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Turismo e Arquitetura: Interação e Atratividade



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Ana Paula Garcia Spolon
Turismo e Arquitetura
MINISTÉRIO DO TURISMO
PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 
Luíz Inácio Lula da Silva 
MINISTRA DE ESTADO DO TURISMO 
Daniela Mote de Souza Carneiro
SECRETÁRIO-EXECUTIVO 
Wallace Nunes da Silva 
SECRETÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO, SUSTENTABILIDADE E 
COMPETITIVIDADE NO TURISMO 
Marcelo Lima Costa 
DIRETOR DE QUALIDADE, SUSTENTABILIDADE E AÇÕES CLIMÁTICAS 
NO TURISMO 
Leandro Luiz de Jesus Gomes 
COORDENADOR-GERAL DE QUALIDADE NO TURISMO 
Daniel Wills 
COORDENAÇÃO DE QUALIFICAÇÃO DE PRESTADORES DE SERVIÇOS 
TURÍSTICOS (COPRES) 
COORDENADORA DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DO TURISMO 
Jéssica de Oliveira Queiroga 
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
REITOR 
Antonio Claudio Lucas da Nóbrega 
VICE-REITOR
Fabio Barboza Passos
DIRETORA DO CEAD/UFF 
Regina Célia Moreth Bragança
DIRETOR DA FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA 
João Evangelista Dias Monteiro 
CHEFE DO DEPARTAMENTO DE TURISMO 
Fábia Trentin 
COORDENADORA DO PROJETO 
Fábia Trentin
Vice-coordenador 
Carlos Lidizia 
 
Equipe LabPGTUR 
Beatriz Cardoso 
Lays Evangelista 
Maria Eduarda Teixeira 
Rafaellen Franklin
Revisoras: 
Nathália de Ornelas N. de Lima 
Camila Louzada Coutinho
 
Capa e Designer: 
Paulo Carvalho
 
5
Turismo e Arquitetura
Spolon, Ana Paula Garcia
Turismo e arquitetura [livro eletrônico] / Ana Paula Garcia Spolon. -- Niterói, 
RJ : Laboratório de Políticas, Governança e Turismo (LabPGTUR) : Coordenação 
de Educação a Distancia (Cead/UFF), 2023. -- (Guia de turismo)
PDF
Bibliografia.
ISBN 978-65-84620-22-3
1. Arquitetura 2. Patrimônio cultural 3. Patrimônio histórico 4. Turismo I. 
Título. II. Série.
23-169167 CDD-363.69
Índices para catálogo sistemático:
1. Arquitetura e patrimônio histórico 363.69
Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253
Direitos desta edição reservados ao Laboratório de Políticas, 
Governança e Turismo (LabPGTUR) e a Coordenação de Educação a 
Distância (CEAD/UFF)
Todo o conteúdo é de responsabilidade dos autores.
É permitida a reprodução total ou parcial desta obra desde que 
citada a fonte.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Turismo e Arquitetura 
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Turismo e Arquitetura
Ana Paula Garcia Spolon
E-mail: anapaulaspolon@id.uff.br
CEAD/UFF
(LabPGTUR)
2023
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Turismo e Arquitetura
Ana Paula Garcia Spolon
Hoteleira (SENAC São Paulo), com Especialização 
em Administração de Empresas (EAESP-FGV) e Mestrado 
e Doutorado em Arquitetura e Urbanismo (Faculdade de 
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo). Estágios 
pós-doutorais em Geografi a – Análise Territorial e Estudos Turísticos (Universitat 
Rovira i Virgili/Universidad de Barcelona) e Ciências – Hospitalidade (Escola de 
Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo). Professora Associada 
do Departamento de Turismo da Universidade Federal Fluminense (UFF).
E-mail: anapaulaspolon@id.uff .br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/./6925630903453508
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7125-5877
e Doutorado em Arquitetura e Urbanismo (Faculdade de 
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo). Estágios 
Turismo e Arquitetura 
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Turismo e Arquitetura
Sumário
Apresentação do módulo __________________________ 08 
1. Arquitetura e patrimônio cultural urbano __________ 10
1.1. Turismo e patrimônio ____________________________________ 13 
1.2. Patrimônio cultural nas cidades ____________________________ 14
2. A arquitetura como base para roteiros turísticos 
segmentados e especializados ______________________ 15
3. Arquitetura e urbanismo _________________________ 18
3.1. O patrimônio edificado e o desenho das cidades ______________ 19
3.2. A imagem da cidade e o olhar do turista _____________________ 20
4. Arquitetura e monumentalidade __________________ 22
4.1 Monumentos religiosos ___________________________________ 26
4.2 Monumentos civis _______________________________________ 26
4.3 Monumentos militares ____________________________________ 27
Considerações finais ______________________________ 29
Recomendações de aprendizado ____________________ 31
Material complementar ____________________________ 31
Exercícios de fixação ______________________________ 33
Referências ______________________________________ 34
Turismo e Arquitetura 
10
Apresentação do módulo
Neste módulo, são tratados os temas do turismo e da arquitetura, pela 
perspectiva de sua interação nos territórios comumente apresentados ao turista 
pelo guiamento, isto é, a partir da atuação profissional dos guias de turismo, nos 
municípios e regiões turísticas. 
Neste contexto, é fundamental compreender a arquitetura como um elemento 
que maximiza o grau de atratividade dos lugares, destacando o patrimônio 
construído e suas características constituintes, a partir de seu valor histórico, 
cultural, artístico, político, econômico, ambiental, social e, especialmente, turístico. 
As cidades são espaços complexos. Na mesma medida em que dispõem de 
territórios bem planejados e agradáveis, têm também zonas de contradições, lugares 
mal preparados e mal cuidados e muitos problemas a serem enfrentados. Densas, são 
espaços onde vive a maior parte das pessoas. No Brasil, a população urbana equivale 
a 85% da população total. No mundo, 55% das pessoas vivem em cidades, podendo 
esse percentual chegar a 68% em 2050 (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2022). 
Por óbvio, o turismo nas cidades, ou para as cidades, também conhecido 
como turismo urbano, tem enorme representatividade. Tanta que, em alguns casos, 
o excesso de turistas nas áreas urbanas provoca impactos significativos, como 
superlotação em lugares determinados, aumento de preços e mal estar nos residentes, 
que veem seus espaços serem tomados por pessoas com comportamentos bastante 
diversos do seu. O papel do guia, portanto, é fundamental para que se estabeleça 
uma interação positiva entre visitantes e visitados, nos espaços urbanos. 
Os pontos que, na cidade, são dotados de reconhecido potencial de atrair o 
interesse do turista são chamados de atrativos turísticos. O fazer profissional dos 
guias é exatamente apresentar o conjunto de atrativos de um destino aos turistas, 
de maneira responsável – o que significa não apenas mostrá-los, mas contar sua 
história, destacar suas características diferenciais e inseri-los no contexto do 
próprio destino, de acordo com sua significação.
O conjunto do patrimônio construído (ou edificado) das cidades é apenas um 
dos muitos conjuntos de atrativos que costumam compor os destinos turísticos. 
Mas são um atrativo valioso. Edifícios, além de seu valor formal, como construção 
mesmo, têm um valor simbólico: eles são parte da história dos destinos, são 
espaços promotores de sociabilidades, têm significado cultural, são ícones 
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Turismo e Arquitetura
urbanos e resguardam a memória dos lugares. 
Veja-se o caso do Copacabana Palace Hotel, no Rio de Janeiro, por exemplo. O 
hotel é um símbolo da cidade. Trata-se de uma construção histórica, encomendada 
no início da década de 1920 pelo então presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, 
em uma época em que o país não dispunha de hotéis de luxo preparados para 
receber hóspedes importantes. 
Foi projetado por um arquiteto francês – Joseph Gire – e inspirado em hotéis 
da Riviera Francesa, em estilo clássico (ARCHTRENDS, 2018), especialmente no 
Hotel Negresco de Nice. São do mesmo arquiteto também os projetos do Hotel 
Glória (aberto em 1922) e do Palácio Laranjeiras (de 1913). O Copacabana Palace 
Hotel faz 100 anos em 2023 e se mantém como um ícone carioca, destacando-
se como patrimônio arquitetônico, histórico e cultural na paisagem da praia de 
Copacabana, a mais famosa praia brasileira no exterior. 
Figura 1 – Fachada do Copacabana Palace Hotel
Fonte: Belmond (2023), disponível em https://img.belmond.com/f_auto/t_640x640/photos/cop/cop-ext07.jpg. 
O turismo relacionado à arquitetura – ou, em termos mais gerais, ao ambienteconstruído – é um segmento bastante valorizado em todo o mundo. Roteiros 
turísticos ancorados na arquitetura são um produto diferenciado, que pede não 
somente conhecimento sobre o patrimônio edificado dos destinos, mas também 
uma compreensão ampla sobre a maneira como este patrimônio se relaciona 
com a história e a cultura local ou regional.
Turismo e Arquitetura 
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O objetivo deste módulo é ajudar o guia a compreender os termos da relação 
entre turismo e arquitetura e, para isso, ele aborda os seguintes pontos:
• Arquitetura e patrimônio cultural urbano; 
• A arquitetura como base para roteiros turísticos segmentados e 
especializados;
• Arquitetura e urbanismo; 
• Arquitetura e monumentalidade.
1. Arquitetura e patrimônio cultural urbano
A discussão sobre a relação entre os temas do turismo e da arquitetura
pede que sejam compreendidos alguns conceitos fundamentais relacionados às 
ideias de patrimônio e de patrimônio cultural, aplicadas ao contexto urbano. 
Entende-se por patrimônio todo bem (móvel, imóvel, material 
ou imaterial) cujo valor é reconhecido pela sociedade e que, por isso, 
deva ser preservado. 
O termo patrimônio deriva do latim patrimonium, ou o que 
pertence ao pai (pater) e, como legado, deve ser transmitido aos 
descendentes, por herança. A ideia de legado está, portanto, 
diretamente ligada à salvaguarda, à preservação e à proteção, 
prevendo-se que o bem considerado patrimônio seja resguardado e 
entregue em segurança às gerações futuras. 
A classifi cação do patrimônio se dá com base em diversos critérios, de acordo 
com a forma como o bem é valorizado e com a esfera na qual se processa o ato 
de preservação. Por isso, há muitas categorias de patrimônio, em função do valor 
artístico, histórico, ambiental, social, simbólico, científi co, documental, religioso, 
espiritual, cultural, antropológico, etc. 
Antigamente, o patrimônio material das sociedades, entendido como o 
conjunto dos elementos que podiam ser manuseados (objetos, obras de arte, 
peças, etc.), era preservado em coleções particulares e públicas, em lugares 
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Turismo e Arquitetura
como gabinetes de curiosidades ou galerias e arquivos pessoais, e construções, 
monumentos e lugares eram mantidos sob custódia do Estado e abertos (total 
ou parcialmente) à visitação. Com o tempo, o patrimônio material começou a ser 
custodiado em museus e as edificações protegidas por atos legais. 
Em 1931, durante a Primeira Conferência Internacional para a Conservação 
dos Monumentos Históricos, assinou-se a Carta de Atenas, o primeiro movimento 
formal de sistematização das formas de reconhecimento, conservação e restauro 
do patrimônio (ALMEIDA, 2009). 
Progressivamente, foi-se sistematizando o cuidado com o patrimônio mais 
antigo, chamado de patrimônio histórico, e sobre as formas mais contemporâneas 
de patrimônio. Choay (2012/1992, p. 12) explica que “a partir da década de 1960”, o 
patrimônio histórico passa a ser apenas uma parte “de uma herança que não (parou) 
de crescer com a inclusão de novos tipos de bens e com o alargamento do quadro 
cronológico e das áreas geográficas no interior das quais esses bens se inscrevem”. 
Foram-se criando, em diferentes tempos e lugares, instituições encarregadas 
da conservação patrimonial de construções, acrescentando-se ao inventário 
(mundial) que provinha “em essência, da arqueologia e da história da arquitetura 
erudita [...] todas as formas da arte de construir, eruditas e populares, urbanas e 
rurais, todas as categorias de edifícios, públicos e privados, suntuários e utilitários” 
(CHOAY, 2012/1992, p. 12). 
Desde então, há diversas instituições encarregadas deste cuidado, entre 
as quais merecem destaque o Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO e 
o Conselho Internacional de Museus (ICOM), ambos criados em 1946, além do 
Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), fundado em 1965. 
Em âmbito nacional, destaque-se o Instituto do Patrimônio Histórico e 
Artístico Nacional (IPHAN), fundado em 1937 e vinculado ao Ministério da Cultura, 
com o objetivo de “orientar e fiscalizar o patrimônio cultural material e imaterial, 
como os saberes e fazeres da população, as paisagens, as festas e danças folclóricas” 
(DANTAS, 2015). O IPHAN1 é organizado em superintendências estaduais e adota 
dois tipos de mecanismos de proteção: o tombamento para bens materiais e o 
registro para bens imateriais. 
1 O portal do IPHAN pode ser acessado pelo link http://portal.iphan.gov.br/. Na página, estão dados completos 
e detalhados sobre o patrimônio brasileiro tombado e registrado. 
Turismo e Arquitetura 
14
Dentre as várias classificações de patrimônio, aquele relacionado ao ambiente 
urbano é destacado primariamente como patrimônio material e, em termos 
técnicos, referenciado como patrimônio edificado ou patrimônio construído. Seu 
valor pode ser definido em função de muitos significados (histórico, espiritual, 
artístico, etc.), mas é fundamentalmente cultural, pois é parte do conjunto de 
elementos importantes para a cultura de um determinado lugar. 
Neste sentido, no contexto do patrimônio cultural material, quando a expressão 
desta materialidade é a construção, ou a arquitetura, o patrimônio é então definido 
como o conjunto dos bens construídos dotados de valor e representatividade que 
justificam a sua preservação como patrimônio arquitetônico. 
A arquitetura pode ser um elemento de distinção por conta de vários aspectos: 
estilo, estética, época de construção, materiais, técnica construtiva, arquiteto, etc. 
À arquitetura, acrescente-se o urbanismo, ou o desenho e a estruturação física 
das cidades, que envolve o tecido urbano e a maneira como este é materialmente 
organizado, em planos de zoneamento, arruamento, formas de uso e ocupação 
do solo e determinações construtivas. 
Veja-se, como exemplo, o município de Paraty, onde o conjunto do patrimônio 
construído, além do casario histórico, é complementado pelo arruamento e pela 
maneira como o casario e a estrutura urbana interagem com o espaço natural – o 
mar, a vegetação, etc.
Figura 2 – Arruamento e casario de Paraty, cidade histórica fluminense fundada em 1667
Fonte: Ana Paula Spolon (2016)
15
Turismo e Arquitetura
O patrimônio arquitetônico de uma localidade ou região pode ou não 
ser tombado. No Brasil, este tombamento pode se dar em três níveis: federal, 
estadual e municipal. O tombamento é um ato de preservação muito adequado 
aos processos de integração entre o turismo e o patrimônio edificado, pois 
ajuda a conservar as construções, fortalecendo seu valor como atrativo turístico 
e favorecendo as ações de captação de turistas para a localidade.
1.1. Turismo e patrimônio
A associação temática entre turismo e patrimônio se dá de maneira 
muito natural e evidente. Se o turista é o sujeito que, em suas viagens, busca 
conhecimento e a vivência de experiências agradáveis, é previsível que busque 
conhecer a história do lugar visitado e as expressões culturais da sociedade que 
ali vive. É neste sentido que o patrimônio se coloca como um atrativo turístico dos 
destinos. Esta relação entre o patrimônio e o turista é antiga.
Choay (2012/1992, p. 15) destaca que “a tripla extensão – tipológica, cronológica 
e geográfica – dos bens patrimoniais” experimentada no decorrer dos anos, desde a 
antiguidade, foi “acompanhada pelo crescimento exponencial de seu público” e indica 
que há um lado perigoso dessa associação, no sentido de que o turismo pode ter efeitos 
negativos, como “custo de manutenção, inadequação dos usos e (até) paralisação de 
outros grandes projetos de organização do espaço urbano”. De fato, não é simples a 
gestão do patrimônio e a regulamentação de seu uso, por residentes, visitantes e turistas.
Pelo lado do fenômeno turístico, é relevante o entendimento de que a 
experiência do turista no destino vale pelo que é efetivamente entregue a ele. 
Panosso Netto e Gaeta (2010, p. 13) destacam que “as pessoas buscam ‘algo a 
mais’, algo que lhes agregue valorperceptível”. Desde o século XV, a viagem tem 
como função “trazer um benefício cultural ao viajante” (MELCHIOR, 2016, p. 88), 
o que pressupõe o contato com a cultura e a historicidade. 
O guiamento está diretamente ligado a esta compreensão da conexão 
direta entre a experiência (do turista, no destino) e a cultura (historicizada ou 
patrimoniada no) destino. É por esta associação que emergem as possibilidades 
de criação de roteiros (para os turistas, mas também para visitantes e residentes 
de uma localidade) que estejam associados às diversas formas de patrimônio 
cultural, entre elas a ligada ao ambiente construído. 
Turismo e Arquitetura 
16
Nos roteiros turísticos, o patrimônio pode ganhar ainda outro valor, além 
do cultural (ou simbólico): o valor de troca, a partir de seu consumo efetivo por 
turistas, na expressão da compra de souvenires, livros, ingressos para museus e 
espetáculos teatrais ou de dança, etc. 
1.2. Patrimônio cultural nas cidades
Entre as relações mais facilmente perceptíveis entre turismo e patrimônio 
cultural, está a interação das pessoas com o ambiente construído. A volumetria 
facilmente visível e notável dos edifícios, seu desenho e os materiais de que são 
revestidos são dos mais potentes ímãs para o olhar do turista, que busca novidade, 
surpresa e emoção em suas viagens. 
As cidades – na essência, ambientes construídos – são o local da vida em 
coletividade e o espaço no qual a fruição e o lazer individual e comunitário acontecem. 
Harvey (2007/1989, p. 69) pontua que “a aparência de uma cidade e o modo como 
os seus espaços se organizam formam uma base material a partir da qual é possível 
pensar, avaliar e realizar uma gama de possíveis sensações e práticas sociais”.
Há, nas cidades, um sem fim de formas urbanas e uma enorme pluralidade 
de construções com características variadas. 
Como a gastronomia, a literatura, a música, a dança e outras formas de 
expressão cultural, também a arquitetura é um ativo cultural que pode ser 
convertido em atração turística. 
É imprescindível considerar, ao olhar para a produção arquitetônica de 
uma localidade, que tanto “arquitetura quanto espaços urbanos são elementos 
dinâmicos que podem mudar, com o tempo” (SPECHT, 2014, p. 65) e que, no 
decorrer da história, as cidades vão passando a dispor de um espectro bastante 
amplo de estruturas arquitetônicas de diferentes épocas, incluindo construções 
históricas e outras contemporâneas.
Assim, em cidades antigas que são destinos turísticos constituídos, como 
Roma, Veneza, Florença ou Jerusalém, há atrativos turísticos históricos de eras 
distantes, como o Coliseu (construído em Roma entre os anos 72 e 80), a Galeria 
da Academia de Belas Artes de Florença (de 1784), a Basílica de São Jorge Maior de 
Veneza (de 1576) e a Cúpula da Rocha (construída no século XII em Israel), por 
exemplo. Mas essas cidades contam também com edificações modernas, como o 
17
Turismo e Arquitetura
edifício sede da Academia de Arte e Design Bezalel (Jerusalém, de 2022) ou o Museu 
Maxxi – Museu Nacional de Arte do Século XXI, de Roma (projetado pela arquiteta 
Zaha Hadid e inaugurado em 2009)2. 
As cidades, como espaço físico construído, são uma grande arena na qual essas 
experiências são construídas, ancoradas em diversos elementos, entre os quais o 
conjunto do patrimônio cultural material edificado, ou no patrimônio arquitetônico.
2. A arquitetura como base para roteiros turísticos 
segmentados e especializados
Quando a arquitetura e o urbanismo são definidos e destacados como o 
elemento encarregado de despertar o interesse do turista pelo destino, a forma 
de turismo que se pratica é classificada como turismo arquitetônico. 
São diversos os recortes que se pode dar a um roteiro de turismo 
arquitetônico. Segawa (2016, p. 13) explica: “São muitas as maneiras de estabelecer 
as relações entre turismo, arquitetura, cidade e paisagem. Trata-se de uma região 
cuja vastidão ainda está para se mapear [...]”. Essas relações foram estabelecidas 
progressivamente, no decorrer da história. Paiva (2016, p. 293) conta que 
[...] ícones urbanos e arquitetônicos não guardavam nenhuma relação com 
a atividade turística, nem possuíam um alcance em escala global, como se 
verifica na atualidade. Gradativamente, com a emergência da modernidade 
e a rápida transformação da paisagem, da cidade e da cultura ensejada por 
ela, muitos desses artefatos históricos passaram a ser objeto de interesse de 
estudo, preservação e visitação, concomitantemente com o início das viagens 
(entre os séculos XVIII e XIX). No século XX [...], esses ícones históricos foram 
transformados em atrativos turísticos, aumentando, assim, o fluxo de visitação 
consoante o desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação. 
Assim, os edifícios icônicos da Antiguidade [...] são incorporados no século 
XIX ao imaginário das viagens e da valorização das paisagens construídas no 
Ocidente e, posteriormente, no século XX, juntamente com uma série de outros 
edifícios e complexos urbanos importantíssimos para o desenvolvimento da 
atividade turística.
2 Consulte os sites indicados entre parênteses para ver as edificações do Coliseu (https://encr.pw/
aHuOt), da Galeria da Academia de Belas Artes de Florença (https://encr.pw/hPVcP), da Basílica de 
São Jorge Maior de Veneza (https://encr.pw/ebXa5), da Cúpula da Rocha (https://l1nq.com/VXl2O), da 
Academia de Arte e Design Bezalel (https://encr.pw/UETgW), da sede do SANAA (https://www.archdaily.
com/office/sanaa) e do Museu Maxxi (https://www.maxxi.art/en/progetto-architettonico/). 
Turismo e Arquitetura 
18
A perspectiva de reconhecimento do ambiente construído como mote 
para o desenvolvimento de um tipo específico de turismo está ancorada no 
valor do patrimônio edificado. Urry (2002, p. 111) diz que “arquitetos e práticas 
arquitetônicas são da maior importância para o processo de modelagem do olhar 
do turista contemporâneo” - como o patrimônio histórico o era, no passado.
Portanto, além das construções mais antigas, que de patrimônio histórico 
passaram a ser visitadas também por conta de seu valor arquitetônico, tem-se 
os conjuntos moderno e contemporâneo de edificações, que se aliam às formas 
de exploração dos lugares, pelo turismo. Para Specht (2014), a perspectiva 
contemporânea de turismo arquitetônico foi dada pela construção do Museu 
Guggenheim de Bilbao, aberto em 1997 no nordeste da Espanha. Para o autor, 
foi o museu espanhol que promoveu a categoria do turismo arquitetônico como 
uma forma diferenciada de turismo, em nível global. 
Figura 3 – Museu Guggenheim de Bilbao, Espanha (Frank Gehry, 1997)
Fonte: Naotake Murayama (San Francisco/CA, USA) - CC BY 2.0, disponível em https://l1nq.com/GZkb7. 
O sucesso imediato e absoluto do projeto colocou a pequena cidade 
espanhola no circuito mundial de viagens e promoveu um aumento de 35% no 
número de turistas (OCKMAN, 2001), além de inaugurar “uma nova era de turismo 
19
Turismo e Arquitetura
dedicado à arquitetura contemporânea e, em sentido contrário, de arquitetura 
dedicada ao turismo”. Para Specht (2014, p. 2), “não apenas a arquitetura passava a 
criar condições básicas para o turismo acontecer, mas se tornava um motivo para 
a escolha de um destino turístico”. 
Da mesma maneira que antes localidades históricas eram um fator de 
atração para turistas, agora a arquitetura contemporânea também é um 
chamativo. E monumentos antigos e edifícios contemporâneos são ambos, em 
igualdade de condições, reconhecidos como marcos urbanos que viabilizam 
roteiros segmentados e especializados. Parece possível dizer que o turismo está 
intimamente associado e é mesmo dependente do ambiente construído. 
Por vários recortes da produção arquitetônica (patrimônio histórico, 
edificações contemporâneas, arquitetura cenográfica, prática arquitetônica 
moderna, etc.) os diversos elementos do ambiente construído podem atrair 
o olhar do turista: canais, pontes, estações de trem, aeroportos, autoestradas,museus e casas de espetáculo, edifícios individuais, complexos de edifícios, 
prédios residenciais, corporativos, religiosos ou multifuncionais, estruturas de 
entretenimento, edifícios para funções específicas, monumentos, etc. 
Specht (2014, p. 16) diz que “até edifícios desenvolvidos para atender a 
demandas sem nenhuma relação direta com o turismo podem se tornar atrações 
turísticas”. 
Em essência, é importante é compreender que “Turismo arquitetônico 
refere-se à arquitetura como uma atração turística” (SPECHT, 2014, p. 18), não 
se limitando a um período específico ou a um estilo arquitetônico, desde 
monumentos históricos a prédios modernos.
A força da edificação é tão grande, que o turista pode se interessar por conhecê-
la somente como produto construtivo, a partir do exterior, não dedicando nada 
de seu tempo para visitar os espaços internos, como eventualmente acontece 
no Museu do Louvre ou no Centro Pompidou, ambos em Paris, no já citado Museu 
Guggenheim, em Bilbao, ou no Museu de Arte Contemporânea, em Niterói, para 
citar alguns exemplos.
Turismo e Arquitetura 
20
Figura 3 – Fachada lateral (Ala Richelieu) do edifício histórico do Museu do Louvre, com 
algumas das pirâmides de vidro e aço projetadas pelo arquiteto I. M. Pei em 1989
Fonte: Ana Paula Spolon (2008)
3. Arquitetura e urbanismo 
O urbanismo é o resultado da atividade de planejamento e desenho da 
cidade, em escala urbana. Já a arquitetura é a tarefa de projetar estruturas em 
escala de edificações, a serem implantadas no tecido urbano. 
Juntos, arquitetura e urbanismo formam as tramas dos espaços urbanos 
pelos quais circulamos, onde moramos e, enquanto turistas, para onde viajamos, 
onde nos hospedamos e onde vivemos diversas experiências, entre as quais o 
consumo de produtos e serviços, a fruição e a visitação a diversos atrativos, 
inclusive o patrimônio edificado. 
É importante entender que as cidades contemporâneas abarcam as cidades 
de tempos anteriores e os espaços vão-se sobrepondo, em camadas de diferentes 
culturas, estéticas, simbologias. Assim, constitui-se um tecido heterogêneo, com 
cenários para diferentes gostos.
21
Turismo e Arquitetura
3.1. O patrimônio edificado e o desenho das cidades
Planos de desenvolvimento ou de intervenções urbanas em cidades como 
Brasília, Paris, Barcelona, Londres, Buenos Aires e Rio de Janeiro evidenciam as 
possibilidades de criação de um desenho urbano que se torna por si um atrativo 
e o resultado da integração das tarefas de urbanismo e de arquitetura, no espaço 
das cidades. 
Junto com o urbanismo, função que estabelece a base projetual das 
localidades, o projeto das construções e a maneira como são implantadas na 
cidade ajudam a construir um patrimônio edificado que pode se destacar como 
atrativo turístico e justificar um roteiro que tenha a arquitetura e o urbanismo 
como motes.
São diversos os destinos turísticos que conseguem explorar roteiros desta 
natureza. Os destinos turísticos que têm a arquitetura e o urbanismo como 
tema são um produto que resulta da união das habilidades do urbanista (que 
faz o desenho geral, dos espaços mais amplos), do arquiteto (que idealiza as 
edificações e a maneira como são implantadas no espaço mais amplo, a cidade) 
e dos profissionais da área de turismo (que reconhecem o potencial do espaço 
edificado como atrativo e constroem roteiros temáticos de visitação).
A parceria de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer em Brasília, inaugurada como 
capital federal em 1960, é um excelente exemplo: o primeiro foi o responsável 
pelo Plano Piloto da cidade, enquanto o segundo ficou com os edifícios. 
A cidade foi declarada patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1987 
e patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
(IPHAN), em 1990. Não à toa, Brasília também faz parte, desde 2017, da Rede 
de Cidades Criativas da UNESCO, na categoria design, destacando-se como o 
principal destino do país no que tange ao segmento de turismo arquitetônico 
(FLORES, 2017; RODRIGUES, 2021).
Quem a visita, busca compreender a estrutura do plano piloto (na forma de 
um avião), a maneira de implantação dos conjuntos de edifícios neste plano e a 
forma e função dos edifícios em si, muitos deles desenhados por Oscar Niemeyer, 
que acabou impondo um estilo arquitetônico – arquitetura moderna – que muitos 
arquitetos seguiram, na criação dos edifícios que foram construídos em períodos 
posteriores à década de 1960.
Turismo e Arquitetura 
22
Figuras 4 e 5 – Plano Piloto e Vista panorâmica da Praça dos Três Poderes, em Brasília
Fontes: (4) Foto do plano original de Lúcio Costa, por Uri Rosenheck - CC BY-SA 3.0, disponível em https://encr.pw/0s7f7 e (5) 
Foto de Eric Gaba - CC BY-SA 3.0, disponível em https://l1nq.com/leT02. 
3.2. A imagem das cidades e o olhar do turista
O trabalho dos urbanistas e dos arquitetos tem como produtos as cidades 
e, nos casos em que o patrimônio construído se torna, parcial ou totalmente, um 
objeto de admiração e passa a constar dos roteiros de visitação à cidade, tem-se o 
fortalecimento da imagem da cidade como um destino turístico. 
Da imagem da cidade e do imaginário que se constrói a partir dela, alimenta-
se o olhar do turista, que busca lugares memoráveis, que sejam referência para sua 
visitação. Urry e Larsen (2021, p. 180) observam que “grande parte do consumo 
turístico envolve o visual e o significado dos edifícios como objetos para os quais 
o olhar é direcionado”. 
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Turismo e Arquitetura
Veja um dos edifícios mais icônicos de Barcelona, na Espanha, o do Hotel 
W, projeto do arquiteto Ricard Bofi ll. O prédio é um marco na cidade. Ajuda a 
construir a paisagem da área marítima da localidade e é procurado pelos turistas, 
que reproduzem a imagem do prédio em fotografi as. 
Figura 6 – Hotel W Barcelona (2009): um ícone projetado pelo arquiteto Ricardo Bofi ll
Fonte: Ana Paula Spolon (2013)
Uma noção importante para compreender o signifi cado do ambiente 
construído para o olhar do turista é a de monumentalidade, que estabelece a 
escala de representatividade das edifi cações nas cidades e fi xa a referência do 
olhar do turista em diferentes escalas, no espaço e no tempo. O olhar do turista 
procura; o monumento, por sua escala, se mostra. 
PENSE NISSO!
Já parou para pensar que os arquitetos também viajam e que 
a arquitetura é um dos seus maiores interesses de viagem? Leiam o 
divertido texto de Eder Prado (Como arquitetos escolhem lugares para 
viajar?), disponível em https://blog.essenciamoveis.com.br/como-
arquitetos-escolhem-lugares-para-viajar/. Ele nos ajuda a pensar no 
turismo arquitetônico por esta perspectiva.
Turismo e Arquitetura 
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4. Arquitetura e monumentalidade 
A ideia de monumento é anterior à de patrimônio, mas fundamental para 
sua compreensão. Gastal (2006, p. 130) explica que “em sua etimologia, a palavra 
monumento – em latim monumentum – derivaria do verbo monare ou monio, cujo 
signifi cado original incorpora a raiz mitológica monare, que quer dizer revelar, 
predizer, sinalizar ou advertir”.
Monumentos eram construções “colocadas ao longo dos caminhos, para 
orientar e proteger os viajantes, materializados em dólmenes, estelas, menires”. 
Na modernidade, o monumento passaria “a ser visto” (GASTAL, 2006, p. 131-132). 
O conceito de monumento moderno seria então defi nido como 
“pontos fi xos que deveriam incorporar e preservar um ‘misterioso’ 
sentido de memória coletiva” (HARVEY, 2007/1989, p. 84). Em palavras 
mais diretas, monumento é tudo que é edifi cado para reverenciar 
memórias, normalmente carregadas de emoção, ou para permitir às 
pessoas relembrar acontecimentos, ritos, sacrifícios, crenças, etc. 
Figura 7 - Coluna de Nelson (1843), monumento erigido na Trafalgar Square, em Londres
Fonte: Ana Paula Spolon (2008)
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Turismo e Arquitetura
Para Souza (2016, p. 318), monumento é, “em essência, um dispositivo de 
segurança contra a angústia da morte e do aniquilamento”. É, portanto, além uma 
obra de arte,um testemunho da história e sua função primordial é mesmo esta: 
preservar a memória histórica. 
Choay (2012/1992, p. 25) diz que “o monumento tem por finalidade fazer reviver 
um passado mergulhado no tempo”. Exatamente por isso, monumentos são erigidos 
em qualquer tempo e lugar, toda e cada vez que se julga que um acontecimento 
precise ser marcado na memória. Em geral, têm formas universais: obeliscos, torres, 
colunas, arcos, túmulos, sarcófagos, tumbas, memoriais, cemitérios. 
Monumentos são antigos e modernos e têm sua forma, função e estrutura 
ligados à cultura de onde estão instalados, mesmo que se refiram a um 
acontecimento de magnitude e representatividade global. Podem lembrar 
eventos, histórias pessoais, causas ou conquistas.
Monumentos modernos seriam construções com desenhos mais inovadores 
e diferenciados. Bons exemplos são a Torre Eiffel (um monumento à técnica, 
em Paris), o World Trade Center (monumento ao comércio mundial, em marca 
instalada em diversos destinos em todo o mundo), ou o Atomium (monumento à 
ciência, em Bruxelas). 
Com o tempo, renova-se a ideia de monumentalidade, “entendendo-se por 
ela não o prédio isolado, mas um conjunto magnífico” (GASTAL, 2006, p. 135). Para 
Gastal (2006), “a trajetória do monumento, em especial ao longo dos últimos 400 
anos, amplia sua aura. Aurático, carrega em si conteúdos cada vez mais complexos 
e ganha espaço no texto urbano”. 
A autora alerta que
Com a modernidade, os monumentos tradicionais que não conseguirem alçar 
à nova significação serão abandonados à sua sorte e decadência; na contramão 
dessa tendência, espaços abandonados pelos fluxos – comerciais, culturais ou 
sociais – irão sobreviver, apenas, se alçados ao grau de monumento. 
[...] É o caso das instalações portuárias, em vários pontos do mundo, obsoletas 
pelas novas necessidades [...] de portos com maior calado; esses portos buscam 
soluções para aproveitamento dos espaços em novas utilizações, que atraiam 
fluxos aos seus armazéns desativados. As alterações de uso se dão sempre 
sob a rubrica de um suposto valor de memória agregado às suas instalações. 
(GASTAL, 2006, p. 136-137).
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Figura 8 – Torre Eiffel (a Dama de Ferro), em Paris, inaugurada em 1889
Fonte: Ana Paula Spolon (2008)
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Turismo e Arquitetura
Veja-se o caso do complexo arquitetônico e paisagístico do Ver-o-Peso, 
nascido na região do entreposto comercial portuário na desembocadura do 
Amazonas, tombado pelo IPHAN em 1977 e promovido como atração turística a 
partir da década de 1980. 
No complexo estão o Mercado Ver-o-Peso, construído em 1901 em substituição 
à antiga Casa de Haver-o-Peso, (de 1625, onde haviam balanças públicas para 
pesar o que era vendido/comprado) e diversas outras construções importantes, 
como a Doca, a Ladeira do Castelo, a Pedra do Peixe, o Solar da Beira, a Praça do 
Pescador, a Praça do Relógio e a Feira do Açaí (BARBOSA, s/d). 
Figura 9 – Vista parcial do Complexo Ver-o-Peso, na zona portuária de Belém/PA
Fonte: Foto de Tarso Sarraf/O Liberal, disponível em https://acesse.one/mWGz3. 
Para Gastal (2006, p. 137), “a pós-modernidade sedimenta o olhar não no 
monumento isolado, mas no espaço urbano histórico. E por histórico não se deve, 
necessariamente, entender antigo”. Para além de sedimentar o olhar amplo sobre 
o espaço urbano, a modernidade diversifica este olhar, oferecendo ao turista 
variadas tipologias de monumentos, inseridos no tecido da cidade de maneiras 
também diversificadas, o que faz com que a morfologia da cidade se torne cada 
vez mais atraente para o olhar do turista.
Vejamos alguns dos muitos tipos de monumentos erigidos pelo homem, 
buscando compreender seus significados e maneiras de inserção nos espaços 
urbanos.
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4.1. Monumentos religiosos
Monumentos religiosos fazem referência a pessoas, acontecimentos ou crenças 
ligadas à espiritualidade nas mais variadas culturas, em todo lugar. Seu significado, 
dada a sua natureza subjetiva, depende do grau de cognição do observador, que 
precisa conhecer ou ser informado sobre o conteúdo e a intenção da obra. 
Alguns monumentos de natureza religiosa são tão importantes que chegam 
a ser considerados um símbolo de uma forma de religião ou crença ou mesmo do 
lugar ao qual estão associados. Vejam-se os casos do Cristo Redentor, no Rio de 
Janeiro (Brasil), do Taj Mahal, em Agra (Índia), ou da Grande Mesquita, em Meca 
(Arábia Saudita, Fig. 10).
Figura 10 – Panorama da Grande Mesquita (Masjid al-Haram) em Meca, Arábia Saudita
Fonte: Fotografia de Bluemangoa2z - CC BY 3.0, disponível em https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=8058857. 
4.2. Monumentos civis
Monumentos civis são obras seculares, não associadas a religiões ou 
ideologias. São construções que, erigidas em honra a uma pessoa, um evento 
ou uma função específica são de tal beleza, significado, representatividade ou 
magnitude, que passam a ser consideradas importantes para uma localidade. 
Nesta categoria, estão edifícios públicos ou privados, muitas vezes 
vencedores de concursos ou encomendados pela municipalidade para conferir à 
localidade uma posição de destaque em uma região ou país. 
Monumentos civis podem envolver construções como pontes, sedes de 
corporações, aeroportos ou até mesmo edifícios residenciais, hotéis ou outros 
tipos de edificações. 
São exemplos de monumentos civis a Torre de TV de Brasília (Brasil), a 
Golden Gate de São Francisco (Estados Unidos), o Memorial da América Latina em 
São Paulo (Brasil), a Torre de Pisa (Itália), o Stonehenge (Inglaterra), a Estátua da 
Liberdade em Nova York (Estados Unidos), Arco do Triunfo de La Défense em Paris 
(França) e o Gateway Arch em Chicago (Estados Unidos). 
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Figura 11 – Arco do Triunfo de La Défense, em Paris, do arquiteto Johan Otto von Spreckelsen
Fonte: Ana Paula Spolon, 2010
4.3. Monumentos militares
São considerados monumentos militares todas as construções, patrimônio 
cultural submerso, casas históricas, fortalezas, fortes e fortins cuja tutela é das 
Forças Armadas de um país, acauteladas pelo Ministério da Defesa. 
Os monumentos militares, para além de sua importância construtiva, 
guardam a história da defesa dos territórios, servindo como referência para a 
memória das lutas, conquistas e derrotas de uma nação. 
Quando turistificados, ou tornados atrativos turísticos de uma localidade, 
passam a servir também como elementos promotores do turismo das localidades. 
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Figura 12 – Forte de São Marcelo, em Salvador/BA
Fonte: IPHAN (2023), foto de Luiz Phillippe Torelly, disponível em http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1611/. 
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Considerações finais
A cidade, resultado também – entre outros fenômenos e práticas sociais – 
do trabalho do urbanista e do arquiteto, permite ao guia de turismo ser criativo 
e exercer sua atividade profissional (no limite do repertório de que disponha) no 
ambiente construído, tornando-se ele mesmo partícipe da construção coletiva 
e contínua de um espaço complexo, dinâmico e orgânico, onde se pode contar 
várias histórias. 
 Para Paiva (2016, p. 302),
A concepção dos ícones urbanos e arquitetônicos no atual processo de 
globalização constitui uma das estratégias centrais empregadas para a 
construção e o reforço da imagem turística dos lugares, assim como serve para 
atrair investimentos públicos e privados para as cidades e regiões. Trata-se de 
um processo crescente de mercantilização da cultura, transformada em insumo 
para obtenção de vantagens econômicas.
Neste texto, falou-se sobre a relação entre turismo e arquitetura, sendo 
possível compreender o quanto esta interação é possível e positiva para os guias, 
como intermediários do processo de visitação e consumo dos lugares, pelos 
turistas. 
Ficou evidente que o espaço físico das cidades é complexo e que, nesse 
espaço, a arquitetura é um elemento de atração do olhar dos turistas e de 
maximizaçãodos resultados da economia urbana. 
Em que pese o turismo urbano também implicar, quando em excesso, em 
conflitos que são naturais, é inegável que a imagem da cidade pode ser muito 
promovida e melhorada, a partir de roteiros que destaquem o espaço construído 
e a dinâmica urbana. 
O papel do guia, neste contexto, pode ser fundamental. Ele é um agente de 
transformação social e cultural, na medida em que traduz as imagens das cidades, 
ancoradas no patrimônio edificado dos lugares, em informação para os visitantes.
Ao explicar a origem da paisagem construída e contar a história das 
edificações, mostrando o significado delas para as localidades, o profissional de 
guiamento educa os turistas, orienta a reprodução de informação qualificada e 
reforça a memória cultural e social dos lugares. Em última instância, promove 
Turismo e Arquitetura 
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a disseminação de conhecimento sobre os lugares e sobre os eventos que ali 
ocorreram, muitos deles “escondidos” nas edificações. 
As cidades são espaços privilegiados de cultura e o guia é uma espécie de 
cuidador dessa cultura. Sua atuação profissional nos espaços urbanos garante a 
sobrevida das cidades e preserva o que elas têm de mais valioso: a sua história. 
Como bem disse Gastal (2006, p. 218), “cidades são fascinantes e, talvez, seja 
justo no seu desafio à nossa sensibilidade que elas se tornem palco privilegiado 
da nossa expressão criativa”. Roteiros turísticos que contam a história das cidades 
por meio do seu patrimônio edificado são fundamentais para a preservação dessa 
expressão criativa.
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Turismo e Arquitetura
Recomendações de aprendizado
A fim de que seja possível refletir um pouco mais sobre os temas aqui 
abordados, ficam as sugestões de referências de obras consultadas para o 
desenvolvimento deste texto. Se possível, tente acessá-las e conhecê-las na 
íntegra, sozinho ou conjuntamente, promovendo com colegas de profissão 
discussões e análises sobre turismo arquitetônico.
Para orientar reflexões mais profundas, recomendamos especialmente o 
documentário Bye, bye, Barcelona, indicado na lista de material complementar 
(juntamente com outros filmes que bem expõem a relação entre o turismo e as 
cidades).
Adicionalmente, é recomendável ler a crítica sobre o documentário, escrita 
por Adriana Setti para a revista Viagem e Turismo3. O filme fala dos efeitos do 
turismo sobre a cidade de Barcelona, abordando inclusive o trabalho dos guias 
de turismo. A relação entre o turismo e a arquitetura está o tempo todo presente.
3 Disponível em: https://viagemeturismo.abril.com.br/blog/achados/documentario-polemico-debate-e-deto-
na-o-turismo-de-massa-em-barcelona/. 
Turismo e Arquitetura 
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Material complementar
Para quem gosta de cinema, seguem recomendações de filmes que dão a 
dimensão da importância da arquitetura para as cidades e para o turismo. Por 
conta das cenas e das locações que mostram cidades, edifícios icônicos e atrativos 
turísticos, muitos roteiros de visitação foram elaborados, colaborando para o 
desenvolvimento do turismo nesses destinos.
Bye Bye Barcelona – filme completo disponível em https://www.youtube.
com/watch?v=kdXcFChRpmI
Meia Noite em Paris – trailer disponível em https://www.youtube.com/
watch?v=e-Ri0ndhcEo
Comer, rezar, amar – trailer disponível em https://www.youtube.com/
watch?v=8SqsI5JETzA 
Rio – trailer disponível em https://www.youtube.com/watch?v=8SqsI5JETzA 
Rio 2 – trailer disponível em https://www.youtube.com/
watch?v=leJuOObuCxM 
Manhattan – trailer disponível em https://www.youtube.com/
watch?v=JEoEGW4Hb9w 
Chico e Rita – trailer disponível em https://www.youtube.com/
watch?v=tSNxYReNPPM 
Antes do amanhecer – trailer disponível em https://www.youtube.com/
watch?v=c6CjTzvXn9k 
Antes do pôr do sol – trailer disponível em https://www.youtube.com/
watch?v=cfnt9wfJGis 
Antes da meia noite – trailer disponível em https://www.youtube.com/
watch?v=3ZSQ3ba-bMQ 
Babylon Berlin – trailer disponível em https://www.youtube.com/
watch?v=HAn3RXeCrLg 
Para Roma com amor – trailer disponível em https://www.youtube.com/
watch?v=QciYI342304 
Invasão a Londres – trailer disponível em https://www.youtube.com/
watch?v=1J_0bz7qCfU 
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Turismo e Arquitetura
Exercícios de fixação
Escolha um dos filmes indicados na seção Material Complementar. Assista 
ao filme e liste cenas em que apareçam edifícios icônicos, atrativos turísticos 
e quaisquer referências à arquitetura ou ao urbanismo locais. Complemente 
sua lista com uma pesquisa sobre aquela localidade, procurando identificar 
recomendações de visitação. Ao final, proponha um roteiro de visitação baseado 
na arquitetura.
Analise sua cidade e identifique pontos de atratividade relacionados à 
arquitetura ou ao urbanismo. Mesmo que seja uma cidade pequena, essas 
referências existirão. Faça uma lista com esses pontos e os descreva, como se 
fossem parte de um roteiro de visitação baseado na arquitetura e no urbanismo.
Escolha uma capital de um dos estados brasileiros e proponha um roteiro 
de visitação turística de um dia, tendo o ambiente construído como referência e 
prevendo a visita a atrativos turísticos cuja representatividade esteja associada à 
arquitetura e ao urbanismo. Procure distinguir edifícios icônicos de monumentos 
e classificar os monumentos em civis, religiosos ou militares.
Turismo e Arquitetura 
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