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Ana Paula Garcia Spolon Turismo e Arquitetura MINISTÉRIO DO TURISMO PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Luíz Inácio Lula da Silva MINISTRA DE ESTADO DO TURISMO Daniela Mote de Souza Carneiro SECRETÁRIO-EXECUTIVO Wallace Nunes da Silva SECRETÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO, SUSTENTABILIDADE E COMPETITIVIDADE NO TURISMO Marcelo Lima Costa DIRETOR DE QUALIDADE, SUSTENTABILIDADE E AÇÕES CLIMÁTICAS NO TURISMO Leandro Luiz de Jesus Gomes COORDENADOR-GERAL DE QUALIDADE NO TURISMO Daniel Wills COORDENAÇÃO DE QUALIFICAÇÃO DE PRESTADORES DE SERVIÇOS TURÍSTICOS (COPRES) COORDENADORA DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DO TURISMO Jéssica de Oliveira Queiroga UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE REITOR Antonio Claudio Lucas da Nóbrega VICE-REITOR Fabio Barboza Passos DIRETORA DO CEAD/UFF Regina Célia Moreth Bragança DIRETOR DA FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA João Evangelista Dias Monteiro CHEFE DO DEPARTAMENTO DE TURISMO Fábia Trentin COORDENADORA DO PROJETO Fábia Trentin Vice-coordenador Carlos Lidizia Equipe LabPGTUR Beatriz Cardoso Lays Evangelista Maria Eduarda Teixeira Rafaellen Franklin Revisoras: Nathália de Ornelas N. de Lima Camila Louzada Coutinho Capa e Designer: Paulo Carvalho 5 Turismo e Arquitetura Spolon, Ana Paula Garcia Turismo e arquitetura [livro eletrônico] / Ana Paula Garcia Spolon. -- Niterói, RJ : Laboratório de Políticas, Governança e Turismo (LabPGTUR) : Coordenação de Educação a Distancia (Cead/UFF), 2023. -- (Guia de turismo) PDF Bibliografia. ISBN 978-65-84620-22-3 1. Arquitetura 2. Patrimônio cultural 3. Patrimônio histórico 4. Turismo I. Título. II. Série. 23-169167 CDD-363.69 Índices para catálogo sistemático: 1. Arquitetura e patrimônio histórico 363.69 Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253 Direitos desta edição reservados ao Laboratório de Políticas, Governança e Turismo (LabPGTUR) e a Coordenação de Educação a Distância (CEAD/UFF) Todo o conteúdo é de responsabilidade dos autores. É permitida a reprodução total ou parcial desta obra desde que citada a fonte. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Turismo e Arquitetura 6 Turismo e Arquitetura Ana Paula Garcia Spolon E-mail: anapaulaspolon@id.uff.br CEAD/UFF (LabPGTUR) 2023 7 Turismo e Arquitetura Ana Paula Garcia Spolon Hoteleira (SENAC São Paulo), com Especialização em Administração de Empresas (EAESP-FGV) e Mestrado e Doutorado em Arquitetura e Urbanismo (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo). Estágios pós-doutorais em Geografi a – Análise Territorial e Estudos Turísticos (Universitat Rovira i Virgili/Universidad de Barcelona) e Ciências – Hospitalidade (Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo). Professora Associada do Departamento de Turismo da Universidade Federal Fluminense (UFF). E-mail: anapaulaspolon@id.uff .br Lattes: http://lattes.cnpq.br/./6925630903453508 ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7125-5877 e Doutorado em Arquitetura e Urbanismo (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo). Estágios Turismo e Arquitetura 8 9 Turismo e Arquitetura Sumário Apresentação do módulo __________________________ 08 1. Arquitetura e patrimônio cultural urbano __________ 10 1.1. Turismo e patrimônio ____________________________________ 13 1.2. Patrimônio cultural nas cidades ____________________________ 14 2. A arquitetura como base para roteiros turísticos segmentados e especializados ______________________ 15 3. Arquitetura e urbanismo _________________________ 18 3.1. O patrimônio edificado e o desenho das cidades ______________ 19 3.2. A imagem da cidade e o olhar do turista _____________________ 20 4. Arquitetura e monumentalidade __________________ 22 4.1 Monumentos religiosos ___________________________________ 26 4.2 Monumentos civis _______________________________________ 26 4.3 Monumentos militares ____________________________________ 27 Considerações finais ______________________________ 29 Recomendações de aprendizado ____________________ 31 Material complementar ____________________________ 31 Exercícios de fixação ______________________________ 33 Referências ______________________________________ 34 Turismo e Arquitetura 10 Apresentação do módulo Neste módulo, são tratados os temas do turismo e da arquitetura, pela perspectiva de sua interação nos territórios comumente apresentados ao turista pelo guiamento, isto é, a partir da atuação profissional dos guias de turismo, nos municípios e regiões turísticas. Neste contexto, é fundamental compreender a arquitetura como um elemento que maximiza o grau de atratividade dos lugares, destacando o patrimônio construído e suas características constituintes, a partir de seu valor histórico, cultural, artístico, político, econômico, ambiental, social e, especialmente, turístico. As cidades são espaços complexos. Na mesma medida em que dispõem de territórios bem planejados e agradáveis, têm também zonas de contradições, lugares mal preparados e mal cuidados e muitos problemas a serem enfrentados. Densas, são espaços onde vive a maior parte das pessoas. No Brasil, a população urbana equivale a 85% da população total. No mundo, 55% das pessoas vivem em cidades, podendo esse percentual chegar a 68% em 2050 (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2022). Por óbvio, o turismo nas cidades, ou para as cidades, também conhecido como turismo urbano, tem enorme representatividade. Tanta que, em alguns casos, o excesso de turistas nas áreas urbanas provoca impactos significativos, como superlotação em lugares determinados, aumento de preços e mal estar nos residentes, que veem seus espaços serem tomados por pessoas com comportamentos bastante diversos do seu. O papel do guia, portanto, é fundamental para que se estabeleça uma interação positiva entre visitantes e visitados, nos espaços urbanos. Os pontos que, na cidade, são dotados de reconhecido potencial de atrair o interesse do turista são chamados de atrativos turísticos. O fazer profissional dos guias é exatamente apresentar o conjunto de atrativos de um destino aos turistas, de maneira responsável – o que significa não apenas mostrá-los, mas contar sua história, destacar suas características diferenciais e inseri-los no contexto do próprio destino, de acordo com sua significação. O conjunto do patrimônio construído (ou edificado) das cidades é apenas um dos muitos conjuntos de atrativos que costumam compor os destinos turísticos. Mas são um atrativo valioso. Edifícios, além de seu valor formal, como construção mesmo, têm um valor simbólico: eles são parte da história dos destinos, são espaços promotores de sociabilidades, têm significado cultural, são ícones 11 Turismo e Arquitetura urbanos e resguardam a memória dos lugares. Veja-se o caso do Copacabana Palace Hotel, no Rio de Janeiro, por exemplo. O hotel é um símbolo da cidade. Trata-se de uma construção histórica, encomendada no início da década de 1920 pelo então presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, em uma época em que o país não dispunha de hotéis de luxo preparados para receber hóspedes importantes. Foi projetado por um arquiteto francês – Joseph Gire – e inspirado em hotéis da Riviera Francesa, em estilo clássico (ARCHTRENDS, 2018), especialmente no Hotel Negresco de Nice. São do mesmo arquiteto também os projetos do Hotel Glória (aberto em 1922) e do Palácio Laranjeiras (de 1913). O Copacabana Palace Hotel faz 100 anos em 2023 e se mantém como um ícone carioca, destacando- se como patrimônio arquitetônico, histórico e cultural na paisagem da praia de Copacabana, a mais famosa praia brasileira no exterior. Figura 1 – Fachada do Copacabana Palace Hotel Fonte: Belmond (2023), disponível em https://img.belmond.com/f_auto/t_640x640/photos/cop/cop-ext07.jpg. O turismo relacionado à arquitetura – ou, em termos mais gerais, ao ambienteconstruído – é um segmento bastante valorizado em todo o mundo. Roteiros turísticos ancorados na arquitetura são um produto diferenciado, que pede não somente conhecimento sobre o patrimônio edificado dos destinos, mas também uma compreensão ampla sobre a maneira como este patrimônio se relaciona com a história e a cultura local ou regional. Turismo e Arquitetura 12 O objetivo deste módulo é ajudar o guia a compreender os termos da relação entre turismo e arquitetura e, para isso, ele aborda os seguintes pontos: • Arquitetura e patrimônio cultural urbano; • A arquitetura como base para roteiros turísticos segmentados e especializados; • Arquitetura e urbanismo; • Arquitetura e monumentalidade. 1. Arquitetura e patrimônio cultural urbano A discussão sobre a relação entre os temas do turismo e da arquitetura pede que sejam compreendidos alguns conceitos fundamentais relacionados às ideias de patrimônio e de patrimônio cultural, aplicadas ao contexto urbano. Entende-se por patrimônio todo bem (móvel, imóvel, material ou imaterial) cujo valor é reconhecido pela sociedade e que, por isso, deva ser preservado. O termo patrimônio deriva do latim patrimonium, ou o que pertence ao pai (pater) e, como legado, deve ser transmitido aos descendentes, por herança. A ideia de legado está, portanto, diretamente ligada à salvaguarda, à preservação e à proteção, prevendo-se que o bem considerado patrimônio seja resguardado e entregue em segurança às gerações futuras. A classifi cação do patrimônio se dá com base em diversos critérios, de acordo com a forma como o bem é valorizado e com a esfera na qual se processa o ato de preservação. Por isso, há muitas categorias de patrimônio, em função do valor artístico, histórico, ambiental, social, simbólico, científi co, documental, religioso, espiritual, cultural, antropológico, etc. Antigamente, o patrimônio material das sociedades, entendido como o conjunto dos elementos que podiam ser manuseados (objetos, obras de arte, peças, etc.), era preservado em coleções particulares e públicas, em lugares 13 Turismo e Arquitetura como gabinetes de curiosidades ou galerias e arquivos pessoais, e construções, monumentos e lugares eram mantidos sob custódia do Estado e abertos (total ou parcialmente) à visitação. Com o tempo, o patrimônio material começou a ser custodiado em museus e as edificações protegidas por atos legais. Em 1931, durante a Primeira Conferência Internacional para a Conservação dos Monumentos Históricos, assinou-se a Carta de Atenas, o primeiro movimento formal de sistematização das formas de reconhecimento, conservação e restauro do patrimônio (ALMEIDA, 2009). Progressivamente, foi-se sistematizando o cuidado com o patrimônio mais antigo, chamado de patrimônio histórico, e sobre as formas mais contemporâneas de patrimônio. Choay (2012/1992, p. 12) explica que “a partir da década de 1960”, o patrimônio histórico passa a ser apenas uma parte “de uma herança que não (parou) de crescer com a inclusão de novos tipos de bens e com o alargamento do quadro cronológico e das áreas geográficas no interior das quais esses bens se inscrevem”. Foram-se criando, em diferentes tempos e lugares, instituições encarregadas da conservação patrimonial de construções, acrescentando-se ao inventário (mundial) que provinha “em essência, da arqueologia e da história da arquitetura erudita [...] todas as formas da arte de construir, eruditas e populares, urbanas e rurais, todas as categorias de edifícios, públicos e privados, suntuários e utilitários” (CHOAY, 2012/1992, p. 12). Desde então, há diversas instituições encarregadas deste cuidado, entre as quais merecem destaque o Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO e o Conselho Internacional de Museus (ICOM), ambos criados em 1946, além do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), fundado em 1965. Em âmbito nacional, destaque-se o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), fundado em 1937 e vinculado ao Ministério da Cultura, com o objetivo de “orientar e fiscalizar o patrimônio cultural material e imaterial, como os saberes e fazeres da população, as paisagens, as festas e danças folclóricas” (DANTAS, 2015). O IPHAN1 é organizado em superintendências estaduais e adota dois tipos de mecanismos de proteção: o tombamento para bens materiais e o registro para bens imateriais. 1 O portal do IPHAN pode ser acessado pelo link http://portal.iphan.gov.br/. Na página, estão dados completos e detalhados sobre o patrimônio brasileiro tombado e registrado. Turismo e Arquitetura 14 Dentre as várias classificações de patrimônio, aquele relacionado ao ambiente urbano é destacado primariamente como patrimônio material e, em termos técnicos, referenciado como patrimônio edificado ou patrimônio construído. Seu valor pode ser definido em função de muitos significados (histórico, espiritual, artístico, etc.), mas é fundamentalmente cultural, pois é parte do conjunto de elementos importantes para a cultura de um determinado lugar. Neste sentido, no contexto do patrimônio cultural material, quando a expressão desta materialidade é a construção, ou a arquitetura, o patrimônio é então definido como o conjunto dos bens construídos dotados de valor e representatividade que justificam a sua preservação como patrimônio arquitetônico. A arquitetura pode ser um elemento de distinção por conta de vários aspectos: estilo, estética, época de construção, materiais, técnica construtiva, arquiteto, etc. À arquitetura, acrescente-se o urbanismo, ou o desenho e a estruturação física das cidades, que envolve o tecido urbano e a maneira como este é materialmente organizado, em planos de zoneamento, arruamento, formas de uso e ocupação do solo e determinações construtivas. Veja-se, como exemplo, o município de Paraty, onde o conjunto do patrimônio construído, além do casario histórico, é complementado pelo arruamento e pela maneira como o casario e a estrutura urbana interagem com o espaço natural – o mar, a vegetação, etc. Figura 2 – Arruamento e casario de Paraty, cidade histórica fluminense fundada em 1667 Fonte: Ana Paula Spolon (2016) 15 Turismo e Arquitetura O patrimônio arquitetônico de uma localidade ou região pode ou não ser tombado. No Brasil, este tombamento pode se dar em três níveis: federal, estadual e municipal. O tombamento é um ato de preservação muito adequado aos processos de integração entre o turismo e o patrimônio edificado, pois ajuda a conservar as construções, fortalecendo seu valor como atrativo turístico e favorecendo as ações de captação de turistas para a localidade. 1.1. Turismo e patrimônio A associação temática entre turismo e patrimônio se dá de maneira muito natural e evidente. Se o turista é o sujeito que, em suas viagens, busca conhecimento e a vivência de experiências agradáveis, é previsível que busque conhecer a história do lugar visitado e as expressões culturais da sociedade que ali vive. É neste sentido que o patrimônio se coloca como um atrativo turístico dos destinos. Esta relação entre o patrimônio e o turista é antiga. Choay (2012/1992, p. 15) destaca que “a tripla extensão – tipológica, cronológica e geográfica – dos bens patrimoniais” experimentada no decorrer dos anos, desde a antiguidade, foi “acompanhada pelo crescimento exponencial de seu público” e indica que há um lado perigoso dessa associação, no sentido de que o turismo pode ter efeitos negativos, como “custo de manutenção, inadequação dos usos e (até) paralisação de outros grandes projetos de organização do espaço urbano”. De fato, não é simples a gestão do patrimônio e a regulamentação de seu uso, por residentes, visitantes e turistas. Pelo lado do fenômeno turístico, é relevante o entendimento de que a experiência do turista no destino vale pelo que é efetivamente entregue a ele. Panosso Netto e Gaeta (2010, p. 13) destacam que “as pessoas buscam ‘algo a mais’, algo que lhes agregue valorperceptível”. Desde o século XV, a viagem tem como função “trazer um benefício cultural ao viajante” (MELCHIOR, 2016, p. 88), o que pressupõe o contato com a cultura e a historicidade. O guiamento está diretamente ligado a esta compreensão da conexão direta entre a experiência (do turista, no destino) e a cultura (historicizada ou patrimoniada no) destino. É por esta associação que emergem as possibilidades de criação de roteiros (para os turistas, mas também para visitantes e residentes de uma localidade) que estejam associados às diversas formas de patrimônio cultural, entre elas a ligada ao ambiente construído. Turismo e Arquitetura 16 Nos roteiros turísticos, o patrimônio pode ganhar ainda outro valor, além do cultural (ou simbólico): o valor de troca, a partir de seu consumo efetivo por turistas, na expressão da compra de souvenires, livros, ingressos para museus e espetáculos teatrais ou de dança, etc. 1.2. Patrimônio cultural nas cidades Entre as relações mais facilmente perceptíveis entre turismo e patrimônio cultural, está a interação das pessoas com o ambiente construído. A volumetria facilmente visível e notável dos edifícios, seu desenho e os materiais de que são revestidos são dos mais potentes ímãs para o olhar do turista, que busca novidade, surpresa e emoção em suas viagens. As cidades – na essência, ambientes construídos – são o local da vida em coletividade e o espaço no qual a fruição e o lazer individual e comunitário acontecem. Harvey (2007/1989, p. 69) pontua que “a aparência de uma cidade e o modo como os seus espaços se organizam formam uma base material a partir da qual é possível pensar, avaliar e realizar uma gama de possíveis sensações e práticas sociais”. Há, nas cidades, um sem fim de formas urbanas e uma enorme pluralidade de construções com características variadas. Como a gastronomia, a literatura, a música, a dança e outras formas de expressão cultural, também a arquitetura é um ativo cultural que pode ser convertido em atração turística. É imprescindível considerar, ao olhar para a produção arquitetônica de uma localidade, que tanto “arquitetura quanto espaços urbanos são elementos dinâmicos que podem mudar, com o tempo” (SPECHT, 2014, p. 65) e que, no decorrer da história, as cidades vão passando a dispor de um espectro bastante amplo de estruturas arquitetônicas de diferentes épocas, incluindo construções históricas e outras contemporâneas. Assim, em cidades antigas que são destinos turísticos constituídos, como Roma, Veneza, Florença ou Jerusalém, há atrativos turísticos históricos de eras distantes, como o Coliseu (construído em Roma entre os anos 72 e 80), a Galeria da Academia de Belas Artes de Florença (de 1784), a Basílica de São Jorge Maior de Veneza (de 1576) e a Cúpula da Rocha (construída no século XII em Israel), por exemplo. Mas essas cidades contam também com edificações modernas, como o 17 Turismo e Arquitetura edifício sede da Academia de Arte e Design Bezalel (Jerusalém, de 2022) ou o Museu Maxxi – Museu Nacional de Arte do Século XXI, de Roma (projetado pela arquiteta Zaha Hadid e inaugurado em 2009)2. As cidades, como espaço físico construído, são uma grande arena na qual essas experiências são construídas, ancoradas em diversos elementos, entre os quais o conjunto do patrimônio cultural material edificado, ou no patrimônio arquitetônico. 2. A arquitetura como base para roteiros turísticos segmentados e especializados Quando a arquitetura e o urbanismo são definidos e destacados como o elemento encarregado de despertar o interesse do turista pelo destino, a forma de turismo que se pratica é classificada como turismo arquitetônico. São diversos os recortes que se pode dar a um roteiro de turismo arquitetônico. Segawa (2016, p. 13) explica: “São muitas as maneiras de estabelecer as relações entre turismo, arquitetura, cidade e paisagem. Trata-se de uma região cuja vastidão ainda está para se mapear [...]”. Essas relações foram estabelecidas progressivamente, no decorrer da história. Paiva (2016, p. 293) conta que [...] ícones urbanos e arquitetônicos não guardavam nenhuma relação com a atividade turística, nem possuíam um alcance em escala global, como se verifica na atualidade. Gradativamente, com a emergência da modernidade e a rápida transformação da paisagem, da cidade e da cultura ensejada por ela, muitos desses artefatos históricos passaram a ser objeto de interesse de estudo, preservação e visitação, concomitantemente com o início das viagens (entre os séculos XVIII e XIX). No século XX [...], esses ícones históricos foram transformados em atrativos turísticos, aumentando, assim, o fluxo de visitação consoante o desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação. Assim, os edifícios icônicos da Antiguidade [...] são incorporados no século XIX ao imaginário das viagens e da valorização das paisagens construídas no Ocidente e, posteriormente, no século XX, juntamente com uma série de outros edifícios e complexos urbanos importantíssimos para o desenvolvimento da atividade turística. 2 Consulte os sites indicados entre parênteses para ver as edificações do Coliseu (https://encr.pw/ aHuOt), da Galeria da Academia de Belas Artes de Florença (https://encr.pw/hPVcP), da Basílica de São Jorge Maior de Veneza (https://encr.pw/ebXa5), da Cúpula da Rocha (https://l1nq.com/VXl2O), da Academia de Arte e Design Bezalel (https://encr.pw/UETgW), da sede do SANAA (https://www.archdaily. com/office/sanaa) e do Museu Maxxi (https://www.maxxi.art/en/progetto-architettonico/). Turismo e Arquitetura 18 A perspectiva de reconhecimento do ambiente construído como mote para o desenvolvimento de um tipo específico de turismo está ancorada no valor do patrimônio edificado. Urry (2002, p. 111) diz que “arquitetos e práticas arquitetônicas são da maior importância para o processo de modelagem do olhar do turista contemporâneo” - como o patrimônio histórico o era, no passado. Portanto, além das construções mais antigas, que de patrimônio histórico passaram a ser visitadas também por conta de seu valor arquitetônico, tem-se os conjuntos moderno e contemporâneo de edificações, que se aliam às formas de exploração dos lugares, pelo turismo. Para Specht (2014), a perspectiva contemporânea de turismo arquitetônico foi dada pela construção do Museu Guggenheim de Bilbao, aberto em 1997 no nordeste da Espanha. Para o autor, foi o museu espanhol que promoveu a categoria do turismo arquitetônico como uma forma diferenciada de turismo, em nível global. Figura 3 – Museu Guggenheim de Bilbao, Espanha (Frank Gehry, 1997) Fonte: Naotake Murayama (San Francisco/CA, USA) - CC BY 2.0, disponível em https://l1nq.com/GZkb7. O sucesso imediato e absoluto do projeto colocou a pequena cidade espanhola no circuito mundial de viagens e promoveu um aumento de 35% no número de turistas (OCKMAN, 2001), além de inaugurar “uma nova era de turismo 19 Turismo e Arquitetura dedicado à arquitetura contemporânea e, em sentido contrário, de arquitetura dedicada ao turismo”. Para Specht (2014, p. 2), “não apenas a arquitetura passava a criar condições básicas para o turismo acontecer, mas se tornava um motivo para a escolha de um destino turístico”. Da mesma maneira que antes localidades históricas eram um fator de atração para turistas, agora a arquitetura contemporânea também é um chamativo. E monumentos antigos e edifícios contemporâneos são ambos, em igualdade de condições, reconhecidos como marcos urbanos que viabilizam roteiros segmentados e especializados. Parece possível dizer que o turismo está intimamente associado e é mesmo dependente do ambiente construído. Por vários recortes da produção arquitetônica (patrimônio histórico, edificações contemporâneas, arquitetura cenográfica, prática arquitetônica moderna, etc.) os diversos elementos do ambiente construído podem atrair o olhar do turista: canais, pontes, estações de trem, aeroportos, autoestradas,museus e casas de espetáculo, edifícios individuais, complexos de edifícios, prédios residenciais, corporativos, religiosos ou multifuncionais, estruturas de entretenimento, edifícios para funções específicas, monumentos, etc. Specht (2014, p. 16) diz que “até edifícios desenvolvidos para atender a demandas sem nenhuma relação direta com o turismo podem se tornar atrações turísticas”. Em essência, é importante é compreender que “Turismo arquitetônico refere-se à arquitetura como uma atração turística” (SPECHT, 2014, p. 18), não se limitando a um período específico ou a um estilo arquitetônico, desde monumentos históricos a prédios modernos. A força da edificação é tão grande, que o turista pode se interessar por conhecê- la somente como produto construtivo, a partir do exterior, não dedicando nada de seu tempo para visitar os espaços internos, como eventualmente acontece no Museu do Louvre ou no Centro Pompidou, ambos em Paris, no já citado Museu Guggenheim, em Bilbao, ou no Museu de Arte Contemporânea, em Niterói, para citar alguns exemplos. Turismo e Arquitetura 20 Figura 3 – Fachada lateral (Ala Richelieu) do edifício histórico do Museu do Louvre, com algumas das pirâmides de vidro e aço projetadas pelo arquiteto I. M. Pei em 1989 Fonte: Ana Paula Spolon (2008) 3. Arquitetura e urbanismo O urbanismo é o resultado da atividade de planejamento e desenho da cidade, em escala urbana. Já a arquitetura é a tarefa de projetar estruturas em escala de edificações, a serem implantadas no tecido urbano. Juntos, arquitetura e urbanismo formam as tramas dos espaços urbanos pelos quais circulamos, onde moramos e, enquanto turistas, para onde viajamos, onde nos hospedamos e onde vivemos diversas experiências, entre as quais o consumo de produtos e serviços, a fruição e a visitação a diversos atrativos, inclusive o patrimônio edificado. É importante entender que as cidades contemporâneas abarcam as cidades de tempos anteriores e os espaços vão-se sobrepondo, em camadas de diferentes culturas, estéticas, simbologias. Assim, constitui-se um tecido heterogêneo, com cenários para diferentes gostos. 21 Turismo e Arquitetura 3.1. O patrimônio edificado e o desenho das cidades Planos de desenvolvimento ou de intervenções urbanas em cidades como Brasília, Paris, Barcelona, Londres, Buenos Aires e Rio de Janeiro evidenciam as possibilidades de criação de um desenho urbano que se torna por si um atrativo e o resultado da integração das tarefas de urbanismo e de arquitetura, no espaço das cidades. Junto com o urbanismo, função que estabelece a base projetual das localidades, o projeto das construções e a maneira como são implantadas na cidade ajudam a construir um patrimônio edificado que pode se destacar como atrativo turístico e justificar um roteiro que tenha a arquitetura e o urbanismo como motes. São diversos os destinos turísticos que conseguem explorar roteiros desta natureza. Os destinos turísticos que têm a arquitetura e o urbanismo como tema são um produto que resulta da união das habilidades do urbanista (que faz o desenho geral, dos espaços mais amplos), do arquiteto (que idealiza as edificações e a maneira como são implantadas no espaço mais amplo, a cidade) e dos profissionais da área de turismo (que reconhecem o potencial do espaço edificado como atrativo e constroem roteiros temáticos de visitação). A parceria de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer em Brasília, inaugurada como capital federal em 1960, é um excelente exemplo: o primeiro foi o responsável pelo Plano Piloto da cidade, enquanto o segundo ficou com os edifícios. A cidade foi declarada patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1987 e patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1990. Não à toa, Brasília também faz parte, desde 2017, da Rede de Cidades Criativas da UNESCO, na categoria design, destacando-se como o principal destino do país no que tange ao segmento de turismo arquitetônico (FLORES, 2017; RODRIGUES, 2021). Quem a visita, busca compreender a estrutura do plano piloto (na forma de um avião), a maneira de implantação dos conjuntos de edifícios neste plano e a forma e função dos edifícios em si, muitos deles desenhados por Oscar Niemeyer, que acabou impondo um estilo arquitetônico – arquitetura moderna – que muitos arquitetos seguiram, na criação dos edifícios que foram construídos em períodos posteriores à década de 1960. Turismo e Arquitetura 22 Figuras 4 e 5 – Plano Piloto e Vista panorâmica da Praça dos Três Poderes, em Brasília Fontes: (4) Foto do plano original de Lúcio Costa, por Uri Rosenheck - CC BY-SA 3.0, disponível em https://encr.pw/0s7f7 e (5) Foto de Eric Gaba - CC BY-SA 3.0, disponível em https://l1nq.com/leT02. 3.2. A imagem das cidades e o olhar do turista O trabalho dos urbanistas e dos arquitetos tem como produtos as cidades e, nos casos em que o patrimônio construído se torna, parcial ou totalmente, um objeto de admiração e passa a constar dos roteiros de visitação à cidade, tem-se o fortalecimento da imagem da cidade como um destino turístico. Da imagem da cidade e do imaginário que se constrói a partir dela, alimenta- se o olhar do turista, que busca lugares memoráveis, que sejam referência para sua visitação. Urry e Larsen (2021, p. 180) observam que “grande parte do consumo turístico envolve o visual e o significado dos edifícios como objetos para os quais o olhar é direcionado”. 23 Turismo e Arquitetura Veja um dos edifícios mais icônicos de Barcelona, na Espanha, o do Hotel W, projeto do arquiteto Ricard Bofi ll. O prédio é um marco na cidade. Ajuda a construir a paisagem da área marítima da localidade e é procurado pelos turistas, que reproduzem a imagem do prédio em fotografi as. Figura 6 – Hotel W Barcelona (2009): um ícone projetado pelo arquiteto Ricardo Bofi ll Fonte: Ana Paula Spolon (2013) Uma noção importante para compreender o signifi cado do ambiente construído para o olhar do turista é a de monumentalidade, que estabelece a escala de representatividade das edifi cações nas cidades e fi xa a referência do olhar do turista em diferentes escalas, no espaço e no tempo. O olhar do turista procura; o monumento, por sua escala, se mostra. PENSE NISSO! Já parou para pensar que os arquitetos também viajam e que a arquitetura é um dos seus maiores interesses de viagem? Leiam o divertido texto de Eder Prado (Como arquitetos escolhem lugares para viajar?), disponível em https://blog.essenciamoveis.com.br/como- arquitetos-escolhem-lugares-para-viajar/. Ele nos ajuda a pensar no turismo arquitetônico por esta perspectiva. Turismo e Arquitetura 24 4. Arquitetura e monumentalidade A ideia de monumento é anterior à de patrimônio, mas fundamental para sua compreensão. Gastal (2006, p. 130) explica que “em sua etimologia, a palavra monumento – em latim monumentum – derivaria do verbo monare ou monio, cujo signifi cado original incorpora a raiz mitológica monare, que quer dizer revelar, predizer, sinalizar ou advertir”. Monumentos eram construções “colocadas ao longo dos caminhos, para orientar e proteger os viajantes, materializados em dólmenes, estelas, menires”. Na modernidade, o monumento passaria “a ser visto” (GASTAL, 2006, p. 131-132). O conceito de monumento moderno seria então defi nido como “pontos fi xos que deveriam incorporar e preservar um ‘misterioso’ sentido de memória coletiva” (HARVEY, 2007/1989, p. 84). Em palavras mais diretas, monumento é tudo que é edifi cado para reverenciar memórias, normalmente carregadas de emoção, ou para permitir às pessoas relembrar acontecimentos, ritos, sacrifícios, crenças, etc. Figura 7 - Coluna de Nelson (1843), monumento erigido na Trafalgar Square, em Londres Fonte: Ana Paula Spolon (2008) 25 Turismo e Arquitetura Para Souza (2016, p. 318), monumento é, “em essência, um dispositivo de segurança contra a angústia da morte e do aniquilamento”. É, portanto, além uma obra de arte,um testemunho da história e sua função primordial é mesmo esta: preservar a memória histórica. Choay (2012/1992, p. 25) diz que “o monumento tem por finalidade fazer reviver um passado mergulhado no tempo”. Exatamente por isso, monumentos são erigidos em qualquer tempo e lugar, toda e cada vez que se julga que um acontecimento precise ser marcado na memória. Em geral, têm formas universais: obeliscos, torres, colunas, arcos, túmulos, sarcófagos, tumbas, memoriais, cemitérios. Monumentos são antigos e modernos e têm sua forma, função e estrutura ligados à cultura de onde estão instalados, mesmo que se refiram a um acontecimento de magnitude e representatividade global. Podem lembrar eventos, histórias pessoais, causas ou conquistas. Monumentos modernos seriam construções com desenhos mais inovadores e diferenciados. Bons exemplos são a Torre Eiffel (um monumento à técnica, em Paris), o World Trade Center (monumento ao comércio mundial, em marca instalada em diversos destinos em todo o mundo), ou o Atomium (monumento à ciência, em Bruxelas). Com o tempo, renova-se a ideia de monumentalidade, “entendendo-se por ela não o prédio isolado, mas um conjunto magnífico” (GASTAL, 2006, p. 135). Para Gastal (2006), “a trajetória do monumento, em especial ao longo dos últimos 400 anos, amplia sua aura. Aurático, carrega em si conteúdos cada vez mais complexos e ganha espaço no texto urbano”. A autora alerta que Com a modernidade, os monumentos tradicionais que não conseguirem alçar à nova significação serão abandonados à sua sorte e decadência; na contramão dessa tendência, espaços abandonados pelos fluxos – comerciais, culturais ou sociais – irão sobreviver, apenas, se alçados ao grau de monumento. [...] É o caso das instalações portuárias, em vários pontos do mundo, obsoletas pelas novas necessidades [...] de portos com maior calado; esses portos buscam soluções para aproveitamento dos espaços em novas utilizações, que atraiam fluxos aos seus armazéns desativados. As alterações de uso se dão sempre sob a rubrica de um suposto valor de memória agregado às suas instalações. (GASTAL, 2006, p. 136-137). Turismo e Arquitetura 26 Figura 8 – Torre Eiffel (a Dama de Ferro), em Paris, inaugurada em 1889 Fonte: Ana Paula Spolon (2008) 27 Turismo e Arquitetura Veja-se o caso do complexo arquitetônico e paisagístico do Ver-o-Peso, nascido na região do entreposto comercial portuário na desembocadura do Amazonas, tombado pelo IPHAN em 1977 e promovido como atração turística a partir da década de 1980. No complexo estão o Mercado Ver-o-Peso, construído em 1901 em substituição à antiga Casa de Haver-o-Peso, (de 1625, onde haviam balanças públicas para pesar o que era vendido/comprado) e diversas outras construções importantes, como a Doca, a Ladeira do Castelo, a Pedra do Peixe, o Solar da Beira, a Praça do Pescador, a Praça do Relógio e a Feira do Açaí (BARBOSA, s/d). Figura 9 – Vista parcial do Complexo Ver-o-Peso, na zona portuária de Belém/PA Fonte: Foto de Tarso Sarraf/O Liberal, disponível em https://acesse.one/mWGz3. Para Gastal (2006, p. 137), “a pós-modernidade sedimenta o olhar não no monumento isolado, mas no espaço urbano histórico. E por histórico não se deve, necessariamente, entender antigo”. Para além de sedimentar o olhar amplo sobre o espaço urbano, a modernidade diversifica este olhar, oferecendo ao turista variadas tipologias de monumentos, inseridos no tecido da cidade de maneiras também diversificadas, o que faz com que a morfologia da cidade se torne cada vez mais atraente para o olhar do turista. Vejamos alguns dos muitos tipos de monumentos erigidos pelo homem, buscando compreender seus significados e maneiras de inserção nos espaços urbanos. Turismo e Arquitetura 28 4.1. Monumentos religiosos Monumentos religiosos fazem referência a pessoas, acontecimentos ou crenças ligadas à espiritualidade nas mais variadas culturas, em todo lugar. Seu significado, dada a sua natureza subjetiva, depende do grau de cognição do observador, que precisa conhecer ou ser informado sobre o conteúdo e a intenção da obra. Alguns monumentos de natureza religiosa são tão importantes que chegam a ser considerados um símbolo de uma forma de religião ou crença ou mesmo do lugar ao qual estão associados. Vejam-se os casos do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro (Brasil), do Taj Mahal, em Agra (Índia), ou da Grande Mesquita, em Meca (Arábia Saudita, Fig. 10). Figura 10 – Panorama da Grande Mesquita (Masjid al-Haram) em Meca, Arábia Saudita Fonte: Fotografia de Bluemangoa2z - CC BY 3.0, disponível em https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=8058857. 4.2. Monumentos civis Monumentos civis são obras seculares, não associadas a religiões ou ideologias. São construções que, erigidas em honra a uma pessoa, um evento ou uma função específica são de tal beleza, significado, representatividade ou magnitude, que passam a ser consideradas importantes para uma localidade. Nesta categoria, estão edifícios públicos ou privados, muitas vezes vencedores de concursos ou encomendados pela municipalidade para conferir à localidade uma posição de destaque em uma região ou país. Monumentos civis podem envolver construções como pontes, sedes de corporações, aeroportos ou até mesmo edifícios residenciais, hotéis ou outros tipos de edificações. São exemplos de monumentos civis a Torre de TV de Brasília (Brasil), a Golden Gate de São Francisco (Estados Unidos), o Memorial da América Latina em São Paulo (Brasil), a Torre de Pisa (Itália), o Stonehenge (Inglaterra), a Estátua da Liberdade em Nova York (Estados Unidos), Arco do Triunfo de La Défense em Paris (França) e o Gateway Arch em Chicago (Estados Unidos). 29 Turismo e Arquitetura Figura 11 – Arco do Triunfo de La Défense, em Paris, do arquiteto Johan Otto von Spreckelsen Fonte: Ana Paula Spolon, 2010 4.3. Monumentos militares São considerados monumentos militares todas as construções, patrimônio cultural submerso, casas históricas, fortalezas, fortes e fortins cuja tutela é das Forças Armadas de um país, acauteladas pelo Ministério da Defesa. Os monumentos militares, para além de sua importância construtiva, guardam a história da defesa dos territórios, servindo como referência para a memória das lutas, conquistas e derrotas de uma nação. Quando turistificados, ou tornados atrativos turísticos de uma localidade, passam a servir também como elementos promotores do turismo das localidades. Turismo e Arquitetura 30 Figura 12 – Forte de São Marcelo, em Salvador/BA Fonte: IPHAN (2023), foto de Luiz Phillippe Torelly, disponível em http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1611/. 31 Turismo e Arquitetura Considerações finais A cidade, resultado também – entre outros fenômenos e práticas sociais – do trabalho do urbanista e do arquiteto, permite ao guia de turismo ser criativo e exercer sua atividade profissional (no limite do repertório de que disponha) no ambiente construído, tornando-se ele mesmo partícipe da construção coletiva e contínua de um espaço complexo, dinâmico e orgânico, onde se pode contar várias histórias. Para Paiva (2016, p. 302), A concepção dos ícones urbanos e arquitetônicos no atual processo de globalização constitui uma das estratégias centrais empregadas para a construção e o reforço da imagem turística dos lugares, assim como serve para atrair investimentos públicos e privados para as cidades e regiões. Trata-se de um processo crescente de mercantilização da cultura, transformada em insumo para obtenção de vantagens econômicas. Neste texto, falou-se sobre a relação entre turismo e arquitetura, sendo possível compreender o quanto esta interação é possível e positiva para os guias, como intermediários do processo de visitação e consumo dos lugares, pelos turistas. Ficou evidente que o espaço físico das cidades é complexo e que, nesse espaço, a arquitetura é um elemento de atração do olhar dos turistas e de maximizaçãodos resultados da economia urbana. Em que pese o turismo urbano também implicar, quando em excesso, em conflitos que são naturais, é inegável que a imagem da cidade pode ser muito promovida e melhorada, a partir de roteiros que destaquem o espaço construído e a dinâmica urbana. O papel do guia, neste contexto, pode ser fundamental. Ele é um agente de transformação social e cultural, na medida em que traduz as imagens das cidades, ancoradas no patrimônio edificado dos lugares, em informação para os visitantes. Ao explicar a origem da paisagem construída e contar a história das edificações, mostrando o significado delas para as localidades, o profissional de guiamento educa os turistas, orienta a reprodução de informação qualificada e reforça a memória cultural e social dos lugares. Em última instância, promove Turismo e Arquitetura 32 a disseminação de conhecimento sobre os lugares e sobre os eventos que ali ocorreram, muitos deles “escondidos” nas edificações. As cidades são espaços privilegiados de cultura e o guia é uma espécie de cuidador dessa cultura. Sua atuação profissional nos espaços urbanos garante a sobrevida das cidades e preserva o que elas têm de mais valioso: a sua história. Como bem disse Gastal (2006, p. 218), “cidades são fascinantes e, talvez, seja justo no seu desafio à nossa sensibilidade que elas se tornem palco privilegiado da nossa expressão criativa”. Roteiros turísticos que contam a história das cidades por meio do seu patrimônio edificado são fundamentais para a preservação dessa expressão criativa. 33 Turismo e Arquitetura Recomendações de aprendizado A fim de que seja possível refletir um pouco mais sobre os temas aqui abordados, ficam as sugestões de referências de obras consultadas para o desenvolvimento deste texto. Se possível, tente acessá-las e conhecê-las na íntegra, sozinho ou conjuntamente, promovendo com colegas de profissão discussões e análises sobre turismo arquitetônico. Para orientar reflexões mais profundas, recomendamos especialmente o documentário Bye, bye, Barcelona, indicado na lista de material complementar (juntamente com outros filmes que bem expõem a relação entre o turismo e as cidades). Adicionalmente, é recomendável ler a crítica sobre o documentário, escrita por Adriana Setti para a revista Viagem e Turismo3. O filme fala dos efeitos do turismo sobre a cidade de Barcelona, abordando inclusive o trabalho dos guias de turismo. A relação entre o turismo e a arquitetura está o tempo todo presente. 3 Disponível em: https://viagemeturismo.abril.com.br/blog/achados/documentario-polemico-debate-e-deto- na-o-turismo-de-massa-em-barcelona/. Turismo e Arquitetura 34 Material complementar Para quem gosta de cinema, seguem recomendações de filmes que dão a dimensão da importância da arquitetura para as cidades e para o turismo. Por conta das cenas e das locações que mostram cidades, edifícios icônicos e atrativos turísticos, muitos roteiros de visitação foram elaborados, colaborando para o desenvolvimento do turismo nesses destinos. Bye Bye Barcelona – filme completo disponível em https://www.youtube. com/watch?v=kdXcFChRpmI Meia Noite em Paris – trailer disponível em https://www.youtube.com/ watch?v=e-Ri0ndhcEo Comer, rezar, amar – trailer disponível em https://www.youtube.com/ watch?v=8SqsI5JETzA Rio – trailer disponível em https://www.youtube.com/watch?v=8SqsI5JETzA Rio 2 – trailer disponível em https://www.youtube.com/ watch?v=leJuOObuCxM Manhattan – trailer disponível em https://www.youtube.com/ watch?v=JEoEGW4Hb9w Chico e Rita – trailer disponível em https://www.youtube.com/ watch?v=tSNxYReNPPM Antes do amanhecer – trailer disponível em https://www.youtube.com/ watch?v=c6CjTzvXn9k Antes do pôr do sol – trailer disponível em https://www.youtube.com/ watch?v=cfnt9wfJGis Antes da meia noite – trailer disponível em https://www.youtube.com/ watch?v=3ZSQ3ba-bMQ Babylon Berlin – trailer disponível em https://www.youtube.com/ watch?v=HAn3RXeCrLg Para Roma com amor – trailer disponível em https://www.youtube.com/ watch?v=QciYI342304 Invasão a Londres – trailer disponível em https://www.youtube.com/ watch?v=1J_0bz7qCfU 35 Turismo e Arquitetura Exercícios de fixação Escolha um dos filmes indicados na seção Material Complementar. Assista ao filme e liste cenas em que apareçam edifícios icônicos, atrativos turísticos e quaisquer referências à arquitetura ou ao urbanismo locais. Complemente sua lista com uma pesquisa sobre aquela localidade, procurando identificar recomendações de visitação. Ao final, proponha um roteiro de visitação baseado na arquitetura. Analise sua cidade e identifique pontos de atratividade relacionados à arquitetura ou ao urbanismo. Mesmo que seja uma cidade pequena, essas referências existirão. Faça uma lista com esses pontos e os descreva, como se fossem parte de um roteiro de visitação baseado na arquitetura e no urbanismo. Escolha uma capital de um dos estados brasileiros e proponha um roteiro de visitação turística de um dia, tendo o ambiente construído como referência e prevendo a visita a atrativos turísticos cuja representatividade esteja associada à arquitetura e ao urbanismo. Procure distinguir edifícios icônicos de monumentos e classificar os monumentos em civis, religiosos ou militares. Turismo e Arquitetura 36 Referências ALMEIDA, Eneida de. O “construir no construído” na produção contemporânea: relações entre teoria e prática. Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo, 2009. ARCHTRENDS PORTOBELLO. Conheça a história por trás da beleza do Copacabana Palace. 07 maio 2018. Disponível em: https://blog.archtrends.com/ copacabana-palace/. Acesso em: 16 abr. 2023. BARBOSA, Virgínia. Mercado Ver-o-Peso. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.br/ pesquisaescolar/. Acesso em: 23 abr. 2023. CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Editora UNESP, 2012 [1992]. DANTAS, Marcelo. Salma Saddi, superintendente do Iphan, participa de colóquio no México. Jornal Opção, 22 ago. 2015. 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