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Testes de recuperabilidade Apresentação O teste de recuperabilidade, também conhecido como teste de impairment, visa a identificar se um bem registrado no ativo imobilizado possui valor contábil superior ao seu respectivo valor recuperável no mercado. Trata-se, portanto, de identificar se um ativo está desvalorizado em relação ao mercado. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer a legislação relacionada ao tema e vai estudar o teste de recuperabilidade de unidades geradoras de caixa, conforme a norma contábil atualizada. Você também vai aprender a identificar os ativos que estão com o valor desatualizado. Com o conteúdo ministrado, você vai aprender como são feitas as estimativas de mensuração do valor recuperável dos ativos, além de compreender a demonstração dos lançamentos contábeis formados a partir de testes de valor recuperável. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir o teste de recuperabilidade de unidades geradoras de caixa.• Calcular o valor recuperável de um ativo.• Explicar os aspectos tributários e societários decorrentes da recuperação de valor de um ativo.• Desafio O teste de recuperabilidade é uma aplicação do princípio da prudência. Esse princípio evita que o balanço patrimonial apresente números artificiais que possam tornar o resultado patrimonial do balanço mais positivo do que deveria. O teste de recuperabilidade é uma avaliação recorrente de ativos que ocasionam resultados no âmbito da preparação do balanço patrimonial e das demais demonstrações contábeis de um determinado exercício. Um contador identificou que a sua equipe havia registrado o teste de recuperabilidade nos seguintes ativos: • estoques de material de uso e consumo; • ativos biológicos; • máquinas e equipamentos; • terrenos avaliados a valor justo. Após essa identificação, o contador solicitou à equipe a correção. Imagine que você é integrante da equipe que vai realizar a correção. Após corrigir, aponte quais são os bens que serão submetidos ao teste de recuperabilidade. Infográfico Os bens registrados no ativo imobilizado estão sujeitos à perda de valor por obsolescência, pelo desgaste físico causado pelo tempo ou até mesmo pelo próprio manuseio. Dessa forma, o teste de valor recuperável dos ativos (teste de impairment), serve para que a contabilidade possa ajustar o valor contábil do bem ao valor que é praticado no mercado (valor justo). De forma mais técnica, o teste de impairment verifica se ocorreu perda no valor dos ativos de uma empresa. Quando o valor contábil dos ativos da companhia for maior do que o seu valor recuperável, esse valor contábil deve ser ajustado para que seja reconhecida contabilmente a desvalorização de valor do ativo. Com base na definição apresentada, entende-se a necessidade de as empresas estabelecerem um procedimento sobre a melhor forma de executar o teste de impairment sobre seus ativos, sempre de acordo com a norma contábil. Nesse caso, trata-se do pronunciamento técnico CPC 01 (R1) — Redução ao valor recuperável de ativos. Neste Infográfico, você vai acompanhar os passos para a aplicação e a divulgação do teste de recuperabilidade (impairment test). Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/71190728-dc2c-400b-9106-4532aafcde8e/b4b4a40e-00da-4c0f-a50c-c5404edf1dc8.jpg Conteúdo do livro O avanço da tecnologia e a velocidade da comunicação ocasionaram grande avanço também para a contabilidade, pois esse é um importante meio de informar a realidade do patrimônio das entidades em determinado momento. Esse avanço tecnológico permitiu que as informações patrimoniais pudessem ser reveladas a seus usuários com maior eficiência e rapidez. A legislação sobre as práticas contábeis — Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e alterações da Lei no 11.638, de 28 de dezembro de 2007 — possibilitou que os órgãos competentes, como o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), definissem as práticas contábeis para que fossem divulgadas pelos pronunciamentos técnicos do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). No capítulo Testes de recuperabilidade, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai se aprofundar nas normas pertinentes ao teste de recuperabilidade. Assim, você vai estudar os conceitos, os termos técnicos, a forma de contabilização e as regras cabíveis no tocante à apuração dos impostos sobre o lucro. Boa leitura. CONTABILIDADE SOCIETÁRIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Definir o teste de recuperabilidade de unidades geradoras de caixa. > Calcular o valor recuperável de um ativo. > Explicar os aspectos tributários e societários decorrentes da recuperação de valor de um ativo. Introdução Neste capítulo, você vai estudar os conceitos, a base legal e os procedimentos relacionados ao teste de recuperabilidade, também conhecido como teste de impairment (“deterioração” em inglês). As empresas, via de regra, são comprometidas com a transparência das suas informações. Por esse motivo, elas devem ficar atentas às atualizações dos valores demonstrados nos seus balanços patrimoniais, mais especificamente quando os ativos estiverem superestimados. Definição Segundo Padoveze (2018), a palavra “impairment” significa, literalmente, dano, prejuízo, deterioração, depreciação. Em termos contábeis, pode-se definir impairment como declínio do valor de um ativo ou dano econômico. Testes de recuperabilidade Claudia Sampaio Freire de Souza Quando o valor contábil for superior ao valor recuperável do ativo, deve-se ajustar o impairment, contabilizando a diferença entre o valor recuperável e o valor que está registrado na contabilidade (valor contábil). Essa diferença deve ser contabilizada como despesa, em contrapartida ao valor contábil do ativo, contabilizado como provisão retificadora. O conceito de impairment deve ser aplicado a todos os ativos ou conjuntos de ativos relevantes relacionados às atividades da empresa, com exceção dos ativos para os quais a norma CPC 01 (R1) não exige o teste. O teste de recuperabilidade baseia-se no antigo princípio da prudência, o qual prevê que ativos não devem ser superestimados. O princípio contábil da prudência não está mais expresso de modo explícito na estrutura conceitual básica, mas ainda há diversas normas que seguem a sua lógica. Esse princípio tem como objetivo mitigar o risco de o balanço patrimonial apresentar núme- ros artificialmente elevados, que possam tornar o resultado e o patrimônio líquido reportados nas demonstrações contábeis mais positivos do que a realidade econômica da empresa que emite as demonstrações contábeis. Nesse sentido, no mínimo ao fim de cada exercício, a entidade deve ava- liar se há alguma indicação de que um ativo tenha sofrido desvalorização. Se houver indicativo de desvalorização dos ativos, a entidade deve estimar o valor recuperável desses ativos por meio do teste de recuperabilidade. Na prática, o teste de recuperabilidade é desenvolvido em duas etapas, no âmbito da preparação do balanço patrimonial e das demais demonstrações contábeis do exercício correspondente. A primeira etapa corresponde à ava- liação periódica do risco de que alguns ativos que geram resultados tenham se desvalorizado no período. A segunda etapa é a realização de um teste formal do valor recuperável desses ativos; ela ocorre caso a primeira etapa tenha revelado indícios de desvalorização. Ou seja, cada vez que a empresa verificar que existem indícios de desvalorização do valor econômico de seus ativos, ela deve fazer o teste de recuperabilidade desses ativos. Se o teste demonstrar que determinado ativo ou grupo de ativos está avaliado na contabilidade por um valor que não seria recuperável ao longo do tempo, a contabilidade deve realizar uma baixa contábil ajustando o valor do ativo. Isso ocorre, porexemplo, quando existe uma projeção de geração de fluxos de caixa futuros em valor inferior ao montante em que o ativo está registrado. Nesse caso, o valor econômico é inferior ao valor contábil, por isso precisa ser ajustado. Testes de recuperabilidade2 Lembre-se de que o valor contábil é o montante pelo qual um ativo é reconhecido no balanço após deduções de depreciação, amortização ou exaustão acumulada e ajuste para perdas já reconhecidas. Ele é comparado com o valor recuperável, que é o valor de mercado a ser recebido pela venda ou o seu respectivo valor de uso representado pela expectativa de receita, por sua vez representada pelos fluxos de caixa futuros. O princípio básico do impairment é de que um ativo não pode ser registrado no balanço patrimonial com um valor maior do que o seu valor de recuperação. Se o registro contábil for maior do que o valor recuperável, é preciso contabilizar a perda de valor. A obrigação de aplicação dos testes de recuperabilidade decorre de atua- lizações realizadas na Lei das Sociedades Anônimas (BRASIL, 1976) por meio da Lei nº 11.638/2007. A obrigatoriedade do teste está prevista no § 3º do art. 183 da redação atual da Lei nº 6.404/76. Veja: Art. 183. No balanço, os elementos do ativo serão avaliados segundo os seguintes critérios: (alterado pela lei nº 11.638, 28/12/2007) [...] § 3º A companhia deverá efetuar, periodicamente, análise sobre a recuperação dos valores registrados no imobilizado e no intangível, a fim de que sejam: I — registradas as perdas de valor do capital aplicado quando houver decisão de interromper os empreendimentos ou atividades a que se destinavam ou quando comprovado que não poderão produzir resultados suficientes para recuperação desse valor; ou II — revisados e ajustados os critérios utilizados para determinação da vida útil econômica estimada e para cálculo da depreciação, exaustão e amortização (BRASIL, 1976, documento on-line). A aplicação prática do teste de recuperabilidade previsto na Lei nº 6.404/76 e a sua atualização pela Lei nº 11.638/2007 são normatizadas pelo Pronuncia- mento Técnico CPC 01 — Redução ao Valor Recuperável de Ativos, que está na sua primeira revisão, portanto é chamado de CPC 01 (R1). Esse pronunciamento tem como objetivo estabelecer os procedimentos que as entidade devem aplicar para assegurar que seus ativos estejam registrados contabilmente por valores que não sejam superiores aos seus valores de recuperação. Testes de recuperabilidade 3 Para consultar os pronunciamentos contábeis atualizados, consulte o site do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). O procedimento de averiguar se há indícios de desvalorização dos ativos deve ser feito regularmente, pelo menos no encerramento do exercício con- tábil. Segundo o item 9 do CPC 01 (R1), a entidade deve avaliar, ao fim de cada período de reporte, se há alguma indicação de que um ativo tenha sofrido desvalorização (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2010). Para tanto, deve considerar, no mínimo, as indicações relacionadas a seguir, referentes às fontes de informação externas e internas. Ou seja, a empresa deve verificar no mínimo anualmente, por meio de fontes externas e internas de informação, se há indícios de que seus ativos tenham sofrido desvalorização. A seguir, veja quais são as fontes externas de informação (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2010): � Indicações observáveis de que o valor do ativo tenha diminuído de forma significativa durante o período. � Mudanças significativas com efeito adverso para a entidade e que tenham ocorrido durante o período, ou ocorrerão em futuro próximo, no ambiente tecnológico, de mercado, econômico ou legal no qual ela opera ou no mercado para o qual o ativo é destinado. � Taxas de juros de mercado ou outras taxas de retorno sobre dado investimento que tenham aumentado e afetado a taxa de desconto utilizada na transação. � Valor contábil do patrimônio líquido maior do que o valor das ações da companhia disponíveis no mercado. Já as fontes internas de informação consistem nos aspectos elencados a seguir (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2010). � Evidência de obsolescência ou de dano físico de um ativo. � Mudanças significativas com efeito adverso sobre a entidade que tenham ocorrido durante o período ou que sejam esperadas em futuro próximo, afetando a extensão ou a maneira por meio da qual o ativo é utilizado ou se espera que seja utilizado. Essas mudanças incluem custos incorridos durante o período para melhorar ou aprimorar o Testes de recuperabilidade4 desempenho do ativo, ou para reestruturar a operação à qual o ativo pertence. � Evidência de relatórios internos que indicam que o desempenho eco- nômico do ativo é ou será pior do que o esperado. Portanto, caso sejam verificados indícios de desvalorização de ativos da empresa por meio de análise conduzida ao longo do exercício, a empresa deve realizar um teste formal de recuperabilidade (ou teste de impairment) dos ativos, medindo seu valor recuperável por meio da estimação do valor justo líquido de despesas de venda ou do valor em uso. Esses conceitos estão expressos no CPC 01 (R1) e serão apresentados em seções subsequentes. Destaca-se, contudo, que há exceções quanto à obrigatoriedade da realização de testes de recuperabilidade a cada ano. São os casos dos ativos intangíveis de vida útil indefinida ou ainda não prontos para uso, bem como do goodwill oriundo de combinação de negócios (valor pago em excesso em relação ao valor justo dos ativos líquidos da empresa adquirida). Nesses dois casos, é obrigatório fazer o teste de impairment, independentemente da existência de indícios de desvalorização desses ativos. O CPC 01 (R1) determina que um ativo registrado contabilmente por va- lor que excede seu valor de recuperação deve ajustar o seu valor contábil (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2010). Dessa forma, o valor que exceder o montante a ser recuperado pelo uso ou pela venda do ativo deve ser ajustado nas demonstrações contábeis. Portanto, quando o valor contábil for superior ao valor de recuperação do ativo, ele deve ser ajustado ao seu valor de recuperação por meio do reconhecimento de perdas. O CPC 01 (R1) não é aplicável a alguns ativos em decorrência da existência de normas próprias que já tratam do valor de recuperação. Esses ativos, lis- tados a seguir, não estão incluídos nos testes de recuperabilidade previstos no CPC 01 (R1). � Ativos não circulantes disponíveis para venda, que são citados no pronunciamento técnico CPC 31. � Estoques (normas previstas no CPC 16 (R1)). � Ativos biológicos referentes a atividades agrícolas avaliados por seu valor justo (normas previstas no CPC 29). � Ativos intangíveis resultantes de contratos com seguradoras, quando especificamente citados no CPC 11. � Imóveis comprados para fins de investimentos e mensurados por valor justo (normas citadas no CPC 46). Testes de recuperabilidade 5 � Ativos adquiridos em contrato de construção (normas previstas no CPC 47). � Ativos fiscais diferidos (normas previstas no CPC 32). � Ativos financeiros que estão dentro do alcance do CPC 48 — Instru- mentos Financeiros. De acordo com os §§ 66 e 67 do CPC 01 (R1), se houver indicação de que um ativo esteja desvalorizado, o valor recuperável deve ser estimado para o ativo individual (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2010). Contudo, em muitos casos, pode não ser possível estimar o valor recuperável de forma individual. Afinal, há ativos que não geram fluxos de caixa isoladamente, fazendo parte de conjuntos de ativos mobilizados pela empresa para a geração de caixa. Esses conjuntos de ativos mobilizados para o desenvolvimento de ativida- des em conjunto são denominados unidades geradoras de caixa. A definição formal de unidade geradora de caixa compreende o menor grupo identificável de ativos que gera entradas de caixa, entradas essas que são em grande parte independentes das entradas decaixa de outros ativos ou outros grupos de ativos. No caso de ativos utilizados em conjunto, a empresa deve estimar o valor recuperável da unidade geradora de caixa à qual o ativo pertence (unidade geradora de caixa do ativo). O CPC 01 (R1) inclui ainda algumas definições de valor recuperável, de- talhando seus componentes. Veja a seguir (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2010). � Valor recuperável de um ativo ou de uma unidade geradora de caixa: é o maior montante entre o valor justo líquido de despesa de venda e o valor em uso. � Valor justo: é o preço que seria recebido pela venda de um ativo, ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração. O CPC 46 esclarece os procedimentos para a mensuração do valor justo (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2012). � Despesas de venda ou de baixa: são despesas incrementais direta- mente atribuíveis à venda ou à baixa de um ativo ou de uma unidade geradora de caixa, excluindo as despesas financeiras e de impostos sobre o resultado gerado. � Valor em uso: é o valor presente de fluxos de caixa futuros esperados que devem advir de um ativo ou de uma unidade geradora de caixa. Testes de recuperabilidade6 Na Figura 1, a seguir, veja como ocorre a comparação entre o valor contábil líquido e o valor recuperável de um ativo ou de uma unidade geradora de caixa. Figura 1. Procedimento recomendado para o teste de recuperabilidade. Fonte: Martins (2014, documento on-line). (impairment) Valor contábil líquido Valor recuperávelComparado com o maior entre eValor líquido de venda Valor em uso O valor contábil líquido representa o valor do ativo registrado na conta- bilidade e apresentado no balanço patrimonial. Ele corresponde ao valor de aquisição deduzido da sua respectiva depreciação e de perdas anteriormente reconhecidas. Já o valor de recuperação, ou valor recuperável, representa o valor líquido de venda ou o valor em uso (dos dois, o de maior valor). O maior valor encontrado por meio dos dois critérios é considerado o valor de recuperação. Ele é a base para a comparação com o valor contábil líquido do bem, para que então se possa mensurar a necessidade ou não de um registro de perda no valor recuperável. Segundo Padoveze (2018), os critérios de valor justo líquido de despesas de venda e de valor em uso são considerados formas de estimar “o valor justo” de um ativo. Então, pode-se definir o valor justo como o preço negociado entre um comprador e um vendedor que agem racionalmente, defendendo seu próprio interesse; ou, na ausência desse valor objetivo, o valor justo é o valor presente do fluxo de caixa esperado pelo ativo. Assim, o valor justo incorpora-se à gama de conceitos que visam a ajustar o valor contábil de um ativo quando o valor de mercado é inferior. Testes de recuperabilidade 7 Cálculo do valor recuperável de um ativo Após conhecer as definições relativas ao teste de recuperabilidade, acompanhe o cálculo do ajuste. O valor recuperável de um ativo ou de uma unidade gera- dora de caixa (ativos mantidos para uso em conjunto e que geram expectativa de fluxos de caixa futuros) é o maior montante entre o seu valor justo líquido de despesa de venda e o seu valor em uso. Agora acompanhe o exemplo a seguir, considerando que um ativo é con- siderado desvalorizado quando o seu valor contábil excede o seu valor de recuperação. A máquina da empresa A possui valor contábil (valor registrado no balanço patrimonial) de R$ 120 mil. Mas o avaliador de mercado identificou que, caso a empresa realize a venda dessa máquina, vai recuperar apenas R$ 90 mil. Logo, há uma perda por desvalorização de R$ 30 mil. Essa perda deve ser registrada no balanço patrimonial do ano corrente e constar da nota explicativa. Como registrar a perda no valor recuperável de um ativo Considere que a empresa mensurou o valor recuperável pelo critério de valor justo menos despesas líquidas de venda. � Valor contábil de um ativo: R$ 100 mil � Valor recuperável do mesmo ativo, medido pelo critério de valor justo menos despesas de venda, conforme laudo de avaliação emitido por engenheiro perito com base em preços de mercado de bens similares: R$ 80 mil � Valor da perda por desvalorização: R$ 100 mil – R$ 80 mil = R$ 20 mil Assim, o ativo foi contabilizado em R$ 100 mil, e o registro a ser realizado na contabilidade, pela desvalorização, é de R$ 20 mil. A contabilização deve ser realizada da seguinte forma: � D — perda por desvalorização de ativos (conta de resultado) � C — perda por desvalorização (conta redutora de ativo) � Valor: R$ 20 mil Testes de recuperabilidade8 Caso ocorra um eventual ganho, o registro contábil da diferença não deve ser contabilizado. A norma não prevê o ajuste de eventual ganho (valor recuperável maior do que valor contábil). Ou seja, a norma contábil do teste de impairment só prevê registro contábil de perda de valor nos casos em que houve desvalorização dos ativos. Já em caso de reversão de valor recuperável, o registro deve ser feito no grupo de outras receitas (conta do resultado do período em que se identificou a reversão) e em conta específica. Aspectos tributários e societários decorrentes da recuperação de valor de um ativo O teste de recuperabilidade, segundo o pronunciamento técnico CPC 01 (R1), deve ser reconhecido diretamente no resultado do período da sua aplica- ção (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2010). Ele deve ser lançado, portanto, a débito em perdas por desvalorização de ativos (conta de resul- tado–despesa) e a crédito em perdas por desvalorização (como redutora do ativo). Esse registro vai reduzir o resultado apurado pela empresa, ou seja, vai reduzir o lucro, que é o ponto de partida para a determinação da base de cálculo para o Imposto de Renda (IR) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para as empresas que estão sujeitas a tributação com base no lucro real. Um reflexo societário do registro da perda por impairment é a redução da distribuição de dividendos da empresa. Da mesma forma que se reduz o lucro, reduz-se o lucro que será distribuído para os acionistas, uma vez que essa distribuição é feita por meio de um percentual sobre o lucro líquido. Durante a apuração da base de cálculo do IR e da CSLL no lucro real, a perda por desvalorização, resultante do teste de impairment, é considerada uma despesa indedutível para fins tributários. Ou seja, a perda deve ser adi- cionada à base de cálculo para a apuração do IR e da CSLL. Portanto, como se trata de uma despesa indedutível na apuração da base de cálculo do IR e da CSLL, o valor diminuído do lucro pelo registro da perda por impairment não terá efeitos fiscais. Embora existam divergências de opinião a esse respeito, a Receita Federal já se posicionou sobre o assunto no sentido de continuar com a não autorização de tal dedução da base de cálculo dos tributos sobre a renda (isso se aplica ao regime de tributação pelo lucro real). Testes de recuperabilidade 9 Segundo o art. 345 do Regulamento do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) (BRASIL, 2018), o contribuinte poderá reconhecer, na apuração do lucro real, os valores contabilizados como redução ao valor recuperável de ativos que não tenham sido objeto de reversão somente quando ocorrer a alienação ou a baixa do bem correspondente. Esse mecanismo garante que o custo de aquisição do bem seja passível de dedução na apuração do IRPJ e da CSLL na depreciação normal ou na venda. Desse modo, eventuais perdas por impairment não afetam a realização fiscal do bem. O parágrafo único do mesmo artigo estabelece o seguinte: Na hipótese de alienação ou baixa de ativo que compõe uma unidade geradora de caixa, o valor a ser reconhecido na apuração do lucro real deve ser propor- cional à relação entre o valor contábil desse ativo e o total da unidade geradora de caixa à data em que foi realizado o teste de recuperabilidade (BRASIL,2018, documento on-line). O registro da perda por desvalorização de ativos reduz o resultado da empresa; portanto, reduz o valor de lucros a distribuir (dividendos a distribuir). Por isso, algumas empresas podem relutar em reconhecer essas perdas. No entanto, é papel do contador seguir as normas contábeis adequadamente, evi- tando que a não aplicação de tais normas distorça o resultado das empresas. Referências BRASIL. Decreto nº 9.580 de 22 de novembro de 2018. Regulamenta a tributação, a fiscalização, a arrecadação e a administração do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza. Brasília: Presidência da República, 2018. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9580.htm. Acesso em: 15 jan. 2021. BRASIL. Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. Brasília: Presidência da República, 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso em: 15 jan. 2021. BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações. Brasília: Presidência da República, 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l6404consol.htm. Acesso em: 15 jan. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 01 (R1): redução ao valor recuperável de ativos. Brasília: CPC, 2010. Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- -Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=2. Acesso em: 15 jan. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 46: mensuração do valor justo. Brasília: CPC, 2012. Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronun- ciamentos/Pronunciamento?Id=78. Acesso em: 15 jan. 2021. Testes de recuperabilidade10 COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 31: ativo não circulante mantido para venda e operação descontinuada. Brasília: CPC, 2009. Disponível em: http://www.cpc. org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=62. Acesso em: 15 jan. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 29: ativo biológico e produto agrícola. Brasília: CPC, 2009. Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/ Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=60. Acesso em: 15 jan. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 16 (R1): estoques. Brasília: CPC, 2009. Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/ Pronunciamento?Id=47. Acesso em: 15 jan. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 11: contratos de seguro. Brasília: CPC, 2008. Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronuncia- mentos/Pronunciamento?Id=42. Acesso em: 15 jan. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 47: receita de contrato com cliente. Brasília: CPC, 2016. Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/ Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=105. Acesso em: 15 jan. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 32: tributos sobre o lucro. Brasília: CPC, 2009. Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronun- ciamentos/Pronunciamento?Id=63. Acesso em: 15 jan. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 48: instrumentos financeiros. Brasília: CPC, 2016. Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronun- ciamentos/Pronunciamento?Id=106. Acesso em: 15 jan. 2021. MARTINS, C. M. F. Contabilidade internacional e a convergência brasileira. [2014]. Dis- ponível em: https://slideplayer.com.br/slide/48640/. Acesso em: 15 jan. 2021. PADOVEZE, C. L. Manual da contabilidade básica: contabilidade introdutória e inter- mediária. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2018. Leituras recomendadas CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC TG 01 (R4). Altera a NBC TG 01 (R3) - redução ao valor recuperável de ativos. Brasília: CFC, 2017. Disponível em: https://www2.cfc.org. br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2017/NBCTG01(R4)&arquivo=NBCTG01(R4). doc. Acesso em: 15 jan. 2021. GELBCKE, E. R. et al. Manual de contabilidade societária. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. SZUSTER, N. et al. Contabilidade geral: introdução a contabilidade societária. São Paulo: Atlas, 2013. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito- res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Testes de recuperabilidade 11 Dica do professor O teste de recuperabilidade é uma das modificações realizadas na Lei das Sociedades por Ações (Lei no 6.404/1976) pela Lei no 11.638/2007 e deve ser aplicado periodicamente pela empresa. Geralmente, é feito anualmente, mas a aplicação poderá ocorrer em qualquer data do ano em curso, se houver indícios de desvalorização dos ativos. O pronunciamento técnico responsável por apresentar as recomendações técnicas é o CPC 01 — Redução ao valor recuperável de ativos. Todas as vezes que uma empresa identificar que um dado ativo está registrado por um valor inferior ao que é o seu valor recuperável, a contabilidade deverá realizar a baixa da perda de valor, com o intuito de ajustar tal ativo ao seu respectivo valor de recuperação. Nesta Dica do Professor, acompanhe os procedimentos utilizados na realização do teste de recuperabilidade. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/5d7926e2060246e2a519c453d1751ad5 Exercícios 1) O teste de recuperabilidade é uma forma de avaliar ativos que geram resultados. Com base na definição dada de teste de recuperabilidade, analise as afirmativas a seguir: I – Todos os bens e direitos do ativo estão sujeitos ao teste de recuperabilidade. II – Apenas os bens estão sujeitos ao teste de recuperabilidade. III – Os direitos não estão sujeitos ao teste de recuperabilidade. IV – Os estoques não estão sujeitos ao teste de recuperabilidade. A partir da sua análise, assinale a alternativa correta: A) Apenas a afirmativa I está correta. B) Apenas a afirmativa II está correta. C) Apenas a afirmativa III está correta. D) As afirmativas II e III estão corretas. E) Apenas a afirmativa IV está correta. 2) O teste de recuperabilidade apresenta o valor líquido de representação de um ativo na demonstração contábil. Considerando essa afirmativa, assinale a alternativa correta para a definição da expressão “redução ao valor recuperável”: A) Trata-se da soma do preço de compra de um bem com os seus respectivos gastos suportados para colocá-lo em condição de uso. B) Consiste no valor pelo qual um ativo pode ser trocado entre partes interessadas que atuam em condições independentes e isentas. C) Equivale ao reconhecimento da perda de benefícios econômicos futuros ou potenciais de serviços de ativo. D) É a constatação do valor monetário de um item correspondente à aplicação dos procedimentos técnicos inerentes aos aspectos qualitativos do bem. E) É o poder de uma entidade do setor público na participação de políticas públicas financeiras e operacionais de outra entidade. 3) O teste de recuperabilidade é uma avaliação periódica de ativos que geram resultados antes da sua contabilização no balanço do exercício correspondente. Considerando essa afirmativa, assinale a alternativa que apresenta um ativo que, via de regra, deve sofrer a aplicação do teste de recuperabilidade: A) Ativo biológico. B) Estoques para revenda de mercadorias. C) Ativos diferidos. D) Bens do ativo imobilizado. E) Instrumentos financeiros. 4) O objetivo do teste de recuperabilidade é averiguar se certos ativos estão determinados na contabilidade por um valorque não possa ser recuperado com o passar do tempo. Considerando os objetivos do teste de recuperabilidade, avalie o caso a seguir: o contador da FFG Comércio e Serviços identificou que uma máquina, indevidamente registrada no imobilizado, possui valor contábil de R$ 550.000,00. Mas, segundo laudo técnico, o valor recuperável da máquina é de R$ 750.000,00. Logo, é correto afirmar que será necessário: A) reconhecer um ganho de R$ 200.000,00. B) reconhecer uma perda de R$ 200.000,00. C) não realizar registro contábil. D) registrar um ganho de capital. E) registrar o ganho em outras receitas. O teste de recuperabilidade busca verificar se determinados ativos estão desvalorizados. Em relação ao teste de recuperabilidade, avalie as afirmativas a seguir: 5) I – As perdas reconhecidas no teste de recuperabilidade devem ser registradas como despesa e em conta de resultado, sendo, portanto, dedutíveis na base de cálculo do IR e da CSLL. II – Todos os ativos devem sem submetidos aos testes de recuperabilidade, irrestritamente. III – Os bens registrados no ativo imobilizado geralmente devem ser submetidos ao teste de recuperabilidade. Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta: A) Apenas a afirmativa I é correta. B) Apenas a afirmativa II é correta. C) Apenas a afirmativa III é correta. D) As afirmativas I e II são corretas. E) As afirmativas II e III são corretas. Na prática O objetivo principal do teste de recuperabilidade é verificar se os bens registrados no ativo imobilizado e os direitos do ativo intangível correspondem aos valores de possível recuperação no mercado e de possível recuperação com a sua utilização, representando os ganhos estimados no fluxo de caixa que o bem poderá agregar. O teste de recuperabilidade apresenta o valor líquido de realização de um ativo. Neste Na Prática, acompanhe o cálculo do teste de recuperabilidade e informações importantes sobre como calcular e registrar o teste de recuperabilidade. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/a816ddde-5b5b-424b-a956-eba348f01f57/f4daa1bf-e3d5-4722-95af-1ea069acd884.jpg Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Teste de recuperabilidade de ativos e suavização de resultados: um estudo nas empresas brasileiras listadas na B3 Leia este artigo e saiba mais sobre a influência do teste de recuperabilidade nas empresas brasileiras que participam da bolsa de valores. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Impairment test em jogadores de futebol: análise dos trigger events que justificam a realização do teste de recuperabilidade em atletas profissionais Conheça, neste artigo, os eventos que justificam o teste de recuperabilidade nos atletas profissionais. 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