Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
75 R ETÓ R IC A A N TIG A E N O V A R ETÓ R IC A : C H A ïM P ER ELM A N E O S SO FISTA S Reflexão, Campinas, 31(89), p. 75-82, jan./jun., 2006 ArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo Retórica antiga e nova retórica: Chaïm Perelman e os sofistas Vieille rhétorique et nouvelle rhétorique: Chaïm Perelman et les sophistes Regina Yara Martinelli da SILVEIRA Doutora em Filosofia pela UERJ Resumo O presente trabalho tem por objetivo destacar a importância do estudo das técnicas argumentativas na formulação dos diversos tipos de discursos. Para isso, vamos considerar os elementos de persuasão retomados por Perelman da retórica antiga e reformulados de acordo com as situações contemporâneas, ressaltando que muitas destas técnicas persuasivas derivam dos pensadores sofistas, em especial, Protágoras e Górgias. Ao retoricizar os saberes, a discursividade dialógica possibilita a instauração de uma filosofia retórica, que admite o pluralismo e a controvérsia como parte intrínseca da racionalidade. Palavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chave: Perelman, retórica, sofística. Résume Ce travail a l’objectif de mettre en relief l’importance de l’étude des techniques argumentatives dans la formulation de divers types de discours. Alors, nous allons considérer les éléments de persuasion repris par Perelman de la rhétorique ancienne et reformulés selon les situations contemporaines, en soulignant que beaucoup de ces techniques proviennent des penseurs sophistes, particulièrement Protagoras et Gorgias. Au moment de transformer les savoirs em rhétorique, la pensée discursive dialogique rend possible l’instauration d’une philosophie rhétorique, qui admet le pluralisme et la controverse comme partie intrinsèque de la rationalité. Mots-cléMots-cléMots-cléMots-cléMots-clé: Perelman, rhétorique, sophistique. A reabilitação da retórica antiga proposta pela Teoria da Argumentação de Chaïm Perelman (1912-1984) não significa um interesse imediatista pelos discursos persuasivos da retórica. Na verdade, as investigações perelmanianas acerca do estudo das técnicas retórico-argumentativas constituem um des- dobramento natural de sua tese de doutorado (Études sur Gottlob Frege – 1938), dedicada à Lógica Sim- bólica. É com base nas pesquisas sobre os fundamen- tos da Logística moderna que Perelman busca uma justificativa racional para a elaboração de uma lógica dos juízos de valor, que vai encaminhá-lo para o estudo das técnicas argumentativas da retórica antiga. Assim, se num primeiro momento o exame da discursividade retórica – formulada com raciocínios verossímeis e não-formais, a partir de proposições pro- REFLEX8.pmd 3/9/2007, 15:1275 76 R .Y.M . SILV EIR A Reflexão, Campinas, 31(89), p. 75-82, jan./jun., 2006 ArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo váveis e contingentes – pode causar estranheza ao pensamento lógico, observamos que as técnicas dos discursos retóricos passam a ser uma complementação indispensável para a compreensão da lógica, segun- do a Nova Retórica. É especialmente sob influência aristotélica que o Traité de l’Argumentation perelmaniano sustenta o resgate filosófico da retórica clássica, muito embora, devemos salientar, não tenha sido esta a intenção de Aristóteles, em sua obra dedicada ao estudo dos ra- ciocínios retóricos. Acrescente-se ainda que, diante do posterior antagonismo entre a Lógica Clássica da Antigüidade e a Logística moderna, Perelman tam- bém faz questão de assumir a defesa da lógica de Aristóteles, enfatizando a relação mais precisa desta última com a realidade que serve de funda- mento para o seu Tratado. Não devemos esquecer, entretanto, que o confronto entre a lógica aristotélica e o formalismo moderno acarretou para a primeira severas críticas, in- tensificadas em especial pelo desenvolvimento das matemáticas no século XIX, quando lógicos e mate- máticos pretenderam, inspirados no método dos geômetras e em construções algébricas de precisão indiscutível, assegurar a formulação dos raciocínios evidentes, evitando qualquer menção à linguagem natural. Ou seja, a prioridade outorgada à estruturação formal do discurso impediu o uso de nossa linguagem cotidiana, ambígua e incerta, nas construções lógico- -matemáticas. Esta inspiração matemática resultaria, de acordo com a teoria perelmaniana, da profunda influência do racionalismo clássico cartesiano, da cria- ção de um método seguro de conhecimento capaz de vislumbrar a verdade absoluta e imutável, e do conseqüente afastamento das idiossincrasias humanas. É a geometria que fornece a Descartes o modelo destas idéias claras e distintas, destas proposições eternamente verdadei- ras, cuja evidência se impõe a todo ser racional. (...) A deliberação e a discus- são são somente a manifestação da incer- teza, que resulta de um conhecimento im- perfeito; mas essa imperfeição é evitável, na condição de se seguir as regras do mé- todo cartesiano, eliminando a influência da imaginação e das paixões, dos preconcei- tos e das prevenções, da má educação e do mal uso da linguagem, e evitando as fraquezas de nossa memória. (PERELMAN, 1963, p. 95-96) No que diz respeito ao exame das investiga- ções da Logística, observamos que Perelman desta- ca, em sua crítica, que o empenho formalista na busca de um alicerce seguro para a formulação exata do raciocínio requer um evidente rigor conceitual, livre dos equívocos e das ambigüidades da linguagem na- tural, a fim de produzir conclusões inquestionáveis, unívocas e intemporais. Este repúdio à linguagem co- mum é, então, justificado pela exigência de se obe- decer aos cânones normativos estruturais, os quais não podem sofrer alterações. Conforme explica Perelman: Estas prescrições estritas, às quais nenhuma língua natural se amolda, são inspiradas pelo ideal formalista, que gostaria que de qualquer seqüência de signos se pudesse dizer, sem contestação possível, se consti- tui ou não uma expressão significativa (ou seja, bem formada) e, de qualquer seqüên- cia de expressões, se constitui uma prova. (1963, p. 185) Como ciência rigorosa de estruturação do pensamento correto (independente de conteúdos específicos), a lógica busca alcançar a validade uni- versal, utilizando-se de regras unívocas, as quais per- mitem atingir a certeza evidente e, assim, chegar a uma conclusão indiscutível. O ápice desta conclusão inquestionável é a ultrapassagem de toda e qualquer dúvida com relação à estrutura formal do sistema, desprezando as particularidades associadas a conhe- cimentos sem comprovação exata, que não têm com- promisso com uma metodologia que possibilite al- cançar uma verdade plena e imutável. Portanto, a lógica modela sua aplicabilidade com base em prin- cípios racionais rígidos que possam reproduzir e cir- cunscrever expressões absolutas, preliminarmente defi- nidas, para consolidar a validade do sistema formal: REFLEX8.pmd 3/9/2007, 15:1276 77 R ETÓ R IC A A N TIG A E N O V A R ETÓ R IC A : C H A ïM P ER ELM A N E O S SO FISTA S Reflexão, Campinas, 31(89), p. 75-82, jan./jun., 2006 ArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo o formalismo lógico pretende ultrapassar as possibili- dades interpretativas das argumentações dialógicas, empenhando-se, por isso, em elaborar raciocínios vá- lidos, ao abrigo de contextos sócio-históricos, propri- amente humanos. Segundo Perelman, os sistemas formais se apro- priaram da racionalidade e da prerrogativa da cons- trução de raciocínios consistentes e perfeitos, atrelan- do seus elementos constitutivos a um modelo de ra- zão absoluta e intemporal. No entanto, acreditamos que, para além do âmbito do formalismo, existem variados campos do conhecimento onde, com igual rigor, se desenvolve a busca do saber, num espaço- tempo determinado, e que não podem ser rotulados de irracionais apenas por não priorizarem comprova- ções inquestionáveis e por necessitarem, como base, de nossa linguagem natural, mesmo que as conclusões apresentadas sejam sempre provisórias e não refratári- as a dúvidas e questionamentos.Mas, alijar como irracional ou ilógico um raciocínio que não possa ser “cientificamente” comprovado é desconsiderar a pró- pria formulação discursiva, pois toda argumentação pressupõe uma lógica determinada com elementos concatenados entre si, dos quais resulta, sempre, uma conclusão coerente. Não podemos deixar de salien- tar que a racionalidade humana se desenvolve em um meio sócio-político específico e depende da interação discursiva entre os indivíduos – o que impede a restri- ção aos padrões matematizantes e limitados do formalismo. Assim, mais do que ampliar a possibili- dade de comunicação livre, inexistente em uma cons- trução lógico-formal, a discursividade dialógica e re- tórica interfere racional e emotivamente no espírito humano, em um público predisposto a discutir, parti- cipar e interagir com seus semelhantes sobre temas apresentados e contextualmente apreciados, a fim de chegar a conclusões consensuais, sobre as quais se sus- tenta qualquer processo racional. No exame das técnicas dos raciocínios discursivos, a teoria perelmaniana investiga a impor- tância dos discursos no revigoramento de uma razão plural e dinâmica, dando ênfase aos procedimentos argumentativos como base de todo conhecimento. Daí a proposta de se considerar a possibilidade de uma lógica argumentativa, que ultrapasse os limites constringentes da razão formal, para fundar novos pres- supostos no âmbito do saber. Esta lógica, assentada sobre proposições não-formais, se sustenta na matéria do raciocínio argumentativo, nos valores do discurso comunicados pela nossa linguagem. Nesse ponto, vemos a necessidade de explicitar a distinção feita por Perelman entre os ter- mos demonstração e argumentação; isso porque sua teoria estabelece que a demonstração exige a univocidade de seus elementos e se situa no campo de dedução das proposições necessárias, evidentes e absolutas, ao passo que a argumentação, ao contrá- rio, não é constringente nem limitada, pois as discus- sões argumentativas estão sempre em processo, aber- tas à interpretação, e sua construção jamais será previ- amente elaborada. Se a demonstração libertou-se do tempo isolando do contexto um sistema, tentou também libertar-se da influência do tempo sobre os instrumentos utilizados. Todo o seu esforço, no sentido de univocidade, é uma maneira de cristalizar o tempo. O que equivale a dizer que a demonstração se liberta da linguagem. (...) A argumenta- ção, pelo contrário, é essencialmente um ato de comunicação. Implica comunhão de mentes, tomada de consciência comum do mundo, tendo em vista uma ação real; supõe uma linguagem viva, com tudo o que esta comporta de tradição, de ambi- güidade, de permanente evolução. (PERELMAN, 1969, p.49-50) Assim, enquanto a demonstração é rígida e se impõe como única via possível, a argumentação é maleável, flexível, dinâmica, sujeita ao tempo e às situações históricas, que se transformam constantemente. Por isso, o discurso argumentativo só se efetiva através das relações interpessoais, e deixa sempre uma aber- tura para a controvérsia, para a liberdade de pensar. Enquanto o discurso lógico-demonstrativo instaura uma razão unívoca e imutável como fonte de todo saber, a REFLEX8.pmd 3/9/2007, 15:1277 78 R .Y.M . SILV EIR A Reflexão, Campinas, 31(89), p. 75-82, jan./jun., 2006 ArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo racionalidade argumentativa e dialógica necessita da comunhão de mentes, da participação intelectual do interlocutor, de seu assentimento às teses apresenta- das. Entre os conflitantes raciocínios que instituem a razão ou desrazão, Perelman propõe uma terceira via: a via da razoabilidade, dos argumentos capazes de produzir ou modificar situações, dependendo do grau de persuasão e convencimento que se estabelece entre o orador e seu interlocutor. É a partir da apre- sentação da via do razoável, do preferível – pois lidamos com argumentos apenas prováveis – que a Teoria da Argumentação legitima sua proposta de repensar e enriquecer o conceito de racionalidade, introduzindo-a na práxis discursiva. Por isso, é neces- sário reconduzir a razão ao plano dialógico, relacio- nando os discursos retóricos com o questionamento filosófico. Compreendemos então que, diferentemen- te do que asseguravam os antigos fi lósofos contemplativos, a retórica não é estranha ao conheci- mento e à filosofia. Existe, portanto, total pertinência do uso da retórica no discurso filosófico, pois, se o filósofo não é o arauto de uma verdade única, de um discurso monológico que não admite contestação, só lhe resta recorrer a argumentos que possam influenciar e convencer o outro – o auditório – a respeito de suas teses. É preciso que os filósofos exponham discursivamente suas teses perante um auditório abs- trato e idealizado, que não é perceptível e nem está assegurado de antemão, a fim de alcançar a adesão desejada. Daí a recorrência ao discurso argumentativo e retórico, e não à constringência da demonstração formal. É a recuperação da retórica antiga que vai fun- damentar a proposta perelmaniana de apresentar sua teoria como uma outra via possível para o exame da racionalidade contemporânea, porque também a ra- zão grega – e estamos mencionando o século de ouro de Atenas, da democracia participativa – era essen- cialmente uma razão retórica, dinâmica e renovável, que dependia do consenso dos cidadãos da polis. São estas questões que levam Perelman a um mergu- lho na gênese das práticas argumentativas da Grécia Clássica e, mais precisamente, à retórica e ao trata- mento dispensado à palavra: força viva do discurso persuasivo. Mesmo que a Teoria da Argumentação esteja fundamentada no pensamento de Aristóteles, Perelman não deixa de reportar-se freqüentemente aos precursores do estudo das técnicas retóricas de per- suasão e convencimento – os pensadores sofistas, os primeiros a investigar as condições persuasivas dos discursos. As técnicas retóricas dos sofistas, que re- volucionaram o ensino grego, persistem até nossos dias em todos os campos da atividade humana, não obstante o desprezo de seus detratores; por isso, são considerados os criadores de uma nova consciência cultural que se adapta ao contexto sócio-político e atinge intensamente o espírito da juventude ateniense. O nascimento da paidéia grega é o exem- plo e o novo modelo deste axioma capi- tal de toda a educação humana. A sua finalidade era a superação dos privilégios da antiga educação para a qual a areté só era acessível aos que tinham o sangue divi- no. (...) O Estado do século V é assim o ponto de partida histórico necessário do grande movimento educativo que imprime o caráter a este século e ao seguinte, e no qual tem origem a idéia ocidental da cul- tura. (JAEGER, 1995, p.336-337) Ao substituir o antigo ideal de educação da aristocracia, os sofistas criaram condições para um novo modelo se saber, especialmente voltado para a vida social e política da Cidade. Conforme explica Perelman, este seria o ponto central de confronto en- tre os mestres da sofística e seus adversários, já que “representava a oposição entre as duas formas de um ideal de vida, a vida ativa e a vida contemplativa.” (1969, p.219) Ou seja, por serem mestres na arte da linguagem discursiva, os sofistas pretendiam que – para alcançar a areté política – seus ensinamentos fossem especificamente retóricos, vinculando a racionalidade dos discursos à ação e à vida prática, o que, como vimos, se chocava com aqueles opositores que valorizavam a vida contemplativa na busca de REFLEX8.pmd 3/9/2007, 15:1278 79 R ETÓ R IC A A N TIG A E N O V A R ETÓ R IC A : C H A ïM P ER ELM A N E O S SO FISTA S Reflexão, Campinas, 31(89), p. 75-82, jan./jun., 2006 ArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo uma verdade perene. É nesse sentido que haveria um embate entre a ação e a contemplação. Um fato marcante, que também deve ser res- saltado, é que os filósofos sofistas vinham das colôni- as gregas (da mesma maneira que os pré-socráticos), onde se desenvolvia outro tipo de conhecimento in- fluenciadopelos eleatas, bem como o estudo da his- tória, e, por conseguinte, observavam minuciosamen- te, as mudanças e o movimento evolutivo das socie- dades. Além disso, um traço comum entre os sofistas era a oposição entre nomos (a lei, a norma, a con- venção) e physis (a natureza), o que, politicamente, representava uma luta entre a cidadania democrática e a aristocracia, a qual mesmo após a instauração da democracia, não tinha nenhuma simpatia pelas outras classes sociais. Entende-se então que os filósofos so- fistas, ao se posicionarem a favor das convenções sociais, seja no campo da moral, da verdade, ou das religiões, vão situa-se ao lado da democracia e da mutabilidade de valores, que não seriam absolutos nem imutáveis nem tampouco fariam parte de uma natureza pré-determinada ou de uma ordenação divi- na (Cf. GUTHRIE, 1995, p.57). Por serem mes- tres nas técnicas de construção dos discursos persuasi- vos da retórica, os sofistas pretendiam que – para alcançar a areté política – seus ensinamentos vinculas- sem a racionalidade discursiva à ação e à vida práti- ca, o que, mais uma vez, se chocava com aqueles opositores que valorizavam a vida contemplativa na busca de uma verdade perene, ratificando o confron- to entre a filosofia da ação e a filosofia da contempla- ção. Apesar do reconhecido prestígio dos sofistas em sua época, como precursores de um saber integra- do à vida pública, o que vigorou por muitos séculos foi a crítica acirrada dos que combatiam ferozmente os ensinamentos da sofística. Mas nem por isso este ensino foi invalidado, e, mesmo que testemunhos che- gados até nós partam de seus próprios opositores, mestres como Protágoras e Górgias são considerados verdadeiramente como os primeiros mentores das téc- nicas dos discursos argumentativos, sistematizadas por Aristóteles e assimiladas por Perelman. Pensadores da primeira geração dos sofistas, Protágoras e Górgias desempenharam um relevante papel na formação do novo homem na pólis democrática, onde o bom ora- dor seria capaz de exercer com eficácia sua atuação nas discussões da ágora (Cf. JAEGER, 1995, p.340). Considerado o pai da oratória, Protágoras de Abdera (c. 489/485-411a.C.), foi um dos mais célebres sofistas de seu tempo, um dos primeiros profis- sionais da educação voltada para o ensino das técnicas do discurso. De seus ensinamentos ficou-nos o famoso fragmento: “O homem é a medida de to- das as coisas, daquelas que existem, enquanto exis- tem, e daquelas que não existem enquanto não exis- tem.” (Cf. PERELMAN, 1980, p.16). Esta sen- tença, freqüentemente interpretada como um direcionamento à questão do indivíduo, da subjetivi- dade, fez com que alguns o considerassem como sen- do um individualista. Mas, se levarmos em conta a preocupação de Protágoras em integrar o ser humano ao Estado, o homem como medida da existência das coisas pode ser relacionado, ao contrário, ao homem social, inserido na vida pública, o que significa a interação deste homem com os valores de sua socie- dade e, por conseguinte, preconiza uma concepção sociológica do conhecimento (Cf. DUPRÉEL, 1980, p.27). Protágoras foi um jurista e, segundo Perelman, teria sido ele, e não Sócrates, o precursor da moral filosófica, o primeiro a examinar as questões morais fora do campo da religião (Cf. PERELMAN, 1980, p.14). Educador por excelência, Protágoras elege o discurso como o instrumento de ensino, capaz de influenciar e, mesmo, modificar as condições de co- nhecimento do aluno, já que o fundamento do dis- curso repousa sobre uma lógica contextual, vinculada a uma verdade histórica e, portanto, mutável (Cf. DUPRÉEL, 1980, p.27). De suas lições faziam parte os dissoi logoi, isto é, os discursos duplos e opostos, pois, de acordo com o pensador de Abdera, para cada tema existe a possibilidade de se utiliza- rem as antinomias, argumentos reciprocamente conflitantes. Além disso, há também a possibilidade REFLEX8.pmd 3/9/2007, 15:1279 80 R .Y.M . SILV EIR A Reflexão, Campinas, 31(89), p. 75-82, jan./jun., 2006 ArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo da construção de discursos breves, concisos, ou lon- gos, mais detalhados, conforme as circunstâncias, e a habilidade de tornar forte um argumento fraco, quer dizer, fazer com que um discurso inferior (e sem con- sistência) se apresente como superior. Nota-se, en- tão, que o método educacional de Protágoras não consistia apenas na transmissão pura e simples de um conhecimento teórico, mas abrangia a totalidade, ao relacionar a porção intelectual do homem com a sua vida em sociedade, como membro do grupo social, promovendo uma educação ampla que atingisse o espírito, na busca da justiça e do bem comum (Cf. JAEGER, 1995, p.361). Mas é em Górgias (c. 485-380 a.C.) que o poder da palavra alcança toda a plenitude. Para ele, a ciência do discurso é uma arte suprema; por isso, a retórica, a verdadeira filosofia, deve estar aci- ma de todas as artes (Cf. DUPRÉEL, 1980, p.76). Neste aspecto, sua retórica se preocupa com a har- monia entre a forma e o conteúdo das palavras, de- tendo-se especialmente no efeito que estas produ- zem sobre o interlocutor, pois a arte de bem dizer, que influencia e seduz o ouvinte, depende desta jun- ção para estabelecer uma adesão eficaz. O entusias- mo produzido pelo discurso suscita a retomada gorgiana do conceito de kairós – momento certo, tempo favorável – que exprime a oportunidade tem- poral da retórica, unindo, com precisão, o ouvinte aos interesses do orador. A noção de kairós é, assim, indispensável ao discurso retórico, por determinar a circunstância exata, o momento oportuno em que a eficácia dos argumentos se manifesta: é quando a adesão ao tema apresentado se concretiza. Por isso Górgias admite uma ética do kairós, que considera a impossibilidade do estabelecimento rígido de regras morais, e defende uma moral contextualizada, isto é, uma moral da ocasião, pois uma mesma ação pode ser louvável ou condenável, dependendo do momento em que se verifica. A palavra é então definida como um phármakon, um remédio poderoso que cura ou envenena aquele que o ingere (Cf. PLEBE, 1978, p.21), e a persuasão retórica pode não só provocar atitudes e gerar transformações, mas, também, produ- zir efeitos narcotizantes e entorpecedores sobre as pessoas. Retomando a Nova Retórica, devemos desta- car, ainda uma vez, a influência de Aristóteles nas investigações perelmanianas, porque, como sabemos, o Traité de l’Argumentation fundamenta-se na Retóri- ca aristotélica. Porém, isso não significa que Perelman se limite a reproduzir a estrutura desta obra; na verda- de, ele a toma como ponto de partida, para ampliar suas pesquisas sobre as técnicas persuasivas e estendê- las à nossa contemporaneidade. De fato, na reelabo- ração da retórica antiga, a Teoria da Argumentação mantém seus elementos principais: o orador, o audi- tório e o discurso (ethos, pathos, logos) – que cons- tituem as partes fundamentais de toda argumentação retórica. Os discursos da retórica clássica eram essen- cialmente orais e dirigidos à multidão da ágora que, de modo imediato, aprovava ou não as palavras do orador. Atualmente as condições do discurso são bem mais complexas, porque ultrapassam limites não estabelecidos ou sequer imaginados por Aristóteles. Para Perelman, não se pode mais considerar como persuasivo apenas o que se expõe oralmente, pois a Nova Retórica se refere, também, aos textos escritos; os quais, igualmente, usam da persuasão e do con- vencimento para se tornarem eficazes. Com relação ao auditório, a teoria perelmaniana dá pleno destaque ao auditório, que pode ter cinco características: universal, idealizado amplamente, como o auditório do filósofo, por exem- plo; heterogêneo, que corresponde a auditórios de interesses diversos; especializado, quando se refere a grupos de interesses específicos; de um só interlocutor, que se dirige a um único ouvinte; e de deliberação íntima, aquele em que o sujeito delibera consigo mes- mo a respeito de uma decisão a ser tomada. A posição do orador atualnão se limita aos discursos orais, como na Antigüidade; ele é aquele que fala e escreve, pois, como vimos, a persuasão se encontra também nos textos escritos. Mas, segundo Perelman, este orador está em posição mais modesta: REFLEX8.pmd 3/9/2007, 15:1280 81 R ETÓ R IC A A N TIG A E N O V A R ETÓ R IC A : C H A ïM P ER ELM A N E O S SO FISTA S Reflexão, Campinas, 31(89), p. 75-82, jan./jun., 2006 ArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo ele depende de seu auditório, já que a prática argumentativa é dialógica e só se efetiva com a parti- cipação do outro (mesmo que este outro seja o pró- prio sujeito). Desse modo, a superioridade do ora- dor é apenas aparente e só existe em função da con- cordância de seu público. Na verdade, é o auditó- rio que ocupa o papel central na argumentação retó- rica: basta que ele se negue a apreciar o discurso do orador para destruir qualquer possibilidade de argu- mentação (Cf. PERELMAN, 1958, p. 18-34). A Teoria da Argumentação conserva ainda a designação dos gêneros da retórica aristotélica: o deliberativo que diz respeito ao aconselhamento, a decisões particulares ou públicas, e se associa ao futu- ro; o judiciário, ligado à acusação e à defesa, à lega- lidade ou não de certos atos, e faz parte do já vivi- do, do passado; e o gênero demonstrativo ou epidítico, que objetiva o elogio e a censura, relacio- nando-se, por isso, com o presente. O destaque dado à temporalidade vem confirmar a estruturação de um tempo retórico; quer dizer, os discursos retóricos su- peram o imediatismo, o aqui e agora, e apontam para a necessidade de um vínculo historicamente determi- nado. Existem ainda variadas provas, lugares, tipos de raciocínio, relacionados à construção dos discur- sos persuasivos sistematizados por Aristóteles e complementados por Perelman, mas é importante res- saltar que há também uma diferença considerável en- tre ambos, especialmente naquilo que constitui a base da pesquisa perelmaniana: os valores. Enquanto Aristóteles deixa claro, em sua Retórica, que não pre- tende se posicionar com relação aos juízos de valor contidos na persuasão, Perelman sustenta que os va- lores são o fundamento de toda argumentação, indis- pensáveis até mesmo no campo da investigação dos saberes (Cf. PERELMAN, 1958, p.99). A valoração pertence ao campo do preferível, do pro- vável e, para se chegar a um consenso, é necessário que a argumentação exerça sobre o auditório uma função conciliadora, capaz de assimilar e difundir valores comuns. A deliberação sobre os juízos de valor, que nos leva a explicar nossa opção por algo, pressupõe a liberdade de escolha – de aceitar ou recusar certas normas ou regras (os nomoi) – para, argumentativa- mente, buscar convencer o outro a respeito das teses apresentadas. Nos julgamentos de valor os conteú- dos são decisivos para se alcançar o assentimento desejado, o que comprova a inseparabilidade entre a forma e a matéria do discurso proposta pela Nova Retórica, e nos remete, ainda uma vez, ao estudo das técnicas persuasivas dos sofistas. De acordo com Perelman, quando se trata de valores, os raciocínios lógico-demonstrativos são insuficientes para nos dar uma resposta, pois não é possível explicar formalmen- te nossa preferência pelo bem, pela justiça. Ao deli- berar sobre um modo de proceder, sobre uma tomada de posição, as decisões só podem ser justificadas por intermédio de processos argumentativos e retóricos, que nos permitem racionalizar, discutir e questionar valores para os quais não existem critérios unívocos de opção. Conforme diz Perelman, um auditório não é uma tabula rasa, e já traz consigo os elementos de sua cultura e tradição, admitindo certos fatos e valores que não podem ser desconsiderados pelo ora- dor (1963, p.100). Ora, se a atividade retórica se identifica com a prática argumentativa contextualizada, podemos considerar que todo discurso é retórico, desde que não seja regulado pelo formalismo e nem se proclame detentor de uma verdade intemporal. Mas foi exa- tamente o desprezo pelas técnicas retóricas, orques- trado por alguns filósofos antigos, que causou danos quase irreparáveis ao seu estudo. Acusada de trans- mitir um conhecimento superficial e dúbio, a retórica se viu alijada do âmbito filosófico e reduzida a uma simples parte da gramática: o estudo das figuras estilísticas. Todavia, considerando o discurso retórico como processo argumentativo que busca a concor- dância e a adesão do outro, torna-se legítima a aspi- ração da retórica de fazer parte da filosofia, pois as teses filosóficas não podem ser formuladas por axio- mas. Mesmo que Perelman não tenha desenvolvido suas investigações com base nos estudos da sofística, observamos que a ênfase dada aos valores e à mutabilidade da razão o aproxima daqueles pensa- dores – cujas pesquisas mantêm uma atualidade sur- REFLEX8.pmd 3/9/2007, 15:1281 82 R .Y.M . SILV EIR A Reflexão, Campinas, 31(89), p. 75-82, jan./jun., 2006 ArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo preendente. A recuperação das técnicas retóricas nos mostra, assim, o poder do discurso como capacida- de de expor o pensamento, de ordenar e refletir, de divulgar e transmitir o conhecimento, os costumes e as tradições da sociedade. Enfim, é o discurso que propicia o relacionamento humano e a conseqüente transformação do mundo; entretanto, ao mesmo tem- po em que pode promover o advento de uma socie- dade harmônica, pode também ser construído visan- do a interesses particulares, econômicos ou ideológi- cos, num processo manipulador de mascaramento da realidade. Referências Bibliográficas ARISTOTE. Rhétorique. Trad. Charles Émile Ruelle. Paris: Librairie Générale Française, 1991. DUPRÉEL, Eugène. Les Sophistes. Neuchâtel: Éditions du Griffon, 1980. GUTHRIE, W.K. C. Os Sofistas. Trad. João Rezende Costa. São Paulo: Paulus, 1995. JAEGER, Werner. Paidéia – A Formação do Homem Grego. Trad. Artur M. Parreira. São Paulo: Martins Fontes, 1995. MOSSÉ, Claude. Atenas – A História de uma Democracia. Trad. João Batista da Costa. Brasília: UnB, 1997. PERELMAN, Chaïm & OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Traité de l’Argumentation. Paris: PUF, 1958. Justice et Raison. Bruxelles: Presses Universitaires de Bruxelles, 1963. Le Champ de l’Argumentation. Bruxelles: Presses Universitaires de Bruxelles, 1969. Introduction Histor ique à la Philosophie Morale. Bruxelles: Presses Universitaires de Bruxelles, 1980. PLEBE, Armando. Breve Histórico da Retórica Antiga. Trad. Gilda Naécia M. Barros. São Paulo: EDUSP, 1978. REFLEX8.pmd 3/9/2007, 15:1282 << /ASCII85EncodePages false /AllowTransparency false /AutoPositionEPSFiles false /AutoRotatePages /None /Binding /Left /CalGrayProfile (Gray Gamma 1.8) /CalRGBProfile (None) /CalCMYKProfile (U.S. Sheetfed Uncoated v2) /sRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1) /CannotEmbedFontPolicy /Error /CompatibilityLevel 1.3 /CompressObjects /Off /CompressPages true /ConvertImagesToIndexed true /PassThroughJPEGImages true /CreateJDFFile false /CreateJobTicket false /DefaultRenderingIntent /Default /DetectBlends false /ColorConversionStrategy /LeaveColorUnchanged /DoThumbnails false /EmbedAllFonts true /EmbedJobOptions true /DSCReportingLevel 0 /SyntheticBoldness 1.00 /EmitDSCWarnings false /EndPage -1 /ImageMemory 1048576 /LockDistillerParams true /MaxSubsetPct 100 /Optimize false /OPM 0 /ParseDSCComments true /ParseDSCCommentsForDocInfo true /PreserveCopyPage true /PreserveEPSInfo false /PreserveHalftoneInfo false /PreserveOPIComments false /PreserveOverprintSettings true /StartPage 1 /SubsetFonts false /TransferFunctionInfo /Remove /UCRandBGInfo /Remove /UsePrologue false /ColorSettingsFile (Color Management Off) /AlwaysEmbed [ true /Arial-Black /Arial-BoldItalicMT /Arial-BoldMT /Arial-ItalicMT /ArialMT /Courier /Courier-Bold /Courier-BoldOblique /CourierNewPS-BoldItalicMT /CourierNewPS-BoldMT /CourierNewPS-ItalicMT /CourierNewPSMT /Helvetica/Helvetica-Bold /Helvetica-BoldOblique /Helvetica-Narrow /Helvetica-Narrow-Bold /Helvetica-Narrow-BoldOblique /Helvetica-Narrow-Oblique /Helvetica-Oblique /Times-Bold /Times-BoldItalic /Times-Italic /TimesNewRomanPS-BoldItalicMT /TimesNewRomanPS-BoldMT /TimesNewRomanPS-ItalicMT /TimesNewRomanPSMT /Times-Roman ] /NeverEmbed [ true ] /AntiAliasColorImages false /DownsampleColorImages true /ColorImageDownsampleType /Bicubic /ColorImageResolution 300 /ColorImageDepth -1 /ColorImageDownsampleThreshold 1.00000 /EncodeColorImages true /ColorImageFilter /DCTEncode /AutoFilterColorImages false /ColorImageAutoFilterStrategy /JPEG /ColorACSImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /ColorImageDict << /QFactor 0.40 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /JPEG2000ColorACSImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /JPEG2000ColorImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /AntiAliasGrayImages false /DownsampleGrayImages true /GrayImageDownsampleType /Bicubic /GrayImageResolution 300 /GrayImageDepth -1 /GrayImageDownsampleThreshold 1.00000 /EncodeGrayImages true /GrayImageFilter /DCTEncode /AutoFilterGrayImages false /GrayImageAutoFilterStrategy /JPEG /GrayACSImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /GrayImageDict << /QFactor 0.40 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /JPEG2000GrayACSImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /JPEG2000GrayImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /AntiAliasMonoImages false /DownsampleMonoImages true /MonoImageDownsampleType /Bicubic /MonoImageResolution 1200 /MonoImageDepth -1 /MonoImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeMonoImages true /MonoImageFilter /CCITTFaxEncode /MonoImageDict << /K -1 >> /AllowPSXObjects false /PDFX1aCheck true /PDFX3Check false /PDFXCompliantPDFOnly false /PDFXNoTrimBoxError true /PDFXTrimBoxToMediaBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXSetBleedBoxToMediaBox true /PDFXBleedBoxToTrimBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXOutputIntentProfile (Qualquer texto) /PDFXOutputCondition () /PDFXRegistryName () /PDFXTrapped /False /Description << /DEU <FEFF00560065007200770065006e00640065006e0020005300690065002000640069006500730065002000450069006e007300740065006c006c0075006e00670065006e002c00200075006d002000650069006e0065006e00200042006500720069006300680074002000fc00620065007200200064006900650020005000440046002f0058002d00310061002d004b006f006d007000610074006900620069006c0069007400e4007400200065007200680061006c00740065006e00200075006e00640020005000440046002d0044006f006b0075006d0065006e007400650020006e00750072002000640061006e006e0020007a0075002000650072007300740065006c006c0065006e002c002000770065006e006e0020007300690065002000fc0062006500720020006400690065007300650020004b006f006d007000610074006900620069006c0069007400e400740020007600650072006600fc00670065006e002e0020005000440046002f00580020006900730074002000650069006e0065002000490053004f002d004e006f0072006d0020007a0075006d002000410075007300740061007500730063006800200076006f006e0020006400690067006900740061006c0065006e00200044007200750063006b0076006f0072006c006100670065006e002e0020005700650069007400650072006500200049006e0066006f0072006d006100740069006f006e0065006e0020007a0075006d002000450072007300740065006c006c0065006e00200076006f006e0020005000440046002f0058002d00310061002d006b006f006d00700061007400690062006c0065006e0020005000440046002d0044006f006b0075006d0065006e00740065006e002000660069006e00640065006e002000530069006500200069006d0020004100630072006f006200610074002d00480061006e00640062007500630068002e00200044006900650020005000440046002d0044006f006b0075006d0065006e007400650020006b00f6006e006e0065006e0020006d006900740020004100630072006f0062006100740020006f0064006500720020006d00690074002000640065006d002000520065006100640065007200200034002e003000200075006e00640020006800f600680065007200200067006500f600660066006e00650074002000770065007200640065006e002e> /FRA <FEFF004f007000740069006f006e00730020007000650072006d0065007400740061006e007400200064002700e900760061006c0075006500720020006c006100200063006f006e0066006f0072006d0069007400e9002000e00020006c00610020006e006f0072006d00650020005000440046002f0058002d0031006100200065007400200064006500200063006f006e0064006900740069006f006e006e006500720020006c0061002000700072006f00640075006300740069006f006e00200064006500200064006f00630075006d0065006e007400730020005000440046002000e000200063006500740074006500200063006f006e0066006f0072006d0069007400e9002e0020005000440046002f0058002000650073007400200075006e00650020006e006f0072006d0065002000490053004f00200064002700e9006300680061006e0067006500200064006500200063006f006e00740065006e00750020006700720061007000680069007100750065002e00200050006f0075007200200065006e0020007300610076006f0069007200200070006c0075007300200073007500720020006c006100200063007200e9006100740069006f006e00200064006500200064006f00630075006d0065006e00740073002000500044004600200063006f006e0066006f0072006d00650073002000e00020005000440046002f0058002d00310061002c00200063006f006e00730075006c00740065007a0020006c00650020004700750069006400650020006400650020006c0027007500740069006c0069007300610074006500750072002000640027004100630072006f006200610074002e00200049006c002000650073007400200070006f0073007300690062006c0065002000640027006f00750076007200690072002000630065007300200064006f00630075006d0065006e007400730020005000440046002000640061006e00730020004100630072006f0062006100740020006500740020005200650061006400650072002c002000760065007200730069006f006e00200034002e00300020006f007500200075006c007400e9007200690065007500720065002e> /JPN <FEFF005000440046002f0058002d0031006100206e9662e0306e30ec30dd30fc30c87528304a30883073658766f84f5c62107528306b4f7f75283057307e30593002005000440046002f00580020306f30b030e930d530a330c330af002030b330f330c630f330c4590963db306b304a3051308b002000490053004f00206a196e96306730593002005000440046002f0058002d0031006100206e9662e0306e658766f84f5c6210306b306430443066306f0020004100630072006f006200610074002030e630fc30b630ac30a430c9309253c2716730573066304f30603055304430024f5c62103057305f00200050004400460020306f0020004100630072006f0062006100740020304a30883073002000520065006100640065007200200034002e003000204ee5964d30678868793a3067304d307e30593002> /DAN <FEFF004200720075006700200064006900730073006500200069006e0064007300740069006c006c0069006e006700650072002000740069006c00200061007400200072006100700070006f007200740065007200650020006f006d0020006f0076006500720068006f006c00640065006c007300650020006100660020005000440046002f0058002d003100610020006f00670020006b0075006e002000700072006f0064007500630065007200650020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e007400650072002c002000680076006900730020006400650020006f0076006500720068006f006c0064006500720020007300740061006e00640061007200640065006e002e0020005000440046002f005800200065007200200065006e002000490053004f002d007300740061006e0064006100720064002000740069006c00200075006400760065006b0073006c0069006e0067002000610066002000670072006100660069006b0069006e00640068006f006c0064002e00200059006400650072006c006900670065007200650020006f0070006c00790073006e0069006e0067006500720020006f006d0020006f007000720065007400740065006c007300650020006100660020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e007400650072002c00200064006500720020006f0076006500720068006f006c0064006500720020005000440046002f0058002d00310061002c002000660069006e00640065007200200064007500200069002000620072007500670065007200760065006a006c00650064006e0069006e00670065006e002000740069006c0020004100630072006f006200610074002e0020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e007400650072006e00650020006b0061006e002000e50062006e006500730020006d006500640020004100630072006f0062006100740020006f0067002000520065006100640065007200200034002e00300020006f00670020006e0079006500720065002e>/NLD <FEFF004700650062007200750069006b002000640065007a006500200069006e007300740065006c006c0069006e00670065006e0020006f006d00200064006500200063006f006d007000610074006900620069006c006900740065006900740020006d006500740020005000440046002f0058002d0031006100200074006500200063006f006e00740072006f006c006500720065006e00200065006e00200061006c006c00650065006e0020005000440046002d0064006f00630075006d0065006e00740065006e002000740065002000700072006f006400750063006500720065006e002000640069006500200063006f006d007000610074006900620065006c0020007a0069006a006e002e0020005000440046002f0058002000690073002000650065006e002000490053004f002d007300740061006e0064006100610072006400200076006f006f00720020006800650074002000750069007400770069007300730065006c0065006e002000760061006e002000670072006100660069007300630068006500200069006e0068006f00750064002e002000520061006100640070006c0065006500670020006400650020006700650062007200750069006b00650072007300680061006e0064006c0065006900640069006e0067002000760061006e0020004100630072006f00620061007400200076006f006f00720020006d00650065007200200069006e0066006f0072006d00610074006900650020006f00760065007200200068006500740020006d0061006b0065006e002000760061006e0020005000440046002d0064006f00630075006d0065006e00740065006e002000640069006500200063006f006d007000610074006900620065006c0020007a0069006a006e0020006d006500740020005000440046002f0058002d00310061002e0020004400650020005000440046002d0064006f00630075006d0065006e00740065006e0020006b0075006e006e0065006e00200077006f007200640065006e002000670065006f00700065006e00640020006d006500740020004100630072006f00620061007400200065006e002000520065006100640065007200200034002e003000200065006e00200068006f006700650072002e> /ESP <FEFF0055007300650020006500730074006100730020006f007000630069006f006e00650073002000700061007200610020007200650061006c0069007a0061007200200075006e00200069006e0066006f0072006d006500200073006f0062007200650020006c006100200063006f006d007000610074006900620069006c006900640061006400200063006f006e0020005000440046002f0058002d0031006100200079002000670065006e006500720061007200200064006f00630075006d0065006e0074006f007300200050004400460020007300f3006c006f00200073006900200073006f006e00200063006f006d00700061007400690062006c00650073002e0020005000440046002f005800200065007300200075006e002000650073007400e1006e006400610072002000490053004f0020007000610072006100200065006c00200069006e00740065007200630061006d00620069006f00200064006500200063006f006e00740065006e00690064006f00200067007200e1006600690063006f002e002000500061007200610020006f006200740065006e006500720020006d00e1007300200069006e0066006f0072006d00610063006900f3006e00200061006300650072006300610020006400650020006300f3006d006f00200063007200650061007200200064006f00630075006d0065006e0074006f0073002000500044004600200063006f006d00700061007400690062006c0065007300200063006f006e0020005000440046002f0058002d00310061002c00200063006f006e00730075006c007400650020006c006100200047007500ed0061002000640065006c0020007500730075006100720069006f0020006400650020004100630072006f006200610074002e0020004c006f007300200064006f00630075006d0065006e0074006f00730020005000440046002000730065002000700075006500640065006e00200061006200720069007200200063006f006e0020004100630072006f00620061007400200079002000520065006100640065007200200034002e003000200079002000760065007200730069006f006e0065007300200070006f00730074006500720069006f007200650073002e> /SUO <FEFF004e00e4006900640065006e002000610073006500740075007300740065006e0020006100760075006c006c006100200076006f006900740020006d00e400e4007200690074007400e400e40020005000440046002f0058002d00310061002d00790068007400650065006e0073006f0070006900760075007500640065006e0020006a00610020006c0075006f00640061002000730065006e0020006d0075006b006100690073006900610020005000440046002d0061007300690061006b00690072006a006f006a0061002e0020005000440046002f00580020006f006e002000490053004f002d007300740061006e006400610072006400690073006f006900740075002000670072006100610066006900730065006e002000730069007300e4006c006c00f6006e0020006500730069007400790073006d0075006f0074006f002e0020004c0069007300e40074006900650074006f006a00610020005000440046002f0058002d00310061002d00790068007400650065006e0073006f00700069007600690065006e0020005000440046002d0061007300690061006b00690072006a006f006a0065006e0020006c0075006f006e006e00690073007400610020006f006e002000410064006f006200650020004100630072006f0062006100740020002d006b00e400790074007400f6006f0070007000610061007300730061002e0020005000440046002d0061007300690061006b00690072006a0061007400200076006f0069006400610061006e0020006100760061007400610020004100630072006f006200610074002d0020006a0061002000520065006100640065007200200034002e00300020002d006f0068006a0065006c006d0061006c006c0061002000740061006900200075007500640065006d006d0061006c006c0061002000760065007200730069006f006c006c0061002e> /ITA <FEFF00550073006100720065002000710075006500730074006500200069006d0070006f007300740061007a0069006f006e00690020007000650072002000760065007200690066006900630061007200650020006c006100200063006f006e0066006f0072006d0069007400e0002000610020005000440046002f0058002d0031006100200065002000630072006500610072006500200064006f00630075006d0065006e00740069002000500044004600200073006f006c006f00200069006e0020006300610073006f00200064006900200063006f006e0066006f0072006d0069007400e0002e0020005000440046002f0058002000e800200075006e006f0020007300740061006e0064006100720064002000490053004f00200070006500720020006c006f0020007300630061006d00620069006f00200064006900200063006f006e00740065006e00750074006f0020006700720061006600690063006f002e002000500065007200200075006c0074006500720069006f0072006900200069006e0066006f0072006d0061007a0069006f006e0069002000730075006c006c006100200063007200650061007a0069006f006e006500200064006900200064006f00630075006d0065006e00740069002000500044004600200063006f006e0066006f0072006d0069002000610020005000440046002f0058002d00310061002c00200063006f006e00730075006c00740061007200650020006c0061002000470075006900640061002000640065006c006c0027007500740065006e007400650020006400690020004100630072006f006200610074002e0020004900200064006f00630075006d0065006e00740069002000500044004600200070006f00730073006f006e006f0020006500730073006500720065002000610070006500720074006900200063006f006e0020004100630072006f00620061007400200065002000520065006100640065007200200034002e003000200065002000760065007200730069006f006e006900200073007500630063006500730073006900760065002e> /NOR <FEFF004200720075006b00200064006900730073006500200069006e006e007300740069006c006c0069006e00670065006e0065002000740069006c002000e500200072006100700070006f007200740065007200650020006f006d0020005000440046002f0058002d00310061002d006b006f006d007000610074006900620069006c00690074006500740020006f00670020006c0061006700650020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e00740065007200200062006100720065002000680076006900730020006b006f006d007000610074006900620065006c002e0020005000440046002f005800200065007200200065006e002000490053004f002d007300740061006e006400610072006400200066006f00720020006700720061006600690073006b00200069006e006e0068006f006c006400730075007400760065006b0073006c0069006e0067002e00200048007600690073002000640075002000760069006c0020006800610020006d0065007200200069006e0066006f0072006d00610073006a006f006e0020006f006d002000680076006f007200640061006e0020006400750020006f007000700072006500740074006500720020005000440046002f0058002d00310061002d006b006f006d00700061007400690062006c00650020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e007400650072002c0020006b0061006e002000640075002000730065002000690020006200720075006b00650072006800e5006e00640062006f006b0065006e00200066006f00720020004100630072006f006200610074002e0020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e0074006500720020006b0061006e002000e50070006e006500730020006d006500640020004100630072006f0062006100740020006f0067002000520065006100640065007200200034002e00300020006f0067002000730065006e006500720065002e> /SVE <FEFF0041006e007600e4006e006400200065006e00640061007300740020006400650020006800e4007200200069006e0073007400e4006c006c006e0069006e006700610072006e00610020006e00e40072002000640075002000760069006c006c00200072006100700070006f007200740065007200610020006f006d0020005000440046002f0058002d00310061002d007300740061006e00640061007200640020006f0063006800200073006b0061007000610020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e007400200073006f006d0020006600f6006c006a00650072002000640065006e006e00610020007300740061006e0064006100720064002e0020005000440046002f0058002000e4007200200065006e002000490053004f002d007300740061006e00640061007200640020006600f6007200200075007400620079007400650020006100760020006700720061006600690073006b007400200069006e006e0065006800e5006c006c002e0020004d0065007200200069006e0066006f0072006d006100740069006f006e0020006f006d002000680075007200200064007500200073006b00610070006100720020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e007400200073006f006d0020006600f6006c006a006500720020005000440046002f0058002d0031006100200068006900740074006100720020006400750020006900200061006e007600e4006e00640061007200680061006e00640062006f006b0065006e0020006600f600720020004100630072006f006200610074002e0020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e00740065006e0020006b0061006e002000f600700070006e006100730020006d006500640020004100630072006f0062006100740020006f00630068002000520065006100640065007200200034002e003000200065006c006c00650072002000730065006e006100720065002e>/ENU <FEFF005500730065002000740068006500730065002000730065007400740069006e0067007300200074006f0020007200650070006f007200740020006f006e0020005000440046002f0058002d0031006100200063006f006d0070006c00690061006e0063006500200061006e0064002000700072006f0064007500630065002000500044004600200064006f00630075006d0065006e007400730020006f006e006c007900200069006600200063006f006d0070006c00690061006e0074002e0020005000440046002f005800200069007300200061006e002000490053004f0020007300740061006e006400610072006400200066006f00720020006700720061007000680069006300200063006f006e00740065006e0074002000650078006300680061006e00670065002e00200046006f00720020006d006f0072006500200069006e0066006f0072006d006100740069006f006e0020006f006e0020006300720065006100740069006e00670020005000440046002f0058002d0031006100200063006f006d0070006c00690061006e0074002000500044004600200064006f00630075006d0065006e00740073002c00200070006c006500610073006500200072006500660065007200200074006f00200074006800650020004100630072006f00620061007400200055007300650072002000470075006900640065002e0020005400680065002000500044004600200064006f00630075006d0065006e00740073002000630061006e0020006200650020006f00700065006e00650064002000770069007400680020004100630072006f00620061007400200061006e0064002000520065006100640065007200200034002e003000200061006e00640020006c0061007400650072002e> /PTB <FEFF005500740069006c0069007a006500200065007300740061007300200063006f006e00660069006700750072006100e700f5006500730020007000610072006100200063007200690061007200200064006f00630075006d0065006e0074006f007300200050004400460020006500200065006d0069007400690072002000720065006c0061007400f300720069006f007300200073006f00620072006500200063006f006e0066006f0072006d0069006400610064006500200063006f006d0020006f0020005000440046002f0058002d00310061002e0020005000440046002f0058002000e900200075006d0020007000610064007200e3006f002000640061002000490053004f00200070006100720061002000740072006f0063006100200064006500200063006f006e0074006500fa0064006f00200067007200e1006600690063006f002e002000500061007200610020006f00620074006500720020006d00610069007300200069006e0066006f0072006d006100e700f50065007300200073006f00620072006500200063006f006d006f00200063007200690061007200200064006f00630075006d0065006e0074006f0073002000500044004600200065006d00200063006f006e0066006f0072006d0069006400610064006500200063006f006d0020006f0020005000440046002f0058002d00310061002c00200063006f006e00730075006c007400650020006f0020004700750069006100200064006f002000550073007500e100720069006f00200064006f0020004100630072006f006200610074002e0020004f007300200064006f00630075006d0065006e0074006f0073002000500044004600200070006f00640065006d0020007300650072002000610062006500720074006f007300200063006f006d0020006f0020004100630072006f006200610074002c002000520065006100640065007200200034002e00300020006500200070006f00730074006500720069006f0072002e> >> >> setdistillerparams << /HWResolution [2400 2400] /PageSize [595.276 765.354] >> setpagedevice
Compartilhar