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Tipos de argumentos Prof. Dra. Mariana De-Lazzari 1. ARGUMENTO PRÓ-TESE É aquele que utiliza a razoabilidade e a coerência como fundamento de validade, ou seja, o argumento pró-tese é aquele que desenvolve uma explicação razoável para determinada questão relevante ao raciocínio argumentativo. TESE (O QUÊ?) + PORQUE (JUSTIFICATIVA) + E TAMBÉM (FATO 1) + ALÉM DISSO (FATO 2) Ex.: A atriz Maitê Proença aciona judicialmente a indústria química Schering do Brasil em R$ 800 mil reais, PORQUE teve sua imagem arranhada quando divulga em campanha publicitária um produto com diversas reclamações, E TAMBÉM justifica o valor exigido em indenização de acordo com o poder econômico do ofensor, que faturava no produto divulgado por ela e que resgatou a confiança das mulheres frente ao anticoncepcional que estava desacreditado no mercado, R$ 1, 6 milhões, mensalmente. ALÉM DISSO, irregularidades continuaram o que fez a autora pedir da empresa retratação pública uma vez que foi escolhida para divulgação pela sua reputação, seriedade e simpatia junto ao público feminino. 2. ARGUMENTO DE AUTORIDADE O argumento de autoridade, como a própria nomenclatura sugere, é aquele que invoca o prestigio dos atos ou juízos de determinada pessoa ou grupo a partir do qual a afirmação ganha relevância. Importante identificar quem são as pessoas ou os grupos de onde provém a fala da autoridade. Não há dúvidas de que a lição de um profissional conhecido e reconhecido em determinada disciplina - um psicólogo para tratar de questões ligadas à personalidade; um médico para opinar sobre uma patologia; um historiador para avaliar as consequências de um dado evento de grande relevância para a sociedade de uma época, etc. - possui grande valor. Portanto, a doutrina, a opinião fundamentada de especialistas em geral e a legislação podem ser utilizadas como fundamentos relevantes na redação de argumentos de autoridade. Ainda sobre a doutrina, seu papel é exatamente o de trazer legitimidade ao que se está defendendo. É uma maneira de se dizer que algum jurista, cuja autoridade já foi reconhecida pela maioria, pensa como você e que, por isso, sua tese deve ser acolhida. É fundamental tomar cuidado, entretanto, com uma postura cada vez mais comum na prática forense: alguns operadores do Direito se iludem com a ideia de que a simples referência a um dispositivo legal já caracteriza a fundamentação de uma tese pelo argumento de autoridade. Isso não é verdade. Não bastaria, portanto, em dada fundamentação, dizer que “o que se verifica, no caso em análise, é a verificação da carência de ação por parte do autor, conforme dispõe o CPC”. Fica evidente que há uma tese aqui sustentada, mas não há argumentos que garantam a existência da “carência de ação”. Melhor seria se o parágrafo argumentativo por autoridade fosse assim redigido: O que se comprova, no caso em análise, é a verificação da carência de ação (art. 330, inciso III do CPC) por parte do autor, em virtude da ausência do chamado interesse de agir, condição indispensável para o regular exercício do direito de ação, uma vez que o autor nunca teve a posse efetiva da área, objeto do litígio. Isso impede que o seu pedido seja possessório. 3. ARGUMENTO DE OPOSIÇÃO É consabido que todo profissional do Direito, quando argumenta, sabe que seu ponto de vista será contraposto por outro profissional que atua no polo adverso. O contraditório é uma realidade a ser enfrentada pelo argumentador na prática forense. Nesse sentido, tentar prever alguns valores ou argumentos a serem utilizados pela outra parte ao longo da busca da solução jurisdicional para o conflito pode ser uma estratégia discursiva bastante útil, pois ao mesmo tempo em que o advogado argumenta a favor de sua tese, já conseguiria também mostrar que outra possibilidade de compreender os fatos - a do seu adversário - seria incompatível com a razoabilidade, como no exemplo hipotético a seguir: No presente caso inexiste relação de consumo, ao contrário do que alega a empresa Autora. Não se ignora que a lei consumerista também respalda a Pessoa Jurídica como consumidora (art. 2º CDC), mas preconiza como pressuposto que consumidor é todo aquele que utiliza produto ou serviço como destinatário final, o que aqui não se vislumbra. Fonte: Cavaliere Fetzner; Tavares Jr., Valverde (2008, p. 115). 4. ARGUMENTO DE ANALOGIA Analogia é o procedimento por meio do qual se pode estabelecer uma relação de semelhança entre coisas diversas. Recorrer à analogia significa fazer uma espécie de comparação entre os termos em questão. Observa-se também o raciocínio usado no parágrafo abaixo, quando se quer, por exemplo, sustentar que a Constituição da República Federativa do Brasil exerce sobre seus cidadãos poder soberano: A Constituição protege os direitos fundamentais dos seus cidadãos e estabelece as normas de estruturação e organização do Estado, assim como a Bíblia reúne as orientações de Deus ao homem para que este viva em paz e seja feliz junto a seus pares. Ora, se as orientações da Bíblia são soberanas em decorrência de quem as inspirou, por analogia, essa característica - soberania - passa a Constituição da Republica, por consequência da aproximação sugerida na argumentação. . 5. ARGUMENTO DE CAUSA E EFEITO Relaciona conceitos de causalidade e efeito com o objetivo de evidenciar as consequências imediatas de determinado ato (retirado das provas) praticado pelas partes. Ex.: Já que a vítima não possui automóvel e trabalha até tarde como vendedora em um shopping, que fica a uma hora e meia de sua casa, não poderia ela deixar de passar por tal lugar o qual, apesar de ermo, é caminho obrigatório para ela. 6. ARGUMENTO DE SENSO COMUM É o argumento que traz uma afirmação que representa consenso geral, incontestável. Este argumento é muito bem recebido quando funciona como reforço de outros argumentos. E por essa razão que sugerimos associar, na abordagem dos temas polêmicos, o argumento de autoridade e o argumento de senso comum. Os dois juntos promovem a condição de validade desejada para a norma (vigência + eficácia). Há, ainda, casos em que a responsabilidade civil fica pouco clara na relação jurídica. A noção de dever de cuidado tão bem explicada pelo Desembargador Sérgio Cavalieri Filho seria, portanto, bem argumentada pela causa e efeito e reforçada pelo senso comum, que valida a conduta cuidadosa e responsável a ser adotada pelo homem médio (CAVALIERE FETZNER; TAVARES JR.; VALVERDE, 2008, p. 128). 7. ARGUMENTO AD HOMINEM Foi demonstrado que o argumento de autoridade invoca o prestígio de uma determinada pessoa ou grupo a partir do qual sua afirmação ganha relevância. O argumento ad hominem, de forma diametralmente oposta, consiste no ataque a uma pessoa cujas ideias, argumentos ou depoimentos pretende desqualificar. Ao invés de se enfrentar o argumento do adversário, ataca-se a pessoa do adversário. Ataca-se o homem e não a ideia. Ex.: O Ministro Joaquim Barbosa, em sessão no Supremo, atacou o Ministro Gilmar Mendes quando disse que ele não tem condições de lhe dar lições de moral, já que conquistou sua condição de prestígio usando capangas cm sua cidade de origem e fazendo uso político da mídia, o que estava destruindo a credibilidade do STF. Fecha seu raciocínio recorrendo ao senso comum: “Saia à rua, Ministro Gilmar, e constate o que as pessoas dizem a vosso respeito”. 8. ARGUMENTO A FORTIORI É aquele que estabelece uma relação entre dois eventos, de maneira a orientar a conduta de um baseada no parâmetro estabelecido pelo outro. O argumento a fortiori pode sempre ser resumido numa fórmula como esta: se a solução X é adequada para o caso Y, com maior razão deve ser também adequada para o caso Z, que é uma forma mais grave (ou mais evidente, ou mais ampla, ou mais intensa,ou maior) de X. Ex.: Se a lei exige dos Promotores de Justiça que nas denúncias discriminem as ações de cada um dos acusados, com mais razão (a fortiori) se deve exigir que o Magistrado as individualize na sentença. 9. ARGUMENTO POR ABSURDO É aquele que não apenas mostra que o argumentador está certo, mas também que o advogado da parte contrária está errado. Trata-se de demonstrar a falsidade de uma afirmação ou a invalidade de uma ideia evidenciando que seus efeitos ou desdobramentos contradizem essa mesma ideia, ou conduzem ao impossível, ao inadmissível. Portanto, o argumento pelo absurdo aceita, provisoriamente, a tese que se quer combater, e desenvolve-a até conseguir demonstrar seus efeitos absurdos. No campo hermenêutico, usa-se o argumento por absurdo para mostrar que a aceitação de uma interpretação da norma levaria a) a contrariar o fim visado pela mesma norma; b) a contradizer norma hierarquicamente superior; c) à antinomia entre a norma interpretada e o sistema em que está inserida; ou d) a uma inconstitucionalidade. Veja-se o seguinte exemplo: A pretexto de se coibir o enriquecimento ilícito previsto no art. 884 do Código Civil, por muito tempo se permitiu que Associações de Moradores cobrassem compulsoriamente taxas daqueles que não anuíram com tais cobranças e ainda impedissem que os compradores se desassociassem de seus quadros. Tal entendimento não somente contraria o princípio da legalidade, como viola frontalmente o art. 5º, inciso XX da Constituição Federal o qual prevê que ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado, o que não se admite. 10. ARGUMENTO DE FUGA É aquele que se desvia das questões principais, para buscar sensibilização por meio de temas mais subjetivos. Seu uso deve ser comedido. Ex.: Se não houver como negar um crime, o advogado apela para o fato de o réu ser bom filho, trabalhador etc. 11. ARGUMENTO DE PROVA O texto argumentativo deve atrair o leitor para “os elementos probatórios”, com o objetivo de fazer deles “uma valoração favorável às intenções do argumentante”. As provas podem ser: “depoimentos das partes e das testemunhas, os laudos, as fotografias, as gravações, os documentos”. São capazes de influenciar na decisão final do juiz, cabendo ao advogado, ainda, reforçar este contexto através de uma argumentação lógica (RODRIGUEZ, 2004, p. 230). Todo argumento, entretanto, pode ser contestado “a parte adversa pode trazer outras arguições que busquem comprovar tese contrária” (RODRIGUEZ, 2004, p. 231) Conforme demonstra Rodriguez (2004, p. 232), é possível contra- argumentar o argumento de prova de duas formas: “Apresentar argumento que diminua o valor impingido pela parte contrária à prova que traz” e apresentando outro elemento de convencimento “mais forte que a prova da parte adversa.” Portanto, a prova é capaz de convencer quando elaborada como argumento de prova, se o advogado ou julgador “as transforma em fundamentos.” LEITURA FETZNER, Néli Luiza Cavaliere (Coord); VALVERDE, Alda da Graça Marques; TAVARES JUNIOR, Nelson Carlos. Lições de argumentação jurídica: da teoria à prática. 4. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 106-134. RODRIGUEZ, Victor Gabriel. Manual de Redação Forense. Campinas: LZN Editora, 2004, p. 215-232.
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