Buscar

edfisica-98

Prévia do material em texto

195Quem dança seus males...
Educação Física
Para aprofundar ainda mais essa discussão, podemos também nos 
remeter à Clifford Geertz, quando o autor descreve o conceito de cul-
tura a partir de estudos da antropologia. Para o autor:
a cultura é a própria condição de vida de todos os seres humanos. É produto das ações humanas, 
mas é também processo contínuo pelo qual as pessoas dão sentido às suas ações. Constitui-se em 
processo singular e privado, mas é também plural e público. É universal, porque todos os humanos a 
produzem, mas é também local, uma vez que é a dinâmica específica de vida que significa o que o ser 
humano faz. A cultura ocorre na mediação dos indivíduos entre si, manipulando padrões de significados 
que fazem num contexto específico. (GEERTZ, apud DAÓLIO, 2004, p. 07).
Cabe lembrar que, dentro de cada cultura, existem outras “cultu-
ras” que podem determinar outros padrões de costumes. Logo, cultura 
é apreender as determinações, os valores, as normas e as éticas. Além 
disso, as pessoas se apropriam destes elementos culturais resignifican-
do-os, o que faz da cultura algo vivo, objeto de confrontos, conflitos e 
contradições constantes.
E o ritmo? Será que tem alguma relação entre o ritmo e a cultura? O 
ritmo também é influenciado pelos aspectos culturais, portanto, pode 
ser compreendido tanto no sentido individual como coletivo, pois ele 
está presente em tudo, determinando uma das formas de como nos ex-
pressamos e interagimos no mundo. 
O ritmo pode ser produzido de diversas maneiras – pois este se cons-
titui como uma série de movimentos ou ruídos que ocorrem no tem-
po a intervalos regulares, com acentos fortes ou fracos. Podemos obser-
var alguns exemplos, tais como: sons de uma metrópole, sons de uma 
construção, sons do meio rural, sons da natureza, sons feitos pelo nos-
so corpo, sons produzidos pelo homem por intermédio de instrumentos 
musicais, que num arranjo harmônico entre melodia e ritmo constituem 
a música, entre outros sons. No entanto, nem sempre os sons produzi-
dos no nosso cotidiano podem ser cadências rítmicas agradáveis, como 
é o caso de ruídos provocados pelo som de uma furadeira. 
Os ritmos produzidos nos grandes centros urbanos são provenientes 
de uma vida cadenciada pela pressa e pelas necessidades geradas em um 
mundo organizado em torno do trabalho, ou seja, conforme Saraiva:
Muitas vezes, supervalorizamos um ritmo que é fruto das relações societais e submetemo-nos a es-
ta construção/invenção. O ritmo frenético das grandes cidades em que as pessoas se vêem subordi-
nadas parece igualar o ser humano e a vida humana ao funcionamento de uma máquina que não tem 
tempo a perder. Não raro, a idéia de homem e mulher bem sucedidos é acompanhada desse ritmo. A 
pressa, a falta de tempo para resolver todas as tarefas/trabalhos que somos incumbidos a realizar ho-
diernamente são valores já absorvidos coletivamente e que condicionam e limitam a percepção/sensi-
bilidade para a “escuta” dos ritmos que estão em nós, que são ignorados na grande maioria das vezes 
e que cada um de nós poderia desenvolver e/ou refinar, seja através da dança, seja por meio de outra 
arte que desperte para tal percepção. (SARAIVA apud SILVA, 2005, p. 118-119)
196 Dança
Ensino Médio
Estamos vivendo numa sociedade cada vez mais concorrida, veloz, 
ágil e impaciente e isto acaba se refletindo no estilo de vida que leva-
mos. Com este estilo de vida tão atribulado, sobra pouco tempo pa-
ra realizarmos as atividades mais simples. Enfim, não podemos perder 
tempo. E nessa dinâmica, sobra pouco tempo para resolvermos to-
das as “tarefas”, sejam elas de ordem pessoal ou profissional. Com is-
to, acabamos constantemente comentando: “vivemos uma vida muito 
corrida” e/ou “não temos tempo para fazer nada”. Dessa forma, a vida 
anda cheia de obrigações e compromissos, deixando-nos pouco tem-
po para valorizar ”coisas” simples do nosso cotidiano. 
Essa corrida frenética é muito comum na vida das pessoas dos 
grandes centros urbanos, os quais acabam condicionando-as e limitan-
do-as, fazendo com que sejam envolvidas com o ritmo de tudo o que 
está ao redor, com isso, acabam ignorando o próprio ritmo. 
A escola parece ser o espaço ideal para o desenvolvimento da sensi-
bilidade e do reconhecimento do ritmo vital inerente ao ser humano, uti-
lizando-se dos elementos constituintes da dança numa ação educativa.
Leia o que Jeandot diz sobre ritmo vital:
O ritmo vital é marcado por tensões e relaxamentos energéticos sucessivos, condicionados no dia-
a-dia por nossa movimentação e por nosso ritmo fisiológico. Essa noção rítmica instintiva, a que se mes-
clam elementos sensoriais e afetivos, constitui a base de nosso senso de equilíbrio e harmonia, essen-
cial para que nos situemos no mundo e percebamos seus limites e contornos. (JEANDOT, 1990, p.26).
Se o ritmo está vinculado ao equilíbrio e a harmonia individual, 
portanto internalizado, seria de fundamental importância, compreen-
dermos como isso acontece e por que isso acontece em nosso cotidia-
no. Assim estaríamos nos descobrindo e também aprendendo a perce-
ber o ritmo do outro, o qual pode ser diferente do meu. Não seria este 
um dos papéis da dança na escola? 
Para dançarmos nem sempre será necessário nos preocuparmos 
com movimentos pré-estabelecidos, mas também é importante conhe-
cer e experimentar esses movimentos pré-determinados, uma vez que 
também aprendemos a partir da reprodução de modelos. Esses mode-
los podem servir de referência para um aprendizado escolar, mas, aci-
ma de tudo, devem possibilitar uma reflexão, no sentido de resigni-
ficá-los, e esta pode ser uma das formas de se fazer uma re-leitura e 
uma análise das representações estilizadas e simbólicas que são pro-
duzidas pela dança.
Você já prestou atenção nos estilos de dança, como o axé, o rap e 
o funk, entre outros, nos quais os gestos são sugeridos, determinando 
a forma de expressão dos grupos que dançam esses estilos? Muitas ve-
zes, quando as pessoas estão dançando, acabam se preocupando com 
a execução das coreografias, o que impede a reflexão sobre as mensa-

Continue navegando

Outros materiais