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Representação Arquitetônica e Artística do Objeto Construído: Desenho de Memória APRESENTAÇÃO O desenho de memória é um desenho produzido sem a observação do objeto desenhado e que utiliza apenas as imagens desse objeto guardadas na memória. Normalmente, consegue-se desenhar de memória depois um período de atenta observação e treino do objeto em questão. Reminiscências de infância – como a casa dos avós, a primeira professora –, ao serem colocadas no papel, também são desenhos de memória. Pode-se também observar um objeto até retê-lo no seu inconsciente e depois desenhá-lo; dessa maneira, produziremos um desenho de memória. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir a sequência de técnicas necessárias para aprimorar seu desenho.• Armazenar imagens visuais em sua mente através de técnicas que facilitem a memorização. • Construir um desenho de memória.• DESAFIO Busque na sua memória suas lembranças de infância, o brinquedo preferido, seu quarto na casa de seus pais, a casa de seus avós no interior ou o rosto da sua colega de escola. Tente representar no papel, sem compromisso de acertar, apenas desenhe o que você lembra. Use todos os seus sentidos, e você conseguirá transportar para o papel o essencial do objeto! Para este exercício da técnica de desenho de memória, você precisará de: - Folhas de papel sulfite - Fita adesiva - Lápis macio Com a fita, prenda a folha sulfite na sua prancheta de desenho para que ela não saia da posição colocada. INFOGRÁFICO O infográfico aponta as formas de produzirmos um desenho de memória. Confira. CONTEÚDO DO LIVRO Desenvolver um desenho é uma arte intimamente ligada à percepção das imagens que vemos ou daquilo que imaginamos e pensamos sobre um objeto. Não é possível desenhar aquilo que não tenhamos conhecimento ou vivenciamos, precisamos conhecer o objeto que será desenhado a partir de nossa memória. O desenho de memória se baseia nisso: a partir das imagens presentes em nosso cérebro e que iremos reproduzir sobre um papel. Trata-se de um desenho que não contém tantos detalhes que é Imagem 13 produzido depois da observação do objeto. No capítulo Representação arquitetônica e artística do objeto construído: desenho de memória, da obra Desenho e Plástica, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer diversas técnicas de desenho preparatórias para desenvolver um desenho de memória, bem como explorar meios para facilitara percepção dos objetos. Por fim, desenvolver seu próprio desenho de memória. Boa leitura. DESENHO E PLÁSTICA Marina Otte Representação arquitetônica e artística do objeto construído: desenho de memória Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir a sequência de técnicas necessárias para aprimorar seu desenho. Armazenar imagens visuais em sua mente através de técnicas que facilitem a memorização. Construir um desenho de memória. Introdução A representação artística de um objeto é um processo contínuo de apren- dizagem que vai evoluindo com o passar do tempo. Existem diferentes formas de iniciar um desenho, algumas desenvolvidas pelo próprio de- senhista, outras consolidadas técnicas de representação. Uma dessas técnicas é o desenho de memória, um desenho no qual nossa vivência e nosso conhecimento do mundo facilita sua execução. Trata-se, portanto, uma técnica que pode ser potencializada a partir de outras a serem desenvolvidas e exercitadas. Neste capítulo, você vai conhecer diversas técnicas que auxiliam no desenvolvimento do desenho e diferentes formas de memorizar objetos que possam ser usados no desenho de memória. Além disso, vai ver como conceber uma representação a partir do desenho de memória. 1 Aperfeiçoamento do desenho O ato de desenhar é uma aptidão que pode ser desenvolvida e aperfeiçoada a partir da repetição de exercícios, da observação e de muito treino. Muitos profi ssionais de áreas criativas esbarram no limite entre as ideias desenvolvidas na mente e o fato de transpô-las para o papel. Por isso, o desenho, nessas áreas, é fundamental, conforme Bajzek (2019, p. 13) destaca: O desenho é uma ferramenta de grande valia e importância na carreira de ar- quitetos, paisagistas, designers, ilustradores, pintores e urban sketchers. Nesse sentido, considero o desenho como um conjunto de habilidades específicas que auxiliam na construção de cenas, sejam elas imaginárias, representações gráficas de um projeto ou mesmo resultado da observação do “real”. Existem vários tipos de desenho, mas uma divisão básica é entre o desenho artístico e o técnico. No desenho artístico, os gostos, traços, conceitos e ideias do artista se sobrepõem à imagem representada. Já no desenho técnico, é necessário seguir certas regras, normas e não fugir da realidade. Em ambos, a “arte” de desenhar pode ser aprendida e aperfeiçoada a partir de técnicas, exercícios e muita observação. Alguns dos exercícios essenciais são os de desenho de linhas, desenho de decalque, desenho de imitação (p. ex., desenho de quadrícula ou grade), desenho de observação, entre outros. O desenho de linhas é a base da representação que desenvolvemos desde criança. Essa linha é a mesma que arquitetos, designers e paisagistas usarão para definir o limite dos objetos e projetos que irão representar. A linha “é o elemento mais básico de qualquer desenho, capaz de expressar e indicar uma infinidade de coisas” (BAJZEK, 2019, p. 16). Para desenvolver essa técnica, é necessário representar a linha em todos seus sentidos: horizontal, vertical e oblíquo. Para exercitar essas linhas, ainda é possível fazer uma série de variações como (Figura 1): pressão: ora mais forte, ora mais fraco, expressando algo mais ou menos intenso; velocidade: desenhar mais rápido representando movimento ou mais lento e suave; relação: unindo ou dando continuidade às linhas de diferentes objetos para compor uma cena; alternância: desenhar uma mesma linhas com aspectos diferentes, dando-lhe irregularidade. Representação arquitetônica e artística do objeto construído: desenho de memória2 Para tal, faz-se uso de um papel e lápis de gramaturas variadas, de modo que é importante saber qual efeito é possível com qual lápis, que pode variar de H, os mais duros, a HB e B — o 9B é o mais macio de todos e o 9H, o mais “duro”. É possível, ainda, treinar com carvão, um dos materiais mais antigos para desenho. Figura 1. Treino de variação do desenho de linhas de intensidade, espessura, variação, relação, direção, etc. A técnica de desenho decalque pode ser desenvolvida de duas formas: com papel transparente ou confeccionando um falso carbono. No falso carbono, o desenhista deve sobrepor camadas: um papel em branco, um papel pintado com um grafite macio (p. ex., um lápis 2B,) que será o falso carbono, com a parte pintada virada para a folha branca, e, por cima, a imagem que será reproduzida (TORRES, 2018). O próximo passo dessa técnica é passar com uma caneta ou lápis sobre as principais linhas do desenho original, aplicando certa força para que as linhas sejam reproduzidas no papel em branco. Depois, pode-se dar acabamento ao papel que recebeu o decalque complementando o desenho com linhas dos detalhes, sombras ou até colori-lo. A outra forma de executar o desenho de decalque é colocando um papel transparente diretamente sobre a figura ou as fotos que serão reproduzidas. Nesse caso, recomenda-se o uso apenas do lápis, pois pode ser apagado depois e nada impede de sobrepor com caneta preta ao final. O desenho é terminado no próprio papel transparente (Figura 2). 3Representação arquitetônica e artística do objeto construído: desenho de memória Figura 2. Foto e desenho de decalque com papel transparente sobre a foto. Fonte: Leggitt (2004, p..20). Outra técnica é o desenho de imitação a partir do auxílio de uma gradeou quadrícula. Para isso, deve-se escolher uma imagem clara e com boa resolução. Desenha-se sobre ela uma quadrícula com linhas horizontais e verticais em espaços regulares; pode-se, inclusive, nomear as linhas com números em um dos sentidos e letras no outro para facilitar a leitura e localização. Em um papel em branco, desenha-se a mesma quantidade de linhas ou se utiliza um papel milimetrado que facilite a identificação dos intervalos constantes entre as linhas que formam a grade. Com um lápis, começa-se desenhando o que se encontra dentro de cada quadrado que se formou sobre a imagem original (Figura 3). Note que é possível usar os números e letras para identificar onde está a parte do desenho original no seu papel em branco. Preenche-se parte a parte até que o desenho tome sua forma final. É uma técnica muito interessante e que é usada, inclusive, para aumentar e diminuir desenhos. Representação arquitetônica e artística do objeto construído: desenho de memória4 Figura 3. Reprodução de um desenho a partir de uma grade, o círculo vermelho mostra o ponto de partida do desenho, aqui representado em azul. Já o desenho de observação é baseado na visualização em tempo real do objeto e seu desenho. Pode ser de um cenário pequeno, como um conjunto de uma garrafa e copos, até a imagem de uma paisagem urbana externa. O ideal é usar um cavalete e testar empunhaduras novas; o desenho acontece com lápis ou caneta sobre um papel, mas, depois, pode receber cores. É essencial observar os detalhes dos objetos, as sombras, as relações entre os elementos, etc. (Figura 4). O desenho de observação também contribui para a nossa percepção do mundo que nos rodeia: “É por meio do desenho que conseguimos perceber nosso ambiente de maneira inovadora e apreciar a singularidade de um lugar. Desenhamos com base na observação para notar, entender e lembrar” (CHING, 2017, p. 218). Figura 4. Prática de desenho de observação. Fonte: Syda Productions/Shutterstock.com. 5Representação arquitetônica e artística do objeto construído: desenho de memória Essas são algumas das técnicas de desenho que podem ajudá-lo a ter mais segurança e experiência para desenvolver seus desenhos, especialmente o desenho de memória, que apresenta um desafio extra, o de retirar da nossa imaginação a imagem de referência. A seguir, você confere dicas para facilitar a memorização das imagens a serem desenvolvidas no desenho de memória. 2 A memorização de imagens A percepção é essencial para o aprimoramento do desenho, tanto para o desenho em si quanto para entender aquilo que será representado. A percepção está intimamente ligada aos sentidos e tem sutilezas que se diferenciam de pessoa para pessoa. Sem dúvida, o sentido mais aguçado na percepção humana das imagens é a visão. Nosso sistema visual se desenvolve ao longo da vida, especialmente a visão tridimensional. Esse desenvolvimento garante a percepção de características essenciais para a memorização das imagens. Dentre essas características, podemos destacar a distribuição da luz e da sombra, o reconhecimento dos sólidos, curvas e relevo (TUAN, 2015). Essa percepção se torna individualizada a partir de características indi- viduais, como: idade — a pouca idade pode comprometer um repertório de imagens mais extenso; cultura — uma cultura pode não ter contato algum com um objeto e outra sim (p. ex., a imagem do Buda para o ocidente e a imagem de Cristo para o Oriente); inteligência — aumenta a capacidade do cérebro de reter imagens ou até mesmo a facilidade de guardar imagens de cada um; educação — pode dar acesso a elementos novos. Outra possibilidade de entender como ocorre a percepção é a partir da teoria da Gestalt, elaborada por psicólogos no início do século XX. Segundo a Gestalt, a percepção do todo é mais forte do que suas partes (GOMES FILHO, 2000), ou seja, em um primeiro momento, a pessoa retém a imagem da totalidade da cena e pode estar absorvendo mais de um objeto ao mesmo tempo, conforme a relação entre eles. Essa relação entre os objetos também pode facilitar a sua memorização e, depois, sua representação, já que “[...] um formato nunca pode existir isolada- Representação arquitetônica e artística do objeto construído: desenho de memória6 mente. Ele somente pode ser percebido quando relacionado a outros formatos ou ao espaço no qual se encontra” (CHING, 2012, p. 23). Para realizar um desenho de memória, é necessário que o desenhista tenha um bom repertório de imagens, já que a única fonte de informações sobre o que será desenhado está armazenada no cérebro — por isso a relação com a percepção, que está diretamente conectada com nosso sistema visual e com a atração que uma imagem exerce sobre esse sistema. Dessa forma, memorizar imagens que nos agradam pode facilitar esse processo. Uma sugestão que ajuda inclusive no exercício da profissão é investir em um repertório de imagens que fazem parte do dia a dia do profissional. O ideal é que essas imagens sejam vivenciadas, ou seja, visualizadas na sua realidade. Por isso, pode-se começar com pequenos objetos aos quais se tenha acesso, como, por exemplo, um sofá: passa-se a olhar os sofás com outros olhos, vendo a distribuição de luz, onde estão as partes mais escuras (geralmente no encontro entre as almofadas) e mais claras, as linhas de contorno, nas quais estão as partes mais retas (geralmente os pés), as partes mais curvas (parte mais fofa), os relevos ou texturas da peça, o que brilhar e o que está opaco. Uma dica importante é tentar verificar com que figura geométrica o objeto se assemelha, o todo ou suas partes — em um sofá, geralmente, o todo se assemelha a um retângulo mais horizontalizado. Em um segundo momento, vê-se a relação entre os objetos, como almofadas, mesa de centro, outras poltronas (Figura 5). Figura 5. Imagens do dia a dia: um sofá. Fonte: Onzon/Shutterstock.com. 7Representação arquitetônica e artística do objeto construído: desenho de memória Um exercício que pode ser importante é notar quanto tempo se leva ao ver uma revista ou livro de imagens e, depois de folheá-los, tentar pensar em todas as imagens que contêm — certamente, não será possível lembrar-se de tudo. Assim, pode-se olhar uma segunda vez o mesmo livro pensando que será necessário descrever tudo que inclui — com certeza, essa segunda opção levará mais tempo. Ou seja, o tempo de observação de qualquer imagem é essencial para memorizá-la. Dessa forma, mesmo para um objeto individual como um sofá, deve-se dedicar um tempo para a sua observação — esse tempo será potencializado conforme as imagens ficam mais complexas. Profissões como designer de interiores, arquiteto e paisagista costumam trabalhar com imagens internas mais complexas e mais ainda quando se trata da paisagem urbana. Você pode aproveitar-se, por exemplo, de paisagens naturais ou construídas, que inclusive podem estar na sua cidade. Observe a distância entre os elementos, como a cor de uma mesma referência pode ir mudando conforme sua distância (no caso das montanhas mais longínquas o verde vai ficando mais sóbrio, com um aspecto mais escuro). Note, ainda, a linha arredondada de uma montanha, as linhas retas e oblíquas de uma rocha, as texturas das árvores, etc. (Figura 6). Figura 6. Memorizando imagens de paisagens. Fonte: Anselmus/Shutterstock.com. Representação arquitetônica e artística do objeto construído: desenho de memória8 Mais uma vez, para esse processo ser mais interessante, deve-se estimular o cérebro. Por exemplo, aproveitar viagens e os lugares por onde se esteve e revivê-los posteriormente: “Relembrar os desenhos resultantes em um momento posterior pode nos ajudar a resgatar memórias, trazendo-as para o presente, permitindo que sejam saboreadas mais uma vez” (CHING, 2017, p. 220). Um detalhe interessante para áreas como arquitetura, paisagismo e design de interiores é que elas têm em seu escopo imagens de obras importantes ao redor do mundo.Mesmo que você não tenha a oportunidade de vivenciá-las ao vivo, passe a memorizar imagens delas por meio de fotos ou de uma visita virtual com software como o Google Street View ou Earth Maps. Alimentar o cérebro com um repertório de imagens é essencial para o desenho de memória, mais ainda quando se começa a criar projetos, pois o reportório é uma fonte de inspiração para a idealização dos mesmos. A seguir, você vai acompanhar como desenvolver seu próprio desenho de memória. Uma famosa e antiga técnica de memorização é a chamada de “palácio da memória” ou “método de loci”, e que se baseia em usar memória espacial para gravar informações como fatos, nomes, etc. Para isso, cria-se um lugar imaginário e se associa uma memória aos móveis dos cômodos. 3 O desenvolvimento de um desenho de memória Profi ssões que desenvolvem ideias no pensamento e depois precisam representá- -las em um novo meio, como o papel, precisam necessariamente de uma mente criativa e imaginativa: “A imaginação, portanto, se refere ao poder de reproduzir imagens guardadas na memória sob a sugestão de imagens asso- ciadas — imaginação reprodutiva — ou de recombinar experiências passadas na criação de novas imagens dirigidas a um objetivo específi co ou que ajudem na solução de problemas — imaginação criativa” (CHING, 2012, p. 285). Por esse motivo, o desenho de memória é um exercício importante tanto para aprimorar o desenho em si quanto para fomentar o desenvolvimento de uma mente com imaginação criativa. A criatividade e o desenho são as bases 9Representação arquitetônica e artística do objeto construído: desenho de memória de áreas de atuação como design de interiores, moda, publicidade, arquitetura e urbanismo, paisagismo, design de produto, design de jogos, entre outros. O desenho de memória é caracterizado pela representação de uma cena ou objeto em um papel utilizando como referência apenas as imagens que estão guardadas na mente do desenhista. Para iniciá-lo, um bom preparo prévio fará todo o diferencial. Primeiro, é recomendado treinar outras formas de represen- tação, como desenho de linhas, desenho de memória, desenho de decalque, etc. Depois do preparo, deve-se incrementar o “banco de imagens” mental, aprovei- tando para vivenciar cenas e observar mais detalhadamente os objetos, dando preferência para aquilo que inspira e que se possa utilizar profissionalmente. A percepção deve basear-se em reconhecer o objeto e sua essência, que é primordial em um desenho de memória, o que não significa se ater apenas ao todo, pois os detalhes também devem ser observados. A partir disso, pode-se iniciar o desenho propriamente dito. Para sua execução, pode-se utilizar um papel sulfite A4 para objetos indi- viduais ou para um pequeno conjunto de objetos e uma folha A3 para cenas maiores, como as externas, por exemplo. Dessa forma, o formato do desenho e sua proporção no papel podem variar (CHING, 2012). Para o desenho em si, usa-se lápis, que facilita pequenos retoques. Reco- menda-se o uso da caneta em um segundo momento, pois pode auxiliar no desenvolvimento de um traço mais seguro, que se sabe que não poderá ser refeito. É importante destacar que o desenho de memória não é uma imitação fiel da realidade, visto que, como a imagem real não está em nossa frente para conferir, os detalhes acabam se perdendo. Quando armazenamos uma imagem em nossos cérebros, o essencial permanece, bem como aquilo que para cada um é marcante naquela forma, o que muda de pessoa para pessoa. Dessa maneira, os desenhos de memória serão diferentes de indivíduo para indivíduo, mesmo que o tema seja exatamente o mesmo, mas é neces- sário avaliar o que se quer transmitir: “Ao desenhar de memória ou usando a imaginação, devemos ser capazes de avaliar o que desenhamos em relação ao que queríamos transmitir” (CHING, 2012, p. 31). Para o desenho de memória, não existem tantas regras sobre, por exemplo, por onde começar a representação. Assim, pode-se iniciar o trabalho por um elemento que se tenha facilidade de identificar ou que tenha ficado marcado — muitas vezes, escolher um detalhe funciona para, aos poucos, ir acertando a proporção. Sobre o tamanho do desenho, deve-se ver com o que se sente à vontade: um desenho maior requer mais detalhes, mas pode ser mais fácil de ir adequando cada parte à sua proporção; em um desenho pequeno, alguns detalhes podem sumir, mas dar a proporção do todo pode ser um desafio. Representação arquitetônica e artística do objeto construído: desenho de memória10 Podemos considerar como exemplo um desenho de um objeto que pode aparecer em projetos de design de interiores, arquitetura e paisagismo e que, ao mesmo tempo, com certeza todos já viram: uma mesa. Para começar o desenho, primeiro, deve-se imaginar o formato principal — se, por exemplo, assemelha-se a alguma forma geométrica (os tampos das mesas podem ser redondos, ovalados, quadrados, triangulares, retangulares). Em um segundo momento, desenham-se os detalhes desse tampo, sua espessura, algum detalhe, mais de um material, etc. Em seguida, desenham-se os pés, pensando no tipo de pé que está na memória: um pé central, quatro pés nas extremidades, duas grandes bases e seus formatos, etc. Em seguida, vê-se a textura, como representar um metal, um vidro, uma madeira, e, por fim, imagina-se a luz e as sombras, de onde vem a luz, quais são as partes mais claras e mais escuras do objeto, quais elementos são som- breados pelo próprio elemento — o tampo de uma mesa, por exemplo, faz sombra nos seus pés (Figura 7). Figura 7. Desenho de memória de uma mesa. A partir do treino de objetos individuais, passa-se a treinar um conjunto de objetos, como, por exemplo, uma mesa e as cadeiras ao redor dela. Com base no elemento com o qual se iniciou o desenho, começa-se a desenhar o que se lembra que está próximo, observando as proporções e as distâncias entre eles. Por fim, pode-se desenhar cenas inteiras, como uma sala de jantar completa, ou ambientes externos, como um jardim com mesas e cadeiras. No entanto, é importante lembrar que a única fonte de referências é nossa própria mente e imaginação; por isso, deve-se considerar objetos reais, como a mesa de casa 11Representação arquitetônica e artística do objeto construído: desenho de memória e o jardim da empresa em que se trabalha, pois, assim, pode-se conferir, ao final da execução do desenho, os acertos e onde se pode melhorar. A imaginação e as referências da memória podem auxiliar na criação de objetos ou cenários e, por isso, o desenho de memória é tão importante para áreas ligadas à criação. Assim, é importante treinar os vários tipos de desenho, pois cada um pode contribuir com uma aptidão diferente na formação profissional. Lembre-se que treinar a percepção pode ser algo leve e prazeroso: você pode reviver uma viagem ou passar a aproveitar mais os cenários que existem ao seu redor. Além disso, é necessário recordar que o tempo é essencial para aumentar o banco de imagens e executar os desenhos, de modo que se deve praticar bastante, pois o desenho também é uma habilidade que pode ser desenvolvida. BAJZEK, E. Técnicas da ilustração à mão livre: do ambiente construído à paisagem urbana. Osasco: Gustavo Gili, 2019. CHING, F. D. K. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017. GOMES FILHO, J. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual da forma. 2. ed. São Paulo: Escrituras, 2000. LEGGITT, J. Desenho de arquitetura: técnicas e atalhos que usam tecnologia. Porto Alegre: Bookman: 2004. TORRES, S. Tirando o traço de desenhos com decalque. Desenho realistas, 25 abr. 2018. Disponível em: https://desenhosrealistas.com.br/decalque/. Acesso em: 08 mar. 2020. TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Londrina: Eduel, 2015. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados,e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Representação arquitetônica e artística do objeto construído: desenho de memória12 DICA DO PROFESSOR O vídeo a seguir apresenta a construção de um desenho de memória de uma parte da figura humana – o rosto. Assista! Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Sobre desenho de memória, é CORRETO fazer a seguinte afirmação: A) Somente lembranças de infância retidas na mente podem ser desenhos de memória. B) Se você não tem facilidade para memorizar, nunca poderá desenhar de memória. C) Normalmente, consegue-se desenhar de memória depois um período de atenta observação e treino do objeto em questão. D) Os desenhos de decalque, imitação e observação são técnicas desnecessárias no desenvolvimento do desenho de memória. E) Desenhos de memória produzem imagens fiéis dos objetos desenhados. 2) Para armazenar imagens visuais em sua mente, você precisa: A) Ter aptidão para memorizar imagens visuais. B) Ver, ter habilidade de percepção visual e treinar o desenho. C) Utilizar sua capacidade de visão, somente. Desenhar exaustivamente o mesmo objeto ou observá-lo no intuito de guardá-lo mentalmente também é característica do desenho de memória. Existem técnicas e exercícios que auxiliam no armazenamento das memórias visuais. A observação e a prática fazem com que as formas e proporções do objeto fiquem internalizados na mente. Os desenhos de decalque, imitação e observação são técnicas que permitem conhecer o objeto, desenhá-lo e redesenhá-lo, para depois poder repeti-lo de memória. A imagem visual percebida de um objeto pode não ser igual à da aparência real do objeto, pois o cérebro retém imagens com base nas memórias, experiências e percepções. Mesmo sem qualquer tipo de estímulo sensorial, temos faculdades mentais que nos permitem relembrar ou recriar imagens facilmente. A percepção é a maneira pela qual compreendemos e processamos a informação vista pelos olhos. O treino do desenho ajuda a memorizar a forma e proporção dos objetos. A visualização cria as imagens da realidade externa que percebemos de olhos abertos, mas, para armazenar imagens visuais, é necessário ir além e exercitar a habilidade de percepção visual. D) Armazenar informações sobre o objeto no formato verbal, somente. E) Treinar o desenho do objeto nas técnicas de decalque, imitação e observação, somente. 3) A percepção visual do objeto torna-se mais eficaz quando organizamos nossa maneira de observar. Escolha a alternativa em que os itens de observação facilitam a memorização da imagem e o transporte para o papel: A) A observação das cores e texturas do objeto. B) A observação da forma total do objeto, além da observação da cor e da textura. C) A observação da forma total do objeto, a divisão do objeto em partes para melhor visualização de seus volumes, superfícies e linhas, a observação das relações entre as partes que formam o objeto, a luz e sombra e os detalhes finais, como cores e textura. D) A observação da luminosidade, da perspectiva e da distância ideal do objeto. E) A utilização dos cinco sentidos – visão, audição, tato, paladar e olfato. 4) Marque a alternativa que corresponde ao desenho de memória verbal do objeto "copo", descrito a seguir: O objeto tem forma total de um trapézio invertido. As linhas externas que o compõem são retas. O objeto pode ser dividido em duas partes: a parte inferior – o corpo do copo –, onde o seguramos, e a parte superior, uma espécie de colarinho, onde bebemos, que acompanha toda a sua circunferência. A parte inferior tem linhas retas em toda a sua extensão, que vai da base até encontrar o colarinho do objeto. A) Uma descrição verbal precisa pode fornecer uma imagem visual, porém, os peritos concordam que, de todos os sentidos, a visão produz as memórias mais fortes. Essas técnicas auxiliam na interiorização das formas e proporções do objeto de desenho, porém, se o desenhista não souber perceber o objeto, não terá informações visuais suficientes para desenhá-lo. Cores e texturas são elementos componentes do desenho, mas secundários em comparação à sua forma total, por exemplo. Uma boa observação deve contemplar a percepção dos contornos (linhas), dos espaços, das relações de luz e sombra, além da forma total, da cor e da textura. Os itens contemplam a observação de todo o objeto, de sua forma total até a cor. Certamente, a memória guardará as informações mais relevantes do objeto que, depois, serão transferidas para o papel. São detalhes físicos que, ajustados, permitem uma boa percepção do objeto. A utilização dos cinco sentidos ajuda na memorização, mas é insuficiente se a percepção dos contornos (linhas), dos espaços, das relações e da luz e sombra, além da forma total, da cor e da textura não forem estudadas através da visão. O objeto tem formato arredondado e linhas externas curvas. B) O objeto não tem as características da parte inferior – as linhas retas que saem da base –, nem da parte superior do objeto, a superfície larga que acompanha toda a extremidade. C) O objeto apresenta formato de triângulo invertido na parte superior e linear na parte inferior. D) O objeto tem formato total cilíndrico e alça de pega. E) A descrição verbal corresponde à imagem desenhada na sua forma total, nas relações entre as partes do objeto e nos detalhes, como as linhas retas internas. 5) A visão é o principal canal sensorial através do qual temos contato com o mundo. Para desenhar de memória um objeto visto recentemente, é preciso afinar a arte de enxergar. Para aprender a observar corretamente, é necessário: A) Ver, simplesmente. B) Observar o objeto sempre do mesmo ângulo. C) Escolher a distância ideal de visualização que será sempre a mesma para todos os objetos. D) Concentrar-se no seu objeto de desenho, observar o objeto de todos os ângulos, escolher a distância ideal de visualização e manter a mesma perspectiva para desenhar. E) Aguardar por um tempo determinado até a memorização das informações visuais. A atenção deve ser total ao objeto para poder observá-lo cuidadosamente e lembrar-se bem o suficiente para depois desenhá-lo. Olhar o objeto de cima, de lado e de frente. Assim, apreendemos mais informações visuais a seu respeito. É necessário estar longe o suficiente para enxergar o objeto inteiro e próximo dele para ver os detalhes, dependendo do tamanho do objeto. A memória é mais forte após imediatamente vermos o objeto; dentro de minutos, você já começa a esquecer algumas informações. Observar para depois desenhar não é simplesmente ver, é estudar o objeto. NA PRÁTICA Eduardo tem um escritório de arquitetura e recebe Mariana, um nova cliente apaixonada pela Grécia. Mariana quer o projeto de um edifício clássico e imponente como os templos gregos, mas deseja também um resultado contemporâneo e funcional. Eduardo então desenhou de memória os elementos essenciais do Partenon de Atenas. O desenho de memória de Eduardo fez com que Mariana reconhecesse o templo grego pelo desenho do frontão triangular e das colunas. Ela comprou a ideia! Mãos à obra, Eduardo. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: As pessoas tentaram desenhar bicicletas de memória; veja o que aconteceu Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! STEPHEN WILTSHIRE: DESENHAR PAISAGENS DE MEMÓRIA Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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