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Aspectos Ergonômicos Os fundamentos da ergonomia A ergonomia é uma área que historicamente se caracterizou com pesquisas no campo da saúde, produzindo o que muitos chamam de “a clínica do trabalho”. O sujeito forja o ambiente e o ambiente forja o sujeito. Nesse sentido, a ergonomia é muito mais complexa, pois atua na busca de responder algumas demandas do mundo empresarial, entre elas: melhoria das condições materiais e instrumentais de trabalho, a revelação do que pode ser nocivo à saúde dos trabalhadores, destaque da importância da competência profissional, consequências do uso das novas ferramentas tecnológicas, o entendimento do que é o ambiente de trabalho etc. Assim, a ergonomia pode ser definida como: Uma abordagem científica antropocêntrica que se fundamenta em conhecimentos interdisciplinares das Ciências Humanas e da Saúde para, de um lado, compatibilizar os produtos e as tecnologias com as características e necessidades dos usuários e, de outro, humanizar o contexto sociotécnico de trabalho, adaptando-o tanto aos objetivos do sujeito e/ou grupo, quanto às exigências das tarefas e das situações de trabalho. (FERREIRA, 2011, p. 141) A ergonomia atua com foco em propor alternativas na forma de trabalho que gerem harmonia entre o bem-estar do trabalhador, a eficiência e a eficácia de sua atividade no contexto do ambiente de trabalho. Esse bem-estar não deve considerar apenas o caráter físico, mas também o psicológico e social. As concepções ambiente, indivíduo e trabalho Para sairmos do olhar único da “clínica do trabalho”, devemos compreender a ergonomia por meio das concepções ambiente, indivíduo e trabalho. Vejamos: Concepção ambiente Na concepção ambiente, a ergonomia vai buscar o entendimento do funcionamento da empresa, identificando os fatores que podem auxiliar na compreensão do problema que está sendo tratado. Não dá para dedicar-se ao trabalho sem conhecer o ambiente em que ele acontece. O estudo da ergonomia vai demandar o entendimento das políticas e dos documentos da organização, uma vez que são fonte de valor para realização da atividade ergonômica. extension Exemplo Como é o quadro demográfico da empresa? Como acontece a atração e retenção de pessoas? Qual a atenção que a empresa dá ao desenvolvimento de seus funcionários? Qual o nível de diversidade das equipes? Quais leis são aplicadas ao negócio? Qual o tipo de mercado e como ele funciona? Esses e vários outros levantamentos permitirão identificar os melhores termos para dinâmica de organização do processo de trabalho e a elaboração de análise de cenários posteriores, esclarecendo ao trabalhador o que e como deve ser feito. A ergonomia enxerga a unicidade do ambiente de trabalho, sendo cada um singular em si. Duas fábricas de pneus não são iguais, por mais que possam ter o mesmo layout e as mesmas máquinas. Embora possa parecer simples, sendo muitas vezes ignorada por vários gestores, a prescrição das tarefas nas organizações tem papel importante. Em algumas empresas, isso pode acontecer informalmente, sem procedimento definido. Porém, a abordagem ergonômica na formalização das tarefas (estruturada em processos técnicos, com fluxo de trabalho organizado, e definição das responsabilidades) é, inclusive, um aspecto ético, uma vez que isso permite adequar, regular e harmonizar a lógica do funcionamento do trabalho aos seus usuários (os trabalhadores). Concepção indivíduo Já na concepção indivíduo, a ergonomia vai destacar duas dimensões: a diversidade de cada um de nós (somos seres diferentes entre si) e a variabilidade intra e interindividual (variamos nossos comportamentos para dentro e para fora). post_add Saiba mais O posto de trabalho e a ferramenta que usamos para realizá-lo (seja ele qual for) podem ser padronizados no sentido do que se precisa para fazer tal trabalho. Contudo, quando pensamos em nós como indivíduos (nossas diferenças e variabilidades), a figura muda. Daí vem a preocupação da ciência da ergonomia em nos enxergar sob perspectivas individualizadas. Como isso se manifesta? Pode ser por características mais visíveis, como nossa altura, peso, gênero, idade, ou ainda por outros aspectos não visíveis, como nossa personalidade, comportamentos, hábitos, histórico familiar, experiências passadas. Por mais que possa parecer evidente, a verdade é que o tema é muitas vezes desprezado, por ser simplesmente ignorado ou pela dificuldade que é aplicar tais distinções de forma prática. A ergonomia enxerga o indivíduo como integrado ao ambiente, atuando dentro dele como um ser pensante, que age e sente, reagindo às exigências do ambiente. Outro ponto que vem ganhando força na ergonomia quando se fala da concepção indivíduo é a inter-relação idade, envelhecimento e trabalho. Isso porque nossa capacidade produtiva varia ao longo do tempo. E o tema se torna relevante quando a expectativa de vida e o desemprego aumentam. Aos 35, não somos os mesmos quando aos 20 anos. Aos 50 somos diferentes dos 35. Aos 70, quando muitos ainda estão ativos, as capacidades motoras, cognitivas, físicas etc. não são mais as mesmas. Que políticas e programas as empresas e governos vêm pensando para esse cenário? Concepção trabalho Ao longo da história, o trabalho sempre foi forjador da cultura e uma atividade mediadora entre o indivíduo e o ambiente em uma via de mão-dupla. O indivíduo, por sua vez, busca transformar o ambiente para satisfazer suas necessidades, em contrapartida também é transformado pelo ambiente – daí vem a afirmação anterior de que o sujeito forja o ambiente e o ambiente forja o sujeito. text_snippet Resumindo A ergonomia assume que o indivíduo não é passivo em relação ao que acontece. Cada um de nós no local de trabalho busca regular a necessidade que nos cabe, mantendo um nível satisfatório de produção para a empresa e para o trabalhador. A dinâmica com que isso ocorre é influenciada pela atividade do indivíduo em sua performance (desempenho no trabalho, cumprimento dos objetivos estabelecidos) e em seu bem-estar (condição de saúde nas dimensões física, psicológica e social). image1.jpeg