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R-313-02-9691-O-currículo-e-suas-concepções-ideológicas

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TEORIA E PRÁTICA DO 
CURRÍCULO
 AULA 2
Concepções 
ideológicas do 
currículo 
ABERTURA
Olá!
A escola, não é apenas um espaço social emancipatório ou libertador, mas também é um cenário 
de socialização da mudança. Sendo um ambiente social, tem um duplo currículo, o explícito e 
o formal, o oculto e informal. A prática do currículo é geralmente acentuada na vida dos 
alunos estando associada às mensagens de natureza afetiva e às atitudes e valores. O 
Currículo educativo representa a composição dos conhecimentos e valores que caracterizam um 
processo social. Ele é proposto pelo trabalho pedagógico nas escolas.
Atualmente, o currículo é uma construção social, na acepção de estar inteiramente vinculado a 
um momento histórico, à determinada sociedade e às relações com o conhecimento. Nesse 
sentido, a educação e currículo são vistos intimamente envolvidos com o processo cultural, como 
construção de identidades locais e nacionais.
Nesta aula, vamos discorrer sobre as principais teorias e correntes ideológicas que 
se manifestam nas diferentes propostas e elaborações de currículos.
BONS ESTUDOS!
 REFERENCIAL TEÓRICO
Ao pensarmos no homem como um ser histórico, também refletiremos em um currículo que 
atenderá, em épocas diferentes a interesses, em certo espaço e tempo histórico. Existe uma 
diferença conceitual entre currículo, que é o conjunto de ações pedagógicas e a matriz curricular, 
que é a lista de disciplinas e conteúdos do currículo.
O Currículo, não é imparcial, é social e culturalmente definido, reflete uma concepção de mundo, 
de sociedade e de educação, implica relações de poder, sendo o centro da ação educativa. A 
visão do currículo está associada ao conjunto de atividades intencionalmente desenvolvidas para 
o processo formativo. Aprofunde seu saber e, ao final da leitura, você dominará os seguintes
aprendizados:
• Identificar as principais correntes ideológicas e teóricas que perpassam a construção do
currículo.
• Reconhecer as razões políticas e culturais nas formas como o currículo é proposto e
implementado.
• Analisar as conexões entre conhecimento, ensino e poder no campo da educação,
entendendo o currículo como um produto da política e de grupos de interesse.
BOA LEITURA!
TEORIAS DO 
CURRÍCULO 
Eliane de Godoi Teixeira Fernandes 
O currículo e suas 
concepções ideológicas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar as principais correntes ideológicas e teóricas que perpassam 
a construção do currículo.
  Reconhecer as razões políticas e culturais nas formas como o currículo 
é proposto e implementado.
  Analisar as conexões entre conhecimento, ensino e poder no campo 
da educação, entendendo o currículo como um produto da política 
e de grupos de interesse. 
Introdução
Para entender o currículo enquanto documento orientador, é preciso co-
nhecer as bases que dão suporte para a sua elaboração, reconhecendo, 
primeiramente, que nenhum currículo consegue ser neutro, visto que variados 
componentes teóricos, políticos, culturais e ideológicos sempre influen-
ciam sua construção. Também é preciso ter consciência de que o currículo 
representa os desejos da formação de um ideal de cidadão e de sociedade, 
adaptando-se e modificando-se de acordo com a transformação desse ideal. 
Por todas essas razões, podemos dizer que o currículo é “vivo”, acom-
panhando e promovendo o desenvolvimento da sociedade na qual ele se 
apresenta. Dialeticamente, o currículo influencia e é também influenciado 
pelos desejos e necessidades da sociedade.
Neste capítulo, você vai identificar as principais concepções ideológi-
cas que amparam a construção de um currículo, diferenciando-o de uma 
simples listagem de conteúdos disciplinares ou de objetivos educacionais 
e conhecendo questões políticas e culturais que se relacionam com a sua 
proposição. Por fim, vai ver o currículo sob a perspectiva de um produto 
político e sua conexão com elementos como conhecimento, ensino e 
poder no campo da educação.
1 Ideologia, teoria e currículo
De acordo com Silva (2017), etimologicamente, o termo “currículo” tem 
raiz no latim curriculum, derivado do verbo currere, que signifi ca cami-
nho a percorrer ou já percorrido. Na organização da escola básica, esse 
caminho estará sempre ligado às expectativas sociais para a educação da 
população em cada etapa do ensino nas condições históricas do momento 
em que ele é elaborado. Assim, quando ocorrem grandes mudanças na vida 
em sociedade, o currículo também se modifi ca, espelhando os objetivos 
para a educação para cada novo contexto socioeconômico. São exemplos 
dessas mudanças o processo de industrialização, a democratização e a 
universalização do ensino. 
Resumidamente, podemos concluir que currículo é tudo o que a sociedade 
considera necessário que as novas gerações aprendam ao longo da escolarização 
para que se tornem integrantes ativos dela. O currículo define o que ensinar, 
para que ensinar, como ensinar e como avaliar o que foi aprendido.
Chamamos “universalização e democratização do ensino” o movimento que insti-
tucionalizou a escola obrigatória para toda a população a partir da década de 1960. 
Antes desse movimento, a escola era destinada apenas às classes economicamente 
mais abastadas. No Brasil, até 1971, o ensino obrigatório e gratuito era de apenas 
quatro anos (primário). Após 1971, passou a ser de oito anos e, em 2010, de nove, com 
a decisão de iniciar o ensino fundamental aos seis anos de idade. A partir de 2016, 
todas as crianças a partir dos quatro anos de idade deveriam obrigatoriamente estar 
na escola, que passou a oferecer quatorze anos de duração. 
A definição de currículo acontece em dois níveis: o macroeducacional, 
formado por documentos que regulam e normatizam oficialmente a sistema-
tização e os conteúdos mínimos para a educação básica brasileira (BRASIL, 
2010), e o microeducacional, que é formado por cada escola, ano escolar, 
turma e aula em si.
O currículo e suas concepções ideológicas2
Segundo Gimeno Sacristán (2013), o currículo:
[...] [tem] se mostrado uma invenção reguladora do conteúdo e das práticas 
envolvidas nos processos de ensino e aprendizagem; ou seja; ele se comporta 
como um instrumento que tem a capacidade de estruturar a escolarização, a 
vida nos centros educacionais e práticas pedagógicas, pois dispõe, transmite 
e impõe regras, normas e uma ordem que são determinantes. Esse instru-
mento e sua potencialidade se mostram por meio de seus usos e hábitos, do 
funcionamento da instituição escolar, na divisão do tempo, na especialização 
de professores e, fundamentalmente, na ordem da aprendizagem (GIMENO 
SACRISTÁN, 2013, p. 20).
Apesar da aparente simplicidade da definição, diferentes autores formaram 
linhas distintas de classificação do currículo de acordo com sua pesquisa e 
entendimento. Portanto, você encontrará diversas possibilidades para classi-
ficar o currículo quanto a ideologia, concepção, teoria e tipo. Aqui, usaremos 
a concepção mais usual nos estudos brasileiros sobre a educação, defendida 
por Silva (2017), Saviani (2011), Gimeno Sacristán (2013) e Libâneo (2013).
Para esses estudiosos, há três grupos de teorias curriculares das quais 
derivam todas as demais: teorias tradicionais, críticas e pós-críticas. Essas 
teorias procuram explicar as concepções de currículo que influenciam a 
formação da sociedade. 
Segundo os estudiosos do currículo, a escola pode influenciar as relações 
sociais porque escolhe determinados conteúdos, tempos, espaços, estratégias 
e metodologias, elegendo-os como mais importantes e válidos em comparação 
com outros. Dessa forma, o currículo faz mais do que ensinar os conhecimentos 
acumulados pela humanidade por meio do tempo porque ensina também valores.
Segundo Libâneo (2013), é na década de 1970 que as pesquisas sobre o 
currículo se intensificaram, em oposição ao padrão tradicional que dominava 
o mundo ocidental. A partir de então, destacam-se as pesquisasque procuram 
entender qual é o papel da escola na organização, conservação ou modificação 
das relações sociais, visto que por meio dela são promovidos determinados 
valores e conteúdos. Michel Apple, estudioso do currículo, afirma que “[...] 
a escola, como agente bastante significativo da reprodução cultural e econô-
mica, torna-se, obviamente, uma instituição importante (afinal de contas toda 
criança frequenta a escola e a escola tem efeitos importantes como instituição 
de referência e socialização)” (APPLE, 2016, p. 66).
3O currículo e suas concepções ideológicas
Em um artigo para a Fundação Getúlio Vargas denominado As duas fases da história e 
as fases do capitalismo, Luiz Carlos Bresser-Pereira faz um resumo interessante sobre as 
principais características do capitalismo e do pensamento de Marx sobre o socialismo. 
Para nós, que nascemos em um mundo organizado da maneira como está, pode ser 
difícil perceber o quanto a ascensão do sistema capitalista influenciou o modo de 
vida humana; por isso, essa visão do antes e do depois do surgimento desse sistema 
é necessária para compreendermos o papel da educação (e dos professores) na 
organização social. De acordo com Bresser-Pereira (2011, documento on-line):
A revolução capitalista é a transformação fundamental da história hu-
mana depois do surgimento da agricultura e da passagem das sociedades 
nômades para as sedentárias e a formação das primeiras civilizações ou 
impérios. No plano econômico, a revolução capitalista deu origem ao 
capital e às demais instituições econômicas fundamentais do sistema – o 
mercado, o trabalho assalariado, os lucros, e o desenvolvimento econô-
mico. No plano científico e tecnológico, é o tempo da transformação de 
uma sociedade agrícola letrada em uma sociedade industrial. No plano 
social, é o momento de duas novas classes sociais: a burguesia e a classe 
trabalhadora. No plano político, a revolução capitalista deu origem às 
nações e ao Estado moderno, e, somando a esses dois fenômenos um 
território, ao Estado nação.
Você deve ter em mente que essas teorias do currículo tratam de questões 
sociais nas relações humanas. Portanto, ao estudar o currículo educacional 
das sociedades ocidentais, não se esqueça das características sociopolíticas, 
econômicas e culturais que as caracterizam, ou seja, são capitalistas, apre-
sentam grande desigualdade social e econômica, destacam a cultura clássica 
como majoritária e oferecem oportunidades diferenciadas de acesso à educação 
aos seus cidadãos — e são exatamente essas marcantes desigualdades criadas 
pelo sistema capitalista que as teorias do currículo vão analisar.
O currículo e suas concepções ideológicas4
É importante que você perceba que, embora as teorias sobre o currículo tenham se-
guido um caminho cronológico em seu surgimento, com uma teoria aparecendo como 
um julgamento sobre a proposta anterior, isso não significa que as mais novas tenham 
eliminado as anteriores. Atualmente, as três principais concepções têm adeptos em 
todo o mundo, com diferentes possibilidades de interpretação sobre cada uma delas.
Teoria tradicional
Esta teoria foi a primeira a dominar o Ocidente e parte de um currículo cien-
tífi co, objetivo e hipoteticamente neutro. Seu conteúdo comporta a cultura 
geral de maneira descontextualizada e mecânica, fragmentada em disciplinas 
apartadas entre si. Sua organização é rígida e metódica, para formar os futuros 
cidadãos como trabalhadores especializados e efi cientes. Para isso, planeja e 
elabora mecanismos de avaliação e mensuração precisos e comparativos. O 
aprendizado é mensurado por meio de avaliações que exigem dos alunos a 
capacidade de reprodução sobre o que lhes foi ensinado, e o professor é centro 
da autoridade e do saber — o ato do ensino é a prioridade.
Essa teoria do currículo pretende ser neutra porque não questiona os pro-
blemas e as desigualdades que o sistema econômico capitalista promove na 
sociedade. Como ponto positivo, fruto de seu contexto histórico, foi o movi-
mento responsável por promover a escola pública, universal, laica, gratuita e 
obrigatória para todos (SAVIANI, 2011).
Alguns dos autores que se destacam nessa teoria são: John Dewey (1976), Franklin 
Bobbit (2004) e Ralph Tyler (1983).
5O currículo e suas concepções ideológicas
Veja, a seguir, em quais escolas essa teoria está presente.
  Escola tradicional: tem como base o conteúdo humanista formado 
pelas clássicas obras literárias e artísticas gregas e latinas, chamadas 
de cultura geral. Considera-os como conteúdos importantes por si mes-
mos e imprescindíveis para o desenvolvimento intelectual dos alunos. 
Esses conteúdos são ensinados pelos professores, depois aprendidos/
memorizados e reproduzidos sem questionamentos pelos alunos.
  Escola nova: critica o modelo clássico humanista que prevalecia. Utiliza 
o método de ensino reflexivo e experimental, no qual as crianças vão à 
escola para cozinhar, costurar, trabalhar a madeira e, assim, descobrir 
e aprender de maneira indireta os conhecimentos necessários para 
a vida social adulta. Entretanto, não propõe análise sobre o sistema 
econômico e sobre como as oportunidades de experimentação e os 
recursos podem ser muito diferentes para cada aluno dependendo da 
classe social à qual ele pertença.
  Escola tecnicista: voltada para a formação técnica e científica, con-
siderando valores essenciais para o desenvolvimento da sociedade 
capitalista. Seu objetivo é a preparação para a vida profissional e, por 
isso, preconiza que a escola funcione como uma fábrica, especificando 
claramente sua organização, suas metas e seus planos para avaliação 
e mensuração de resultados. Divide o conhecimento em blocos que 
funcionam uns como pré-requisitos de outros. Os alunos podem avançar 
se alcançarem a pontuação satisfatória nas avaliações. Cabe ao professor 
dominar técnicas, métodos e estratégias para transmitir o conteúdo aos 
alunos, que serão treinados sistematicamente para aprendê-lo.
Teoria crítica
Elabora várias críticas às teorias anteriores, mas não propõe ações que pro-
movam uma reorganização educacional para o sucesso escolar. Proclama que 
o currículo não é neutro, já que toda teoria está baseada em relações de poder 
econômico e cultural. Esse poder está inculcado na escolha dos temas, tempos 
e lugares para a educação formal, que acabam reproduzindo as desigualdades 
do sistema capitalista. A teoria crítica possui bases sociológicas, fi losófi cas e 
antropológicas, com destaque para as ideias marxistas. A partir dessas ideias, 
o currículo foi entendido como um espaço de poder, um meio pelo qual a 
ideologia dominante é reproduzida ou refutada, promovendo a subserviência 
ou a autonomia e liberdade dos cidadãos.
O currículo e suas concepções ideológicas6
Alguns dos autores que se destacam nessa perspectiva são: Pierre Bourdieu (1998), 
Louis Althusser (1987), Paulo Freire (2005), Michel Apple (2015), Dermeval Saviani (2008) 
e José Carlos Libâneo (2013).
Ideias marxistas se referem às ideias formuladas e propagadas por Karl Marx (1818-1883), 
alemão, filósofo, político, economista, sociólogo e jornalista, filho de judeus da classe 
média que estudou profundamente a oposição entre as classes dentro do sistema 
capitalista. Marx dedicou-se a tentar observar na história humana como ocorreram 
as diferentes mudanças sociais nas sociedades europeias anteriores ao capitalismo. 
Sua teoria tem como objeto de estudo a sociedade burguesa de sua época, mas do 
ponto de vista do trabalho e dos trabalhadores. 
Conheça um pouco de seu legado para a educação no artigo disponível no link 
a seguir. 
https://qrgo.page.link/tDXoL
Veja, a seguir, proposições nas quais a ideologia da teoria crítica está presente.
  Sistema de ensino como violência simbólica: percebe a educação como 
um instrumento de discriminação social, na medida em que reforça 
e legitima a marginalização de um tipo de cultural e alguns grupos 
sociais. Um exemplo dessa marginalização está no fato deo Estado 
priorizar historicamente o ensino primário e profissionalizante para as 
classes trabalhadoras e o ensino secundário e superior para as classes 
mais abastadas. Esse sistema coloca em debate o conceito de “violência 
simbólica”, no qual os grupos de classes dominantes controlam a cultura 
considerada legítima e valorizada pela escola. Esse conjunto de conte-
údos é chamado de “capital cultural” por Bourdieu (1998). Apesar das 
críticas aos sistemas educacionais da época, não oferece sugestões de 
como transformar essa realidade e, por isso, é classificada por alguns 
autores como crítico-reprodutivista (SAVIANI, 2011).
7O currículo e suas concepções ideológicas
  Escola como aparelho ideológico do Estado: destaca que algumas 
instituições sociais auxiliam o Estado a manter a classe trabalhadora 
sob pressão e controle por meio de regras e valores diferentes daqueles 
que a classe dominante precisa seguir. Por isso, entende essas institui-
ções como aparelho repressivo do Estado (a polícia, os tribunais e as 
prisões) e como aparelhos ideológicos do Estado (a igreja, a mídia e a 
escola). Essa corrente ideológica também faz suas críticas à situação 
da escola, mas não apresenta sugestões para mudanças efetivas ao 
sistema educacional, sendo também considerada uma teoria crítico-
-reprodutivista (SAVIANI, 2011)
  Pedagogia libertária: com origem no movimento anarquista moderno, 
faz oposição a qualquer forma de governo que levante a bandeira da 
liberdade e igualdade para todos, partindo do pressuposto de que o povo 
deve autogerir-se a partir de suas próprias vontades e necessidades. 
Propõe uma nova organização social, em que a prática educativa fica 
identificada como prática social de formação do novo homem, preparado 
para a autogestão.
  Pedagogia libertadora: procede dos estudos de Paulo Freire (2005) a 
partir da análise das condições marginalizantes da sociedade brasileira 
e da alienação produzida por ela. Descreve e critica o modo de educação 
bancária e propõe a conscientização crítica da população pobre por 
meio da interpretação dos problemas sociais que a cercam e consomem.
  Pedagogia histórico-crítica ou crítico-social: propõe um currículo que 
favoreça o entendimento sobre a cultura universal, criado e incorporado 
pela humanidade ao longo do tempo. Entretanto, preocupa-se que esse 
conteúdo seja apresentado, contextualizado e debatido, de maneira a 
propiciar a autonomia e a liberdade das classes dominadas e oprimidas. 
O conhecimento científico deve ser trabalhado criticamente, de modo 
que os alunos compreendam como esse conhecimento é produzido, 
como organiza a sociedade e a quem interessa. Destacam-se também os 
debates sobre o currículo oculto, manifestado pelas relações sociais na 
escola, em que o poder é hierarquicamente concretizado entre professor-
-aluno, entre disciplinas e entre séries escolares. 
O currículo e suas concepções ideológicas8
Conheça um pouco mais sobre as três vertentes de pesquisa de Dermeval Saviani no 
campo educacional em sua entrevista para o programa Leituras Brasileiras acessando 
o link a seguir.
https://qrgo.page.link/1jNR1
Teoria pós-crítica
Para esta teoria, a subjetividade dos estudantes e dos professores é predo-
minante e, portanto, seu foco está nos sujeitos e nas diferenças. Para isso, 
engloba estudos de diferentes áreas do saber, como os culturais, fi losófi cos, 
antropologia, de gênero, entre outros, para explicar o que o sujeito é e poderá 
ser. Nessa teoria, as ideias fi xas e absolutas não têm espaço porque partem 
do pressuposto de que as relações humanas as modifi cam a cada instante. 
Por isso, não representa uma teoria concisa e unifi cada, mas um conjunto de 
várias perspectivas sobre diversos campos do saber.
Essa teoria debate as relações de gênero, raça, etnia, orientação religiosa e 
as desigualdades de classes sociais, apresentando um currículo multiculturalista 
no qual se destaca a diversidade das formas culturais do mundo contemporâneo. 
Segundo Silva (2017), o multiculturalismo não pode ser separado das relações 
de poder, pois é uma reivindicação dos grupos culturais minoritários que são 
obrigados as viver em um mesmo espaço e tempo com diferentes culturas, raças, 
etnias e nacionalidades, representando um importante instrumento de luta 
política (SILVA, 2017). O currículo deve promover nos alunos a compreensão 
de que o significado das coisas está nas relações de poder que lhe conferem 
valores positivos ou negativos, e não nas coisas em si. 
9O currículo e suas concepções ideológicas
Autores em destaque na teoria pós-crítica são: Michel Foucault (2009), Jean-François 
Lyotard (1986), Jean Baudrilhard (2005), Jacques Derrida (1991), Richard Rorty (1988) e 
Tomaz Tadeu da Silva (2017).
Veja, no Quadro 1, os principais termos veiculados pelas teorias curriculares.
Fonte: Adaptado de Silva (2017).
Tradicionais
Ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia, 
didática, organização, planejamento, eficiência, 
objetivos, ajuste, resultados, reprodução.
Críticas
Ideologia, reprodução cultural social, poder, classe social, 
relações de produção, capitalismo, conscientização, 
emancipação, currículo oculto, resistência, libertação.
Pós-críticas
Identidadade, alteridade, diferença, subjetividade, 
significação do discurso, saber-poder, representação 
cultural, gênero, raça, sexualidade, multiculturalismo.
Quadro 1. Palavras-chaves das teorias curriculares
Obviamente, nenhuma dessas teorias é infalível, exatamente pela própria 
simplificação que cada uma tende a usar para explicar as relações huma-
nas. Fazendo a leitura sobre essas teorias com o conhecimento que temos 
atualmente, é possível perceber pontos positivos e equivocados (ou não 
concretizados) em cada uma delas. No Brasil, as tendências curriculares 
que se sobressaem são a tradicional tecnicista (voltadas para a aprovação 
nos exames vestibulares e ENEM) e a críticas do currículo libertário e 
histórico-crítica (SAVIANI, 2011).
O currículo e suas concepções ideológicas10
2 Cultura e política curriculares
Sendo o currículo um documento complexo e cheio de intencionalidade, 
elementos como cultura e política fazem parte de sua elaboração de maneira 
inseparável. Embora seja algo comum e corriqueiro em todas as instituições 
educacionais, o currículo educacional guarda em si variados signifi cados 
e objetivos que podem ser observados quando avaliamos seu processo de 
elaboração.
Para Libâneo (2013), o currículo “o elemento nuclear do projeto pedagógico, 
é ele que viabiliza o processo de ensino e aprendizagem, [...] materializando 
intenções e orientações previstas no projeto em objetivos e conteúdos” que serão 
trabalhados durante o período escolar (LIBÂNEO, 2013, p. 169). Entretanto, 
esse conjunto complexo não é convertido dos documentos norteadores para 
as aulas na escola de maneira direta, mas sofre influências e se transforma 
enquanto segue de documento formal (com as diretrizes legais expedidas pelo 
Ministério da Educação) até o planejamento real do professor, guardando em 
si características ocultas durante a prática docente efetiva.
Confira, no Quadro 2, os três níveis de currículo destacados por Libâneo 
(2013).
Fonte: Adaptado de Libâneo (2013).
Currículo formal Currículo real Currículo oculto
Estabelecido pelas 
instituições de ensino, 
expresso nas diretrizes 
e normas prescritas 
pelas escolas, pelos 
municípios, estados 
e governo federal.
É a efetivação do que 
foi planejado pelas 
instituições por meio 
da prática do professor 
na sala de aula.
Expresso pelos valores 
culturais presentes 
nas relações que se 
estabelecem entre 
professor-aluno, escola-
família, aluno-aluno, etc.
Quadro 2. Níveis de currículo
11O currículo e suas concepções ideológicas
Sobre o currículo formal, Libâneo (2013) alerta que:
Primeiramente é razoável supor que o currículo tem sempre uma dimensão 
externa, ou seja, ele segue uma sequência que começa quase sempre na esfera 
política e administrativa do sistemaescolar, passa pelas crenças, significa-
dos, valores, comportamentos existentes na cultura, é retrabalhado pelos 
professores, até chegar aos alunos. Isso significa que ele está impregnado de 
influências sociais, econômicas, políticas, que precisam ser detectadas pelos 
professores, inclusive para que compreendam que estas influências limitam 
o poder de intervenção da escola (LIBÂNEO, 2013, p. 172-173).
Quanto ao currículo real, Libâneo (2013) destaca que a cultura particular 
de cada escola interfere na sua concretização, já que as relações entre gestão, 
professores, alunos e comunidade escolar sobre os valores propostos pelo 
currículo formal serão interpretadas e reescritas de acordo com as crenças e 
valores locais. Nessa oportunidade, a escola poderá exercer sua autonomia, 
reorganizando o currículo formal (ampliando, reduzindo ou mesmo o distor-
cendo), ou, então, trabalhá-lo exatamente de acordo com as determinações 
administrativas superiores (Secretaria Municipal de Educação, Secretaria 
Estadual de Educação, Ministério da Educação).
Há, ainda, o aprendizado não regulamentado, fora da intencionalidade 
proposta pelo currículo formal, que acontece por meio da “linguagem dos 
professores, as atitudes que tomam em relação às diferenças individuais dos 
alunos, o modo como os alunos se relacionam entre si, suas atitudes nas 
brincadeiras, e jogos, a higiene e limpeza das dependências da escola, etc.” 
(LIBÂNEO, 2013, p. 173). Esse é o chamado currículo oculto, que apresenta 
características intencionais ou não, às vezes conscientes, outras não.
A seguir, você vai conhecer as características mais detalhadas de cada 
concepção curricular. Tenha em mente as teorias ideológicas que perpassam 
a construção do currículo e a transformação que esse documento sofre desde 
sua elaboração formal até chegar às práticas em sala de aula.
Concepções de organização curricular
Seguindo as diretrizes teóricas e ideológicas curriculares, Libâneo (2013) 
lista possibilidades de concepção curricular. Como você confere a seguir, 
algumas concepções são bem marcadas por uma teoria específi ca, enquanto 
outras aparecem com características mescladas.
O currículo e suas concepções ideológicas12
  Currículo tradicional: seu viés religioso foi o modelo inicial de educa-
ção disseminado no Brasil pela Companhia de Jesus, desde a colonização 
até 1760, quando foi expulsa do país. Nele, o professor, o conteúdo e a 
disciplina recebem destaque, enquanto o aluno é considerado incapaz 
moral e intelectualmente, devendo armazenar, memorizar e reproduzir o 
conteúdo que lhe é apresentado de maneira fragmentada e descontextu-
alizada. Não são consideradas as diferenças e necessidades individuais 
dos alunos, já que o produto é mais importante que o processo, e isso 
se reflete na preferência pelas avaliações somativas. 
  Currículo racional-tecnológico (ou tecnicista): define-se pela metodologia 
técnica e objetiva, que procura desenvolver nos alunos habilidades impor-
tantes para o sistema de produção. O currículo é prescrito por especialistas, 
com conteúdos, objetivos e padrões de desempenho determinados — por 
isso a participação dos professores em sua elaboração é menor. A questão 
é “como” ensinar, com foco no desenvolvimento do saber-fazer. Uma das 
derivações dessa concepção é o currículo por competências, quando não 
engloba em suas metas o desenvolvimento atitudinal e cognitivo. 
  Currículo escola novista (ou progressista): baseado nas ideias de John 
Dewey, este currículo é centrado no aluno e coloca a educação como 
um processo interno de desenvolvimento e de constante adaptação ao 
meio. Assim, os conteúdos são organizados e apresentados por meio de 
experiências, como um elo entre a escola e a vida. O professor trabalha 
como facilitador da aprendizagem, observando e adequando as expe-
riências às necessidades, interesses e ritmo dos alunos. “Valoriza-se a 
atividade de pesquisa do aluno e o clima psicológico e social da escola 
e da sala de aula” (LIBÂNEO, 2013, p. 176).
  Currículo construtivista: está diretamente associado aos estudos de 
Jean Piaget, que privilegia a participação ativa do aluno em seu processo 
de aprendizagem. Para tanto, o currículo deve oportunizar atividades 
que estimulem a capacidade cognitiva e social dos alunos. O professor 
atua como organizador e facilitador da aprendizagem, que é subordinada 
ao processo de desenvolvimento cognitivo.
  Currículo sociocultural ou sócio-histórico: com base nos estudos de 
Vygotsky, destaca o papel da cultura na formação e no desenvolvimento 
dos alunos. A aprendizagem resulta na interação ente sujeito e objeto, 
mediada pelas relações sociais. Assim, as funções psicológicas superiores 
(linguagem, atenção, memória, abstração, percepção, capacidade de dife-
renciar e comparar, etc.) são internalizadas por meio das relações sociais.
13O currículo e suas concepções ideológicas
  Currículo sociocrítico (ou histórico-social): conta com mais de uma 
vertente, porém, todas convergem para a concepção de ensino como 
compreensão da realidade e das relações políticas adjacentes a ela, 
como forma de capacitar os alunos para transformar as relações de 
desigualdade social. Destaca especial atenção para os efeitos do currí-
culo oculto na formação social dos alunos. Metodologicamente, utiliza 
a problematização como meio de colocar o aluno como centro de seu 
processo de aprendizagem e desenvolvimento de autonomia.
  Currículo integrado (ou globalizado): destaca a interdisciplinaridade 
como forma de concretizar a inter-relação entre as disciplinas, promovendo 
a integração dos conhecimentos. Propõe experiências que facilitem a 
compreensão crítica e reflexiva sobre a realidade e se preocupa em de-
senvolver o aprender a aprender, como forma de compreensão sobre como 
se produzem, elaboram e transformam os conhecimentos. Metodologica-
mente, utiliza a pedagogia de projetos para oportunizar essa experiência 
globalizadora aos alunos, envolvendo muitas experimentações fora do 
ambiente da sala de aula. Enfatiza os processos de aprendizagem, mas sem 
ignorar a importância dos conceitos, das teorias e dos conteúdos culturais.
  Currículo como produção cultural: opõe-se às teorias do consenso, 
criticando a maneira como os conteúdos escolares são construídos. 
Defende que os conflitos e as discordâncias com a realidade são a 
chave e as condições para a mudança social. A cultura é vista como 
produção política e cultural, que ocorre a todo momento, de modo que 
a diversidade cultural e as diferenças devem participar ativamente. 
Por isso, desacredita os currículos disciplinares prontos utilizados 
atualmente, propondo uma transição da ênfase no social para o cultual. 
Seu discurso promove o multiculturalismo e as políticas de integração 
das minorias sociais, étnicas e cultuais ao processo de escolarização. 
Além disso, denuncia a escola como reprodutora da estrutura social. 
Vale lembrar que a Resolução nº. 4 de 13/07/2010, que define as Diretrizes 
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, aponta em seu artigo 
9º, inciso II, que: 
[...] a escola de qualidade social adota como centralidade o estudante e a apren-
dizagem, o que pressupõe atendimento a, [...] consideração sobre a inclusão, 
a valorização das diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade 
cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações de cada comunidade 
(BRASIL, 2010, documento on-line).
O currículo e suas concepções ideológicas14
Apesar disso, ainda é possível perceber como o ensino da suposta su-
premacia de uma cultura sobre outra ainda esta presente no ideário popular.
A cultura viking engloba em sua religião várias divindades, como Thor, Odin e Loki, 
entre outros. Além disso, a mitologia desse povo também cita anões, duendes e elfos 
e é alvo de curiosidade e homenagens na indústria cinematográfica. Entretanto, a 
cultura africana, que também conta com diversas divindades, denominadas orixás, 
normalmente tem um statusmenor, sendo alvo de intolerância e até mesmo de 
violência. A diferença na aceitação entre os dois grupos de divindades fica ainda 
mais constrangedora quando encaramos o fato de que o povo africano faz parte da 
formação do povo brasileiro de uma maneira muito mais intensa do que a nórdica, que 
representa os vikings. Portanto, era de se esperar que a cultura africana e sua religião 
fossem incorporadas à nossa identidade de maneira mais natural e efetiva. 
Tipos de currículo
Para entender os tipos de currículo, é preciso destacar o posicionamento teórico 
sobre o papel da educação e do ensino na sociedade e para os indivíduos, 
como se percebe a relação entre currículo e prática, qual é a crença sobre 
conhecimento e ensino, entre outras características que se referem ao ensino 
formal. A partir da análise desses valores, podemos listar os tipos de currículo 
de acordo com as características mais proeminentes em dois grandes grupos: 
currículos abertos e currículos fechados.
  Currículo fechado:
 ■ disciplinas isoladas, grade escolar;
 ■ professores devem seguir os objetivos e conteúdos prescritos;
 ■ não se consideram os saberes e competências docentes, que não 
participam da elaboração do currículo.
  Currículo aberto:
 ■ integração entre as disciplinas;
 ■ flexibilidade na definição de objetivos e conteúdos;
 ■ participação ativa dos professores na elaboração das propostas.
15O currículo e suas concepções ideológicas
3 Conhecimento, ensino e poder
Antes de qualquer coisa, você precisa ter em mente que as teorias curriculares 
refl etem a ideologia dominante, o surgimento do que podemos chamar de 
escolarização, ou seja, a ideologia liberal burguesa da sociedade capitalista 
europeia. Assim, essas teorias refl etem o pensamento e os interesses da classe 
dominante nas relações que desenvolvem com os demais participantes da 
sociedade. 
O surgimento das teorias pedagógicas e curriculares também está ligado a 
um contexto histórico específico, no qual um determinado grupo social tinha 
um papel revolucionário, que modifica a história geral da humanidade. As 
diferentes concepções sobre como se desenvolve o currículo e os objetivos para 
os quais a educação deve servir partem de diferentes concepções de homem 
e de sociedade desse contexto histórico. 
As teorias sobre o currículo se diferenciam pela visão que têm sobre a neutralidade 
da organização escolar e dos conteúdos escolhidos para o ensino, sobre a natureza 
humana, a aprendizagem, o conhecimento, a cultura, o sistema econômico, as de-
sigualdades sociais e a formação da própria sociedade. Por isso, essas concepções 
norteiam as diretrizes de formação docente e interferem na prática cotidiana de 
todos os professores, estejam eles conscientes disso ou não (GIMENO SACRISTÁN, 
2013; SAVIANI, 2011; SILVA, 2017).
Para saber mais sobre a sociologia do currículo, acesse o link a seguir.
https://qrgo.page.link/FC5s7
Questões como a razão para que se educam formalmente as novas gerações 
ou qual a concepção de homem que norteia a teoria curricular trazem em si 
significados e sentidos locais e globais, movimentando continuamente “dúvi-
das” e “certezas” sobre as respostas obtidas. O desconforto causado por esses 
questionamentos leva ao movimento constante de observação, investigação, 
análise, discussão e pesquisas na área da educação. Mesmo que a escola não 
seja de fato uma reprodutora das desigualdades da sociedade, não se deve 
O currículo e suas concepções ideológicas16
ignorar o poder que esse sistema certamente tem a seu favor para que estratégias 
possam ser mais elaboradas e colocadas à disposição para experimentação.
Cabe destacar que cada uma das teorias curriculares retratadas têm pontos 
positivos e negativos, levados pela intencionalidade de formação humana 
que guardam em si. Assim, cada uma dessas teorias espera formar um tipo 
diferente de cidadão e de sociedade, com maior ou menor aproximação com 
a que já temos.
É importante ressaltar que nenhuma teoria pedagógica ou do currículo é 
neutra e apartada de sua perspectiva histórica e cultural. Por isso, todas as teo-
rias estão ligadas a uma ideologia, e é imprescindível que todo educador saiba 
disso, para que desenvolva a consciência de que o trabalho docente também 
sempre está em uma luta ideológica no campo da educação. Compreendendo 
isso, o educador poderá fazer escolhas coerentes com sua pretensão sobre a 
educação e sua prática efetiva.
A pedagogia tradicional foi a primeira a influenciar de modo decisivo 
os primeiros sistemas nacionais de ensino público na Europa e na América 
do Norte no começo do século XIX. Nesse contexto, a escola pública, laica, 
universal, gratuita e obrigatória foi eleita como possível instrumento de conso-
lidação do sistema capitalista e também do caráter nacional pretendido naquela 
época. Na escola, o papel do professor é direcionado para sanar a ignorância 
da população por meio da transmissão dos conhecimentos acumulados pela 
humanidade e sistematizados logicamente. Segundo Saviani (2008), nessa 
proposta, o conhecimento é fundamental para (re)introduzir o sujeito na so-
ciedade capitalista e no projeto liberal da construção da democracia. 
O movimento de resistência a esse modelo, segundo Saviani (2008), é 
denominado pedagogia da Escola Nova. Nessa proposta de ensino, a escola 
procura articular o ensino com o desenvolvimento da ciência, de modo que o 
aprender a aprender se torna o norteador das práticas pedagógicas, sistemati-
zando o aprender como uma técnica científica (SAVIANI, 2008).
Pouco tempo depois, o tecnicismo no Brasil aparece como um movimento 
com forte influência dos EUA e ganha força após golpe militar de 1964. 
Partindo da crença na neutralidade científica, na eficácia da técnica, na efici-
ência e na produtividade, o movimento busca transformar a educação em um 
processo objetivo e operacional (SAVIANI, 2011). No contexto escolar, essa 
caracterização se faz presente na ampliação da burocratização, na comparti-
mentalização de cada disciplina, na disseminação dos estudos dirigidos e no 
modelo dos questionários para a memorização dos conteúdos pelos alunos. 
Veja, no Quadro 3, alguns dos desdobramentos das teorias pedagógicas.
17O currículo e suas concepções ideológicas
Pedagogia tradicional
Pedagogia da 
Escola Nova
Tecnicismo
Racionalização do 
trabalho pedagógico: 
preparação, 
apresentação, 
assimilação e 
comparação, 
generalização 
e aplicação.
Levantamento de 
problemas, hipóteses 
e experiência para 
confirmar ou refutar as 
hipóteses e aprender.
Domínio da técnica, 
prática pedagógica 
altamente controlada e 
dirigida pelo professor 
com atividades 
mecânicas para 
aprender a fazer.
 Quadro 3. Desdobramentos das teorias pedagógicas 
As teorias críticas ganham espaço com o fracasso das anteriores em pro-
mover uma educação de qualidade. A teoria crítico-reprodutivista, embora 
não tenha uma proposta para acabar com o fracasso escolar produzido pelas 
teorias anteriores, faz duras críticas a elas e coloca o fracasso do aluno como 
o verdadeiro sucesso da escola transformada em aparelho reprodutor das 
desigualdades sociais fomentadas pelo sistema capitalista. 
Dessa maneira, as práticas de dominação e exploração repetidas pela escola 
têm sua gênese na desigualdade social e na supremacia da classe dominante 
sobre as demais (SAVIANI, 2008). Assim, as características principais dessas 
teorias são a teoria do sistema de ensino como violência simbólica e a teoria 
da escola como aparelho ideológico do Estado. 
A partir das contribuições dessas teorias, surgem as críticas ao sistema 
capitalista, mas sem as proposições de alternativas para desmontar a situação 
educacional imposta. Ao contrário, segundo Saviani (2008), o que ocorreu foi 
a desmotivação diante da sensação de incapacidade da escola em modificar a 
sociedade. No entanto, apesar do caráter reprodutivista, essas teorias permi-
tiram o surgimento de outras proposições comprometidas com o rompimento 
do papel daescola dentro do sistema capitalista, como a pedagogia libertária, 
a pedagogia libertadora e a pedagogia histórico-crítica.
A pedagogia libertária surge da oposição do movimento anarquista moderno 
a toda forma de governo que pretenda promover a liberdade e a igualdade 
para todos. Isso porque o anarquismo parte do princípio de que o povo deve 
O currículo e suas concepções ideológicas18
estar consciente de suas necessidades para se autogerir e que a educação deve 
garantir ao povo essa capacidade de autogestão.
A pedagogia libertadora é concebida pela análise de Paulo Freire (2005) 
sobre as condições sociais brasileiras que marginalizam a classe trabalhadora e 
de baixo poder aquisitivo. Freire (2005) cria o termo educação bancária para 
caracterizar o ensino que tem como objetivo depositar informações na cabeça 
dos alunos para depois sacá-las nas avaliações, sem que esses conhecimentos 
tenham feito alguma diferença no empoderamento desses alunos. Assim, o 
autor propõe o uso da interpretação dos problemas sociais como meio para a 
conscientização crítica da população pobre.
A pedagogia histórico-crítica parte da análise dos problemas da educação 
brasileira ao longo da história do país a partir da década de 1970 e discute as 
possibilidades de a escola romper com o sistema vigente, partindo da filosofia 
marxista e dos conceitos da teoria psicológica histórico-cultural de Vigotski. 
De acordo com Saviani (2011), a produção humana capitalista se divide em 
duas vertentes: a material, baseada no marxismo, que trata da fabricação de 
produtos físicos e palpáveis, e a não material, ligada à produção do mundo 
das ideias e valores e na qual a escola se encontra.
Para a pedagogia histórico-crítica, a educação tem o dever de garantir a 
apropriação do conhecimento sistematizado historicamente pela humanidade 
pelas novas gerações. O professor precisa conhecer o que o aluno já sabe 
para ensinar aquilo que ele ainda não sabe, ampliando suas possibilidades 
de conhecimento e de ação. Precisa, além disso, saber qual é a dimensão de 
seu trabalho para a formação das novas gerações e as consequências dessa 
educação na formação da sociedade.
Concluindo, fica muito claro como a escola tem a capacidade de influenciar 
as práticas culturais e as relações sociais vigentes, influenciando inclusive a 
organização econômica. O currículo tem a função de mostrar aos estudantes os 
conhecimentos já elaborados e acumulados pela humanidade, mas também acaba 
naturalizando algumas relações, crenças e valores. Dessa forma, ao acompanhar 
determinados conteúdos por tantos anos de escolarização, os estudantes absorvem 
maneiras específicas de pensar que podem fazê-los aceitar a organização social 
tal qual se mostra atualmente, como uma realidade imutável e natural. Em outra 
hipótese, os assuntos apresentados pelo currículo podem dar aos estudantes o 
poder de analisar os sistemas de desigualdades que temos na sociedade atual, 
promovendo sua reorganização de maneira mais justa e equitativa.
19O currículo e suas concepções ideológicas
Todo esse poder de transformação social ou de manutenção do que já se 
tem faz da escola uma instituição que merece que seus currículos e objetivos 
sejam debatidos pela sociedade em prol de um bem-estar de maior amplitude 
social. Afinal, a própria sociedade deve ter o direito e a responsabilidade para 
decidir qual currículo formará as novas gerações. 
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21O currículo e suas concepções ideológicas
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cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
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O currículo e suas concepções ideológicas22
PORTFÓLIO 
ATIVIDADE
No intuito de se obter uma melhor compreensão do que seja currículo educacional, faz-se 
necessário compreender o percurso percorrido para sua execução. Portanto, enfoca-se aqui as 
teorias e principais ideologias que influenciam a construção de um currículo, suas principais 
questões e como as mesmas interferem em nossa prática. 
Percebemos que a educação pode ser visualizada sob várias perspectivas, entendendo que o 
currículo é repleto de intenções e significados, que abarca relações de poder, tempo e espaço,que exerce ação direta ou indireta na formação e desenvolvimento do aluno e que é 
determinante no resultado educacional que se produzirá.
Com base no exposto, faça um relato e descreva sua opinião sobre a importância do currículo.
OBS: Para redigir sua resposta, use uma linguagem acadêmica. Faça um texto 
com no mínimo 20 linhas e máximo 25 linhas. Lembre-se de não escrever em 
primeira pessoa do singular, não usar gírias, usar as normas da ABNT: texto com 
fonte tamanho 12, fonte arial ou times, espaçamento 1,5 entre linhas, texto 
justificado.
PESQUISA 
AUTOESTUDO
O modelo dominante de currículo em diversas partes do mundo tem sido um estilo "técnico" e 
gerencial de planejamento racional fins-meios que busca por objetivos comportamentais-
instrucionais.
Com base no descrito acima, responda:
A qual currículo o texto se refere?
Dê exemplos de sua aplicação na atualidade.
N

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