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LOGÍSTICA EMPRESARIAL AULA 3 Prof. Sérgio Luiz Pirani 2 CONVERSA INICIAL A logística já está consolidada em grande parte das organizações, pois elas viram a sua importância e o impacto dos custos de seus processos, não somente para as empresas, mas também para a economia brasileira e mundial. O custo logístico, que compreende a soma de gastos com transportes, estoques, armazenagem e serviços administrativos, consumiu, em 2015, 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB), o que equivale a R$ 749 bilhões. Esses custos tornam o Brasil menos competitivo em relação a outros países. Existem planos de investimentos do governo federal em infraestruturas, ferrovias, rodovias, hidrovias etc., para que esses custos diminuam, e assim as empresas e os operadores logísticos possam ser mais competitivos. Um dos entraves da competitividade brasileira é a falta de infraestrutura adequada para a escoação das riquezas. Assim, a iniciativa privada procura novas estratégias para vencer as dificuldades impostas por essa falta. Uma das estratégias é voltada para os Centros de Distribuição – CD, daí o estudo para a determinação dos melhores locais ser considerado de tamanha importância para as organizações do setor, e também para as indústrias que são vinculadas aos processos logísticos. Afinal, recebem matéria-prima, transformam, estocam os produtos acabados e fazem a sua expedição. Temos, basicamente, três membros importantes dentro da cadeia logística: fabricantes, clientes e fornecedores. Essa tríade é fator de sucesso das indústrias, cabendo às empresas estabelecer uma conexão perfeita entre indústria, cliente e fornecedores. Essa é uma das funções dos CDs, que tentam garantir a movimentação de produtos pelo menor custo possível. A logística é a ciência que estuda os movimentos de mercadorias na cadeia de abastecimento de forma eficaz. Envolve o estudo da localização de centros produtores e distribuidores, buscando, por meio da ciência, encontrar a melhor solução para locação de centros de distribuição, sempre no intuito de prestar serviços com mais qualidade e agilidade e de diminuir os custos de distribuição. TEMA 1 – ESTUDO DA LOCALIZAÇÃO DE CENTROS DE DISTRIBUIÇÃO Os Centros de Distribuição (CD) são instalações destinadas a várias funções, não somente armazenamento temporário para distribuição de produtos, 3 como o nome sugere. Essas instalações abarcam, em seus processos, consolidação e desconsolidação de cargas, armazenamento, embalagem e manuseio de cargas, mas também podem ser destinadas a outros propósitos, como ser um ponto de montagem e etiquetagem para distribuição dos produtos acabados. Cumpre, desse modo, o objetivo de gerar valor ao transporte e aos bens ali terminados, considerando que os produtos tendem a permanecer no local por períodos curtos, em geral horas ou poucos dias. Os centros de distribuição são constituídos em parte para lidar com diferentes formas de assincronismo na distribuição de carga, como diferentes ritmos e níveis de produção e consumo. Tais fatores fizeram com que os estudos dos centros de distribuição na área de logística se tornassem notórios. O que incrementa essa notoriedade é o grande avanço do consumo via comércio eletrônico. Segundo dados de 2020, do Infracommerce (E-commerce..., 2020), no Brasil há mais de 940 mil sítios de comércio eletrônico, com movimentação de 323,5 bilhões no mercado total no período. Em 2011, houve movimentação de R$21,44 bilhões, conforme dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABCOMM) (Crescimento..., 2020). Assim, havia uma estimativa de consumo para 2020 de 105,99 bilhões, ou seja, um crescimento de 494%, indicando que esse nicho ainda é incipiente no Brasil, de modo que ainda pode crescer muito. As empresas estão atentas a esse cenário, investindo fortemente nas instalações de novos centros de distribuições, pois o crescimento é certo e há muita coisa a ser explorada. Em 2020, o crescimento de produtos de beleza e perfumaria foi de 74%; instrumentos musicais, 56%; produtos para animais de estimação, 47%; esporte e lazer, 40%. A soma de todas essas categorias soma mais de 15% da receita do comércio eletrônico (E-commerce..., 2020). Observe que o setor de construção civil e eletrônicos, por exemplo, não está na lista, o que aponta há muito espaço para o crescimento do setor de vendas pela rede mundial de computadores. As compras realizadas pelos smartphones, conforme dados ABCCOMM (Crescimento..., 2020), ultrapassarão a casa dos R$100 bilhões, o que representa um crescimento de 18% em relação ao ano anterior, 2019. E não para por aí, pois a movimentação que estimada foi de 342 milhões de pedidos realizados, por aproximadamente 68 milhões de consumidores. Consegue entender a razão da expansão, com investimentos massivos, de novos centros de distribuições em pontos estratégicos Brasil afora? Os 4 estudos da área devem obedecer a certos critérios, como veremos detalhadamente, para que a assertividade da localização do CD seja a ideal, pois a soma de capital investida é vultosa, e o investimento é de longo prazo, devendo-se evitar a escolha de qualquer tipo de mudança, para evitar custos desnecessários. Estudos para determinar o local ideal dos centros de distribuição, para que esses sejam capazes de atender o crescimento das demandas em um horizonte de tempo satisfatório, em torno de 20 anos, devem ser minuciosos. A equipe deve atentar-se aos planos diretores das cidades pleiteadas para a localização. O local escolhido deverá ser capaz de gerar vantagem competitiva em relação aos concorrentes. Para isso, os CDs devem cumprir seu principal objetivo, que é minimizar os custos de distribuição e melhorar a qualidade na prestação de serviços a seus clientes. Isso confirma a posição estratégica de longo prazo de um CD, pois o estudo não só determina onde será alocado um conjunto de instalações, como facilitador da prestação de serviços aos clientes, como também preverá capacidade atual e possibilidade de crescimento ao longo do tempo. 1.1 O estudo da localização de centros de distribuição Vimos que, no que tange às decisões sobre a escolha da localização de uma unidade econômica, como indústria, armazém, centro de distribuição e instalações voltadas a cruzamentos de cargas, por exemplo, devem ser estudadas não só a questão de localização, mas também a relação entre capacidade de produção, prestação de serviços, rede de distribuição e facilitadores, em todas as esferas, com vistas a atender plenamente as necessidades da empresa. Assim, o papel do estudo de localização deve prever que o CD esteja próximo de transportes marítimos, na proximidade de portos, para exportação de produtos e navegação de cabotagem, além de transportes por hidrovias no continente, se for o interesse da empresa, além de transportes aeroviários, rodoviários e dutoviários, temas que vamos estudar em mais detalhes na sequência. O estudo de localização deve prever as movimentações de materiais numa rede de fornecimentos e consumos. A localização adequada deve permitir 5 ligação e relacionamento com fornecedores, a montante, como também a jusante, com clientes, no intuito de atender com excelência as suas necessidades. A escolha do local do CD deve contemplar a redução dos custos operacionais; além disso, o projeto deve melhorar o desempenho dos negócios, a fim de aumentar a competitividade e a lucratividade da organização. Nesse contexto, o estudo de localização deve ser capaz de responder as necessidades de cada perfil de negócio, para que se faça a escolha correta do local. Deve responder a perguntas como: Quais processos e ramo de atividade da empresa serão instalados? Onde as instalações devem ser localizadas, e obedecendo a quais critérios? Qual a capacidadeatual e futura que o estudo deve contemplar? Qual é a prioridade em relação à proximidade com matérias- primas ou centros consumidores? Fica evidente que existem inúmeros fatores que podem influenciar a tomada de decisão sobre a instalação de um CD. Vamos ver alguns deles em detalhes? 1.2 Fatores para a escolha de localização de um CD O foco da literatura que estuda a localização, até o momento, se concentra em aspectos como custos operacionais e proximidade com pontos de escoamento de bens. Tais fatores são importantes e devem ser analisados. Além disso, a internacionalização da economia, a expansão do comércio eletrônico e tendências para a logística futura são variáveis que devem ser consideradas. Pode-se perceber, com isso, que o estudo de novas instalações é um problema que apresenta multicritérios de escolhas e considerações; logo, não deve ser tratado pensando somente nas vertentes quantitativas e qualitativas. O objetivo estratégico da nova localização, por exemplo, deve ser o cerne do escopo do projeto, pois a empresa deve ter clareza quanto ao norte a ser seguido. Ou seja: o que a empresa irá priorizar? Custos? Proximidade com clientes? Integração com seus parceiros a montante e a jusante? Acelerar a resposta aos pedidos dos clientes? Os fatores comumente levados em conta para a escolha de um novo centro de distribuição são: • Localização de fontes de fornecimento, como matéria-prima ou produtos acabados para distribuição, no caso de atacadistas e distribuidoras. 6 • Fontes de comunicação, como internet, energia e luz – essa consideração é importante, pois caso inexistam fontes próximas às instalações, podem acarretar custos elevados. • Mão de obra qualificada para as atividades, além da proximidade com facilitadores (cursos técnicos e práticos, faculdades, universidades) para atender a demanda de mão de obra especializada. • As tarifas de impostos são muito pesadas no Brasil. Assim, incentivos fiscais podem ser atrativos, às vezes até mesmo um fator decisivo para a escolha da localização. Tarifas de pedágios em grandes centros consumidores podem representar custo não desejado, que deve ser levado em consideração, pensando em alternativas para o acesso ao centro consumidor sem esse custo. • A proximidade da empresa com vizinhanças é inevitável, seja de empresas ou de moradores comuns. Mesmo que a empresa se instale em áreas que, em dado momento, estejam distantes da vizinhança, deve-se considerar que ela irá chegar perto da empresa algum dia. Assim, é preciso considerar a qualidade e a segurança da vizinhança, assim como o relacionamento pretendido entre a empresa e os vizinhos. • Considera-se a rede de transportes e prestadores de serviços alternativos para transportes de longa distância (ferrovia), além de boa malha rodoviária, pois esse ainda é o meio de escoamento mais utilizado. • Proximidade com cluster ou arranjo produtivo local – APL de interesse da empresa. • Localização, que permite futura expansão, impedindo que, no futuro, a empresa tenha que se mudar de local, o que acarreta transtornos e custos. Esses fatores são generalizados, podendo haver mudanças para mais ou menos itens, conforme a necessidade de estudo de cada organização. Agora, vamos analisar as considerações sobre o terreno a ser escolhido. TEMA 2 – TERRENO OU INFRAESTRUTURA Quando chegamos nesta fase de decisão, isso indica que a empresa já definiu a megalocalização (país) e a macrolocalização (cidade ou região). Estamos agora na fase da microlocalização, ou seja, a escolha do terreno. Ainda 7 há dois passos a serem considerados, que são estudados em outra disciplina, sendo eles o leiaute das instalações e a alocação de departamentos e processos de produção. Vimos que, quando há a necessidade de estudos para novas localizações, elas surgem ou porque a empresa é nova e tem que se instalar, ou por expansão de uma empresa já existente. Independente do caso, o principal objetivo do estudo de localização é determinar um local que seja ótimo para a empresa em relação a expectativas, que podem ser, por exemplo, proximidade com grandes centros consumidores e forte qualidade em infraestrutura para escoamento dos produtos e serviços. 2.1 Características mandatórias e desejáveis A classificação do terreno deve obedecer a algumas características, como tamanho e topografia do terreno, acessibilidade, plano diretor do município, restrições ambientais, serviços públicos disponíveis e constituição do ambiente de comércio. Vamos ver o que deve ser considerado como características mandatórias para a escolha de um terreno em caso hipotético, pois as características de exigências mudam de acordo com o perfil e as necessidades de cada organização. As características mandatórias devem ser obedecidas, ou por exigência da empresa ou por lei, ou seja, não há flexibilidade. Por exemplo, se a empresa apontar custo por m² como uma característica mandatória, isso é feito por alguma razão, como limite de capital próprio disponível para compra, se a empresa não deseja contrair empréstimo para esse fim. Quadro 1 – Característica mandatórias para a escolha do terreno Fatores Características Custo (m²) 2.000,00 Área mínima (m²) 10.000 Testada mínima (m) 100 Rede de comunicação próxima Rede de esgoto na frente Rede de água na frente As características desejáveis apresentam certas particularidades que se espera do terreno. Elas são flexíveis. Por exemplo, se for desejável que o terreno 8 seja de esquina, mas essa característica não seja encontrada, pode-se abrir mão dela e decidir por um terreno no meio da quadra. Na seleção dessas características, são atribuídos pesos de 0 a 10, por exemplo. Quanto mais próxima de zero for a nota, menos atende às necessidades da empresa; quanto mais próxima de dez, mais atende. Quadro 2 – Característica desejáveis para a escolha do terreno Fatores obedece às características? Pesos Próximo à rodovia sim 9 Fácil visualização e acesso sim 10 Transporte coletivo próximo sim 8 Topografia plana em parte 7 Esquina sim 10 Tais comparações devem ser realizadas entre a quantidade de terrenos que a empresa achar necessário, para que em seguida sejam feitas comparações, de modo a decidir pelo terreno que atende melhor às expectativas mandatórias e desejáveis. 2.2 Características da análise do terreno Estudamos as características mandatórias e desejáveis de um suposto terreno. Porém, faltam inúmeras informações consideradas importantes, que devem estar contidas em um relatório mais detalhado. Assim, vamos ver um exemplo de escolha com os detalhes do terreno. Para facilitar a leitura e a visualização, vamos construir uma planilha. Em um primeiro momento, deve-se levantar todas as informações possíveis sobre o local. 9 Quadro 3 – Informações sobre o imóvel pleiteado Com essas informações, a equipe responsável pelo projeto da localização deve elaborar um relatório com todos os detalhes sobre o imóvel, observando os 10 prós e contras dos imóveis pleiteados. Em caso de estudos sobre localizações, é comum que sejam pleiteadas em torno de três unidades, mas isso depende da empresa que irá fazer ou contratar os estudos. TEMA 3 – DECISÃO SOBRE A LOCALIZAÇÃO: MODELOS MATEMÁTICOS Já estudamos os elementos necessários para desenvolver e colocar em prática o estudo sobre localização, em toda sua complexidade. Vimos s fatores quantitativos e qualitativos, que agora serão trabalhados de forma prática. Vamos ver o método do centro de gravidade, método dos momentos, e método do ponto de equilíbrio, que se baseiam em custos. Um prioriza os custos de transportes, outro prioriza os custos fixos e os variáveis. 3.1 Método do Ponto de Equilíbrio (PE) O método do ponto de equilíbrio se apoia no levantamento dos custosfixos e variáveis das possíveis unidades para as instalações; ou seja, trabalha a relação entre volume e custo, para então realizar uma análise econômico- financeira das alternativas em estudo. Aqui, deve-se trabalhar com estimativas da quantidade de produção de bens ou serviços, considerando também o lucro a ser auferido de cada unidade em estudo. A identificação da quantidade de produção de bens e serviços ajuda a estimar o custo total, que é a soma de custos fixos e custos variáveis pelo volume de produtos ou serviços: CT = Cf + Cv ($.un) x Q • CT – custo total; • Cf – custo fixo; • Cv – custo variável; • Q – volume. O ponto de equilíbrio fornece o ponto zero, em que a empresa não aufere nenhum lucro, mas cobre totalmente os custos. Assim, valores acima do PE indicam que o volume de produção ou serviços irá gerar lucro para a empresa. Antes de trabalharmos um exemplo prático, vamos fazer uma análise objetiva entre duas localidades: Curitiba e Maringá. 11 Gráfico 1 – Análise do ponto de equilíbrio Analisando a Figura 2, percebemos que os custos totais – Ct se relacionam ao volume Q, e assim o cruzamento das retas de custos totais e volume fornece o PE. Observe que a reta que sai dos custos fixos de Curitiba e cruza os custos totais e volume fornece o PE dessa relação; o caso de Maringá obedece ao mesmo raciocínio. O cruzamento entre as retas de Curitiba e Maringá fornece o PE em relação aos custos por volume. Assim, para a produção do volume Q, a cidade de Curitiba seria mais interessante, pois a partir do PE entre Curitiba e Maringá, os custos fixos para produzir Q caem para Curitiba. Vamos ver um exemplo na prática. Uma empresa, em seus estudos de localização, chegou a três cidades para a instalação de um centro distribuição: Maringá (A), Cascavel (B) e Londrina (C). Com os levantamentos dos custos fixos e variáveis de cada cidade, a empresa chegou aos resultados da tabela a seguir. Tabela 1 – Custos fixos e variáveis Cidade Custos Fixos ($.ano) Custos variáveis ($.un) Maringá A 320.000,00 35,00 Cascavel B 280.000,00 28,00 Londrina C 520.000,00 15,00 O volume previsto para movimentações é de 60.000t/mês. Observe que para Q = 0, esse é igual ao custo fixo de cada cidade: Ct = Cf ($.ano) + Cv ($.un) x Q 12 Numa primeira análise em relação ao custo total para Q = 60.000, temos a tabela a seguir. Tabela 2 – Custos, volume e resultado Cidade Custos Fixos ($.ano) Custos variáveis ($.un) Volume (Q) Resultado CT Maringá A 320.000,00 + 35,00 x 60.000 = 2.420.000 CT Cascavel B 280.000,00 + 28,00 x 60.000 = 1.960.000 CT Londrina C 520.000,00 + 15,00 x 60.000 = 1.420.000 Com base nessa primeira análise, podemos deduzir que a cidade de Londrina seria a mais atraente em relação aos custos, para Q = 60.000. Agora, vamos determinar PE para as situações, de modo a entender qual volume é o mais vantajoso para uma ou outra cidade. Para determinar o PE, deve-se igualar os custos das cidades em comparação e determinar o volume Q e os custos totais. Assim, para Maringá e Londrina temos: 320.000 + 35 x Q = 520.000 + 15 x Q 35Q – 15Q = 520.000 – 320.000 20Q = 200.000 Q = 200.000/20 Q = 10.000 Conhecido o valor de Q, podemos determinar os custos totais para esse volume; como há igualdade entre Maringá e Londrina, pode-se utilizar qualquer um dos dados. Vamos utilizar os dados de Maringá: CT = 320.000 + 35 x 10.000 CT = 320.000 + 350.000 CT = 670.000 t.mês Temos então que, para movimentar 10.000 t.mês, há um custo de 670.000,00 Vamos analisar o PE entre Cascavel e Londrina: 280.000 + 28 x Q = 520.000 + 15 x Q 28Q – 15Q = 520.000 – 280.000 13Q = 240.000 Q = 18.461,53 t.mês 13 Substituindo o valor de Q em uma das duas: Ct = 280.000 + 28 x 18.461,53 = 796.923,07 Vejamos, agora, o Gráfico 2, que traz uma análise dessa situação. Gráfico 2 – Análise do exemplo • Para movimentar até 28.000 t.mês, Cascavel seria a melhor opção. Acima desse volume os custos sobem. • Para movimentar acima de 25.000 t.mês, Londrina seria a melhor opção. • Como o previsto é movimentar 60.000 t.mês, Londrina seria a cidade ideal para instalar o novo centro de distribuição. O método do PE, como já apontamos, se baseia na análise de custos fixos, aluguel, custo de mão de obra, depreciações etc., além dos custos variáveis, que são aqueles identificados por unidade produzida (produto ou serviço). Assim, quanto mais se fabrica, ou mais se utilizam os serviços, maiores os custos variáveis, o que é um bom indicativo, desde que o custo variável seja o mínimo possível. Vamos ver outro método? 3.2 Método dos momentos Devo destacar aqui a importância que deve ser dada ao estudo da localização de uma unidade econômica. Quando uma mudança de localização é instituída por lei, em geral é preciso que isso esteja previsto em projetos de 14 desenvolvimento e melhorias do plano diretor da cidade. É preciso ter muita atenção com esse fator. Essa situação pode ser ilustrada com a construção da Linha Verde, na cidade de Curitiba-PR. A Figura 2 mostra a BR 116 antes da construção da Linha Verde, e a Figura 3 mostra as benfeitorias realizadas para tornar o local mais urbanizado, seguro, com linhas de ônibus municipal e intermunicipal. Figura 2 – BR 116 antes da construção da Linha Verde Crédito: Bronis e Drones/Shutterstock. Figura 3 – BR 116 depois da construção da Linha Verde Crédito: Kig Zoch/Shutterstock. 15 Essa melhoria já estava contemplada no plano diretor do município há nos, e contemplava que a BR 116, que cruza a cidade, iria se tornar uma área residencial, e logo indústrias, distribuidoras etc. deveriam sair do local em data preestabelecida pelo governo municipal. O método dos momentos prevê justamente a distância entre cidades em relação ao total da carga a ser transportada para cada destino, a partir de várias cidades escolhidas para a localização de um novo CD. O custo do transporte deve ser calculado de antemão (veremos na sequência). Tendo esse custo, é preciso determinar o volume a ser transportado para cada localidade em relação à distância a ser percorrida. Vamos ao exemplo: Para o estudo de localização de um no CD, a empresa levantou os custos de transportes e chegou ao valor de R$ 4,80 t/km, determinando esse valor como único para todas as localidades. O planejamento chegou a cinco cidades para a possível localização: Curitiba – A; Ponta Grossa – B; Maringá – C; Londrina – D e Guarapuava – E. Utilizando o método dos momentos, deve-se determinar a localização que, dentro desse contexto, tenha o menor custo operacional. No mapa, está indicada a tonelagem a ser transportada para cada localidade, assim como as distâncias em quilômetros. Figura 4 – Mapa com indicativos dos locais, distância e tonelagens transportadas Fonte: Paraná Turismo, [S.d.]. 16 Deve-se considerar a menor distância entre um ponto e outro. A tonelagem a ser transportada está indicada no ponto de recebimento. Assim quando se considera por exemplo os pontos entre as cidades A e B, B receberá 35t, a distância entre A e B é de 250 km, e o custo do transporte é R$ 4,80t/km. Esse raciocínio deve ser seguido para todas as localidades, e está representado na tabela a seguir. Tabela 3 – Custos, volume e resultado Cidade Ponto A + Ponto B + Ponto C + Ponto D + Ponto E = TOTAL Curitiba A 0 (35x250x4,80) (15x330x4,80) (5x480x4,80) (18x760x4,80) P. Grossa B (25x250x4,80) 0 (15x80x4,80) (5x230x4,80) (18x510x4,80) Maringá C (25x330x4,80) (35x80x4,80) 0 (5X150X4,80) (18X430X4,80) Londrina D (25X480X4,80) (35X230X4,80) (15X150X4,80) 0 (18X280X4,80) Guarapuava E (25X300X4,80) (35X510X4,80) (15X430X4,80) (5X280X4,80) 0 Cidade Ponto A + Ponto B + Ponto C + Ponto D + Ponto E = TOTAL Curitiba A 0 42.000 + 23.760 + 11.520 + 65.664 = 142.944P. Grossa B 30.000 + 0 5.760 + 5.520 + 44.064 = 85.344 Maringá C 39.600 + 13.440 + 0 3.600 + 37.152 = 93.792 Londrina D 57.600 + 38.640 + 10.800 + 0 24.192 = 131.232 Guarapuava E 36.000 + 85.680 + 30.960 + 6.720 + 0= 159.360 Com os resultados obtidos, podemos perceber que a cidade de Ponta Grassa (B) seria a mais vantajosa em relação aos custos de transportes. TEMA 4 – DECISÕES DA ESTRUTURA DE DISTRIBUIÇÃO DOS CDs Nas últimas décadas, intensificou-se a internacionalização da economia. Os fluxos de comércio e transporte entre nações tomaram proporções gigantes, tornando-os um grande desafio para a logística local e mundial. Os produtos, para chegarem aos destinos, devem cumprir com o cerne do conceito de logística, que determina que o produto chegue no local certo, na hora certa, nas condições certas, com preço justo. Esses desafios devem ser enfrentados com configurações ideais de centros de distribuição e parcerias com provedores logísticos, para que a empresa seja capaz de criar estruturas de distribuições sólidas e eficazes ao longo de toda a cadeia. Essas estruturas devem envolver o arranjo físico das instalações e o desenho do sistema de transporte e de armazenamento em pontos estratégicos para a movimentação dos itens entre os pontos de produção e consumo. As configurações de distribuição dos CDs podem obedecer a uma estrutura de transporte direto dos produtos aos pontos de produção ou de 17 consumo, ou ainda em vários pontos estratégicos de armazenamento intermediários, os armazéns amortecedores (buffer), conforme ilustra a figura. Figura 5 – Armazéns de amortecimento e redistribuição Crédito: Production Perig/Shutterstock; wavebreakmedia/Shutterstock; Africa Studiog/Shutterstock. Há uma tendência, atualmente, de descentralização dos centros de distribuição, mas essa é uma decisão que deve ser estudada com maior profundidade, em relação a uma nova instalação. Também é importante considerar os dados padrão de estudos sobre localização, além das tendências e da situação econômica local e global, simulando cenários que possibilitem às empresas identificar se o retorno financeiro com a nova instalação será compensado, em virtude da responsividade aos clientes – em outras palavras, deverá existir um número adequado de consumidores, que justifique os investimentos. A descentralização de CDs justifica-se por algumas razões. Uma delas é a capacidade de a empresa atender os clientes prontamente; outra razão é a redução de custos, quando se faz o agrupamento de produção, ou quando se trabalha com estoques mínimos, o que auxilia as empresas a serem mais flexíveis e responsivas com as mudanças abruptas de preferências dos clientes. 18 4.1 Projeto de rede O principal aspecto a ser considerado em um projeto de rede é o cliente, razão dos investimentos de qualquer empresa. Para isso, deve-se considerar as necessidades dos clientes e, logicamente, os custos inerentes a esse atendimento. Assim, a decisão sobre o modelo da rede de distribuição é fundamental para o sucesso operacional, com custos mínimos, o que deve ser contemplado na consecução do projeto da rede. O planejamento estratégico considera investimentos em novas tecnologias ou em desenvolvimento, fatores macroeconômicos e políticos da nação, estado ou município, além de infraestrutura pretendida da empresa e do Estado. Tais decisões influenciam diretamente o planejamento de rede. A avaliação de um projeto de rede pode ser pensada na perspectiva das necessidades dos clientes, com a capacidade de responsividade da empresa no atendimento a ele, considerando o custo de atendimento a tais necessidades, além da diversidade e disponibilidade de produtos disponíveis, respostas sobre a experiência relatada pelo cliente, facilidades para o cliente acompanhar o pedido em tempo real, assim como o atendimento a arrependimentos de compras e políticas claras de devolução e garantia de produtos. Ainda com relação aos custos de atendimentos, é preciso considerar o custo dos estoques, pois quanto maior o nível de serviço desejado, mais é preciso pensar nos níveis de estoques. É preciso considerar disponibilidade de transportes; políticas de parcerias para otimização das entregas; instalações e tecnologias de manuseio de separação e expedição de pedidos; e investimentos em tecnologia da informação, para que tudo funcione de modo eficaz. TEMA 5 – PROJETO DE REDE DE DISTRIBUIÇÃO Em um projeto de rede de distribuição, nos deparamos com algumas variáveis em relação à logística de distribuição. Por conta disso, estudamos as previsões de demanda, e ainda vamos analisar a gestão e o controle de estoques, além dos processos e do gerenciamento de compras. Vimos, com os modelos matemáticos dos estudos de localização, que o transporte é um fator determinante para a escolha de um local ótimo, e por conta disso recebe grande atenção – trataremos em separado dos modais e custos de transportes e roteirização para a distribuição de mercadorias. 19 O projeto de rede visa determinar as estratégias de localização dos CDs em relação ao número e ao tamanho das unidades operacionais, denominadas centros de estoques para distribuição. Estuda a demanda para determinar os pontos de estoques e o fornecimento em relação às características de giro de cada produto. Uma rede convencional obedece ao sistema da figura a seguir. Figura 6 – Esquema convencional de uma rede de distribuição com entrega direta e indireta Crédito: maine99/Shutterstock. Nesse contexto, deve-se trabalhar os pontos de cada produto e abastecimento em relação a indústrias, fornecedores e clientes. Avalia-se meios de escoamento, como terminais aeroportuários, ferroviários e pontos de armazenagens estratégicos, que são os armazéns pulmões, cuja função é receber cargas unitizadas ou não, separá-las e distribui-las aos destinos finas. Armazéns com características cross docking entram nesse perfil. 5.1 Considerações sobre o projeto de redes O problema do projeto da rede de distribuição engloba uma coleção de decisões a serem estudadas, algumas das quais são: localização, alocação de recursos financeiros, gerenciamento de estoque e roteamento. A demanda nos Centros de Distribuição muda a cada nó da rede, ou seja, cada CD tem um perfil de demanda, considerando localização e hábitos de consumo regional. Essa diferenciação fica mais evidente quando os centros de distribuições estão 20 distantes regionalmente, ou até mesmo em outro país, do mesmo continente ou de continentes diferentes. Assim, haverá grande variabilidade de consumo. A gestão de estoques e aquisições deverá estar afinada com tais variações ao longo da cadeia. Os investimentos em tecnologias de ponta nos centros de distribuição, como Warehouse Management System (WMS) (Sistema de Gerenciamento de Armazém), Yard Management System (YMS) (Sistema de Gerenciamento de Pátio) e Enterprise Resource Planning (ERP) (Sistema Integrado de Gestão Empresarial), é fator necessário para atender a esses perfis de demandas variáveis. Podemos perceber, com isso, que só o estudo da localização adequada de um centro de distribuição não é suficiente para tomadas de decisões mais assertivas. Assim, um estudo regional, abrangendo a economia, perfil e hábitos de consumo, ajuda na acuracidade dos controles de estoques e aquisições, como também na programação de meios de transportes e roteirização das entregas. 5.2 Níveis para o planejamento de redes A visão da empresa em relação ao futuro das atividades de CD é fator determinante para o planejamento em um recorte de tempo, com início, meio e fim bem definidos. Os objetivos e metas devem ser claros e de conhecimento de toda a equipe direta, que está envolvida com o planejamento e equipes, e indireta, que será afetada pelo planejamento. Todos, indistintamente,devem saber o seu papel no planejamento estratégico da empresa. No conjunto de circunstância desse cenário, Chopra e Meindl (2003, p. 311) afirmam que “a estratégia competitiva da empresa exerce um forte impacto nas decisões de projeto de rede dentro da cadeia de suprimento.” Esse planejamento deve obedecer a três níveis: o primeiro atinge um horizonte de longo prazo, caracterizado como planejamento estratégico, que abarca a empresa no geral, finanças, transporte, compras, vendas, relacionamento com os clientes etc. Geralmente, engloba entre um e cinco anos. Como há forte orientação externa, pois pertence à visão da empresa, a responsabilidade aqui é da alta administração. O segundo nível é o tático, que está na responsabilidade gerencial, com uma visão mais focada por unidade de negócio, uma vez que uma empresa pode 21 dispor de vários gerentes por unidade – gerente de compras, gerente de transportes e gerente de materiais, por exemplo. Eles são os responsáveis por definir as ações do seu departamento. No terceiro nível está o planejamento operacional, relacionado ao planejamento das atividades diárias da empresa. O horizonte de tempo nesse nível pode ser de uma semana, dias ou horas. As decisões nesses níveis de planejamento, no que tange aos CDs, abarcam modais de transportes. Ou seja, determina-se qual o melhor meio de transporte a ser utilizado, se rodoviário, hidroviário, dutoviário, ferroviário, aéreo ou híbrido. Procede-se à definição de número e dispersão dos armazéns e CDs em locais estratégicos, com análise da capacidade operacional dessas unidades, por exemplo. O planejamento é ainda mais importante quando há altos custos de investimentos relacionados à abertura de uma nova unidade, pois aqui abrangem custos com terreno, estrutura, equipamentos operacionais e mão de obra. Logo, aqui o planejamento deve ser minucioso, pois um investimento desse porte deverá ser capaz de atender às necessidades operacionais da empresa por décadas. FINALIZANDO Nesta aula, buscamos entender o estudo de localização de centros de distribuição, com seu papel na distribuição. Consideramos todos os fatores relevantes para a escolha de um centro de distribuição. Na sequência, discutimos o terreno e a infraestrutura a ser adotada. Vimos ainda as características mandatórias e desejáveis para a escolha de um terreno, além de outras que devem ser consideradas na hora da escolha. Depois, analisamos explicações e aplicações prática de modelos matemáticos na decisão sobre localização, abordando o método do ponto de equilíbrio, que se concentra nos custos fixos e variáveis da unidade em estudo. Vimos também o método dos momentos, que se concentra nos custos de transportes por tonelada transferida de um ponto a outro. Também elencamos os fatores que determinam as decisões da estrutura de distribuição em relação aos centros de distribuições, com os motivos que devem ser considerados para um projeto de rede. 22 Por fim, abordamos o projeto de rede de distribuição, com considerações sobre o projeto e os níveis de planejamento para a sua consecução. 23 REFERÊNCIAS CHOPRA, S.; MEINDL, P. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: estratégia, planejamento e operação. São Paulo: Prentice Hall, 2003. CRESCIMENTO do e-commerce no Brasil. ABCOMM – Associação Brasileira de Comércio Eletrônico, 18 out. 2019. Disponível em: <https://abcomm.org/noticias/crescimento-do-e-commerce-no-brasil/>. Acesso em: 30 abr. 2021. E-COMMERCE: como o setor tem movimentado a economia em 2020. Infracommerce, 2020. Disponível em: <https://www.infracommerce.com.br/e- commerce-como-o-setor-tem-movimentado-a-economia-em-2020/>. Acesso em: 30 abr. 2021.
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