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1a prova Autor: Freitas e Py (21 x 28cm) Edição: 5a Revisor: Revisão Capítulo 138 Págs.: 10 Operador: Edel Data: 28/1/22 Intervenções Cognitivas para Idosos Paula Schimidt Brum • Mônica Sanches Yassuda Introdução As intervenções cognitivas têm como base os conceitos de neuroplasticidade e reserva cognitiva que pressupõem a capa- cidade de reorganização neural e melhora no desempenho cog- nitivo, relacionados à experiência (D’Antonio et al., 2019). Essa capacidade está presente ao longo de todo o processo de enve- lhecimento e, apesar de diminuir na velhice, permite o apren- dizado de estratégias mnemônicas, a integração e ampliação de conhecimentos sobre as funções cognitivas. Nos últimos 10 anos, diferentes pesquisas (Borella et al., 2014; Ouchi et al., 2017) mostraram que pessoas saudáveis com até 75 anos de idade respondem melhor aos programas cogni- tivos quando comparados a idosos saudáveis com 76 anos ou mais. Os idosos mais velhos parecem perder o benefício do treino mais rapidamente quando comparados aos idosos com até 75 anos e a generalização da intervenção para outras habili- dades cognitivas parece estar diminuí da, mas o treino con ti nua sendo indicado para qualquer faixa etária sem efeito negativo (Zinke et al., 2014; Borella et al., 2017; Borella et al., 2019). Embora alguns idosos vivenciem perdas cognitivas substan- ciais no envelhecimento (idosos com diagnóstico de demência) (Lobbia et al., 2019), outros mostram desempenho esperado para sua idade e escolaridade em provas que avaliam as dife- rentes habilidades cognitivas (idosos cognitivamente saudáveis) (Soares et al., 2019; Brum et al., 2020). Outros perfis cognitivos observados entre as pessoas com mais de 60 anos são o declínio cognitivo subjetivo (DCS) caracterizados por apresentar queixa de memória e desempenho esperado para sua idade e escola- ridade em testes neuropsicológicos (Smart et al., 2017; Hong et al., 2020). Ainda, o comprometimento cognitivo leve (CCL), ou transtorno neurocognitivo leve, que mostram desempenho abaixo do esperado para sua idade e escolaridade em testes neu- ropsicológicos, mas que con ti nuam rea li zando as tarefas do co- tidiano sem dificuldade importante (Zhang et al., 2019). Com o aumento da população idosa mundial e decorren- te aumento do número de idosos com alterações cognitivas, os estudos envolvendo intervenções não farmacológicas para a manutenção da cognição têm crescido nos últimos 20 anos. Trata-se de um tratamento que não gera efeitos adversos, e mui- tas vezes, é a opção de tratamento mais viá vel (Fink et al., 2018; Liang et al., 2018; Hong et al., 2020; Wang et al., 2020). Intervenções cognitivas para idosos com algum tipo de de- mência ganharam notoriedade e alguns protocolos tiveram eficácia reconhecida e se tornaram políticas públicas em de- terminados paí ses como Reino Unido (Terapia de Estimulação Cognitiva [CST]; Spector et al., 2010; Bertrand et al., 2019) e Itália (Plano Nacional de Demência Italiano; Di Fiandra et al., 2015). Este capítulo se propõe a explicar os diferentes tipos de intervenção cognitiva para idosos cognitivamente saudáveis e idosos com CCL, destacando os principais desafios relaciona- dos a essa temática. Diferentes revisões sistemáticas e meta-análises vêm mos- trando a grande variedade de estudos envolvendo intervenções cognitivas voltadas para idosos. Estas revisões destacam o im- pacto positivo dos treinos sobre as habilidades treinadas (ta- refa-alvo) e, muitas vezes, relatam efeito de generalização para tarefas próximas e distantes. O efeito de generalização acontece quando uma habilidade cognitiva não treinada melhora após o treino. Esse aumento de desempenho pode ser para tarefas próximas, por exemplo, quando um treino de memória ope- racional auditivo traz benefícios para a memória operacional visual, ou distante, quando um treino de memória operacio- nal aumenta o desempenho dos participantes para velocidade de processamento, memoria episódica ou outras habilidades (Hudes et al., 2019; Nguyen et al., 2019a; Teixeira-Santos et al., 2019; Basak et al., 2020). Diferentes nomenclaturas (treino de memória, treino cog- nitivo, estimulação cognitiva) são utilizadas para identificar in- tervenções rea li zadas junto a idosos com o intuito de aumentar a capacidade de memorização ou ainda melhorar o desempe- nho em tarefas como linguagem, atenção, velocidade de pro- cessamento, dentre outras. Todas elas podem ser rea li zadas em grupo ou in di vi dualmente. As intervenções específicas para a memória recebem o nome de treino de memória e as sessões podem incluir exercícios específicos de memória e ensinar téc- nicas de memorização (Carvalho et al., 2010; Olazarán; Muñiz, 2017). Por outro lado, se a intervenção é sistematizada e estimula diferentes funções cognitivas, não apenas a memória, ela recebe o nome de treino cognitivo (Clare; Woods, 2004). Esta moda- lidade é descrita em boa parte da literatura científica, em estu- dos que ensinam estratégias mnemônicas (como categorização, criação de associações verbais ou imagens mentais para apoiar a memorização) e trabalham outras habilidades cognitivas ao longo das sessões (que podem variar entre orientação temporal e espacial, atenção visual e auditiva, memoria operacional, lin- guagem, velocidade de processamento, dentre outras) (Nguyen et al., 2019b; Fu et al., 2020). Por fim, a estimulação cognitiva baseia-se na estimulação das habilidades cognitivas por meio da rea li zação de exercícios cognitivos regulares, mas não necessariamente sistematizados em protocolos pré-estabelecidos. As sessões cognitivas podem envolver exercícios de atenção visual e auditiva, velocidade de processamento, linguagem, memória episódica, memória operacional, visuoconstrução, planejamento, dentre outras (Apostolo et al., 2019; López et al., 2020). Por outro lado, a re- abilitação cognitiva refere-se a programas geralmente in di vi- dualizados e personalizados voltados para idosos com prejuí zo cognitivo significativo (em geral, pacientes com demência) com o objetivo de aumentar o funcionamento em atividades diá rias mantendo o máximo de autonomia o possível (Kudlicka et al., 2019). Os programas de intervenção cognitiva têm sido ofereci- dos em diferentes formatos. Podem ser rea li zados de forma autoinstruí da ou em grupos, com auxílio de um instrutor. Muitos programas têm utilizado ferramentas computadoriza- das, possibilitando aos participantes a rea li zação dos exercícios em sua residência (Ramprasad et al., 2019; Kim et al., 2019; Rebok et al., 2020), e outros estudos têm utilizado jogos eletrô- nicos (Zhang et al., 2019; Clemenson et al., 2020; McCord et al., 2020). Esse formato de treinamento beneficia idosos com pro- blemas de mobilidade ou que não dispõem de condições para se deslocar a um centro formador. A intensidade, duração e os protocolos dos programas de intervenção também são bastan- te heterogêneos, não havendo evidências quanto ao protocolo mais eficaz (Lampit et al., 2014; Mansor et al., 2019). 138 bp25 Comment on Text levar para baixo. bp25 Highlight levar para cima. bp25 Cross-Out bp25 Inserted Text metanálises bp25 Comment on Text levar para cima. bp25 Comment on Text levar para cima bp25 Cross-Out PARTE 8 Aspectos Psicológicos do Envelhecimento e da Velhice2 Destacamos alguns conceitos importantes, sem os quais não é possível entender os estudos que envolvem intervenções cognitivas. Estes conceitos estão associados às estratégias me- todológicas frequentemente utilizadas em pesquisas médicas e farmacológicas, cada vez mais relevantes para a pesquisa sobre as intervenções cognitivas. Dentre eles, está o conceito de grupo experimental e grupo controle. O grupo experimental corres- ponde aos participantes que recebem a intervenção a ser testada e participam de todas as testagens. O grupo controle é subdivi- dido entre passivo e ativo. O primeiro é formado por pessoas que apenas participam dastestagens da pesquisa, ou seja, que não participam de nenhuma intervenção. O grupo controle ati- vo, por sua vez, corresponde ao grupo das pessoas que partici- pam das testagens e rea li zam alguma atividade durante o perío- do de intervenção, mas essa atividade não tem relação com a intervenção testada na pesquisa; por exemplo, podem respon- der questionários de qualidade de vida, receber psicoeducação, ou mesmo treinar uma habilidade que não tem relação com o objetivo do estudo. Assim, quando o estudo é considerado con- trolado isso significa que ele possui um grupo experimental e um grupo controle que pode ser ativo ou passivo. A randomização também vem sendo cada vez mais valoriza- da na literatura cientifica sobre os treinos cognitivos e se refere ao modo como a amostra é alocada para o grupo experimental ou controle. Na randomização, o pesquisador não pode delibe- radamente escolher o grupo em que o participante vai entrar, ele deve seguir um padrão acordado antes de iniciar a coleta de dados. Existem vários modos de randomizar os participantes, mas em todas elas o método segue uma forma aleatória, sem a intervenção do pesquisador ou da pessoa que participa da pes- quisa (Escosteguy, 1999; Oliveira; Parente, 2010). Por fim, destaca-se a questão dos procedimentos de cega- mento, também muito valorizado na literatura como um ele- mento essencial do rigor científico. O cegamento evita erros de aferição de dados e representa o desconhecimento dos envol- vidos na pesquisa quanto à condição experimental dos partici- pantes (para o grupo experimental ou grupo controle). Ele pode ser único, duplo ou triplo cego. No único-cego o pesquisador ou o participante desconhecem a condição experimental. No duplo-cego nem o pesquisador nem o participante conhecem a condição experimental. E no triplo-cego nem o pesquisador, nem o participante e nem o estatístico tem o conhecimento so- bre a condição experimental (Buehler et al., 2009). Devido à diversidade de programas de intervenção cogniti- va, esse capítulo abordará as intervenções cognitivas voltadas para os idosos saudáveis, com DCS e com CCL, ressaltando estudos clássicos, mas dando maior ênfase aos estudos mais re- centes sobre a temática. Destacamos que nenhum estudo origi- nal, revisão sistemática ou meta-análise relatou conse quências deletérias da participação em intervenções cognitivas tornan- do essa forma de tratamento não farmacológico indicado para qualquer pessoa com mais de 60 anos. Intervenções cognitivas com idosos saudáveis Idosos são classificados como cognitivamente saudáveis quando pontuam adequadamente, segundo dados normati- vos, para sua idade e escolaridade em testes cognitivos (Soares et al., 2019; Brum et al., 2020). O maior estudo de intervenção cognitiva controlado, randomizado e cego, voltado para idosos saudáveis foi conduzido por Ball et al. (2002) com 2.832 idosos e mostrou que o treino cognitivo aumentou as habilidades cog- nitivas treinadas, sem generalização para as atividades de vida diá ria. Os dados de acompanhamento de 2 anos da amostra mostraram que o efeito do treino diminuiu com o tempo, mas os escores dos grupos treinados ainda eram maiores que os do pré-teste, indicando a durabilidade dos efeitos das intervenções. Houve também menor declínio entre os idosos que receberam treino nas atividades de vida diá rias. A coorte de Ball foi acompanhada por Willis et al. (2006) que confirmaram a manutenção, após 5 anos de acompanha- mento, nas habilidades treinadas apenas. Logo, esses estudos indicaram que as pessoas com mais de 60 anos podem aprender estratégias para o aperfeiçoamento do desempenho cognitivo e que esse aprendizado pode durar vários anos após a exposição ao protocolo do treino, mas parece que os efeitos de genera- lização não se mantinham por tanto tempo. Muitas pesquisas foram rea li zadas após esses estudos corroborando os achados principais, mas novas pesquisas mostraram que, dependendo da habilidade cognitiva treinada, o efeito de generalização pode ser observado, não apenas logo após a intervenção, mas tam- bém nas avaliações de seguimento que variam, em sua maioria, entre 3 e 9 meses após a intervenção (Brum et al., 2020; Jaeggi et al., 2020; Borella et al., 2019; Nguyen et al., 2019b; Teixeira- Santos et al., 2019). Estudos de revisão sistemática e meta-análises vêm mostran- do que o treino de memória para idosos saudáveis traz benefí- cios que podem ser observados não apenas nos testes cognitivos e neuropsicológicos, mas também na funcionalidade dos par- ticipantes. Ao treinar algumas habilidades cognitivas, o idoso também aumenta seu desempenho nas atividades do cotidiano (Tardif; Simard, 2011; Richmond et al., 2011; Gross et al. 2012; Nguyen et al., 2019a; Gomes et al., 2020). As pesquisas com intervenções voltadas à população sau- dável são, em sua maioria, compostas por treinos de memória operacional, de memória episódica ou treino multifatoriais que envolvem diversas habilidades (Linares et al., 2019; Teixeira- Santos et al., 2019; Rebok et al., 2020). A memória operacio- nal, responsável pelo processamento de informação de curta duração, é um dos aspectos da memória que mais declina no envelhecimento saudável (Matysiak et al., 2019; Pliatsikas et al., 2019). Os estudos mostram efeitos de transferência próxima e distante para a maioria dos treinos que tiveram foco na me- mória operacional (Vermeij et al., 2016; Heinzel et al., 2017; Cantarella et al., 2017). Uma tendência da literatura mundial tem sido replicar es- tudos para avaliar os efeitos em diferentes populações e trazer evidência de maior validade para os métodos utilizados. Por exemplo, no Brasil, o treino ba sea do na tarefa: Categorization Work Memory Test (CWMS), que teve origem na Itália (Borella et al., 2010), foi traduzido, adaptado e validado para uso em português (Brum et al., 2018). O CWMS é composto por um teste de memória operacional auditiva (com duas versões) e um treino. Esse treino tem como objetivo potencializar a memória operacional auditiva dos participantes através de um exercício que trabalha manipulação de informação (o participante deve sinalizar sempre que escutar uma categoria específica de pala- vras e ao mesmo tempo memorizar palavras seguidas de um sinal sonoro). O CWMS foi testado em idosos saudáveis (Borella et al., 2010), idosos com CCL (Borella et al., 2013), idosos com mais de 75 anos (Borella et al., 2014), mostrou benefício para a fun- cionalidade (Cantarella et al., 2017; Borella et al., 2019), e foi usado em associação com a técnica mnemônica de imagem mental (Borella et al., 2017). Neste último caso, os participantes rea li zavam o treino CWMS e em seguida faziam um treino para aprender a técnica de imagem mental. Os resultados mostraram que os benefícios do CWMS são potencializados com o apren- dizado da técnica mnemônica. bp25 Cross-Out bp25 Inserted Text triplo-cego. bp25 Cross-Out bp25 Inserted Text Em razão da bp25 Cross-Out bp25 Inserted Text metanálise bp25 Comment on Text levar para baixo. bp25 Highlight bp25 Highlight bp25 Cross-Out bp25 Inserted Text metanálise bp25 Comment on Text itálico 3CAPÍTULO 138 Intervenções Cognitivas para Idosos O teste CWMS foi validado para o Brasil, em 2018, nas suas duas versões como uma opção interessante para testar memória operacional em intervenções cognitivas, afinal poucos são os testes cognitivos com diferentes versões e que podem ser usa- dos para evitar o efeito de retestagem (quando o participante aumenta o desempenho no teste por ter memorizado as infor- mações no primeiro momento) (Brum et al., 2018). O treino CWMS foi replicado no Brasil no formato original (com três sessões) e no formato duplicado (com seis sessões) (Brum et al., 2020a). Os resultados do treino se mostraram se- melhantes aos dados italianos, ou seja, os participantes que o rea li zaram potencializaram seu desempenho para a tarefa alvo, tarefas próxima e distantee mantiveram esse desempenho após 3 meses. Fazer mais sessões não alterou significativamente os benefícios do treino para a tarefa alvo e testes de transferência próxima, mas potencializou os efeitos de transferência distante (Brum et al., 2020a). O treino CWMS também foi testado, no Brasil, em diferentes formatos: in di vi dual (formato original) e em grupo (de até qua- tro pessoas) (Brum et al., 2020b). Neste caso, os resultados se mostraram semelhantes independente do formato do treino: os grupos que participaram do treino aumentaram seu desempe- nho nas tarefas após a intervenção, enquanto os grupos-contro- le mantiveram seu desempenho ao longo das avaliações. Estes achados nos permitem rea li zar o treino no formato em grupo, o que leva a diminuição dos custos e traz maior viabilidade de execução para paí ses como o Brasil (Brum et al., 2020b). Outra tendência mundial que vem ganhando cada vez mais destaque são os treinos computadorizados por poderem ser rea li zados em qualquer ambiente, sem o auxílio de um profis- sional, no perío do do dia de maior interesse do participante, com foco em uma ou mais habilidades cognitivas, com um cus- to menor (Meiland et al., 2017; Ezeamama et al., 2020). Essa nova modalidade de treino vem crescendo e os resultados in- dicam, na grande maioria, aumento de desempenho após a in- tervenção para as habilidades treinadas e, muitas vezes, efeito de transferência (Simon et al., 2018b; Belchior et al., 2019; Lee et al., 2020; Masurovsky, 2020; Mansor et al., 2020). As intervenções computadorizadas podem ser adaptadas (visto que o grau de dificuldade vai sendo ajustado conforme o desempenho do participante for aumentando) ou não adapta- das (o treino tem o mesmo grau de dificuldade nos diferentes jogos independente do aprendizado do participante). O treino não adaptado vem sendo usado no grupo placebo em algumas pesquisas. A maioria dos estudos indica um aumento de de- sempenho para o grupo de treino adaptado quando comparado ao não adaptado (Bahar-Fuchs et al., 2017; Simon et al., 2018b; Nguyen et al., 2019b). Recentemente, Simon et al. (2018b) testaram o impacto do programa computadorizado Cogmed na forma adaptada e não adaptada em 76 idosos saudáveis nos EUA e na Sué cia. O treino aconteceu na casa dos participantes, 5 dias por semana, com duração de 40 minutos para cada sessão, durante 5 semanas. Os participantes foram randomizados em grupo experimental (que realizou o treino adaptado) e grupo controle (treino não adaptado) e responderam a uma avaliação neuropsicológica antes e após a intervenção. Os resultados indicaram que o gru- po experimental aumentou o desempenho nos testes de Trilhas B e Símbolo de Dígito, enquanto o grupo controle manteve o desempenho nesses testes. Os autores destacaram que mesmo acontecendo em continentes diferentes, o resultado foi seme- lhante nos grupos, o que mostra o treino computadorizado como uma via interessante para manter a qualidade do treino. Um grande estudo, envolvendo treino cognitivo compu- tadorizado para idosos saudáveis, foi conduzido por Smith et al. (2009) e recebeu o nome de Melhoria na Memória com Treinamento Cognitivo Adaptativo ba sea do em Plasticidade (IMPACT). Este estudo contou com a presença de 487 pessoas com mais de 65 anos saudáveis que foram divididos em grupo experimental (treino computadorizado adaptado com 40 horas de duração) e grupo controle ativo (treino computadorizado não adaptado com 40 horas de duração) (Smith et al., 2009). Os participantes foram testados antes e após a intervenção e após 3 meses de seguimento. O grupo experimental aumentou o desempenho após a intervenção para memória, atenção, ve- locidade de processamento, e memória operacional, enquanto o grupo controle manteve o desempenho. E após 3 meses de seguimento, os autores destacaram que o efeito do treino dimi- nuiu, mas os idosos do grupo experimental ainda mostravam melhor desempenho quando comparados ao desempenho deles mesmos no pré-teste (Zelinski et al., 2011). Irazoki et al. (2020) descreveram em sua revisão sistemática quatro programas computadorizados que vêm sendo utilizados pela população idosa como forma de prevenir o declínio cog- nitivo. São eles: CogniFit (Bahar-Fuchs et al., 2017; Gigle et al., 2013), FesKits (Gaitàn et al., 2012), GRADIOR (Gonzàlez- Palau et al., 2014; Vanova et al., 2018), SOCIABLE (Zaccarelli et al., 2013; Barban et al., 2015). Todos trabalham diferentes habilidades cognitivas, geram relatórios de progresso de de- sempenho dos participantes e são dependentes da internet. O GRADIOR tem a tela sensível ao toque e o SOCIABLE permite rea li zar treinos in di vi duais e em grupo estimulando a interação social. Nenhum dos programas foi testado com grupos contro- le, mas estão disponíveis para profissionais e idosos que tenham interesse no assunto. Alguns estudos mostraram que os efeitos das intervenções computadorizadas podem ser mantidos a longo prazo (varian- do de 3 a 8 meses) em idosos saudáveis (Eckroth-Bucher et al., 2009; Barban et al., 2015; Vermeij et al., 2016; Ten Brinke et al., 2018; Nguyen et al., 2019b). E outros mostraram que o treino computadorizado trouxe benefício para a funcionalidade, ava- liada diretamente para as Atividades Instrumentais de Vida Diaria (Gigler et al., 2013; Danassi et al., 2015; Vanova et al., 2018), e tiveram impacto na diminuição dos sintomas depressi- vos (Gonzàlez-Paulau et al., 2014; Vanova et al., 2018), indican- do efeito de transferência do treino para outros domínios além da cognição. No Brasil, os estudos sobre intervenções cognitivas para pessoas saudáveis aumentaram, mas este campo de investiga- ção enseja grandes desafios, como a adaptação de técnicas e abordagens consolidadas em estudos internacionais (Yassuda et al., 2006; Brum et al., 2018), dadas as diferenças encontra- das em relação ao nível educacional da população brasileira. Na Tabela 138.1 encontram-se os estudos brasileiros sobre treino de memória episódica rea li zados com idosos saudáveis com os seus objetivos principais, protocolo de intervenção e principais resultados. Os primeiros artigos sobre intervenções cognitivas no idoso saudável brasileiro tinham como enfoque o ensino de estraté- gias mnemônicas e sua repercussão para a cognição geral do participante. Outros estudos avaliaram o impacto do treino na qualidade de vida e bem-estar psicológico dos participantes, mostrando que a intervenção parece ter efeito positivo tam- bém sobre esses aspectos (ver Tabela 138.1). Assim como os treinos internacionais, os estudos brasileiros aumentaram seu rigor científico ao longo dos anos, e os resultados se mostra- ram impactos favoráveis das intervenções cognitivas. Poucas são as pesquisas que utilizam a mesma metodologia em popu- lações diferentes, indicando a possibilidade de replicação dos resultados (Brum et al., 2019, 2020). De modo geral, os estudos brasileiros estão em consonância com estudos internacionais, sugerindo a manutenção da plasticidade cognitiva mesmo na presença de menor escolaridade. bp25 Cross-Out bp25 Inserted Text tarefa-alvo, bp25 Comment on Text levar para baixo bp25 Comment on Text levar para baixo bp25 Comment on Text cx baixa bp25 Comment on Text cx baixa bp25 Comment on Text cx baixa bp25 Cross-Out bp25 Inserted Text diária bp25 Comment on Text levar para cima. Monica Nota Manter Diária com letra maiúscula PARTE 8 Aspectos Psicológicos do Envelhecimento e da Velhice4 �� TABELA 138.1 Estudos de treino e estimulação cognitiva no Brasil. Autoria Objetivo Amostra Intervenção Resultados Wood et al. (2000) Verificar efeito do treinamento em velocidade de processamento sobre a capacidade de memória de trabalho Etapa 1: G1 (n = 9) e G2 (n = 8) Idade: 68,42 ± 6,75 Escolaridade: 6,47 ± 3,66 Etapa 2: G1 (n = 15) e G2 (n = 17); Idade: 66,42 ± 8,38 Escolaridade: 7 ± 3,22; Etapa 3: G1 (n = 18) e G2 (n = 5) Idade: 67,7 ±,31 Escolaridade: 7,65 ±4,9 Sessões: 5 horas de treinamento distribuídas em 5 dias consecutivos G1: reconhecimento perceptual aplicado às tarefas de velocidade de processamento G2: treinamento de associação entre pares face-nome Desempenho significativamente melhor do G1 em tarefas de associação de pares, enquanto G2 obteve melhora significativa em tarefas de velocidade de processamento. Nenhum grupo melhorou o desempenho em memória de trabalho Lasca (2003) Testar os efeitos do uso da técnica de categorização aplicada à memorização de itens de compras de supermercado Mulheres: 100% GE: (n = 20) Idade: 45% a partir de 70 anos Escolaridade: 75% até 4 anos GC (n = 19) Idade: 73,68% com 60 a 64 e a partir de 70 Escolaridade: 78,95% até 4 anos Sessão: Única, apenas para GE logo após pré-teste técnica de categorização Melhora no desempenho em memorização para o GE, porém não significativa estatisticamente Igaray, Schneider & Gomes (2004) Verificar os efeitos de um treino cognitivo na qualidade de vida e no bem-estar psicológico de idosos GE: (n = 38; idade média: 68,87 ± 7,41). GC (n = 38; idade média: 69,03 ± 6,77) Sessões: 12 de 12 de 90 minutos, 1x/semana. O treino cognitivo envolvia a instrução e prática de exercícios O GE aumentou o desempenho cognitivo, a percepção de qualidade de vida e o bem-estar psicológico Yassuda, Batistoni, Fortes e Neri (2006) Quantificar alterações entre os dois tempos de avaliação em tarefas de memória episódica e variáveis associadas GE: (n = 35); Idade: 68,86 ± 6,64 Escolaridade: 8,40 ± 3,97 GC: (n=34) Idade: 69,15 ± 5,22 Escolaridade: 7,26 ± 4,08 Sessões: 6 de 90 minutos 2x/semana Psicoeducação sobre memória e envelhecimento Estratégias externas (calendários e agendas) e estratégias internas (categorização e grifos). Desempenho superior para GE em memorização de texto, utilização de grifos e medida de categorização Almeida, Beger e Watanabe (2007) Avaliar o impacto da experiência da oficina na percepção de idosos quanto à sua memória e aspectos relacionados. N=45 Mulheres: 87% da amostra Idade: 56% tinham entre 60 e 69 anos. Escolaridade: 47% tinham nível superior e 31%, segundo grau completo Sessões: 10 de 90 min. 2 vezes/semana Psicoeducação sobre memória, envelhecimento, funções mentais, aspectos emocionais e estilo de vida. Estratégias de associação, múltiplos sentidos, categorização e repetição, atribuição de emoções. Estratégias externas: dispositivos de memória. Redução no número médio de queixas de memória após oficina, maior clareza relatada quanto às dificuldades de memorização, e maior utilização de estratégias mnemônicas relatadas, sendo a associação responsável por 51%. Silva e Yassuda (2009) Descrever os benefícios do treinamento de memória entre idosos com zero a dois anos de educação formal e comparar a eficácia da categorização e formação de imagens mentais Mulheres: (n = 29) G1: (n = 16); Idade: 72,31 ± 5,04; Escolaridade: 0,69 ± 0,87 G2: (n = 13); Idade: 67,62 ± 3,48; Escolaridade: 0,31 ± 0,75 Sessões: 8 de 90 min, 2/ semana Psicoeducação sobre memória, atenção e envelhecimento cognitivo para ambos os grupos G1: estratégia de categorização G2: estratégia de formação de imagens mentais Desempenho estatisticamente significativo para G2 em recordação imediata e tardia de história e redução de sintomas depressivos; enquanto G1 apresentou aumento significativo no índice de categorização Carvalho, Neri e Yassuda (2010) Testar os efeitos de um programa de treino de memória episódica de 5 sessões com foco em categorização e avaliar o uso de estratégias GE: (n = 35) Idade: 68,86 ± 6,64 Escolaridade: 8,4 ± 3,97 GC: (n = 34) Idade: 69,15 ± 5,22 Escolaridade: 7,26 ± 4,08 Sessões: 5 de 60 min, 2/ semana Estratégia interna: categorização Efeito significativo da interação entre grupo e tempo com incremento para GE em desempenho de memória episódica e uso de categorização Irigaray, Filho e Schneider (2010) Verificar os efeitos de um treino de atenção, memória e funções executivas na cognição de idosos saudáveis GE (n = 38; idade média: 68,87 ± 7,41; escolaridade: 11,47 ± 4,22). GC (n=38; idade média: 69,03 ± 6,77; escolaridade: 14,16 ± 3,87) Sessões: 12 de 90 min, 1/ semana Treino de atenção, memória e funções executivas. O GE aumentou o desempenho para atenção, memória verbal, evocação tardia, linguagem, praxia construtiva, função executiva, e resolução de problemas. (continua) bp25 Comment on Text levar para baixo excluir ; bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Comment on Text levar para baixo bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Comment on Text levar para baixo bp25 Comment on Text cx baixa bp25 Comment on Text levar para baixo bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Inserted Text e Monica Nota aqui letra minúscula ou ponto após envelhecimento mantendo a maiúscula 5CAPÍTULO 138 Intervenções Cognitivas para Idosos Autoria Objetivo Amostra Intervenção Resultados Lima-Silva et al. (2010) Testar a eficácia de um programa de treino cognitivo baseado na criação de imagens mentais e na alteração de aspectos da metamemória. Mulheres: (n=56) GE: (n=37) Idade: 73,3 ± 5,8 Escolaridade: 9,4 ± 6,0 GC: (n=32) Idade: 74,0 ± 5,1 Escolaridade: 9,5 ± 5,1 Sessões: 5 de 90min. Psicoeducação sobre memória e envelhecimento. Estratégia de formação de imagens mentais. Efeito significativo da interação entre grupo e tempo apenas para GE em memória tardia e medida de autoeficácia para história. Aramaki e Yassuda (2011) Realizar avaliação de seguimento após 18 meses e detectar possível manutenção dos ganhos em autoeficácia e memória episódica e avaliar o impacto de reforço de treino cognitivo. GE: (n=16) Idade: 65,6 ± 5,6 Escolaridade: 9,5 ± 3,9 GC: (n=21) Sessões: 5 de 90min. Psicoeducação sobre memória e envelhecimento. Estratégia de formação de imagens mentais. Manutenção dos ganhos obtidos do GE na avaliação de seguimento. Efeito significativo no pós-teste do reforço cognitivo para GE no desempenho cognitivo global, memória incidental, recordação tardia, autoeficácia para memorização de figuras e histórias, e redução de queixas subjetivas de memória. Irigaray, Schneider e Gomes (2011) Verificar os efeitos de um treino cognitivo na qualidade de vida e no bem-estar psicológico de idosos Mulheres: (n = 69) GE: (n = 38) Idade: 68,87 ± 7,41 Escolaridade: 11,47 ± 4,22 GC: (n = 38) Idade: 69,03 ± 6,77 Escolaridade: 14,16 ± 3,87 Sessões: 12 de 90 min, sendo divididas igualmente em treino de atenção, treino de memória e treino de funções executivas. As sessões de treino de memória compreenderam psicoeducação, estratégias externas e estratégias internas de categorização e grifos GE apresentou melhoras significativas no pós-teste em medidas de atenção, memória, linguagem, resolução de problemas e fluência verbal. Melhora na percepção de qualidade de vida nos domínios físico, psicológico e geral. Melhor bem-estar psicológico quanto às dimensões criar, ambiente, autoaceitação e crescimento pessoal Lima-Silva et al. (2011) Testar a eficácia de um programa de treino cognitivo baseado em tarefas ecológicas GE (n = 21; idade média: 67,57 ± 6,87) GC (n = 12; idade média: 65,42 ± 7,94) Sessões: 8 de 90 min, 1/ semana A intervenção consistia em realizar tarefas semelhantes às atividades diárias, como a memorização de listas de supermercado, categorização dos itens de mercado e manuseio de dinheiro em tarefas de troco O GE aumentou o desempenho no teste de fluência verbal categoria animais e no resgate imediato da lista de palavras do CERAD De Lira, Rugene e Mello (2011) Verificar o efeito de grupo de estimulação cognitiva em idosos saudáveis GE: (n = 17); Idade: 68,2 ± 5,6 Escolaridade: 4,6 ± 2,5 GC: (n = 15) Idade: 70,1 ± 6,3 Escolaridade: 5,6 ± 3,6 Sessões:10 de 120 min Psicoeducação sobre cognição, envelhecimento, estilo de vida e aspectos emocionais. Estratégias externas (calendário, agenda, blocos de anotação, alarmes) e estratégia de categorização GE apresentou melhoras significativas no pós-teste em medidas de linguagem, função executiva, habilidades visuoconstrutivas e redução de queixas cognitivas Irigaray et al. (2012) Verificar os efeitos de um treino de atenção, memória e funções executivas na cognição de idosos saudáveis Mulheres: (n = 69) GE: (n = 38); Idade: 68,87 ± 7,41 Escolaridade: 11,47 ± 4,22 GC: (n = 38) Idade: 69,03 ± 6,77 Escolaridade: 14,16 ± 3,87 Sessões: 12 de 90 min, sendo divididas igualmente em treino de atenção, treino de memória e treino de funções executivas. As sessões de treino de memória compreenderam psicoeducação, estratégias externas e estratégias internas de categorização e grifos GE apresentou melhoras significativas no pós-teste em medidas de atenção, memória de trabalho, reconhecimento, evocação imediata e tardia de memória verbal, linguagem e função executiva. Também apresentou desempenho superior em praticamente todas as provas do WCST Lima-Silva e Yassuda (2012) Avaliar a possibilidade de aliar o treino cognitivo à intervenção psicoeducativa sobre hipertensão visando melhor manejo desta condição crônica Mulheres: (n = 48) GE: (n = 35); Idade: 73,49 ± 7,04 Escolaridade: 5,63 ± 1,78 GC: (n = 29) Idade: 71,79 ± 6,73 Escolaridade: 5,24 ± 2,40 Sessões: 8 psicoeducação sobre hipertensão, alimentação e prática de exercícios físicos. Uso de estratégia de categorização Aumento no desempenho de GE em atenção, memória e funções executivas. Diminuição dos níveis de depressão e melhora no desempenho cognitivo global �� TABELA 138.1 Estudos de treino e estimulação cognitiva no Brasil (continuação). (continua) bp25 Comment on Text itálico bp25 Comment on Text itálico bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Comment on Text levar para baixo e retirar pto final bp25 Comment on Text levar para baixo e retirar pto final bp25 Cross-Out bp25 Comment on Text levar para baixo e retirar pto final bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out PARTE 8 Aspectos Psicológicos do Envelhecimento e da Velhice6 �� TABELA 138.1 Estudos de treino e estimulação cognitiva no Brasil (continuação). Autoria Objetivo Amostra Intervenção Resultados Paulo e Yassuda (2012) Verificar o efeito de um programa de treinamento cognitivo combinado com intervenção psicoeducativa para idosos diabéticos GE: (n = 19) GC: (n = 15) Sessões: 8 de 90 min, 2/ semana em grupos. Psicoeducação sobre temas relacionados ao diabetes mellitus Efeitos do treinamento foram significativos para o GE no pós-teste em medidas de conhecimento e atitudes sobre hipertensão. Resultados também revelaram melhor desempenho cognitivo do GE Teixeira-Fabrício et al. (2012) Testar a eficácia de treino cognitivo em funções executivas, identificar e comparar as estratégias mnemônicas utilizadas segundo faixas de escolaridade Mulheres: (n = 26) G1: (n = 13); Escolaridade: 1 a 8 anos G2: (n = 18) Escolaridade: 9 a 16 anos Sessões: 6 de 120 min, 1/ semana. Psicoeducação sobre memória e envelhecimento. Aprendizagem de estratégias internas de associação, formação de imagens mentais, categorização e estratégias externas G2 apresentou melhores resultados no pós-teste em medida de memória episódica, velocidade de processamento, autoeficácia para fotos e objetos e redução dos níveis de depressão. O G2 relatou usar exclusivamente a categorização no pós-teste Correa, Vieira e Silva (2013) Comparar os possíveis efeitos do treinamento de memória e do exercício aeróbio em idosos com queixa de déficit de memória GEF: (n = 10) GTM: (n = 10) GC: (n = 10) Sessões: 8 de 50 min, 2/semana, ambos os grupos. G1: realizou treino de exercício físico aeróbio. G2: realizou treino de memória utilizando a estratégia de categorização Grupo treino de memória apresentou melhora significativa no desempenho no pós-teste no número de figuras recordadas Netto et al. (2013) Verificar o efeito do Treinamento em memória operacional em um grupo de idosos saudáveis. n = 20 GE: (n = 11) Idade: 73 ± 4,47 Escolaridade: 13,89 ± 2,66 GC: (n = 9) Idade: 71,55 ± 5,48 Escolaridade: 15,09 ± 3,93 Sessões: 12 de 90 min, 1/ semana, por 3 meses. Psicoeducação sobre memória, envelhecimento e reabilitação, exercícios que envolviam a alça-fonológica, o bloco visuoespacial, o retentor episódico, e o executivo central Aumento de desempenho para o GC após o treino para tarefas de atenção concentrada, memória de curto prazo, aprendizagem e memória episódica. Enquanto o GC manteve o desempenho nessas habilidades Chariglione (2014) Investigar as perdas cognitivas associadas à memória de idosos saudáveis por meio de procedimentos de intervenção cognitiva grupais Mulheres: (n = 36) MEMO: (n = 17); Idade: 72 Escolaridade: 58,8% ≥ 13 anos Stimullus: (n = 11); Idade: 72 Escolaridade: 81,8% ≥ 13 anos Controle: (n = 16); Idade: 69,5 Escolaridade: 62,5% ≥ 13 anos Sessões: 6 de 120 min, 1/ semana MEMO: Psicoeducação sobre memória e envelhecimento, estratégias internas de atenção ativa, associação nome-rosto, método de Loci, imagem mental e PQRST. Stimullus: sequências visuais, categorização de palavras, memorização de palavras, frases, imagens e histórias Participantes do MEMO apresentaram ganhos significativos em memória visual, memória total e memória verbal episódico semântica. Os participantes do Stimullus apresentaram ganhos em tarefas que envolvem resolução de problemas, atenção, memória total e memória verbal episódica semântica Oliveira et al. (2014) Avaliar a eficácia e o impacto da estimulação multissensorial e cognitiva na melhoria da cognição em idosos institucionalizados e não institucionalizados Idosos institucionalizados (n = 25; idade média: 76 ± 6.9) Idosos não institucionalizados (n = 17; idade média: 6.8 ± 3.6) Sessões: 48 de 60 min, 2/ semana As sessões foram baseadas em exercícios de linguagem e memória, além de estímulos visuais, olfativos, auditivos e lúdicos, incluindo música, canto e dança Os idosos institucionalizados aumentaram mais o seu desempenho nos testes após a intervenção que os idosos não institucionalizados Zimmermann et al. (2014) Verificar se existem diferenças entre: um programa estruturado de treinamento em memória operacional versus um programa de estímulo baseado em poesia GE (n = 7) GC (n = 7) As atividades de memória operacional foram baseadas no modelo de Baddeley. O Programa de Estimulação baseado em poesia foi composto por atividades gerais de linguagem O GE que trabalhou memória operacional aumentou o desempenho nos testes de memória operacional, inibição e flexibilidade cognitiva, enquanto o grupo poesia melhorou as tarefas de fluência verbal e discurso narrativo Golino e Flores- Mendoza (2016) Promover adequações e correções em protocolos de treino já estabelecidos Mulheres: (n = 15) Idade: 73,13 ± 3,37 Escolaridade: 4,33 ± 2,44 GE: (n = 7) GC: (n = 8) Sessões: 12 de 90 min, 1/ semana. Foram elaboradas tarefas cognitivas com e ensino de estratégias voltadas para atenção, velocidade de processamento, memória episódica e memória de trabalho O GE aumentou o desempenho para a tarefa de Códigos, Aritmética e Completar Figuras enquanto o GC manteve o desempenho nesses testes (continua) bp25 Comment on Text itálico bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Comment on Text itálico bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Comment on Text cx baixa bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Comment on Text itálico bp25 Comment on Text cx baixa 7CAPÍTULO 138 Intervenções Cognitivas para Idosos �� TABELA 138.1 Estudos de treino e estimulaçãocognitiva no Brasil (continuação). Autoria Objetivo Amostra Intervenção Resultados Golino, Flores- Mendoza e Golino (2017) Determinar os efeitos imediatos do treinamento cognitivo em idosos saudáveis e verificar os efeitos da transferência de habilidades direcionadas e não direcionadas GE: (n = 47; idade média = 69,66 ± 7,51) GC (n = 33; idade média = 69,73 ± 7,45) Sessões: 12 sessões individuais, 60 a 90 min; 1/ semana Foram elaboradas tarefas cognitivas com ensino de estratégias voltadas para atenção, velocidade de processamento, memória episódica e memória de trabalho O GE aumentou o desempenho para as tarefas: Completar Figuras, Dígitos Ordem Direta e Inversa, enquanto o GC manteve o desempenho nesses testes Krug et al. (2017) Avaliar o efeito da participação em Grupos de Cooperação Cognitiva mediados por computadores e internet na variação do miniexame do estado mental de pacientes ambulatoriais com queixas de memória, participantes de duas clínicas de memória GE (n = 160; idade média: 67,19 ± 5,68; escolaridade média: 8,29 ± 4,58) GC (n = 133; idade média: 69,97 ± 6,3; escolaridade média: 8,95 ± 4,02) Sessões: 20 de 90 min, 2/ semana Intervenção mediada por computadores e internet na qual o GE aprendia a usar o mouse, ferramentas de desenho gratuitas, visualizadores de imagens, jogos, navegadores, navegação hipertextual, e-mail e redes sociais GE teve uma variação positiva independente de 24,39% no miniexame do estado mental em relação ao GC Chariglione, Janczura e Belleville (2018) Investigou os efeitos de um treino de memória (MEMO) e de uma estimulação da memória (Stimullus) em idosos com envelhecimento cognitivo normal MEMO: (n = 17; idade média: 72). Stimullus (n = 11; idade média: 72). GC (n = 16; idade média: 69,5) Sessões: 6 de 120 min, 1/ semana MEMO: psicoeducação sobre memória e envelhecimento, estratégias internas de atenção ativa, associação nome-rosto, método de Loci, imagem mental e PQRST. Stimullus: sequências visuais, categorização de palavras, memorização de palavras, frases, imagens e histórias Os resultados demonstraram que a intervenção do tipo MEMO produziu mais ganhos cognitivos do que Stimullus Brito et al. (2019) Investigar os benefícios do treinamento em memória operacional em DVD para idosos. GE (n = 12) GC (n = 4) Sessões: 8 de 60 min, 2/ semana Três DVDs de treinamento em memória operacional contendo conteúdo educacional e exercícios práticos em graus crescentes de dificuldade, do básico ao avançado O GE aumentou o desempenho em testes de memória enquanto o GC manteve seu desempenho antes e após a intervenção Pasqualotti, Amaro e Neves (2019) Testar se o treinamento virtual em jogos multitarefa poderia resultar em melhor desempenho em testes de atenção, memória, linguagem e habilidades aritméticas GE (n = 20; idade média: 70,4 ± 5,2) GC (n = 11; idade média: 70,9 ± 8,2) Sessões: 30 min, 2/semana Treinamento virtual com 15 atividades interativas em jogos multitarefa. A intervenção era composta por cálculos lógicos matemáticos e exercícios de memória, atenção, aritmética e linguagem e atividade física (registrados pelo Microsoft Xbox 360 KinectTM) O GE aumentou o desempenho após a intervenção para atenção, memória e linguagem Brum et al. (2020a) Analisar a eficácia do treinamento de Borella et al. (2010), em um contexto sociocultural diferente (Estudo 1) e o efeito da mudança na duração do treinamento (duplicando o número de sessões) (Estudo 2). Estudo 1: GE (n = 18) GC (n = 28) Estudo 2: GE (n = 23) GC (n = 27) Sessões: 3 de 40 min, 3/ semana (Estudo 1); 6 de 40 min, 3/semana (Estudo 2). Treino de memória operacional CWMS (para mais detalhes consultar Borella et al., 2010). Os GEs apresentaram desempenho superior em todas as tarefas quando comparados aos GCs ativo após o treinamento. Seis meses após o treino os efeitos se mantiveram. O treinamento mais longo (Estudo 2) gerou ganhos semelhantes ao protocolo original, com alguma vantagem em tarefas de transferência distantes no pós-teste e 6 meses após a intervenção. (continua) bp25 Comment on Text cx baixa bp25 Comment on Text levar para baixo e retirar pto final bp25 Comment on Text levar para baixo e retirar pto final bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out PARTE 8 Aspectos Psicológicos do Envelhecimento e da Velhice8 �� TABELA 138.1 Estudos de treino e estimulação cognitiva no Brasil (continuação). Autoria Objetivo Amostra Intervenção Resultados Brum et al. (2020b) Comparar a eficácia do treino de memória operacional elaborado por Borella et al. (2010) oferecido no formato individual e em grupo Treino individual: GE (n = 11) GC (n = 15) Treino em grupo: GE (n = 16) GC (n = 17) Sessões: 3 de 40 min, 3/semana Treino de memória operacional CWMS (para mais detalhes consultar Borella et al., 2010) Aumento de desempenho para os GEs no pós-teste e 6 meses após a intervenção nos testes de memória operacional, velocidade de processamento e funções executivas. O formato do treinamento não alterou os resultados. No entanto, as análises de tamanho de efeito sugeriram que essa intervenção pode ser mais eficaz no formato individual Chariglione et al. (2020) Verificar se ganhos cognitivos apresentados em dois programas de intervenção cognitiva estão relacionados a alterações de humor, qualidade de vida e aptidão física em idosos MEMO: (n = 21; idade média: 69,7 ± 7,75). Stimullus (n = 18; idade média: (68,61 ± 6,04) Sessões: 6 de 120 min, 1/ semana MEMO: psicoeducação sobre memória e envelhecimento, estratégias internas de atenção ativa, associação nome-rosto, método de Loci, imagem mental e PQRST. Stimullus: sequências visuais, categorização de palavras, memorização de palavras, frases, imagens e histórias Os GEs apresentaram tendência a reduzir os sintomas depressivos e obtiveram aumento de massa gorda e diminuição de massa magra Intervenções cognitivas em idosos com declínio cognitivo subjetivo O DCS foi recentemente identificado como uma condição na qual idosos aparentemente saudáveis relatam preocupações sobre declínio na função cognitiva, mas quando rea li zam tes- tes cognitivos mostram desempenho normal para sua idade e escolaridade e preservação nas atividades instrumentais da vida diá ria (AIVDs) (Jessen et al. 2014; Koppara et al., 2015; Smart et al., 2017). Evidências ba sea das em estudos longitudi- nais sobre o envelhecimento humano indicam que adultos com DCS têm maior probabilidade do que seus pares (sem DCS) de apresentar biomarcadores da doen ça de Alzheimer (DA), como neurodegeneração (Meiberth et al., 2015; Perrotin et al., 2015; Peter et al., 2014) e carga amiloide (Amariglio et al., 2012; Perrotin et al., 2012; Snitz et al., 2015). Esses dados sugerem que, para adultos mais velhos, o DCS pode representar uma fase pré-clínica da DA (Smart et al., 2017). O número de pesquisas envolvendo intervenções cogniti- vas para idosos com DCS ainda é pequeno, mas os resultados apontam em uma mesma direção: os participantes aumentam o desempenho em testes cognitivos após a intervenção, o que sugere que o treino cognitivo pode ser uma alternativa viá vel no manejo do DCS (López-Higes et al., 2018; Hu et al., 2019; Hong et al., 2020). Smart et al. (2017) rea li zaram uma revisão sistemática e meta-análise sobre intervenções não farmacológicas no DCS e incluí ram 9 artigos randomizados com pessoas com pelo me- nos 55 anos. Reuniam informações de 378 participantes no gru- po experimental e 298 na condição controle. As intervenções foram divididas em cognitivas (seis estudos), física (um estu- do), e combinados (intervenção física e cognitiva, dois estudos). Houve uma variação grande quanto ao tempo de duração da intervenção (de 4 a 24 semanas), fre quência das sessões (de 1 a 3 vezes/semana) e duração das sessões (45 minutos aduas horas e meia). Quando os autores compararam o tamanho de efeito das intervenções para os testes cognitivos, encontraram que o treino cognitivo mostrou o maior tamanho de efeito, seguido do treino físico, e por último o treino combinado. As pesquisas com dados de seguimento para intervenções cognitivas tam- bém são escassas, mas mostram que os idosos com DCS man- têm, mesmo após 6 meses, os benefícios do treino (Tsai et al., 2008; Smart et al., 2017). Esses resultados têm implicações importantes para as pesso- as com DCS e para estudos de prevenção do declínio cogniti- vo, uma vez que possibilita o idoso a tomar medidas proativas para o seu próprio bem-estar, cognitivo e emocional (Smart et al., 2017). O Estudo Finlandês de Intervenção Geriá trica para Prevenir Incapacidades e Incapacidades Cognitivas (Finger) é um exemplo de estudo envolvendo uma intervenção multifato- rial, que inclui dieta, exercício físico, controle de doen ças crô- nicas e treino cognitivo em idosos com fatores de risco para as demências. Os resultados preliminares deste estudo sugeriram efeitos benéficos na cognição de in di ví duos em risco (Ngandu et al., 2015). Intervenção cognitiva para idosos com comprometimento cognitivo leve (CCL) ou transtorno neurocognitivo leve (TNL) Em 2011, o National Institute on Aging and the Alzheimer’s Association (Albert et al., 2011) publicou os critérios diagnós- ticos para CCL devido à DA. Os critérios são: 1) preocupação com mudanças na cognição relatadas pelo paciente, se possível corroboradas por um informante ou por um médico especia- lizado que conheça bem o paciente; 2) evidência de desempe- nho rebaixado em um ou mais domínios cognitivos além do que seria esperado, para a idade e escolaridade; 3) as mudanças podem ocorrer em uma variedade de funções cognitivas, in- cluindo memória, função executiva, atenção, linguagem e vi- suoconstrução, e personalidade; 4) deve haver preservação da independência nas habilidades funcionais – idosos com CCL podem mostrar dificuldades leves no desempenho de tarefas bp25 Comment on Text levar para baixo e retirar pto final bp25 Cross-Out bp25 Cross-Out bp25 Inserted Text metanálise bp25 Comment on Text levar para baixo bp25 Cross-Out bp25 Inserted Text em razão da 9CAPÍTULO 138 Intervenções Cognitivas para Idosos funcionais complexas (como pagar contas), mostrando-se mais lentos, e cometendo mais erros, mas as atividades de vida diá- ria de forma global devem estar preservadas; 5) as alterações cognitivas devem ser suficientemente leves para não trazer prejuí zos significativos ao funcionamento social e ocupacional. Adicionalmente, os pacientes com CCL podem ser divididos em quatro subtipos: CCL amnéstico, CCL amnéstico múltiplos domínios, CCL não amnéstico único domínio, e CCL não am- néstico múltiplos domínios (Petersen, 2010; Breton et al., 2019; Gillis et al., 2019). Pesquisas recentes envolvendo idosos com CCL têm mostra- do que este é um grupo com maior risco para desenvolver síndro- mes demenciais (Anderson, 2019; Richardson et al., 2019). Sendo assim, diferentes pesquisadores têm estudado o impacto de inter- venções farmacológicas e não farmacológicas sobre o desempe- nho cognitivo de idosos com CCL. As revisões sistemáticas (Ge et al., 2018; Yang et al., 2019) e meta-análises (Hill et al., 2017; Zhang et al., 2019; Sherman et al., 2020) mais atuais indicaram que idosos com CCL se beneficiam positivamente das interven- ções cognitivas com um tamanho de efeito pequeno a moderado. [[[Os estudos recentes, assim como os mais antigos, con ti nuam alertando sobre a importância de harmonizar métodos e repli- car estudos, buscando intervenções que tragam resultados se- melhantes para diferentes populações (Gates et al., 2011; Simon; Ribeiro, 2011; Simon et al., 2012; Rodakowski et al., 2015). No momento, não há consenso sobre qual seria o treino mais eficiente para esse grupo de pacientes. A meta-análise de Sherman, Durbin e Ross, (2020) indicou que o treino focado em memória (com foco no ensino de estratégias mnemônicas) pode beneficiar mais os idosos com CCL, quando os resultados são comparados aos das intervenções multifatorial. Os autores ressaltam que o benefício da intervenção multifatorial também traz resultados satisfatórios, mas que a intervenção multifato- rial tem tamanho de efeito menor que as intervenções pura- mente de memória episódica. No entanto, diferentes questões ainda precisam ser respondidas, como, por exemplo, a duração ideal do treino, seus efeitos de transferência próxima e distan- te, o quanto o treino beneficia a funcionalidade de idosos com CCL, dentre outras questões. Nesse sentido, Belleville et al. (2018) rea li zaram um estudo com pacientes idosos diagnosticados com CCL amnéstico. O es- tudo foi randomizado, controlado e utilizou o método MEMO (Méthode d’Entrainement pour Mémoire Optimale, Gilbert et al., 2007), que foca na otimização da codificação e recupe- ração da memória episódica (40 pessoas). O grupo MEMO foi comparado a uma intervenção psicossocial (controle ativo com 43 pessoas), e a um grupo que apenas respondeu as testagens (controle inativo com 44 pessoas). Os participantes foram tes- tados para memória episódica, uso de estratégias mnemônicas, sintomas depressivos e ansiosos, e com questionários de ativi- dade instrumental de vida diá ria e de memória subjetiva antes e após a intervenção e rea li zaram duas avaliações de seguimento (3 e 6 meses após a intervenção). As sessões aconteceram em grupo de quatro a cinco pessoas, durante 2 horas, por 8 sema- nas. Os resultados apontaram aumento de desempenho para o grupo MEMO nas tarefas de memória episódica, tanto após a intervenção quanto nas avaliações de seguimento, mostrando que os efeitos do treino foram mantidos mesmo a longo pra- zo. Além disso, esse grupo mostrou transferência do impacto do treino MEMO para a funcionalidade avaliada por meio de questionário respondido pelo participante. Os demais grupos não mudaram o seu desempenho ao longo das avaliações. As pesquisas que utilizam parâmetros de exames de neuroi- magem como desfecho de intervenções cognitivas com idosos com CCL também têm aumentado (Feng et al., 2018; Miotto et al., 2018; Simon et al., 2018a; Hampstead et al., 2020; Simon et al., 2020). Miotto et al. (2018) reuniram em uma revisão sistemática sete estudos controlados e randomizados que incluíam treinos presenciais e computadorizados para idosos com CCL amnésti- co e tinham a ressonância magnética funcional como desfecho. O objetivo foi entender quais seriam os possíveis mecanismos neurais que estariam relacionados ao aumento de desempenho dos participantes da intervenção cognitiva. Os resultados apon- taram que o aumento de desempenho para o grupo experimen- tal quando comparado ao grupo controle, após o treino, pode ser explicado tanto pelo mecanismo compensatório (aumento da atividade no lóbulo parietal inferior direito) quanto pelo restaurativo (aumento da atividade hipocampal e frontoparietal lateral). Os mecanismos compensatórios podem ser explicados como re giões cerebrais alternativas ou redes não “tipicamente” envolvidas na tarefa que passam a rea li zar aquela tarefa. Os me- canismos restaurativos podem ser entendidos como aumento da atividade neural nas re giões cerebrais responsáveis por rea li- zar aquela tarefa (Miotto et al., 2018). Simon et al. (2020) desenvolveram um ensaio controlado randomizado com 30 idosos com CCL amnésticos que foram divididos em grupo experimental (treinamento com estratégias de memorização face-nome) e grupo controle (psicoeducação). As sessões tinham uma hora de duração e foram rea li zadas ao longo de 4 dias. Os resultados mostraram que apenas para os participantes do grupo experimental observou-se, após o trei- namento, um aumento de atividade na região frontoparietal bi- lateral e áreas temporais (associadas ao controle cognitivo, cog- nição social e processamento emocional).Os autores ressaltam que o treino com faces e nomes é uma intervenção relevante e eficiente para idosos com CCL amnéstico. Em uma revisão sistemática recente (Irazoki et al., 2020) foram levantados programas disponíveis para os idosos com CCL, mostrando as suas diferenças e assim permitindo que o profissional ou o idoso escolha o melhor programa para suas necessidades. A revisão comparou os programas: Brainer, Cogmed, CogniFit, FesKits, CogniPlus, COGPACK, NeuronUp, GRADIOR, e SOCIABLE. Com a exceção do Cogmed, que tra- balha especificamente a memoria operacional, todos os progra- mas mencionados estimulam diferentes habilidades cognitivas e geram automaticamente relatórios de progresso de desem- penho dos participantes. Apenas os programas COGPACK e CogniPlus podem ser usados sem acesso a internet, e este últi- mo envolve exercícios cognitivos e físicos. Não foram aponta- dos trabalhos que avaliaram a eficácia do treino em compara- ção com outros treinos cognitivos tradicionais ou mesmo com um grupo controle. Alguns estudos descritos na revisão supracitada mostraram que os efeitos das intervenções computadorizadas podem se mater a longo prazo (variando de 3 a 18 meses) em idosos com CCL (Fiatarone et al., 2014; Barban et al., 2015; Danassi et al., 2015; Vermeij et al., 2016). As intervenções cognitivas compu- tadorizadas são um recurso importante não apenas para melho- rar a cognição, mas também influenciam positivamente a fun- cionalidade de idosos com CCL (Gigler et al., 2013; Fiatarone et al., 2014; Danassi et al., 2015; Suo et al., 2016; Hill et al., 2017). Podem também mostrar impacto na diminuição dos sintomas depressivos (Gonzàlez-Paulau et al., 2014; Danassi et al., 2015; Vanova et al., 2018), indicando efeito de transferência do treino também neste grupo de idosos que apresentam alterações cog- nitivas mais leves. Estudos brasileiros sobre treino cognitivo em idosos com CCL ainda são escassos. Brum, Forlenza e Yassuda (2009) rea li- zaram treino com tarefas que simulavam atividades do cotidia- no, como fazer compras e lidar com o dinheiro, com 34 idosos com CCL, sendo estes divididos em GE (n = 16) e GC (n = 18). O treino cognitivo durou oito sessões de 90 minutos cada, que aconteceram 2 vezes/semana. O objetivo foi avaliar o impacto bp25 Cross-Out bp25 Inserted Text metanálises bp25 Cross-Out bp25 Inserted Text E bp25 Cross-Out bp25 Inserted Text metanálise bp25 Cross-Out bp25 Inserted Text da intervenção bp25 Cross-Out bp25 Comment on Text bp25 Highlight PARTE 8 Aspectos Psicológicos do Envelhecimento e da Velhice10 do treino na funcionalidade e na cognição. Para isso os idosos foram avaliados pré e pós-intervenção com testes de atenção, memória, número de sintomas depressivos, Teste do Desenho do Relógio e DAFS (Direct Assessment of Funcional Scale Revised), que avalia a funcionalidade de modo direto pela ob- servação do desempenho do paciente. Os autores encontraram aumento significativo no GE do pré para o pós-teste na atenção, orientação temporal, habilidade para fazer compras e lidar com o dinheiro na DAFS e diminuição no número de sintomas de- pressivos. Esta mudança não foi observada no GC. Olchik et al. (2013) rea li zaram ensaio clínico randomizado, controlado e cego com o objetivo de avaliar a eficácia do treino de memória em idosos saudáveis e com CCL. Contaram com a participação de 65 idosos saudáveis e 47 idosos com CCL divi- didos em GC (inativo), GE (que realizou o treino de memória) e um grupo que recebeu intervenção psicoeducativa. O treino de memória foi rea li zado em oito sessões que enfatizavam uso de estratégias mnemônicas, tarefas ecológicas e conteú do educa- cional. A intervenção psicoeducativa teve a mesma duração do treino de memória, mas trabalhou com conteú do educacional apenas. Após as sessões de treino, o grupo de idosos com CCL que rea li zaram treino de memória mostrou o mesmo desem- penho de idosos saudáveis que não receberam treino. A autora ressaltou ainda que tanto os idosos saudáveis quanto os com CCL melhoraram seu desempenho após o treino de memória nas tarefas treinadas. Considerações finais As investigações sobre as intervenções cognitivas para ido- sos com diferentes perfis de desempenho cognitivo vêm cres- cendo. Na ausência de estratégias farmacológicas curativas para as demências, as intervenções cognitivas vêm ganhando reconhecimento como uma importante estratégia para a ma- nutenção da cognição. Há consenso neste campo investigativo que o estudo randomizado, controlado e cego é a melhor opção para avaliar os efeitos de uma intervenção cognitiva, e os novos estudos têm adotado tais estratégias, elevando o seu rigor me- todológico. A intervenção cognitiva tem se mostrado uma via segura, pouco custosa, e sem efeitos negativos para a população idosa que busca prevenir ou amenizar dificuldades cognitivas. A vasta maioria dos estudos encontra efeitos positivos do trei- no não apenas para a tarefa-alvo, mas efeitos de transferência para tarefas próximas e em alguns casos distantes, o que torna a intervenção cognitiva uma alternativa a ser considerada para a manutenção da cognição e da funcionalidade na velhice. O principal desafio para a área con ti nua sendo a padronização de protocolos de treino e avaliação, para que os estudos possam ser replicados. Nos últimos 5 anos, o número de pesquisas envol- vendo as intervenções cognitivas e com desfechos avaliados por meio de técnicas de neuroimagem e utilizando treinos compu- tadorizados têm crescido significativamente.