Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 5 INOVAÇÃO ABERTA E REDES COLABORATIVAS PARA INOVAÇÃO CONVERSA INICIAL Olá! Seja bem-vindo(a) a nossa etapa! Nela, vamos abordar a temática da cultura da inovação. A tecnologia modificou a vida do ser humano, a forma de ele se relacionar e de trabalhar. Profissões que antes existiam não existem mais. Fica a pergunta: no que iremos trabalhar, futuramente? Não temos a resposta, mas sabemos que a criatividade ainda é uma das capacidades exclusivas do ser humano. Nesta etapa, você estudará os seguintes cinco tópicos: 1. A tecnologia, o ser humano e a inovação; 2. Cultura da colaboração e da inovação; 3. Habilidades para pensar diferente; 4. Aspectos limitantes da criatividade; e 5. Desenvolvendo sua fábrica de ideias. TEMA 1 – A TECNOLOGIA, O SER HUMANO E A INOVAÇÃO Observamos que as mudanças sociais e comportamentais são influenciadas diretamente pela tecnologia. Vivemos a era da indústria 4.0, do marketing 5.0, da internet que já é 5G... Em suma, estamos assustados com o avanço acelerado da tecnologia. Se olharmos as transformações no modo de vida nos últimos séculos, identificamos que a Revolução Industrial foi o grande divisor de águas na história. Veja, a seguir, alguns pontos importantes que aportaram essas tantas mudanças nas nossas vidas. • A Primeira Revolução Industrial (1.0) aconteceu no final do século XVIII, na Inglaterra, com o surgimento das primeiras máquinas a vapor e locomotivas. A produção industrial começou a mudar a vida das pessoas, por meio da área têxtil, pelo tear, pois antes tudo era produzido manualmente. Essas mudanças causaram impacto na sociedade: a população, que em grande parte vivia na área rural, começou a se mudar para a cidade, buscando emprego nas indústrias. O homem se adaptou à máquina, perdendo o controle do seu tempo e não conhecendo mais o processo produtivo por inteiro, tendo conhecimento somente de uma parte dele, conforme apresentado no filme Tempos modernos (1936), de Charles 2 Chaplin, disponível em: <https://www.youtube.com/watch? v=fCkFjlR7- JQ>. Acesso em: 3 nov. 2022 • A Segunda Revolução Industrial (2.0) remonta ao final do século XIX e início do século XX, com o surgimento da eletricidade, nas linhas de produção. Os pensadores Frederick Taylor e Henri Fayol (considerados pais da administração) formularam então as características e as funções de uma administração eficiente. Henry Ford desenvolveu métodos para aumentar a produtividade com base na esteira utilizada numa linha de montagem. Nesse período, aumenta o uso de derivados de petróleo e, consequentemente, a oferta de bens de consumo. Dica: para aprofundar o seu conhecimento acerca dessa etapa da história, assista ao filme Ford: o homem e a máquina (1987), disponível em: <https://www.youtube.com/watch? v=WQIz665YEHY&t=14s>. Acesso em: 3 nov. 2022 • A Terceira Revolução Industrial (3.0) chega na década de 1970, por intermédio da invenção do computador, da internet, da eletrônica, da informática, do satélite de transmissão e da robótica, que, gradualmente, iniciam mudanças profundas no mundo do trabalho. Algumas profissões começam a desaparecer. Como dica de aprendizado sobre esse momento, assista ao vídeo disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=QbuAC-bq8KY> (3a Revolução, 2020. Acesso em: 3 nov. 2022). • A Quarta Revolução Industrial (4.0), também conhecida como indústria 4.0, perfaz a era da robotização, causando impacto no mercado de trabalho, tornando os espaços fabris autônomos, por meio de tecnologias como big data, internet das coisas (IoT), drones, inteligência artificial (IA), entre outras. Os robôs desempenham, a partir de então, funções que antes eram realizadas exclusivamente pelas mãos humanas. Para conhecer mais a respeito dessa fase, assista ao vídeo disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=c-JXF_CcpL4> (O que é, 2022. Acesso em: 3 nov. 2022). 1.1 Curiosidades sobre o mundo novo Fascioni (2021, p. 11) apresenta algumas curiosidades sobre as mudanças na sociedade, no chamado Mundo Novo. Essas mudanças são consequências da 3 inovação, que interfere diretamente em nosso cotidiano. Dentre essas curiosidades, dentre as quais apresentamos algumas a seguir, o interessante é percebermos o quanto de inovação ainda pode ser gerado. • Há 52% da população da Nigéria com menos de 15 anos de idade, assim como 40% da população da África Subsaariana. • Na Índia e na China, mais da metade da população tem menos de 25 anos de idade. • O Japão e alguns países europeus envelhecem rapidamente (com aumento da expectativa de vida e redução da natalidade). • Cerca de 6 bilhões de horas de vídeo são assistidos todos os meses, no YouTube. • Em 2014, mais de 1 trilhão de fotos foram tiradas. • Pesquisas mostram que há mais smartphones do que escovas de dente, no planeta. Algumas dessas informações são, no mínimo, pitorescas. Em um primeiro momento, temos resistência a alguns dados. Entretanto, o objetivo de Fascioni (2021) é nos mostrar que as transformações não param. Ela relata ainda que, ao final de 2020, quase 30% da população do Japão tinha mais de 65 anos de idade e robôs eram desenvolvidos para cuidar desses idosos ou de pessoas com mobilidade reduzida, em atividades como organização de suas casas e controle do horário de tomar remédio (Fascioni, 2021, p. 11). Por meio da IA, já é possível programar robôs para conversar com idosos ou doentes, diminuindo inclusive a sua sensação de solidão. 1.2 E o ser humano? E as profissões? Ao observarmos esse cenário, fica a dúvida sobre qual tipo de profissão o ser humano poderá realizar, visto que a robotização está se infiltrando nas mais diversas áreas. Profissões que antes eram consideradas promissoras, como ser caixa de banco, quase não existem mais – as pessoas se adaptaram e reconhecem a agilidade do uso do caixa automático. Ocupações como as de frentistas, ascensoristas, cobradores e motoristas de ônibus, caixas de supermercado tendem a desaparecer com os avanços da tecnologia e o uso dos algoritmos. Fica a dúvida: no que as pessoas irão trabalhar? 4 Segundo Daugherty e Wilson (2018, citados por Fascioni, 2021), há uma interseção entre as atividades humanas e as das máquinas, que os autores chamam de o meio perdido, conforme a Figura 1. Figura 1 – Interseção entre atividades dos humanos e das máquinas dos HUMANOS das MÁQUINAS ATIVIDADES Criar Liderar Julgar Empatizar Fonte: Elaborado com base em Fascioni, 2021. Iterar Predizer Adaptar Transacionar Assim, por esse esquema, aos humanos ficará a incumbência de fazer atividades que demandem cognições cerebrais. A criatividade, nisso, se destaca, sendo ela a capacidade de criar, de produzir, de imaginar algo novo e diferente. TEMA 2 – CULTURA DA COLABORAÇÃO E DA INOVAÇÃO Vivemos em constantes mudanças, num mundo de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade – mundo Vuca. Esse termo surgiu no período pós- Guerra Fria, na década de 1990, quando o exército americano começou a usar a expressão para se referir a possíveis cenários e contextos de guerra (Rabello, 2022). O sociólogo Zygmunt Bauman (2001), por sua vez, cunhou a expressão modernidade líquida para fazer referência a um mundo em que tudo pode mudar, pois o líquido (como a água) se adapta a sua embalagem e cabe a nós estarmos preparados para nos adaptarmos e sobrevivermos às constantes mudanças da atualidade. 5 MEIO PERDIDO = humanos e máquinas Figura 2 – Vuca Crédito: Dmitry Demidovich/Shutterstock. A resolução dos problemas, nessa nova realidade do mundo Vuca, demanda criatividade e espírito de colaboração. Um grupo colaborativo de sucesso é marcado por algumas características, tais como uma c,omunicação clara e assertiva, com foco no resultado desejado. O processo de resolução dos problemas deve ser eficiente, com o máximo de aproveitamento do tempo e manifestação das discordânciasde maneira objetiva e respeitosa. Há uma consciência coletiva de que o erro é uma possibilidade presente no processo de aprendizagem, evitando-se críticas não construtivas. A confiança no trabalho da equipe permite a entrega de um resultado de qualidade (Bezerra et al., 2010). As equipes colaborativas podem ser desenvolvidas e incentivadas por meio de rotinas e com uma boa liderança, conforme estas orientações (Colaboração, 2021). • É necessário fomentar a colaboração como valor essencial da equipe, reduzindo o espírito de competitividade e individualidade. • Estabelecer um plano de comunicação na equipe ajuda a reduzir ruídos e inseguranças. Estimular uma comunicação aberta e assertiva, mesmo que diante das diferenças, cria uma coesão na equipe. 6 • A cocriação é uma característica da equipe colaborativa, com troca de ideias, diálogos e espaço para a discordância. Erros e divergências devem ser respeitados. Quando o erro é punido, a criatividade é reprimida, o medo impera. • A liderança é o primeiro exemplo da colaboração. Um líder colaborativo desenvolve, por meio do seu exemplo, uma equipe colaborativa. • Fortalecer vínculos fora do trabalho estimula a colaboração e o desenvolvimento de um espírito de equipe. Conhecer um pouco mais a vida do colega permite uma comunicação mais fluida e assertiva. • Valorizar o trabalho já realizado pelas equipes de sucesso estimula outros membros a atuarem colaborativamente. • Deve-se ter flexibilidade e respeito com as diferenças e demandas de cada membro da equipe, fortalecendo que o importante é o resultado. Uma equipe colaborativa, de alto impacto, tem um potencial enorme para criar e desenvolver inovações que ofereçam valor agregado para a organização. Segundo Chiavenato (2014, p. 345), “Criatividade significa a aplicação da imaginação e da engenhosidade para proporcionar uma nova ideia, uma diferente abordagem ou uma solução para um problema”. TEMA 3 – HABILIDADE PARA PENSAR DIFERENTE Harry Gordon Selfridge é o visionário fundador da loja de departamento Selfridge, ambientada em Londres no início do século XX. Na Inglaterra, a loja representa o início de uma nova forma de fazer compras, na qual o cliente pode tocar e escolher os produtos (até aquela época, o vendedor ficava atrás do balcão, mostrando para os clientes os produtos que esses queriam ver). A Selfridge inova ainda com o conceito das grandes vitrines: a população aguardava com expectativa a troca dos seus layouts temáticos. A história dele e do surgimento da loja é contada no seriado Mr. Selfridge (2013-2016). Além disso, a frase O cliente sempre tem razão também é atribuída a Harry Gordon Selfridge. Mr. Selfridge foi um visionário para a sua época: teve habilidade de pensar diferente. Foi ousado, acreditou no seu sonho e levou outros a acreditarem no mesmo sonho. Além dele, a história nos mostra que houve outros visionários1 1 No livro Os visionários: homens que mudaram o mundo através da tecnologia, o jornalista Orlando Barrozo (2011) traça um perfil detalhado dos personagens mais importantes da história do mundo tecnológico. 7 como Bill Gates, o visionário e milionário da Microsoft; Steve Jobs, fundador da Apple; Jeff Bezos, fundador da Amazon; Mark Zuckerberg, criador do Facebook; e Elon Musk, fundador da SpaceX. O que essas pessoas têm de diferentes? O que elas costumam fazer para pensarem fora da caixa? Segundo Fascioni (2021), a criatividade é uma prática diária. É fato que algumas pessoas têm mais predisposição para inovar que outras, mas todos somos criativos. Segundo a autora, o problema é que a maior parte das pessoas costuma pensar no modo automático, ou seja, pensando como os outros, fazendo diariamente da mesma maneira o que todo mundo já faz. Ao passo que especialistas como Fascioni (2021) afirmam que, para se ter uma grande ideia, é necessário ter muitas, mas muitas ideias antes dessa grande ideia: para se resolver um problema, em geral as primeiras 20 ideias são as mais óbvias, e as próximas 50 ideias serão sensacionais, das quais as últimas 20 serão extraordinárias. As pessoas não têm paciência e persistência para alcançar algo maior e se encantam pelas primeiras ideias, pois são as mais fáceis e práticas. Porém, somente depois que seu cérebro estiver exausto, com uma combinação de repertórios2, é que as ideias verdadeiramente inovadoras, contudo, aparecerão. Quantidade é importante para a qualidade Estudos confirmam o que já se sabia: quantidade é muito importante. Não é possível ser excelente sem produzir bastante. Para gerar algumas dezenas de obras-primas, Mozart compôs mais de 600 peças, antes de morrer aos 35 anos; Beethoven produziu 650 peças e Bach, mais de 1000. O acervo de Picasso inclui 1800 pinturas, 1200 esculturas, 2800 cerâmicas e 12 mil desenhos, sem mencionar tapeçarias e outros experimentos. Einstein publicou 248 manuscritos, mas pouquíssimos tiveram realmente impacto. O psicólogo Dean Simonton descobriu que as obras primas surgem nos períodos de mais produtividade. Thomas Edison tem 1093 patentes registradas, mas menos de uma dezena foi realmente revolucionária. Ele diz que muitas pessoas não são originais porque geram poucas ideias e se contentam em refinar obsessivamente as primeiras. Estudos do psicólogo concluíram que são necessárias, no mínimo, 25 ideias para chegar a uma original. (Fascioni, 2021, p. 132) Ter conhecimento em áreas diversas, sobretudo outras práticas culturais, ajuda a desenvolver novas ideias. Grant (2017, citado por Fascioni, 2021), por meio de uma pesquisa, mostrou que os vencedores de Prêmio Nobel costumam 2 Fascioni (2021) lembra que a nossa criatividade usa os ingredientes que já temos em nosso repertório – tudo aquilo que já aprendemos, vivenciamos ou sentimos. Se tivermos poucos elementos nesse repertório, a nossa capacidade de fazer uma análise combinatória para criar algo realmente inovador será fraca. “Não dá para fazer 20 pratos criativos usando apenas arros, feijão e bife.” (Fascioni, 2021, p. 122). 8 ter hábitos relacionados a desenho, pintura e escultura com uma frequência sete vezes maior que a maioria dos cientistas. 3.1 Os desafios de um iconoclasta O primeiro desafio para ser criativo é entender o conceito da palavra iconoclasta, que significa destruidor de ícones. Iconoclastia é o nome do movimento político-religioso que iniciou no Império Bizantino no século VIII e que rejeitava a veneração de imagens religiosas por considerar o ato como idolatria. No ano de 730, após o édito publicado por Leão III que proibia a veneração de ícones e ordenava a destruição de imagens, os membros da iconoclastia destruíram milhares de ícones religiosos. As destruições cessaram em meados do século IX. (Significado, [20--]) Mas, qual a relação desse movimento com a inovação, na atualidade? O neurocientista Gregory Berns (2008, citado por Fascioni, 2021) foi quem trouxe esse conceito para a contemporaneidade. Segundo ele, um iconoclasta é uma pessoa incomum, que interpreta de modo distinto a realidade, fazendo e realizando o que o senso comum considera impossível. Por essa percepção, os iconoclastas são pessoas inovadoras, que mudam o mundo, diferentes da média. Segundo Berns (2008, citado por Fascioni, 2021), o cérebro de um iconoclasta preconiza três capacidades que o distinguem. 1. Percepção: os iconoclastas adoram alimentar seus cérebros com informações novas, sem rotular as coisas, sem cair na tentação de se acomodarem e fazerem o que todos já fazem. 2. Inteligência social: ser criativo e destemido não é o suficiente para o sucesso. Um iconoclasta precisa saber vender suas ideias, ter uma boa rede de contato, que o torne conhecido pelo seu trabalho e pela capacidade de impactar os outros, com as suas opiniões. 3. Resposta ao medo: o medo é um sinal de inteligência do nosso cérebro, de proteção. Os iconoclastas também sentem medo, porém pensamde maneira diferente para encontrar uma solução para seus problemas, não se deixando dominar pelo medo. Conforme disse Henry Ford (citado por Fascioni, 2021, p. 124): “Quem teme o futuro, quem teme o fracasso, limita suas atividades. O fracasso é somente a oportunidade de começar de novo, com inteligência redobrada. Não há vergonha em um fracasso honesto; há em temer fracassar”. 9 TEMA 4 – ASPECTOS LIMITANTES DA CRIATIVIDADE É comum falarmos sobre as ações que estimulam a criatividade. Entretanto, é necessário falar como fomos preparados (ou não) para desenvolver a criatividade. As crianças criam, ousam e inovam com muita facilidade: para elas, um cabo de vassoura vira um cavalinho de pau! Quando crescemos, temos vergonha do ridículo ao tentar criar algo diferente. Tememos a risada dos outros. Buscamos certezas e afirmações, verdades únicas. E, nesse terreno, a criatividade não tem muito espaço para se desenvolver. Muitas vezes, bloqueamos nossa criatividade com frases negativas interiorizadas, como não posso, não consigo, isso não vai dar certo – expressões como essas são inimigas da criatividade! É fato também que nosso cérebro tem certa resistência ao novo, pois toda mudança exige sairmos das nossas zonas de conforto. Então, às vezes os grandes inimigos da inovação somos nós mesmos. Há outros fatores, como uma educação repressora, que não permite o erro e a dúvida, bloqueando toda a capacidade de inovação. A sociedade, a escola e as organizações criam um ambiente pouco favorável para a criatividade, gerando um bloqueio cultural. Além dos fatores citados, Monteiro Jr. (2011) elenca ainda algumas outras características que bloqueiam a criatividade. • Adaptação aos padrões impostos pela sociedade para se ser aceito. As pessoas têm medo de inovar para não passar pelo ridículo, de ser julgado e não ser aceito pelo grupo a que pertencem. • Ênfase aos aspectos práticos e econômicos – a sociedade tem urgência, tudo é para ontem! A pressão por respostas rápidas a uma demanda não permite tempo de criar e desenvolver algo novo. • Polidez excessiva, ou medo do cancelamento, é uma característica da sociedade atual que limita a curiosidade ou mesmo a elaboração e difusão de perguntas e reflexões intrigantes, que não são bem-vistas nas empresas e na sociedade. • Competição ou cooperação excessiva prejudicam a criatividade. Deve haver um equilíbrio entre o trabalhar em equipe e sozinho, para que haja espaço criativo. 10 • Razão e lógica: a burocracia e os processos são importantes no mundo capitalista e nas empresas; entretanto, elas não dão espaço para a criatividade, a aderência à fantasia e à inovação. • Procrastinação para colocar uma ideia em prática – muitas pessoas têm ideias criativas maravilhosas, mas não as executam pois aguardam alguma situação perfeita para fazê- lo, tal como: ter tempo, ter dinheiro ou mesmo a economia melhorar... E isso pode nunca acontecer! Então, lembre-se: antes o feito do que o perfeito que nunca se concretiza! Domenico De Mais, professor de Sociologia do Trabalho, na Universidade de Roma, lançou em 1995 o livro O ócio criativo. Nele o autor defende a teoria que o excesso de trabalho mata a criatividade e que a situação ideal é a do ócio criativo, possível apenas quando trabalho, estudo e jogo coincidem. Segundo o autor o ser humano deveria dedicar mais tempo a atividades que levassem a satisfação de necessidades pessoais não influenciadas pela sociedade de consumo, tais como a contemplação serena, as atividades lúdicas e o convívio com outras pessoas. (Monteiro Jr., 2011, p. 44) Os bloqueios da criatividade são intrínsecos a cada indivíduo, fazendo acreditar que não somos capazes de agir para alcançar determinados objetivos, isso bloqueando nossas habilidades e emoções. Predebom (2013) também apresenta algumas características que podem bloquear a criatividade, tais como os que se seguem. • Acomodação: caracteriza-se por se manter a rotina confortável, evitando desafios e situações desconhecidas, causando imobilismo. • Miopia estratégica: também pode ser caracterizado pela falta de humildade. O contato com outras pessoas e a troca de experiências favorece a criação de ideias; porém, para isso, é necessário ter humildade e se estar disposto a ouvir a contribuição dos outros. • Imediatismo: o posicionamento simplista de se ir direto ao ponto limita a visão sobre detalhes que impedem uma visão mais criativa. • Insegurança: o medo é o grande inimigo da criatividade. É normal o medo do novo, o medo da rejeição; temos necessidade de aprovação, e esse sentimento normalmente é decorrente da insegurança e da baixa autoestima. • Pessimismo: caso da famosa frase não vai dar certo. A resistência à mudança e a falta de flexibilidade impedem o melhor desenrolar de um processo criativo. 11 • Desânimo: a falta de motivação, muitas vezes causada pelo cansaço e pela sobrecarga de atividades, também impede a criação. • Dispersão: a falta de um bom gerenciamento do tempo nos impede de atender aos projetos de fato importantes, visto que com isso passamos a resolver sempre as demandas urgentes, procrastinando projetos criativos e inovadores. Thomas Edison ficou marcado por ser o inventor da lâmpada incandescente, sendo o responsável também por uma série de outras invenções importantes, sendo a mais famosa a lâmpada incandescente em 1879. Certa vez alguém lhe perguntou: “Thomas Edison, como você se sente em ter errado centenas de vezes até chegar à fórmula da lâmpada incandescente?”, e ele respondeu: “Eu não errei centenas de vezes. Eu descobri centenas de fórmulas de como não se fazer uma lâmpada!”. (Silva, [S.d.]) TEMA 5 – DESENVOLVENDO SUA FÁBRICA DE IDEIAS Observamos que todos nascem criativos e que a sociedade nos molda em sentido contrário: ficamos com medo do ridículo, temos necessidade de ser aceitos, muitas vezes escondemos e guardamos nossa criatividade... Depois, descobrimos que a criatividade é muito importante para nossa vida profissional e que algumas ações estimulam a nossa criatividade. Nesta etapa, vamos abordar algumas técnicas que ajudam a liberar a nossa criatividade escondida. Vale lembrar que o cotidiano é realizado nas suas rotinas e processos, que o objetivo é sempre ganhar tempo, que o nosso cérebro se adapta rapidamente a tudo. Então, toda e qualquer coisa fora da rotina e dos processos preestabelecidos já é uma iniciativa de criatividade. Silva (2010) apresenta estes cinco passos para desbloquear a criatividade. 1. Primeiramente, você deve se conscientizar de que é uma pessoa criativa, se convencer de que você tem criatividade. O autor recomenda que você escreva frases como eu sou uma pessoa de grande potencial criativo e as distribua e fixe em lugares visíveis, no seu cotidiano. 2. Permita-se sonhar e vislumbrar a sua ideia já realizada e pense em quais são as etapas necessárias para essa realização. Acredite na sua ideia e não tenha medo de falhar. 3. Como autoconhecimento é fundamental, saber seus pontos fortes e fracos permite identificar suas qualidades e incompetências. 12 4. Concentre suas energias nos pontos que são importantes – às vezes, se afastar do problema permite uma visualização mais ampla para resolver o problema. 5. Abra a mente para as novas ideias sem criticá-las ou julgá-las; simplesmente aceite-as e registre-as, depois filtre-as. Fascioni (2021, p. 163) destaca que a criatividade é influenciada pelo storytelling, que “[...] é o nome fashion que hoje em dia se dá para a ancestral arte de contar histórias”. Segundo a autora, as pessoas precisam de conexão humana, de socialização, pois essa troca estimula nosso cérebro com ideias. A neurociência é um campo de conhecimento em ampla expansão, que busca descobrir os poderes inimagináveis do nosso cérebro, como a plasticidade, que é a capacidade de apreender e se adaptar a algo novo. Fascioni (2021) tambémpropõe alguns exercícios para se fazer em grupo, com o objetivo de recriar o cérebro criativo: • Exercício da sequência de fotos aleatórias: para fazer essa dinâmica, é importante ter fotos ou recortes de revistas agrupados de modo aleatório. Uma pessoa mostra uma das fotos a outra e começa a lhe contar uma história de acordo com o que está vendo. A pessoa seguinte continua a história de onde parou com base na nova imagem mostrada, e assim segue até a última imagem, com a última pessoa tendo que fazer uma conclusão para a história. • Brincadeira do papel dobrado: uma pessoa escreve uma frase numa folha de papel e faz nesta uma dobra, para esconder a frase, deixando visível somente a sua última palavra. A próxima pessoa deve continuar a história a partir daquela palavra e deve fazer o mesmo que a anterior (dobrando a folha deixando visível somente a última palavra da frase). O procedimento deve ser repetido até o papel acabar ou todos participarem da brincadeira. Ao final, alguém irá ler a história completa e esse será um momento de descontração criativa. • Senso de humor: o humor é fundamental para se exercitar o cérebro. O nosso cérebro é preguiçoso e tenta resgatar informações de um repertório 13 já existente, prevendo ou antecipando o que está por vir. Porém, o cérebro também adora ser surpreendido com novidades, algo diferente do que ele esperava. E o humor, a risada, destrói o que era previsível no cérebro, gerando novas alternativas, com outras perspectivas e regras (Herculano- Houzel, 2009, citado por Fascioni, 2021, p. 171). Além dos exercícios apresentados, alguns hábitos ajudam a desenvolver um estilo criativo. • Desligue e fique longe do celular, que é um destruidor da criatividade e consumidor demasiado de tempo. • Conviva e tenha ao seu redor pessoas criativas, que lhe estimulem a pensar fora da caixa. Agora é com você: coloque em prática o que aprendeu! • Escreva três coisas que você precisa fazer para usar mais a criatividade, na sua vida profissional (Silva, 2010, p. 109). • Não seja um workaholic: permita-se relaxar, tenha tempo para o lazer. • Desenvolva interesse em atividades ou áreas diferentes do seu trabalho, pois com isso você observará que existe um leque de oportunidades que a vida oferece. • Anote as ideias que surgem e, de tempos em tempos, analise a possibilidade de colocá-las em prática. • Ouça suas intuições – uma mente intuitiva é muito poderosa (Sadler-Smith, 2011)! • Fique atento(a) às elucubrações mentais, pois uma ideia puxa a outra. • Invista em você, gerencie seu estresse, pratique atividades físicas, tenha amigos e vida social. • Experimente novas comidas, sabores diferentes. • Leia! Leia! Leia muito! • Considere ouvir e aceitar as ideias dos outros. • Permita-se! Viaje! Busque novas experiências! [...] a Pixar é uma empresa de sucesso notável no campo de animação. [...] [Eles] ganharam Oscars por quase tudo o que fizeram. Há todo tipo de razões para isso, mas uma delas é que eles possuem uma cultura muito interessante. Eles têm lá algo chamado de Universidade Pixar. E esse é um programa de oficinas, eventos, palestras, seminários, que ocorrem o dia todo no campus da Pixar. O que é muito interessante a respeito disso é que todos na folha de pagamento da Pixar têm o direito de passar quatro horas por semana na Universidade Pixar e podem fazer o [que] quiserem. Não tem que ser relacionado a seu trabalho e não são só as pessoas do estúdio de animação, são todos [que podem participar]. Bem, isso tem vários efeitos, um deles é: porque todo mundo pode fazer qualquer coisa, 14 e isso pode ser palestras sobre o Egito, ou aulas de arqueologia, ou o que seja, por todos poderem fazer qualquer coisa, há um fluxo constante de ideias novas correndo pela organização. As mentes das pessoas são mantidas vivas por isso, fora do trabalho e no trabalho. E a segunda coisa é por todos poderem fazer qualquer coisa, as pessoas estão constantemente se encontrando em partes diferentes da organização. Isso cria uma cultura de entrosamento na organização, um senso de uma cultura comum. É uma forma muito intencional de manter as mentes das pessoas ativas. É um tempo sem um propósito específico, tempo desocupado, tempo para conversa, tempo para contemplação. (Libertando, 2016) 15 REFERÊNCIAS 3a REVOLUÇÃO Industrial (Indústria 3.0): 2o AI. 2AI: FMM, 17 set. 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=QbuAC- bq8KY>. Acesso em: 1 nov. 2022. BARROZO, O. Os visionários: homens que mudaram o mundo através da tecnologia. São Paulo: Event, 2011. BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. BEZERRA, G. et al. A arte de montar equipes colaborativas. In: SEMINÁRIO DE PESQUISA DO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS,16., 2010, Natal. Anais... Natal: CCSA, 2010. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 4. ed. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2014. COLABORAÇÃO no ambiente de trabalho: 11 formas de melhorar o desempenho da sua equipe. Asana, 22 set. 2021. Disponível em: <https://asana.com/pt/resources/collaboration-in-the-workplace>. Acesso em: 1 nov. 2022. FASCIONI, L. Atitude pró-inovação: prepare seu cérebro para a revolução 4.0. Rio de Janeiro: Alta Books, 2021. FORD: o homem e a máquina. Direção: Allan Eastman. Canadá: Alpha, 1987. 200 min. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=WQIz665YEHY&t=14s>. Acesso em: 1 nov. 2022. LIBERTANDO o poder criativo. HSM Experience, 8 set. 2016. Disponível em: <https://experience.hsm.com.br/posts/libertando-o- poder-criativo- 1? fbclid=IwAR32y5fGeJnhQ82809eHTZ1ROGvSiXYIc2LG2nvLaRDN MI6WrWE qlN54eYs>. Acesso em: 1 nov. 2022. MONTEIRO JR., J. G. Criatividade e inovação. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2011. MR. SELFRIDGE. Criador: Andrew Davies. Reino Unido: ITV, 2013-2016. Série de televisão. 16 O QUE É indústria 4.0 (4a Revolução Industrial): resumo e seus impactos. Blog Abri Minha Empresa, 30 jun. 2022. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=c-JXF_CcpL4>. Acesso em: 1 nov. 2022. PREDEBON, J. Criatividade: abrindo o lado inovador da mente. 8. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. RABELLO, G. O que é mundo Vuca: aprenda a lidar com a insegurança. Siteware, 28 set. 2022. Disponível em: <https:// www.siteware.com.br/gestao- estrategica/mundo-vuca-o-que-e/>. Acesso em: 1 nov. 2022. SADLER-SMITH, E. Mente intuitiva: o poder do sexto sentido no dia a dia e nos negócios. São Paulo: Évora, 2011. SIGNIFICADO de iconoclasta. Significados, [20--]. Disponível em: <https://www.significados.com.br/iconoclasta/>. Acesso em: 1 nov. 2022. SILVA, A. C. T. Inovação: como criar ideias que geram resultados. 2. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2010. SILVA, D. N. Thomas Edison. Mundo Educação, [S.d.]. Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/fisica/thomas-edison.htm>. Acesso em: 1 nov. 2022. TEMPOS modernos. Direção: Charles Chaplin. EUA: United Artists, 1936. 86 min. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch? v=fCkFjlR7-JQ>. Acesso em: 1 nov. 2022. 17
Compartilhar