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Disciplina | Introdução www.cenes.com.br | 1 DISCIPLINA FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL Fundamentos da Psicologia Organizacional | Sumário www.cenes.com.br | 2 Sumário Sumário ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 2 1 Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------- 3 1.1 A Psicologia --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 4 1.2 As Escolas Psicológicas ------------------------------------------------------------------------------------------ 7 1.3 Teorias Organizacionais --------------------------------------------------------------------------------------- 10 1.4 A Atuação do Psicólogo no Brasil --------------------------------------------------------------------------- 15 1.5 A Importância da Psicologia Organizacional------------------------------------------------------------- 19 2 O Homem e o Trabalho --------------------------------------------------------------------------- 20 2.1 As Organizações de Trabalho -------------------------------------------------------------------------------- 23 3 Evolução Histórica da Psicologia Organizacional ------------------------------------------ 29 4 O Psicólogo Organizacional ---------------------------------------------------------------------- 35 4.1 Aspectos Importantes nas Organizações ----------------------------------------------------------------- 36 Cognição -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 37 Motivação ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 41 Equipes e Grupos de Trabalho ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 45 Liderança ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 49 Comunicação -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 52 5 As Inovações Práticas ----------------------------------------------------------------------------- 54 6 Referências ------------------------------------------------------------------------------------------- 58 Este documento possui recursos de interatividade através da navegação por marcadores. Acesse a barra de marcadores do seu leitor de PDF e navegue de maneira RÁPIDA e DESCOMPLICADA pelo conteúdo. Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 3 1 Introdução A inserção da psicologia nas organizações é um aspecto-chave que abrange tanto os aspectos intrínsecos, que dizem respeito ao funcionamento interno do indivíduo, como as emoções, percepções e motivações, quanto os aspectos extrínsecos, relacionados ao ambiente em que o indivíduo está inserido. As organizações são sistemas complexos, cujo desempenho pode ser influenciado significativamente pelo comportamento humano. Nesse contexto, a psicologia tem um papel fundamental em mensurar, explicar e modificar o comportamento humano, conforme destaca Fiorelli (2009). A interseção da psicologia com a administração engloba também um debate acerca da natureza da administração como uma disciplina. A administração pode ser vista como uma ciência, uma arte ou uma técnica. Como ciência social, a administração busca estabelecer princípios e teorias que possam ser aplicados sistematicamente para o gerenciamento de organizações. Isto é importante pois ela lida com agrupamentos humanos, buscando uma integração coerente entre as pessoas, a estrutura e os recursos disponíveis. Contudo, a administração também pode ser entendida como arte, uma vez que envolve criatividade e habilidades interpessoais, que são cruciais na tomada de decisões e na implementação de ações. Além disso, a técnica administrativa faz uso de conhecimentos de várias áreas, incluindo direito, contabilidade, economia, matemática, e estatística, para abordar os aspectos organizacionais de forma abrangente. Avançando no conceito de organização, pode-se afirmar que esta é um sistema social que visa alcançar objetivos específicos através da coordenação de ações e recursos. De acordo com Schein (1982, apud Robbins, 2005), as organizações são sistemas sociais complexos, onde o comportamento humano desempenha um papel fundamental. Essas entidades são compostas por três elementos principais: pessoas, estrutura e recursos financeiros. As pessoas são fundamentais para as organizações, já que são elas que tomam decisões, realizam tarefas e interagem entre si para alcançar os objetivos da organização. A estrutura, por sua vez, refere-se à forma como as organizações são organizadas internamente, incluindo hierarquias, departamentos, e processos. Os recursos financeiros englobam o capital necessário para a organização operar, incluindo dinheiro, investimentos e ativos. Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 4 O estudo aprofundado de como esses elementos interagem e são gerenciados é essencial para a eficácia organizacional. Compreender como o comportamento humano afeta e é afetado pela estrutura organizacional e pelos recursos disponíveis pode levar a melhores estratégias de gestão. Neste contexto, a psicologia desempenha um papel vital, pois pode ajudar a identificar e entender os fatores que afetam o comportamento dos indivíduos dentro das organizações, o que, por sua vez, pode contribuir para o desenvolvimento de práticas de gestão mais eficazes e a melhoria do desempenho organizacional como um todo. Em suma, a integração da psicologia no campo da administração e o entendimento das organizações como sistemas sociais complexos são fundamentais para o desenvolvimento de estratégias eficazes de gestão que levem em consideração os aspectos intrínsecos e extrínsecos do comportamento humano, bem como a estrutura e os recursos das organizações. 1.1 A Psicologia A psicologia, como disciplina científica, tem como base o estudo de um fenômeno singular, inserindo-se no campo das ciências humanas que visam compreender o ser humano e suas interações sociais (BOCK, 2003). Ao longo do tempo e em consonância com as perspectivas teóricas adotadas, as definições do que constitui a psicologia passaram por transformações significativas. Inicialmente, o termo "psicologia" deriva da palavra grega "psyche", que significa "estudo da mente ou da alma", sendo influenciado pelos fundamentos filosóficos que permearam os primórdios da psicologia. Com a preocupação dos pioneiros em estabelecer uma disciplina científica e sob a influência dos pressupostos positivistas, a psicologia foi concebida como a ciência que investiga o comportamento e os processos mentais. No entanto, é importante ressaltar que a psicologia contemporânea se dedica predominantemente ao estudo do ser humano em seus comportamentos observáveis e processos mentais. Considerando as situações em que um líder pode se encontrar, como ao comunicar-se com os membros de seu grupo ou diante de um conflito interpessoal, percebemos que o líder age, sente e pensa. Essas situações exemplificam a abordagem da psicologia contemporânea, que se concentra no estudo do comportamento observável e dos processos mentais. Essas duas dimensões estão intrinsecamente Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 5 ligadas e são fundamentais para compreender o funcionamento humano. No campo da psicologia, existem diversas abordagens ou escolas psicológicas que definem seu objeto de estudo, resultante da investigação das interações humanas. Cada abordagem enfatiza dimensões específicasdo comportamento e dos processos mentais. Por exemplo, a Psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud, trouxe o conceito de inconsciente, que engloba conteúdos latentes não prontamente acessíveis à consciência. Por outro lado, a escola do Behaviorismo, representada por pesquisadores como John B. Watson e B.F. Skinner, foca no estudo do comportamento observável e mensurável. No entanto, é importante ressaltar que essas são apenas duas das muitas abordagens existentes na psicologia. Cada uma delas oferece uma perspectiva única e contribui para a compreensão do ser humano em diferentes aspectos. Nas próximas seções, essas abordagens serão abordadas de maneira mais aprofundada, permitindo uma compreensão mais ampla de suas teorias e aplicações práticas. Em suma, a psicologia contemporânea tem como objetivo estudar o ser humano em suas dimensões comportamentais e processos mentais. As diferentes abordagens psicológicas fornecem diferentes lentes teóricas para compreender e explicar esses fenômenos complexos. Um Vislumbre da História e do Objeto da Psicologia Neste momento, empreenderemos uma análise do desenvolvimento histórico da psicologia até a sua consolidação como uma ciência articulada por diferentes perspectivas epistemológicas. A constituição da psicologia como ciência é considerada recente, ocorrendo somente no final do século XIX, o que justifica a existência de múltiplas explicações para os fenômenos psicológicos. De acordo com Kuhn (1978), a ciência é um processo cumulativo de conhecimento em uma determinada área, contribuindo para o estabelecimento de paradigmas científicos. As raízes da psicologia remontam à filosofia, que se manifestava por meio de reflexões sobre a natureza humana. No século V a.C., destacam-se três filósofos frequentemente reconhecidos por suas contribuições para a compreensão do ser humano: Sócrates, Platão e Aristóteles. Atribui-se a Sócrates a célebre frase relacionada aos fenômenos psicológicos: "Conhece-te a ti mesmo" (MARX; HILLIX, Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 6 1973, p. 51). Ao trazer essa frase para o contexto atual das organizações, é relevante que as pessoas tenham desenvolvido autoconhecimento por meio de autoavaliações e feedbacks, a fim de evitar distorções em sua autoimagem. A filosofia buscou determinar a natureza humana e suas relações com o mundo por meio de observações e reflexões sobre as atividades humanas. O cerne dessa busca residia na essência dessa natureza (MISIAK, 1964). À medida que as especulações acerca da essência humana foram se distanciando, as questões filosóficas se tornaram questões psicológicas, direcionando-se para métodos de conhecimento e intervenção no ser humano fundamentados no empirismo. Contribuições diversas também emergiram das ciências biológicas, sendo as de Darwin particularmente relevantes no século XIX. A obra "A origem das espécies" permitiu consolidar uma perspectiva determinista e naturalista sobre o ser humano. A proximidade identificada entre o desenvolvimento humano e o animal forneceu subsídios valiosos para a busca de "leis" equivalentes ao comportamento humano. Marx e Hillix (1973) observaram que essa possibilidade de "leis" regulares constituía requisito fundamental para a construção de uma Ciência Psicológica. A consolidação da psicologia como ciência ocorreu com a fundação do primeiro laboratório de psicologia na Universidade de Leipzig, na Alemanha, no final do século XIX, por William Wundt. A partir desse marco, estabeleceram-se as condições necessárias para o desenvolvimento da psicologia como uma disciplina científica autônoma e como uma profissão nas áreas da saúde, educação e trabalho (FIGUEIREDO, 1991). Nesse laboratório, Wundt adotou uma abordagem empírica para estudar os processos mentais, inaugurando o estruturalismo, que buscava compreender a estrutura da mente humana por meio da análise de suas partes constituintes, como percepções, emoções e pensamentos. Posteriormente, no início do século XX, surgiu o funcionalismo, liderado por William James. O funcionalismo desviou o foco da estrutura da mente para as funções mentais no contexto das adaptações ao ambiente. James foi um dos primeiros a reconhecer a importância das emoções e comportamentos adaptativos para a sobrevivência. Outro marco significativo foi a introdução da psicanálise por Sigmund Freud, que enfocava nos aspectos inconscientes da mente humana, argumentando que os comportamentos e pensamentos são frequentemente o resultado de desejos e medos Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 7 reprimidos. À medida que a psicologia se desenvolveu ao longo do século XX, a perspectiva comportamental ganhou destaque com os trabalhos de John B. Watson e B.F. Skinner. O behaviorismo focava no estudo observável do comportamento e desconsiderava os processos mentais internos, que não podiam ser observados diretamente. A década de 1960 testemunhou o surgimento da psicologia cognitiva, que focava em como as pessoas percebem, pensam, lembram e aprendem, marcando um retorno à investigação dos processos mentais. O trabalho de Jean Piaget, com sua teoria do desenvolvimento cognitivo, foi fundamental neste período. Além disso, a humanista, com nomes como Carl Rogers e Abraham Maslow, enfocou a autorrealização e o desenvolvimento do potencial humano. A abordagem humanista considera que os indivíduos são inerentemente bons e têm a capacidade de fazer escolhas significativas. Na atualidade, a psicologia continua a ser uma ciência em evolução, articulada por diferentes perspectivas epistemológicas. A psicologia contemporânea abrange uma variedade de abordagens, incluindo a neuropsicologia, que explora a relação entre o cérebro e o comportamento, e a psicologia positiva, que estuda os aspectos positivos da experiência humana. No âmbito das organizações, a psicologia organizacional e do trabalho é fundamental para compreender e melhorar a eficiência e o bem-estar dos funcionários. O autoconhecimento, que ecoa a frase de Sócrates "Conhece-te a ti mesmo", é um conceito central na psicologia organizacional e contribui para o desenvolvimento de líderes e equipes eficazes. Em resumo, a psicologia evoluiu de suas raízes filosóficas para uma ciência multidisciplinar e multifacetada, enriquecida por diversas perspectivas epistemológicas que continuam a moldar nosso entendimento sobre a mente humana e o comportamento. O impacto dessa evolução é sentido em áreas tão diversas quanto saúde, educação e mundo corporativo. 1.2 As Escolas Psicológicas A ênfase na observação e o surgimento de um modelo científico influenciaram as tendências em busca de objetividade no estudo dos fenômenos psicológicos, resultando na identificação das principais escolas psicológicas do século XX. Dentre Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 8 essas escolas, o Behaviorismo se destacou, emergindo em consonância com a concepção positivista de ciência. Watson é considerado o fundador do Behaviorismo, também conhecido como Comportamentalismo, Teoria Comportamental, Análise Experimental do Comportamento e Análise do Comportamento (BOCK, 2003). Watson enfatizou o comportamento como a base dos dados psicológicos, adotando a comparação entre comportamento humano e animal como método e criticando as concepções mentalistas em prol da objetividade na psicologia. Posteriormente, outros psicólogos se destacaram no campo behaviorista, com destaque para Skinner e seu estudo do condicionamento operante. No condicionamento operante, ocorre a aprendizagem de comportamentos por meio da ação do organismo no ambiente e dos resultados que se seguem. O estímulo desempenha o papel de reforço, aumentando a probabilidade de resposta comportamental, e pode ser positivo ou negativo,conforme Bock (2003, p. 50). O reforço positivo consiste em qualquer evento que aumenta a probabilidade de uma resposta futura que o produz. O reforço negativo, por sua vez, é qualquer evento que aumenta a probabilidade de uma resposta futura que o remove ou atenua. Além disso, os estudos comportamentalistas também abordam a extinção de comportamentos e a punição, enfatizando o papel do ambiente sobre o organismo e as pessoas. O Behaviorismo é amplamente adotado no contexto organizacional devido à sua capacidade de utilizar práticas mais funcionalistas e alterar comportamentos de maneira sistemática. Atualmente, essa abordagem é empregada como orientação para práticas organizacionais, como descrito no texto da revista Você S/A - Exame, que aborda os mecanismos de punição nas organizações de trabalho brasileiras e como eles inibem desastrosamente a criatividade e restringem o desenvolvimento das pessoas. Compreender a natureza do erro cometido e trabalhar para sua correção requer competência e sabedoria. Essa história de aprender com os erros é verdadeira somente se houver alguém que avalie o erro e estimule sua correção adequada. Uma das desculpas mais frequentes de maus gestores (e pais) é que a falta de tempo impede a análise do erro e o trabalho de correção. No entanto, isso não é verdade. Aceitar o erro comum, investir tempo em sua análise e planejar a correção constituem um desafio gerencial extremamente difícil. Punir, por outro lado, é fácil! (CABRERA, 2007, p. 51). Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 9 A Psicologia da Gestalt é outra escola psicológica que emergiu na primeira década do século XX, a partir dos estudos de psicofisiologia dos fundadores da escola - Wertheimer, Kohler e Koffka. Esses autores se dedicaram a identificar "leis" ou princípios que permitissem compreender que os elementos da experiência não são suficientes para caracterizar a totalidade da percepção (MARX; HILLIX, 1973, p. 313). Uma de suas principais contribuições é a célebre frase de que "O todo é mais do que a soma das partes", ou seja, a percepção das partes não é suficiente para compreender o conjunto de um fenômeno, pois as partes estão em constante mudança e o campo perceptual pode ser integrado em uma totalidade diferenciada. Isso pode ser aplicado aos estudos sobre cultura organizacional, especialmente no que diz respeito às subculturas que influenciam a forma como as pessoas percebem a realidade psicossocial nas organizações de trabalho. Os estudos de Kurt Lewin sobre espaço vital, campo psicológico, dinâmica de grupos e liderança também são frequentemente aplicados nas organizações. Enquanto os estudiosos do Behaviorismo estão voltados para os elementos da experiência e do organismo em sua relação com o ambiente, os estudiosos da Gestalt concentram-se na interpretação das sensações e em uma psicologia da forma. Por outro lado, a Psicanálise, fundada por Freud, trouxe uma nova perspectiva que alterou as concepções predominantes. Com base em seus estudos iniciais sobre anatomia e observação de casos clínicos em consultório, Freud postulou a existência do inconsciente, explorando a influência das etapas iniciais do desenvolvimento, da sexualidade e dos problemas mentais, além da descoberta da transferência na relação terapêutica e seus mecanismos de defesa (MARX; HILLIX, 1973). Uma referência que utiliza a psicanálise no contexto organizacional e de trabalho é a obra de Chanlat: "O indivíduo na organização: dimensões esquecidas" (1994). Os estudos dos mecanismos de defesa realizados por Sigmund Freud evidenciaram resistências contra afetos e representações dolorosas (DORSCH, HACKER; STAPF, 2001). A compreensão desses mecanismos permite entender o processo de construção de comportamentos defensivos nas organizações de trabalho. Isso pode ser ilustrado com o exemplo retirado da revista Você S/A - Exame: Um micromanager - ou microgestor - não surge apenas da falta de experiência. "Existem causas psicológicas que explicam esse comportamento...", diz Elizabeth Zamerul, médica psiquiatra e consultora de recursos humanos. Às vezes, o problema é mais leve, sendo apenas uma defesa contra inseguranças profissionais", afirma Mariá Giuliese, consultora de programas de recolocação da Lens & Minarelli, de São Paulo Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 10 (CUNHA, 2007). As principais contribuições das abordagens psicológicas estudadas (Behaviorismo, Gestalt e Psicanálise) "...constituem-se em matrizes do desenvolvimento da ciência psicológica, propiciando o surgimento de inúmeras abordagens da Psicologia contemporânea" (BOCK, 2003, p. 85). Existe também uma abordagem mais recente desenvolvida na Rússia por Vigotsky, denominada Psicologia Sócio-Histórica. Essa abordagem psicológica é construída a partir da perspectiva do sujeito social, uma vez que as funções superiores do ser humano decorrem dessa condição. No que se refere à sua relação com o trabalho, podemos afirmar que a satisfação das necessidades individuais de cada pessoa, ou seja, suas ações particulares, são determinadas e definidas pela forma como a sociedade se organiza para o trabalho (BOCK, 2003, p. 89). Embora outras abordagens possam ser identificadas, as abordagens mencionadas anteriormente representam as principais. Em resumo, a definição de Misiak (1964, p. 15) sintetiza o objeto da psicologia, contemplando, em parte, as diversas perspectivas existentes nessa disciplina. A psicologia, por meio de métodos científicos, estuda o comportamento humano, tanto o manifestado em ações quanto as atividades concomitantes, como sentimentos, percepções e pensamentos. Nesse sentido, a psicologia se relaciona com outras áreas do conhecimento, como as ciências sociais e as ciências biológicas. 1.3 Teorias Organizacionais Existem diferentes teorias organizacionais que descrevem a estrutura e o funcionamento das organizações, abordando questões relacionadas a características distintas, estrutura, relações entre pessoas e interações entre as pessoas e a tecnologia. Para uma compreensão mais aprofundada desses aspectos, é importante conhecer os diferentes tipos de teorias organizacionais e entender como cada teórico aborda e pensa sobre as questões relacionadas às organizações. De acordo com Spector (2006), existem quatro tipos de teorias organizacionais que serão discutidos a seguir. A teoria da burocracia, desenvolvida por Max Weber no final do século XIX, é amplamente reconhecida como uma das teorias clássicas da estrutura organizacional. Na época, as primeiras organizações enfrentavam problemas de desorganização e ineficiência em sua estrutura e gestão. Weber buscou solucionar essas questões ao Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 11 propor um modelo burocrático de organização. Um dos principais objetivos da teoria da burocracia era trazer ordem e racionalidade para as organizações, tornando-as mais eficientes e previsíveis. Weber acreditava que uma estrutura organizacional burocrática poderia ser mais eficiente do que outros modelos, como o baseado em relações de parentesco ou patrimônio. Uma das características-chave da teoria da burocracia é a divisão do trabalho. Weber defendia que as tarefas deviam ser divididas e especializadas entre diferentes cargos e funcionários, o que aumentaria a eficiência e a produtividade. Cada membro da organização teria funções específicas e bem definidas, evitando a sobreposição de responsabilidades e o desperdício de recursos. Outro aspecto importante da burocracia é a delegação de autoridade. Segundo Weber, as organizações burocráticas são hierarquizadas, com uma estrutura de autoridade claramente definida. A autoridade é distribuída de cima para baixo, com níveis de supervisão e controle. A autoridademáxima é atribuída a uma pessoa no topo da hierarquia, que detém o poder de tomar decisões e estabelecer diretrizes para a organização. A amplitude de controle é outro conceito presente na teoria da burocracia. Refere-se ao número de subordinados que um supervisor pode gerenciar efetivamente. A eficácia do controle depende de fatores como as habilidades dos subordinados e o estilo de supervisão adotado. Quanto mais habilidosos os subordinados e mais adequado o estilo de supervisão, maior será a amplitude de controle ideal. Uma distinção importante feita por Weber é a diferenciação entre cargos de linha e de equipe. Os cargos de linha estão diretamente envolvidos na execução das atividades essenciais da organização, enquanto os cargos de equipe ou staff fornecem suporte e assessoria para os níveis superiores de supervisão. Essa distinção ajuda a definir as responsabilidades e funções de cada posição dentro da estrutura organizacional. A teoria da burocracia de Weber teve um impacto significativo no desenvolvimento das organizações modernas. Suas ideias e conceitos, como a divisão do trabalho, a delegação de autoridade e a estrutura hierárquica, contribuíram para a eficiência e o funcionamento ordenado das organizações. Embora a burocracia possa ter suas limitações e críticas, ela ainda é amplamente aplicada e estudada como um modelo organizacional válido em muitos contextos. Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 12 A teoria X/Y, desenvolvida por Douglas McGregor em 1960, é uma abordagem dentro da teoria das relações humanas que explora a interação entre supervisores e subordinados. Essa teoria apresenta duas perspectivas distintas sobre a natureza humana e como ela influencia a gestão organizacional: a teoria X e a teoria Y. A teoria X representa a visão convencional do papel dos gerentes. Segundo essa perspectiva, os gerentes veem os funcionários como indivíduos desmotivados, preguiçosos e que têm uma aversão ao trabalho. Sob a ótica da teoria X, os gerentes acreditam que é necessário exercer controle e autoridade rígidos sobre os funcionários para garantir sua produtividade. Eles assumem que os trabalhadores têm pouco interesse em contribuir para os objetivos da organização e precisam ser supervisionados de perto. Por outro lado, a teoria Y propõe uma visão mais positiva e otimista dos funcionários. De acordo com essa perspectiva, os gerentes devem criar um ambiente de trabalho que incentive e capacite os funcionários a alcançar seus próprios objetivos, ao mesmo tempo em que direcionam seus esforços para os interesses da organização. Na teoria Y, os gerentes acreditam que os funcionários têm um desejo natural de se autorrealizar e de contribuir para o sucesso da organização. Eles confiam nos trabalhadores, dão-lhes autonomia e delegam responsabilidades, reconhecendo a importância da motivação intrínseca. É importante ressaltar que as teorias X e Y não são representações rígidas da realidade, mas sim conceitos que ajudam a compreender diferentes abordagens gerenciais. McGregor argumentava que a forma como os gerentes percebem seus subordinados e suas crenças sobre a natureza humana influenciam diretamente seu estilo de gestão e o clima organizacional. Ao adotar a teoria Y, os gerentes são incentivados a adotar uma abordagem mais participativa, dar espaço para o desenvolvimento das habilidades dos funcionários, promover a autonomia e a responsabilidade, e valorizar o trabalho em equipe e a colaboração. Por outro lado, se os gerentes aderirem à teoria X, eles podem adotar uma abordagem mais autoritária, com foco no controle e na supervisão direta das atividades dos funcionários. A teoria X/Y de McGregor contribuiu para a compreensão da dinâmica das relações humanas no ambiente de trabalho e ajudou a moldar práticas de gestão mais humanizadas. Embora a teoria Y tenha sido mais bem recebida e tenha influenciado significativamente a gestão moderna, a teoria X ainda é relevante em certos contextos ou situações em que a supervisão direta e o controle são necessários para garantir a Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 13 eficiência e o cumprimento das responsabilidades organizacionais. A teoria dos sistemas abertos, elaborada por Katz e Kahn em 1978, é uma abordagem teórica que considera as organizações como sistemas abertos, compartilhando características com organismos vivos. Essa perspectiva destaca a interação constante entre as organizações e seu ambiente externo, enfatizando a importância da adaptação e da troca de recursos para a sobrevivência e o crescimento organizacional. De acordo com essa teoria, as organizações são sistemas dinâmicos e complexos, compostos por diversos elementos inter-relacionados. Assim como os organismos vivos, as organizações têm a capacidade de importar energia do ambiente externo, transformá-la por meio de processos internos e, em seguida, exportar produtos ou serviços resultantes desse processamento. Essa troca de energia e recursos é essencial para a operação e o desenvolvimento das organizações. Katz e Kahn identificaram dez características organizacionais fundamentais, que são: 1) Importação de energia: as organizações buscam e adquirem recursos externos necessários para seu funcionamento, como matérias- primas, capital financeiro, informações e mão de obra. 2) Transformação de energia: as organizações utilizam os recursos importados para produzir bens ou serviços por meio de processos internos. 3) Produção: as organizações fabricam produtos ou prestam serviços que são comercializados ou disponibilizados para seus clientes ou usuários. 4) Ciclos de eventos: as organizações operam em ciclos de eventos temporais, como turnos de trabalho, sazonalidade ou padrões de demanda. 5) Homeostase: as organizações buscam manter um equilíbrio interno para garantir sua estabilidade e continuidade. Isso envolve o ajuste e a regulação de suas operações internas em resposta a mudanças no ambiente externo. 6) Fornecimento de informações: as organizações coletam, processam e distribuem informações relevantes para suas operações e tomada de decisões. 7) Especialização: as organizações dividem o trabalho em funções Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 14 especializadas para aumentar a eficiência e a produtividade. 8) Coordenação e integração: as organizações estabelecem mecanismos e estruturas para coordenar e integrar as atividades de suas unidades ou departamentos, garantindo a harmonia e a sincronização dos esforços organizacionais. 9) Finalidade equitativa: as organizações estabelecem objetivos e metas que são equitativamente distribuídos entre os membros, considerando suas habilidades e contribuições. 10) Ambiente: as organizações estão imersas em um ambiente físico e social que influencia suas operações e seu desempenho. Elas precisam se adaptar e responder às demandas e pressões externas para garantir sua sustentabilidade. A teoria dos sistemas abertos enfatiza a interdependência entre as organizações e seu ambiente, destacando a necessidade de ajuste e adaptação contínuos para enfrentar as mudanças e desafios externos. Essa abordagem reconhece a complexidade das organizações e destaca a importância da gestão estratégica e do equilíbrio entre as dimensões internas e externas para o sucesso organizacional. A última teoria descrita por Spector (2006) é a teoria dos sistemas sociotécnicos. É uma abordagem teórica que enfoca as relações entre pessoas e tecnologias dentro do ambiente organizacional. Essa teoria reconhece a interação dinâmica e mútua entre os aspectos sociais e técnicos de uma organização, buscando compreender como as pessoas afetam a tecnologia e como a tecnologia afeta as pessoas. Segundo essa teoria, as pessoasdesempenham um papel fundamental na configuração e no uso da tecnologia dentro de uma organização. Elas são responsáveis por operar, adaptar e desenvolver sistemas tecnológicos, influenciando sua eficácia e impacto organizacional. Ao mesmo tempo, a tecnologia também influencia as pessoas, moldando suas tarefas, habilidades e interações no ambiente de trabalho. Essa perspectiva considera que as pessoas e a tecnologia formam um sistema interdependente, em que mudanças em um componente afetam o outro. Portanto, é essencial compreender as interações complexas entre as dimensões social e técnica para promover um funcionamento eficiente e eficaz da organização. Além disso, a teoria dos sistemas sociotécnicos também reconhece a importância Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 15 do ambiente em que a organização opera. Esse ambiente envolve tanto fatores físicos quanto sociais, incluindo a cultura organizacional, as normas, os valores e as demandas externas. Esses elementos do ambiente podem influenciar a forma como as pessoas interagem com a tecnologia e como a tecnologia é projetada e implementada dentro da organização. Uma abordagem sociotécnica busca criar um equilíbrio entre as necessidades e habilidades das pessoas e as capacidades e limitações da tecnologia. Isso envolve projetar sistemas de trabalho que permitam a participação ativa das pessoas no processo de tomada de decisões, valorizando sua experiência e conhecimento. Além disso, também envolve a adoção de tecnologias que sejam adequadas às necessidades das pessoas e promovam a eficiência e a eficácia organizacional. Essa teoria, enfim, examina a relação entre pessoas e tecnologia dentro do contexto organizacional, reconhecendo a influência mútua entre esses elementos. Essa abordagem destaca a importância de projetar sistemas de trabalho que levem em consideração as dimensões social e técnica, visando o alcance de um equilíbrio que promova o desempenho organizacional e o bem-estar dos indivíduos., que examina a organização a partir das relações entre pessoas e tecnologias no ambiente organizacional. Essa teoria reconhece a influência das pessoas sobre a tecnologia e a influência da tecnologia sobre as pessoas, considerando também o ambiente em que a organização opera. Em suma, essas diferentes teorias organizacionais fornecem perspectivas variadas sobre a estrutura, funcionamento e interações nas organizações. Cada teoria enfatiza aspectos específicos e oferece abordagens distintas para compreender as complexidades das organizações. O estudo dessas teorias contribui para uma compreensão mais abrangente do campo da psicologia organizacional e sua aplicação no contexto organizacional. 1.4 A Atuação do Psicólogo no Brasil No Brasil, os conhecimentos no campo da psicologia foram adotados com certo atraso em relação a outros países. A regulamentação da profissão de psicólogo ocorreu por meio da Lei n. 4.119/62, que foi posteriormente regulamentada pelo Decreto n. 53.464/64, estabelecendo as funções características da atuação profissional. De acordo com Carvalho et al. (1988), essa legislação definiu duas principais funções para o profissional: ensino da psicologia e intervenção em três grandes áreas: clínica, Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 16 escolar e industrial. No Catálogo Brasileiro de Ocupações (CBO) do Ministério do Trabalho e Emprego, consta que o psicólogo estuda o comportamento e a estrutura psíquica das pessoas. Suas atividades estão principalmente relacionadas a contextos clínicos, organizacionais e educacionais, sendo definidas pela localização em que são realizadas, e não necessariamente pelos fenômenos em si. Portanto, cabe ao psicólogo elaborar e aplicar métodos e técnicas de pesquisa das características psicológicas dos indivíduos, organizar e aplicar métodos e técnicas de recrutamento, seleção e orientação profissional, realizar aferição desses processos para controle de sua validade, realizar estudos e aplicações práticas no campo da educação (creches e escolas), trabalhar em clínicas psicológicas, hospitais, ambulatórios, postos de saúde, núcleos e centros de atenção psicossocial, atuar em casos envolvendo famílias, crianças e adolescentes, sistemas penitenciários, associações esportivas, comunidades e áreas rurais (BRASIL, 2010). A psicologia organizacional é um ramo de atuação da Psicologia voltado para o estudo e estruturação do comportamento dos profissionais de uma empresa. Com isso, cabe dizer que se trata da psicologia que é usada para orientar a gestão de pessoas para promover a qualidade de vida e as boas relações no ambiente de trabalho. Agora que já foram apresentadas as principais etapas do desenvolvimento da psicologia como ciência e as atividades do psicólogo, é necessário estudar o desenvolvimento da psicologia organizacional no Brasil e as atividades específicas do psicólogo que atua nas organizações de trabalho. A área da psicologia voltada aos processos de trabalho e organizacionais começou a se desenvolver no início do século passado, em consonância com os pressupostos do Taylorismo, e teve como foco o estudo da produtividade em relação ao esforço despendido (SAMPAIO, 1998). Isso caracterizou uma abordagem de psicologia industrial, cujos principais fundamentos foram baseados na psicologia, nas diferenças individuais, no funcionalismo e no behaviorismo. O surgimento da psicologia organizacional no Brasil está intimamente ligado à expansão do processo de industrialização no final do século XIX e início do século XX, com o objetivo de avaliar e selecionar funcionários para as indústrias e militares para o exército (ZANELLI; BASTOS, 2004). Os estudos iniciados em 1924 deram origem a uma reação ao Taylorismo, conhecida como Escola de Relações Humanas, que reconhecia a existência de fatores humanos que influenciavam a produção. Nesse Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 17 período, houve um aumento do interesse pela motivação, comunicação e comportamento de grupos. Essa ênfase refletia uma tentativa de reduzir os efeitos das organizações mecanicistas, buscando melhorar o relacionamento entre os trabalhadores (SAMPAIO, 1998). Durante a Segunda Guerra Mundial, as atividades dos psicólogos foram ampliadas devido à avaliação psicológica para seleção de combatentes. As medidas de avaliação psicológica, os procedimentos de colocação, treinamento, classificação de pessoal, avaliação de desempenho e liderança foram o foco das intervenções nessa época. Também foram desenvolvidos estudos em ergonomia para projetar equipamentos levando em consideração as capacidades e limitações dos trabalhadores. Sampaio (1998) identificou que os profissionais de psicologia industrial estavam mais interessados nas tarefas de trabalho do que na análise da estrutura e dos processos organizacionais. As lacunas encontradas nessas intervenções contribuíram para uma primeira distinção entre a psicologia industrial e a psicologia organizacional: enquanto uma estava focada em questões humanas relacionadas à indústria, a outra estava voltada para a ampliação do mercado de trabalho. Historicamente, a psicologia organizacional se desenvolveu como uma ampliação do objeto de estudo da psicologia industrial. De acordo com Sampaio (1998), o caráter instrumental da psicologia organizacional levou a uma supervalorização das teorias comportamentais (behaviorismo) na psicologia, que enfatizavam a influência do ambiente no comportamento humano e minimizavam as influências intrapsíquicas. Essas influências intrapsíquicas eram abordadas principalmente no contexto da satisfação, tema que ganhou destaque a partir da década de 1950. No início dos anos 1970, os estudos em administração começaram a considerar os efeitos do ambientee da tecnologia no contexto organizacional. As abordagens administrativas, frequentemente criticadas por seu excesso de funcionalismo e prescrições, passaram a ser mais descritivas, explicativas e críticas. Paralelamente, surgiram os estudos da psicologia do trabalho, que tinham interesse em compreender o homem que trabalha e incluíam questões como ação de grupos nas organizações, relações de poder, conflito, emprego e desemprego. Até meados do século XX, as atividades do psicólogo organizacional brasileiro estavam relacionadas principalmente ao recrutamento, seleção, treinamento, análise ocupacional e avaliação de desempenho. Na década de 1980, essas atividades clássicas ainda predominavam, embora houvesse outras atividades que ampliavam o escopo profissional, como planejamento e execução de projetos, diagnósticos situacionais, assessoria e consultoria (ZANELLI; BASTOS, 2004). Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 18 Na década de 1990, críticas ao modelo clássico de atuação, que era excessivamente técnico, juntamente com as transformações sociais decorrentes da abertura do mercado e do aumento da competitividade, resultaram em novas formas de organização do trabalho e demandas por competências específicas do psicólogo, gerando tendências inovadoras na atuação da psicologia organizacional (ZANELLI; BASTOS, 2004). É importante ressaltar que o campo de atuação da psicologia organizacional pode ser representado por diversos subcampos, como administração de pessoal, qualificação e desenvolvimento, comportamento organizacional, condições e higiene do trabalho, relações de trabalho e mudança organizacional. Cada um desses subcampos envolve intervenções em níveis técnicos, estratégicos e políticos (BASTOS, 1992 apud ZANELLI; BASTOS, 2004). Com o intuito de proporcionar uma visão geral da área de conhecimento e do campo de atuação da psicologia organizacional e do trabalho, Zanelli e Bastos (2004) elaboraram a seguinte síntese: Enquanto a psicologia do trabalho está mais voltada para questões de mercado, emprego, organização do trabalho, ergonomia e saúde ocupacional, as atividades do Fundamentos da Psicologia Organizacional | Introdução www.cenes.com.br | 19 psicólogo relacionadas à gestão e ao comportamento estão mais direcionadas às atividades do administrador. O psicólogo contribui com conhecimentos, métodos e técnicas para a gestão de pessoas e processos organizacionais. A psicologia organizacional engloba o que geralmente chamamos de comportamento humano nas organizações ou comportamento organizacional. Em suma, a psicologia organizacional e do trabalho tem como tarefa central explorar, analisar e compreender a interação das múltiplas dimensões que caracterizam a vida das pessoas, grupos e organizações em um mundo cada vez mais complexo e em constante transformação. Seu objetivo é desenvolver estratégias e procedimentos que possam promover, preservar e restabelecer a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas (ZANELLI; BASTOS, 2004, p. 490). 1.5 A Importância da Psicologia Organizacional A psicologia organizacional, como campo de estudo e atuação, desempenha um papel de extrema importância na busca por um ambiente de trabalho harmonioso e saudável, capaz de evitar situações que possam prejudicar tanto os funcionários quanto a própria empresa. É preciso compreender que diferentes fatores, tais como o avanço tecnológico e as transformações sociais, têm influenciado significativamente a dinâmica do universo do trabalho, apresentando novos desafios tanto para os empregadores quanto para os trabalhadores envolvidos. Nesse contexto, a competitividade do mercado surge como um fator relevante, demandando metas ousadas e, consequentemente, acarretando níveis variados de estresse. Tal conjuntura é propícia para o surgimento de conflitos e até mesmo o desenvolvimento de doenças ocupacionais, cenário indesejável por todas as partes envolvidas. Dessa forma, torna-se natural que tanto os empregadores quanto os trabalhadores busquem maneiras de evitar esses problemas e promover um ambiente de trabalho saudável e produtivo. Cabe ressaltar que, sendo os empregadores o lado mais forte na relação de trabalho, recai sobre eles a responsabilidade de garantir condições apropriadas para o desempenho das atividades laborais. Essa responsabilidade abrange desde a adequação do espaço físico de trabalho até a consideração das demandas e das necessidades relacionadas ao bem-estar emocional dos funcionários. Nesse contexto, a psicologia organizacional se destaca, uma vez que sua atuação vai desde a valorização e o respeito às pausas e intervalos no trabalho até a importância de Fundamentos da Psicologia Organizacional | O Homem e o Trabalho www.cenes.com.br | 20 promover um ambiente onde todos possam se expressar e ser ouvidos, contribuindo para a criação de um ambiente de trabalho agradável e acolhedor. É importante reconhecer que, quando uma empresa não se preocupa com o bem-estar e as relações interpessoais no ambiente de trabalho, a motivação e a produtividade tendem a ser afetadas negativamente, enquanto conflitos e pedidos de demissão podem aumentar. Os benefícios advindos da aplicação da psicologia organizacional são significativos e desejáveis para qualquer organização. Em um mercado cada vez mais competitivo, onde a demanda por inovação, agilidade e qualidade é crescente, alcançar esses objetivos de forma harmônica e eficiente é um desafio constante. É necessário reconhecer que o foco excessivo na produção, sem a devida consideração ao bem-estar dos funcionários, pode gerar resultados a curto prazo, mas trazer prejuízos a longo prazo. A queda na produtividade, os afastamentos e a alta rotatividade são situações que todas as organizações buscam evitar. Para isso, a psicologia organizacional desempenha um papel fundamental ao criar condições ideais para maximizar a produtividade e promover a retenção de funcionários. Imaginar uma realidade em que os trabalhadores se sintam motivados, engajados e satisfeitos em seu ambiente de trabalho é algo desejável e vantajoso para as empresas. Os benefícios obtidos vão além da melhoria do clima organizacional, abrangendo o aumento dos lucros e o fortalecimento da marca empregadora. É fundamental compreender que essas conquistas dependem da presença ativa de um profissional de psicologia organizacional e da formação de uma equipe especializada, capaz de atuar em diversas áreas da organização e abordar as demandas complexas do ambiente de trabalho contemporâneo. 2 O Homem e o Trabalho Ao iniciar o estudo da Psicologia Organizacional é importante entendermos um pouco sobre as concepções do trabalho, e o papel que ele desempenha na vida do homem. Quando pensamos no trabalho vários questionamentos nos vem à mente, de modo a tentarmos compreender qual o significado dele em nossa existência. A relação que se pode estabelecer entre o trabalho e a existência está centralizada nas constantes necessidades de verificar os diversos significados atribuídos pelo homem ao espaço social ocupado no contexto do trabalho (KANAANE, 2009). Fundamentos da Psicologia Organizacional | O Homem e o Trabalho www.cenes.com.br | 21 Kanaane (2009) afirma que o trabalho sempre ocupou lugar central na vida das pessoas, nas mais diferentes comunidades, onde gradativamente foi sendo limitado pelas condições socialmente estabelecidas. Ao investigarmos os distintos significados atribuídos ao trabalho, encontramos a contribuição de concepções originárias não somente das ciências sociais, como a antropologia, sociologia, economia e psicologia; e ao nos referirmos a tais concepções, devemos destacar outras que alteram e definem essa relação: as concepções políticas, religiosas, econômicas, ideológicas, históricas, biológicas, culturais etc.Segundo Lacombe (2006), em relação ao conceito do trabalho, muitos adotam o ponto de vista de que ele é um fardo, de que o homem trabalha para sobreviver, ou, se for afortunado, a fim de conseguir dinheiro suficiente para poder fazer as coisas de que realmente gosta. Para este autor é preciso considerar que: • O trabalho é parte essencial da vida humana, uma vez que constitui aquele aspecto de sua vida que lhe dá status e o liga a vida em sociedade; • As pessoas tendem a gostar de seu trabalho, ou procurar um trabalho que lhe traga verdadeira satisfação profissional e pessoal; • O trabalho é uma atividade social; • A moral do trabalhador não tem relação com as condições materiais do trabalho. A temperatura, iluminação, barulhos e umidade afetam a saúde física e o conforto, e não a motivação; • Sob condições normais, o dinheiro é um dos incentivos motivacionais menos importantes; • O desemprego é um poderoso incentivo negativo, porque acaba por eliminar o homem da sociedade. Muitos são os estudiosos e teóricos do trabalho com visões e definições diferentes, mas todos, de certa forma, colocam o trabalho como algo essencial ao homem. Para Benetto Croce (apud Labombe, 2006 p. 4): O trabalho isento de coeficientes ideológicos, é a mais fecunda afirmação da vida humana. O trabalho não é pena e dor, pelo contrário, é essencialmente a alegria de viver, sendo trabalho penoso aquele que não conseguimos fazer nosso, que não se funde com nossas disposições e tendências, ou que não se torna nossas disposições e tendências, ou que não nos empenha Fundamentos da Psicologia Organizacional | O Homem e o Trabalho www.cenes.com.br | 22 inteiramente. (Croce apud Labombe, 2006, p. 4). Outro que coloca uma definição sobre a importância do trabalho é Auguste Rodin (apud Lacombe, 2006, p. 4), para ele “o mundo não será feliz senão quando todas as pessoas tiverem a alma de artista, isto é, quando todos sentirem prazer no seu trabalho”. Analisando esses comentários, podemos ver o quanto é grandioso ao homem uma atividade profissional que lhe traga satisfação e realização, além de ser extremamente necessário para sua subsistência. Mas podemos ver muitas vezes que ocorre certa desvalorização do trabalho que é parte própria da divisão do trabalho, que embora existindo desde os tempos pré-históricos, foi grandemente acentuada na Revolução industrial, especialmente pela aplicação do taylorismo. A valorização do trabalho, principalmente o manual, não é exclusivamente brasileira, suas origens remontam à Idade Antiga, aos romanos e à maioria das civilizações orientais. Somente no século XX, a valorização do trabalho começou a evoluir positivamente. O regime da escravidão, que durou mais de quatro séculos no Brasil, certamente contribui para desvalorizar a natureza do trabalho no país (LACOMBE, 2006). Friedmann (1983, apud Kanaane, 2009 p. 17) coloca que o trabalho assume as seguintes facetas: • Aspecto técnico, que implica questões referentes ao local de trabalho e adaptação fisiológica e social; • Aspecto fisiológico, cuja questão fundamental se refere ao nível de adaptação homem/lugar de trabalho/meio físico e ao problema da fadiga; • Aspecto moral, como atividade social humana, considerando especialmente as aptidões, motivações, o grau de consciência, as satisfações e a relação íntima entre a atividade de trabalho e a personalidade; • Aspecto social que considera as questões do ambiente e os fatores externos (família, sindicato, partido político, classe social). Precisa-se se considerar sob tal perspectiva a interdependência entre o trabalho e papel social e as motivações subjacentes; • Aspecto econômico, como fator de geração de riqueza, geralmente contraposto ao capital, e unido em sua função a outros fatores: organização, propriedade, terra. Fundamentos da Psicologia Organizacional | O Homem e o Trabalho www.cenes.com.br | 23 Das disposições assinaladas, pode-se concluir que o trabalho é uma ação humana exercida num contexto social, que sofre influências de diferentes fontes, o que resulta numa ação recíproca entre o trabalhador e os meios de produção. Do ponto de vista psicológico, o trabalho provoca diferentes níveis de motivação e de satisfação no trabalhador, principalmente quanto à forma e à maneira na qual desempenha sua tarefa. As diferentes abordagens sobre motivação humana destacam o conceito de necessidade e o conceito de expectativa. Não basta apenas levarmos em consideração as necessidades como determinantes do comportamento do trabalhador; é preciso considerar também em que grau ele percebe as condições existentes no ambiente organizacional, como facilitadoras ou não, para atingir seus objetivos e suas necessidades (KANAANE, 2009). Podemos dizer que, de certa forma, ao sentir-se integrado em um processo de trabalho, o homem tende a responsabilizar-se por ele. Tal participação proporciona- lhe consciência mais ampla de si mesmo e dos meios de produção e possibilita-lhe desenvolver sua habilidade de opção diante do trabalho e, por extensão, da sociedade de maneira geral. Consequentemente, esse caminho lhe dá a possibilidade de apropriar-se de sua cidadania, que lhe proporciona condições de desenvolvimento e equilíbrio psicológico. É possível considerar, que tirando as condições de sobrevivência e subsistência, o trabalho possibilita ao indivíduo exercer sua criatividade, desde que as condições ambientais e profissionais sejam facilitadoras, levando-o à plena realização (KANAANE, 2009). Segundo Kanaane (2009, p. 22) “as energias individuais e grupais, se canalizadas efetivamente para a concretização de objetivos pessoais e/ou profissionais, possibilitam ao ser humano condições de dar vazão a suas potencialidades, resultando em realização pessoal”. Isso mostra a importância do trabalho como fonte que mobiliza as capacidades humanas. 2.1 As Organizações de Trabalho As pessoas passam maior parte do tempo de suas vidas no trabalho e dentro das organizações. A produção de bens e serviços não pode ser desenvolvida por pessoas que trabalham de forma isolada. Quanto mais industrializada for a sociedade, tanto maiores, numerosas e complexas se tornam as organizações. Estas passam a criar um grande e duradouro impacto sobre a vida e sobre a qualidade de vida das pessoas. As pessoas nascem, crescem, são educadas, trabalham e se divertem dentro das organizações. Sejam quais forem seus objetivos – lucrativos, educacionais, religiosos, Fundamentos da Psicologia Organizacional | O Homem e o Trabalho www.cenes.com.br | 24 políticos, sociais, econômicos – as organizações envolvem as pessoas que se tornam cada vez mais dependentes da atividade organizacional (CHIAVENATO, 2003). Lacombe (2006, p. 8) coloca que “as organizações são feitas por pessoas. São elas que agem que tomam as decisões. Nada acontece em uma organização até que as pessoas tomem decisões e ajam em seu nome”. Denominamos aqui organização um grupo de pessoas que se constitui de forma organizada para alcançar objetivos em comum. Incluem-se nessa definição as empresas, as universidades, os hospitais, as escolas, as creches, as associações culturais, os partidos políticos, os sindicatos, os clubes, os condomínios, as cooperativas, as famílias, as organizações não governamentais, as associações de classes profissionais, as corporações militares, as associações de moradores de bairros e muitas outras. Quase tudo, portanto é realizado pela e dentro das organizações. Segundo Chiavenato (1998), a organização é um sistema de atividades conscientemente coordenadas de dois ou mais indivíduos. A cooperação entre eles é essencial para a existência da organização. Uma organização só existe quando há pessoas capazes de se comunicar e que estão dispostas a contribuir com ação conjunta a fim de alcançarem um objetivocomum. Como todos nós sabemos, as organizações passaram e ainda estão passando por muitas transformações. A cada dia o mercado fica mais competitivo e é necessário introduzir novas tecnologias, como maneira de modificar os seus produtos ou serviços, e para alterar o comportamento das pessoas. Mudando os seus processos internos, as organizações estão sempre mostrando diferentes características na sua estrutura e nos seus processos. Essas alterações provocam constantes impactos na sociedade e na vida das pessoas (CHIAVENATTO, 2003). Segundo Chiavenatto (2003) no decorrer do século XX, as organizações passaram por três fases diferentes: A Era da Industrialização Clássica, que ocorreu entre os anos de 1900 e 1950, foi um período marcado pela intensificação da industrialização impulsionada pela Revolução Industrial. Durante essa fase, a estrutura organizacional das empresas era caracterizada por uma hierarquia piramidal e centralizada, com departamentalização funcional e um modelo burocrático de gestão. As decisões eram centralizadas no topo da hierarquia, e eram estabelecidas regras e regulamentos internos para disciplinar e padronizar o comportamento dos funcionários. Nesse contexto, as pessoas eram vistas apenas como recursos de produção, Fundamentos da Psicologia Organizacional | O Homem e o Trabalho www.cenes.com.br | 25 juntamente com outros recursos organizacionais, como máquinas, equipamentos e capital. Essa concepção era baseada nos três fatores tradicionais de produção: natureza, capital e trabalho. A gestão dos recursos humanos era conhecida como Relações Industriais, e seu principal objetivo era atender às demandas da tecnologia e da produção industrial. Nessa época, o ser humano era tratado como mero apêndice da máquina, e suas necessidades e bem-estar muitas vezes eram negligenciados em prol da eficiência produtiva. Os trabalhadores eram vistos como peças substituíveis no processo de produção, e a ênfase era colocada na eficiência e na produtividade. As condições de trabalho eram frequentemente precárias, com longas jornadas, baixos salários e falta de direitos trabalhistas. As relações entre os trabalhadores e a gestão eram frequentemente marcadas por conflitos e desigualdades, com os trabalhadores buscando melhores condições de trabalho e direitos sindicais. No entanto, é importante ressaltar que a Era da Industrialização Clássica também trouxe avanços significativos em termos de produção em larga escala, aumento da eficiência e crescimento econômico. A Revolução Industrial impulsionou o desenvolvimento tecnológico e a criação de indústrias modernas, transformando profundamente a sociedade e a forma como o trabalho era realizado. Embora a visão de tratar os trabalhadores como meros recursos de produção tenha sido predominante nessa época, ao longo do tempo surgiram movimentos sociais e trabalhistas que buscaram melhorias nas condições de trabalho e na valorização dos direitos dos trabalhadores. Esses movimentos foram fundamentais para o desenvolvimento de uma perspectiva mais humanizada e centrada nas pessoas no campo da gestão de recursos humanos. Com o passar dos anos, a administração e a gestão dos recursos humanos evoluíram para reconhecer a importância do ser humano no ambiente de trabalho, valorizando o desenvolvimento e o bem-estar dos funcionários. Essa mudança de paradigma resultou em abordagens mais humanas e estratégicas para a gestão de pessoas, com o reconhecimento de que o sucesso organizacional depende do engajamento, satisfação e desenvolvimento dos colaboradores. A Era da Industrialização Neoclássica foi um período que se estendeu de 1950 a 1990 e teve seu início após a Segunda Guerra Mundial, marcando uma época de intensas mudanças no mundo. Durante esse período, as transformações passaram a ocorrer de forma rápida, intensa e imprevisível. As transações comerciais deixaram de ser apenas locais e passaram a ocorrer em nível regional e internacional. Fundamentos da Psicologia Organizacional | O Homem e o Trabalho www.cenes.com.br | 26 O antigo modelo burocrático, piramidal e centralizador da Era da Industrialização Clássica revelou-se lento e inflexível para acompanhar as rápidas mudanças que ocorriam no ambiente organizacional. Diante desse cenário, as organizações precisaram criar modelos de estrutura que possibilitassem maior inovação e melhor adaptação às novas condições. Foi nesse contexto que surgiu a estrutura matricial, que introduziu um esquema lateral de departamentalização por produtos ou serviços. Essa estrutura permitia agilidade nos processos e uma resposta mais rápida às demandas, incorporando características de inovação e dinamismo para alcançar a competitividade. Além das mudanças na estrutura organizacional, houve uma transformação na cultura empresarial. A cultura organizacional passou a focar no presente, dando espaço para a inovação como um fator essencial para o sucesso das empresas. A visão tradicional de Relações Industriais foi substituída por uma nova abordagem na gestão de pessoas, conhecida como Administração de Recursos Humanos (ARH). Na Administração de Recursos Humanos, as pessoas passaram a ser vistas como recursos vivos e não apenas como máquinas de produção. Houve uma mudança de perspectiva, reconhecendo-se a importância do capital humano nas organizações. As pessoas foram valorizadas como agentes fundamentais para o sucesso das empresas, considerando-se suas habilidades, conhecimentos e potenciais de desenvolvimento. Outro aspecto importante desse período foi o avanço da tecnologia, que ocupou um espaço significativo nas organizações e transformou tanto a forma de trabalho quanto a vida das pessoas que faziam parte delas. A tecnologia trouxe inovações em processos produtivos, comunicação, armazenamento de dados e outros aspectos, possibilitando maior eficiência e produtividade nas empresas. A Era da Informação teve início por volta dos anos 90 e é caracterizada por rápidas e imprevistas mudanças. A disseminação instantânea de informações possibilitada pela tecnologia transformou a economia global, levando à globalização e ao surgimento de um mercado financeiro que atravessa continentes em questão de segundos, em busca de oportunidades de investimento. Nesse contexto, as organizações tornaram-se altamente competitivas, buscando agilidade, mobilidade, inovação e adaptabilidade. A estrutura organizacional em matriz, que anteriormente era considerada avançada, mostrou-se insuficiente para atender às demandas desse novo ambiente. Os processos organizacionais passaram a ganhar maior importância do que os departamentos em si, uma vez que as empresas Fundamentos da Psicologia Organizacional | O Homem e o Trabalho www.cenes.com.br | 27 precisam se adaptar rapidamente às mudanças no ambiente e na tecnologia. Os cargos e funções dentro das organizações são constantemente redefinidos em resposta a essas mudanças. Os processos e serviços são ajustados de acordo com as demandas e necessidades dos clientes, que se tornaram mais exigentes. As organizações do futuro estão se movendo além das restrições de tempo, espaço e distância, permitindo uma maior flexibilidade e capacidade de resposta. A própria concepção de espaço físico nas organizações passou por transformações. Ambientes de trabalho coletivos substituíram as salas e espaços individuais, promovendo maior colaboração e interação entre os membros da equipe. Na Era da Informação, o conhecimento emergiu como o recurso mais valioso. Embora o capital financeiro ainda seja importante, é o conhecimento sobre como utilizá-lo e aplicá-lo de forma lucrativa que se tornou crucial. O trabalho manual foi substituído pelo trabalho mental, e muitas pessoas migraram do setor industrial para o setor de serviços. Indivíduos com habilidades mentais e conhecimentos especializados passarama ser altamente valorizados e se tornaram a base das organizações. Essa mudança de paradigma trouxe consigo uma nova abordagem na gestão de pessoas, hoje conhecida como Gestão de Pessoas. A antiga Administração de Recursos Humanos (ARH) deu lugar a uma abordagem mais abrangente, reconhecendo que as pessoas não são apenas recursos organizacionais, mas seres humanos dotados de inteligência, conhecimentos, habilidades e atitudes que contribuem para o sucesso das organizações. Em resumo, a Era da Informação trouxe consigo mudanças profundas nas organizações, impulsionadas pela tecnologia e pela disseminação instantânea de informações. A agilidade, a capacidade de inovação e a valorização do conhecimento e das habilidades das pessoas são elementos-chave nesse novo contexto, em que a gestão de pessoas assume um papel central na busca pela competitividade e pelo sucesso organizacional. Segundo Kanaane (2009) os estudiosos avaliam que a grande mudança nessa virada do século no mundo do trabalho trará uma nova organização do trabalho. Apenas uma minoria dos profissionais estará empregada em empresas que exigem e oferecem tempo integral, como o existente no estilo tradicional. Os que possuírem emprego em tempo integral serão somente os profissionais de altíssima qualificação, os demais serão divididos em três categorias diferentes no mundo do trabalho: Fundamentos da Psicologia Organizacional | O Homem e o Trabalho www.cenes.com.br | 28 • 1ª Classe: refere-se a um grupo de profissionais que estão envolvidos em projetos específicos. Esses indivíduos são responsáveis por executar tarefas que exigem habilidades e competências especializadas. Por estarem envolvidos em projetos complexos e desafiadores, geralmente recebem uma remuneração mais alta. Esses profissionais podem ser contratados como consultores, especialistas ou membros de equipes de projetos. Eles devem possuir conhecimentos avançados em suas áreas de atuação e serem capazes de lidar com demandas exigentes. • 2ª Classe: compreende o trabalho em tempo parcial ou sazonal. Nesse caso, muitas pessoas trabalham apenas alguns dias ou algumas vezes por semana. Esses trabalhadores não precisam ter um alto nível de intelectualização, mas sim de habilidades especializadas para desempenhar suas tarefas específicas. Exemplos comuns são encontrados em setores como varejo, turismo e hospitalidade, nos quais os funcionários podem ser contratados para atender a picos sazonais de demanda, como feriados ou temporadas de férias. Geralmente, esses trabalhadores são treinados para desempenhar funções específicas e não requerem um alto grau de especialização ou qualificação. • 3ª Classe: engloba o trabalho individual ou em grupos familiares, que é realizado em casa, conhecido como Home Office. Nessa modalidade, as pessoas executam suas atividades profissionais em seu próprio ambiente doméstico. Essa forma de trabalho oferece flexibilidade em termos de horários e localização, permitindo que os profissionais se organizem de acordo com suas necessidades individuais. Essa categoria abrange uma variedade de profissões, como freelancers, empreendedores individuais, trabalhadores autônomos e profissionais que trabalham remotamente para empresas. O Home Office tem se tornado cada vez mais comum devido ao avanço da tecnologia e à possibilidade de comunicação e colaboração online. É importante ressaltar que cada uma dessas classes de trabalho apresenta características distintas e requer diferentes níveis de habilidades, especialização e remuneração. Compreender as particularidades de cada classe de trabalho auxilia na compreensão do panorama geral do mercado de trabalho e nas oportunidades disponíveis para os profissionais em diferentes setores e contextos. Fundamentos da Psicologia Organizacional | Evolução Histórica da Psicologia Organizacional www.cenes.com.br | 29 Como pudemos observar, as organizações passaram e passam por constantes mudanças, e isso faz com que elas valorizem ainda mais o capital humano no ambiente organizacional. Este novo cenário vem trazer uma nova concepção para gerir as pessoas. A moderna e atual Gestão de Pessoas exige do profissional responsável a capacidade de trilhar novos caminhos para a valorização dos colaboradores, abrindo cada vez mais espaço e se fazendo necessária a inserção dos psicólogos dentro das organizações de trabalho. 3 Evolução Histórica da Psicologia Organizacional Após compreendermos a relação do homem com o trabalho e as organizações, vamos dar início ao estudo da Psicologia Organizacional. Segundo Spector (2005, p. 7) “psicologia é a ciência do comportamento humano (e não humano), da cognição, da emoção e da motivação”. Ela pode ser dividida em várias especializações, algumas delas se preocupam somente com o próprio conhecimento da psicologia como ciência, enquanto outras se voltam também para a aplicação daquela ciência. A psicologia organizacional está inserida nesta última categoria ocupando-se tanto da ciência psicológica como com a sua aplicação aos problemas das pessoas nas organizações. O campo da Psicologia Organizacional possui duas divisões principais: a industrial (de recursos humanos) e a organizacional. Apesar destes dois conteúdos se sobreporem e não poderem ser facilmente separados, tradicionalmente eles têm origens diferentes. A parte industrial, que deu início a este campo de atuação é a mais antiga e busca gerenciar a eficácia organizacional por meio do uso adequado dos recursos humanos. Ela se preocupa com a questão de eficiência no projeto de tarefas, seleção e treinamento de funcionários e avaliação de desempenho. A parte organizacional se desenvolveu a partir do movimento das relações humanas nas empresas. Seu foco no trabalhador como indivíduo é maior do que a existente na parte industrial. Ela se preocupa em entender e compreender o comportamento individual e aumentar o bem-estar dos colaboradores no ambiente de trabalho. Os aspectos organizacionais abordam o comportamento e as atitudes dos funcionários, o estresse no trabalho e práticas de supervisão. Como podemos observar a área industrial e organizacional não podem ser distinguidas com clareza, e juntas elas sugerem toda a amplitude da psicologia organizacional (SPECTOR, 2005). Aguiar (2002) coloca que “a psicologia organizacional no seu processo de Fundamentos da Psicologia Organizacional | Evolução Histórica da Psicologia Organizacional www.cenes.com.br | 30 desenvolvimento histórico enquanto ciência aplicada, tem se dedicado à adequação dos indivíduos membros da organização aos fins por ela definidos”. Isto caracteriza uma razão técnica identificada pela utilização dos indivíduos como meio para atingir objetivos determinados pela organização. A psicologia organizacional utiliza técnicas e instrumentos que atuam desde a seleção a partir de critérios pré-determinados pela empresa como características de personalidade, valores e sentimentos. O verdadeiro papel da seleção é atender a demanda da organização, admitindo pessoas que se moldem a ela e que se integrem à sua cultura e filosofia, sem questionamentos. O desenvolvimento da psicologia organizacional e o do trabalho no Brasil acompanharam as ocorrências mundiais relativas à área. Seu aparecimento está associado à crescente industrialização que ocorreu nos principais países do cenário Ocidental, no fim do século XIX e início do século XX (ZANELLI & BASTOS, 2004). Segundo Zanelli & Bastos (2004) a busca de critérios e procedimentos para atender as demandas de avaliação e seleção de pessoal para as indústrias em grande expansão e de militares para o exército fez com que os métodos e teorias tivessem seus primórdios na área. O desempenho e eficiência no trabalho constituíram, desde o começo, preocupações que orientam as atividades dos psicólogos nas organizações.Dois psicólogos são considerados os principais fundadores da área: Hugo Munsterberg e Walter Dill Scott eram psicólogos experimentais e professores universitários que se envolveram na aplicação de técnicas da psicologia para resolver problemas em organizações. Munsterberg estava mais interessado na seleção de pessoal e no uso de novos testes psicológicos, mas por falta de apoio dos colegas da universidade ele acabou mudando para a nova área da psicologia industrial. Scott também tinha os mesmos interesses de Munsterberg, assim como na Psicologia da Publicidade. Cada um deles escreveu um livro sobre esses tópicos, incluindo The Theory of Advertising, de Scott, e Munsterberg escreveu o primeiro compêndio sobre Psicologia Organizacional, com o título Psychology and Industrial Efficiency (SPECTOR, 2005). De acordo com Spector (2005, p. 14): A principal influência sobre o campo foi o trabalho de Frederick Winslow Taylor, um engenheiro que estudou longamente a produtividade de funcionários em sua carreira. Taylor desenvolveu o que ele chamava de administração científica como uma abordagem para manejar os operários de produção em fábricas. Fundamentos da Psicologia Organizacional | Evolução Histórica da Psicologia Organizacional www.cenes.com.br | 31 (Spector, 2005, p.14). Ainda segundo este autor, a administração científica inclui diversos princípios para orientar as práticas organizacionais. Em seus escritos Taylor sugeriu o seguinte: • Cada trabalho deve ser analisado com atenção, para que o modo otimizado de executar as tarefas possa ser especificado; • Os colaboradores devem ser contratados de acordo com as características relacionadas ao desempenho do trabalho. Os gerentes devem estudar os funcionários para descobrir quais características pessoais são importantes; • Os funcionários devem ser treinados para executar suas tarefas; • Os funcionários devem ser recompensados por sua produtividade para incentivar melhor desempenho. Podemos observar que apesar de mudanças e ajustes ocorridos ao longo dos anos, estas ideias ainda são consideradas importantes nas organizações até hoje. Para Zanelli & Bastos (2004) as raízes que vinculam a Psicologia com o trabalho são encontradas no final do século XIX, fora dos Estados Unidos da América. Em 1889, Patrizi fundou o Laboratório da Psicologia do Trabalho em Moderna, Itália. Kraeplin, na Alemanha, e Mosso, na Itália, nos anos 90, investigaram aspectos psicofisiológicos ligados à fadiga e a carga de trabalho. Partindo das ideias de Taylor, Frank e Lilian Gilbreth passaram a investigar a forma pela qual as tarefas são realizadas pelas pessoas, desenvolvendo o que veio a ser chamado estudo do tempo e movimento. Estes estudos, cerne de uma perspectiva taylorista para potencializar a eficiência do desempenho no trabalho, estiveram na base do campo denominado Fatores Humanos, voltado para analisar e projetar ambientes de trabalho e tecnologias que levassem em consideração as características humanas. Depois, o avanço desta área ocorreu de modo tão rápido quanto as exigências dos acontecimentos do mundo se impuseram, como nas grandes guerras na primeira metade do século XX, quando os testes psicológicos tiveram longo uso e desenvolvimento, para atender as seleções de recursos humanos (ZANELLI & BASTOS, 2004). Durante as décadas entre as duas guerras mundiais, a psicologia organizacional cresceu para a maioria das áreas nas quais é utilizada hoje. À medida que as Fundamentos da Psicologia Organizacional | Evolução Histórica da Psicologia Organizacional www.cenes.com.br | 32 organizações foram ficando maiores, elas começaram a contratar psicólogos organizacionais para atender a muitos de seus inúmeros problemas funcionais, principalmente aqueles que eram relevantes para a produtividade. Em 1921, a Penn State University concedeu o que muitos consideravam o primeiro título de Ph.D chamado naquele tempo de Psicologia Industrial, a Bruce V. Moore. Os psicólogos organizacionais começaram a montar empresas de consultoria que podiam oferecer serviços às empresas mediante remuneração. A mais conhecida destas consultorias foi a Psychological Corporation, fundada em 1921 por James Mckeen Cattell, e que se mantêm ativa até hoje. Um dos mais importantes eventos desse período foram os estudos de Hawthorne, que duraram por mais de dez anos na Western Eletric Company, nos Estados Unidos (SPECTOR, 2005). Segundo Zanelli & Bastos (2004, p 468), “as investigações de Elton Mayo na Western Eletric Company, marcaram as décadas de 20 e 30 e revelaram a importância de considerar fatores sociais ligados às situações de trabalho”. As ciências do comportamento atingiram relevância no mundo dos negócios. Mayo divulgou The human problems of industrial civilization, em 1933, um livro que sintetizou as descobertas daqueles estudos e deu impulso à Era das Relações Humanas. O campo de aplicação até meados da década de 30 estava direcionado a estudos e intervenções juntos aos incentivos financeiros, como treinamento, fadiga e monotonia, luminosidade e ventilação, testes de admissão, estudos de tempo e movimentos, turnos de trabalho, segurança e disciplina. Nas décadas seguintes, cresceu também para outros países industrializados, além dos EUA, as atividades dos psicólogos e de outros profissionais ligados à Ciência do Comportamento, dirigiram- se para os incentivos financeiros como liderança e supervisão, relações interpessoais, comportamentos e atitudes, moral, avaliação de executivos, relação homem-máquina, entrevistas e aconselhamentos (ZANELLI & BASTOS, 2004). A Segunda Guerra Mundial provocou um efeito estimulador sobre o desenvolvimento da disciplina, com muitos psicólogos de todas as áreas e especialidades contribuindo para o esforço de guerra. Com o resultado da Guerra, as portas da psicologia aplicada se abriram, e criou uma divisão para a Psicologia Comercial e Industrial em 1944 e hoje conhecida com SIOP (Sociedade de Psicologia Industrial e Organizacional). Com o final da guerra, as duas áreas da Psicologia Organizacional continuaram a crescer, e por demonstrar seu valor à sociedade, as empresas privadas passaram a ter interesse cada vez maior no campo, implantando muitos procedimentos como os testes psicológicos (SPECTOR, 2005). Fundamentos da Psicologia Organizacional | Evolução Histórica da Psicologia Organizacional www.cenes.com.br | 33 Segundo Spector (2005) outro acontecimento que ajudou a formar o campo da psicologia organizacional foi a aprovação de da Lei dos Direitos Civis de 1964 nos Estados Unidos, colocando em movimento as forças que causaram um grande impacto na forma das organizações contratarem e lidarem com seus colaboradores, sendo necessário a mudança de muitas práticas antes discriminatórias. Os psicólogos foram chamados a elaborar procedimentos que pudessem eliminar a discriminação no ambiente de trabalho. Em 1991, houve a criação da lei que beneficia as pessoas inválidas e deficientes e outra vez os psicólogos foram chamados para encontrar meios de eliminar mais este problema envolvendo a discriminação. Abaixo o quadro histórico da Evolução Histórica da Psicologia Organizacional. Até agora estudamos a Evolução Histórica da Psicologia Organizacional nos Estados Unidos que é onde foi iniciada. Agora falaremos um pouco sobre este processo no Brasil e nos demais países do mundo. Segundo Zanelli & Bastos (2004, p. 473): Até quase o final do século XIX, a economia brasileira era essencialmente escravocrata. Com o aumento do fluxo migratório e a chegada dos imigrantes europeus, deu-se início ao cultivo do café foram incrementadas as manufaturas e pequenos negócios, sobretudo nas regiões sul e sudeste. (Zanelli & Bastos, 2004, p. 473). Fundamentos da Psicologia Organizacional | Evolução Histórica da Psicologia
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