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assis CINTRA WU BRASILEIRA ° OBRA ° ADOTADA o’ EM o TODOS OS ESTADOS DO BRASIL £D1TORA PR0PR1ETAH1A A COMPANHIA K /MELHORAMENTOS» DE SAO PAULO S. PAULO-CAIEIRAS-RIO ASSIS CINTRA ALMA BRASILEIRA OBRA ADOTADA OS ESTADOS DO BHASIL EDIÇÕES EM TODOS Editora-Proprietária: COMP. MELHORAMENTOS DE SÃO PAULO (Weisztlog Irmãos incorporada) SÃO PAULO - CAIEIRAS - RIO DE JANEIRO A professora <3 ora 5üveira EMelo é á menina ÇMaria ÇTeresa de Sarros Gamai go •SiZfia, dedico este lipro de leitura escolar, destinado à educação cíuica. São (Paulo, 1938 R Q. PRIMEIRA PARTE AS FESTAS NACIONAIS Feriados Nacionais «Decreto-lei n.° 486 — de 10 de junho de 1938 — Declara os feriados nacionais — 0 Presidente da Repú blica, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição, decreta: Art. l.° — São feriados nacionais os seguintes dias: l.o de janeiro — dedicado à comemoração da fra ternidade universal; 21 de abril — dedicado à memória dos precursores da Independência do Brasil, simbolizados no Tiradentes; 1 de maio — dedicado à exaltação dò dever e dig nidade do trabalho; 7 de setembro — dedicado à comemoração da In dependência e considerado o dia da festa nacional brasileira; 2 de novembro — dedicado à comemoração dos mortos; 15 de novembro — dedicado à comemoração do ad vento da República; 25 de dezembro — dedicado à comemoração da unidade espiritual dos povos cçistãos. Art. 2.° — Revogam-se as disposições em contrá rio. — Rio de Janeiro, em 10 de junho de 1938, 117.° da Independência e 50.° da República. — GETÚLIO VAR GAS — Francisco Campos.» Pax-Concórdia — Quadro do Pedro Américo l.o DE JANEIRO (Comemoração da Fraternidade Universal) Os homens viviam errantes nas florestas; depois se ajuntaram nos campos para criar o gado e plantar os ve getais alimentícios; depois as diversas famílias se reu niram e fundaram as cidades; depois as cidades fizeram alianças e formaram os países; depois melhoraram a agricultura, o comércio c a indústria e fizeram a civi lização. Hoje são muitos os países civilizados; mas nem por o serem, dêles desapareceram os maus sentimentos do homem-selvagem, que vivia nas cavernas das matas vir »»♦ 9 gens: ainda há o ódio, o egoísmo, a inveja. Dêstes/de feitos humanos nasce a grande calamidade que se chanià Guerra. A Guerra é inimiga do Progresso e da Fraternida de dos homens. A Paz é a mãe de todas as felicida des. Mas se é assim, por que ainda existe a Guerra! E’ porque o mundo não é somente formado de gente boa. Há homens, até, que vestem casaca, usam' luvas, pisam mármores com sapatos de verniz, têm cartola e residem em palácios suntuosos, mas... possuem os mes mos sentimentos maus, a mesma alma perversa e cruel do homem das florestas, que lutava corpo a corpo com as féras e com os semelhantes. Quem são êsses tigres de casaca? São os poderosos e potentados, que provocam a Guerra, com todas as suas consequências: sangue, luto, lágrimas, ruínas, fome e peste. As tentativas dos homens bons, em favor da paz! universal, não têm sido felizes. Ainda neste século hou ve em Haia um Congresso da Paz, com representan tes de todos os povos civilizados. Porém alguns anos depois o espírito mau da humanidade provocou a guer ra mundial de 1914, causando milhões de mortes. 0 dia l.° de Janeiro, chamado pelo povo — Dia de Ano Bom — em que toda a gente troca cumprimentos de boas-festas, comemora em todo o mundo civilizado o nobre sentimento de fraternidade universal, do amor do próximo, enfim o desejo santo das almas boas: Paz. E o feriado de l.° de Janeiro é o dia festivo con sagrado aos sentimentos pacíficos, isto é, à fraternidade. universal. 0 Alferes Xavior — o Tiradentes 21 DE ABRIL (Comemoração dos precursores da Independência do Brasil, resumidos em Tiradentes') Em 1789 governava a Capitania de Minas um fidal go português de poucos amigos. De fisionomia triste, era rude e insociável; vivia encerrado no seu palácio. Tal fidalgo era d. Luiz Furtado de Mendonça, visconde de Barbacena. Certa noite, alguém o procurou: era um oficial português que ia denunciar uma conspiração de brasileiros. Êsse traidor chamava-se Joaquim Silvério dos Reis. Imediatamente começaram as prisões. As pes soas mais inteligentes e mais ricas da Capitania foram presas e submetidas a um interrogatório terrível. Os prin cipais conspiradores eram o coronel Inácio José de^1- 1 varenga Peixoto; os tenentes-coronéis Francisco de Paula | Andrada e Domingos de Abreu Vieira; os drs. Clqudio J Manuel da Costa e Tomaz Antônio Gonzaga; oá pa. I dres Carlos Corrêa de Toledo e José da Silva Oliveira Rolim. 0 mais pobre de todos chamava-se Joaquim José da Silva Xavier, alteres de cavalaria, conhecidoB pela alcunha de Tiradentes, por ser perito na arte den- | tária. 0 chefe, em cuja casa todos se reuniam frequen- I temente, era o dr. Cláudio. Êste, que fôra secretário de . d. Luiz da Cunha Menezes, antecessor de Barbacena, no Govêrno de Minas, gozava de grande prestígio no Brasil -a e mesmo em Lisboa. Era o advogado mais importante J de nossa Pátria. Prenderam-no e depois o encontraram morto na cadeia. Os padres foram enviados para Lisboa 'J e os paisanos e militares remetidos para a África, 'em degrêdo, com exceção de um: — Tiradentes. 0 Governador de Minas exigia, como exemplo, para | que ninguém no Brasil nunca mais pensasse em Li- I herdade e República, que houvesse uma pena de morte. | Com isso concordou o vice-rei d. Luiz de Vasconcelos, ja E assim, a rainha de Portugal, d. Maria I, mandou para a fôrca o pobre Tiradentes. Era êste o mais ardoroso ■ propagandista da República. A execução da sentença J do morte realizou-se no dia 21 de Abril de 1792. 0 I confessor do mártir da liberdade conta que êssè dia I foi «m dia claro e bonito, de muito sol e de muita I /esta....». 0 Govêrno da República querendo prestar'uma justa | 12 ««« homenagem aos que se sacrificaram pela independência da pátria, escolheu a figura de Tiradentes para os repre sentar. E assim declarou dia de festa nacional o 21 de Abril, aniversário do enforcamento do grande patriota que morreu pela liberdade de sua Terra. Martírio de Tiradentes, que foi enforcado e ora seguida esquartejado, em 21 de Abril de 1792, mo campo do São Domingos, Rio de Janeiro. ***** 13 ***** 1.0 DE MAIO (Dedicado à exaltação do dever e dignidade do trabalho) Foi em l.° de Maio de 1887 que, num dos maiores comícios realizados no mundo, os operários de Chicago, com as comissões representativas de trabalhadores de todos os Estados da União Americana, entusiasmados pelos discursos dos liders trabalhistas Parsons, Spres e Schwab, resolveram pleitear regalias, que pretendiam ser um direito da classe à qual pertenciam. Obtiveram do Govêrno a famosa «lei do trabalho», resumida nos seguintes itens: l.°) oito horas de trabalho diário, nas segundas, terças, quartas, quintas e sextas; quatro horas aos sá bados; descanso aos domingos; 2.°) assistência do patrão ao operário, no caso de desastre e doença; 3.°) pagamento semanal dos salários; 4.°) proibição do trabalho aos menores de 16 anos; 5.°) abôno de uma quinzena de salário ao trabalha dor despedido; 6.°) direito de queixa dos trabalhadores contra arbi trariedades dos chefes de serviço; 7.°) organização das sociedades de classes. Fprmidável foi a luta que se travou na Câmara dos representantes federais quando o deputado Jonas Hen- derson apresentou e defendeu a lei do trabalho. — « Senhores, disse êle nessa memorável sessão dos deputados americanos, já se foi o tempo em que o tra balhador era uma simples máquina. 0 operário moderno, côncio das suas obrigações, está também inteirado dos seus direitos: e êstes êle os requereu ao govêrno e ao governo cumpre a obrigação de concedê-los. Urge aten der aos homens do trabalho, porque são êles as vigas mestras da Nação.» E foi relembrando essa data, consagrada à confrater nização dos trabalhadores na conquista dos seus di reitos, que o Brasil, como já o tinham feito todas as na ções civilizadas,decretou feriado o dia l.° de Maio. Êsse é o dia comemorativo da confraternidade uni versal das classes operárias. Desde quando celebram os operários o l.° de Maio? Foi a 14 de Julho de 1889, no «Congresso dos De legados do Socialismo Internacional» reunido em Paris, 15 no «Salão Petrellem», que Raymond Lavique, secreta- J rio da Federação dos Sindicatos, propôs que em data I fixa e em todos os países e em todas as cidades/ do ‘|| mundo se realizasse uma manifestação internacional no I sentido de «levar os poderes públicos a reduzirem a 8 • horas o dia do trabalho, (medida já adotada por Tei do , Congresso Norte-Americano) e a aplicar as resoluções do Congresso Trabalhista de Paris». Essa medida já havia sido lembrada em Chicago (Estados Unidos), pe los sindicatos norte-americanos, em 1883. | ,3 Foram êles que, pela primeira vez, propuseram o 1.» de Maio como data de manifestação proletária, porque nos Estados Unidos essa é a data da renovação H dos alugueis e dos contratos e foi nessa mesma data que se reuniu o grande comício operário de Chicago, com a representação de todos os Estados da República Ame- i ricana. Em Paris efetuou-se 'a primeira dessas manifesta- ' .] ções a 1.» de Maio de 1890. E no ano seguinte o « Con- gresso Trabalhista de Bruxelas », com representantes de Iodos os países, deu-lhe caráter internacional. Tratava-se antes do mais nada, de fazer notar a I lei de oito horas. Somente ao cabo de trinta anos se B ■ chegou a essa reivindicação operária, aceita e proclá-, I mada na legislação de todos os países do mundo. 7 DE. SETEMBRO (Comemoração da Independência do Brasil) Depois de sua descoberta, o Brasil foi considerado colônia de Portugal. Suas terras foram dadas a fidal gos, com direitos de capitães. Chamaram-se capitanias. Em 1549, o rei de Portugal submeteu todas as capitanias a um só governo, sob a direção de um homem de sua confiança, o qual recebia o título de governador geral. 0 Brasil continuou sendo colônia, porém com o nome de Governo Geral. No ano de 1714, como se descobrissem grandes riquezas naturais na colônia, o rei de Portugal elevou-a a categoria de vice-reino (*). Èm 29 de Agosto do 1807 á família real fugiu de Lisboa, para não ficar prisioneira dos soldados de Napoleão, que haviam con- (1) O decreto que elevou o Brasil a vice-reinndo foi referendado cm 17G3. 17 ***** quistado Portugal. Em 24 de Janeiro de 1808 chegaram os fugitivos às terras brasileiras, assim se transferindo ' a Côrte para o Rio de Janeiro, então capital do vice- reino do Brasil. Em 1815 d. João VI elevou o Brasil a reino, dando-lhe todas as regalias de que gozava a Me trópole. criando o «Reino Unido do Brasil e Portugal». Isso se fez pelo decreto de 16 de Dezembro de 1815. Foi um ato político que muito nos beneficiou, apres sando a nossa independência. Tendo morrido a rainha Maria I, em Março de 1816, d. João passou de príncipe regente a rei, porém só no dia 6 de Fevereiro de 1818 é que se fez a sua acla- ■ inação, com todas as solenidades. Esteve no Brasil desde 1808 até 1821. Partiu do Rio de Janeiro na ma drugada de 26 de Abril de 1821 e desembarcou em Lisboa na manhã de 3 de Julho do mesmo ano. Con tudo, deixou no Rio de Janeiro d. Pedro, seu filho mais velho, como príncipe regente de nossa Pátria. As cortes de Lisboa quiseram tirai’ do Brasil as suas rega lias de Reino, isto é, tentaram fazer de nossa Terra uma simples Colônia, como era dantes. E chamaram d. Pedro. Êste recebeu pedidos do Rio, São Paulo e Minas para fi car. E ficou, desobedecendo às Cortes de Lisboa. No dia 7 de Setembro de 1822, às 4 e meia da tarde, o príncipe viajava em direção a São Paulo, quando, na colina do Ipiranga, recebeu cartas de grande importância, vindas de Lisboa para o Rio, e do Rio mandadas para São Paulo poi José Bonifácio de Andrada e Silva, eminente brasi leiro que, no cargo de ministro do príncipe regente, teve »»» 18 ««« papel de destaque nos acontecimentos que prepararam a indep' dência nacional. Tão atrevidas eram essas car tas que rdro, lendo-as, empa- lideceu de raiva. Reunindo a sua Guarda de Honra, contou a todos que 0 cercavam que Portugal que ria escravizar 0 Brasil, mas que tal não conseguiría porque os bra sileiros saberíam defender a sua liberdade. E desembainbando a es pada, levantoü-a para 0 ar, bra dando com grande entusiasmo: - - «Independência ou morte! » — «Independência ou morte!», responderam todos, de espada em punho. E assim foi proclamada a Indepen dência do Brasil, às 4 e meia da tarde, na colina do Ipiranga, próxima dá cidade de São Paulo. No dia 12 de Outubro dêsse mesmo ano, no Rio de Janeiro, com impressionante solenidade, foi d. Pe dro proclamado Imperador do Brasil. E aí está expli cado o motivo porque comemoramos o 7 de Setembro. 2 DE NOVEMBRO {Comemoração dos mortos} A homenagem dos vivos aos mortos não é uma coisa nova no mundo. Pelo contrário, é muito antiga. Na Chi na, era o principal motivo da religião popular, há mais •de mil anos. Mesmo na Europa, na Galia, os Druidas (sacerdotes gauleses), incluíam nas suas datas de festas religiosas o dia 2 de Novembro, consagrado aos mortos. Daí passou para os civilizados a misteriosa solenidade da morte. Foi, mais ou menos, no ano 1.000 de nosSa »»+ 20 «+« era que o bispo Odilon (Q introduziu no Cristianismo a comemoração dos mortos no diá 2 de Novembro. E desde êsse tempo até hoje o mundo cristão dedica tal dia para se prestar a nossa homenagem aos que já se foram para sempre. De todas as comemorações é esta a mais tocante, a que mais nos impressiona! Dia de Finados! Na fraternidade da morte todos os homens, ricos e pobres, poderosos e humildes, vão, ves-. tidos de luto, levando na alma a dôr de uma grande sau dade, depositar flores sobre os túmulos dos mortos que ridos. Os cemitérios enchem-se de visitantes, irmana dos num mesmo sentimento — a homenagem aos mor tos. E quantas esperanças e desenganos, e quantas fe licidades e desditas não se encarceraram alí, dentro da quelas brancas casinhas dos mortos, daqueles frios e húmidos sepulcros! A humanidade que vive precisa ser grata à huma nidade que viveu. A quem devemos os benefícios de nossa vida e de nossa civilização? Aos que já se foram... Quantos heróis não passaram nos campos de batalha completamente ignorados? Pois bem. No Dia de Finados, não comemoramos somente as pessoas queridas que se foram: comemoramos todos os mortos. E’ a homenagem que a Vida tributa à Morte... 21 ***** A Proclamação da República Quadro 'de Henrique Bemardeli 15 DE NOVEMBRO (Comemoração do advento dã República) A República era uma aspiração antiga em nossa Pá tria. Em 1711, foi tentada em Pernambuco por Bernardo Vieira de Melo e outros. Em 1720, em Minas, por ela se bateu Filipe dos Santos; depois, ainda em Minas, em 1789, Tiradehtes a desejou. Em 1817, foi ela proclamada em Pernambuco, tendo a duração de alguns meses ape nas. E nesta mesma terra, em 1824, nova tentativa foi ww 22 feita sob o nome de Confederação do Equador, composta de vários Estados do Norte, sob a presidência de Fran cisco Pais Barreto. Em 1835 é no que se proclama a República de Piratiní, tendo como presidente o coronel Bento Gonçalves da Silva. Depois de 10 anos de lutas, em 18-15, os. republicanos depuseram as armas, vencidos. Todas essas tentativas foram sufocadas até o ano de 1889. Nesse ano o exér cito estava desgostoso com o gb- vêmo imperial, porque o perse guia. Os fazendeiros andavam aborrecidos com a Monarquia, porque tiveram muito prejuizo com a lei de 13 de Maio de 1888, que deu li berdade aos escravos (*). Já em 1870 começara a pro paganda. Em 73 houve a Convenção Republicana de Itú, presidida pelo grande paulista João Tibiriçá. Os notáveis brasileiros Benjamin Constant, Assis Brasil, Quintino Bocaiuva, Saldanha Marinho, Silva Jardim e muitos outros, fizeram a mais intensa propaganda do regime republicano. No dia 13 de Novembro de 1889, a conspi ração de militares e civis chegou ao fim. Reunidos em casa do Marechal Deodoro da Fonseca,os republicanos Benjamin Constant, Rui Barbosa, Quintino Bocaiuva, coronel Solon e outros, aí combinaram que no dia 15 Rio Grande do Sul Bento Gonçalves (1) Calcula-se em 500.000 contos o prejuízo çlos fazendeiros do Brasil, nado pela, liberdade dos ^escravos. 28 ***** Benjamin Constant sc proclamaria a República. E na verdade se procla-' mou. O imperador, D. Pedro II, estava veraneando em Petrópolis. As tropas revoltadas sairani à rua. As que receberam ordem de combater os revolucionários, ade riram. 0 Ministério, presidido pelo visconde de Ouro Preto, foi preso. E no dia seguinte a família imperial seguia para a Europa. O Brasil começou,, então, uma vida nova de país democrático, republicano, verdadeiramente livre. 24 «w 25 DE DEZEMBRO (Natal, comemoração da unidade espiritual dos povos cristãos') Em quasi lodo o mundo civilizado se comemora, no dia 25 de Dezembro, o nascimento de Cristo. Cha ma-se tal dia — 0 dia de Natal. Nessa data todas as famílias fazem festas. Os filhos distantes viajam, para nesse dia matarem as saudades dos pais queridos. A criançada ri satisfeita diante, da bela Ãrvore de Natal que, enfeitada com brinquedos e doces, é colocada no centro da sala. Em toda a parte reina a alegria. E por que os cristãos festejam b dia 25 de De zembro? Porque foi negse dia, há quasi dois mil anos, 25 ***** cjue nasceu na modesta povoação de Belém, na Judeia, tendo por berço uma humilde mangedoira coberta de palhas, o homem mais puro e santo que teve a Terra. Chamava-se Jesús Cristo. Os cristãos chamavam-lhe ffo- mem-Deus. Sua mãe era Maria, de Nazaré, esposa de José, o descendente de reis de Israel, porém de profissão humilde — carpinteiro. Ainda menino, discutia Jesús còm os sábios. Depois de moço saiu pelas terras, acom-. panhado de doze amigos, que eram os Apóstolos, a pre gar que todos os homens do mundo são iguais, que nin guém deve fazer o mal, que se deve amar o próximo como a nós mesmos, e outros belos ensinamentos. Era uma religião nova. Isso não convinha ao grande sacer dote dos judeus — Caifás. E perseguiu Jesús Cristo. Os judeus pregaram numa cruz êsse apóstolo da Bon dade. Foi injuriado, crucificado, mas a sua religião ficou e venceu. Já* tem a idade de dezenove séculos. E’ a re ligião dos brasileiros. De tal grandesa moral era êsse homem, que quasi todo o mundo civilizado o adora como Deus. Êle fundou a religião da Bondade, que é o cris tianismo, e seu nascimento serviu de princípio para uma era a era cristã'. E assim contamos o tempo pelo nascimento de Cristo: ano de 1938, quer dizer 1938 anos depois do nascimento de Cristo. SEGUNDA PARTE OS CHEFES DE ESTADO D. João VI LAVRE 0 DECRETO, MARQUÊS... No ano de 1815, surgiu no Brasil mna gravíssima questão política. Havia no Rio dois partidos, trabalhan do para fins opostos. De um lado, um ministro, o Mar quês de Aguiar, orientado por Gonçalves Ledo e pelo conde da Barca, com o apôio dos brasileiros; de ou tro, d. Carlota Joaquina, mulher de d. João VI, movida pelo seu ódio imenso ao Brasil e aos brasileiros, e apoiada por vários fidalgos portugueses. 0 Marquês de Aguiar queria o Brasil elevado a reino, com todas as re galias de Rortugal, constituindo o Rio de Janeiro a séde ou capital do Reino Unido. A isso se opunham termi- nantemente d. Carlota Joaquina e seus partidários. Tão 2 Assis Ointra Alma Brasileira 0 Rio de Janeiro quando o Brasil foi elevaxlo a lleiuo — 1821 grave era a situação que o príncipe consultou o Conse lho de Estado. Imperturbável e sereno, o conselheirol Tomaz Antônio disse ao rei: — «Senhor, a situação, é' esta, sem a menor dúvida: ou Vossa Majestade procla ma a independência do Brasil, elevando-o a reino, é neste caso contraria os portugueses; ou Vossa Majestade! conserva o Brasil na posição subalterna de colonia, e nesse caso terá o descontentamento dos brasileiros. E'. claro que Vossa Majestade terá mais amor ao berço de seus avós; mas é justo que ame este povo que o recébew \ entre /estas e alegrias em 1808, quando Vossa Majes tade foi coagido a deixar a pátria que o viu nascer. Dá condência e do coração de Vossa Majestade está de pendendo a formação de um grande Império na América, cuja coroa seria sua... 0 Império do Brasil união ao reino de Portugal faria de ambos uma grande potência, que, como sabe, seria reconhecida pelo Congresso de Viena.» D. João levantou-se. Déu algumas passadas pela sala, nervoso e perturbado. Depois, parou diante do seu ministro, e disse-lhe: — «-Marquês de Aguiar, lavre o decreto elevando o Brasil a Reino.» D. Carlola Joaquina, que observava a reunião, de um compartimento vizinho, irrompeu na sala de despa chos como um ciclone: — «Não faça isso, Senhor! 0 Brasil não é digno dessa mercê». D. João, olhando de frente sua mulher, talvez pela primeira vez em sua vida, respondeu-lhe com energia: — «O Brasil já é digno, Senhora, de todas as mer cês. » ... . ' Depois, virando-se para o Ministro: — « Lavre o decreto, Marquês.» E o decreto foi lavrado e publicado com a data de 16 de Dezembro de 1815. ***** 81 ***** D. Pedro QUE SEJAM FELIZES... 0 povo do Brasil, em princípios de 1831, já se não conformava mais em ser governado por um príncipe es trangeiro. 0 espírito público, agitado e audaz, já sabia querer e exigir do Imperador o que julgava ser seu direito. D. Pedro, diante das contínuas agitações popu lares, com as quais as tropas pareciam solidárias, pensou em salvar o trono para seu filho, ainda criança. De mais, na Europa aconteciam coisas muito desagradá veis ao Imperador do Brasil. Sua filha, d. Maria II, era a rainha de Portugal. D. Miguel, irmão de d. Pedro, tentou tirar-lhe o trono, proclamando-se rei' absoluto. Um amigo escreveu ao Imperador expondo a situação e dizendo-lhe: — «Sua vinda a Portugal é absolutamente necessá ria para a restauração de D. Maria no poder. Cercado de repúblicas irrequietas e por elas instigado, é bem pos sível que o Brasil tente um movimento sério e eficaz contra Vossa Majestade. A nomeação dwm ministério de absoluta confiança, ou mesmo a abdicação em favor de seu filho, são as únicas providências que se impõem no momento.» D. Pedro, que sempre foi um homem alegre, mudou completamente. Andava preocupado e triste. 0 barão de Santo Ângelo, referindo-se a êste fato, diz que em Fevereiro de 1831 o Imperador, encontrando-se em via gem com o seu amigo conselheiro Manuel Antônio Gal- vão, que ia para Minas, contou-lhe confidencialmente que, logo que voltasse para o Rio, iria abdicar o trono em favor de seu filho. Voltou, e em 5 de Abril nomeou um ministério composto de vários marqueses, de sua ab soluta confiança. 0 povo não queria êsse Ministério de áulicos ou palacianos, e mandou uma comissão de juizes de paz ao Paço de São Cristóvão para exigir a reintegração do Ministério demitido. D. Pedro não aten deu. Então o povo se reuniu, em 7 de Abril, no Cam po de SanfAna. As tropas aderiram e o seu coman dante, em nome do povo e tropas, exigiu do príncipe uma resolução. D. Pedro abdicou, nomeando José Bo nifácio tutor de seu filho. Entregando a carta abdica- tória ao Major Frias, disse-lhe: — «Retiro-me para a Europa e d,eixo u-m país que tanto amei e ainda amo: aqui está a minha abdicação; desejo que os brasileiros sejam felizes.» E partiu para Portugal, deixando o Brasil entregue aos brasileiros. 0 dia 7 de Abril de 1831 é o comple mento de nossa independência, é o último degrau de nossa emancipação, pois o Brasil passava a ser gover nado por. brasileiros. 33 ***** Marquês de Caravelas FIZ 0 QUE DEVIA... Proclamada a.abdicação de Pedro I e anunciada a sua partida para Portugal, o povo todo exultou de ale- gria. Afinal, o Brasil era dos brasileiros. Os republica nos ativaram, então, sua propaganda. Mas os monar- • quistas não dormiam. Prevendo novas agitações, o Mar-, | quês de Caravelas, no próprio dia 7 de Abril, reuniu no Senado 62 representantes da nação (26 senadores e. 36 deputados). Expôs com clareza tudo o que havia e o que podia haver. Era misterque se fizesse imediata- | mente um govêrno, uma Regência Provisória, que di rigisse o Brasil em nome da criança imperial, D. Pe dro II. Deveria ser composta .de três membros. Feita a I eleição, saíram eleitos o Marquês de Caravelas,'o ge neral Francisco de' Lima e Silva e Nicolau de Campos Vergueiro. Esta Regência, no dia 8 de Abril, chamou o ,| Ministério que D. Pedro demitira, de cujo ato resul tará a sua abdicação. 0 novo govêrno, nesse mesmo dia 8, publicou um Manifesto ao Povo, aconselhando os bra sileiros a se unirem e procederem com prudência e or dem. Mas, por toda a parte, nasciam dissenções e desor dens. Os portugueses do Brasil-não se conformavam com a partida de D. Pedro. Daí, conflitos entre portugue ses e brasileiros. As províncias do Pará, Maranhão, Baía, Ceará, Pernambuco e Minas Gerais, agitavam- se. Os republicanos, em proclamações audaciosas, ati ravam o ódio popular contra o Marquês de Caravelas, principal figura da Regência. Reconhecendo isso, o grande patriota, para ver se cessavam as agitações, reuniu os representantes do povo e com. êles combinou a eleição de um outro govêrno, a que se deu ohiome de Regência Trina, com caráter efetivo, e não provisó rio como a antecedente. Essa foi eleita em 17 de Junho de 1831, sendo composta do general Francisco de Lima e Silva, José da Costa Carvalho e João Bráulio Moniz. No dia da posse da nova Regência, o general Lima e Silva, depois de agradecer as felicitações do Marquês de Caravelas, disse-lhe: — «E é pena, marquês, que um homem de sua têmpera abandone o govêrno, e deixe a política.» — « General, não se é político, nem se governa con tra a vontade do povo. Fiz o que devia», respondeu o Marquês. E abandonou a política, deixou o govêrno, confor mando-se com a vontade do povo. 35 ***** Francisco de Lima o Silva CADA PATRIOTA E’ UM SOLDADO DA LEI... Quando, em 17 de Junho de 1831, a Regência Trina tomou conta do Brasil, o país inteiro se convulsionava em grandes movimentos civis e militares. Mas, na frente do govêrno estava um general capaz de restabelecer a ordem. Contrariando a vontade de seus dois compa nheiros (José da Costa Carvalho e João Bráulio Mo- niz), que verdadeiramente não eram homens talhados para o momento,, o general Lima e Silva chamou para ministro da Justiça o padre Diogo Antônio Feijó e dem lhe todo o apôio de que carecia para restabelecer a or dem. Quatro partidos políticos guerreavam-se encarni- çadamente: o republicano, o moderado, o liberal intran sigente e o restaurador, apelidado o caramurú. As tro pas do Rio, agitadas pelos políticos, estavam positiva mente indisciplinadas. Só havia um remédio: sua dis 36 ««« solução. Isso bem compreendeu a Regência. 0 primeiro batalhão que se rebelou foi vencido e dissolvido. As sim se procedeu com os demais, exceção feita a um, que até então se mantivera com a Lei: o batalhão <Za artilharia de Marinha, aquartelado na ilha das Cobras. Afinal, também êste se insurgiu. 0 padre Feijó procurou imediatamente o chefe da Regência, general ' Lima c Silva, e expôs o caso: — «General, a Artilharia da Marinha está revol tada. Ura o último batalhão que tínhamos... Estamos sem soldados.» Imperturbável, o general Lima e Silva respondeu ao ministro: — « Organize em batalhões a Guarda Nacional. Re prima a revolta e dissolva ò Batalhão de Marinha. Cada patriota é um soldado da Lei». Criada a Guarda Nacional e organizada com. uma rapidez incrível, a Lei foi respeitada. E assim termina ram no Rio de Janeiro os levantes militares, aí se res tabelecendo a ordem e o sossêgo. 37 ***** SOU FILHO DE UMA PROVÍNCIA... A segundo Regência, graças à energia do general Lima e Silva e do Ministro da Justiça, padre Feijó, im pôs o respeito à Lei. Estava de cima o partido moderado: Em 24 de Setembro de 1834, morreu o ex-imperador, e com a sua morte desapareceu o partido caramurú (ou dos restauradores), que pretendia a volta de Pedro I ao trono do Brasil. Os políticos dêsle partido, assim desarticulado, aderiram, na maior parte, aos moderados, dando-lhes maior vigor. Em 1834, foi proclamado o' Ato Adicional, que era uma reforma da Constituição. De acordo com essa reforma constitucional, deveria reali zar-se em 7 de Abril de 1835 uma eleição para o cargo de Regente do Império, pois então a Regência cabería a uma pessoa somente e não a três. E foi eleito o pa dre Diogo Antônio Feijó. w» 38 «+« Mas onde estava o grande paulista padre Feijó? Re tirado da política ativa, recolhido à sua modesta casi nha de São Paulo. Desde o dia 26 de Julho de 1832, dei xara do ser Ministro da Justiça. Dizia êle que o Brasil jamais consentiría que quem quer que fosse dirigisse os seus destinos, sem a isso ser chamado pelas leis, expres são de sua vontade. Ora, o Senado era uma autoridade legislativa. De acordo com o seu princípio político êle não podia ser ministro, desde que estivesse em antago nismo com qualquer dos ramos legislativos — Câmara ou Senado. Êsse antagonismo, afinal, surgiu. No Senado caíra o projeto da destituição do tutor do imperador (somente pela maioria de um voto), a-pesar-de aprovado pela Câmara. Feijó, porém, já tinha anunciado que o projeto passaria. E diante dessa hostilidade do Senado, pediu demissão do cargo de Ministro da Justiça. Insta do para reconsiderar o seu ato, recusou-se terminante- mente. E disse: — «.Sou filho de uma. província onde se faz timbre de cumprir o que se promete.» E no primeiro domingo de Agosto de 1832, um mo desto viajante, levando sua bagagem (duas canastras sobre um burro), acompanhava um tropeiro paulista, cavalgando em direção de São Paulo. Era o padre Fei jó, que cumpria sua palavra, abandonando a Côrte e o Ministério, para pouco tempo depois voltar eleito para o cargo de Regente do Império. 89 POIS ENTÃO GOVERNE... Eleito Regente do Império, em 7 de Abril de 1835, tendo tomado posse no dia 12 de Outubro, Feijó go vernou o Brasil até o dia 19 de Setembro de 1837. No Rio Grande do Sul, pouco antes da posse do novo Regente, irrompera uma revolução republicana. Sobrevieram agitações em várias províncias. Na Impren sa e no Parlamento, a luta era formidável. Contra a Regência se coligavam as maiores forças políticas do Brasil. No sul, era a tremenda Guerra dos Farrapos que nunca mais acabava (durou 10 anos). Na Côrte, terríveis oposicionistas, políticos poderosos, tais como Bernardo Pereira de Vasconcelos, Joaquim José Rodri gues Torres (depois Visconde de Itaboraí), Pedro de Araújo Lima (mais tarde Marquês de Olinda), Honório Hermeto Carneiro Leão (Marquês de Paraná), Miguel ww 40 «w Calmou (Marquês de Abrantes), não davam tréguas nem sossêgo ao Regente. Reconhecendo não poder cuidar pro veitosamente dos interêsses nacionais com tamanha opo sição, o padre Feijó resolveu passar o govêrno ao mais nobre e valoroso dos seus inimigos: o dr. Pedro de Araújo Lima. Assumindo a direção do Brasil, no dia 19 de Setembro de 1837, por um ato de Feijó, e eleito Re gente em 22 de Abril de 1838, o dr. Araújo Lima elevou ao poder o partido conservador. Encontrando em o novo Regente um adversário poderoso, os liberais em pouco tempo sé arregimentaram e contra êle moveram cruenta guerra. Mas o dr. Araújo Lima era invencível. Então, como último recurso, os chefes liberais procuraram o imperador, criança de 14 anos, e o convenceram de que, para a salvação da Pátria, devia tomar as rédeas do govêrno. Ao mesmo tempo apresentavam na Câma ra e no Senado um projeto declarando D. Pedro maior de idade e pronto para governar o país. A Câmara aprovou a maioridade, porém o Senado a desaprovou (maioria de 2 votos apenas). 0 Regente procurou ime diatamente o jovem imperador e consultou-o se queria, em verdade, dirigir o Império, e quando. — «Quero já», respondeu o menino imperial. — «Pois então governe», disse o Regente. E em 23 de Julho de 1840, apenas com 14 anos de idade, d. Pedro II, como imperador, começou o seu reinado no Brasil. ***** 41 ***** D. Pedro II QUE DEUS 0 PROTEJA... 'Subindo ao poder ém 23 de Julho de1840, apenas com 14 anos, D. Pedro II governou o Brasil até 15 de Novembro de 1889. Em quasi meio século de govêmo o 2.° imperador sempre procedeu com bondade e jus tiça. E, justamente por isso, o povo brasileiro supor tou um reinado tão longo. Em 1873 D. Vital, bispo de Olinda e D. Antônio de Macedo Costa, bispo do Pará, desobedeceram certas leis do Governo. D. Pedro, a-pesar-de católico, mandou processá-los. Presos e submettidos a julgamento, fo ram condenados a trabalhos forçados. Porém, pouco tempo depois dizia o Imperador: — «Como chefe de Estado, cumprí meu dever, res 4 2 ***♦* peitando a lei e fazendo-a respeitar; como imperador tenho o direito da clemência, e como católico devo per doar aos bispos.» E perdoou. Anos após, d. Pedro resolveu nomear Benjamin Constant professor da Escola Militar do Rio. 0 Ministro da Guerra observou ao Imperador que Benjamin era re publicano e certamente faria propaganda de suas idéias entre a mocidade militar. Respondeu-lhe d. Pedro: — « Meu amigo, cada um tem a idéia que qzter. Não devemos fazer uma injustiça a uni homem porque não pensa como nós. Êle fez o melhor concurso. Eu o no mearei. » E nomeou. Proclamada a República, foi exilado do Brasil, mas nunca se esqueceu de sua pátria querida. Saudoso de sua terra fez o seguinte soneto, a ela dedicado: Terra do Brasil Espavorida agita-se a criança, De noturnos fantasmas com receio, Mas se abrigo lhe dá materno seio, Fecha os doridos olhos e descansa. Perdida é para mim toda a esperança De volver ao Brasil: de lá me veio Um pugilo de terra; e nesta, creio, Brando será meu sono e sem tardança. »» '18 «+« Qual o infante a dormir em peito amigo, Tristes sombras varrendo na memória, 0’ doce pátria, sonharei contigo! E entre visões de paz, de luz, de glória, ■ Sereno aguardarei no meu jazigo, • A justiça de Deus na voz da História. Em 1892,' num aposento de hotel, morreu, em Pa ris, Pedro II. Acompanhava-o sempre um pequeno tra vesseiro com terra do Brasil. Dizia êle que queria ex pirar junto daquela terra de sua pátria amada. Sen tindo que ia morrer, disse aos parentes, aconchegando ? ao peito aquele punhado de terra brasileira: — «Nunca me esquecí do Brasil. Morro pensando nele: que Deus o proteja...» Todos os brasileiros, que amam verdadeiramented a sua pátria, devem venerar a memória dêsse grande fi lho do Brasil que, durante muitos anos, dirigiu os des tinos de seus patrícios, norteado pelo mais elevado. espírito de jtystiça e bondade. EVITO-A, COMO PATRIOTA... Injustiças praticadas pelo govêmo e perseguições a militares distintos irritaram o Marechal Deodoro da Fonseca contra os ministros. Temendo o seu grande pres tígio nas classes armadas, o barão de Cotegipe, presi dente do Conselho de Ministros, escreveu-lhe, tentan do suborná-lo com o título de visconde, com a cadeira de senador e dinheiro. Deodoro, porém, altivamente re peliu o insulto de tais oferecimentos, respondendo: — «A minha resposta é que as cadeiras do Sena do devem ser oferecidas aos políticos e aos que se jul garem aptoá para serem legisladores; e que, quanto aos títulos nobiliárquicos, eu me contentarei com a fidalguia de sentimentos. Quero ser simples soldado e, portanto, recuso uma e outra coisa, preferindo, antes de tudo, fi car ao lado dos meus irmãos de armas.» 45 Aceitou unicamente o dinheiro correspondente ao seu sôldo, dizendo ao tesoureiro que lhe queria pagar, I por ordem do governo, uma quantia exagerada: — «Minha família sou eu e minha mulher. Basta- nos o meu soldo.» Ao imperador escreveu: — «Atendei, Senhor! 0 que os militares pedem é tão pouco: o reparo de uma injustiça que os afronta- e vilipendia... — 'Vosso Ministério vos atraiçoa, pelo menos nesta causa. A causa é muito séria, Senhor! Tem exasperado o Exército e o provoca à reação... — Mas, Senhor, a ser negada justiça, terei vergonha da farda que visto, eu que me orgulho de pertencer ao Exército, e nesse caso será uma verdadeira graça minha exonera ção do serviço.» Tudo foi e.m vão. 0 Ministério não ouviu a voz do Exército. E Deodoro proclamou a República, em 15 de Novembro de 1889. Foi chefe do Govêrno Provisório até o dia 24 de Fevereiro de 1891. Nesta data foi eleito presidente da República. Encontrando oposição no Con gresso, e mal aconselhado, dissolveu-o no dia 3 de No vembro de 1891, recebendo adesões de todos os Esta dos, com exceção do Pará. Mas, em 23 do mesmo mês, a Esquadra, sob a chefia de Custódio de Melo, intimou-o a resignar o mandato de presidente. Poderia resistir e debelar a revolta, como fez mais tarde Floriano, porém querendo evitar a calamidade de uma guerra civil en tregou o poder ao vice-presidente. E na ocasião ein que assinava o manifesto à nação, um ministro lhe disse: »»» 46 «+« — « Marechal, com as tropas e as fortalezas do Rio e o apoio dos governadores, em pouco tempo a revolta será esmagada. Por que não resiste?» — « Porque acima de minha vaidade e da presidên cia, coloco os interesses sagrados do meu pais. Agora, a guerra civil pode ser a morte da República ou o des membramento da Pátria. Evito-a como patriota.» E evitou-a. Nessa questão militar, que determinou a proclama ção da República, o glorioso exército brasileiro repeliu a afronta do Ministério que tentava esmagá-lo. D. Pe dro, velho e doente, não se achava ao par dos aconteci mentos, pois os ministros não lhe diziam exatamente o que havia. 0 exército não odiava o Imperador, que era a incarnação viva da Pátria Brasileira. Porém, não po dia suportar, como de fato não suportou, a afronta de Ministros violentos e autoritários. Marechal Floriano Peixoto « À BALA... » 0 que a Esquadra fez a Deodoro em 23 de Novem bro de 1891, fez a Floriano Peixoto em 6 de Setembro. de 1893. Porém, Floriano resistiu. E venceu, chegan do ao fim de seu govêmo em 15 de Novembro de 1894. Logo no princípio da revolta, certa nação estran geira, muito poderosa, parecia ser simpática aos revol tosos. Na Baia de Guanabara, estavam dois navios' dêsse país. Um dia, o comandante de um dêsses navios, acompanhado do respectivo Ministro, procurou o Ma rechal no palácio do Itamaratí. Disse-lhe que não confia va nas providências do Govêmo, que os seus patrícios precisavam ser garantidos em sua vida e em sua pro priedade e que por isso a marinhagem estrangeira ia desembarcar. Mas antes de dar as necessárias providên cias, desejaria saber como o Govêmo recebería os. mari ***» 48 w« nheiros de sua nação. Floriano levantou-se como se fosse movido por um choque elétrico. Aquela pergunta era um insulto à pátria, ao brio e à honra dos brasileiros. — « Sr. Marechal, como receberá o desembarque dos nossos marinheiros ? » 0 Marechal, olhando, indignado, o atrevido estran geiro, deu dois passos para a frente, e respondeu seca mente : — «Ã bala...» Os estrangeiros cumprimentaram o Marechal e saí ram. Mal tinham saído, Floriano chamou um dos seus oficiais ajudantes e por êle mandou uma ordem escrita ao comandante das tropas que defendiam os pontos de desembarque: «varrer com metralha a marinhagem es trangeira que desembarcar». Depois, êle próprio foi dar providências, distribuindo tropas pelo litoral e inspecio-' nando as obras de defesa da cidade. Esperou os aconte cimentos. Os estrangeiros não desembarcaram... 49 FOI UM DEVER, SIMPLESMENTE Em 15 de Novembro de 1894 Prudente de Morais ; subiu ao poder, governando a República até 15 de No vembro de 1898. Porém, teve que lutar muito. A Guer- . ra de Canudos explodira- nos sertões da Baía. O Exér cito lutou e venceu. Voltaria no dia 5 de Novembro.j O presidente resolveu ir recebê-lo no Arsenal de Guerra. Era público e notório que havia uma grande conspira ção o que se pretendia matar o dr. Prudente de Morais. Seus amigos, seus parentes e os próprios ministros acha vam que êle não deveria ir, porque graves acontecimen tos eram esperados no desembarque das tropas. Mas a todos os conselhos respondia Prudente de Morais: — «Eu vou. Chegam os soldados de Canudos, que arriscarama sua vida na defesa da legalidade. O presi 50 ***** dente da República deve ser o primeiro a dar-lhes a boa-vinda. Eu sou o presidente.» E foi. Lá, repentinamente, surge um soldado, Marcelino Bispo, que alveja Prudente de Morais com uma grande garrucha. Tendo a arma negado fogo, saca da blusa um punhal. 0 presidente ordena: . — « Prendam este homem.» 0 ministro da Guerra, general Bitencourt, e o chefe da casa militar, coronel Luiz Mendes de Morais, avan çam corajosamente. Subjugam o soldado. Mas os defen sores do presidente saem do local com o ventre rasgado pelo punhal assassino. Pouco depois morre o ministro. Prepara-se o entêrro. Espalha-se o boato de uma revo lução. Os amigos políticos e pessoais e os parentes pe dem ao presidente que não acompanhe o entêrro. Seria certo um novo atentado. Prudente de Morais, destemi do e sereno, respondeu: — «Eri sou o presidente. E mais do que o presi dente, etc sou o amigo. Se me matarem, morrerei no. pôsto de honra, cumprindo um dever. Eu vou.» E foi. A pé, de chapéu na mão, no meio do povo, o presidente acompanhou o entêrro. E a um amigo que lhe gabava a coragem, respondeu: — « Foi um dever, simplesmente.» E, em verdade, tinha sido. 51 ««« E SERÁ RESPEITADA... Campos Sales sucedeu a Prudente de Morais no govêmo da República. No dia 15 de Novembro de 1898 tomou posse e governou até 15 de Novembro de 1902. Com as guerras civis dos governos anteriores, o tesouro estava exhausto. O único recurso que havia para salvar o país da ruína era aumentar os impostos. O povo tem sempre horror ao imposto. Consultado o mi nistro da fazenda, dr. Joaquim Murtinho, êste não achou, outra solução senão a de multiplicar as rendas públi cas, aumentando os impostos. Então, arrostando as iras populares, o presidente recorreu ao único meio que na ocasião havia. O povo agitou-se. O comércio indignou-se. Em todo o país se maldizia o presidente Campos Sales. O descontentamento popular foi de tal monta, que uma comissão resolveu procurar o presidente para pro »•» 52 testar contra os impostos. Recebidos delicadamente no Palácio, Campos Sales explicou-lhes a situação me lindrosa do pais. O Tesouro não tinha dinheiro. O Brasil tinha compromissos importantíssimos. Precisava pagar os juros das dívidas estrangeiras. Era preciso que o povo, o comércio e a indústria ■ compreendessem bem a importância do caso. Para a salvação da Pátria, todos os sacrifícios deveríam ser feitos. Entretanto, a comissão não se conformava e in sistia. E um de seus componentes disse: — «Por mais que Vossa Excelência argumente, nós não .nos convenceremos e não concordamos com os im postos, e contra êles protestamos e protestaremos.» Campos Sales, então, perdeu a calma. Ergueu-se, in dignado pela falta de patriotismo daquela gente. E res pondeu com energia: — « Concordem ou não concordem, protestem ou não protestem, os impostos estão decretados. Não posso obri gar ninguém a ser patriota, mas obrigarei todos a respeitarem a lei. E será respeitada...» 53 Conselheiro Rodrigues Alves AQUI E’ O MEU LUGAR . Campos Sales passou o govêmo da República a Ro drigues Alves, em 15 de Novembro de 1902. Este dirigiu o país até 15 de Novembro de 1906. Encontrando o Tesouro folgado, resolveu acabar com a febre amarela no Rio e remodelar a capital do Brasil. Com êsse fim, chamou para seus colaboradores dois homens de grande valor: o engenheiro Francisco Pereira Passos e o mé dico Osvaldo Cruz. Ao engenheiro entregou a Prefei tura; ao médico, a Higiene. Do trabalho desses dois homens notáveis, o Brasil inteiro tem conhecimento. Venera-os como glórias nacio nais. O Rio era uma cidade feia, de ruas imundas e estreitas. O prefeito mandou fazer lindas avenidas, ad miráveis parques e jardins. Por exemplo, a Avenida Ri° 54 ««« Branco e a Avenida Beira-Mar, que constituem ainda hoje duas maravilhas da capital de nossa pátria. 0 Rio era uma cidade temida pelos estrangeiros e pelos próprios brasileiros. Aí, a febre amarela, permanente mente, matava centenas e milhares de criaturas. Os que iam ao Rio quasi precisavam fazer o testamento. Era difícil escapar-se dessa calamidade. Osvaldo Cruz to mou medidas enérgicas e-acabou com a febre amarela. Osvaldo Cruz Pereira Passos 0 engenheiro Passos derrubou pardieiros e fez palácios. Mas, para conseguirem o que conseguiram, o Prefeito e o Diretor da Higiene, com o apôio do Govêrno, tiveram de tomar medidas enérgicas. O povo gritou. Uma parte do exército estava descontente. E, em 14 de Novembro de 1904, explodiu uma revolução do povoe de parte das tro pas. O general Travassos assumiu o comando dos re voltosos, que marcharam para o, Catete, palácio do pre sidente. Os batalhões mandados pelo govêrno dispersa 55 «+« ram-se, covardemente, ao primeiro encontro. 0 general Piragibe, sem boné, apareceu no Palácio, relatando o acontecido. Um ministro, então, aconselhou o presidente: — «Possa Excelência devia recolher-se a. um vaso de guerra. Os revoltosos não deverão tardar.» B — «Aqui é o meu lugar», respondeu Rodrigues Alves. E ficou. Ficou, e venceu a revolução. Bio do Janeiro Praia do Botafogo, vendo-se um trecho da Avenida Beira-Mar 56 DEUS, PÁTRIA E FAMÍLIA Sucedeu a Rodrigues Alves o grande mineiro Afon so Pena. Èste notável patriota tinha um passado po lítico brilhantíssimo. Galgara todos os degraus da polí tica. Só lhe faltava, para terminar sua carreira, a pre sidência da República. Esta êle a obteve em 15 de Novembro de 1906. Rondoso, inteligente, de uma correção admirável em todos os seus atos, Afonso Pena era o modêlo dos chefes de família e dos chefes de Estado. Sua altivez, seu caráter, sua honestidade, Seu espírito de justiça eram predicados que não agradavam muito a certos po líticos de profissão. Davi Campista, ministro da Fq- zenda, era um guardião severo e incorruptível do Te souro. A Caixa de Conversão regorgitava de ouro. O comércio, a indústria e a agricultura, fontes da riqueza 57 <+*** Lá chegando, entregou o pequeno ao gerente do Hospital e ordenou-lhe que chamasse com urgência uni operador para cuidar da criança. Não poupassem des pesas. E mandassem ao Palácio, diariamente, notícias do doente. Todas as despesas por sua conta. Depois de curado, o menino foi com a mãe ao Catete. Nilo recebeu a lavadeira e o garoto: — Êste menino está na escola, senhora? — Não, sr. presidente. — E por que? E’ um garoto inteligente. Deve ir para a escola. — Sr. Presidente, o meu filho é quem carrega a roupa que lavo, entregando-a aos fregueses. Não o pus na escola por êsse motivo. — Pois seu filho fica por minha conta. 0 menino é vivo e aproveitável. Assim, o presidente pôs no colégio Pedro II o ga- rôto que muito prometia. Quando deixou a presidência da República, Nilo Peçanha continuou a custear a educação do filho da lavadeira. Terminados os preparatórios, já moço, o protegido de Nilo Peçanha procurou-o, pedindo-lhe que indicasse uma Escola Superior: .Direito, Medicina, Engenharia... Nilo respondeu: Você escolha a carreira que quiser Não me deve nada. Quis aproveitar a sua inteligência em favor da Pátria. Se me é grato, seja sempre patriota. »*»♦ 60 «w PARE, MEU AMIGO, PARE Aí... Para suceder a Nilo Peçanha na presidência da Re pública foi eleito‘o Marechal Hermes da Fonseca. 0 Marechal, que chegara à culminância da carreira militar e da carreira civil, era um homem boníssimo. Certa vez, após a formidável campanha civilista, chefiada pelo genial Rui Barbosa, e desencadeada con tra a candidatura de Hermes, um deputado, em palestra com o Marechal Presidente, pensando agradar o Chefe da Nação, atirou sôbre Rui uma referência caluniosa. Hermes atalhou-o imediatamente: — Pare, meu amigo, pare aí. Rui é meu adversário. Foi cruel na sua campanha contra mim. Mas êle é um grande brasileiro, um exemplar cidadão. Embora seja meu adversário, admiro-o e respeito-o. Não quero ouvir nada contra êsse homem, que é uma glória do Brasil. Ao ter conhecimento dessa atitude, reveladora de grandeza moral, Rui Barbosareatou a sua amizade com o Marechal Hermes. 61 ♦«** 3 Assis Cintra — Alma Bralileira. Delfim 'Moreira OLHE, NÃO SE ESQUEÇA... Para suceder a Venceslau Braz, foi eleito Rodrigues Alves que faleceu poucos meses após a eleição. Delfim Moreira, vice-presidente, tomou conta do go verno da República. No pequeno período em que foi presidente, certa vez, um cidadão, milionário e conhecido homem de ne gócios, procurou-o em Palácio. — Sr. Presidente, vim pedir-lhe licença para ofe recer à sua cidade de Santa Rita de Sapucaí, que tanto V. Excia. estima, dois donativos. — Muito obrigado, em meu nome e em nome da cidade que tanto quero. E que donativos são? Um monumento em bronze, com a efígie do grande mineiro Delfim Moreira, e um excelente prédio para a Santa Casa de Santa Rita. »»» 62 — Eu e mitiha- terra dispensamos a estátua. Quanto ao hospital, como o sr., que é muitas vezes milioná rio e quer beneficiar os pobrezinhos de Santa Rita, eu e minha terra aceitamos a sua oferta. Muito obrigado. Depois de meia hora de palestra, o milionário ne- gocista disse ao presidente: — Um dos seus ministros .trará para seu estudo um contrato de obras públicas que pretendo assinar com o govêrno. — E que lhe disse o Ministro sôbre a sua proposta? — Èle não quer concordar comigo. Mas eu espero que V. Excia. concorde, pois o negócio é perfeitamente razoável. — Meu amigo, disse Delfim, eu não vi ainda êsse negócio. Mas de ante-mão lhe declaro que concordo com a negativa de meu Ministro, que é um homem honrado e inteligente e zela muito pelo interêsse público. — Então V. Excia. não me dá o seu apôio? — Para êsse contrato com o govêrno, impugnado pelo Ministro, não. Para fazer uma Santa Casa em minha terra, conte comigo. Se o Sr. contribuir com duzentos contos, darei vinte contos... embora seja pobre. E quando o milionário negocista ia saindo, Delfim ainda lhe disse sorrindo: — Olhe lá, amigo, não se esqueça da Santa Casa dex minha terra. O milionário negocista nunca mais procurõu o pre sidente e nem falou mais em Santa Casa. »» 63 TERCEIRA PARTE SÍMBOLOS DA NACIONALIDADE O (1) Esta parto i formada do excertos das monografias escritas sflbrc Caxias, Rui, Bilao o Rio Branco, respeotivamoute por Sílvio Romero, Medeiros o Albuquerque, Mário de Alencar e Lauro Müler, e de um capítulo sôbre a Baudeira Nacional. DUQUE DE CAXIAS (Estado do Rio, 1803-1880} Alves de Lima nasceu na Vila da Estrela, na pro víncia do Rio de Janeiro, em 1803. Fez bem aproveitados estudos na antiga Academia Militar, concluindo-os em 1819 'no posto de alferes. Em 1822 era tenente-ajudanle do Batalhão do impe rador, e foi fazer a campanha da independência da Baía, que se estendeu até 2 de Julho de 1823. O moço militar, ao lado de Labatut, deu grandes provas de valor. Já se vê que os seus trabalhos pela, pá tria começam desde os bons tempos da mocidade na época da nossa emancipação. 67 ***** Em 1825 partiu para a província Cisplalina a com bater a insurreição dirigida por d. Juan Lavalleja e por Oribe, dois caudilhos indisciplinados e turbulentos. Ai portou-se galhardamente. Em 1831, por ocasião da revolução de 7 de Abril, conservou-se fiel à causa do soberano até que êste o dispensou de quaisquer sacrifícios, ordenando-lhe que se fosse unir a seus camaradas revoltados. Alves de Lüna, que servia antes de tudo à nação, cumpriu as ordens do primeiro imperador. Durante o período regencial êle prestou importantíssimos serviços que andam aí desconhecidos pela ingratidão da indisci plina partidária. Foi êle o principal garantidor da ordem, criando o chamado batalhão de oficiais soldados para policiamento da capital, quando Diogo Feijó, com cora gem digna de ser imitada, dissolveu diversos corpos do nosso exército em 1832. Foi Alves de Lima que bateu os revoltosos do Rio de Janeiro aos 3 e aos 17 de Abril daquele ano. I Em 1837 foi combater os revoltados do Rio Grande, cuja final derrota se lhe tinha de dever mais tarde. Em 1838 partiu para o Maranhão, encarregado de missão igual. Combatida admiravelmente a revolução desta úítima província, Alves de Lima teve de prestar ainda maiores serviços em 1842 em São Paulo e logo após em Minas. I Restabelecida a paz por todo o país, restava apenas a revolta dos valentes republicanos do Rio Grande do Sul. »*»* 68 ««« 0 então já barão de Caxias partiu em 1843 para alí o em 1846 a paz remava naquelas paragens. Estava restabelecida a ordem no interior, e cum prida a primeira parte do programa, do reinado do se gundo imperador. '. Mais tarde se realizaria a segunda parte: a guerra ao despotismo caudilheiro das repúblicas do Prata e do Paraguai. - iui Em 1851 Caxias transportou-se para o Estado Orien tal e derrotou alí o famigerado Oribe, e logo no ano se guinte na República Argentina destroçava também .o ainda mais famigerado tirano Rosas. A musa da história deve-se vestir de galas sempre que memorar tão grandiosos feitos, que ultimaram a li bertação definitiva da América do Sul, e permitiram o progresso das duas nacionalidades, que se deveríam sem pre lembrar acom jubilosa gratidão do incalculável ser viço que nós os brasileiros lhes prestámos. Não era, porém, tudo; Caxias tinha outra missão ainda a cumprir. Em 1867 apresentou-se êle no Paraguai a coman dar nossas forças em guerra aberta contra o govêrno do despótico ditador Solano Lopez. A campanha durava desde 1865; o exército, sob as ordens de Mitre, estava desmoralizado. Caxias obroir tão atiladamente, que pouco depois o general argentino, que, pelo nefasto e desolante tratado da tríplice aliança, tinha o direito de comandar ’ nossas forças, dez vezes superiores às de sua nação, retirou-se, 69 ***** deixando toda a liberdade de ação ao grande tático bra-, sileiro. A campanha mudou logo de aspecto; a disciplina reapareceu forte em nossas forças, c a vitória começou- a seguir-nos passo a passo, como se fôra fiel aliada nossa. A história dessa guerra, a todos os respeitos gran demente memorável, ainda está por fazer. O nome de Caxias há de sair de suas páginas etemamente aureo- lado. ■ O velho general esteve na altura de seu ilustre re nome. Os feitos bélicos multiplicaram-se como por encanto . sob suas vistas. Tuiu-cué, Paré-cué, Curupaití pela se gunda vez, Pilar, Rojas, Palmares, Potreiro Ovelha, Taií( Tuiutí, Humaitá, Estabelecimiento, Sauces, Chaco, Novo Estabelecimiento, Timbó, Tebiguarí, Vila I^anca, Suruí- hi, Piquirici, Itororó, Itapané, Avaí, Lomas Valentinas, Angustura e Assunção foram o teatro de belos feitos de nossos bravos soldados, sob a direção do mais ilustre de seus chefes. »»«♦ 70 <«« Rio Branco BARÃO DO RIO BRANCO (Cidade do Rio, 1845-1912) Para a paz e para a liberdade, que não existem sem justiça, devem nortear-se os destinos nacionais; mas no roteiro de todas as travessias há riscos e perigos que só a prudência previdente, com o auxílio da cora gem, sabe evitar ou vencer. listas e outras novas qualidades existiam vigorosas na alma de Rio Branco. No interior elevou-nos na admiração de todas as > nossas grandezas que lhe era prazer favorito recordar; na solicitude da sua acolhida a quantas iniciativas acre ditava alevantadas; na cortezia fidalga do seu dizer e 71 das suas ações; na sua alma de Mecenas, acolhedora de talentos e admiradora de todas as artes que, mormente pela visão e pela audição, nobilitam o homem e digni- ficam a espécie. Foi bom para os que careciam de proteção; foi ge neroso para os que necessitavam de assistência. I No exterior o seu nome ficou indelével na memória dos governos com que lidámos, como a encarnação de uma política brasileira e humana, defensora dos direitos é dos brios nacionais, obediente aos princípios que no- bilitam as relações entre as potências. Entre os povos do continente a sua memória alcan çou culto e estima de uns, admiração e respeito de todos. Longos anos de ação intensa no govêmo, absorvidos no estudo e solução de problemas, tantas vezes graves o melindrosos, deixaram naturalmente margem a re parose divergências. Nenhum dêles, ainda que justo, diminuiría um de grau sequer à sua estátua. A história não terá que sentenciar sôbre os seus méritos, porque a glória de Rio Branco passou triunfal mente em julgado nos aplausos de um povo inteiro, en quanto vivo o tivemos, e na tristeza e angústia de todos os lares brasileiros no dia lutuoso em que de nós se foi. Rui Barbosa chamou-o de «o deus Términus (x). da nacionalidade».. (1) Deus Términus, isto 6, a divindade das fronteiras. »*»» 72 ♦«« Rui Barbosa RUI BARBOSA (Baía, 1849-1923) Rui Barbosa foi o mais prodigioso talento verbal do nosso meio contemporâneo. Ninguém como êle para achar imediatamente a fórmula exata de expressão para qualquer idéia. Isso não é, como a alguns se pode afigurar, uma tarefa secundária. Muitas verdades não se difundem, por falta de alguém que as saiba trazer à plena luz e impô- las. à convicção dos homens. Rui o fazia sempre de um modo superior. O que êle exprimia — exprimia de for ma tal que convencia e persuadia mesmo os mais re beldes. 73 Êsse poder enorme êle o pôs ao serviço das mais belas e das mais nobres idéias. Foi uma fôrça viva de:- nossa civilização. Sempre que nos debatíamos nas tre vas, podíamos procurar confiantemente aquele alto farol. De mais, êsse homem prodigioso foi um trabalhador formidável, um trabalhador incansável. Êle era o labo rioso metódico, que se levantava todos os dias às 4 horas da madrugada e sem um desfalecimento trabalhava três horas seguidas. E isso era, por assim dizer, a dose mí nima de trabalho quotidiano, por que, depois, pelo dia adiante, êle voltava ao serviço com uma infatigável. constância. Êsse exemplo é admirável. Os que só conheceram Rui Barbosa na tribuna ou pelos seus escritos, podem, muitas vezes, tê-lo achado agressivo e intransigente, com o orgulho de quem não admite contestações. , Na realidade, porém, tratado de perto, Rui era o mais dócil e brando dos homens. Ouvia de qualquer pes soa qualquer objeção e atendia-a sem o menor enfado. Era bom e meigo. Era de” uma simplicidade encantadora. E isso tinha tanto de meritório quanto êle vivia no meio da adoração fanática dos seus e de alguns ínti mos, adoração que faria perder a cabeça a outro menos cheio de mérito do que êle. Patriota ardente, cidadão exemplar, paladino da liberdade, advogado genial, trabalhador incansável, êle é um símbolo da nossa nacionalidade. Foi um mestre de civismo. Olavo Bilac OLAVO BILAC (Cidade do Rio, 1863-1918) Inspetor escolar, secretário da Prefeitura, secretário do Congresso Internacional, Bilac foi modelar em dili gência, exatidão e método de trabalho. Trabalho adminis trativo, incumbência que tomasse a seu cargo, particular ou pública, era desempenhada com a nitidez pontilhosa com que êle compunha os seus versos. O artista des dobrou-se também num paciente construtor de dicionário, e o orador acadêmico surgiu um dia construtor de civis mo. Foi a surpresa que mais irritou os que não podiam ou não queriam entender a irisação de um espírito lumi noso. Não lhe levariam a mal que êle se desvanecesse 75 em malícias, em malignidades, em diatribes, ou em coisa nenhuma; enfadaram-se, porém, injuriaram-no porque a sua poesia, que até alí enlevava os leitores de poesia, derivara, numa guinada improvisa de entusiasmo, para uma eloquência que tocava e comovia a gente do povo, ' Os seus discursos eram como ruflar de asas no espaço ! azul; e cá de baixo não queriam que ouvissem, e acompa nhassem com os olhos palpitantes os sons alados do seu surto. Acendeu-se a raiva dos que não podiam voar tão alto e tão.à vista de todos; mas a glória do cantor elo quente foi subindo sôbre a grita dos raivosos. O poeta, no entanto, não se deixou perturbar de novo renome: feita a sua obra, não se aproveitou do que ela lhe daria ao menor aceno de seu desejo. Olavo Bilac foi em vida uma Ave contente de ouvir cantar as outras aves que iam surgindo, a-pesar-de que a sua voz se velava em melancolia por pressentir na tarde o seu ocaso verda deiro. E assim acabou. Viveu cantando como os pássaros canoros das flo restas tropicais e pôs as suas melodias encantadoras ao serviço da pátria, apontando à mocidade o pavilhão, do Brasil, que tremulava nos quartéis. Foi um grande propagandista do serviço militar. | 76 BANDEIRA DO BRASIL (19 de Novembro) Cada povo do mundo tem um símbolo para repre sentar a sua Pátria: é a Bandeira. Na Bandeira estão -reunidos todos os grandes senti mentos nacionais. Ela é a figura viva, material, visível, resumida, de um dos mais nobres predicados humanos: o amor da Pátria. A Igreja tem santos, e festeja-os em certos dias do ano. Em Janeiro, por exemplo, é São Sebastião que a Igreja comemora; em Junho, o queridíssimo São João; em 31 Dezembro, o popular São Silvestre. 0 Catolicismo quis escolher um dia do ano que fosse um conjunto de comemorações religiosas, abrangendo to- 77 «*> DESCOBERTA DA AMÉRICA (12 de Outubro de 1492) O Govêrno do Brasil decretou o dia 12 de Outubro como dia de festa nacional. Porque? Porque foi nesse dia que se descobriu a América. Como foi? Eis a his tória: Havia em Portugal um fidalgo que era grande conhe cedor dos mares: Bartolomeu Perestrelo, donatário da ilha de Pôrto Santo. Em 1470 apareceu em Lisboa um 81 ***** moço genovês. Como Perestrclo era de origem geno- vesa, acolheu muito bem o patrício de seus antepassW dos. Tal moço era Cristóvão Colombo. Afeiçoando-séq à jovem Filipa Moniz Perestrelo, filha do fidalgo na vegador, com ela se casou Colombo. Aperfeiçoou com o sogro seus conhecimentos marítimos e com a leitura de vários livros de cosmografia e geografia, entre os quais as «Viagens», de Marco Polo, imaginou um gran de plano: descobrir o Oriente, navegando pelo Ocidente. Organizado um roteiro, recorreu à sua cidade, Gênova, pedindo os recursos para a viagem. Riram-se. dêle. Andou, então, de côrte em côrte. Os reis de Portugal, Espanha, França e Inglaterra não lhe deram importân-, cia. E todos caçoavam de Colombo, apelidando-o —5 negociante de mundos. Um dia, encontrou o franciscanò. frei João Peres, que o compreende da rainha, exercendo sôbre ela . grande influência moral, conseguiu a sua 'proteção para o genovês. Mas, como o proteger contra a vontade do rei, do arcebispo de Toledo e de toda a côrte? A rai nha encontrou um meio/empe nhou suas jóias a um banqueiro de Utrecht e forneceu a Colombo navios, dinheiro e uma centena de •homens práticos do mar. Assim, no dia 3 de Agosto de 1492, Cristóvão Colombo, coman dando três caravelas {Santa Maria, Nina e Pinta), saiu Colombo. i. Antigo confessor w* 82 «+« do porto espanhol de Paios com o fim de descobrir uma nova terra. E navegou para o ocidente. E os dias se pas savam entre as águas e o céu. No fim de pouco mais de dois meses, os marinheiros revoltaram-se. O capitão pro metera-lhes uma terra nova e só viam águas e mais águas. Não continuariam. Queriam voltar para Espanha. Serenamente, sabendo que a terra surgiría em breve, Colombo os conteve, pedindo-lhes mais um dia de prazo. Alvoreceu o dia seguinte, 12 de Outubro de 1492. Já a marinhagem se preparava para nova revolta, quando um grito ecoou: Terra! — «Terra! Terra!», bradaram todos, loucos de ale gria. Ao longe, no horizonte, se destacava a linha escura e sinuosa de uma terra e as manchas azuladas de algu mas montanhas'. Estava descoberta a América. Colombo desembarcou numa ilha, a que chamou São Salvador (arquipélago das Lucaias). Guanahani, era o nome indígena. Fez ã cerimônia da posse em nome da Espanha. Adiantou-se mais, descobriu ainda duas ilhas — Cuba e Haiti — chamando-lhes Hispaniolas, E levando consigo selvagens, animais e coisas da nova terra, voltou à Espanha. Aí chegou em Março de 1493, desembarcando como um triunfador, aclamado pelo povo e saudado pelo rei, pela rainha e pelos fidalgos. w» 83 ***** Descobrimento do Brasil — Quadro de Oscar Pereira da Silva O DESCOBRIMENTO DO BRASIL (22 de Abril de 1500) Em 9 de Março de 1500, depois de uma cerimônia soleníssima,embarcou em Lisboa o nobre português Pedro Álvares Cabral, assumindo o comando de uma esquadra de 13 naus. Estas navegaram para o sul até o Cabo Verde. Na ilha de S. Nicolau, arquipélago de Cabo Verde, a esquadra esperou, debalde, durante dois dias, uma das naus que se transviara. No dia 25 de Mar ço Cabral resolveu dirigir-se, não mais para o sul, e sim para o ocidente, rumo da América. Assim fez por alguns dias, depois mudou novamente de direção, seguindo pa ra o sudoeste. No dia 21 de Abril um marinheiro deu o alarma de terra; junto às naus se encontravam ráí- ww 84 ««« ru-zes c folhagens, e por cima das naus aves marinhas ru- fkavain as asas. No dia 22, ao longe, no ocidente, se divi- sou o contorno seguro de uma ter ra, e dominando-a, uma elevação azulada. Era um monte. Batiza ram-no logo com o nome de Mon te Pascoal, por ser èsse dia a quar ta-feira da Páscoa. Estava desco berto o Brasil. Aproximando-se da costa, a esquadra não achou logo um abrigo, o que a fez na vegar um pouco mais para o sul, onde encontrou uma belíssima enseada. Batizou-a por isso com Segn/ro. No dia 26, capitão e marinheiros assistiram, num ilhéu, à primeira missa que se disse em terri Pedro Álvares Cabral o nome de Porto tório brasileiro. Rezou-a o capelão de bordo frei Hen rique de Coimbra. No dia l.° de Maio o capitão mandou colocar as armas de Portugal numa grande cruz de ma deira e fê-la levantar, tomando assim posse da terra em nome de Portugal. Em seguida ouviu a segunda missa (Jue se rezou no Brasil. Depois dessa solenidade a ma- rinhagem se recolheu a bordo, preparando-se para pros seguir a viagem no dia seguinte, enquanto o capitão-mór da esquadra e o escrivão Pedro Vaz Caminha, escre viam ao rei, dando notícias da descoberta. No dia 2 se,- guiu a esquadra em direção da Ásia. Terra de Vera-Cruz foi o primitivo nome da nossa Pátria; depois ferra de Santa Cruz, e, finalmente, o 85 nome aluai de Brasil, por haver nela abundância dum pau vermelho, chamado pau-brasil. Mas, se foi em 22 de Abril que se fez a descoberta, por que a comemo ramos em 3 de Maio? Por uma determinação da primeifâ Assembléia do Império, observada tradicionahnente, há mais de um século... 0 dia 3 de Maio é aquele em que a Igreja Católica comemora o descobrimento da cruz em que padeceu Jesús, descobrimento êsse feito por Santa Hele na. E foi Santa Cruz o primitivo nome de nossa Pátria. Essa comemoração não representa, portanto, o dia exato da descoberta do Brasil, mas o dia da Cruz, sím bolo sacrosanto, que, pintado nas bandeiras d’el-rei d. Manuel I, era o sinal de posse nas terras conquistadas. — 86 FUNDAÇÃO DA CIDADE DO SALVADOR (BAÍA) {1549} Em 1549, Tomé de Sousa foi. nomeado governador I geral do Brasil, com a incumbência de fundar uma cida de no norte, que servisse de capital da então Colônia. E. ; fundou a Baia. Sôbre a encosta se abriam obliquamenle duas ladei ras, hoje denominadas do Pau da Bandeira e da Miseri córdia, que conduziam dêste à praia até às portas' da cidade, de uma e outra parte dela. A mesma cidade coroava a chapada de norte a sul, desde o local, que foi dado para colégio dos Padres da Companhia, até o em que, sob a invocação de N. Senhora da Ajuda, se edi- ficou a primeira capela matriz. E -aí, roçado o mato, Tomé de Sousa, como prudente capitão que era, se foi aproveitando dêle para fazer tuna forte tranqueira, com a qual desde logo ficassem os colonos ao abrigo das in- constâncias do gentio. — Terraplenado um tanto o lo cal, traçou as ruas e praças, fez a distribuição de di ferentes solares, marcando ò dos paços do concelho, da casa do govêmo, e da das contas. Para a primeira vi- venda dos colonos, construiram-se provisoriamente, com a ajuda de muitos índios, alguns como lujupares cobertos Fundação da Capitania de São Vicente — Quadro de B. Calixto FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO VICENTE. A MAIS ANTIGA DO BRASIL {22 de Janeiro de 1532') Em 1532 o rei de Portugal, D. João II, enviou ao Brasil unia pequena esquadra, sob o comando de Mar-» tim Afonso de Sousa. E foi êsse capitão português que fundou a 1.® cidade no território brasileiro: São Vicente. Na tarde de 22 de Janeiro de 1532 as naus entra ram num canal e pouco depois a gente de bordo de sembarcava íiunia praia, chamada de São Vicente. João Ramalho não estava nesse local, porém An tônio Rodrigues, companheiro de Ramalho, pois am bos habitavam, como degredados ou náufragos, o ter ritório vicentino, apresentou-se ao capitão-mór Martim Afonso, dando-lhe informações de tudo, oferecendo-s'e para auxiliá-lo. ' • -/..'í' Em poucos dias construiram-se as primeiras casas, uma capela e um fortim. E essa foi a primeira cidade do São Paulo e do Brasil. w» 87 Ohegada de Totaé de Sousa | Baía »»» 89 ««« de palmas. Depois tratou Tomé de Sousa de dar mais solidez à cêrca, substituindo-a por uma forte muralha de taipa, com duas torres para o lado do mar e quatro pe la banda da terra, de que já não restavam vestígios al guns manifestos nesse mesmo século, segundo Gabriel Soares. A êste arraial, ainda apenas em princípio, deu o primeiro governador geral do Brasil o religioso nome de «Cidade do Salvador», e assim se lhe chama em todos os documentos contemporâneos, e não cidade de S. Sal vador, como hoje dizem, talvez porque êsse nome foi o ■preferido na bula da criação do bispado. — Ao mesmo tempo deu à futura cidade por armas, em um campo azul, uma pombinha, tendo no bico run ramo de oliveira com a divisa: «Sie illa ad Arcam reversa est.» — E em verdade a cidade do Salvador era efetivamente o símbolo da paz com que o Senhor acudia ao Brasil. Ao luga rejo primitivo junto à barra ficou por muito tempo chamando Vila Velha, sendo que com tão poucos anos precedera a nascença à da sua orgulhosa vizinha. Esfa, dentro de alguns meses, já contava cem casas regulares, todas no alto; pois que as da praia tão expostas, a-pesaf da muralha, a ser soterradas por algum desmoronamento, já se construiram muito depois, em virtude das exigên cias do comércio, que se ocupa mais do presente que dh futuro. 0 terreno da cidade foi fixado, na conformidade do próprio regulamento dado a Tomé de Sousa, a dis tância de seis léguas para cada banda, excetuando-se as terras já doadas. 90 «+« Fundação de São Paulo — Quadro de Oscar P. dá Silva FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO PAULO {25 de Janeiro de 1554) O governador geral do Brasil, Tomé de Sousa,, veiu à capitania de São Vicente em princípios de 1553. Recebido com grandes fes tas pela população de São Vicente e de Santos, tomou diversas pro vidências sôbre a defesa dos co lonos, o povoamento do litoral e a escravidão dos índios. Subiu ao planalto de São Paulo, determinou Anchieta que a povoação de Borda do Cam po, fundada por João Ramalho, passasse a vila, logo que concluísse certas obras de defesa, o que aconteceu w» 91 Manuel âa Nóbrega em 8 de Abril de 1553, com o nome de Vila de Santo André da Borda dó Campo. Junta mente com o governador geral viera a São Vicente o padre Manuel da Nóbrega, então vice-provincial da Companhia de Jesús no Brasil, acom panhado do padre Francisco Pires e de alguns noviços. Nóbrega teve a idéia de se embrenhar pelo sertão com seus companheiros, mas com isso não concordou Tomé de Sousa. Vindo aos campos de serra-acima da capitania de São Vicente, encontrou um belo sítio para dêle se fazer um centro de catequese. Queren do isolar os índios converti dos e os noviços catequistas, não se instalou na vila de Santo André, e fez uma casa num lugar que se chamava Piratininga, distante da vila, mais pu menos, uma légua. Ajudaram-no dois chefes ín dios, saindo da povoação de João Ramalho: Caiubí e Ti- biriçá (sogro de João Rama lho). A notícia espalhon-se pela capitania, e os índios, perseguidos pelos colonos, João Ramalho Parte de um quadro de Parreiras 92 que os procuravam escravizar, afluiam a Piratininga Mandou Nóbrega o padre Leonardo Nunes buscar mais missionários na Baía e êste os trouxe em Dezembro de 1553; Pi ratininga aumentava cada vez mais.Depois enviou a Roma o mesmo padre Leonardo Nunes com o fim de obter do Geral da Ordem a licença necessária para a fundação de um colégio em Piratininga. Nunes não pôde dar cumprimento’ à incumbência, por que naufragou logo ná saída de Santos e morreu com outros companheiros. Então Nó brega nomeou provincial de Piratininga o. padre Manuel de Paiva, incumbindo-o de fundar um colégio. Os treze religiosos (e entre êles Anchieta) que,compunham a mis são piratininguense escolheram o alto de uma colina, de onde se descortinava toda a redondeza, e aí construiram uma capela e o colégio, inaugurando-os no dia 25 de Janeiro de 1554, sob a invocação do santo do dia, São Paulo, apóstolo dos gentios. Piratininga ficava um pouco longe e seus habitantes, abandonando-a, passaram-se para a colina do colégio de São Paulo. Depois os habitantes de Santo André fizeram o mesmo. Nas proximidades da Igreja dos Jesuítas foram aumentando as casas. E assim se formou uma nova povoação, com o sacri- Assis Cintra — Alma Brasileira. ficio das primitivas povoações de Piralininga e Sanlo André da. Borda do Campo, que desapareceram. Em pou co tempo a nova povoação fundada pelos padres Manuel de Paiva e José de Anchieta, foi elevada à categoria dé vila, com o nome que tivera o colégio — São Paulo. O Oolégio de Suo Paulo, construído pelos jesuítas* FUNDAÇÃO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO (I.° de Março de 15Ç5') Data de 1564 a primeira tentativa formal de povoa mento do Rio de Janeiro. Para tal fim foi expedida do Tejo, pela regência de d. Catarina d’Áustria, uma esqua drilha sob o comando do capitão-mor Estácio de Sá, sobrinho do governador geral do Brasil, com dois ga leões, bem providos de gente e apetrechos de guerra, devendo receber na Baía ulteriores instruções de seu tio, Men de Sá. Chegando ao Rio de Janeiro, fundearam os navios de Estácio de Sá nas proximidades da entrada da baía, 95 ***** de onde fez o reconhecimento das posições do inimigo. Auxiliado fortemente na organização de seus ele mentos pelos jesuítas, padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, assim como pelo ouvidor geral Braz Fra goso, conseguiu Estácio de Sá, com muita dificuldade e longa demora em São Vicente, reunir uma leva de perto de 200 homens de combate. A 28 de Fevereiro, surgiu enfim a nau capitania, com mais três navios trazendo provisões de bôca, e, reu nidos todos, entraram a l.° de Março, na preamar, pelo pôrto do Rio de Janeiro, fundeando em terra chã no istmo da península e várzea do morro Cara de Cão, onde fica atualmente a fortaleza de São João. No mesmo dia da chegada, Estácio de Sá pernoi tou em terra com os seus; junto ao pico a que se deu o nome de Pão de Açúcar, e apressou-se em lançar os fundamentos da cidade de São Sebastião. Para êsse fim, mandou roçar a terra e cortar ma deira e fez construir uma forte cêrca ou tranqueira em tôrno do arraial, para defendê-lo contra as surpresas do inimigo. E, só havendo no local uma lagoa infeta, man dou o capitão-mor abrir na praia uma cisterna, que em pouco se encheu de água abundante das chuvas. Em poucos dias cresceu o arraial, com a constru ção de ranchos ou tujupares de taipa de sebe, à maneira das malocas selvagens, e fizeram-se algumas roças de milho, inhame e mandioca. Cada homem da tripulação, desde Estácio de Sá, em pessoa, ao último grumete, todos, sem exceção, in w» 96 +«« clusive os padres José de Anchieta e Gonçalo de Oli veira, trabalharam com entusiasmo nas construções, le- nhando, cavando foêsos, carregando aos ombros pe- drouços e tóros de madeira, batendo a estacaria, levan tando casas de pau a pique, com paredes rústicas, co bertas de folhas de coqueiro. Conquistou-se, do lado do norte, parte do ‘ golfo • próximo, à qual se deu o nome de Francisco Velho (hoje praia do Botafogo), por ser o do colono que pri meiro a desbravou. Ao novo núcleo de povoação foi dada desde logo a categoria de cidade, denominada de São Sebastião, em homenagem ao santo mártir e seu padroeiro, como em memória ao rei de Portugal. A cidade teve, pois, o seu primeiro fundamento em l.° de Março de 1565 e não a 20 de Janeiro de 1567, data, esta última, da decisiva vitória de Men de Sá contra os Tamóios e os franceses. A carta de Anchieta, datada de 9 de Julho de 1565, esclarece completamente êsse ponto: — «Logo no dia seguinte que foi o último de Fevereiro ou o primeiro de Março, começaram a roçar em terra». Assim, a cidade do Rio de Janeiro foi fundada em l.o de Março de 1565, e não em 20 de janeiro de 1507, data que é comumente repetida, e até aceita como verí dica nas comemorações cívicas. 97 OS BANDEIRANTES Das primeiras cidades fundadas no Brasil resulta ram a expansão territorial da nossa Pátria. Foram os famosos «bandeirantes», partidos de São Paulo e da Baía, os heróis do Brásil colonial que aumentaram o território nacional, para o lado da cordilheira dos Andes. Sem êles, o Brasil seria hoje um terço do que é. Entre os primeiros bandeirantes destaca-se Braz Cubas, fundador de Santos, hoje o segundo pôrto do Brasil, sendo o Rio de Janeiro o primeiro. Muitos foram os bandeirantes notáveis. Vejamos o que fez um dos primeiros dêsses bravos conquistadores de sertão, que foi Braz Cubas: ***** 98 ***** Logo que visitara em 1560 a capitania de S. Vi cente, determinou Men de Sá que se tratasse de abrir, de Piratininga para o interior, um caminho que, sendo possível, fosse coincidir com o que, da Baía, já se pro- - curava levar no mesmo rumo. Para isso formou-se tuna expedição regular, mu nida principalmente de aparelhos e instrumentos com que se explorasse o sertão à procura de ouro. Tendo-se-lhe reunido como auxiliar ura engenheiro (Luiz Martins), partiu Braz Cubas, com muitos portu gueses e grande número de índios, no mês de Junho, tomando rumo norte, a alcançar as cabeceiras do S. Francisco. Procurou o rio Paraíba; e desceu por êste até o caminho por onde os índios costumavam ir da Guana bara para o interior. ' Seguiu por êsse caminho, atravessando a Manti queira, até o rio que se chamou, depois, das Velhas, e por êste abaixo, foi sair rto S. Francisco. Desceu êste durante alguns dias; mas apavorado da enchente, que começou a impedir-lhe a viagem, re solveu voltar. Desta excursão sempre se colheu algum proveito, tendo-se até remetido para a côrte amostras de ouro. E mais feliz foi ainda Luiz Martins, que tomou a entrar no sertão, e descobriu minas «no caso de serem lavradas». E agora em vários pontos... «a umas trinta léguas de Santos»... ‘ & Outro bandeirante notável foi Fernão Dias, cuja his tória está nestes versos: »»» 99 A «BANDEIRA» DE FERNAO DIAS C) Para o norte inclinando a lombada brumosa, Entre os nateiros jaz a serra misteriosa; A azul Vupabussú beija-lhe as verdes faldas, E águas crêspas, galgando abismos e barrancos Atualhados de prata, humedecem-lhe os flancos Em cujos socavões dormem as esmeraldas. Verde sonho!... é a jornada ao pais da Loucura! Quantas bandeiras já, pola mesma aventura Levadas, em tropel, na ânsia de enriquecer! Em cada tremedal, em cada escarpa, em cada Brenha rude, o luar beija à noite uma ossada, Que vêm, a uivar de fome, as onças remexer... Que importa o desamparo em meio do deserto, E essa vida sem lar, e êsse vaguear incerto De terror em terror, lutando braço a braço Com a inclemência do céu e a dureza da sorte? Serra bruta! dar-lhe-ás, antes de dar-lhe a morte, As pedras de" Cortez que escondes no regaço! E sete anos, de fio em fio destramando O mistério, de passo em passo penetrando 0 verde arcano, foi o bandeirante audaz... — Marcha horrenda! derrota implacável e calma, Sem uma hora de amor, estrangulando na alma Toda a recordação do que ficava atrás! (1) Poesia de Olavo Bilac. 100 A cada volta, a Morte, aíiando o olhar faminto, Incansável no ardil, rondando o labirinto Em que às tontas errava a bandeira nas matas, Cercando-a com o crescer dos rios iracundos, Espiando-a no pendor dos boqueirões profundos, Onde vinham ruir com fragor as cascatas, Aqui, tapando o espaço, entrelaçando
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