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SAÚDE DA MULHER Escola Técnica Complemento Professora Enfermeira Sarah Canelas sarah.canelas@gmail.com Parto Cesáreo O Brasil atualmente é considerado o país campeão em cirurgias cesarianas eletivas, ou seja, nascimentos que ocorrem fora do trabalho de parto. Como disse Fernanda Macedo, médica obstetra em entrevista ao filme O Renascimento do parto 1: “A cesariana é uma cirurgia maravilhosa que salva vidas todos os dias, mas ela não é para ser feita em todas as pacientes de uma maneira desnecessária fora do trabalho de parto”. O trabalho de parto é o principal indicativo de que o bebê está pronto ou maduro para viver fora do útero, se a gestante é submetida a uma cesárea antes desse momento sem uma real indicação, o bebê corre muito mais riscos de nascer prematuro, ter complicações respiratórias, há um aumento nas chances de internação em UTI neonatal, aumento de morte neonatal, para a mãe existe mais chances de hemorragias e infecções, sem levar em conta problemas a longo prazo como amamentação e relação mãe-bebê dificultada. Indicações Absolutas de Cesariana ◦ Placenta prévia parcial ou total (total ou centro-parcial): Quando a placenta está fixada na parte de baixo do útero, totalmente ou parcialmente em cima do colo do útero. Um dos principais fatores para a placenta estar prévia no final da gestação é em razão das cesáreas anteriores aquela gestação. Indicações Absolutas de Cesariana ◦ Descolamento prematuro da placenta com feto vivo – fora do período expulsivo: Descolamento prematuro da placenta pode ocorrer a partir de 20 semanas de gestação, é quando a placenta de desprende do útero fora do período expulsivo ou do trabalho de parto, é uma emergência e uma justificativa real de cesárea, uma vez que o bebê ficará sem receber oxigênio e nutrientes após o descolamento. ◦ Bebê transverso – durante o trabalho de parto (antes pode ser tentada a versão): Com o bebê atravessado dentro do útero o parto espontâneo se faz impossível, durante a gestação no nono mês o(a) obstetra pode realizar a versão externa do bebê para a posição cefálica, se houver insucesso na virada do bebê a cesárea deve ser realizada após o início trabalho de parto. ◦ Ruptura de vasa prévia: Quando os vasos do cordão umbilical ficam desprotegidos e rompem-se causando um forte sangramento antes ou durante o trabalho de parto. Indicações Absolutas de Cesariana ◦ Prolapso de cordão – com dilatação não completa: Quando o cordão umbilical “nasce” primeiro, podendo ser comprimido pela cabeça do bebê, interrompendo assim o fluxo de oxigênio e nutrientes. ◦ Herpes genital com lesão ATIVA no momento em que se inicia o trabalho de parto: Quando a mulher já tem histórico de herpes genital pode-se a partir de 36 semanas sob orientação médica ministrar medicamento para reduzir o risco de haver lesão no momento do parto. Indicações Reais de Cesariana (cada caso deve ser analisado individualmente) ◦ Desproporção cefalopélvica (DCP): Quando a cabeça do bebê é desproporcional a pelve da mãe. Só pode ser diagnosticada intraparto no final da dilatação, baseado nos dados de evolução do trabalho de parto registrados no partograma. ◦ Frequência cardíaca fetal não-tranquilizadora (também chamado Sofrimento fetal agudo): Quando os batimentos cardíacos do bebê estão muito acima ou muito abaixo do esperado em trabalho de parto. A parturiente pode experimentar mudar de posição e a equipe médica deve analisar criteriosamente se a cesárea realmente se faz necessária. Indicações Reais de Cesariana (cada caso deve ser analisado individualmente) ◦ Falha na progressão do trabalho de parto: Pode ser diagnosticada em trabalho de parto ativo quando a dilatação não progride como esperado depois de horas, baseado nos dados de evolução do trabalho de parto registrados no partograma. A verdadeira causa da falha de progressão geralmente é desconhecida, mas se dá por contrações uterinas não eficientes e desproporção cefalopélvica, se o parto não ocorrer normalmente com administração de ocitocina sintética ou rompimento artificial da bolsa, pode-se tentar corrigir a posição da cabeça do bebê com alguns exercícios com ajuda da Enfermeira Obstétrica, Doula ou de um(uma) fisioterapeuta, se mesmo assim o trabalho de parto não progredir a cesárea se faz opção. Situações Especiais ◦ Bebê pélvico: Quando o bebê está sentado dentro do útero. Se a gestante assim desejar, a partir de 36 semanas pode ser realizada a versão cefálica externa, caso a versão não seja bem-sucedida, equipe e gestante devem discutir os riscos e benefícios de um parto pélvico levando em consideração a experiência da equipe médica em atender essa variabilidade de parto e o desejo da gestante. ◦ Duas ou mais cesáreas anteriores: A gestante deve ser informada na gestação sobre os riscos e benefícios de um parto natural após cesárea ou de uma nova cirurgia. Os riscos de ser ter um parto natural após cesárea geralmente são menores do que uma nova cirurgia. ◦ HIV/Aids: A cesariana eletiva é indicada se a gestante tiver HIV + a contagem de CD4 baixa ou desconhecida e/ou carga viral acima de 1.000 cópias ou desconhecida); em franco trabalho de parto e se a bolsa romper, deve ser discutido caso a caso. Pressão Cultural no Brasil Se existem apenas 5 indicações absolutas de cesárea e 6 indicações especiais que devem ser analisadas individualmente, por que mais da metade dos brasileirinhos está nascendo através de cirurgia cesariana? Algo não se encaixa nessa história…. Tirando a minoria de mulheres brasileiras que realmente desejam uma cesárea (e devem ter seu direito assegurado) quais são as razões que levam tantas mulheres a uma cesárea? A resposta é falta de informação, conveniência médica e ranços culturais de acharem a cesárea mais segura por ser mais controlada. Criam-se muitos mitos em relação ao parto normal, ao longo da gestação a mulher vai tendo a coragem minada no consultório, na família e aonde ela for, todo mundo sempre tem uma história trágica de parto para contar. As gestantes nem sempre são apoiadas em suas decisões e muitas vezes são criticadas pela escolha de parir. Já os planos de saúde pagam aos médicos um valor geralmente muito baixo pelo atendimento a um parto, a maioria prefere agendar cesáreas do que ter que desmarcar todas as consultas do dia para atender um parto normal que costuma levar horas e acabar não tendo muito lucro. Tristes combinações e interesses que se entrelaçam, colocam o Brasil no ranking vergonhoso e perigoso onde se encontra atualmente. Falsas indicações de Cesariana Há uma lista de indicações falsas de cesárea que já foram ouvidas por gestantes dentro dos consultórios, segue abaixo algumas delas: ◦ Cordão umbilical enrolado no pescoço; ◦ Bacia estreita; ◦ Grau de placenta avançado; ◦ Gestante muito pequena ou muito grande; ◦ Bebê grande demais ou pequeno demais; ◦ Gestante que engordou muito ou que engordou pouco; ◦ Gestante muito nova ou muito velha para parir (aqui entende-se por mulher velha acima de 30 anos) ◦ Muito líquido ou pouco líquido; ◦ Falta de dilatação (sendo que a mulher nem está em trabalho de parto ainda); ◦ Gravidez prolongada; ◦ Pressão alta ou baixa; ◦ Diabetes; ◦ Bebê não estar encaixado (fora do trabalho de parto); ◦ Feriados ou trânsito para chegar a maternidade. As desculpas são dos mais variados tipos, algumas inacreditáveis você deve estar pensando, mas infelizmente muitas já usadas em algum momento pelos cesaristas de plantão. Condutas para uma Cesariana Humanizada ◦ Acompanhante o tempo inteiro. Ainda é comum em alguns hospitais que a mulher fique desacompanhada quando vai tomar anestesia e que só deixem o acompanhante entrar, quando a cirurgia já começou, mesmo sendo respaldada por lei. ◦ Presença da fotógrafa e doula. ◦ Abaixar o campo na hora do nascimento, deixar que a mãe presencie o momento que o bebê nasce ◦ Ambiente silencioso, com pouca luz e que o ar condicionado seja desligadono momento do nascimento. ◦ Se possível, que espere o cordão do bebê parar de pulsar. ◦ Que se o beber nascer bem, vá para o colo da mãe antes de ser avaliado por pediatra. ◦ Que a mãe receba ajuda para amamentar o bebê e que ele permaneça com ela dentro da sala de cirurgia. ◦ Alojamento conjunto. Violência Obstétrica Violência Obstétrica Violência Obstétrica A violência obstétrica é um tipo de violência contra a mulher, praticada pelos profissionais da saúde, que se caracteriza pelo desrespeito, abusos e maus-tratos durante a gestação e/ou no momento do parto, seja de forma psicológica ou física. Causa a perda da autonomia e capacidade das mulheres de decidir livremente sobre seus corpos e sexualidade, impactando negativamente na qualidade de vida das mulheres. É o tratamento desumanizado conferido às mulheres no parto. A violência obstétrica contribui para a manutenção dos altos índices de mortalidade materna e neonatal no país. Toda mulher tem o direito de ser protagonista na hora do parto e ter autonomia total sobre seu próprio corpo, tendo suas vontades e necessidades respeitadas. Violência Obstétrica ◦ Maus tratos; ◦ Xingamentos; ◦ Mandar ficar quieta, não se mexer, não expressar dor, não gritar; ◦ Recusa de admissão em hospital ou maternidade (fere a Lei 11.634/07); ◦ Proibição da entrada de acompanhante (fere a Lei 11.108/2005); ◦ Recusa em esclarecer dúvidas da paciente; ◦ Uso de soro com ocitocina para acelerar trabalho de parto por conveniência médica, quando o trabalho de parto está evoluindo adequadamente (ocasiona processo doloroso de contrações não fisiológicas); ◦ Toques sucessivos e por várias pessoas; ◦ Deixar a mulher nua e sem comunicação; ◦ Raspar os pelos pubianos; ◦ Lavagens intestinais; ◦ Impedir a mulher de se alimentar ou ingerir líquido; ◦ Amarrar as pernas e braços da mulher; ◦ Afastar mãe e filho após nascimento só por conveniência da instituição de saúde; ◦ Impedir ou dificultar o aleitamento materno na primeira hora; ◦ Realizar episotomia rotineira (quando no parto vaginal é realizado o “pique”, corte da musculatura perineal da vagina até o ânus ou em direção à perna, com o objetivo de aumentar a área de acesso do obstetra ao canal vaginal de parto) ◦ Manobra de Kristeller (o profissional se coloca sobre a mulher e pressiona sua barriga empurrando o bebê pelo canal vaginal para sua saída mais rápida); ◦ Ruptura artificial da bolsa como procedimento de rotina; ◦ Realização de cesarianas desnecessárias, sem o consentimento da mulher ou apenas por conveniência do médico.
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