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Tópico 06 Genética humana Mutação cromossômica 1. Introdução Mutações cromossômicas O genoma é a sequência completa de DNA de um organismo, ou seja, o conjunto de todos os genes de um ser vivo. Em relação ao genoma humano, apresenta aproximadamente 35.000 genes. Esse conjunto de genes está compactado em um aspecto de bastão chamado de cromossomos. O cariótipo humano é constituído de 23 pares de cromossomos, dos quais 22 são autossômicos e dois são sexuais (X e Y); numa mulher normal, esse cariótipo é representado pela notação 46, XX e no homem 46, XY (Nussbaum e Willard, 2002). Cariótipo humano normal, masculino (46, XY) e feminino (46,XX). As mutações cromossômicas são resultantes de qualquer modificação que interfira no número de cromossomo e/ou na sequência de seus genes (estrutural do cromossomo) que produz uma inviabilidade celular, durante o processo de formação dos gametas (meiose), e/ou durante a embriogênese (mitose). As mutações cromossômicas constituem uma das maiores causas de retardo mental, déficit pônder-estatural, dismorfismos faciais e malformações congênitas, tais como: cardiopatias congênitas, anomalias esqueléticas e acometimento de outros órgãos internos (OPS, 1984; Anderlid et al., Hovovitz, 2005; Celep et al., 2006). De acordo com Jacobs et al. (1992) 8% de todas as gestações, que foram reconhecidas clinicamente, têm mutações cromossômicas. Das quais representam uma frequência aproximadamente de 6% de natimortos, 1% de nascidos vivos, e uma das principais causas de 50% dos abortos espontâneos. Classificação das mutações cromossômicas De acordo com Nussbaum e Willard (2002), as mutações cromossômicas são classificadas quanto ao fato de os cromossomos apresentarem perdas ou excesso de suas partes – “as mutações cromossômicas estruturais”, assim como cromossomos inteiros, ou ainda, conjuntos inteiros de cromossomos – “as cromossômicas numéricas”. Ainda há casos em que pode ocorrer a mistura de linhagens de células normais e células alteradas em um mesmo indivíduo – “o mosaicismo”. As anomalias cromossômicas numéricas são classificadas em duas categorias: as euploidias e as aneuploidias. A euploidia (poliploidia) é uma alteração cromossômica que resulta em um número de cromossomo que é múltiplo exato do conjunto haploide. Na espécie humana, o número haploide é igual a 23 (corresponde à metade do nº diploide de uma célula 2n=46). No entanto, podem ocorrer as poliploidias, como a triploidia (3n) e a tetraploidia (4n), que resultam em anomalias fenotípicas. Já as aneuploidias referem-se à alteração no número cromossômico (para mais ou para menos), sem ser múltiplos exatos do número haploide. Na prática, geralmente, indica uma cópia extra de um único cromossomo (trissomia) ou perda de um único cromossomo (monossomia). De acordo com o tipo de cromossomo que se ganha e/ou se perde, a aneuploidia é classificada em autossômica e/ou sexual. Classificação das mutações cromossômicas numéricas Segundo Pimentel et.al (2013), as mutações cromossômicas numéricas são as mais comuns e são caracterizadas pelo número anormal de cromossomos, podendo ser euploidias e/ou aneuploidias. Em humanos, a euploidia (poliploidia) é rara, levando a abortos espontâneos. As triploidias (3n= 69) são mais frequentes que as tetraploidias (4n= 92). A triploidia pode ser causada por dois eventos diferentes: a mais comum é a dispermia, na qual o gameta feminino é fecundado por mais de um espermatozoide; isso ocorre devido a uma falha na função dos grânulos corticais, localizados abaixo da membrana celular do óvulo. A 2ª causa, menos frequente, resulta falha na meiose da gametogênese masculina e/ou feminina, desencadeando uma triploidia. Nas tetraploidias, a principal causa é a endomitose, que corresponde a duas replicações sucessivas do DNA após a fertilização sem divisão mitótica entre elas. Esses eventos levam a um grande desequilíbrio no genoma não possibilitando o desenvolvimento do embrião. O mosaicismo 2n/3n é uma condição mais rara e menos grave que a triploidia pura, na qual o afetado pode sobreviver além do período neonatal. Para Pimentel et. Al (2013), as aneuploidias são alterações que não envolvem todo o conjunto de cromossomo da célula, mas sim, um cromossomo específico, e em humanos ocorrem em pelo menos 5% de todas as gestações e podem contribuir para mais de 1/3 de todos os abortos espontâneos, apenas 1-2% é natimorto num estágio mais tardio de gestão e 03% compreendem os nascidos vivos. As principais aneuploidias são: Nulossomia (2n-2) – há perda de um par completo de cromossomos. Em geral, essas alterações impedem o desenvolvimento do blastocisto antes mesmo de ocorrer a nidação. Monossomia (2n-1) – há perda de apenas um cromossomo de um par específico. Com exceção da monossomia do X (45, X ou Turner), em geral, são incompatíveis com o desenvolvimento. Trissomia (2n +1) – quando há presença de três cópias de um cromossomo específico, em vez de duas. As trissomias mais conhecidas são as dos cromossomos 21, 13 e 18 (autossômicos), associadas às síndromes de Down, Edwards e Patau, respectivamente, além das trissomias sexuais (47, XXX, 47, XXY e 47, XYY), associadas às síndrome do duplo X, Klinefelter e duplo Y, respectivamente. Tipo de mutações cromossômicas Frequência ao nascimento Trissomia do 21 (Síndrome de Down) 1 em 830 Trissomia do 18 (Sindrome de Edwards) 1 em 7.500 Trissomia do 13 (Sindrome de Patau) 1 em 22.700 47, XXY (Síndrome de Klinefelter) 1 em 1.000 47, XYY 1 em 1.000 47, XXX 1 em 900 45, X (Síndrome de Turner) 1 em 4.000 A incidência das principais mutações cromossômicas numéricas observadas em nascidos humanos.Fonte: Hsu LYF (1998) Prenatal diagnosis of chromossomal adnormalites through amniocentesis. In Milunsky A Genetic Disorders and the fetus, 4th ed. Johns Hopkins University Press, Baltimore, pp. 179-248. De acordo com (Hassold et al., 1998, Thomas et al, 2001, Hall et. Al, 2006), as aneuploidias são resultantes de erros na não- disjunção durante a meiose (M) celular I e/ou II materna, com maior frequência durante a MI, pois a gametogênese feminina é um processo longo, em que a primeira divisão inicia-se no período pré-natal, é interrompida no nascimento em prófase I e só finaliza por ocasião de cada ovulação, caso o ovócito 2º seja fecundado. A não-disjunção paterna é menos comum; entretanto, existem exceções nos casos de homens com cariótipo 47, XXY, em que a origem materna e paterna está dividida igualmente. Na tabela 01, demonstra os resultados quanto à origem das aneuploidias encontradas por Hassold et al. (1996). Para Hassold e Jacob (1984), a idade avançada é um dos fatores mais pertinentes ao mecanismo de não-disjunção em estudos citogenéticos de abortos espontâneos. À medida que a idade materna aumenta, a taxa encontrada de trissomia é mais elevada em relação as mais jovens. Henderson e Edwards (1968), estudando recombinação genica (Crossing Over) de pequenas partes entre cromossomos homólogos em camundongos, encontraram uma redução do quiasma conforme eles envelheciam, e, quando os quiasmas ocorriam, eram mais localizados nas extremidades dos cromossomos. Essas propostas vêm sendo confirmada na gênese das trissomias humanas e uma redução significante na recombinação tem sido encontrada em todas as MI de origem materna derivadas de trissomias (15, 16, 18, 21 e X) (Morton et al. 1988; Lamb et al., 1996; Thomas et al., 2001). Trissomia Número de Casos Paterna Materna Pós ZigóticaMI* MII* MI* MII* 2 18 28% – 54% 13% 6 7 14 – – 17% 26% 57 15 34 – 15% 76% 9% 6 16 104 – – 100% – – 18 143 – – 33% 56% 11% 21 642 3% 5% 65% 23% 3% 22 38 3% – 94% 3% – Trissomia Número de Casos Paterna Materna Pós ZigóticaMI* MII* MI* MII* XXY 142 46% – 38% 14% 3% XXX 50 – 6% 60% 16% 18% Origem das trissomiasFonte: Tabela modificada de Hassold et al., 1996 (MI*: meiose I; MII: meiose II) Para Pimentel et.al (2013), a nãodisjunção pode ser primária, erro durante a gametogênese de um indivíduo cromossomicamente normal, e produz gametas anormais, e/ou secundário, onde um indivíduo cromossomicamente anormal produz gametas alterados. Caso o erro acontece na MI, o gameta que apresentará o cromossomo extra terá dois cromossomos de um mesmo par em vez de uma cópia apenas e estes cromossomos, um de origem materna e o outro de origem paterna, apresentam duas cromátides irmãs. Quando o erro acontece na MII, o gameta com o cromossomo extra possui duas cópias de um mesmo cromossomo que apresentam a mesma origem parietal. Quando o erro acontece na MI, todos os gametas resultantes serão afetados, já na não disjunção durante a MII, apenas 50% serão anormais. As monossomias também resultam da mesma forma. Quando a não disjunção acontece na anáfase da mitose após a formação do zigoto, o indivíduo apresentará mais de uma linhagem celular, onde podemos evidenciar o mosaicismo por aneuploidias. Não disjunção na meiose – formação das doenças das síndromes cromossômicas numéricas. Tipos de mutações cromossômicas numéricas em humanos. Segundo Pimentel et.al (2013), os tipos de alterações cromossômicas numéricas autossômicas mais comuns são: Trissomia do 21 ou síndrome de Down simples (47, XX e/ou XY + 21): presença de uma cópia extra total ou parcial do cromossomo 21, sendo a trissomia mais comum em humanos; corresponde a 93% dos casos de síndrome de Down e é a causa genética mais frequente de deficiência intelectual, resultante de um erro durante a não disjunção do cromossomo 21 da gametogênese (trissomia); 2% são do tipo mosaicismo somático e 5%, do tipo translocação Robertsoniana. As características clínicas da trissomia do 21 incluem: habilidade cognitiva abaixo da média, hipotonia, baixa estatura, pescoço curto, orelhas pequenas com baixa implantação, olhos com fissuras palpebrais oblíquas, pregas epicânticas, macroglossia, encurvamento do 5º digito, aumento da distância entre o 1º e 2º artelho, prega simiesca e microcefalia. Podem apresentar doenças cardíacas congênitas, disfunções da tireoide, leucemia. Além disso, aos 40 anos, podem apresentar alterações cerebrais atróficas, semelhante à doença de Alzheimer. Trissomia do 13 ou síndrome de Patau (47, XX e/ou XY + 13): presença de uma cópia extra do cromossomo 13, causando sério comprometimento do sistema nervoso central durante o desenvolvimento embrionário e morte prematura; também pode ser do tipo mosaico somática e 20% dos casos, translocações não balanceadas envolvendo o cromossomo 13 extra (estrutural). Entre as características clínicas da trissomia do 13 estão: malformações cardíacas, holoprosencefalia, fenda labial e palatina, defeitos oculares graves, polidactilia, pés de “cadeira de balanço”, defeitos urogenitais e deficiência mental grave nos indivíduos que sobrevivem alguns anos. Trissomia do 18 ou síndrome de Edwards (47, XX e/ou XY + 18): presença de uma cópia extra do cromossomo 18. Em alguns casos, pode ser da forma mosaica somática; a grande maioria dos fetos com a trissomia do 18 é abortada espontaneamente. Os nascidos vivos geralmente morrem nas primeiras semanas de vida. As características clinicas da trissomia do 18 incluem: hipertonia, boca pequena, fissura faciais acentuadas, micrognatia, mãos cerradas e 2º e 5º dedos sobrepostos aos demais, pés de “cadeira de balanço”, orelhas de baixa implantação, osso occipital saliente, esterno curto, alterações renais e malformações cardíacas. Cariótipo das alterações cromossômicas numéricas aneuploidias autossômicas mais (síndrome de Patau – 47, XX e/ou XY +13; síndrome de Edwards- 47, XX e/ou XY +18; síndrome de Down – 47, XX e/ou XY +21, respectivamente). Segundo Pimentel et.al (2013), os tipos de alterações mais comuns de mutações cromossômicas numéricas sexuais (X e/ou Y) são: síndrome de Turner e do duplo X, que só afeta mulheres, e a síndrome de Klinefelter e duplo Y, que só afeta homens. A grande maioria das mutações cromossômicas envolvendo os cromossomos sexuais são do tipo numéricas, mas também podem também ser classificadas de estruturais. No caso da Saiba mais lendo o artigo: -Trissomia 18: revisão dos aspectos clínicos, etiológicos, prognósticos e éticos – A Síndrome de Down e o processo de envelhecer: revisão sistemática http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-05822013000100018 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-05822013000100018 https://revistas.pucsp.br/index.php/kairos/article/viewFile/23661/16954 https://revistas.pucsp.br/index.php/kairos/article/viewFile/23661/16954 numérica e da estrutural que envolvam parte das células do indivíduo, são classificadas de mosaico, assim como as autossômicas. Essas mutações são mais frequentes que as autossômicas, pois há uma maior propensão na não disjunção M dos cromossomos X e Y, pois só há pareamento apenas nas regiões pseudoautossomicas localizadas em suas extremidades e o quiasma é menos instável. Com relação à divisão mitótica, a incidência do mosaicismo que envolve os cromossomos sexuais também é maior do que as autossômicas. Com a exceção à monossomia Y, todas as aneuploidias que envolvem cromossomos sexuais são compatíveis com a vida. Síndrome de Turner (45, X e demais cariótipos): 50% da síndrome de Turner é do tipo monossomia (45, X) e nos outros 50% a condição surge em decorrência de outras alterações numéricas ou estruturais mais típicas que levam à perda parcial ou total do segundo cromossomo X na mulher. 80 % da 45, X, o cromossomo X único é de origem materna, o evento é decorrente de erro na M paterna, no qual ocorreu a não disjunção do cromossomo sexual. Em relação ao mosaicismo (46, XX/45, X), ele se dá pelo erro da não disjunção dos cromossomos sexuais durante a mitose do zigoto. Já a estrutural mosaica (45X/46 X,i (Xq)) ocorre pois erros mitóticos foram precedidos de erros meióticos. As características clínicas são o pescoço alado, edema no dorso da mão e pés, hipoplasia cardíaca, baixo peso e estatura, baixa implantação dos cabelos na nuca e tórax em forma de barril, sobrancelhas espessas, pregas epicânticas, ptose palpebral, atraso na maturação sexual, amenorreia primária ou secundária, disgenesia gonadal e infertilidade, mama pouco desenvolvida, mamilos bem distanciados, poucos pelos pubianos e axilares, além de malformações anatômicas. Normalmente, elas apresentam inteligência normal, mas pode ser observado, em alguns casos, um atraso no desenvolvimento intelectual e verbal e também uma diminuição da capacidade de percepção espacial e dificuldade de se socializar. Esses comportamentos estão relacionados se o cromossomo X da mulher, com Turner, for de origem materna ou paterna. As portadoras de Turner (45, X) de origem paterna determinam uma maior habilidade social- cognitiva, comportamental e verbal, em comparação às portadoras de Turner de origem materna. O tratamento visa a reposição do hormônio sexual feminino (estrogênio) após a puberdade. Síndrome de Klinefelter (47, XXY e demais cariótipos): originada pela presença de uma ou mais cópias extra do cromossomo X; só acomete homens, quanto mais X extra, são mais severas as manifestações clínicas. Geralmente, esta síndrome só é diagnosticada na puberdade, devido ao sinal de hipogonadismo e a ausência das características secundárias masculinas e presenças das sexuais secundárias femininas; a cópia extra do cromossomo sexual é resultante da não disjunção do cromossomo X na MI da gametogênese de ambos os pais e, no caso da materna, está relacionada com idade. Cerca de 15% exibem mosaicismo (46, XY/ 47, XXY) e uma minoria é do tipo translocação. As características clínicas são: homens altos e magros, ginecomastia, distribuição de gordura e de pelos exibem um padrão típico feminino, hipogonadismo e infertilidade, ausência das características sexuais 2ª masculinas. A compreensão verbale cognitiva podem estar abaixo da média. Tratamento visa a reposição do hormônio sexual masculina (testosterona) após a puberdade. Síndrome do triplo X (47, XXX e demais cariótipos): está associada à presença de uma ou mais cópias extras do cromossomo X, na ausência do Y em um indivíduo do sexo feminino. 95% dos casos são decorrentes de não disjunção na MI materna, com forte influência da idade avançada. As características clinicas são: mulheres altas e uma pequena redução do processo cognitivo, atraso da menarca, oligomenorreia, amenorreia secundária e atraso no desenvolvimento das características sexuais 2ª, mas são férteis. Síndrome de Jacobs (47, XYY): está associada à presença de uma ou mais cópias extras do cromossomo Y em um indivíduo do sexo masculino. 95% dos casos são decorrentes de não disjunção na MI paterna. As características clínicas são imperceptíveis em relação ao homem normal. A única característica associada à constituição 47; XYY é a estatura elevada e, em alguns casos, podem apresentar alterações comportamentais, dificuldade no aprendizado, déficit de atenção, hiperatividade e impulsividade. Cariótipo das alterações cromossômicas numéricas aneuploidias sexuais mais comuns (Síndrome de Turner – 45, X; Síndrome klinefelter de – 47, XXY; 47, XXX; Jacobs- 47, XYY respectivamente). Classificação das mutações cromossômicas estruturais O crossing over (permuta gênica) entre os cromossomos homólogos é um processo natural nas células, durante a prófase I da meiose, que assegura a variabilidade gênica, mas quando ocorre erros durante este processo, surgem as mutações cromossômicas estruturais. Segundo Pimentel et.al (2013), as mutações que envolvem as estruturas dos cromossomos resultam de uma ou mais rupturas transversais em um ou mais cromossomos, seguidas de uma reconstituição cromossômica anormal. Essas alterações resultam num rearranjo estrutural equilibrado (ou balanceada), quando não houver modificação do material genético, e, quando houver perda ou adição de material genético, resultará num rearranjo não- equilibrada (não-balanceada), originado da trissomia ou monossomia parcial. Geralmente, os portadores das mutações cromossômicas estruturais equilibradas apresentam o fenótipo normal, enquanto a não-equilibrada sempre desenvolvem anomalias fenotípicas (Cans et al., 1993; Jacob et al., 1992ª; Hassold e Hunt, 2001). Além disso, os rearranjos estruturais podem ser do tipo intracromossomal (no mesmo cromossomo) e do tipo intercromossomal (mais de um cromossomo está envolvido no rearranjo). Essas quebras cromossômicas podem ocorrer espontaneamente em uma baixa frequência ou serem induzidas pela ação de agentes externos, os “agentes teratogênicos” (exposição a gentes físicos, biológicos e químicos). Assim como as mutações numéricas, as estruturais podem afetar todas as células do organismo ou apenas uma porção delas (mosaicismo somático ou germinativo), podendo estar restrito aos gametas. Tipos de mutações cromossômicas estruturais Segundo Pimentel et.al (2013), as principais mutações estruturais balanceadas e não-balanceadas são: deleção, duplicação, isocromossomo, inversão e translocação. Deleção envolve perda de um segmento cromossômico, resultando numa monossomia parcial. As consequências clínicas desse evento vão depender do tamanho da região perdida e da função dos genes contidos neles. A deleção pode ser termina (quebra é na extremidade) e/ou intersticial (próximo ao centrômero). Destaca-se a deleção do 5p-, a síndrome de “cri-du-chat” (miado de gato) (46, XX/XY, 5p-), uma disfunção congênita rara, causada pela perda parcial do braço curto do cromossomo 5. Inversão ocorre quando um cromossomo sofre duas quebras e é reconstituído como segmento cromossômico invertido. Pode ocorrer a inversão próxima ao centrômero do cromossomo (pericêntrica) ou pode ocorrer em um braço distante do centrômero (paracêntrica). A mais comum no homem é a inversão pericêntrica na região do cromossomo 9 (p11q12). Este tipo de inversão não envolve alterações fenotípicas na grande maioria dos portadores. Isocromossomo é formado quando a divisão do centrômero e a separação das cromátides irmãs, durante a M, ocorre de modo transversal. É um cromossomo que perdeu um de seus braços e o substituiu com uma cópia exata do seu outro braço. O tipo mais observado é a síndrome de Turner, representado pelo braço longo do cromossomo X (Xq). Em geral, os isocromossomos autossômicos são letais, pois o material genético é substancialmente alterado. Duplicação ocorre quando um mesmo segmento cromossômico aparece mais de uma vez. Em geral, apresenta menor manifestações clínicas. Translocação é a troca de fragmento entre dois cromossomos geralmente não homólogo que sofreram quebra. Ou seja, é a remoção de um segmento cromossômico de uma posição normal para outro cromossomo sem alterar o nº de cromossomo (trissomia autossômicas [21, 28, 13)], trissomias sexuais [duplo X e/ou Y, Kinefelter e Turner]). As translocações equilibradas representam uma das anormalidades cromossômicas na espécie humana. Essas translocações equilibradas normalmente não alteram o fenótipo e podem passar despercebidas até os indivíduos portadores serem identificados, quando surgem problemas reprodutivos, como abortos de repetições, natimortos ou descendentes com manifestações clínicas. De acordo com Cohen et al., esses portadores possuem graus variados de riscos reprodutivos, pois a segregação dos cromossomos translocados na meiose poderá formar gametas anormais com trissomias ou monossomias parciais. Existem dois tipos básicos de translocações: recíprocas e Robertsoniana. A translocação recíproca após a quebra ocorre uma troca recíproca dos segmentos quebrados sem alterar o nº total de cromossomo. Já na Robertsoniana, a troca acontece entre dois cromossomos acrocêntricos (13, 14, 15, 21 e 22) que se fundem pelo centrômero os braços longos e os braços curtos são perdidos. O portador equilibrado possui cariótipo 45 cromossomos e, em geral, sem manifestações clínicas. Um desse tipo de translocação é a que envolve um cromossomo 21 e um 14 em um indivíduo com 45 cromossomos em suas células que pode levar à formação de gametas anormais. As combinações 13q14q e 14q21q são as mais comuns, representando 85% das translocações Robertsonianas. A síndrome de Down com translocação não evidencia relação com a idade materna, mais há uma recorrência relativamente alta com as famílias nas quais um dos pais, especialmente a mãe, é um portador de translocação. Por esta razão, o cariótipo dos pais e, possivelmente, dos irmãos é essencial antes de fornecer uma informação genética acurada. Principais mutações estruturais balanceada e não balanceada. Assista ao vídeo para visualizar a classificação das mutações cromossômicas numéricas e estruturas – Genética Baseada em Evidência – Síndromes e Heranças. Representação do cariótipo das principais anormalidades cromossômicas. A: Cariótipo de bandeamento G de uma égua 64, XX; B: Cariótipo de bandeamento G de uma égua 63, XO; C: Cariótipo de bandeamento G de uma égua 65, XXX; D: Cariótipo de bandeamento G de uma égua 64, XY. Adaptado de: Chandley et al., 1975. Genética Baseada em Evidência - Síndromes Genética Baseada em Evidência - Síndromes …… Saiba mais lendo os artigos: https://www.youtube.com/watch?v=VXMxed9fXDQ Exame de cariótipo para diagnóstico das mutações cromossômicas pela cariotipagem clássica modificada Exame de cariótipo para diagnóstico das mutações cromossômicas pela cariotipagem clássica modificada, em pacientes com retardo mental associado ou não a malformações congênita múltiplas e para em outros animais: determinação de espécie e sexo. As técnicas de estudo do cariótipo modificado vêm contribuindo significativamente para a detecção de mutações cromossômicas, tanto numéricas (aneuplodias e/ou euploidias) quanto estruturais.Essa técnica consiste na cultura de linfócitos do sangue periférico, segundo o método de Moorhead et al. (1960), modificado e empregado, com posterior bandeamento G, usando tripsina e Gemsa (GTP), que compreende cerca de 450-550 regiões (Seabright, 1971). A técnica convencional só permite a identificação das mutações numéricas e estrutural (ANDRADES- MIRANDA; MATTEVI, 2011). -Testes genéticos na equideocultura -Infertilidade na cadela e na gata Assista ao vídeo: Cariótipo http://www.scielo.br/pdf/rbz/v37nspe/a23v37nsp.pdf http://www.cbra.org.br/pages/publicacoes/rbra/v35n2/RB377%20Fontbonne%20pag202-209.pdf Assista também: Array CGH: Descubriendo los milagros del embrión. Comprehensive Chromosome Screening (CCS) CariotipoCariotipo Array CGH: Descubriendo los milagros del eArray CGH: Descubriendo los milagros del e…… https://www.youtube.com/watch?v=DTZEtvyWe2o https://www.youtube.com/watch?v=Qy9S7EyqY0w Idiograma do cariótipo humano normal (sexo masculino). 2. Conclusão De acordo com Nussbaum e Willard (2002), as mutações cromossômicas são classificadas estruturais, numéricas e mosaicismo. As anomalias cromossômicas numéricas são classificadas em duas categorias: as euploidias e as aneuploidias. De acordo com o tipo de cromossomo que se ganha e/ou se perde, a aneuploidia também é classificada em autossômica e/ou sexual. As mutações cromossômicas autossômicas mais comuns são: a síndrome de Down, Patau, Edwards. Entre as sexuais, são a síndrome de Turner e Klinefelter. De acordo com Hassold et al., (1998), Thomas et al, (2001) e Hall et. Al, (2006), as aneuploidias são resultantes de erros na não-disjunção durante a meiose (M) celular I e/ou II materna, com maior frequência durante a MI. A não-disjunção paterna é menos comum. Segundo Pimentel et.al (2013), as mutações que envolvem a estruturas dos cromossomos resultam de uma ou mais rupturas transversais em um ou mais cromossomos, seguida de uma reconstituição cromossômica anormal durante a prófase I da meiose (Crossing over). Essas alterações resultam num rearranjo estrutural equilibrado e em rearranjo não-equilibrado, originado trissomia ou monossomia parcial. Além disso, os rearranjos estruturais podem ser do tipo intracromossomal e do tipo intercromossomal. As principais mutações estruturais equilibradas e não equilibradas são: deleção, duplicação, isocromossomo, translocação e inversão. Essas quebras cromossômicas podem acorrer espontaneamente ou serem induzidas pela ação de fatores agentes teratogênicos. Ainda há casos em que pode ocorrer a mistura de linhagens de células normais e células alteradas em um mesmo indivíduo – “o mosaicismo”. Esse erro está relacionado com a não disjunção das cromátides irmãs durante a mitose do zigoto. Por fim, o quimerismo, no qual o indivíduo possui tipos distintos de DNA em seu corpo. As quimeras humanas surgem de maneira natural (embriológica) ou ocasionadas por doação de órgãos ou transfusões sanguíneas. 3. Referência A. Fontbonne. Infertility in bitches and queens: recent advances. Rev. Bras. Reprod. Anim., Belo Horizonte, v.35, n.2, p.202-209, abr./jun. 2011. 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