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AULA 1 IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS 4.0 INTRODUÇÃO Implementação de sistemas 4.0 O termo indústria 4.0 vem sendo discutido e pesquisado pelo setor industrial há algum tempo e já existe um consenso de que a adoção de suas tecnologias é crucial para a competitividade da indústria nacional. Quais os caminhos e como planejar essa transformação? A presente disciplina aborda as metodologias utilizadas para auxiliar o setor industrial e esta aula tem como objetivos: • Apresentar as Revoluções Industriais e suas principais características; • Elencar as principais justificativas para o surgimento da indústria 4.0; • Apresentar os planos e/ou ações dos países industrializados; • Revisar as tecnologias que compõem a indústria 4.0; • Comparar e analisar as Revoluções Industriais; • Introduzir as principais metodologias para a análise da maturidade industrial. TEMA 1 – REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS A implantação de tecnologias associadas à indústria 4.0 está intrinsicamente relacionada à análise da maturidade industrial. A compreensão sobre os diferentes estágios das tecnologias e os modos de produção pode ser facilitada quando é feito um estudo comparativo entre as Revoluções Industriais. Cada Revolução Industrial é caraterizada por marcos históricos, como invenções, tipo de fonte de energia usada e alterações no modo de vida da sociedade. Até a Primeira Revolução Industrial, a produção era artesanal, feita em pequenas quantidades, e os artesãos estavam estruturados em guildas (corporações de ofício medievais). Nas guildas, havia um mestre que detinha todo conhecimento acerca do modo de produção, matéria-prima e mercado consumidor. Era ele quem ensinava os aprendizes, os quais, por sua vez, levavam anos até atingir o mesmo estágio do mestre (Sacomano et al., 2018). 2 Figura 1 – Guildas ou corporações de ofício Crédito: Bildarchiv Hansmann/Interfoto/Fotoarena. Dessa forma, é possível identificar as seguintes características relacionadas ao modo de produção desse período: • Baixo volume de produção; • Ausência de padronização nos produtos; • Alto custo de produção; • Baixa qualidade dos produtos; • Alto nível de qualificação dos profissionais. Em 1767, o inglês James Hargreaves criou a primeira máquina de fiar e, em 1769, outro inventor inglês, Richard Arkwright, criou o tear hidráulico (Figura 2). 3 Figura 2 – Tear hidráulico de Arkwright Crédito: Lerner Vadim/Shutterstock. No mesmo ano, James Watt aperfeiçoou a máquina a vapor (Figura 3), que impulsionou a criação das tecelagens industriais na Inglaterra, dando início à Primeira Revolução Industrial. Figura 3 – Máquina a vapor – Primeira Revolução Industrial Crédito: Robert H. Thurston/PD. Surgiram as primeiras fábricas e a produção, até então artesanal, passou a ser padronizada, produzida por trabalhadores (surgimento da classe operária), por longos períodos (jornada de trabalho exaustiva) e empregando até mesmo adolescentes e crianças. Este período representa o início do sistema capitalista, com o aumento dos lucros devido ao aumento da produção, e o surgimento de novas relações de 4 trabalho. A principal fonte de energia utilizada era o carvão. As principais características da Primeira Revolução Industrial são: • Início na Inglaterra; • Surgimento das “fábricas” – principalmente a produção têxtil; • Alteração do processo produtivo (artesanal para máquinas); • Surgimento do trabalho assalariado (novas relações de trabalho); • Surgimento da classe operária; • Início do sistema capitalista. Saiba mais O site do Museu da Ciência e Indústria de Manchester mostra vários objetos da Primeira Revolução Industrial. Disponível em: <https:// www.scienceandindustrymuseum.org.uk/ objects-and- stories/manchester-worlds-first- industrial-city>. Acesso em: 30 jul. 2020. A Segunda Revolução Industrial ocorreu no século XIX, graças ao aumento da produção do aço que propiciou a fabricação de equipamentos e máquinas mais robustas, o que, aliado ao uso da energia elétrica, impulsionou a manufatura de forma significativa (Figura 4). Outro fator relevante foram as estradas de ferro que permitiram a expansão do mercado consumidor, estimulando desta forma o progresso (Sacomano et al., 2018). As indústrias passam a adotar a divisão e especialização do trabalho, inspiradas pelo livro A Riqueza das Nações, de Adam Smith, gerando a produção em massa. A energia elétrica é a nova fonte de energia. Ainda na Segunda Revolução Industrial, Frederick Taylor propôs a racionalização do trabalho e a divisão em múltiplas etapas. Esta nova forma de organização da produção foi adotada por Henry Ford na produção de veículos. As principais características da Segunda Revolução Industrial são: • Produção em massa; • Redução do custo dos produtos; • Uso do aço em vez de ferro; • Eletricidade como fonte de energia; • Uso do petróleo no lugar do carvão; 5 • Aumento da produção de alimentos; • Pouca preocupação com qualidade. Figura 4 – Indústria têxtil da Segunda Revolução Industrial (Estados Unidos) Crédito: Travelview/Shutterstock A Terceira Revolução Industrial é marcada pelo final da Segunda Guerra Mundial, período caracterizado pela escassez em alguns países, como o Japão. Nesses países, não era possível adotar a produção em massa, pois era necessário combater o desperdício. Para se tornar competitiva, a Toyota criou o sistema de produção enxuta (em inglês, lean manufacturing), cujos objetivos são pautados na redução de desperdício, baixo estoque, produção sob demanda, uso da sistemas automatizados para a redução do tempo de produção (Sacomano et al., 2018). 6 Figura 5 – Sistema Toyota de Produção Crédito: AF Studio/Shutterstock. Outra característica marcante da Terceira Revolução Industrial é o rápido desenvolvimento da eletrônica que, por sua vez, impulsionou vários segmentos. Em 1960, surgiu o primeiro controlador lógico programável (conhecido pela sigla CLP), que facilitou a disseminação e implementação de sistemas automatizados. As telecomunicações e a informática também foram impulsionadas pela eletrônica. As principais características da Terceira Revolução Industrial são: • Rápido desenvolvimento da eletrônica; • Sistemas de automação industrial; • Robótica; • Preocupação com o meio ambiente; • Produção enxuta; • Telecomunicações; • Internet; • Globalização; • Uso de múltiplas fontes de energia. TEMA 2 – QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL – COMO COMEÇOU? Desde a década de 1970, o bloco de países conhecidos como tigres asiáticos aumentou a participação no valor agregado industrial global (Figura 6), cujo foco era a exportação de bens duráveis. Em razão disso, muitas indústrias de países desenvolvidos e industrializados começaram a migrar suas fábricas para o Oriente (Firjan, 2016). 7 Figura 6 – Participação dos países asiáticos na indústria global em 2011 Fonte: Firjan, 2016, p. 5 Para recuperar a participação no valor agregado industrial global, o governo alemão introduz o conceito de indústria 4.0 na Feira de Hannover em 2011. A estratégia do governo alemão consistia em aumentar a produtividade e a competitividade por meio da inovação e tecnologia (Firjan, 2016). Seguindo o exemplo do governo alemão, outros países também adotaram algumas iniciativas, a exemplo de Estados Unidos, China e países europeus. Em 2011, os Estados Unidos lançaram o programa Advanced Manufacturing Partership (AMP), cujos objetivos consistem na união de esforços do governo, universidades e indústrias em tecnologias emergentes, para treinar mão de obra altamente qualificada e aumentar a competitividade da indústria norte-americana no mercado global. Em 2015, a China lançou o programa Made in China 2025, com foco na atualização tecnológica de suas indústrias, não sóa manufatura avançada, mas também as indústrias tradicionais. Outro ponto-chave é o foco no sistema de normas internacionais. Saiba mais Acesse o site do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) para ler o documento Carta IEDI que trata da indústria 4.0 e o Made in 8 China. Disponível em: <https://iedi.org.br/ cartas/carta_iedi_n_827.html>. Acesso em: 30 jul. 2020. Em 2013, a União Europeia lançou o plano Factories of the Future, também com o objetivo de tornar as fábricas mais competitivas com a adoção de tecnologias inovadoras. Note que há um consenso entre todos os países: a adoção das tecnologias pertencentes à indústria 4.0 aumentam a eficiência produtiva e tornam as indústrias mais competitivas no mercado global. TEMA 3 – QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL – TECNOLOGIAS Muitos autores definem o conceito de indústria 4.0 como sendo a junção entre os mundos físico e virtual por meio da internet. De acordo com Sacomano et al. (2018), devido à diversidade de aplicações na indústria e em serviços e às alterações na sociedade, o termo deveria ser alterado, extrapolando os limites da indústria. Os autores estruturam o conceito em: • Elementos-base ou fundamentais; • Elementos estruturantes; • Elementos complementares. Figura 7 – Elementos formadores da indústria 4.0 Fonte: Sacomano, 2018, p. 39. 9 Os elementos-base ou fundamentais descrevem as tecnologias que são fundamentais para que se tenha a indústria 4.0. São eles: • Sistemas ciberfísicos: trata-se de uma forma de implantar sistemas de informação e automação, possibilitando a troca de dados em tempo real, permitindo a supervisão e controle do processo industrial, de forma local ou remota. Enquadram-se nesta categoria os softwares para simulação (por exemplo, Digital Twins); • Internet das coisas (IoT): a internet é o meio de comunicação para a troca de dados entre objetos, máquinas, sistemas e pessoas. Suas aplicações são as mais diversificadas: cidades inteligentes, monitoramento de pacientes, entre outros. • Internet de serviços (IoS): a internet possibilitou a criação de novos serviços, tais como aulas e compras on-line, solicitação de serviços de transporte compartilhado, entre outros. Os elementos estruturantes são aqueles que dão suporte às aplicações da Indústria 4.0: • Automação: o primeiro passo para que uma fábrica implemente as tecnologias da indústria 4.0 é ter a automação já estabelecida. Boa parte da coleta de dados do chão de fábrica será enviada por equipamentos de automação. • Inteligência artificial (IA): são técnicas que procuram identificar padrões e atuar da mesma forma que um ser humano. Apesar de não ser uma tecnologia tão recente, ganhou destaque na indústria 4.0 graças à capacidade de processamento dos computadores atuais, bem como, à coleta de dados proveniente do IoT. • Big data analytics: o uso de IoT e IoS somados à coleta tradicional de dados na indústria geram um grande volume de dados – o chamado big data. A análise destes dados combinada com o uso de inteligência artificial possibilita a identificação de padrões e análises críticas de sistemas. • Computação em nuvem: ocorre quando há a contratação de serviços ou armazenamento e não se sabe a localização dos servidores. 10 • Segurança cibernética: com um volume tão grande de dados e integração entre os sistemas, é imprescindível tomar precauções contra intrusões do sistema. Os elementos complementares são as tecnologias que acrescentam funcionalidades e geram agilidade em vários processos. Essas tecnologias são etiquetas de RFID, QR code, realidade aumentada, realidade virtual e manufatura aditiva (impressão 3D). As etiquetas de RFID são etiquetas de identificação por radiofrequência, muito utilizadas para a rastreabilidade dentro da fábrica (Figura 8). Figura 8 – Etiqueta de RFID Crédito: 4ndrei/Shutterstock O QR code é um código bidimensional que pode ser escaneado por qualquer celular ou tablet que tenha câmera e o software instalado. Consegue armazenar mais informações se comparado ao código de barras. Figura 9 – QR code Crédito: Atkwork/Shutterstock 11 A realidade aumentada sobrepõe objetos virtuais a objetos do mundo real. Pode ser utilizada para auxiliar a manutenção industrial. Figura 10 – Realidade aumentada Crédito: Zapp2photo/Shutterstock A realidade virtual é quando alguns equipamentos (óculos, luvas etc.), somados a um software de simulação, criam uma realidade. Este tipo de tecnologia é bastante usado para treinamentos e simulações de novos produtos. Figura 11 – Realidade virtual Crédito: Gorodenkoff/Shutterstock 12 A manufatura aditiva (impressão 3D) consiste na fabricação de peças por meio de uma impressora 3D. Utiliza materiais específicos e a peça é produzida em camadas. Figura 12 – Impressão 3D Crédito: Andrey Suslov/Shutterstock TEMA 4 – ANÁLISE COMPARATIVA DAS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS A comparação entre as Revoluções Industriais possibilita uma análise criteriosa em relação ao uso de tecnologias, formas de gestão, entre outros. Este tipo de análise auxilia a compreensão a respeito da maturidade industrial de cada indústria. De acordo com Brehm et al. (2019), são pontos relevantes sobre a Quarta Revolução Industrial: • As três primeiras revoluções estavam ligadas a algum “marco histórico”, ou seja, alguma invenção que foi aplicada ao setor industrial. No caso da Quarta Revolução Industrial, não há uma descoberta significativa e é a primeira vez que estabelecem uma revolução industrial a priori; • A indústria 4.0 representa uma mudança de paradigma: a produção que antes era centralizada passa a ser descentralizada; • As máquinas e o produto trocam informações entre si, estabelecendo quais ações deverão ser tomadas. 13 O quadro a seguir apresenta uma análise das tecnologias e pontos-chave sobre as Revoluções Industriais. Quadro 1 – Comparação entre as Revoluções Industriais Mecânica Elétrica Informática Automação avançada Tipo de produção Primeira Revolução Carvão mineral em máquinas a vapor Segunda Revolução Eletricidade Petróleo Terceira Revolução Eletrônica CLP Telecomunicações Robótica Automação CAD/ CAM Quarta Revolução Área Exemplos Tear mecânico Máquina a vapor Motor elétrico Lâmpada Motor IoT R.A. Cobots Big Data Computação em Nuvem IA Machine Learning Impressão 3D Fontes de energia Produtos e produção padronizados Quadro hierárquico rígido Produção em massa Linhas de montagem Conceito de produtividade Produção puxada (Toyotismo) Manufatura integrada por computador Evolução do processo de qualidade Controle e supervisão em tempo real Eletricidade Petróleo Energia nuclear Customização de produtos Virtualização da fábrica Simulação Eletricidade Petróleo Energia nuclear Fontes renováveis de energia Fonte: Elaborado com base em Brehm et al., 2019. 14 TEMA 5 – MATURIDADE INDUSTRIAL – METODOLOGIAS A implantação das tecnologias da indústria 4.0 é imprescindível para assegurar a competitividade e eficiência industrial no mercado global. Existem várias ações para incentivar a adoção destas tecnologias por parte do governo brasileiro, como comitê de estudos e pesquisa, linhas de crédito e incentivo para cursos técnicos. Quando uma indústria decide se atualizar rumo à indústria 4.0, encontra uma série de obstáculos: • Carência de mão de obra qualificada; • Falta de conhecimento sobre o assunto; • Poucos fornecedores preparados para atender este tipo de demanda. O primeiro passo é realizar um diagnóstico das tecnologias existentes, da capacidade de investimento e quais as expectativas após a implementação. Alguns pontos cruciais são: • Diagnóstico das tecnologias e automação já implementados; • Definir a capacidade de investimento;• Alinhar objetivos e expectativas entre setores da indústria; • Elencar indicadores de desempenho para acompanhar a evolução da implementação; • Definir equipes de trabalho e capacitação técnica. De acordo com Brehm et al. (2019), existem várias metodologias propostas para mensurar a maturidade em relação às tecnologias da indústria 4.0. São elas: • Acatech Industrie; • Maturity modelbased planning of cyber- physical systems in the machinery and plant engineering industry; • SIMMI 4.0 – System Integration Maturity Model Industry 4.0; • A maturity model for assessing Industry 4.0 readiness and maturity of manufacturing enterprises; • Impuls industrie 4.0 Readiness; • Deloitte Digital Maturity Model; • DREAMY (Digital REadiness Assessment MaturitY model). 15 REFERÊNCIAS BREHM, M. A.; FILHO, F. do R. B.; ARAÚJO, C. H. C. Por onde começar? Estudo de caso de medição de índice de maturidade "i4.0" em uma indústria de tecnologia eletrônica. Paraná Chapter, Curitiba, 2019. FIRJAN – Federação Das Indústrias Do Estado Do Rio. Panorama da inovação: Indústria 4.0. Rio de Janeiro: Firjan, 2016. SACOMANO, J. B.; GONÇALVES, R. F.; SILVA, M. T. DA; BONILLA, S. H.; SÁTYRO, W. C. Indústria 4.0: conceitos e fundamentos. São Paulo: Blucher, 2018. 16
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