Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Conteudista: Prof.ª Dra. Ana Paula Oliveira Borges Revisão Textual: Me. Luciano Vieira Francisco Objetivos da Unidade: Compreender a importância dos sistemas sensorial e cognitivo no desenvolvimento da criança; Contextualizar os aspectos relevantes dos transtornos de neurodesenvolvimento e as intervenções terapêuticas por meio de recursos ocupacionais. 📄 Material Teórico 📄 Material Complementar 📄 Referências Transtornos de Neurodesenvolvimento e Abordagens da Terapia Ocupacional Introdução Sabemos que conhecer as formas de conexão do sistema nervoso com o meio externo é fundamental para elaborarmos um planejamento de tratamento assertivo. Além disso, reconhecer as dificuldades de acesso dessas “portas de entrada” ao sistema nervoso nos transtornos de neurodesenvolvimento é importante e direciona as nossas condutas. A fim de abordarmos este tema tão importante, esta Unidade tem o objetivo de lhe apresentar a importância dos sistemas sensorial e cognitivo no desenvolvimento da criança, contextualizando os aspectos relevantes dos transtornos de neurodesenvolvimento e as intervenções terapêuticas por meio de recursos ocupacionais. Leia o conteúdo com atenção, assim como os materiais complementares para ampliar a sua compreensão acerca da temática. Bom estudo! Transtornos de Neurodesenvolvimento Os transtornos do neurodesenvolvimento compõem um grupo de condições que se iniciam no período do desenvolvimento. Geralmente se manifestam cedo no Página 1 de 3 📄 Material Teórico desenvolvimento, tipicamente antes de a criança ingressar na escola e ocasionam prejuízos no funcionamento pessoal, acadêmico, social e/ou profissional. Esses transtornos são, em sua maioria, atribuídos a fatores genéticos, biológicos, psicossociais, ambientais e/ou socioculturais. São divididos de acordo com Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, na sua quinta edição (DSM-5), descritos no Quadro a seguir: Quadro 1 – Síntese dos transtornos do neurodesenvolvimento, de acordo com o DSM- 5 Transtorno Caracterização Deficiências intelectuais Incluem déficits funcionais, tanto intelectuais quanto adaptativos, nos domínios conceitual, social e prático. Transtornos da comunicação Incluem déficits de linguagem, na fala e comunicação. Transtorno do Espectro Autista (TEA) Déficits persistentes na comunicação e interação social em múltiplos contextos, com padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses ou atividades. Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) Padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade- impulsividade que interfere no funcionamento e desenvolvimento. Transtorno Caracterização Transtornos específicos de aprendizagem Dificuldades na aprendizagem e no uso de habilidades acadêmicas, com sintomas que persistem, pelo menos, por 6 meses, apesar de intervenções dirigidas a tais dificuldades. Transtornos motores Prejuízo nas atividades motoras que interferem significativamente no desempenho e na participação de atividades diárias da vida familiar, social e/ou comunitária. Fonte: Adaptado de TUDELLA; FORMIGA, 2021, p. 281 Todos os transtornos citados no Quadro 1 interferem negativamente no desempenho ocupacional nos diferentes contextos em que as crianças estão inseridas. Dessa forma, o papel da terapia ocupacional nos transtornos do neurodesenvolvimento é fundamental, uma vez que esses profissionais podem contribuir para otimizar as atividades realizadas diariamente pelas crianças, incentivando a sua autonomia e independência o máximo possível, dentro de cada potencialidade. As abordagens utilizadas na terapia ocupacional visam estimular os sistemas corporais e, entre os quais, os sistemas sensorial e cognitivo ocupam papel especial, pois fornecem informações acerca de condições físicas do corpo e ambiente, sendo vias de entrada que alimentam a cognição. Esses estímulos possibilitam que a criança experimente o seu corpo nas ações do dia a dia. Sistema Sensorial Integração sensorial é a habilidade de o sistema nervoso organizar os estímulos sensoriais e selecionar as informações, adaptando as suas respostas. É o meio pelo qual o organismo consegue reagir e responder aos estímulos experimentados de maneira eficaz e agir de acordo com determinada situação. A criança nasce com a capacidade de realizar o processamento sensorial pelo cérebro e, consequentemente, a integração sensorial. As conexões entre as células do cérebro são formadas em resposta ao processamento dos estímulos sensoriais – tátil, visual, auditivo, gustativo, olfativo, vestibulares/movimentos e proprioceptivos – que a criança experimenta. Essas sensações são recebidas, processadas e transmitidas entre diferentes áreas cerebrais e esse processamento é a base para o desenvolvimento de competências e da aprendizagem. Sistemas Sensoriais São oito os sistemas sensoriais que promovem a integração dos sentidos e permitem o uso funcional do corpo no espaço, a saber: tátil, vestibular, olfativo, gustativo, visual, auditivo, proprioceptivo e sistema/sensibilidade interoceptiva. Essas sensações podem ser organizadas em três diferentes modalidades e categorizadas nos sistemas sensoriais da seguinte maneira: Quadro 2 – Sistemas sensoriais Sensações Sistemas Sensações externas ao corpo – extereocepção Ver – sistema visual; Ouvir – sistema visual; Sentir o gosto – sistema gustatório/gustativo; Sensações Sistemas Cheirar – sistema olfatório/olfativo; Tocar – sistema tátil. Sensações que vêm do próprio corpo – propriocepção Posição e movimento – sistema proprioceptivo; Gravidade, movimento de cabeça e balanço – sistema vestibular. Sensações que vêm das partes internas do corpo – intercepção Senso visceral. Fonte: Adaptado de LUVIZUTTO; SOUZA, 2022, p. 156 Figura 1 – Processamento sensorial Fonte: Adaptada de Getty Images #ParaTodosVerem: a imagem mostra uma representação esquemática dos tipos de informações sensoriais descritas em cada círculo, que se interseccionam e conduzem para o passo a passo do processamento sensorial. Nos primeiros quatro círculos que se interligam está descrito, em cada círculo: tátil, gustativo, olfativo e vestibular. Nos três círculos que se interligam à esquerda está escrito: auditivo, proprioceptivo e visual. A partir desses círculos há uma sequência de passos até se chegar à resposta adaptativa. Fim da descrição. Sistema Tátil O sistema tátil é responsável pelo sentido do tato. Sabemos quando tocamos algo – sensação tátil – e o que é tocado – discriminação tátil. Esse sistema é o primeiro a se desenvolver intraútero, por volta da quinta semana gestacional e se subdivide em tato discriminativo, vibração/agitação, propriocepção, tato grosseiro ou não discriminativo, sensação térmica de calor e frio e nocicepção. Além disso, esse sistema oferece informações sobre a diferença entre o toque leve e o profundo/pressão e está relacionado, também, à consciência do corpo, ao bem-estar e à regulação emocional. É através do toque que a criança descobre e explora texturas, formas e temperatura, influenciando a sua capacidade de aprendizagem. Figura 2 – Sistema tátil como importante via de entrada de descoberta sensorial Fonte: Getty Images #ParaTodosVerem: a imagem mostra uma mulher no canto direito, com uma camiseta cinza e um estetoscópio no pescoço, com as mãos unidas, e ao seu lado há uma criança a frente de uma mesinha e manuseando massinha de modelar. Fim da descrição. Sistema Vestibular O aparato vestibular está situado no ouvido interno e é estimulado pelo movimento da cabeça, do pescoço, dos olhos e do movimento do corpo no meio e pela força da gravidade. Ao nascimento já está altamente desenvolvido e o seu amadurecimento permite que a criança se oriente e se posicione com relação à gravidade, percebendo a velocidade dos movimentos, a sua direção e percepção quando realiza um movimento incorreto. Um exemplo é o desenvolvimento da coordenação dos movimentos dos olhos eda cabeça, permitindo que a criança siga a trajetória de um objeto parado ou em movimento. Dessa forma, o sistema vestibular está intimamente relacionado ao tônus muscular, à coordenação bilateral, ao planejamento motor, processamento visuoespacial, processamento de linguagem e audição, e à segurança emocional. Essas características são essenciais para que a criança consiga se mover, realizar atividades motoras, brincar, aprender e se socializar. Sistema Proprioceptivo O sistema proprioceptivo é formado por receptores localizados nos músculos e nas articulações. Detectam o movimento das partes do corpo com a sua localização espacial, sendo responsável pela consciência da posição corporal, graduação da força utilizada para a realização das tarefas e a adequação postural durante as atividades diárias. Assim, as informações proprioceptivas são essenciais para o desenvolvimento do planejamento e controle motor, da graduação de movimentos, estabilidade postural, consciência do corpo e esquema corporal – e todos esses aspectos influenciam na segurança emocional. Sistema Olfativo O sistema olfativo inicia a sua formação por volta da vigésima oitava semana de gestação. O olfato é especialmente importante no começo da vida, pois direciona o bebê ao seio materno para a alimentação e influencia o desenvolvimento emocional do vínculo mãe-bebê. Olfação é a sensação de odores e esse sentido é considerado único porque é processado diretamente no sistema límbico – área cerebral relacionada às emoções e memórias emocionais. Sistema Gustativo É o sistema responsável pelo sentido da gustação, detecção e discriminação dos sabores. Sabor é a experiência sensorial do gosto do alimento e paladar é a sensação – doce, salgada, azeda e ácida/amarga – evocada pela estimulação de receptores gustativos. Esse sistema é particularmente importante na decisão da aceitação ou rejeição dos alimentos, e está relacionado ao sistema olfativo e somatossensorial na vivência da experiência multissensorial da discriminação dos sabores do alimento, influenciando as preferências da criança a certos alimentos, a partir de sua textura ou cheiro. Sistema Auditivo O sistema auditivo é responsável pelo sentido da audição, capacidade de discriminação auditória e pela localização da direção do som. Esse sistema interfere na aquisição da linguagem e percepção da fala. Já nos primeiros meses de vida, o bebê consegue localizar espacialmente o som, e essa habilidade é importante para estimular a resposta à fala, refinar a compreensão e produção da língua falada. Sistema Visual A capacidade de ver cores, formas, orientação e movimento é processada pelo sistema visual. Comparada a outros sentidos, a visão é consideravelmente rudimentar quando do nascimento, pois ainda que os olhos consigam captar a luz, a retina e o cérebro do bebê não conseguem processar as informações de forma aprimorada e não há ainda a percepção de profundidade. Ao final do primeiro ano de vida já é possível detectar similaridade e diferença entre objetos, percepção de figura-fundo, de posição no espaço, das relações espaciais, memória visual e percepção da imagem. Todos esses aspectos devem ser estimulados, uma vez que a visão é essencial para a compreensão do mundo, da localização do corpo em relação aos objetos no espaço e para o entendimento das referências temporais. Tudo isso desenvolve a capacidade de antecipação, planejamento, monitoramento e correção dos atos motores. Sistema Interoceptivo O sistema interoceptivo é menos discutido na literatura, mas é importante na detecção da saúde do corpo, uma vez que os receptores interoceptivos localizados nos órgãos internos e vasos sanguíneos auxiliam na regulação da pressão arterial, nos processos digestivos, respiratórios e nas diversas funções do sistema nervoso autônomo. Clique no botão para conferir o conteúdo. Leitura Os Benefícios da Terapia de Integração Sensorial no Tratamento de Crianças com Transtorno do Espectro Autista: Revisão Integrativa de Literatura O sistema sensorial é rico, não é mesmo? Você gostaria de aprender mais sobre esse importante sistema corporal? Então leia o artigo a seguir e conheça os benefícios dessa estimulação. ACESSE Como podemos observar, o sistema sensorial tem múltiplos papéis no controle do movimento e nos processos cognitivos. A percepção e o processamento das múltiplas informações sensoriais, constantemente capturadas do ambiente, permitem-nos elaborar respostas motoras adaptativas nas mais diversas circunstâncias da rotina diária. Assim, os estímulos sensoriais são informações essenciais para o sistema nervoso planejar as habilidades motoras, parametrizar a força muscular e a coordenação motora, por exemplo. A partir dessa habilidade é possível identificar padrões de disfunção com impacto no desenvolvimento sensório-motor e na aprendizagem, que são os transtornos de processamento sensorial. O transtorno de processamento sensorial é caracterizado pela limitação da participação e das atividades ocupacionais; redução de respostas bem-sucedidas a um desafio ambiental – resposta adaptativa –; e diminuição do desenvolvimento de habilidades motoras finas, grossas e sensoriais. https://downloads.editoracientifica.com.br/articles/220207680.pdf Figura 3 – Importância do sistema sensorial no desenvolvimento da criança Fonte: Getty Images #ParaTodosVerem: a imagem mostra uma criança pequena do sexo masculino, sentada em um túnel de tecido azul e com bolinhas coloridas espalhadas; a criança veste um moletom azul claro. Atrás dela está um homem sorrindo e a segurando. Fim da descrição. Vídeos As informações sensoriais são os maiores canais de entrada para o sistema nervoso e podem ser facilmente manipuladas pelo Atividades Sensoriais que Desenvolvem Habilidades Autismo: O que são as Alterações Sensoriais? profissional terapeuta ocupacional, a fim de estimular habilidades da criança. Assista aos vídeos a seguir e amplie a sua criatividade na construção de recursos que possam auxiliar essa estimulação. ATIVIDADES SENSORIAIS QUE DESENVOLVEM HABILIDADESATIVIDADES SENSORIAIS QUE DESENVOLVEM HABILIDADES https://www.youtube.com/watch?v=XuGB_jB6q5M Sistema Cognitivo Perguntas como as seguintes intrigam os pesquisadores do desenvolvimento: “Como os bebês aprendem a resolver problemas?” “Quando a memória se desenvolve?” “Como explicar as diferenças individuais nas habilidades cognitivas?”. Nesse sentido, seis abordagens têm fundamentado os estudos do desenvolvimento cognitivo, denominadas abordagens: Autismo: o que são as alterações sensoriais?Autismo: o que são as alterações sensoriais? Behaviorista: estuda os mecanismos básicos da aprendizagem e o quanto a experiência impacta no comportamento; Psicométrica: mede as diferenças quantitativas, por meio de testes, das habilidades que compõem a inteligência; Piagetiana: estuda as mudanças, chamadas de estágios, na qualidade do funcionamento cognitivo, ou seja, como as habilidades cerebrais estruturam as atividades e se adaptam ao ambiente; https://www.youtube.com/watch?v=PG9nq_jSe6c A correlação entre a maturação das habilidades cognitivas e o estágio do desenvolvimento neural tem sido importante foco de estudo da Neurociência. Uma teoria clássica que fundamenta inúmeras abordagens é a do cientista suíço Jean Piaget, para quem a pessoa se desenvolve a partir da sua relação com o meio ao qual está inserida, influenciada pelos fatores biológicos pessoais. Nesse contexto, o sujeito é ativo em todo o processo, filtrando as informações selecionadas e dando-lhes significado. De acordo com Piaget (apud PAPALIA; MARTORELL, 2022), as crianças passam, independentemente da cultura em que vivem e mais ou menos na mesma idade, por quatro estágios cognitivos. Cada fase é essencial para a aquisição do próximo estágio, vejamos: Quadro 3 – Estágios cognitivos de Piaget Estágios Épocas da vida Acontecimentos Sensório- motor Vai do nascimentoA criança explora o mundo e desenvolve os seus Do processamento da informação: foca no modo como as crianças processam as informações do momento em que as recebem até as utilizar. Para isso, estuda a percepção, aprendizagem, memória e resolução de problemas; Da neurociência cognitiva: analisa quais estruturas cerebrais estão envolvidas nos aspectos específicos da cognição; Sociocontextual: estuda o impacto dos aspectos ambientais, especialmente dos pais e cuidadores, nos processos de aprendizagem. Estágios Épocas da vida Acontecimentos até o período de “linguagem significativa” – por volta de 2 anos de idade. esquemas, principalmente por meio de seus sentidos e de suas atividades motoras. Durante esse estágio, as crianças têm conceitos rudimentares dos objetos de seu mundo. Um conceito adquirido durante esse estágio é o de permanência do objeto: habilidade de saber que um objeto não deixa de existir simplesmente porque saiu de nosso campo de visão. Pré- operacional Dos 2 aos 7 anos de idade. A linguagem progride substancialmente e a criança começa a pensar simbolicamente, usando símbolos, tais como palavras, para representar conceitos. No entanto, a criança ainda não consegue fazer operações ou processos mentais reversíveis. Nesse estágio, a criança é egocêntrica, isto é, não consegue distinguir as suas próprias perspectivas das de outras pessoas, nem consegue Estágios Épocas da vida Acontecimentos entender que há pontos de vista diferentes dos seus. Operações concretas Dos 7 aos 11 anos de idade. Há emergência de inúmeras habilidades importantes de raciocínio. O pensamento da criança, então mais organizado, possui características de uma lógica de operações reversíveis. Entretanto, durante esse estágio, inicialmente pode realizar operações quantitativas somente com eventos concretos; não é capaz de operar com hipóteses. Operações formais Dos 11 anos de idade em diante. As crianças aprendem a fazer representações abstratas de relações. Crianças nessa idade podem generalizar relações matemáticas e manifestar pensamento hipotético- dedutivo – a habilidade de gerar e testar hipóteses sobre o mundo. Fonte: Adaptado de PAPALIA; MARTORELL, 2022 Piaget trouxe importantes contribuições no estudo do desenvolvimento da criança, assim como reflexões sobre a capacidade de realizarem tarefas perceptivas, motoras e cognitivas mais complexas. Figura 4 – Desenvolvimento cognitivo da criança Fonte: Getty Images #ParaTodosVerem: a imagem mostra uma criança usando uma camiseta branca e um macacão de cor azul claro; está sentada no chão, sobre um tapete cinza. A criança brinca, posicionando os arcos coloridos uns ao lado dos outros. Fim da descrição. Para ampliar a nossa compreensão sobre o desenvolvimento cognitivo, torna-se importante conhecermos as habilidades e os aspectos cognitivos. A cognição refere-se às funções integradas da mente humana que, juntas, resultam em pensamento e ação direcionada a um objetivo. Assim, envolve a aquisição, o processamento e a aplicação da informação na vida cotidiana. A cognição não só influencia o que uma pessoa escolhe fazer, mas também dita como uma experiência é lembrada e interpretada. A cognição consiste em uma hierarquia interativa que inclui capacidades cognitivas primárias – orientação, atenção e memória –, habilidades cognitivas de nível superior – raciocínio, formação de conceito e solução de problemas – e metaprocessos – funções executivas e autoconsciência. Capacidades Cognitivas Primárias Importante! A cognição claramente influencia a seleção, o desempenho, a análise e o aprendizado das atividades cotidianas. Além de seu papel central no funcionamento ocupacional, a função cognitiva de um indivíduo influencia a assimilação de novas habilidades nas atividades diárias. Orientação: refere-se à consciência de si em relação à pessoa, ao local, tempo e à circunstância; Habilidades do Pensamento de Nível Superior Habilidades de Metaprocessamento Atenção: é a alocação dos recursos mentais para a concentração. Temos quatro níveis de atenção, podendo ser sustentada, seletiva, dividida e alternada; Memória: refere-se, em termos gerais, ao armazenamento e resgate da informação. Existem estágios de aquisição e emprego de novos conhecimentos e inéditas habilidades, tais como os registros sensoriais, a memória de curto prazo e memória de longo prazo. Solução de problemas: ocorre sempre que a circunstância for diferente de uma situação ou meta desejada, de modo que o indivíduo não sabe, de imediato, que série de ações realizar; Raciocínio: implica fazer inferências ou tirar conclusões a partir de fatos conhecidos ou presumidos. Pode-se utilizar o sequenciamento, a classificação e dedução; Formação de conceito: é a habilidade de analisar as relações entre os objetos e as suas propriedades como, por exemplo, categorizar os objetos por função, tamanho ou cor, ou pensamentos concretos e abstratos. Funções executivas: são necessárias para o desempenho satisfatório de tarefas não estruturadas com várias etapas e ocupações Dessa forma, o desenvolvimento cognitivo infantil é o momento da construção de conhecimento e de modos de resolver problemas por meio de processos mentais que envolvem percepção, atenção, memória, raciocínio e imaginação. É a partir de tantos aspectos cognitivos desenvolvidos que a criança consegue interagir e se envolver com o mundo ao seu redor. Intervenções Terapêuticas por Meio de Recursos Ocupacionais Tal como estudamos há pouco, tudo o que é vivenciado no nosso dia é experimentado por meio das sensações conscientes – visuais, auditivas, olfativas, gustatórias e táteis – e inconscientes – equilíbrio, movimento e posição corporal. Essas sensações levam informações isoladas, mas que precisam ser interpretadas e organizadas pelo sistema nervoso central, a fim de que nosso corpo possa se adaptar ao contexto. Esse processamento neural é intensamente estimulado no desenvolvimento da criança, para a formação de diversas competências infantis. O processamento sensorial implica a capacidade humana para receber, organizar e dar sentido aos diferentes inputs sensoriais captados pelo cérebro. O processo neurológico tem como objetivo organizar todas as sensações do próprio corpo e do ambiente, a fim de integrar os sistemas sensoriais que são essenciais para a interação do indivíduo cotidianas. Os componentes das funções executivas são a volição, o planejamento, a ação com propósito e o desempenho efetivo; Autoconsciência: é a mais elevada de todas as atividades integradas do cérebro. É a habilidade de processar a informação sobre si e compará-la a uma externa autoavaliação. Há uma hierarquia de autoconsciência de três níveis, consistindo em consciências intelectual, emergente e antecipatória. com o seu meio, de modo que a melhora de seu desempenho ocupacional é denominada integração sensorial. Figura 5 – Sala de integração sensorial Fonte: Getty Images #ParaTodosVerem: a imagem mostra uma criança sentada em um cubo grande e colorido; está com as duas mãos apoiadas no cubo. À sua frente, ajoelhada no chão, está uma mulher. Ambas estão em uma sala colorida, com diversos equipamentos de estimulação sensório-motora. As duas estão sorrindo. Fim da descrição. Durante a terapia de integração sensorial, a criança não somente vivencia as sensações, como também será desafiada na medida certa para processar essas sensações, conseguindo produzir comportamentos adaptativos adequados e significativos às demandas do contexto, por meio da integração e organização dessas sensações. O processamento sensorial alterado pode resultar em diversos problemas funcionais nas atividades de vida diária, n o brincar, na aprendizagem e interação social. Podemos perceber isso em diversos momentos vivenciados pela criança na escola, em casa ou durante a terapia com problemas no processamento sensorial como, por exemplo, na dificuldade em modulação sensorial tátil, tornandoa criança sensível ao toque e a responder inapropriadamente quando se envolver em uma atividade de pintura ou colagem. Poderá ficar hiper-reativa com estado de alerta elevado, ficar mais agitada, apresentar recusa à atividade, mais desatenta, sentir-se insegura e chorar. Esse tipo de resposta comportamental, que pode ser vista em todos os demais sistemas sensoriais, deve ser assistida e uma intervenção precisa ocorrer para a auxiliar no processo de modulação sensorial. Importante! A terapeuta ocupacional estadunidense, Anna Jean Ayres, foi a precursora no estudo da integração sensorial no campo da terapia ocupacional. Trouxe a relação entre a dificuldade em organizar e interpretar as informações sensoriais em regiões cerebrais causando o chamado congestionamento sensorial, impedindo a recepção de informações necessárias para a correta interpretação dessas informações sensoriais. Dessa forma, a terapia de integração sensorial tem como proposta oferecer e controlar estímulos sensoriais de modo que a criança forme respostas adaptativas adequadas e integre as sensações recebidas, visando melhorar a capacidade do cérebro, de modo que ele possa executar as suas funções com êxito. Os recursos usados pelo terapeuta ocupacional no modelo de integração sensorial utilizam os diversos estímulos sensoriais para promover ações, desenvolver a percepção, consciência corporal, o equilíbrio, a coordenação oculomotora e corporal bilateral. A Resolução 483, de 12 de junho de 2017, reconhece a utilização da abordagem de integração sensorial como recurso terapêutico da terapia ocupacional no âmbito de sua atuação profissional. As atividades utilizadas para integração sensorial incluem recursos como redes de lycra, bolas terapêuticas, trapézios, cobertores, scooter boards, rampas, túnel espumado, barco suspenso, tapetes, rolo suspenso, piscina de bolinhas, plataformas, parede de escalada, conjunto de bancos, cavalo suspenso, swings, entre outros equipamentos e/ou materiais que podem promover experiências sensoriais. O profissional terapeuta ocupacional utiliza diferentes tarefas, recursos e ambientes para atingir objetivos terapêuticos específicos. Por isso, a análise de recursos também é importante, uma vez que possibilita a avaliação do potencial terapêutico de determinados objetos como parte de uma atividade. Figura 6 – Integração sensorial com estímulos multissensoriais Fonte: Getty Images #ParaTodosVerem: a imagem mostra um homem, em pé, trajando calça preta e blusa laranja, segurando uma placa com uma seta apontando para baixo, onde há uma cesta de bolinhas. À sua frente está uma criança sentada em uma plataforma suspensa, com bolinhas ao seu lado, de modo que essa criança se prepara para lançar uma bolinha para a acertar na cesta. Ambos estão em uma sala colorida, com vários equipamentos de estimulação sensório-motora. Fim da descrição. Esses e outros recursos de integração sensorial são utilizados com atividades de mudança de posição no espaço, estabilidade postural, estímulo visual e atenção envolvendo habilidades visomotoras, sistema proprioceptivo e estimulação tátil. Atividades envolvendo bolas de tamanhos variados estimulam o aprimoramento de diferentes padrões de preensão esférica, liberação voluntária de objetos, estimulação do sistema proprioceptivo – determinação do nível de força necessário para segurar, erguer e jogar a bola –, coordenação visomotora – integração das habilidades de coordenação motora, discriminação visual e atenção visual – e integração bilateral quando a atividade exige o uso coordenado de membros. Jogos, brincadeiras e desafios devem sempre ser utilizados dentro dessas atividades. Tais recursos estimulam a coordenação motora fina e a habilidade de sequenciamento de tarefas, visto que os jogos possuem etapas que devem ser realizadas em sequências específicas. Desse modo, os recursos selecionados, em conjunto, contemplam a estimulação dos sistemas sensoriais, a qual é importante para o aprimoramento da capacidade de processamento sensorial, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades essenciais ao desempenho de atividades cotidianas. Integração Sensorial e a Terapia Ocupacional Vídeos Superinteressante essa abordagem, não é mesmo? Os recursos terapêuticos utilizados na integração sensorial possibilitam uma infinidade de abordagens terapêuticas. O conhecimento e a criatividade nos permitem explorar esses recursos, de modo que amplie o seu olhar assistindo aos seguintes vídeos. Integração Sensorial Integração Sensorial e a Terapia OcupacionalIntegração Sensorial e a Terapia Ocupacional Integração SensorialIntegração Sensorial https://www.youtube.com/watch?v=MXAOXCSkPlI https://www.youtube.com/watch?v=_1N_SBGVit4 Chegamos ao final desta Unidade, na qual você pôde relacionar conceitos importantes, conhecer a relevância dos sistemas sensoriais e cognitivos, assim como a utilização de alguns recursos terapêuticos. Leia todo o conteúdo, assista aos vídeos e busque, nos materiais complementares, ampliar os seus conhecimentos sobre essa temática para que possa se qualificar cada vez mais. Bom estudo! Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Sensory Integration and Learning Disorders AYRES. A. J. Sensory integration and learning disorders. [1. ed.] Los Angeles: Westem Psychological Services, 1972. Intervenções da Terapia Ocupacional DRUMMOND, A. F.; REZENDE, M. B. Intervenções da terapia ocupacional. [1. ed.] Belo Horizonte: UFMG, 2008. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem FONSECA V. da. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. [1. ed.] Porto Alegre: Artmed, 2008. Página 2 de 3 📄 Material Complementar Controle Motor – Teoria e Aplicações Práticas SHUMWAY-COOK, A.; WOOLLACOTT, M. H. Controle motor – teoria e aplicações práticas. 3. ed. Barueri: Manole, 2010. Vídeos Você Sabe o que é um Transtorno do Neurodesenvolvimento? O Que são Transtornos do Neurodesenvolvimento? Você sabe o que é um transtorno do neurodesenvolvimento?Você sabe o que é um transtorno do neurodesenvolvimento? https://www.youtube.com/watch?v=Z0YL1qc3BLQ O Papel da Terapia Ocupacional no Processo Diagnóstico dos Transtornos do Neurodesenvolvimento O que são Transtornos do Neurodesenvolvimento?O que são Transtornos do Neurodesenvolvimento? https://www.youtube.com/watch?v=6mDgDd8PcYc Tire suas Dúvidas sobre a Integração Sensorial O papel da Terapia Ocupacional no processo diagnóstico dos tranO papel da Terapia Ocupacional no processo diagnóstico dos tran…… Tire suas dúvidas sobre a integração sensorialTire suas dúvidas sobre a integração sensorial https://www.youtube.com/watch?v=PSusdhgdPEU https://www.youtube.com/watch?v=zEJmtOI4DJw Leitura Terapia Motora Cognitiva: Descrição e Análise Clínica de Crianças com Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Terapia com Base em Integração Sensorial em um Caso de Transtorno do Espectro Autista com Seletividade Alimentar Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE https://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/3340/3779 https://www.scielo.br/j/cadbto/a/hZ4RyjSvfmXYFjGKPFqCrnb/?format=pdf&lang=pt LUVIZUTTO, G. J.; SOUZA, L. A. P. S. Reabilitação neurofuncional. Teoria e prática. [1. ed.] Rio de Janeiro: Thieme Revinter, 2022. PAPALIA, D. E.; MARTORELL, G. Desenvolvimento humano. [1. ed.] Porto Alegre: Grupo A, 2022. RADOMSKI, M. V.; LATHAM, C. A T. Terapia ocupacional para disfunções físicas. 6. ed. Barueri: GEN, 2013. TUDELLA, E.; FORMIGA, C. K. M. R. Fisioterapia neuropediátrica: abordagem biopsicossocial. [1. ed.] Barueri: Manole, 2021. Página 3 de 3 📄 Referências
Compartilhar