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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE QUÍMICA LABORATÓRIO DE FÍSICO-QUÍMICA CURSO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS ESTABILIDADE DE EMULSÕES Gabrielly de Paula Carvalho Glenda Ribeiro C. Rodrigues da Silva Sthefany Natália Oliveira Santos Goiânia, 15 de junho de 2022. 1. INTRODUÇÃO Emulsões são sistemas heterogêneos termodinamicamente instáveis formados pela associação de substâncias lipofílicas com hidrofílicas por meio de tensoativos, onde é possível observar uma fase dispersa, na forma de gotículas, e uma fase contínua. Essa instabilidade leva a separação espontânea de fases do sistema, devido à coalescência das gotículas da fase dispersa, que entram em colisão e se unem para a formação de uma única parcela. O tempo desse processo pode ser modificado pela mudança de temperatura do sistema. A sedimentação resulta de uma diferença de densidade entre as duas fases e consiste na migração de uma das substâncias para o topo da emulsão. Uma das características mais importantes das emulsões é sua instabilidade inerente, pois mesmo as gotas dispersas sendo pequenas, a gravidade vai exercer uma força mensurável sobre elas, que com o passar do tempo se aglutinam formando gotas maiores [7]. É reversível, portanto após agitação, a emulsão retorna à sua condição original [4]. Substâncias anfifílicas (possuem uma parte polar e outra apolar) possuem propriedades de se adsorver nas interfaces líquido/ar, líquido/líquido e sólido/líquido, afetando fortemente as tensões superficiais. Por isso, são denominadas tensoativos, ou surfactantes. A adição de surfactante confere uma maior estabilidade ao sistema, pois esse se acumula nas interfaces, diminuindo a tensão interfacial e facilitando a formação de gotículas menores e mais estáveis [2]. As emulsões mais comuns são emulsões de óleo em água e de água e óleo. As emulsões são denominadas O/A (óleo em água), quando há predominância da fase aquosa, com a qual se está trabalhando, e A/O (água em óleo) quando predomina a fase oleosa [5]. As fases dispersa e contínua são chamadas de fases interna e externa, respectivamente. Para uma emulsão atingir estabilidade cinética, uma combinação adequada de ingredientes deve ser alcançada. A noção de estabilidade em emulsões é dada por meio do tempo necessário para o início visual de separação de fases e pode levar de alguns minutos a alguns anos. Emulsões mais estáveis demoram mais tempo para separar fases [4]. 2. OBJETIVOS O experimento tem como objetivo comparar a estabilidade de diferentes emulsões verificadas a olho nu, observando seu comportamento sob o efeito da temperatura ambiente e aquecida, e verificar a eficácia do tensoativo. 1 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. MATERIAIS - Água destilada; - Tensoativo (lauril sulfato de sódio 3%); - Óleo de cozinha; - 05 tubos de ensaio; - 05 pipetas de Pasteur; - 03 pipetas volumétricas; - 03 pipetadores de borracha; - 05 lâminas de vidro; - 01 estante para tubos de ensaio; - 01 pinça de madeira; - 01 microscópio óptico; - 01 cronômetro. 3.2. MÉTODOS Foram preparados cinco misturas em tubos de ensaio com os compostos água destilada, óleo de cozinha e tensoativo (uma solução com 3% de concentração de lauril sulfato de sódio), seguindo as quantidades indicadas na tabela 1. Em seguida, os tubos foram agitados até que a emulsão se formasse e colocados em repouso. Nesse momento, iniciou-se a contagem no cronômetro para avaliar a quantidade de tempo necessária para a separação das fases em cada tubo. Tabela 1 - Volume dos reagentes utilizados na preparação das emulsões. Mistura V água (mL) V tensoativo (mL) V óleo (mL) 1 - 0,6 4,0 2 0,6 - 4,0 3 - 4,0 0,6 4 4,0 - 0,6 5 - 4,0 0,3 2 Enquanto era aguardada a separação dos compostos no período de repouso, foi utilizada uma pipeta de Pasteur para retirar uma pequena quantidade da emulsão de cada tubo e colocar em lâminas de vidro. Cada uma das cinco lâminas contendo emulsão foi observada em microscópio óptico comparando as características. Após a separação de fases em temperatura ambiente, os tubos foram agitados novamente e postos em repouso, com o auxílio da pinça de madeira, em banho térmico a 40°C, aguardando a separação de fases para analisar o impacto da elevação de temperatura na estabilidade da emulsão. 3 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram preparadas 5 emulsões com diferentes concentrações de materiais. Primeiramente, foi anotado o tempo de estabilidade de cada amostra na temperatura ambiente e posteriormente, o tempo levado para separação em temperatura de 40°C. Os resultados obtidos seguiram de acordo com a tabela 2. Tabela 2 - Tempo de separação dos compostos das cinco misturas em temperatura ambiente e a 40°C. Mistura 1 2 3 4 5 Tempo (s) T. ambiente 1375 340 184 53 188 40°C (+) 2700 130 120 47 50 Em temperatura ambiente, pôde-se observar a mistura 1 como a mais estável do experimento, demorando 1375 segundos para a coalescência, e a mistura 4 como a menos estável, demorando 50 segundos para a coalescência. A emulsão 1 foi a mais estável do grupo devido ao uso do tensoativo e o equilíbrio de sua concentração. O uso do tensoativo em quantidade menor que o óleo, o mantendo fase dispersa, fez com que essa mistura se mantivesse emulsionada por mais tempo. Um tensoativo tem o papel importante de reduzir a tensão interfacial, que vai favorecer a quebra e formação das gotas no processo de formação da emulsão durante a homogeneização do sistema. Esse fato vai auxiliar na distribuição de partículas menores e mais estreitas, como é possível visualizar na visão microscópica da mistura 1 apresentada na figura 1. O efeito estabilizador de um surfactante em uma emulsão não depende apenas de sua compatibilidade química com as fases, mas também de sua concentração na mistura. Existe uma concentração acima da qual a interface fica saturada de maneira que as moléculas de surfactante excedentes ficam em solução em uma das fases formando diferentes tipos de aglomerados conhecidos como micelas gerando uma repentina mudança nas propriedades da solução. A concentração de surfactante na qual inicia-se a formação de micelas é conhecida como concentração micelar crítica (CMC) [6]. Por esse motivo, apesar de possuir os mesmos componentes das emulsões 3 e 5, a emulsão 1 se apresentou mais estável. As emulsões 3 e 5 foram obtidas a partir da mistura de óleo e tensoativo, sendo a 5 com menor quantidade de óleo que a 3. A emulsão 5 se apresentou mais estável que a 3 devido ao volume da fase dispersa. A densidade populacional de gotículas dispersas aumenta a probabilidade de colisão e a coalescência entre elas. Dessa forma, as gotículas tendem a se juntar mais rapidamente na mistura 3, como foi obtido nos resultados. 4 As emulsões 2 e 4 foram obtidas a partir dos mesmos reagentes em concentrações invertidas, sendo a 2 emulsão de água em óleo e a 4 de óleo em água. A emulsão 2 se apresentou mais estável que a 4 devido à maior viscosidade da fase contínua. Na emulsão 2, o óleo, por ter uma maior viscosidade, dificulta a mobilidade das gotículas de água, fazendo com que elas gastem um tempo maior para se colidirem e formarem aglomerados. Devido ao tempo de coalescência da emulsão 4, ao observá-la no microscópio já é possível visualizar os aglomerados da fase oleosa, como pode-se observar na figura 4. A mistura 1 teve seu tempo de sedimentação aumentado com o aumento da temperatura. Enquanto as misturas 2, 3, 4 e 5 tiveram seu tempo de sedimentação diminuído com o aumento da temperatura. A viscosidade geralmente diminui com o aumento de temperatura, uma vez que, em altas temperaturas, as moléculas possuem maior energia de translação e rotação, permitindo vencer as barreiras energéticas de interações intermoleculares com maior facilidade. Dessa forma, quando a temperatura do sistema é elevada, a viscosidade da fase dispersa diminui, fazendo com que suas gotículas se movam mais facilmente pela fase contínua e se juntem num tempo menor de quando osistema está em temperatura ambiente, como pode ser observado na tabela 2 nas misturas 2, 3,4 e 5. A emulsão 1 demandou um tempo maior para se separar após o aquecimento devido ao aumento da solubilidade do lauril sulfato de sódio, um tensoativo iônico, que tende a ter sua solubilidade aumentada com temperaturas mais elevadas [3]. Com a solubilidade maior, a tendência da fase dispersa se aglomerar diminui. Figura 1 - M 1 (0,6 mL de tensoativo e 4 mL de óleo). Fonte: autor Figura 2 - M 2 (0,6 mL de água de 4 mL de óleo). Fonte: autor. 5 Figura 3 - M 3 (4 mL de tensoativo e 0,6 mL de óleo). Fonte: autor. Figura 4 - M 4 (4 mL de água e 0,6 mL de óleo). Fonte: autor. Figura 5 - M 5 (4 mL de tensoativo e 0,3 mL de óleo). Fonte: autor. 6 5. CONCLUSÃO Os resultados mostram que as características químicas dos componentes das emulsões e suas concentrações contribuem diferentemente na estabilidade do sistema. A partir dos resultados obtidos das misturas 2 e 4, pode-se concluir que a estabilidade de emulsões de água em óleo é maior do que a de emulsões de óleo em água. Pelos resultados obtidos das misturas 3 e 5 é possível concluir que a concentração dos componentes influencia na estabilidade de uma emulsão. A partir dos resultados obtidos com o aumento da temperatura para 40°C, conclui-se que o fornecimento de calor ao sistema contribuiu apenas com a estabilidade da emulsão 1, de tensoativo em óleo. Observando, de forma geral, maior estabilidade na emulsão 1 e menor estabilidade da emulsão 4, nota-se que o tensoativo agiu como esperado e as emulsões de óleo em água comportam-se na prática como é estudado em teoria. 7 REFERÊNCIAS [1] ALMEIDA, T. et al. Manual de Laboratório Físico Química Experimental para Curso de Farmácia. Goiânia, 2022. 65p. [2] ALMEIDA, T. C. A. Avaliação da Estabilidade de Emulsões Concentradas em Bebidas. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2012. Dissertação (mestrado). Disponível em: http://portal.peq.coppe.ufrj.br/index.php/dissertacoes-de-mestrado/2012-1/63-avaliacao-da-es tabilidade-de-emulsoes-concentradas-em-bebidas/file. Acesso em: 17 jun. 2022. [3] CARVALHO, A. B.; CURBELO, F. D. S.; GARNICA, A. I. C. Estudo Comparativo de Valores de Concentração Micelar Crítica e Ponto de Turbidez para Tensoativos Não Iônicos Utilizados na Recuperação Avançada de Petróleo. In: Congresso Nacional de Engenharia de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, 1., 2015, João Pessoa. Anais CONEPETRO, João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2015. Disponível em: https://www.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/10310. Acesso em: 18 jun. 2022. [4] FRANZOL, A.; REZENDE, M. C. Estabilidade de emulsões: um estudo de caso envolvendo emulsionantes aniônico, catiônico e não-iônico. Polímeros, 2015, v. 25, n. spe, pp. 1-9. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0104-1428.1669. Acesso em: 17 jun. 2022. [5] PIANOVSKI, A. R. et al. Uso do óleo de pequi (Caryocar brasiliense) em emulsões cosméticas: desenvolvimento e avaliação da estabilidade física. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, 2008, v. 44, n. 2, pp. 249-259. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1516-93322008000200010. Acesso em: 17 jun. 2022. [6] PUC RIO. Emulsões: conceitos fundamentais. Certificação Digital N° 0821291/CA. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica - PUC. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/16583/16583_3.PDF. Acesso em: 21 jun. 2022. [7] RHEONICS. O que são emulsões: exemplos, recursos, preparação e medidas. Rheonics Blog Ciência. Disponível em: https://pt.rheonics.com/what-are-emulsions-examples-features-preparation/. Acesso em: 17 jun. 2022. 8 http://portal.peq.coppe.ufrj.br/index.php/dissertacoes-de-mestrado/2012-1/63-avaliacao-da-estabilidade-de-emulsoes-concentradas-em-bebidas/file http://portal.peq.coppe.ufrj.br/index.php/dissertacoes-de-mestrado/2012-1/63-avaliacao-da-estabilidade-de-emulsoes-concentradas-em-bebidas/file https://www.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/10310 https://doi.org/10.1590/0104-1428.1669 https://doi.org/10.1590/S1516-93322008000200010 https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/16583/16583_3.PDF https://pt.rheonics.com/what-are-emulsions-examples-features-preparation/
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