Sarlet 
(2010, p. 31) ensina que:
[...] o critério mais adequado para determinar a diferenciação entre ambas as 
categorias é o da concreção positiva, uma vez que o termo “direitos humanos” 
se revelou conceito de contornos mais amplos e imprecisos que a noção de 
direitos fundamentais, de tal sorte que estes possuem sentido mais preciso 
e restrito, na medida em que constituem o conjunto de direitos e liberdades 
institucionalmente reconhecidos e garantidos pelo direito positivo de deter-
minado Estado, tratando-se, portanto, de direitos delimitados espacial e tem-
poralmente, cuja denominação se deve ao seu caráter básico e fundamentador 
do sistema jurídico do Estado Democrático de Direito.
Embora, por todo o mundo ocidental democrático, exista um tranquilo 
consenso jurídico de respeito e valorização dos direitos humanos, isso não 
significa que eles se encontrem devidamente salvaguardados. A maior ameaça 
à concretização dos direitos humanos, atualmente, não vem dos tradicionais 
inimigos da democracia do século passado (o fascismo, o socialismo real, 
entre outros), mas das limitações de ordem econômica. 
O consenso que se firmou no pós-Segunda Guerra, em relação à im-
portância das políticas sociais (conjuntamente denominadas, por vezes, de 
Estado Social ou modelo de Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State), 
vem sendo colocado em xeque desde fins dos anos 1970 pela emergência 
de um discurso político-econômico-ideológico geralmente identificado 
pela alcunha de neoliberalismo, cujos preceitos, por vezes, aproximam-se 
excessivamente do desejo puro e simples de desmontar o modelo político-
-jurídico do Estado Democrático de Direito e substituí-lo por um simples 
retorno ao velho modelo do Estado Liberal clássico, já superado há mais de 
um século (Figura 3). 
161Jusnaturalismo racionalista: o humanismo e o discurso contemporâneo dos direitos humanos
Figura 3. Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos entre 1981 e 1989, foi uma 
das figuras políticas cruciais das últimas décadas no sentido de — juntamente com a 
ex-Primeira-Ministra britânica Margareth Thatcher — estabelecer as bases ideológicas, 
políticas e discursivas daquilo que viria a ser popularmente denominado de neoliberalismo. 
De forma sintética, o neoliberalismo pode ser entendido como uma espécie de descons-
trução dos postulados das políticas de Estado Social (ou Welfare State), muito populares na 
Europa e nos Estados Unidosentre 1945 e 1973. O surgimento do neoliberalismo enquanto 
discurso político e doutrina econômica, a partir de meados dos anos 1970, e sua posterior 
popularização nos anos seguintes devem ser compreendidos no contexto das grandes 
crises econômicas internacionais do período, que colocaram em dúvida a sustentabili-
dade e viabilidade do modelo anterior. Embora a retórica neoliberal geralmente milite 
pela relativização e mitigação das obrigações sociais do Estado para com os cidadãos, é 
digno de nota que o neoliberalismo, sobretudo nos anos 1980, encampava ativamente o 
discurso dos direitos humanos — sobretudo como forma de criticar os países do chamado 
socialismo real (como a antiga União Soviética), cujos regimes eram frequentes e contínuos 
violadores de direitos humanos, bem como para ressaltar a superioridade moral das 
democracias capitalistas ocidentais, lideradas internacionalmente pelos Estados Unidos, 
na comparação com os países do bloco soviético. 
Fonte: Anton_Ivanov/Shutterstock.com.
Jusnaturalismo racionalista: o humanismo e o discurso contemporâneo dos direitos humanos162
Preocupações nesse sentido têm levado a doutrina jurídica constituciona-
lista a frisar a importância do princípio da proibição de retrocesso social 
em relação à normatividade que assegura a eficácia de direitos e garantias 
fundamentais. No entanto, em termos de doutrina e jurisprudência nacionais, 
tem se desenvolvido da mesma forma a noção de reserva do possível, ou 
seja, de que não se pode demandar do Estado mais direitos, por importantes 
que sejam, do que a estrutura econômica desse Estado é capaz de suportar.
Em outras palavras, em termos de democracia e constitucionalismo na Era 
Contemporânea, devemos pensar direitos e garantias fundamentais, ao mesmo 
tempo, sob a perspectiva da inadmissibilidade de quaisquer tipos de retrocessos, 
mas, também, tendo em mente a questão das limitações orçamentárias e a 
importância de critérios práticos de razoabilidade e proporcionalidade para 
que as demandas individuais e coletivas não comprometam, economicamente, 
a funcionalidade das estruturas estatais.
Conheça melhor os direitos humanos assistindo aos dois 
vídeos a seguir:
https://goo.gl/7iHA6C 
https://goo.gl/J7gIB9 
163Jusnaturalismo racionalista: o humanismo e o discurso contemporâneo dos direitos humanos
BARRETTO, V. de P. O fetiche dos direitos humanos e outros temas. 2. ed. rev. e ampl. 
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013.
BITTAR, E. C. B; ALMEIDA, G. A. de. Curso de filosofia do Direito. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
CULLETON, A.; BRAGATO, F. F.; FAJARDO, S. P. Curso de direitos humanos. São Leopoldo: 
Unisinos, 2009.
SARLET, I. W. A eficácia dos direitos fundamentais. 10. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2010.
Leitura recomendada
GILISSEN, J. Introdução histórica ao Direito. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gul-
benkian, 2013. 
Jusnaturalismo racionalista: o humanismo e o discurso contemporâneo dos direitos humanos164

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