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Ética e Sustentabilidade Prof. Rodrigo Casagrande rodrigo.casagrande@fgv.br Rodrigo Casagrande é Doutor em Ciências Contábeis e Administração, com Estágio Doutoral realizado na Université de Montréal, no Canadá, e diploma emitido pela FURB – Universidade Regional de Blumenau. Certificado pela Fundação Getulio Vargas no Programa de Formação de Conselheiros, atua como professor convidado no FGV Management, desde 2016, e no FGV On-line, desde 2008. Além do doutorado, possui os títulos de Mestre em Administração de Empresas pela FURB, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, Especialista em Economia Empresarial pela UFRGS e Bacharel em Ciências Econômicas pela UNISINOS. Autor do livro Ética, Sustentabilidade e Diversidade, publicado pela Editora FGV, participa como membro de conselhos consultivos com um olhar especial para o ESG. https://www.linkedin.com/in/rodrigo-casagrande-58245575/ 95 Ética e Sustentabilidade Ementa Ética, moral e valores. Ética nas organizações. Responsabilidade Social Corporativa. Governança corporativa. Sustentabilidade como vantagem competitiva. 96 Ética e Sustentabilidade Imagens: Commons.com ¨O autointeresse deve ser moderado pela ética, para que o comportamento puramente egoísta ou exploratório seja a exceção e não a regra em nossa sociedade¨. Adam Smith (1723-1790) Imagem: shutterstock_1076922281 “É claro que o executivo corporativo também é uma pessoa por direito próprio. Como pessoa, ele pode ter muitas outras responsabilidades que reconhece ou assume voluntariamente — com sua família, sua consciência, seus sentimentos de caridade, sua igreja, seus clubes, sua cidade, seu país”. Imagem: commons.wikimedia.org 1970 – Publicação do clássico artigo de Milton Friedman “A responsabilidade social dos negócios é aumentar lucros” (tradução nossa), no The New York Times. “Se essas são ‘responsabilidades sociais’, são as responsabilidades sociais dos indivíduos, não dos negócios”. FRIEDMAN, M. The social responsibility of business is to increase its profits. The New York Times, setembro, 1970. Disponível em: https://www.nytimes.com/1970/09/13/archives/a-friedman-doctrine-the-social-responsibility-of-business-is-to.html 97 Ética e Sustentabilidade Desde o surgimento dos primeiros agrupamentos sociais, cada um deles estabeleceu para si normas de convivência, que assumiram a forma de valores, referentes ao bem e ao mal, aplicados à conduta de indivíduos no meio social. Isso é o que se pode chamar de “moral”. Naturalmente, todo conjunto de valores morais apresenta ampla variabilidade regional e temporal, relativamente a cada cultura. É nesse sentido que dizemos que os valores variam dependendo de cada sociedade (p. 18). MACÊDO, I. I. de et al. Ética e sustentabilidade. Rio de Janeiro: FGV Ed., 2015. A ética tem a ver com reflexão e discurso, estabelecendo o que se espera em termos do que seria bom e justo. Nesse sentido, a ética é mais meditativa, pois requer atenção e aprofundamento, e procura racionalizar sobre determinados comportamentos tendo a pretensão de ser universal na busca do bom e do justo para a coletividade dos seres humanos. SANTOS, A.R.dos; CASAGRANDE, R.M. Ética, Sustentabilidade e Diversidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2021. A ética pode confrontar hábitos, costumes e cultura local, ou seja, as morais estabelecidas (p.75). A moral é constituída por valores estabelecidos por uma determinada sociedade, sendo transmitidos através: do processo educacional, pelas tradições e pelo convívio cotidiano. A ética, por sua vez, tem a ver com o sentimento de bem-estar social (caráter universal) e visa atender aos interesses e necessidades da coletividade (sociedade). Para ser ético tem que ser bom e justo. VÁZQUEZ, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017. Vázquez 98 Ética e Sustentabilidade “A principal causa do problema não são regulamentações e sistemas de compliance ineficientes. São as lideranças fracas e ineficientes da cultura corporativa.” “Em várias empresas empesteadas por crimes, os funcionários que entrevistamos sentiam-se frustrados com a falta de vontade da liderança de eliminar gestores seniores acusados de delitos.” “Para comunicar claramente a toda a empresa o que os líderes realmente querem dizer quando afirmam que comportamento ilícito não será tolerado, eles precisam responder aos crimes de forma decisiva, despedindo e tomando as medidas legais contra todos os perpetradores igualmente.” Fonte: HEALY, Paul; SERAFEIM, George. How to scandal-proof your company a rigorous compliance system is not enough. Harvard Business Review, v. 97, n. 4, 05 jul. 2019, p. 42 . Jeremy Bentham (1748-1832) Imagem: commons.org O mais elevado objetivo da moral é maximizar a felicidade, assegurando a hegemonia do prazer sobre a dor. De acordo com Bentham, a coisa certa a fazer é aquela que maximizará a utilidade. Como utilidade ele define qualquer coisa que produza prazer ou felicidade e que evite a dor e o sofrimento. Se somarmos todos os benefícios dessas diretrizes e subtrairmos os custos, ela produzirá mais felicidade do que uma decisão alternativa? Bearbaiting Fonte: DOS SANTOS, Antonio Raimundo; CASAGRANDE, Rodrigo Moreira. Ética, sustentabilidade e diversidade. Editora FGV, 2021. 99 Ética e Sustentabilidade Só porque algo proporciona prazer para muitas pessoas, isso não significa que possa ser considerada correto. Immanuel Kant 1724 - 1804 Imagem: cardiff.ac.uk/ De acordo com Kant, o valor moral de uma ação não consiste em suas consequências, mas na intenção com a qual a ação é realizada. O que importa é o motivo, que deve ser de uma determinada natureza. O que importa é fazer a coisa certa, “por dever”, e não por algum outro motivo exterior a ela. Kant faz uma comparação entre o imperativo hipotético, que é sempre condicionais, e um tipo de imperativo incondicional: o imperativo categórico. ¨Se a ação for boa apenas como um meio para atingir determinada coisa”, escreve Kant, “o imperativo será hipotético. Se a ação for boa em si, e, portanto, necessária para uma vontade que, por si só, esteja em sintonia com a razão, o imperativo, nesse caso, será categórico. KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1984. Herbert Simon, Nobel de Economia, em 1978. Por que os resultados das decisões tomadas são apenas “satisfatórios”, e não ótimos? 100 Ética e Sustentabilidade Os tomadores de decisões são incapazes de operar em condições de racionalidade perfeita, em razão: da limitação de tempo e energia disponíveis para a tomada de decisão; das suas próprias limitações cognitivas; da complexidade das organizações modernas; da falta de clareza das questões a serem decididas; da diversidade de interpretações; da possibilidade de informações incompletas ou inexistentes; e da incerteza na definição de critérios de avaliação de escolhas. É possível ser legal e, ao mesmo tempo, imoral e antiético? Imagem: clip-art.library 101 Ética e Sustentabilidade Sócrates (470-399 a.C.) Dirigindo-se aos atenienses, Sócrates lhes perguntava qual o sentido dos costumes estabelecidos, transmitidos de geração para geração. Imagem: essaywritingexpert thauma => necessidade de se espantar CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994. Aristóteles (384-322 a.C.) Saber Teorético => refere-se ao que existe ou acontece independente de nós. Saber Prático (práxis) => aplica-se ao que se refere diretamente às nossas ações. Teorético versus Práxis Foto: MidoSemsem 102 Ética e Sustentabilidade Apegar-se às circunstâncias para justificar comportamentos pode ser um solo fértil para a prática do mal. Hannah Arendt (1983) deixou uma grande reflexão para a humanidade com a experiência que teve no julgamento do nazista Adolf Eichmann, em Jerusalém, em 1961. A escritora achou que se depararia com uma grandeza maléfica e encontrou, na verdade, um homem desprovido de qualquer característica superlativa que o diferenciassedos demais, o que ela definiu como um ¨vazio de pensamento”. O condenado acreditava que simplesmente cumpria o seu dever, atendendo a ordens superiores e estimulado a subir na cadeia hierárquica. ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. Trad. Sônia Orieta Heinrich. São Paulo: Diagrama e Texto, 1983. A gênese da Governança Corporativa 103 Ética e Sustentabilidade Governança corporativa oferece diretrizes para a harmonização de interesses, nas tomadas de decisão, gestão de risco, práticas e modelos organizacionais. Governança corporativa é “o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas” Imagem: Adaptada de Eliane LustosaCódigo das Melhores Práticas de Governança Corporativa (2015, p. 20) Adicionalmente, a quinta edição do código, de 2015, destacou o bem comum como finalidade, a saber: “boas práticas de governança corporativa convertem princípios básicos em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão da organização, sua longevidade e o bem comum”. “Temos que construir o Estado não com as virtudes dos homens, que são escassas, mas com as paixões e vícios que são abundantes". Baruch de Espinosa (1632-1677) a arquitetura de governança Imagem: commons.org 104 Ética e Sustentabilidade A gênese da Governança o gigantismo e o poder das organizações diluição do capital de controle divórcio, propriedade e gestão ascensão dos gestores Fonte: Adaptado de ROSSETI, José Paschoal; ANDRADE, Adriana. Governança corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. São Paulo: Atlas, 2016. anos vendas unitárias preço médio do modelo básico (US$) receitas operacionais (US$) 1908-09 10.607 850 9.016 1911-12 78.440 690 54.124 1913-14 248.307 550 136.569 1916-17 730.041 360 262.815 Fonte: Adaptado de WREN, Daniel A.; CORRÊA, Hamilton Luiz; CUSTÓDIO, Isaias. Ideias de administração: o pensamento clássico. São Paulo: Editora Ática, 2007. Imagem: shutterstock_1770356987 105 Ética e Sustentabilidade Jensen e Meckling (1976) postulam que o contrato entre o acionista e o executivo é permeado por uma relação de agentes, em que o primeiro é visto como principal, e o segundo, como agente. Se ambas as partes agirem de forma a maximizar as suas riquezas, é coerente acreditar que o agente nem sempre agirá em razão do interesse do principal. JENSEN, M. C.; MECKLING, W. H.. Theory of the firm: managerial behavior, agency costs and owner-ship structure. Journal of Financial Economics, v. 4, p. 305-360, 1976. EISENHARDT, Kathleen M. Teoria da agência: uma avaliação e revisão. Revista de Governança Corporativa, v. 2, n. 1, 2015. Imagem: shutterstock Teoria da Agência 2001 – Explosão dos escândalos corporativos de maquiagem de balanço, nos EUA. 2002 – Sancionada a Lei Sarbanes-Oxley (SOX). O principal executivo e o diretor financeiro são corresponsáveis pela confiabilidade das demonstrações financeiras. Devolução de bônus e lucros distribuídos no caso de a companhia retificar demonstrações financeiras. Definição de penas com multas que podem chegar a US$ 5 milhões e prisão de 20 anos. 106 Ética e Sustentabilidade Fonte: Adaptado de IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código das melhores práticas de Governança Corporativa. 2015 Assembleia Geral Auditoria Independente Conselho de Administração Conselho Fiscal Comitê de Auditoria Comitês Diretor-Presidente Diretores Auditoria Interna Governança Administradores Gestão Governança corporativa representa o arcabouço que utilizamos para tomar e impor decisões coletivas, regulando a divisão e o exercício do poder nas companhias, mas assegurando aos proprietários – acionistas – as condições e os instrumentos que permitirão garantir que os agentes vão agir no seu benefício. Joaquim Rubens Fontes Filho Imagem: Valor Econômico 107 Ética e Sustentabilidade Princípios da Governança Corporativa Princípios básicos responsabilidade corporativa; prestação de contas (accountability); transparência; equidade. Sir George Adrian Hayhurst Cadbury 108 Ética e Sustentabilidade Responsabilidade Corporativa - Os agentes de governança devem zelar pela viabilidade econômico-financeira das organizações, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e suas operações e aumentar as positivas, levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental, reputacional) no curto, médio e longo prazos. Movimentos organizacionais em direção ao carbono líquido zero é um bom exemplo de responsabilidade corporativa, pois trata-se de pauta global para a contenção do aumento médio da temperatura da Terra. Transparência - Consiste no desejo de disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos. Não deve restringir-se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando também os demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que condizem com preservação e a otimização do valor da organização. A adoção do GRI – Global Reporting Initiative para a elaboração de relatórios detalhados sobre as ações sociais e ambientais, além de econômicas, pode ser uma boa ação de transparência. Outra boa prática de transparência é a divulgação do ESG (Environmental, Social and Governance) Report, atrelando-o aos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da ONU> Fonte: IBGC. Código das melhores práticas de governança corporativa. 5 ed. Brasília: IBGC, 2015. Disponível em: https://conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/Publicacao.aspx ?PubId=21138 Equidade - Caracteriza-se pelo tratamento justo e isonômico de todos os sócios e demais partes interessadas (stakeholders), levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas. A concessão de tag along pode ser uma ação considerada em prol da equidade. Políticas de Diversidade & Inclusão, como igualdade de gênero em cargos de gestão, processos de seleção exclusivamente para pessoas negras e oportunidades para pessoas trans, são enquadradas nesse princípio. Fonte: IBGC. Código das melhores práticas de governança corporativa. 5 ed. Brasília: IBGC, 2015. Disponível em: https://conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/Publicacao.aspx?PubId=21138 Prestação de Contas (accountability) - O princípio da prestação de contas fixa que cada agente de governança deve prestar contas de sua atuação de modo claro e compreensível, assumindo integralmente as consequências de seus atos ou omissões, atuando sempre com diligência e responsabilidade no âmbito dos seus papéis. É importante não confundirmos o princípio da prestação de contas com o princípio da transparência. Accountability é uma palavra de origem inglesa que foi traduzida para o português por meio da expressão “prestação de contas”, porém, há de se ter cautela com tal tradução. Na acepção inglesa ela tem um significado mais próximo de responsabilização, ou seja, aponta que quem desempenha funções de comando na empresa deve regularmente dar explicações sobre o que faz, como faz, por qual motivo faz, a qual custo e o que pretende ou vai fazer a seguir. Não se trata, portanto, apenas de prestar contas em termos de demonstrar números ou relatórios, mas de responder por tudo o que fez, faz, fará e até deixar de fazer.. Quando uma organização prepara um relatório que demonstra suas práticas em relação à Lei Sarbanes-Oxley ela está prestando contas ao órgão regulamentador. 109 Ética e Sustentabilidade Tag along Mecanismo de proteção a acionistas minoritários, garantindo-lhes o direitode vender a sua participação, caso o controle da companhia seja adquirido por um investidor que até então não fazia parte da mesma. Se a empresa garantir um tag along de 100%, significa que o acionista minoritário receberá 100% por ação do valor recebido pelo controlador. Se o tag along for de 80% (mínimo admitido na Lei das S.A.), o minoritário receberá essa proporção do valor pago por ação do majoritário. Pela lei, o tag along só é garantido aos acionistas que possuírem ações ordinárias (com direito a voto), a não ser em casos em que a empresa decide estender o direito aos acionistas preferenciais, o que deve constar no estatuto da empresa. Poison Pills - A utilização de poison pills (pílulas de veneno) é uma forma de dificultar a aquisição hostil de uma companhia. As pílulas de veneno são inseridas no estatuto da organização com o objetivo de dificultar a tomada de controle. Caso um acionista (ou grupo de acionistas vinculados com acordo de voto) atinja um determinado percentual do capital a necessidade de uma OPA - oferta pública para a aquisição das ações dos demais acionistas é necessária. Na Embraer, o preço por ação numa OPA deve ser de, no mínimo, 50% acima do pico de cotação da ação da companhia nos 12 meses anteriores à oferta 110 Ética e Sustentabilidade Fonte: Adaptado de ROSSETI, José Paschoal; ANDRADE, Adriana. Governança corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. São Paulo: Atlas, 2016. Arquitetura de Governança Corporativa 111 Ética e Sustentabilidade Fonte: Adaptado de IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código das melhores práticas de Governança Corporativa. 2015 Assembleia Geral Auditoria Independente Conselho de Administração Conselho Fiscal Comitê de Auditoria Comitês Diretor-Presidente Diretores Auditoria Interna Governança Administradores Gestão Pedro e a banca de mestrado 112 Ética e Sustentabilidade O Conselho Consultivo é de caráter não deliberativo, ou seja, um órgão com caráter de assessoramento. Conselho Consultivo Geralmente, o papel do conselheiro consultivo é de emitir parecer e recomendação. É uma opção cada vez mais comum para empresas em estágio inicial de governança e familiares. Empresas de constituição societária familiar podem ter no Conselho Consultivo um órgão facilitador de instalação paulatina ou transitória de práticas de governança, um embrião. As responsabilidades dos conselheiros são bem menores que as descritas para o conselho de administração, justamente por sua característica de orientar a equipe gerencial e não tomar decisões para a empresas. Pode ser formado por conselheiros internos, externos ou independentes que, mesmo sem poderes deliberativos, poderão dar suporte técnico às decisões. Conselheiros Internos – conselheiros que ocupam posição de diretores ou que são empregados da organização. Conselheiros Externos - são os conselheiros sem vínculo atual comercial, empregatício ou de direção com a organização, mas que não são independentes, tais como ex-diretores e ex-empregados, advogados e consultores que prestam serviços à empresa, sócios ou empregados do grupo controlador, de controladas ou de companhias do mesmo grupo econômico e seus parentes próximos e gestores de fundos com participação relevante. Conselheiros independentes - são conselheiros externos que não possuem relações familiares, de negócio, ou de qualquer outro tipo com sócios com participação relevante, grupos controladores, executivos, prestadores de serviços ou entidades sem fins lucrativos que influenciem ou possam influenciar, de forma significativa, seus julgamentos, opiniões, decisões ou comprometer suas ações no melhor interesse da organização¨. O IBGC preconiza que os conselheiros independentes devem ocupar participação relevante em relação ao número total de conselheiros. As três classes de conselheiros Fonte: IBGC. Código das melhores práticas de governança corporativa. 5 ed. Brasília: IBGC, 2015. Disponível em: https://conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/Publicacao.aspx?PubId=21138 113 Ética e Sustentabilidade Conselho de Administração Imagem: shutterstock_383860597 Benefícios versus Riscos Assim como acontece com os sócios da empresa e seus gestores, os conselheiros têm responsabilidade nas áreas civil e penal, societária, tributária, trabalhista, ambiental, falimentar e concorrencial. Podem ser responsabilizados pela teoria da culpa (imprudência, negligência ou imperícia) ou dolo (com intenção). Também são passíveis de julgamento pela teoria do risco (basta haver o dano e o nexo de causalidade entre o agente e o dano). Órgão colegiado, que toma decisões por deliberação, encarregado do processo de decisão de uma organização em relação ao seu direcionamento estratégico, além de fazer o monitoramento da atuação da alta administração. Os conselhos ajudam no aumento da qualidade das decisões, desenvolvimento estratégico, compliance, mitigação de riscos e, como consequência, melhoram o resultado Fonte: DA SILVA, Sandra Regina. Para incluir o conselho em seu mapa. HSM Management 132, jan/fev 2019, p. 47 Fonte: GUERRA, Sandra. A caixa-preta da governança. Editora Best Seller, 2017. Competências técnicas e experiência Para começar, o ideal é que os integrantes de um conselho estejam todos alinhados à estratégia da companhia para os próximos anos, mas mesclem domínios de conhecimento, cada um em uma área – sobretudo, finanças, auditoria, sustentabilidade, pessoas, novas tecnologias, inovação, supply chain, marketing e vendas, gestão de marcas e, claro, o mercado de atuação. Competências pessoais e comportamentais É fundamental que o conselheiro seja um curioso e estudioso, mantendo-se ¨antenado¨ com as mudanças tecnológicas, sobre novos hábitos de consumo e tendências, movimentos da concorrência e mudanças na legislação. Lidar com tomadas de decisão em ambientes incertos, assumindo riscos pelo bem da empresa requer inteligência emocional, capacidade de cultivar e gerenciar relacionamentos, visão estratégica, capacidade de estruturação para defesa de opiniões a partir de sua própria avaliação, competência para comunicação, adequado envolvimento em trabalho em equipe e flexibilidade de tempo. Imagem: shutterstock_280366622 O que se espera de uma boa conselheira? 114 Ética e Sustentabilidade Endividamento/alavancagem: observação do limite prudencial para endividamento. Gestão diária do fluxo de caixa: análise do projetado, realizado e desvios. Lucro bruto, operacional e líquido: análise da meta estabelecida de valor absoluto e margem % de lucro. EBITDA: Esse lucro operacional está realmente se transformando em entradas no ciclo de caixa da empresa? EVA – Valor Econômico Agregado: Desempenho financeiro da empresa com base na riqueza que ela efetivamente criou, após se deduzir o custo do capital investido do seu lucro operacional. O que precisa estar no radar do bom conselheiro de administração? Margem de contribuição por segmento de negócio ou por produtos: no caso de margem reduzida ou negativa, qual a providência tomada? Ciclo operacional, econômico e de caixa: Atenção para erros de planejamento de compras, produção, vendas, recebimentos e descasamento de prazos. Ponto de equilíbrio contábil, econômico e financeiro: Revisão da estrutura de custos/despesas fixas e formação de preços. Orçamento: Qual área na empresa é responsável pelo controle orçamentário, desvios e adequação de metas e reporte ao CA? Intangíveis (registro, mensuração e contabilização): fazer uma leitura sobre a nova Lei 11.638/07 e 11.941/09 e seus desdobramentos contábeis no balanço da empresa. Market share e valor da empresa no mercado: Quem está fazendo essa avaliação e reportando ao CA? Nível de inadimplência das Contas a Receber (boa sintonia entre as áreas de crédito e cobrança): Verificação da existência de rigoroso controle financeiro e de fluxo de informação. O que precisa estar no radar do bom conselheiro de administração? 115 Ética e SustentabilidadePlanejamento sucessório Geração de experiência para os sucessores em outras organizações, antes de assumirem cargos de gestão na empresa familiar. Correto tratamento do dilema ¨negócio da família e família no negócio¨. Instituir na arquitetura da governança um conselho de família, com planejamento de herança e participação societária, formação de novos executivos e definição de papéis dos familiares na organização. STEINBERG, Herbert; BLUMENTHAL, Josenice. A família empresária: Organizando as relações de afeto, poder e dinheiro por meio da governança corporativa. Editora Gente Liv e Edit Ltd, 2016. Imagem: shutterstock_654920956 116 Ética e Sustentabilidade Protocolo de Matriz de Risco da Cadeia de Fornecedores Fatores externos intensividade em mão de obra alto grau de terceirização presença majoritária de MPEs uso de recursos da biodiversidade uso de materiais não renováveis geração de resíduos perigosos concentração/dispersão geográfica atividades relacionadas a dinâmicas da natureza volume de compras/spend número de fornecedores alternativos proximidade/qualidade da relação com fornecedores fornecimento estratégico trabalho análogo ao escravo acidentes de trabalho riscos trabalhistas diversos informalidade terceirização irregular dependência do cliente instabilidade financeira/falência exploração ilegal de madeira uso de espécies ameaçadas de extinção dificuldade de acesso à matéria-prima intensividade de combustíveis fósseis e emissões de GEE contaminação disposição inadequada riscos relacionados a características específicas de cada localidade sazonalidade sensibilidade às mudanças climáticas impacto dos riscos tomados pelo fornecedor dependência do fornecedor interrupção das operações Fatores internos fa to re s d e ex p o si çã o a r is co R is co s as so ci ad o s Página 16 https://www.apple.com/supplier-responsibility/ 117 Ética e Sustentabilidade Os modelos desenvolvidos pela Sustainalytics, empresa com sede em Amsterdã, classificam a sustentabilidade das empresas listadas segundo seu desempenho nas áreas de proteção ambiental, social e de governança corporativa. A empresa foi fundada em 1992, e, em 2013, associou-se com a ONU no programa Pacto Global, lançando o Global Compact 100, um índice de ações em tempo real que controla os signatários do programa, utilizando a metodologia ESG da Sustainalytics. Em 2015, a Harvard Business Review passou a incluir a classificação ESG da Sustainalytics como parte de sua avaliação dos cem CEOs com melhor desempenho do mundo. https://www.sustainalytics.com/esg-rating/ APPLE INC. : Shareholders Board Members Managers and Company Profile | US0378331005 | MarketScreener 118 Ética e Sustentabilidade Imagem: tls.co.uk “Quanto mais constantemente as pessoas a serem inspecionadas estiverem sob a vista das pessoas que devem inspecioná-las, mais perfeitamente o propósito do estabelecimento terá sido alcançado. A perfeição ideal, se esse fosse o objetivo, exigiria que cada pessoa estivesse realmente nessa condição, durante cada momento do tempo. Sendo isso impossível, a próxima coisa a ser desejada é que, em todo momento, ao ver razão para acreditar nisso e ao não ver a possibilidade contrária, ele deveria pensar que está nessa condição.” (2008, p. 20). A imitação de Deus Os dois princípios fundamentais da construção panóptica são a posição central da vigilância e sua invisibilidade. Cada um se justifica independentemente do outro. Fonte: BENTHAM, Jeremy. O panóptico. Autêntica, 2019. “Somos submetidos pelo poder à produção da verdade¨. O poder institucionaliza a verdade, por meio de mecanismos de confissão e inquirição. O poder está, ao mesmo tempo, em toda parte e em lugar nenhum. Ele é, a um só tempo, visível e invisível, presente e oculto. O poder disciplinar, que é invisível, tem como função maior adestrar; formar indivíduos úteis. FOUCAULT, Michel. 1979. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal Imagem: https://www.comunidadeculturaearte.com/ 119 Ética e Sustentabilidade Fonte: Adaptado de IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código das melhores práticas de Governança Corporativa. 2015 Assembleia Geral Auditoria Independente Conselho de Administração Conselho Fiscal Comitê de Auditoria Comitês Diretor-Presidente Diretores Auditoria Interna Governança Administradores Gestão Auditoria Interna Pode interagir e colaborar com as áreas de controles internos, riscos e conformidade (compliance) e, ainda, com a redução de custos e eventual aumento das receitas. Esta capacidade de contribuir na melhoria contínua de processos agrega valor. Identificar riscos e atuar para minimizar a probabilidade da ocorrência e impacto. Identificar oportunidades de melhoria nos controles, processos e sistemas. Fonte: IBGC. Auditoria interna: aspectos essenciais para o conselho de administração. São Paulo: IBGC, [s.d.]. Disponível em: <https://conhecimento.ibgc.org.br/Lists/Publicacoes/Attachments/23980/Publicao- IBGCOrienta-AuditoriaInterna%20-%202018.pdf>. Acesso em: 14 JUL. 2021. 120 Ética e Sustentabilidade Modelo de Três Linhas de Defesa Órgão de Governança/Conselho/Comitê de Auditoria Alta Administração 1ª linha de defesa 2ª linha de defesa 3ª linha de defesa Controles da Gerência Medidas de Controle Interno Controle Financeiro Segurança Gerenciamento de Riscos Qualidade Inspeção Conformidade Auditoria Interna A u d ito ria Extern a R egu lad o r Adaptação da Guidance on the 8th EU Company Law Directive da ECIIA/FERMA, artigo 41. Imagem: shutterstock_65821615 Cabe destacar que os conselheiros fiscais, apesar da característica colegiada do órgão, atuam e se posicionam de modo individual. Diferentemente das deliberações do Conselho de Administração, que acontecem pelo voto da maioria, os conselheiros fiscais têm autonomia para tomar decisões individualmente, como propor uma Assembleia Extraordinária, por exemplo, caso desconfiem de alguma situação que possa deixar a organização vulnerável no tocante à integridade das demonstrações financeiras. O Conselho Fiscal possui diversas atribuições, entre as quais estão as seguintes: fiscalizar, por qualquer dos seus membros, os atos dos administradores e verificar o seu cumprimento; opinar sobre o relatório anual da administração e as propostas dos órgãos da administração e examinar as DF – Demonstrações Financeiras e opinar sobre elas. Fonte: IBGC. Código das melhores práticas de governança corporativa. 5 ed. Brasília: IBGC, 2015. Disponível em: https://conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/Publicacao.aspx?PubId=21138 Conselho Fiscal 121 Ética e Sustentabilidade Em consonância com a SOX, as empresas precisam estabelecer processos confiáveis de auditoria e segurança. Aí é que entra o Comitê de Auditoria, considerado um pilar de fiscalização e controle em nome do CA. Nesse sentido, o Comitê de Auditoria é importante para assegurar o equilíbrio, a integridade e a transparência das informações financeiras publicadas aos investidores, funcionando como um avalista da legitimidade e integridade organizacional. Imagem: shutterstock_1249021717 Comitê de Auditoria Fonte: PwC (PricewaterhouseCoopers). Excelência em comitês de auditoria. [S.l.]: PwC, 2017. Disponível em: <https://www.pwc.com.br/pt/estudos/preocupacoes-ceos/mais- temas/2017/excelencia-comites-auditoria.html>. Acesso em: 12 mar. 2020. Como descubro o nível de governança da minha organização? Imagem: shutterstock_689193628 122 Ética e Sustentabilidade oferece uma autoavaliação gratuita a empresas de capital fechado; objetiva ajudar as empresas de capital fechado a avaliarem a sua governança corporativa, sendo baseadas em um instrumento de autoavaliação e visa estimular as empresas a realizarem uma constante reflexão sobre o seu estágio de maturidade em governança. Métrica de governança corporativa (IBGC) Fonte: IBGC - MÉTRICA de governançacorporativa. [S.d.]. Disponível em: https://www.ibgc.org.br/metrica. Acesso em: 7 jul. 2021. O QUE REALMENTE É ISSO? 123 Ética e Sustentabilidade Valor de Mercado da Vale era R$ 296 bilhões, antes do rompimento da Barragem Córrego do Feijão. Valor de Mercado da Vale no primeiro pregão após o desastre ocorrido, R$ 226 bilhões. O que se viu a partir de então foi um movimento em que investidores sedentos por ganhos portentosos começaram a comprar maciçamente ações da Vale, as quais eram comercializadas antes do desastre a R$ 52,50 e no pregão seguinte à tragédia podiam ser compradas a R$ 38.90. Decréscimo de R$ 60 bilhões As ações ordinárias VALE3 derreteram 24% No horizonte de um ano, os papéis da Vale valorizaram 140,06%, saindo de um valor unitário por ação de R$ 38,90 para R$ 93,36, conforme fechamento do dia 21 de janeiro de 2021. Segundo dados da Economática, no dia 20 de janeiro de 2021 o valor de mercado da Vale era de R$ 474 bilhões, a mineradora mais que dobrou de tamanho um ano após a tragédia. “Nossos fornecedores precisarão ter programas de inclusão, diz Gustavo Werneck, CEO da Gerdau”. Estadão, 11.07.2021 “A VW do Brasil anuncia operação que consiste na emissão de dívida com metas ESG. Para ter acesso ao green loan, até 2024 a Volkswagen aumentará de 14% para 26% o número de mulheres em cargos de liderança e de 9% para 25% o número de gerentes e gerentes-executivas do sexo feminino. No mesmo período, a empresa se compromete a reduzir em 12% as suas emissões de CO2 de origem fóssil para biogênica em seu processo produtivo e aumentar a participação do biometano para 20% no total de gás consumido nas fábricas, em processos como o de pintura das carrocerias Sítio institucional WW do Brasil “Acredito que a descarbonização da economia global vai criar a maior oportunidade de investimento da nossa vida e deixará para trás as empresas que não se adaptarem” Larry Fink Imagem: Sítio institucional Black Rock 124 Ética e Sustentabilidade 1972 – Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo. 1987 – Publicação do Relatório Brundtland. O Brasil teve a honra de ser o anfitrião de um movimento de magnitude global para (re) pensar as relações entre a conservação do meio ambiente e a garantia de desenvolvimento social e econômico: a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, mais conhecida como Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da Terra. 1992 – Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da Terra, com a assinatura da Agenda 21. Imagem: Michos Tzovaraz/UM – Foto oficial do evento Esse evento constituiu-se como um marco para a conservação do meio ambiente e deu origem à Agenda 21, com a proposta de planejar o desenvolvimento pelo ponto de vista da conservação ambiental, da igualdade social e do desenvolvimento econômico. 125 Ética e Sustentabilidade O pacto trouxe diretrizes para que as companhias contribuíssem para o enfrentamento dos problemas da sociedade e ajudassem a encontrar soluções, alinhando-se a dez princípios relacionados a direitos humanos, trabalho, meio ambiente e práticas anticorrupção. A adesão voluntária cresceu gradativamente até se tornar a maior rede de sustentabilidade corporativa do mundo. 2000 – Lançamento do Pacto Global da ONU, por Koffi Annan. 2015 - COP21 - Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, foi realizada em Paris, quando nascia o Acordo de Paris, voltado para a mitigação das emissões dos gases do efeito estufa e dos efeitos das mudanças climáticas. 17 objetivos desmembrados em 169 metas e 231 indicadores a serem atingidos no horizonte temporal de 15 anos, compondo um plano universal para o alcance de um futuro melhor, com paz e prosperidade. 126 Ética e Sustentabilidade 2021 - A COP26 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em Glasgow no período de 31 de outubro a 12 de novembro de 2021, trouxe grandes expectativas na medida em que se tratava de uma oportunidade para revisão das ações que levariam o mundo a concretizar o sonho de gerar aumento de no máximo 1,5ºC na temperatura média da Terra até o final do século XXI comparado ao período pré-industrial. 2015 – Nasce o Task Force on Climate-Related Financial Disclosures (TCFD), dentro do Financial Stability Board (FSB), com o grande objetivo de aprofundamento acerca do impacto do aquecimento global sobre os negócios e o setor financeiro. O Brasil assumiu um novo compromisso na COP26 de mitigar 50% das suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) usando como linha de base o ano de 2005 e como referência o Quarto Inventário Nacional de Emissões. O Brasil também aderiu ao Compromisso Global de Metano, que reúne um grupo de 103 países, liderados pelos Estados Unidos e pela União Europeia, e tem como objetivo principal reduzir as emissões do gás metano em 30%. Alcançar a participação de 45% a 50% das energias renováveis na composição da matriz energética. Até 2030... O Brasil também assumiu o compromisso com a Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra. A Declaração dos líderes sobre Florestas foi liderada pelo Reino Unido e conta com 110 países, representando 85% das florestas do planeta, e tem como objetivo principal acabar com o desmatamento. 127 Ética e Sustentabilidade TENDÊNCIAS Novas tecnologias e políticas que devem surgir junto com a transição para a economia de baixo-carbono. Aumento dos esforços em direção ao carbono líquido zero. Novos padrões de consumo mais exigentes com relação aos impactos socioambientais associados à produção de uma mercadoria ou serviço. Investidores institucionais vão querer ter a compreensão dos requisitos e elementos ESG presentes nas melhores práticas e padrões de arquitetura de processos de negócios, design e gestão da qualidade das empresas que receberão os seus recursos. 1. Sua empresa possui uma equipe treinada, apoiada e comprometida em trabalhar nas melhorias ESG? 2. Como a equipe está acompanhando e documentando seu trabalho? 3. Qual é a qualidade dos relatórios ESG? 4. Existem questões ESG que podem prejudicar as operações de sua organização? 5. Quais questões ESG você geralmente considera no due diligence da cadeia de fornecedores? Os investidores vão querer saber.... BLOKDYK, G. ESG investing: a complete guide. 2020 edition. Toronto: Kobo Editions, 2020. GERAÇÃO DE ELETRICIDADE Link para Balanço Energético Nacional 128 Ética e Sustentabilidade GERAÇÃO DE ENERGIA Repartição da oferta interna de energia (OIE) no Brasil (base 2020) Conforme o relatório da International Energy Agency (IEA,2021), a expectativa é de que o uso de energia renovável no Brasil aumente em quase 45 GW, ou 30%, durante 2021-2026, com a energia solar fotovoltaica (PV) e eólica compreendendo quase 95% das adições. A nova capacidade hidrelétrica representa apenas 3% de todas as adições pelas projeções da IEA, um declínio acentuado com relação ao histórico brasileiro. Considerando todo aumento da capacidade de energia nos próximos cinco anos, as energias renováveis devem responder por quase 95%. Na projeção da IEA (2021) dez países responderão por quase 80% de todo o crescimento da capacidade renovável durante o período 2021-2026, sendo que a China, sozinha, fornecerá quase 45% de toda a expansão das energias renováveis. Na sequência, vêm Estados Unidos, Índia e Alemanha. Convém ainda destacar que a energia solar responderá por mais da metade de tudo o que o mundo ganhará de capacidade de geração de energia (IEA, 2021). IEA – International Energy Agency. Renawables 2021: Analysis and forecast to 2026. Dezembro, 2021. Disponível em: https://iea.blob.core.windows.net/assets/5ae32253-7409-4f9a-a91d-1493ffb9777a/Renewables2021-Analysisandforecastto2026.pdf. 129 Ética e Sustentabilidade UD ITAIPU, Posto de Biometano localizado no complexo da ITAIPU em Foz do Iguaçu – PR, contempla o tratamento local de resíduos orgânicos produzidos nos restaurantes da usina e que são convertidos em biocombustível para a frota de veículose biofertilizantes para a recuperação de áreas degradadas. O biometano é obtido no refinamento e processamento do biogás. Esse biogás é originado a partir da digestão anaeróbia (sem oxigênio) de matéria orgânica. Ao purificar o biogás, é retirado o gás sulfídrico, dióxido de carbono e a umidade, aumentando a pressão e comprimindo-o, resultando no gás natural/biometano. Desta forma, o biocombustível poderá ser utilizado em substituição aos combustíveis fósseis. Qual a diferença entre BIOMA e ECOSSISTEMA? Imagem: clip-art.library rodrigo.casagrande@fgv.br 130 Ética e Sustentabilidade Ecossistema Ecossistema na essência. Indígena do Povo Guajás, no Maranhão, amamenta filhote de porco do mato adotado após uma caçada. Imagem: Pisco del Gaiso/ Folhapress. Ecossistemas garantem a proteção dos recursos hídricos e desempenham o papel de regador gigante da agricultura brasileira. Além disso, o agronegócio depende também de outros fatores climáticos além da chuva, como temperatura e umidade. Um ecossistema é uma comunidade formada pela interação de organismos vivos e seus ambientes físicos, desde os minerais do solo até formações topográficas e padrões climáticos. Bioma O bioma é a maior unidade biótica geográfica, constituída pelo agrupamento de tipos de vegetação semelhantes em níveis regionais. Embora os componentes abióticos (água, solo, ar, calor) estejam implícitos como fatores modeladores de um bioma, eles não são explicitamente mencionados do mesmo modo como ocorre no ecossistema. rodrigo.casagrande@fgv.br 131 Ética e Sustentabilidade Ocupação de terras no Brasil Fonte: SFB, Embrapa, IBGE, MMA, FUNAI, DNIT, ANA, MPOG Emissões de GEE no Brasil de 2019 a 2020 SEEG. Análise das emissões brasileiras de gases de efeito estufa e suas implicações para as metas climáticas do Brasil. 2021. Disponível em: http://seeg.eco.br/documentos-analiticos. 132 Ética e Sustentabilidade COALIZÃO BRASIL. Visão 2030-2050: o futuro das florestas e da agricultura no Brasil. 2020. Disponível em: http://www.coalizaobr.com.br/home/phocadownload/documentos/Visao-2030-2050-O-Futuro-das-Florestas-e-da-Agricultura-no-Brasil.pdf COALIZÃO BRASIL. Visão 2030-2050: o futuro das florestas e da agricultura no Brasil. 2020. Disponível em: http://www.coalizaobr.com.br/home/phocadownload/documentos/Visao-2030-2050-O-Futuro-das-Florestas-e-da-Agricultura-no-Brasil.pdf 133 Ética e Sustentabilidade COALIZÃO BRASIL. Visão 2030-2050: o futuro das florestas e da agricultura no Brasil. 2020. Disponível em: http://www.coalizaobr.com.br/home/phocadownload/documentos/Visao-2030-2050-O-Futuro-das-Florestas-e-da-Agricultura-no-Brasil.pdf COALIZÃO BRASIL. Visão 2030-2050: o futuro das florestas e da agricultura no Brasil. 2020. Disponível em: http://www.coalizaobr.com.br/home/phocadownload/documentos/Visao-2030-2050-O-Futuro-das-Florestas-e-da-Agricultura-no-Brasil.pdf 134 Ética e Sustentabilidade COALIZÃO BRASIL. Visão 2030-2050: o futuro das florestas e da agricultura no Brasil. 2020. Disponível em: http://www.coalizaobr.com.br/home/phocadownload/documentos/Visao- 2030-2050-O-Futuro-das-Florestas-e-da-Agricultura-no-Brasil.pdf Como financiar a agricultura de baixo carbono Cota de Reserva Ambiental (CRA) - trata-se de um mecanismo pelo qual é possível negociar excedentes de Reserva Legal: proprietários de terra que conservam mais do que a lei obriga podem, respeitando determinados critérios, vender o excedente a quem não cumpriu a área mínima exigida. a lógica é similar à de negociações de crédito de carbono no mercado europeu: definido um limite (um cap), negociam-se os excedentes (trade) entre as partes. O desenvolvimento de mecanismos financeiros que viabilizem a atividade produtiva em meio à conservação ambiental pode ser uma das saídas. CPR Verde - A cédula verde é como um pagamento pelos serviços ambientais prestados pelo produtor, que deixa de abrir novos espaços de vegetação para expandir a sua produção agropecuária. A Cédula de Produto Rural (CPR) Verde poderá ser emitida pelos produtores para atividades de serviços ambientais relacionadas à conservação de florestas e recuperação da vegetação nativa. Para isso, há que se ter mais clareza: reduzir (por quanto tempo?) o desmatamento ou a degradação (como seria aferido?) da vegetação nativa de determinada área; e, dar conservação (como aferir?) à biodiversidade, a recursos hídricos ou ao solo de uma determinada área. VAZ, J. C. Breves considerações sobre a CPR verde. Outubro 2021. Disponível em: https://jcvaz.adv.br/2021/10/08/1151/ 135 Ética e Sustentabilidade Imagens: Commons.com 136 Ética e Sustentabilidade Patrick Cescau, executivo-chefe do grupo da Unilever “A agenda de sustentabilidade e responsabilidade corporativa não é apenas central para a estratégia de negócios, mas se tornará cada vez mais um fator crítico para o crescimento dos negócios... quão bem e com que rapidez as empresas respondem a esta agenda determinará quais empresas terão sucesso e quais falharão nas próximas décadas”. Imagens: Commons.com Quando alguém compra um produto no supermercado, será que tem a noção da origem da matéria-prima empregada, da mão de obra necessária para a produção, da origem do financiamento e, principalmente, dos recursos naturais utilizados e dos impactos causados pela produção? Parafraseando Ortega y Gasset (1987): ¨(...) não é todo consumidor, de certa forma, responsável por aquilo que produz e consome?”. “Eu sou eu e minhas consequências” Consumo consciente 137 Ética e Sustentabilidade Economia circular Originado dos primeiros trabalhos de Stahel e Reday (1981) o conceito de economia circular propõe uma economia regenerativa e planejada ab initio (desde o início) para eliminar resíduos e devolver nutrientes e água para os ecossistemas. Trata-se de uma abordagem que abandona radicalmente nosso modelo linear dominante de “extrair, fabricar, gerar resíduos” de produção e consumo. É inspirada no mundo natural onde o resíduo de uma espécie se torna alimento de outra, e assim por diante, em uma autossuficiência sistêmica cíclica. E se, em vez do modelo em que se descartam os materiais não biodegradáveis, como máquinas de lavar, smartphones, notebooks, micro-ondas, existissem outros modelos em que esses materiais retornassem ao ciclo produtivo? Se eles fossem levados de volta a suas respectivas fábricas, desmontados, otimizados e trazidos de volta para nós na forma de outros produtos? STAHEL, W. R.; REDAY, G. Jobs for Tomorrow: the potential for substituting manpower for energy vantage. Press New York, N.Y. 1981. Fica cada vez mais evidenciado que os consumidores conscientes, a partir das suas decisões sobre o que se dispõem a adquirir, dão o tom para as preocupações organizacionais que envolvem desde a extração da matéria-prima até a disposição final do produto. A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) auxilia tomadores de decisão que buscam informações sobre onde se dão os impactos de suas aquisições, optando por uma alternativa que esteja em consonância com a preservação ambiental. Fonte: UNEP/SETAC apud KISS; DINATO; FERNANDES (2017, p. 12) KISS, B.; DINATO, R.; FERNANDES, M. Experiências e reflexões sobre a gestão do ciclo de vida de produtos nas empresas brasileiras: Ciclos 2015 e 2016. 1a edição - São Paulo – 2017. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/30490. 138 Ética e Sustentabilidade ¨Sua agonia foi lenta e irreversível. A água invadiu as grutas, onde os morcegos habitavam e, como consequência, invadiu a cidade. Havia milhares de morcegos por toda parte, nas casas, nas escolas... Um dia, no teto da varanda de minha casa, amanheceram mais de duzentos. A água continuava subindo como um carrasco frio e impiedoso. Os cascudos, peixes de couro que têm por hábito se prender nas pedras, não tinham mais onde ficar. O volume e a pressão da água aumentavam e eles subiram até a superfície, milhões de cascudos desorientados abriam e fechavam a boca numdesespero mudo. Parecia que todo o lago borbulhava, um espetáculo que, quando me lembro, me entristece. Do lado do Paraguai podiam- -se pegar os peixes, do lado brasileiro não. A água continuava sua missão destruidora, afogando animais ou matando-os de fome, destruindo a mata; até nossa esperança foi destruída¨. Muntoreanu, H. Z. Guahyrá: Guaíra. São Paulo: Arte Impressa N, 1992 139 Ética e Sustentabilidade O QUE REALMENTE É ISSO? Em sua edição mais recente, de 2020, a Global Sustainable Investment Review estima que, nos cinco grandes mercados cobertos pela pesquisa (Europa, Estados Unidos, Canadá, Japão e Australásia — Austrália, Nova Zelândia, Nova Guiné e ilhas próximas), 35,3 trilhões de dólares de ativos sob gestão estão alocados segundo políticas que incluem critérios de sustentabilidade. Esse montante representa 35,9% do total de ativos sob gestão nesses mercados. Entre as várias estratégias de investimento sustentável adotadas, a “Integração ESG” é a mais disseminada, abrangendo o valor de 25,2 trilhões de dólares de ativos sob gestão em 2020, o que representa 143% de crescimento desde 2016. Isso faz com que os investidores valorizem cada vez mais a clareza das iniciativas ESG das empresas e demandam relatórios mais holísticos, comparáveis e confiáveis que os apoiem em suas decisões de negócio. ESG – Environmental, Social and Corporate Governance 140 Ética e Sustentabilidade Engenheiros e cientistas estão trabalhando 24 horas por dia em como descarbonizar cimento, aço e plásticos; transporte, caminhões e aviação; agricultura, energia e construção. Assim como algumas empresas correm o risco de ficarem pelo caminho, o mesmo deve acontecer com as cidades e países que não planejarem o futuro. Eles correm o risco de perder empregos, mesmo quando outros lugares ganham. A descarbonização da economia será acompanhada de uma enorme criação de empregos para aqueles que se engajarem no necessário planejamento de longo prazo (FINK, 2022, tradução nossa). FINK, L. D. Carta de Larry Fink aos CEOs em 2022: o poder do capitalismo. BlackRock. Disponível em: https://www.blackrock.com/br/2022-larry-fink-ceo-letter. Quando uma empresa divulga o que está fazendo para reparar ou compensar alguma externalidade negativa associada à sua atividade isso está muito atrelado ao ESG, mas e aquilo que a organização pode fazer para melhorar o mundo e que não está atrelado diretamente à sua operação? BELINKY, A. Seu ESG é sustentável? GV-EXECUTIVO, v. 20, n. 4, 2021. “Acreditar que a ampla disseminação da perspectiva ESG esgota a contribuição do setor empresarial no que diz respeito ao desenvolvimento sustentável é uma perigosa ilusão, por dois principais motivos: primeiro, porque gera uma sensação de ´dever cumprido´, enquanto o problema real da crise planetária criada pela falta de sustentabilidade de nosso modelo de produção e consumo continua longe de ser resolvido; segundo, porque ainda é muito grande a imprecisão do que seja um bom desempenho ESG”. (BELINKY, (2021, p. 39-40): 141 Ética e Sustentabilidade Frameworks e standards Os frameworks fornecem orientações baseadas em princípios sobre como as informações são estruturadas, como elas são preparadas e quais tópicos amplos são abordados. Enquanto isso, os standards fornecem requisitos específicos, detalhados e replicáveis para o que deve ser relatado para cada tópico, incluindo métricas. Os standards tornam os frameworks acionáveis, garantindo uma divulgação comparável, consistente e confiável. Dessa forma, os frameworks e os standards são complementares e são projetados para serem usados em conjunto (SASB, 2022). LINK PARA O SDG - B-Lab e Global Compact A ferramenta SDG Action Manager é uma plataforma gratuita desenvolvida em conjunto entre o B Lab e o Global Compact, que reúne a Avaliação de Impacto B e os Dez Princípios do Global Compact e permite saber para qual ODS – Objetivo do Desenvolvimento Sustentável você contribui com sua organização. 142 Ética e Sustentabilidade No sítio da SASB, é possível acessar os standards por setor e obter informações sobre como solicitar o licenciamento para os insumos necessários para o desdobramento das materialidades. Os padrões SASB abordam divulgações para 77 setores e permitem que empresas em todo o mundo identifiquem, gerenciem e comuniquem informações de sustentabilidade financeiramente relevantes aos investidores, consideradas mais de 1000 métricas. https://www.sasb.org/ O que seria mais importante para a análise ESG de uma petrolífera ou de uma produtora de alumínio. A sua performance financeira ou a materialidade do impacto social ou ambiental gerado pela sua pegada de carbono (a emissão de CO2)? Para ter uma avaliação ESG relevante, é fundamental medir os fatores realmente materiais para uma empresa. Para isso, é preciso combater os chamados "cherry-picking" e "SDG-washing". Cherry-picking é selecionar os objetivos e metas que são mais fáceis para a empresa, em vez daqueles que lidam com as prioridades mais urgentes. ODS washing significa divulgar as contribuições positivas com os Objetivos Globais e ignorar impactos negativos importantes. Embora vitórias fáceis e lucro façam parte de uma estratégia coerente, é essencial que as empresas também identifiquem e ajam sobre um espectro completo de metas do ODS prioritárias que se correlacionem com suas operações e cadeias de valor. 143 Ética e Sustentabilidade 144 Ética e Sustentabilidade O Financial Stability Board (FSB) criou a Task Force on Climate-Related Financial Disclosures (TCFD). A força tarefa se voltou para a análise dos impactos da mudança climática sobre o setor financeiro e sobre como os riscos associados a esse problema deveriam ser reportados. Seu objetivo foi estabelecer uma estrutura para que as companhias elenquem os riscos a que estão sujeitas em função do aquecimento global, permitindo que bancos, seguradoras e investidores avaliem o impacto desse fenômeno sobre os negócios e seus resultados. TCFD - Task Force on Climate-Related Financial Disclosures - 2015 ESG – Ainda há muito espaço ao contraditório Pesquisa feita pela PwC com 325 investidores em todo o mundo Expectativas dos investidores quanto ao ESG PWC. The economic realities of ESG. Outubro, 2021. Disponível em: www.pwc.com/economic-realities-of-ESG. Acesso em: 29.12.2021. 145 Ética e Sustentabilidade PWC. The economic realities of ESG. Outubro, 2021. Disponível em: www.pwc.com/economic-realities-of-ESG. Acesso em: 29.12.2021. Investidores dispostos a aceitar retorno mais baixo em prol do ESG Pesquisa feita pela PwC com 325 investidores em todo o mundo John Hill, a partir de achados de trabalhos científicos de alto impacto (+ 200 fontes), concluiu que estratégias de investimentos em portfólios ESG precisam obter retornos financeiros que não fiquem muito abaixo da média do mercado para continuarem atrativas. HILL, J. Environmental, social, and governance (ESG) investing: a balanced analysis of the theory and practice of environmental, social, and governance. Cambridge: Academic Press, 2020. 90% dos estudos mostram que padrões sólidos de sustentabilidade reduzem o custo de capital. 88% das fontes analisadas acham que empresas com sustentabilidade robusta práticas demonstram melhor desempenho operacional, o que acaba se traduzindo em fluxo de caixa. 80% dos estudos revisados apoiam a conclusão de que empresas com forte desempenho ESG também têm alta pontuação nas métricas financeiras tradicionais. 89% dos estudos mostram que as empresas com altas classificações ESG apresentam desempenho superior baseado em valor de mercado, enquanto 85% dos estudos mostram que essas empresas apresentam desempenho superior pela perspectiva do resultado contábil. 146 Ética e Sustentabilidade “O desempenho superior das estratégias ESG está fora de dúvida” KYNGE, J. The ethical investment boom. Financial Times. Setembro, 2017. Disponível em: www.ft.com/content/9254dfd2-8e4e-11e7-a352-46f43c5825d. “Fazdois anos que escrevi que o risco climático é o risco de investimento. E nesse curto período, vimos os investimentos sustentáveis atingindo US$ 4 trilhões”. FINK, L. D. Carta de Larry Fink aos CEOs em 2022: o poder do capitalismo. BlackRock. Disponível em: https://www.blackrock.com/br/2022-larry-fink-ceo-letter. Em outubro de 2002, o International Financial Corporation (IFC), membro do Grupo Banco Mundial, e o banco holandês ABN Amro promoveram, em Londres, um encontro de altos executivos para discutir experiências com investimentos em projetos envolvendo questões sociais e ambientais em mercados emergentes, nos quais nem sempre existe legislação rígida de proteção do ambiente. Gestão de risco ambiental, proteção à biodiversidade e adoção de mecanismos de prevenção e controle de poluição. Proteção à saúde, à diversidade cultural e étnica e adoção de Sistemas de Segurança e Saúde Operacional. Avaliação de impactos socioeconômicos, incluindo as comunidades e povos indígenas, proteção a habitats naturais com exigência de alguma forma de compensação para populações afetadas por um projeto. Eficiência na produção, distribuição e consumo de recursos hídricos e energia e uso de energias renováveis. Respeito aos direitos humanos e combate à mão-de-obra infantil. Estava alicerçado o caminho para o surgimento dos Princípios do Equador, lançado em 2003 pelos 10 dos maiores bancos no financiamento internacional de projetos (ABN Amro, Barclays, Citigroup, Crédit Lyonnais, Crédit Suisse, HypoVereinsbank (HVB), Rabobank, Royal Bank of Scotland, WestLB e Westpac), responsáveis por mais de 30% do total de investimentos em todo o mundo. 147 Ética e Sustentabilidade Green bonds, por essa perspectiva, estão conectados com os preceitos da Economia Verde: por meio desses títulos, organizações, bancos ou governos conseguem captar recursos para projetos necessariamente voltados para a sustentabilidade, tais como energia renovável, eficiência energética, gestão de resíduos, transporte de baixo carbono, projetos florestais. Os títulos também podem ser usados para financiar projetos com benefício social, como a melhora da saúde e dos serviços sociais. Green loans, caracterizados como qualquer tipo de instrumento de empréstimo disponibilizado exclusivamente para financiar ou refinanciar, no todo ou em parte, novos e/ou projetos verdes elegíveis existentes. Os Green Loan Principles (GLP) (Princípios do Empréstimo Verde, traduzido do inglês) têm por objetivo a criação de uma estrutura de mercado com alto nível de normas e diretrizes, fornecendo uma metodologia consistente para uso em todo o mercado de green loan. O determinante fundamental de um green loan é a utilização dos recursos do empréstimo para Projetos Verdes (incluindo outros e despesas de apoio, incluindo pesquisa & desenvolvimento – P&D), que devem ser adequadamente descritos nos documentos financeiros e, se aplicável, materiais de marketing. De acordo com o Global Impact Investing Network (GIIN, na sigla em inglês) (2019), investimentos de impacto são aqueles que têm como principal objetivo gerar alguns efeitos positivos mensuráveis em fatores socioambientais, ao mesmo em que buscam preservar o retorno financeiro. Nesse contexto, do chamado green bond market, os green bonds se apresentam como alternativa às fontes tradicionais de captação de recursos. ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial No processo seletivo as empresas passam por verificações de materialidade de práticas ESG. Exemplos disso são: a verificação de scores nota mínima no Score CDP-Clima, que mensura o desempenho dos papéis de empresas com práticas diferenciadas em gestão climática, alinhado às tendências globais e recomendações de acordos internacionais como TCFD – Task-Force for Climate-Related Financial Disclosure, força-tarefa criada pela Financial Stability Board e que facilita a divulgação de informações financeiras relacionadas ao clima por companhias de todo o mundo; e atingimento de nota inferior ao teto no RepRisk Index – Peak RRI, que mensura risco reputacional em aspectos ESG 148 Ética e Sustentabilidade Há, ainda, a etapa de preenchimento do questionário ISE B3 o qual está estruturado em quatro níveis: dimensões, temas, tópicos e perguntas. A tabela abaixo apresenta um panorama dos dois primeiros níveis: ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial https://www.b3.com.br/pt_br/noticias/ise-b3-2022.htm ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial 149 Ética e Sustentabilidade ISE – Carteira vigência a partir de 03.01.2022 O índice conta com um Exchange Trade Fund (ETF), o ETF ISUS11 (fundo de índice), listado em 30.10.2011 e outros 14 fundos de investimento que o referenciam, somando mais de R$ 527 milhões em patrimônio líquido em 28.12.2021. Índice Carbono Eficiente – (ICO2 B3) Criado em 2010, o Índice Carbono Eficiente da B3 (ICO2 B3) tem como propósito ser um instrumento indutor das discussões sobre mudança do clima no Brasil. A adesão das companhias ao ICO2 demonstra o comprometimento com a transparência de suas emissões e antecipa a visão de como estão se preparando para uma economia de baixo carbono. O índice conta com um Exchange Traded Fund (ETF), o ECOO11 (fundo de índice) gerido pela BlackRock, que detém um patrimônio líquido de R$37.754.348,00 (30/12/2021). Link Metodologia ICO2 150 Ética e Sustentabilidade IGTW B3 – Índice Great Place to Work Este novo índice, lançado em parceria pela B3 e pela GPTW, busca capturar a geração de resultados positivos das empresas que investem no ambiente de trabalho, ou seja, que estão embarcadas num processo constante de transformação cultural que privilegia as relações entre as pessoas e o desenvolvimento dos funcionários. A primeira carteira do recém- lançado IGPTW B3 reúne ações de 45 empresas. Onze delas fazem parte do ranking das 150 melhores empresas para trabalhar e possuem peso dobrado no índice em relação às outras 34 empresas que são certificadas pela Great Place to Work (GPTW). Índice Carbono Eficiente – (ICO2 B3) Criado em 2010, o Índice Carbono Eficiente da B3 (ICO2 B3) tem como propósito ser um instrumento indutor das discussões sobre mudança do clima no Brasil. A adesão das companhias ao ICO2 demonstra o comprometimento com a transparência de suas emissões e antecipa a visão de como estão se preparando para uma economia de baixo carbono. O índice conta com um Exchange Traded Fund (ETF), o ECOO11 (fundo de índice) gerido pela BlackRock, que detém um patrimônio líquido de R$37.754.348,00 (30/12/2021). Link Metodologia ICO2 151 Ética e Sustentabilidade Lançado no ano 2000, o Novo Mercado estabeleceu desde sua criação um padrão de governança corporativa altamente diferenciado. A partir da primeira listagem, em 2002, ele se tornou o padrão de transparência e governança exigido pelos investidores para as novas aberturas de capital. Novo Mercado A premissa básica é a seguinte: A valorização e a liquidez das ações são influenciadas positivamente pelo grau de segurança oferecido pelos direitos concedidos aos acionistas e pela qualidade das informações prestadas pelas companhias. Fonte: ROSSETI, José Paschoal; ANDRADE, Adriana. Governança corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. São Paulo: Atlas, 2016. Novo Mercado: alguns critérios para habilitação O capital deve ser composto exclusivamente por ações ordinárias com direito a voto. No caso de alienação do controle, todos os acionistas têm direito a 100% de tag along. O conselho de administração deve contemplar, no mínimo, 2 ou 20% de conselheiros independentes, o que for maior, com mandato unificado de, no máximo, dois anos. A empresa se compromete a manter, no mínimo, 25% das ações em free float. Fonte: ROSSETI, José Paschoal; ANDRADE, Adriana. Governança corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. São Paulo: Atlas, 2016. 152 Ética e Sustentabilidade ENFORCEMENT A Lei Federal 12.846 de 01/08/13, que entrou em vigor em 29.01.2015, estabelece ResponsabilidadeObjetiva das Pessoas Jurídicas pelos atos lesivos praticados contra a Administração Pública, mais os requisitos para um Programa de Integridade Empresarial No que tange à pessoa jurídica, em que consiste o Compliance Anticorrupção ou Programa de Integridade: Dispõe sobre a responsabilidade civil e administrativa objetiva da pessoa jurídica. No que tange à punição da pessoa jurídica, pela prática do ato lesivo à Administração Pública, vem permitindo ao Judiciário exercer seu poder judicante, com sentenças pesadas, que podem chegar a até 20% do faturamento bruto da organização no semestre anterior. Imagem: https://kli-ks.org 153 Ética e Sustentabilidade Resoluções com pegada socioambiental Desde 2008, com a publicação da Resolução CMN 3.545, que trouxe requisitos ambientais para a concessão de crédito rural no bioma Amazônia, fatores socioambientais entraram na agenda da regulação bancária no Brasil. Em 2010, a Resolução CMN 3.876 proibiu a concessão de crédito rural para empregadores, inscritos no cadastro de empregadores que utilizam mão de obra em condições similares à escravidão (que ficou conhecida como “lista suja do trabalho escravo”), elaborado pelos órgãos de fiscalização do trabalho após a conclusão de processos administrativos em matéria de saúde e segurança do trabalho, nos quais o conjunto de infrações caracteriza o crime em questão. Em 2011, a Circular BCB 3.847 passou a exigir que os bancos que utilizam um processo de avaliação interna da adequação de capital (ICAAP, na sigla em inglês) levassem em conta os riscos socioambientais de suas carteiras de crédito. A avaliação de adequação de capital define o montante que os bancos precisam manter de capital em comparação ao montante que têm disponível para operar concedendo crédito – isso influencia diretamente no custo do crédito. Resoluções 4.327 e 4.945 A Resolução CMN nº 4327, que entrou em vigência em 2015, pode ser considerada um marco no relacionamento das instituições de créditos com os seus tomadores, na medida que criou uma corresponsabilização no caso de danos à sociedade ou ao meio ambiente. Para estar em conformidade, as instituições financeiras devem manter estrutura de governança compatível com seu porte, a natureza de seu negócio, a complexidade de serviços e produtos oferecidos, bem como com as atividades, processos e sistemas adotados, para assegurar o cumprimento das diretrizes e dos objetivos da Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA). A estrutura de governança mencionada deve prover condições para o exercício das seguintes atividades: implementar as ações no âmbito da PRSA; monitorar o cumprimento das ações estabelecidas na PRSA; avaliar a efetividade das ações implementadas; verificar a adequação do gerenciamento do risco socioambiental estabelecido na PRSA; identificar eventuais deficiências na implementação das ações. 154 Ética e Sustentabilidade Resoluções 4.327 e 4.945 A Resolução CMN nº 4.945, com vigência postergada gradualmente para 1º de julho de 2022 e 1º de dezembro de 2022, passou a dispor sobre a Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática (PRSAC) e revoga expressamente a Resolução CMN nº 4.327, de 25 de abril de 2014, que trata da Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA). Para que a Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática (PRSAC) atenda minimamente às exigências regulatórias, deve estar contemplado o conjunto de princípios e diretrizes de natureza social, ambiental e climática, que devem guiar a instituição em todos os aspectos de suas operações e na relação com as partes interessadas. Além de enumerar algumas definições e referências, todas próprias para o fim que especifica, também determina a consideração dos impactos sociais, ambientais e climáticos das atividades e dos processos da instituição, seus produtos e serviços, além dos objetivos estratégicos da instituição, oportunidades de negócios, as condições de competitividade e o ambiente regulatório em que atua (RASLAN, 2022). RASLAN, A. L. Tríade ESG, agenda BC#sustentabilidade e regulação do mercado financeiro no Brasil: Resoluções CMN nº 4.557/2017, 4.606/2017 e 4.945/2021 e Resoluções BCB nº 139/2021 e 140/2021. In: Finanças Sustentáveis: ESG, Compliance, Gestão de Riscos e ODS, organizado por Projeto Conexão Água do MPF e ABRAMPA. 2022, p. 141- 177. Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/portal/publicacoes/14960-financas-sustentaveis-esg-compliance-gestao-de-riscos-e-ods. A partir do estudo da sessão 4.1 do formulário de referência de 241 empresas de capital aberto no Brasil que o ACI Institute, em parceria com o Board Leadership Center da KPMG no Brasil, publicou o estudo “Gerenciamento de Riscos: os principais fatores de risco divulgados pelas empresas abertas brasileiras”, o qual visa traçar um panorama dos fatores de risco mais reportados por essas organizações. Vejamos os 10 principais fatores de risco mencionados pelas empresas brasileiras (KPMG, 2021): Riscos regulatórios: 95% Condições econômicas e de mercado: 92% Riscos aos acionistas: 91% Riscos operacionais: 87% Riscos financeiros e de caixa: 86% Riscos jurídicos: 85% Concorrência: 85% Riscos associados à execução da estratégia de negócios e/ou plano de investimentos: 83% Riscos associados à atuação do acionista controlador: 75% Risco de mudança nas políticas governamentais sobre o setor: 68% KPMG. Os principais fatores de risco para as empresas abertas brasileiras. 2021 – 6ª edição. Disponível em: https://home.kpmg/br/pt/home/insights/2021/05/ge renciamento-riscos-empresas-brasileiras.html. 155 Ética e Sustentabilidade Esse relatório é apresentado nas reuniões do Fórum Econômico Mundial (WEF, sigla em inglês) e examina os riscos em cinco categorias: econômico, ambiental, geopolítico, social e tecnológico. O GRPS 2021-2022 (17ª edição) trouxe novidades em questões sobre esforços internacionais de mitigação de riscos quanto a inteligência artificial, exploração espacial, ciberataques transfronteiriços e desinformação e mitigação de refugiados (WEF, 2022). Na 16ª edição, foi possível observar que a perda de biodiversidade, o clima extremo, os danos ambientais causados pelo ser humano e a deficiência nas respostas climáticas figuram entre os cincos maiores riscos em termos de probabilidade. Também causa espécie que dentre os 10 riscos apontados como mais significativos em termos de probabilidade de ocorrência e de magnitude de impacto, sete estão relacionados aos aspectos ambientais nos resultados divulgados desde em 2021, enquanto na edição de 2007, dentre os 10 riscos apontados à época como mais significativos, também em termos de probabilidade de ocorrência e de magnitude de impacto, não havia nenhum relacionado às questões ambientais (ITO, 2021). “Empresas enfrentam dificuldades, não por causa da estrutura como um todo, mas porque os responsáveis não endereçam os problemas que são identificados.” Sir George Adrian Cadbury 156 Ética e Sustentabilidade O gerenciamento de riscos corporativos é um processo conduzido em uma organização pelo conselho de administração, diretoria e demais empregados, aplicado no estabelecimento de estratégias, formuladas para identificar em toda a organização eventos em potencial, capazes de afetá-la, e administrar os riscos de modo a mantê-los compatível com o apetite a risco da organização e possibilitar garantia razoável do cumprimento dos seus objetivos. Fonte: COSO – Gerenciamento de riscos corporativos, p. 3 Gerenciamento de Riscos Corporativos – Estrutura Integrada Imagem: coso.org 157 Ética e Sustentabilidade 158 Ética e Sustentabilidade Goodwill ou ágio por expectativa de rentabilidade futura. Ativo consiste nos “[...] recursos controlados por uma entidade capazes de gerar fluxos de caixa, que podem ser negociados separadamente. Em síntese, a literatura contábil define o ativo como benefícios econômicos (potenciais fluxos de caixa) controladospela entidade. E tais benefícios podem ser gerados por recursos tangíveis ou intangíveis. Martins, E., Almeida, D. L. D., Martins, E. A., & Costa, P. D. S. (2010). Goodwill: uma análise dos conceitos utilizados em trabalhos científicos. Revista Contabilidade & Finanças, 21(52). Ativos intangíveis mensuráveis x Ativos intangíveis não mensuráveis Link para artigo Segundo Glautier e Underdown (2001, p. 167), Goodwill pode ser descrito como a soma daqueles atributos intangíveis e não mensuráveis para contabilização e que contribuem para o sucesso de um negócio, tais como: uma boa reputação, cultura para a integridade organizacional, a habilidade e perícia dos seus empregados e gestores e sua relação duradoura com credores, fornecedores e clientes. 159 Ética e Sustentabilidade Reconhecimento inicial do investimento da compra de 40% das ações da Empresa B Débito Crédito Investimentos na coligada B a Bancos 72.000.000,00 72.000.000 Foi levantado o Balanço Patrimonial e o patrimônio líquido contábil nesse balanço era de R$ 150.000.000,00 Empresa B Aquisição de 40% Valor justo dos ativos líquidos 170.000.000,00 68.000.000,00 Valor patrimonial 150.000.000,00 60.000.000,00 Mais-valia nos ativos líquidos 20.000.000,00 8.000.000,00 O ágio por mais-valia de ativos líquidos contido no custo inicial do investimento (R$ 72 milhões) seria de R$ 8 milhões. Por sua vez, o ágio por rentabilidade futura (goodwill) seria de R$ 4 milhões (72.000.000 – 68.000.000). Débito Crédito INVESTIMENTO NA COLIGADA B - Valor Patrimonial MAIS-VALIA DE ATIVOS LÍQUIDOS – Coligada B ÁGIO POR RENTABILIDADE FUTURA (Goodwill) – Coligada B Bancos 60.000.000,00 8.000.000,00 4.000.000,00 72.000.000,00 (+) Ágio por Rentabilidade Futura (Goodwill) (-) Ganho por compra vantajosa 160 Ética e Sustentabilidade Imagens: Commons.com Imagem: Inspirada em MAZZALI, Rubens; ERCOLIN, Carlos Alberto. Governança corporativa. Editora FGV, 2018. Imagem: Inspirada em MAZZALI, Rubens; ERCOLIN, Carlos Alberto. Governança corporativa. Editora FGV, 2018. 161 Ética e Sustentabilidade 162 Ética e Sustentabilidade
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