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LIVRO Elaboracao-de-Projeto-de-Pesquisa

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© 2019 Milton Cordeiro Farias Filho
Elaboração de Projeto de Pesquisa: um guia para 
seleção e qualificação de mestrado e doutorado. 
Série Produção Científica - Volume 4.
Todos os direitos são reservados de acordo com as Normas de 
Leis e das Convenções Internacionais. Nenhuma parte deste livro 
pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes 
sem autorização por escrito do autor.
ISBN 978-85-53047-98-7
F224e. Farias Filho, Milton Cordeiro. Elaboração de Projeto de 
Pesquisa: um guia para seleção e qualificação de mestrado 
e doutorado. Série Produção Científica - Volume 4. Editora 
Motres, 2019. 74p. 23cm.
CDU 300 CDD 001.4-001.42
3Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
Apresentação
Este livro tem o objetivo de auxiliar na elaboração de projeto de pesquisa 
para seleção e qualiicação de mestrado e doutorado nas áreas de ciências 
sociais, sociais aplicadas e humanidades. Também pode ser usado como guia 
para revisão de projeto já elaborado, na correção de falhas de concepção e 
redação. Os que estão em fase de elaborar projetos para concorrer a bolsa de 
iniciação cientíica, em fase de concluir a graduação ou a pós-graduação lato 
sensu também encontrarão orientações úteis.
Neste livro aproveito parte do conteúdo revisado e reelaborado, já tratado 
em outros livros que publiquei sobre pesquisa e publicação cientíica que 
compõem a Série Produção Cientíica. Ele está direcionado para orientar na 
elaboração de projetos de pesquisas para diferentes cursos, dentro da grande 
área que trato como ciências sociais. Não é um manual de projeto, nem de 
método de pesquisa, e sim um guia prático.
A divisão dos capítulos e as orientações aqui presentes estão baseadas em 
minhas experiências, como professor de disciplinas metodológicas e de outras 
exclusivas para elaboração de projeto de pesquisa (por mais de 15 anos) em 
diferentes cursos das ciências sociais. Também aproveitei minha experiência 
na elaboração e avaliação de projetos para instituições de fomento à pesquisa, 
orientação de estudantes de graduação e pós-graduação lato sensu (nestes 
últimos participei de seleção e banca de defesa, algo já extinto hoje). 
A oportunidade de participar de bancas de seleção e qualiicação de 
mestrado e doutorado me foi útil neste momento. Foram mais de 250 bancas 
de seleção e qualiicação em três programas de mestrado e doutorado que 
participei como docente nos últimos 12 anos. Meus orientandos também 
contribuíram com meu aprendizado e a busca constante pela atualização para 
ajudá-los. Quando os oriento, sempre guardo algo para ensinar aos próximos. 
Alguns registros de minhas orientações e aulas gravadas ajudaram no conteúdo 
deste livro. 
4 Elaboração de Projeto de Pesquisa
Minhas aulas sobre este tema ajudaram a chegar ao ponto mais importante 
que considero ser a contribuição do livro: orientar na concepção e redação de 
um projeto para cursos nas áreas de ciências sociais. Também me proponho 
a orientar sobre detalhes que confundem muitos estudantes, desde verbos do 
objetivo até o plágio. Em algumas partes exponho conteúdos baseados em 
minha experiência como avaliador de artigos para 32 revistas e cinco eventos 
cientíicos, nas mais variadas áreas das ciências sociais.
Minha atuação na graduação me revelou as principais limitações dos 
estudantes no momento de elaborar projetos de pesquisa. Listo aqui algumas: 
i) eles (estudantes) estudam pouco o assunto (trata-se de um “assunto chato”); 
ii) não aprendem o suiciente por motivos ligados a disciplina, professor ou 
instituição que estudaram; iii) disciplinas metodológicas (seja qual for o nome) 
passaram para modalidade EAD. Esta mudança causou muitos dos erros de 
concepção, conteúdo e redação que encontrei.
Muitas dessas deiciências já constatei em sala de aula, em bancas de seleção 
e qualiicação. Tive a oportunidade de ler o conteúdo de alguns dos programas 
de disciplinas em EAD, além de seus conteúdos em plataformas online. A 
surpresa negativa e mais estes fatores listados serviram como incentivos para 
escrever este livro.
O ensino em EAD que conheci tem me provocado reações e questões. 
Algumas delas: i) iquei preocupado: o que será do futuro desses estudantes? ii) 
iquei triste (por me dedicar tanto tempo a esta área): um conteúdo tão sério sendo 
tratado assim! iii) pensando no futuro encontrar com alguém (que saiu dessa 
“formação”): quantos eu encontrarei querendo mais orientações ou tirar dúvidas?
Outras situações que enfrentei ao longo da carreira em sala de aula e/ou 
em bancas de seleção e qualiicação, nem vou colocar aqui porque são tantas! 
Vou icar devendo. Por todos estes motivos tenho a pretensão de ensinar 
de forma prática, rápida, útil e coerente aos que têm interesse em superar 
suas diiculdades na elaboração de projeto de pesquisa. Aos que tiveram boa 
formação, este livro servirá para revisar e atualizar seus conhecimentos e, quem 
sabe, ajudar a escrever outro mais completo.
5Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
Sumário
APRESENTAÇÃO 3
CAPÍTULO 1 - CONTEXTO DA PESQUISA E QUESTÕES 7
1.1. CONSIDERAÇÕES SOBRE PROJETO DE PESQUISA 7
1.2. INICIANDO A REDAÇÃO DO CONTEXTO DA PESQUISA 13
CAPÍTULO 2 - JUSTIFICATIVA 19
2.1. POR QUE JUSTIFICAR UMA PESQUISA? 19
2.2. SEQUÊNCIA DA REDAÇÃO 19
CAPÍTULO 3 - OBJETIVOS 24
CAPÍTULO 4 - REVISÃO DA LITERATURA 29
4.1. O QUE É E QUAL SUA FUNÇÃO NO PROJETO? 29
4.2. PROCESSO DE BUSCA POR TRABALHOS PUBLICADOS 30
4.3. ELABORAÇÃO DA REDAÇÃO 32
CAPÍTULO 5 - REFERENCIAL TEÓRICO E HIPÓTESE 37
5.1. CONCEPÇÃO E FUNÇÃO DE UMA TEORIA NO PROJETO 37
5.2. HIPÓTESE 42
CAPÍTULO 6 - MÉTODO E PROCEDIMENTO DE PESQUISA 44
CAPÍTULO 7 - ORIENTAÇÕES ADICIONAIS 52
7.1. TÍTULO DO PROJETO 52
7.2. PALAVRAS-CHAVE 53
7.3. RESUMO DO PROJETO 54
CAPÍTULO 8 - REFERÊNCIAS, CITAÇÃO E REDAÇÃO 56
8.1. REFERÊNCIAS 56
8.2. CITAÇÃO 56
8.3. REDAÇÃO 61
APÊNDICE 1 - ILUSTRAÇÃO: QUANDO E COMO USAR 69
APÊNDICE 2 - EXEMPLOS DE ILUSTRAÇÕES 71
REFERÊNCIAS 72
7Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
CAPÍTULO 1
Contexto da Pesquisa e Questões
1.1. CONSIDERAÇÕES SOBRE PROJETO DE PESQUISA
Um projeto de pesquisa é um planejamento de atividades que você se 
propõe a desenvolver em um momento futuro. São procedimentos sistemáticos 
orientados pelos parâmetros das ciências (no caso deste livro um grupo de áreas 
que trato como ciências sociais, sociais aplicadas e humanidades). Você não 
projeta algo para dar errado. Pelo contrário: espera sempre que tudo dê certo, 
ainda que suas experiências mostrem que nem tudo ocorrerá como planejado. 
No entanto, faz isso para reduzir a ocorrência de surpresas ou do acaso.
É muito difícil em ciências sociais prever, por isso a diiculdade em elaborar 
hipóteses coniáveis. Na maioria das vezes você tem suposições e estas vêm de 
teorias, que são modelos generalizantes, baseadas em observações empíricas 
de experiências distantes da sua realidade. Então, como estabelecer hipóteses 
tendo como parâmetro realidades diferentes? Basta pensar que você elabora 
uma hipótese partindo de um fenômeno. Algo real que se manifesta em um 
determinado objeto (“local” em que ocorre o fenômeno). Teorias nascem de 
observações sistemáticas (aqui o termo “observação” tem o sentido genérico) 
da manifestação de fenômenos e não de objetos.
Quando inicia um projeto de pesquisa em ciências sociais, você busca 
garantir que um conjunto de dados e/ou informações venha gerar evidências. 
Estas devem ser suicientes para sustentar que um problema (questão 
inicial de pesquisa) sobre determinado fato (fenômeno social) terá respostas 
consistentes e coerentes com seu objeto. Então, você estuda um fenômeno ou 
sua manifestação em um objeto.
Consistência em produção/geração de evidência signiica que métodos, 
técnicas, instrumentos de coleta e procedimentos foram cercados de cuidados 
para evitar distorção(viés). Esse cuidado dará aos resultados (conjunto de 
dados e informações) a coniança necessária para que sua pesquisa tenha 
8 Elaboração de Projeto de Pesquisa
validade e status cientíico. Mas, como coniar se os resultados passaram pelo 
controle de viés? A ciência vem aprimorando isso em cada pesquisa publicada 
e aceita por “praticantes” da área. Por isso você deve consultar as publicações 
nacionais e internacionais reconhecidas na área de pesquisa que se dedica.
Um projeto de pesquisa pode variar de tamanho, complexidade, estrutura, 
sequência dos itens, abrangência, etc. Porém deve garantir que é um projeto 
de pesquisa cientíica. As ciências sociais também obedecem aos requisitos 
universais e parâmetros das outras ciências. Há séculos garantiu o status de 
ciência. O que tem de especíico na ciência social é que ela se volta para 
fenômenos sociais, portanto, baseados em comportamentos e percepções no 
momento de gerar evidências. Isso exige que o pesquisador se comporte com 
o cuidado orientado por Kida (2007) em sua mensagem geral: “não acredite 
em tudo que você pensa”.
Mesmo com tamanha variação de estrutura e formato, escopo e foco, um 
projeto de pesquisa deve: i) identiicar um problema, descrever um contexto 
mais geral em que ele se situa e, a partir daí, elaborar uma pergunta que tenha 
viabilidade de ser respondida; ii) justiicar os motivos (relevância para área/
tema) para pesquisar tal fenômeno social; iii) demonstrar que a evolução das 
pesquisas sobre o fenômeno tem deixado lacunas (pontos especíicos) que 
merecem ser melhor investigadas ou desvendadas; iv) se há espaços vazios 
a serem preenchidos sobre determinado fenômeno social, alguma hipótese 
(ou suposição inicial de resposta) pode ser elaborada para orientar a pesquisa; 
v) métodos, técnicas, instrumentos de coleta e procedimentos devem ser 
adequados à forma como se pretende investigar tal fenômeno. Aqui se prevê 
fontes e dados, informações e informantes, testes, controles, critérios, etc. Sem 
isso é difícil considerar que se trata de um projeto de pesquisa cientíica.
Quando tudo estiver claramente pensado, iniciam as leituras para esclarecer 
melhor o que se pretende pesquisar. Depois vem o processo lógico de construção 
de uma pesquisa (Figura 1). É neste momento que o pesquisador iniciante 
(candidato e/ou estudante de mestrado ou doutorado) deve ter um “mapa 
mental” de como vai planejar uma pesquisa até a publicação de seus resultados.
9Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
Programas de pós-graduação e instituições de fomento à pesquisa querem 
ter a certeza de que estão fazendo um “investimento” com retorno. Este 
(retorno) é medido em publicações dos resultados da pesquisa, especialmente 
quando estes resultados publicados são “aceitos” por aqueles que se interessam 
pelo tema pesquisado, por meio de citações do trabalho publicado. Por isso se 
pensa a pesquisa do contexto inicial até a publicação de seus resultados, ainda 
na fase de projeto. Projetar algo que não vai dar resultado efetivo é desperdício 
de tempo e recursos. Alcançar bons resultados, válidos e relevantes, sem 
publicá-los é mais desperdício ainda.
Figura 1 – Fluxo da ideia do projeto à publicação dos resultados da pesquisa
Observe na Figura 1 que o objeto de pesquisa está ligado com linhas 
pontilhadas (o que indica a possibilidade de uma relação direta) aos outros 
elementos essenciais de um projeto. Isso acontece porque não se faz uma 
pesquisa apenas para descobrir algo especíico que esteja restrito a um 
determinado objeto. Não se pesquisa objeto e sim o fenômeno presente nele. 
Ideia
Livros e Artigos (revistas, 
coletâneas, eventos)
Bases de Textos
Argumentos, Teses, Conclusões (A,B, C, n)
Critérios de Seleção
Literatura 
(A, B, C, n)
Fase de 
Levantamento
• Exploração do objeto
• Fontes (seleção)
• Critérios (definição)
• Dados (que tipo?)
• Abrangência (tempo, 
espaço, população)
• Procedimentos
Fe
nô
m
en
o
Teoria
Premissas HipótesesQuestão, Objetivo 
e Justificativa
Métodos
• Manual ou com software
• Principais conceitos presentes
• Forma de apresentação
Resultados, Evidências, Argumentos Di
sc
us
sã
o
Qual a novidade?
Fase de 
Análise
Conclusão
Variados motivos (acadêmicos ou não)
Objeto
10 Elaboração de Projeto de Pesquisa
Um fenômeno não está solto no tempo e no espaço. Ele está situado em um 
determinado objeto. 
Não fazemos uma deinição prévia do objeto porque o fenômeno é 
mais importante e este pode se manifestar em diferentes objetos e não 
naquele especíico que foi previsto. Por isso a linha pontilhada (que signiica 
possibilidade). O objeto inicial no planejamento da pesquisa é apenas uma 
possibilidade. Esta é a mensagem inicial: é possível que este fenômeno (que se 
pretende pesquisar) esteja se manifestando neste objeto. 
Nas ciências sociais, ainda que as evidências sejam resultado de observações, 
comportamentos e percepções, espera-se que elas gerem possibilidade 
de previsão de manifestação de um mesmo fenômeno em outros objetos 
semelhantes, independentemente do método adotado e do tipo de pesquisa. 
Não estou falando de generalização e sim de possibilidade de ocorrência.
Uma pesquisa social sobre determinado fenômeno tem seus resultados 
mais amplos e não restritos aos objetos estudados. Embora não se possa 
generalizar sempre, espera-se que uma pesquisa pelo menos gere algum 
padrão de comportamento. Aliás, por isso usamos teorias como base analítica 
de nossos resultados. Elas são resultados de pesquisas com certo grau de 
continuidade e por isso foram capazes de produzir enunciados gerais (padrão 
de comportamento). Do contrário, cada pesquisa só teria validade para o 
caso especíico. Por isso as pesquisas sociais precisam atender aos três “R” da 
produção cientíica (Figura 2), porque elas não são diferentes, em sua essência, 
das demais ciências. O que chamo de três “R” é uma forma de fazer e comunicar 
resultados de pesquisa cientíica.
11Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
Figura 2 – Três “R” da produção cientíica.
1º R: Relevância Cientiica. A primeira exigência é a relevância cientíica. 
O que é relevante depende de quem avalia a pesquisa. Esta avaliação nas áreas 
para as quais este livro está direcionado é muito subjetiva. Por isso recorro a 
um texto interessante sobre o que é relevante em ciências sociais aplicadas. 
Mascarenhas, Zambaldi e Moraes (2011, p.267), debatem o assunto ao tratarem 
de publicação cientíica, e entre as abordagens tem uma que considero a mais 
adequada para os ins deste livro. Relevante então deve ser uma pesquisa que 
consiga: “i) originar novos entendimentos; ii) atrair a atenção de audiências 
na comunidade; iii) surpreender, criticar, ou contestar suposições anteriores”. 
A ideia presente nos três requisitos é uma resposta para a pergunta: qual a 
contribuição de sua pesquisa?
Essa relevância só pode ser demonstrada quando se faz um levantamento 
bem abrangente dos trabalhos recentes (últimos cinco anos) publicados sobre 
o tema/fenômeno. Estes trabalhos são publicados em periódicos cientíicos e 
em alguns “anais” de eventos cientíicos da área em estudo. Essas publicações 
são parâmetros de relevância de sua pesquisa, pois é a partir dela que você se 
Rigor Relevância Redação
Método e 
procedimentos 
inquestionáveis 
Literatura consolidada, focada no 
tema e no fenômeno, atualizada 
Teoria adequada, atualizada, 
abordagem coerente 
Contexto da pesquisa 
revela algo novo 
Abordagem com 
contribuição para área de 
estudo 
Sequencial, 
argumentativa e 
discursiva
Frases simples com 
clareza e precisão. 
Revisada
2ª Exigência1ª Exigência 3ª Exigência
Por quê?
Isto é ciência!
Por quê?
É assim que a ciência 
avança!
Por quê?
É mais fácil de ser 
entendido!
12Elaboração de Projeto de Pesquisa
propõe a apresentar algo que atenda aos três requisitos citados anteriormente.
Também não se trata de algo que ninguém tenha pesquisado, e sim de 
uma nova forma de abordar (observar, estudar) um problema real (fenômeno) 
de sua área de estudos. Esta constatação é muito importante para justiicar 
uma pesquisa cientíica. Não basta escolher um tema/fenômeno, é necessário 
mostrar uma possível novidade ou se irá revelar uma nova forma de compreender 
o que já foi pesquisado por outros. 
2º R: Rigor Cientíico. Para isso projete os detalhes metodológicos e 
teóricos que atendam aos rigores das ciências sociais. Não se trata de uma 
pesquisa técnica ou “pesquisa de preço” feita por consumidores. Isso porque 
ainda há uma confusão entre princípios de ciência e alguns procedimentos 
técnicos, muitas vezes não oriundos da ciência. Para ter rigor, uma pesquisa 
deve seguir os critérios gerais da ciência, adotar métodos, análises teóricas e 
confrontar os resultados com a literatura cientíica da área para demonstrar 
seu avanço. 
O rigor não está apenas no meio (método); deve estar também no im 
(resultados) e na possibilidade de extrapolar para outros objetos. Já ouvi e 
presenciei situações com airmações aberrantes de que tanto de rigor quanto 
relevância podem ser constatados já nos verbos dos objetivos do projeto de 
pesquisa. Essas e outras pérolas são reais!
3º R: Redação. É a parte inal de uma pesquisa, que ainda em fase de 
projeto deve ser também pensada. Ao im de sua pesquisa terá que fazer o 
relatório, indicando o quê, como, onde, com quem, quantos, de que forma, 
quais critérios, etc. Neste também apresenta resultados, discussão e conclusão. 
Sem uma redação eiciente todo esforço será em vão. A redação cientíica é uma 
forma simples de comunicar os resultados de uma pesquisa. O autor tem que 
ser capaz (eiciente) de fazer com que qualquer pessoa consiga compreender 
sua mensagem. Tratarei disso no último capítulo deste livro. 
 
13Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
1.2. INICIANDO A REDAÇÃO DO CONTEXTO DA 
PESQUISA
Antes de iniciar, quero registrar um alerta para os termos comuns usados 
no título deste item do projeto: “contexto da pesquisa”, “problematização” ou 
“situação problemática” foram, durante muito tempo, termos usados como 
item de abertura de um projeto de pesquisa. Qual é o título mais adequado para 
abrir a redação do item que apresenta a pergunta de pesquisa? Aqui utilizo o termo 
“contexto da pesquisa” por opção. Não tem um termo certo ou errado. Cada 
autor ou orientador indica sua preferência. O que interessa é sua essência, seu 
conteúdo e sua função no todo (projeto).
Recentemente comecei a ver o termo “introdução” para cumprir esta 
função. Não concordo com este termo por entender que a introdução tem 
outro caráter, que é de forma mais ampla, apresentar todo o conteúdo de 
um trabalho. No caso do projeto, o item inicial só apresenta o contexto, um 
problema e uma pergunta. Introdução em ciências sociais (ou em seus trabalhos 
acadêmicos) sempre teve outra função, que era (e ainda é) de apresentação 
geral do que trata o trabalho, em todas as suas partes. Aliás, até esta função 
não há consenso, porque já vi vários trabalhos acadêmicos em que constavam 
na introdução, destacados em negrito, os elementos de um projeto, mas isso já 
é exagero! Nas demais ciências a introdução tem outra função. 
Esta parte inicial do projeto é o local onde o avaliador precisa compreender 
o que o autor do projeto pretende pesquisar. Então, devem icar bem explícitos 
fenômeno e objeto da pesquisa. Isso signiica que a concepção e elaboração das 
partes de um projeto têm momentos diferentes. Apresento isso na ilustração 
a seguir (Figura 3) para mostrar que conceber, elaborar e redigir cada parte de 
um projeto tem momentos diferentes.
Na concepção de um projeto, vários itens são elaborados de forma 
provisória. Depois o projeto passa por revisão e ajustes. Um item depende 
do outro (veja a Figura 10, no Capítulo 8). Quando se elabora a redação do 
contexto da pesquisa, a pergunta de pesquisa (ou as perguntas) já deve ter 
passado por revisão de todo o projeto. A deinição da pergunta depende das 
14 Elaboração de Projeto de Pesquisa
outras partes do projeto.
O ideal é que a elaboração seja bem planejada, depois redigida de forma 
separada em arquivos separados no processador de texto, após isso passar por 
várias revisões e por último juntados na sequência em que foi solicitada pela 
banca de seleção, pelo orientador ou pela coordenação do programa de pós-
graduação ou pela instituição de fomento à pesquisa, para casos de projetos 
que buscam inanciamento. A sequência que proponho (Figura 3) é a mais 
lógica que encontrei e a que mais ajuda na revisão e correção de erros e 
inconsistências. 
Figura 3 – Itens e sequência da redação de um projeto 
Em projetos de pesquisa é comum esta parte vir em primeiro (como neste 
capítulo), mas sua redação é elaborada depois que o fenômeno estiver bem 
deinido, revisão da literatura e referencial teórico com o texto pronto. Então, 
para a redação do item “Contexto da Pesquisa” faça assim:
1º. Comece com um parágrafo introdutório, apresentando em uma frase, 
de forma direta, o que pretende pesquisar. Não inicie com objetivo (já vi muito 
isso). Este parágrafo inicial se apresenta como uma descrição ou um “cenário” 
Etapas Itens do Projeto Redação
1º (provisório) Tema, Fenômeno 1º (final)
8º (provisório) Título, Resumo, Palavras-chave 8º
4º (roteiro) Contexto da Pesquisa e Questões 4º
7º (roteiro) Justificativa 7º
5º Objetivo, Suposição, Hipótese 5º
3º (matriz) Referencial Teórico 3º
2º (matriz) Revisão da Literatura 2º
6º (roteiro) Método, Procedimentos, Cronograma 6º
9º Apêndice, Anexo 9º
10º Referências 10º
15Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
em que um fenômeno da vida real, da sociedade mais ampla é apresentado, por 
isso “ciências sociais”. 
Problematização ou problemática (ação de apresentar um problema) é 
diferente de pergunta de pesquisa. Um problema (ou situação problemática) 
é uma forma de direcionar algo mais amplo que chega a algo mais especíico: 
a pergunta de pesquisa. Esta se volta para o fenômeno (ponto especíico do 
problema).
2º. Em seguida, construa um segundo parágrafo apresentando uma ou 
mais referências de obras que sustentem o argumento da existência de um 
fenômeno. Para isso, é necessária a apresentação de um contexto geral da 
pesquisa. É neste que o fenômeno se insere. Você já apresentou a situação 
problemática, agora vem o fenômeno. 
Pense em uma cena: uma confusão na rua, muitas pessoas aglomeradas, 
em meio a esta confusão alguém grita que sumiu sua carteira, você foca sua 
câmera de celular, registrando a confusão. Sua intenção não foi a de buscar 
registrar alguém pegando a carteira de outro. Após saber que ocorreu este 
fato durante a confusão, vem uma pergunta: quem pegou a carteira? O contexto 
de uma pesquisa nesta situação é o cenário maior em que ocorreu um fato (a 
cena); um fenômeno ocorreu neste determinado ambiente (a rua); você busca 
resposta para causas e/ou consequências do fenômeno, de que forma ocorreu, 
quem é o responsável, etc. Um fenômeno social ocorreu e ele gera várias outras 
questões a serem investigadas. 
3º. Um terceiro parágrafo deve destacar os principais trabalhos. Aqui 
é coerente destacar trabalhos que tratem do mesmo tema da pesquisa 
a ser desenvolvida e foco do projeto. Respondendo: O que os outros autores 
pesquisaram sobre isso? Que resultados encontraram? O que isso tem a ver com o 
problema que apresento?
Apresente informações de fontes coniáveis que tratem do fenômeno, 
para demonstrar a relevância da pesquisa. São dados e informações adicionais 
de instituições de credibilidade nacional e/ou internacional. Os argumentos 
consistentessão para mostrar que se trata de uma pesquisa relevante (bastam 
16 Elaboração de Projeto de Pesquisa
dois ou três parágrafos, mas isso depende de quem cobra o projeto). Sempre 
que você estiver com dúvidas quanto à relevância, leia atentamente os dois 
parágrafos posteriores à Figura 2 ou consulte a obra indicada. 
Exemplo 1: Dados sobre educação básica podem vir do Unicef 
e MEC; sobre educação superior, podem vir da OCDE, INEP, MEC; 
sobre população, emprego e renda podem vir do IBGE, FIPE, Dieese, 
Caged; sobre negócios podem vir da Ibovespa, Exame, Sebrae, etc.
4º. Os dados a serem apresentados devem ser sempre de pesquisas recentes, 
de fontes coniáveis e reconhecidas. O leitor deve entender que a pergunta de 
pesquisa a ser apresentada (no inal do texto) tem relação com os argumentos 
construídos nestes primeiros parágrafos. Aqui se faz referência a alguns artigos 
da revisão da literatura (que tratam do tema). Um artigo de revisão é o ideal, 
porém deve ser um recente (publicado nos últimos três anos).
O contexto de uma pesquisa cientíica é um texto com argumentos 
consistentes, com redação simples e sequência lógica das ideias. Para isso 
é necessário mostrar o que Kida (2007) propõe: a) a realidade tem uma 
ordem (como as coisas acontecem); b) esta ordem pode ser parcialmente 
compreendida (ninguém consegue explicar tudo!); c) uma vez compreendida, 
esta ordem pode ser comunicada aos outros. Uma pesquisa busca também 
encontrar respostas em forma de “mapas imperfeitos dessa realidade” ou dessa 
ordem que você estuda (fenômeno) e não de verdades e crenças.
5º. Em seguida apresente os conceitos mais importantes. São os que têm 
relação direta com o fenômeno. A teoria selecionada é a base disso. Os conceitos 
a serem utilizados nos instrumentos de pesquisa (questionário, roteiro de 
entrevistas, etc.) deverão constar nesta parte. Sempre citando as referências 
(autor, ano). Aqui não pode ser um texto puramente descritivo. Trata-se de 
uma construção argumentativa para expor o uso desses conceitos e convencer 
o leitor da coerência destes e sua função na pesquisa. Se as categorias teóricas 
são muito importantes para esclarecer o leitor do contexto, então apresente 
17Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
aqui e explique melhor, porém de forma direta, objetiva e resumida porque a 
parte para expor melhor é no referencial teórico.
6º. Após alguns parágrafos com uso de dados, exposição e argumentação 
dos conceitos e todo o contexto bem construído, apresente as perguntas de 
pesquisa. Esse contexto tem o tamanho variado. Depende do tamanho de 
projeto que está apresentando (mestrado ou doutorado). Número de páginas, 
sequência dos itens, presença de ilustrações, entre outros, seu guia é o orientador 
ou o edital de seleção, ou ainda o manual do programa de pós-graduação. Para 
dúvidas sobre os tipos de ilustrações mais adequado ao projeto consulte os 
apêndices 1 e 2 no inal do livro. 
Quando se trata de qualiicação de mestrado, a sequência lógica é de 
acordo com cada área escolhida. No doutorado esta é mais complexa, exigindo 
mais obras de periódicos cientíicos de prestígio, artigos muito citados e 
publicados em periódicos cientíicos internacionais. As bases para a construção 
dos argumentos da hipótese (pesquisa quantitativa) ou suposição (pesquisa 
qualitativa) vêm de obras consagradas e contexto bem explicado. 
7º. Quando o “enredo” que situa o leitor na pesquisa e no contexto que 
envolve o fenômeno estiver pronto, chega o momento de apresentar a pergunta 
geral e as eventuais perguntas especíicas. Estas devem ser destacadas em 
negrito, pois isso ajudará o avaliador do projeto na relação entre pergunta e 
contexto. Este é um recurso visual que auxilia na avaliação.
A pergunta deve ser curta, clara, direta, porém com sentido completo de 
uma frase compreensível. O leitor tem que entender o que você propõe fazer na 
pesquisa: buscar resposta para a pergunta que está destacada. Aqui aproveito 
para minha deinição operacional de pesquisa: esforço sistemático em busca 
de resposta para perguntas previamente elaboradas. Você elabora pergunta; 
busca resposta e para isso faz um planejamento, mas tem uma hipótese inicial; 
procura parâmetros na literatura sobre o tema, porém com uma base em uma 
teoria social ou comportamental. 
Tenha atenção para não usar palavras inadequadas nas perguntas, pois elas 
comprometem a coerência: pode, mais, menos, muito, pouco, bom, mau, importante. 
18 Elaboração de Projeto de Pesquisa
O problema com essas palavras é que elas, de alguma forma, já antecipam 
resultados que é o que se pretende com a pesquisa ou o que tratamos como 
“juízo de valor”. Elas podem ser mais apropriadas para hipóteses, porque estas 
pressupõem teste ou veriicação. 
Cuidado com o uso de alguns termos comuns, mas que muitas vezes são 
empregados com signiicado cientíico equivocado. Já vi muitas vezes estes 
termos/conceitos fora do sentido que eles realmente têm. Apresento alguns 
destes com seus signiicados cientíicos adequados em um texto cientíico. 
Muitas vezes me deparei com erros em seus signiicados. São eles:
i) Abordagem = forma de observar ou descrever um fenômeno. ii) 
Postulado (ou Axioma) = proposições não passíveis de prova, justiicáveis por 
consequências lógicas. iii) Pressuposto = ideia em que se baseia uma airmação. 
iv) Premissa = airmações de base teórica, uma assunção lógica. v) Inferência 
= conclusão derivada de dados ou de premissas. vi) Conjectura = ideia nova 
ou não explorada; uma suposição. vii) Fenômeno = descrição de um fato sem 
levar em conta seus mecanismos subjacentes. viii) Análise = quebra de todos 
seus componentes e suas mútuas relações. (BUNGER, 2002).
8º. Quando a redação estiver concluída, serão necessárias várias revisões. 
Perguntas devem ser confrontadas com o método e procedimentos, com 
justiicativa e objetivo, com o referencial teórico e revisão da literatura. Isso é 
para veriicar falhas de coerência e lógica do projeto. No Capítulo 8 apresento 
uma ilustração para isso (Figura 10). 
Ao inal da redação desta parte, leia todo o projeto iniciando pela última 
parte (método) e conclua na primeira parte (contexto), ou do im para o 
começo. Todas as partes devem ter relação direta uma com as outras. Esta é a 
melhor forma de checar erros de coerência entre ideias e argumentos, relação 
entre conceitos e ideias e relação entre as partes do projeto.
19Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
CAPÍTULO 2 
Justificativa
2.1. POR QUE JUSTIFICAR UMA PESQUISA?
Esta parte tem o propósito de mostrar ao leitor e/ou avaliador de seu 
projeto que a pesquisa é relevante para a área de estudo e pretende revelar 
alguma novidade. Você justiica a pesquisa e não seu projeto. Há várias 
justiicativas para uma pesquisa. Aqui tratarei das mais usuais. Instituições 
de fomento esperam que os resultados de uma pesquisa cientíica sejam 
publicados, para isso o autor do projeto deve logo indicar quais os veículos de 
comunicação cientíica (eventos e periódicos) são mais interessados no tipo de 
pesquisa que você projeta. 
Aliás, não só este tipo de instituição espera isso. Os programas de pós-
graduação sobrevivem disso. O lema importado “publicar ou morrer” já indica 
isso e tem sido o guia do desespero de acadêmicos em geral. Aliás, tal desespero 
revelou comportamentos e interesses que atentam contra a “boa” ciência.
 
2.2. SEQUÊNCIA DA REDAÇÃO
O projeto é como a planta baixa e a “maquete” de um edifício: devem 
ser capazes de mostrar todos os detalhes da obra inal. Sabemos que nem 
tudo que planejamos sai integralmente da forma como foi planejado. Então 
exponha os argumentos sustentados em dados, informações e publicações, da 
seguinte forma:
1º. Primeiro parágrafo abre informando do que trata a pesquisa (mais 
ênfase no fenômeno)com apenas uma frase. Não se apresenta objetivo da 
pesquisa (um erro comum). A primeira frase é uma justiicativa geral da 
pesquisa (sem referências). É seu argumento principal para desenvolver a 
pesquisa. As demais frases do mesmo parágrafo são os argumentos secundários. 
Estes argumentos secundários devem ter referência (autor, ano). Aqui podem 
ser usadas referências de obras não acadêmicas ou dados e informações de 
20 Elaboração de Projeto de Pesquisa
outras fontes, porém fontes coniáveis.
Um alerta: não recorra desesperadamente a “buscas soltas” no Google para 
inserir dados e informações, sem checar a credibilidade. Lembre-se das fake 
news.
2º. Os próximos parágrafos têm uma sequência lógica para explicação do 
fenômeno a ser pesquisado. É uma redação que busca responder as seguintes 
perguntas: O que os trabalhos sobre o tema têm mostrado de novidade? Inicie com 
os trabalhos mais antigos (inserindo os mais citados). 
As respostas para estas perguntas só estarão prontas quando a revisão 
de literatura icar completa em forma de matriz. A ideia que sustenta essa 
justiicativa é: este contexto mostra que ainda tem fatores não explicados e que 
interferem de alguma forma neste fenômeno; minha pesquisa revelará estes fatores. 
As publicações mais recentes servem para construir argumentos que 
mostrem as novidades esperadas com a pesquisa. Este é o ponto de partida 
para justiicar a pesquisa. Inserir referências (autor, ano) para sustentar o 
argumento de cada airmação. 
3º. Em seguida continue a redação buscando responder: O fenômeno é 
relevante para a sua área de estudo? De que forma? Responda indicando que a 
área de estudo está sem explicação para o fenômeno, a partir dos fatores que 
pretende pesquisar ou que as explicações, até então publicadas, não conseguem 
responder a pergunta que você apresentou no “Contexto da Pesquisa”. Aqui siga 
literalmente os requisitos de relevância citados por Mascarenhas, Zambaldi e 
Moraes (2011, p.267) que indiquei no Capítulo 1 (item 1.1.). 
Isso justiica a abordagem planejada na parte de método (que você 
já concluiu). Dados e informações mostram a relevância de se estudar o 
fenômeno da forma como você propõe. Pode inserir aqui dados de variadas 
fontes coniáveis e recentes para que seus argumentos sejam consistentes, 
como nos exemplos a seguir: 
21Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
Exemplo 1: Dados da ONU revelam que o número de pessoas 
refugiadas no mundo tem aumentado.... (apresente os dados e 
indique a fonte). 
Exemplo 2: O número de empresas que surgiram por meio de 
incubadoras é de.... (apresente os dados e indique a fonte).
Exemplo 3: O mercado de escolas profissionalizantes voltadas 
para a era digital tem crescido com mais velocidade do que as 
escolas tradicionais... (apresente os dados e indique a fonte).
4º. Na sequência, responda a seguinte pergunta, de forma objetiva: O que 
o estudo pretende mostrar de novo? Os argumentos são baseados nas conclusões 
de pesquisas recentes consultadas na literatura (a matriz revelará isso). Como 
nos exemplos a seguir:
Exemplo 4: Estudos recentes (autores, ano) têm revelado que 
deputados preferem indicar pessoas para cargos com maior 
poder de decisão sobre recursos. A pesquisa propõe apresentar 
que tipo de recurso desperta maior interesse, por cargo objeto da 
indicação.
Exemplo 5: Estudos recentes (autores, ano) têm revelado uma 
baixa taxa de ocupação formal de pessoas com diploma de ensino 
superior. Esta pesquisa busca evidências de que esta taxa é maior 
em egressos de cursos de IES com elevada nota no ENADE. 
Recomendo o uso de matriz de resumos para melhor relacionar ideias, 
argumentos e conclusões de pesquisas recentes, evolução dos temas de 
interesse dos pesquisadores da área de estudos. Só quando os principais 
trabalhos estiverem resumidos é que respostas poderão ser dadas de forma 
coerente, consistente e segura. As perguntas anteriores devem ser respondidas 
em parágrafos separados e organizados em sequência para a construção dos 
22 Elaboração de Projeto de Pesquisa
argumentos que justiiquem o objetivo da pesquisa. 
5º. Continue o texto para responder o seguinte: Qual a abrangência da 
pesquisa (espacial, temporal, etc.)? Quais os motivos para essa abrangência? 
Quais organizações, cidades, pessoas, site, etc., irão fazer parte dela? Quais motivos 
explicam a seleção? (foco, parte do todo). Responda sempre argumentando 
a coerência desta escolha. Essa coerência tem como parâmetro dados, 
informações, principais conclusões dos trabalhos de pesquisa recentemente 
publicados, formas de como o fenômeno se manifesta (o contexto da pesquisa 
deve mostrar isso), situação e peril do objeto, ambiente em que este se situa.
Esta parte varia muito. Pesquisas que exigem (o parâmetro são as outras 
pesquisas) maior abrangência na coleta de dados/informações deve ter uma 
justiicativa bastante coerente e convincente, seja ela espacial ou temporal. 
Seleção com muitas ou poucas unidades, maior ou menor que os estudos 
recentes também merecem explicação. 
6º. Na sequência, uma nova pergunta precisa de resposta: Quais os critérios 
deinidos para o recorte adotado na pesquisa (foco)? Não confundir as duas 
perguntas anteriores (motivos [5º] e critérios [6º]). Esta resposta depende do 
método a ser adotado. Então após a parte metodológica ser concluída, esta 
pergunta deve ser respondida.
Observe que o texto da justiicativa depende de outras partes. Você 
justiica a pesquisa em diferentes perspectivas. O texto vem no início, mas sua 
elaboração é desenvolvida no inal (veja as etapas na Figura 3). A justiicativa 
é para seu objetivo, já que ele é o escopo de sua pesquisa.
7º. Toda pesquisa tem limites e eles são comuns, já que o pesquisador se 
volta para buscar respostas apenas para uma parte da realidade. Critérios de 
“recorte” dessa realidade mais ampla são os maiores limitadores e geradores de 
distorção (viés). Então responda: Quais os limites da pesquisa e por que tem tais 
limites? Esta resposta também deve icar pronta somente após a conclusão da 
revisão da literatura. 
O que os outros pesquisadores fazem serve de parâmetro para o que você 
pretende fazer. Os limites de sua pesquisa só serão apontados no momento em 
23Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
que confrontar o que está projetando com o que os outros já izeram. Logo, 
deixe bem evidente o que a pesquisa buscará revelar. O que não conseguir 
será por causa do foco dado à pesquisa, do método adotado, do referencial 
teórico selecionado como mais adequado. Esses são os procedimentos básicos 
para observar a parte da realidade. São eles (foco, método, teoria) que poderão 
indicar os limites da pesquisa e não por falta de esforços, de recursos ou outros 
alheios aos procedimentos cientíicos. 
O estudo se volta para uma parte da realidade e, por isso, alguns fatos 
estão próximos do que você pretende pesquisar, mas não dará conta com o 
método e a abordagem proposta. Isso é um limite. Este limite não deve tirar da 
pesquisa sua relevância. Pesquisas relevantes também apresentam limites, pois 
é com base nestes que a ciência avança. Esta nunca estará acabada.
A pesquisa tem um foco e, mesmo que outros fatores estejam associados a 
ele (foco) ou algum indício de inluência exista, tais fatores icarão para outra 
pesquisa. No entanto, isso deve ser explicado de forma direta e objetiva, clara 
e simples, para que não haja dupla interpretação. 
24 Elaboração de Projeto de Pesquisa
CAPÍTULO 3
Objetivos
 Esta é a parte que está no centro da pesquisa. Trata-se do guia principal 
e que move a pesquisa. Coerência, atenção com as palavras certas e bem 
empregadas, uso do verbo mais indicado para a ação que pretende realizar no 
futuro são os principaiscuidados que se deve ter na elaboração dos objetivos de 
pesquisa. Também é importante diferenciar objetivos de pesquisa de objetivos 
metodológicos (Figura 4) que são ações parciais que pretendem levar a um 
estágio inal (objetivo de pesquisa).
Já presenciei várias vezes situações em que os objetivos eram coerentes 
e consistentes com o que o autor do projeto pretendia fazer na pesquisa, 
porém foi mal interpretado por duas razões. Situo aqui os principais motivos 
dessa “má interpretação”: i) no objetivo constavam termos ambíguos ou 
verbos inadequados (estudante não preparado); ii) os objetivos estavam bem 
elaborados, sem problemas lógicos e conceituais, porém seus avaliadores não 
conheciam a lógica de construção de objetivos (professores despreparados); 
iii) os dois problemas estavam presentes (uma tragédia acadêmica).
Infelizmente são problemas gerados pelo que trato de “arrogância 
metodológica de senso comum”. Estas, muitas vezes, são motivadas pelas 
experiências próprias e limitadas de quem avalia o projeto, pela forma enviesada 
com um avaliador aprendeu ou pela ideologia que molda a pseudociência que 
fazem. Quando isso vem de quem deveria ensinar é grave. Quando vem de 
quem ainda está no estágio inicial de se preparar para ensinar, é gravíssimo, 
mas ainda tem solução. Muitas vezes este tipo de avaliador se comporta como 
“torcedores” que se sentem como “técnicos de futebol” em época de Copa do 
Mundo. Cada “torcedor” tem sua “escalação” preferida, mas esquece de que o 
“time” tem outro técnico, o que signiica que o autor do projeto é quem sabem 
o que pretende (objetivo).
Para evitar que esses comportamentos inadequados se manifestem, deixe 
25Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
bem claro o que pretende fazer em sua pesquisa, o que pretende alcançar de 
resultados. Elabore seus objetivos em, no máximo, duas linhas cada e não insira 
muitas palavras. Seja objetivo, direto, preciso, com frases de sentido completo 
e voz ativa. 
1º. Leia atentamente o texto da justiicativa e assim que concluir o projeto 
compare com seus objetivos. Isso é um teste de coerência. Faça os ajustes 
necessários. Algumas vezes uma palavra, preposição, artigo, acento, crase, etc., 
mudam o sentido e a ação do que pretende alcançar ao inal da pesquisa, que 
se manifesta no verbo mais adequado ao que você se propõe. 
2º. Cada objetivo deve ser redigido de forma direta, sem chances de 
apresentar uma dupla interpretação. Esta é a parte mais polêmica em avaliação 
em bancas de seleção, qualiicação e defesa na pós-graduação. Então, no 
primeiro momento observe muito bem os diferentes signiicados que tem o 
verbo, para que coloque em prática a precisão (palavra mais indicada para o 
que pretende comunicar). No caso do objetivo, o verbo mais indicado para a 
ação futura que pretende.
3º. Na elaboração dos objetivos não pode sobrar nem faltar palavras. 
Elabore um objetivo geral e dois ou três especíicos. Cuidado: quanto mais 
objetivos, mais trabalho a ser feito. Lembre-se sempre que um objetivo é uma 
ação. Para cada verbo corresponde uma ação. Porém, é necessário compreender 
que objetivo geral e objetivos especíicos são mais uma tradição do que uma 
obrigação. É apenas uma forma mais direta de mostrar o que pretende. 
Tradição não é obrigação. A vontade dos outros não é a sua. A pesquisa é sua. 
Objetivos especíicos são apenas detalhamentos da ação maior que pretende 
com a pesquisa. 
Os objetivos de pesquisa são seus e a pesquisa é sua, porém devem ser 
bem elaborados. Se os objetivos especíicos fossem obrigatórios em pesquisa, 
todos os artigos publicados nas melhores revistas do mundo trariam isso bem 
destacado. Isso não acontece. Os objetivos especíicos ajudam a direcionar 
melhor o que você pretende, porém, quando elaborar, cuidado para não 
transformar objetivos especíicos de pesquisa em objetivos metodológicos da 
26 Elaboração de Projeto de Pesquisa
pesquisa. São coisas diferentes. Cuidado com a elaboração de objetivos para 
não cometer os seguintes erros descritos nos exemplos a seguir:
Exemplo 1: Uma pesquisa exploratória não pode usar os verbos 
explicar, analisar (isso é incoerente).
Exemplo 2: Não elabore objetivos metodológicos (mapear a 
literatura sobre; selecionar banco de dados). 
Objetivos de pesquisa são diferentes de objetivos metodológicos. Ainda 
que seja comum que um objetivo especíico tenha relação direta com ações 
metodológicas, exigindo um objetivo metodológico, este ica descrito no 
item especíico (procedimentos metodológicos) e não como objetivo de 
pesquisa. Objetivos metodológicos são meios e não ins. Por isso existe a parte 
metodológica em um projeto, que é formada por várias ações futuras com 
verbo no ininitivo. Atenção primordial às ações dos verbos a serem utilizados, 
pois eles revelarão a relevância da pesquisa em uma ação que pretende produzir 
resultados cientíicos.
Exemplo 3: (objetivos de pesquisa): 
- Identificar e descrever o perfil de estudantes que utilizam o 
financiamento estudantil em cursos de áreas sociais e suas 
expectativas em relação à empregabilidade. 
Veja que uma pesquisa com este objetivo do Exemplo 3 não é do tipo 
explicativa nem experimental. Também cuidado com este verbo (experimentar). 
Ele tem subjacente a ideia de teste, grupo de intervenção e grupo de controle. 
Veja que no Exemplo 3 que a pesquisa pode ter dois objetivos (geral e especíico). 
Não é regra e sim coerência. São dois verbos com ações amplas, o que exigirá 
outras ações complementares mais especíicas (objetivos especíicos), que 
serão executadas com ações mais pontuais (objetivos metodológicos). 
27Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
Se você deixar a frase do objetivo com duplo sentido ou se usar verbos 
inadequados ao tipo de pesquisa que pretende, um “curioso” pode querer dar 
“sugestões” para sua pesquisa, distante do que você pretende (lembre-se da 
miopia). Um avaliador pode querer mudar o que você pretende fazer, caso ele 
não compreenda o que você quer. A culpa pode ser sua se não deixar claro o que 
pretende ou pode querer fazer uma pesquisa cujo tempo, recursos e/ou fontes 
disponíveis não permitirá e um bom avaliador saberá identiicar e propor 
mudança. No entanto, pode também ocorrer de um avaliador simplesmente 
propor mudança (isso é comum) apenas tendo como parâmetro sua visão de 
ciência a partir de suas pesquisas (alto grau de miopia). 
Compare o Exemplo 3 com o Exemplo 4 e perceberá que os objetivos 
metodológicos icarão na parte do projeto que trata de procedimentos 
metodológicos (método). Nesta parte você descreve as ações que levarão 
você aos objetivos de pesquisa. No Exemplo 3, expresso com dois verbos e 
duas ações: “identiicar” e “descrever”. O Exemplo 3 tem os verbos com ações 
menores para atividades que isoladamente não fazem o pesquisador chegar 
ao objetivo do Exemplo 3. O conjunto de ações descritas em três verbos no 
Exemplo 4 é que levarão você a alcançar o que está descrito no Exemplo 3.
Exemplo 4: (objetivos metodológicos): 
- Identificar e mapear as IES com cursos da grande área de ciências 
sociais. 
- Identificar e classificar os estudantes desses cursos nas IES 
selecionadas. 
A pesquisa cientíica tem parâmetros para objetivos: i) o que você pretende 
pesquisar deve ser expresso de forma clara, com uso de verbos adequados para 
cada ação desejada e tipo de pesquisa. ii) isso deve ter relevância para a área de 
ciência que está direcionando sua pesquisa. iii) você só consegue mostrar isso 
se contextualizar bem o fenômeno e mapear a literatura. iv) na apresentação 
28 Elaboração de Projeto de Pesquisa
(pública ou escrita) de seus objetivos tente construir um luxograma com a 
relação direta entre objetivos, métodos, técnicas, instrumentos e procedimentos 
de pesquisa. 
Diagramase outras ilustrações ajudam a demonstrar com mais 
objetividade seus objetivos de pesquisa e metodológicos. Isso também limita 
a ânsia incontida dos “técnicos de futebol”, de quererem “escalar seus times” 
no seu “campo” ou interferirem na sua “escalação”. Observe na Figura 4 essas 
situações e para melhor compreensão observe também a Figura 9 do capítulo 
de método e procedimento.
Figura 4 – Objetivos de pesquisa e objetivos metodológicos
Compreender (se) os dados..
Discutir (se) os resultados...
Interpretar (se) as evidências....
Verificar a relação....
Descrever os....
Relacionar a presença....
Objetivo de Pesquisa Objetivos Metodológicos
Organizar os dados
Comparar os resultados
Criticar, debater a literatura
Aplicar teste
Construir mapas
Usar software
- O Se muda a ação (meio), exigindo 
uma ação complementar (fim) e outro 
verbo. 
- Sem o Se a ação é final e o objetivo é 
metodológico.
- Objetivos metodológicos são ações (meio) para se
chegar a resultados.
- Objetivos de pesquisa são mais amplos que seus
resultados. O problema não é o verbo.
- Nem sempre precisa de geral e específico.
- A ação do verbo (e não o verbo) faz toda a diferença.
Pesquisa
29Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
CAPÍTULO 4
Revisão da Literatura
4.1. O QUE É E QUAL SUA FUNÇÃO NO PROJETO?
Esta é a parte do projeto destinada a apresentar ao leitor um levantamento 
completo e coerente de trabalhos publicados sobre o tema, focado no fenômeno 
da pesquisa. A revisão da literatura é um texto que informa e discute, argumenta 
e circunscreve algo que está sendo estudado (tema) e direcionar o leitor para o 
que você pretende que é pesquisar um determinado fenômeno delimitado no 
interior da produção cientíica maior que tratamos como tema.
Aqui você descreve resultados de outras pesquisas dos últimos cinco anos 
(este é o período mais usado). É o que os mais tradicionais chamam ainda 
de pesquisa bibliográica ou estado da arte. A revisão da literatura é um termo 
ainda pouco usado nas ciências sociais. Pereira (2011, p.47) deine revisão da 
literatura como “avaliação criteriosa ou a opinião qualiicada sobre um tema, 
os quais são essenciais para manter o leitor atualizado”.
Tema é um conjunto de abordagens (forma de ver problemas de pesquisa) 
que direcionam um estudo para que seja apresentado o que comumente 
tratamos como “foco” da pesquisa. É comum chamar de “recorte”, o que 
signiica deixar clara (recortada) a parte de uma realidade mais ampla para ser 
estudada, devido nossa incapacidade de estudar o todo. 
Após utilizar o tema como delimitador do que pretende estudar, chega 
a hora de identiicar o fenômeno. Depois da busca por mais informações 
sobre ele, você começa planejar a busca por publicações cientíicas que tratam 
exatamente do que pretende pesquisar. 
Hoje, já há procedimentos padronizados na maioria das áreas. Geralmente 
se usa a bibliometria. Esta inicia com levantamentos em bases de textos. São 
várias as existentes (nacionais e internacionais). Cada área tem as mais comuns 
e também as que são usadas por todas as áreas. A Figura 5 ilustra como se 
inicia o processo de deinição do fenômeno até a matriz de resumos.
30 Elaboração de Projeto de Pesquisa
Figura 5 – Processo de deinição do fenômeno até a elaboração de matriz 
4.2. PROCESSO DE BUSCA POR TRABALHOS 
PUBLICADOS
O processo de busca inicia com a escolha de palavras-chave, seleção das 
bases de texto, uso de operadores lógicos booleanos (and, or, not), procedimento 
de inclusão-exclusão e inalmente a seleção dos que serão consultados. Para 
melhor compreensão do processo operacional, com uso de software especíico 
indico o trabalho de Arese et al., (2016).
Apresento uma síntese do processo de busca de textos publicados: i) 
deinição de palavras-chave (máximo cinco) de acordo com tema/fenômeno; 
ii) seleção das bases (nacionais internacionais) mais usadas; iii) deinição de 
critérios de exclusão (textos repetidos, fora da área, outro foco de pesquisa, 
etc.); iv) organização dos trabalhos (planilha ou software) para controle de 
seleção; v) leitura dos resumos e exclusão dos que não se enquadram no tema; 
vi) seleção de trabalhos para leitura completa; vii) elaboração de matriz de 
resumos. 
Um método já consagrado para este tipo de seleção é o Modelo Prisma 
(MOHER et al., 2009), do qual iz uma adaptação para a Figura 6 a seguir. 
Este método tem algumas vantagens: i) evita o viés na seleção de trabalhos; 
ii) auxilia o leitor a compreender melhor o objetivo do autor; iii) demonstra 
os passos para que outros pesquisadores venham dar continuidade à pesquisa.
Objetivo Palavras
-chave Bases
Justificativa
Título e 
Resumo
ArtigoFenômeno
Resultados
Discussão
Conclusão
LeituraMatriz
Critérios de Exclusão
Texto final: argumentos que mostrem
o status do tema e tópicos não
explorados. Sua pesquisa deve
completar o que falta.
31Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
Figura 6 – Fluxo do Modelo Prima para identiicação e seleção de textos
Uma vez concluída esta etapa de busca e seleção de textos que serão o 
fundamento da revisão da literatura, inicia o processo de leitura. Para esta 
etapa indico a elaboração de uma matriz de resumo das leituras (Quadro 1). 
Na revisão de literatura deve ser dada preferência para artigos publicados nas 
principais revistas cientíicas da área em estudo, nos últimos cinco anos, e aos 
trabalhos apresentados nos principais eventos cientíicos internacionais de sua 
área/curso.
Em meu livro (FARIAS FILHO, 2018) apresento os seguintes argumentos 
para se fazer uma matriz de resumo, antes de preparar a redação: a) resumir 
mais rapidamente a leitura; b) selecionar apenas os conteúdos que interessam 
ser discutidos; c) evitar o que chamo de “plágio involuntário” ou “plágio 
acidental”; d) preparar a redação inal e facilitar a leitura do texto dissertativo 
e argumentativo; e) evitar que o autor cometa um erro crucial: ênfase na obra e 
não ao conteúdo (citação em primeiro plano); e) sistematizar a leitura e ter um 
“banco” de conteúdo que poderá ser atualizado para outros trabalhos (artigos 
futuros).
Registros Identificados 
em Bases de Textos (n = )
Se
leç
ão
In
clu
sã
o
Id
en
tif
ica
çã
o Registros Adicionais de 
Outras Fontes (n = )
Registros Duplicados Excluidos (n = )
Registros Selecionados
(n = )
Registros Excluídos e 
Justificados (n = )
Artigos Completos Avaliados 
para Seleção (n = )
Artigos Completos Excluídos
e Justificado (n = )
Estudos Incluídos na Síntese 
Qualitativa (n = )
Obs.: na Meta-análise o método de 
análise é Quantitativo
32 Elaboração de Projeto de Pesquisa
Quadro 1 – Matriz de resumo de leituras para revisão da literatura
Referência Resumo Comentário
Obra A
De cada leitura se retiram os 
principais resultados, os argu-
mentos base da discussão e a 
conclusão. Também pode reti-
rar trechos para citar no texto.
Pode selecionar os conteúdos 
e classiicá-los a partir de suas 
semelhanças ou diferenças. 
Daqui saem os comentários e 
confrontação entre as ideias. 
Nesta parte já pode treinar a 
redação inal.
Obra B
Obra C
Obra D
Obra n
 Fonte: Farias Filho (2018)
Na seleção dos artigos recentes, priorize os publicados em revistas 
consolidadas (já conhecidas na área/tema) e com muitas citações (acesse o 
Google Scholar e veja o Índice H5). Quando você insere o título do artigo nesta 
base, logo abaixo vem uma indicação: “Citado por: número”. Aparece o número 
de citações que o artigo recebeu. Tente alcançar a meta de 50% de artigos 
publicados nos últimos cinco anos em revistas cientíicas com a mediana de 
Fator de Impacto de sua área ou pelo menos classiicados como Qualis A.
4.3. ELABORAÇÃO DA REDAÇÃO
Ler e resumir utilizando uma matriz para inserir o conteúdo da leitura é o 
mais indicado para sistematizar a redação.É uma forma de conseguir fazer um 
texto com encadeamento das ideias, dar sequência aos argumentos, evitando o 
plágio involuntário e outras formas que deixam a redação sem estilo cientíico 
e com outros problemas de compreensão. Então pode começar assim: 
1º. O texto inicia com um pequeno parágrafo “livre” (sem referências), 
apresentando a ideia central da pesquisa. Não repita o objetivo da pesquisa 
(isso é um erro comum). Depois, no próximo parágrafo, comece a entrar no 
tema com os trabalhos mais antigos, porém relevantes para a discussão do 
fenômeno que se propõe a pesquisar. É comum neste início se contar uma 
“história” do fenômeno a ser estudado. Cuidado para não inserir muitas 
referências desnecessárias. 
33Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
Um dos critérios de relevância para seleção dos principais trabalhos que 
iniciam o texto é usar os mais citados (dentre os que você consultou) ou os 
“clássicos” trabalhos sobre o tema. O princípio é referenciar obras que tenham 
relação direta com o argumento a ser apresentado. Referência de uma obra em 
um texto é semelhante a uma situação de referência pessoal.
2º. O texto deve ser uma confrontação das ideias (debate). Este texto 
não é um catálogo cronológico de todas as fontes que você consultou nem 
uma coleção e paráfrases de leituras que fez (BENTO, 2012). É um texto 
interpretativo (o que você compreendeu deles), crítico (um serve de base 
para criticar o outro e você promove a crítica) e argumentativo (usados para 
sustentar suas ideias e os motivos para fazer sua pesquisa).
Apresento alguns exemplos de redação da revisão da literatura para que 
você não faça apenas descrição do que foi lido. Você leu e está construindo 
argumentos para o contexto empírico e teórico da sua pesquisa. 
Exemplo de redação descritiva: Bené (2010) disse isso... Zé 
(2009) sustenta que... Mundica (2011) afirmou isso... Xico (2002) 
sugeriu isso… [e daí? Qual sua conclusão?].
3º. O texto da revisão tem a função de mostrar que a pesquisa é inédita, 
que ela tem algo de novo. Não é um assunto novo e sim uma nova forma 
de abordar este assunto, veriicando um fenômeno não estudado ou uma 
nova forma (método, abordagem) de estudá-lo. Os trabalhos dos outros 
pesquisadores são referências para o seu. 
Na redação, cada parágrafo tem uma sequência lógica de como os fatos 
e as pesquisas foram se desenvolvendo, como elas avançam e em que direção. 
4º. Faça primeiro um roteiro de itens, temas, ideias e obras a serem 
trabalhados. Depois elabore a redação por parte, para que ique com sequência 
de argumentos. O inal de um parágrafo deve ter encadeamento com o início 
do próximo, porém isso só nas revisões é que se consegue fazer. 
34 Elaboração de Projeto de Pesquisa
5º. Se necessário, apresente um quadro conceitual (conceito, autor). Isso 
é comum em muitos projetos, para deixar bem explícito o que se pretende 
pesquisar do ponto de vista micro, conceitual (ajuda leitores e avaliadores a 
compreenderem bem seu projeto). 
Deixe bem claro os conceitos que serão trabalhados nos instrumentos 
de pesquisa (questionário, roteiro de entrevista, de observação) e que serão 
veriicados no objeto de pesquisa (empresa, ambiente, pessoas). As pesquisas 
empíricas publicadas mostram quadros ou tabelas com as questões ou 
palavras-chave do que foi questionado ou levantado no objeto. Isso serve para 
montar os instrumentos de pesquisa. Às vezes os instrumentos de pesquisas 
são publicados junto com os trabalhos (em relatório, dissertação, tese). Procure 
para auxiliar no uso de conceitos em sua revisão.
6º. Utilize o máximo de artigos publicados, a partir dos seguintes critérios: 
a) artigos publicados em revistas cientíicas de prestígio em sua área; b) artigos 
publicados nos últimos cinco anos; c) artigos com foco especíico no que está 
estudando.
Não há um número máximo nem mínimo, isso depende de quem cobra 
(orientador, inanciador, banca, etc.) ou do esgotamento por repetição. Na 
fase de levantamento de artigos selecione o máximo possível, depois promova 
a exclusão. O mais importante é seguir o processo de seleção de trabalhos 
publicados com base no Modelo Prisma e consultar o artigo de Arese et al. 
(2016). Sugiro consultar este trabalho na íntegra, pois ele mostra o passo a 
passo de levantamento da literatura sobre um tema e organização dos trabalhos. 
Há exigências comuns em qualquer área para fazer levantamento da 
literatura (rankings de periódicos nacionais e internacionais). Há também 
cobranças incomuns (publicações do orientador, dos professores do grupo de 
pesquisa que, na maioria das vezes, chega ao exagero), outros que são mais 
mito (trabalhos em língua inglesa. Língua não é critério de qualidade ou de 
coerência) e outros critérios bizarros (político-partidários e de membros das 
“igrejinhas”).
7º. No texto da revisão da literatura também é necessário informar qual 
35Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
teoria é mais usada e quais métodos também são os mais usados. Pelo menos 
este é o sentido de se fazer pesquisa cientíica.
Mensagem principal do texto de revisão da literatura é: tudo 
que se publicou sobre este tema parou aqui (final do texto de 
revisão). A continuação desta “história” vem na discussão dos 
resultados da pesquisa que está sendo planejada aqui. A conclusão 
da pesquisa vai completar a literatura sobre o tema, assim que for 
publicada, até que outra pesquisa dê continuidade.
8º. Caso queira deixar bem explícito, para leitor e avaliador, como 
evoluíram as pesquisas sobre o tema, uma forma mais trabalhosa, porém bem 
didática, porque explora a visão integrada e completa, é usar os recursos visuais 
como luxogramas, mapas conceituais, esquemas interpretativos ou outras 
ilustrações (veja apêndices 1 e 2). São recursos úteis quando inseridos no inal 
das exposições textuais. 
Ilustrações bem pensadas, planejadas, com nitidez suiciente deixarão o 
texto mais compreensível. Tente desenhar e depois busque o recurso mais 
adequado (consulte apêndices 1 e 2). A seguir apresento um diagrama que 
tem a função de mostrar graicamente como se deve raciocinar a revisão da 
literatura para em seguida transformar em texto (Figura 7).
36 Elaboração de Projeto de Pesquisa
Figura 7 – Diagrama lógico da revisão de literatura
Dado A
Dado B
Dado C
Evidência 1 Ted (2010)
Ivo (2011) 
Bill (2016)
Dado Y
Dado X
Dado Z
Evidência 2
Argumento
Argumento
Lya (2015)
Sá (2016)
Ken (2016)
Argumento
Argumento
Conclusão 1
Conclusão 2
Resultados e Evidências Discussão Literatura e Teoria
Lee (2017)
37Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
CAPÍTULO 5
Referencial Teórico e Hipótese
5.1. CONCEPÇÃO E FUNÇÃO DE UMA TEORIA NO 
PROJETO
A opção teórica não é aleatória quando se inicia uma pesquisa. A seleção 
se dá ainda no início de um projeto. Termos como “quadro”, “modelo”, 
“embasamento” e “referencial” teórico são formas de se referir a uma 
determinada teoria que servirá para análise dos resultados da pesquisa. Utilizo 
o termo “referencial teórico” porque é o mais usado. Apenas uma opção.
Teorias sociais são estruturas analíticas baseadas em evidências empíricas 
desenvolvidas para interpretar fenômenos reais. São princípios fundamentados, 
testados, validados e amplamente aceitos para explicar aspectos do mundo 
real. Têm enunciados gerais, complexos, difíceis de entender e de explicar.
O texto do referencial teórico pode ser previamente preparado de forma 
esquemática em uma matriz de resumos da forma como proponho (Quadro 
2), para em seguida desenvolver a redação. Isso ajuda a veriicar as adequações 
a sua pesquisa, os limites da teoria a serem trabalhados. 
Quadro 2 - Matriz de resumo de leituras da teoria
R
e
fe
rê
n
c
ia
s
1. Qual a origem da teoria?
2. Como ela se desenvolveu(as áreas)?
3. Quem são os principais autores e 
quais contribuições deram para a área 
em estudo?
4. Qual a ideia central da teoria e seus 
principais argumentos?
5. Quais as premissas (princípios) e os 
principais conceitos?
6. Quais as variáveis analíticas (pontos, 
unidades para estudo)?
7. Quais os limites dessa teoria (o que 
dizem os seus críticos)?
8. Quais outras teorias se aproximam 
dela?
- Procure as respostas em cada 
obra consultada. Responda cada 
questão e conira ao inal.
- Cada pergunta deve ter sua res-
posta confrontada entre os traba-
lhos consultados.
- Conceitos e variáveis que são as 
bases dos instrumentos de pes-
quisa e da discussão dos resulta-
dos.
38 Elaboração de Projeto de Pesquisa
Proponho uma sequência para o desenvolvimento da redação do item do 
Referencial Teórico, a partir de respostas para as perguntas que constam na 
proposta de matriz de resumo (Quadro 2) das obras consultadas: 
1º. Respondendo à primeira pergunta do roteiro: qual a origem da teoria? 
Apresento uma ilustração (Figura 8) que ajuda na compreensão de como 
responder a esta pergunta. No exemplo da ilustração uma teoria evoluiu para 
duas principais abordagens (X, Y) e cada abordagem se desenvolveu para 
outras (X1, X2, Y1, Y2). No caso da teoria selecionada para seu projeto você 
deve “mapear” esta evolução. Quando estudar bem a teoria, compreenderá bem 
isso. Essa evolução não necessita ser totalmente exposta. Quando necessária 
a exposição, ela pode ser descrita para demonstrar melhor as abordagens e 
indicar a mais coerente para as análises dos resultados de sua pesquisa.
Então explane a teoria como um todo e depois faça um zoom na abordagem 
que pode ser mais adequada para “observar” o fenômeno que pretende explicar 
(veja a parte pontilhada na Figura 8). É comum se tratar a teoria como “lente 
teórica” ou “olhar teórico”. Trata-se de mostrar a função de uma teoria que 
é “olhar” melhor a realidade (fenômeno) e interpretá-la. A teoria é uma 
forma abstrata de explicar essa dada realidade. Cada abordagem surge em um 
ambiente empírico com pretensões generalizantes. O que você propõe no seu 
projeto é compreender o fenômeno a partir da teoria. 
39Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
Figura 8 – Origem e evolução de uma teoria social
2º. Depois vem outro parágrafo citando obras respondendo a pergunta: 
como essa teoria se desenvolveu? Nesta parte, cuidado para não descrever uma 
“história” cansativa. A evolução da teoria é apenas para mostrar o caminho da 
abordagem que mais se aplica para interpretar os dados de sua pesquisa e que 
você projeta. Isso mostra a coerência de selecionar apenas uma das abordagens 
da teoria. 
3º. Em seguida responda: em quais áreas de estudo esta teoria foi aplicada? 
Isso é para mostrar novamente a adequação da teoria para as análises dos 
resultados que pretende alcançar. Neste caso, por “aplicação” quero dizer forma 
de compreender uma dada realidade social (por isso ciências sociais) a partir 
de enunciados gerais sobre realidades com fenômenos semelhantes. 
4º. Depois responda: quem são os principais autores? Complementando 
com: quais contribuições eles deram para a área em estudo com essa teoria? O que 
conhecemos como “autores clássicos” são os que deram origem e/ou os que 
mais se destacaram no início e no desenvolvimento de uma determinada teoria. 
Eles são referências importantes. As contribuições são as que você busca para 
mostrar de que forma pretende desenvolver suas análises.
Abordagem X
Abordagem Y
Abordagem X2
Abordagem X1 
Abordagem Y1
Abordagem Y2
Teoria:
Origem
Cada abordagem é uma nova
forma de explicação da teoria.
Expor essa evolução ajuda o
leitor a entender sua opção por
uma das abordagens.
40 Elaboração de Projeto de Pesquisa
5º. A base de uma teoria é sua ideia central. Toda teoria tem uma mensagem 
central, então apresente claramente. É esta que sustenta o estudo de qualquer 
fenômeno. Por isso tenha bastante atenção ao responder: qual a ideia central 
da teoria? Um conceito se forma a partir de algumas variáveis e os conceitos 
formam categorias que sustentam a ideia central de uma teoria. 
Exemplo 1: A ideia central de uma abordagem (uma forma 
de “usar” a teoria) da Teoria de Capital Social, sugerida por 
Granovetter (1973), é que as relações se baseiam na confiança 
(conceito confiança). Esta se manifesta ao longo do tempo 
(variável tempo) e a origem da relação de confiança é a troca 
de recursos (variável recurso) entre as partes (pessoas).
6º. Na sequência responda: quais as premissas (princípios) e os principais 
conceitos? Observe o que são premissas e conceitos, a partir destes exemplos: 
Exemplo 2: A Teoria dos Grupos Sociais de Olson (1998) apresenta 
modelos econômicos para interpretar comportamentos 
individuais em grupos sociais, por meio de quatro premissas: 
a) agir de forma individual para obter benefícios individuais; 
b) agir de forma individual para alcançar benefícios coletivos; 
c) agir de forma coletiva para almejar benefícios individuais; 
d) agir de forma coletiva e buscar benefícios coletivos. 
7º. Em seguida responda: quais as variáveis analíticas (pontos, unidades 
para estudo)? Toda teoria tem variáveis analíticas, que são pontos, unidades de 
análise que se usa para veriicar empiricamente de que forma o fenômeno se 
manifesta no objeto de estudo.
Mostre quais são essas variáveis, esses pontos que podem ser observados 
(bastam dois ou três parágrafos). Os conceitos e variáveis são para veriicar 
41Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
se no campo (local do estudo) eles estão presentes nos fenômenos a serem 
estudados.
8º. Como toda teoria tem limites e geralmente estes são apresentados pelos 
seus críticos, então procure trabalhos que criticam a teoria. Busque resposta 
para a pergunta: quais os limites dessa teoria (o que dizem os seus críticos)? 
Você já tem um parâmetro para mostrar coerentemente os limites da teoria 
e de que forma eles podem comprometer sua análise. Caso seja necessário, 
você já pode informar que a pesquisa terá uma limitação de ordem teórica. 
Estes já foram indicados pelas obras que você cita. Isso signiica que alguma 
forma de análise não será possível fazer. O que não invalida a teoria. 
9º. Como uma teoria gera muitas interpretações, é possível que o fenômeno 
possa ser explicado por outras teorias. Por isso informe quais outras teorias se 
aproximam da que foi selecionada, para mostrar que realmente esta é a mais 
adequada. Então busque responder: quais outras teorias se aproximam dela? 
Este texto deve ser bem didático, porque uma teoria não é fácil de entender e 
é difícil de explicar.
Dica: a) dê preferência a textos originais. b) valorize os clássicos, mas 
atualize-os com ensaios teóricos publicados em periódicos de elevada qualidade 
(são artigos com a inalidade de discutir teorias e seus avanços). c) evite o apud 
(citação da citação). d) não use citações literais (trechos copiados) sem uma 
função no texto. Quando for necessário, use trechos com no máximo duas 
linhas e insira no corpo do parágrafo. e) se necessário, usar quadros, iguras ou 
diagramas para melhor explicar. Elabore, reelabore, modiique, atualize, crie, 
mas nunca copie (mesmo citando a fonte). 
Aqui vale a mesma orientação da parte de revisão da literatura. Tente 
melhorar a explicação com uso de ilustrações. Estas melhoram a compreensão 
por parte de leitores e avaliadores de seu projeto. Após redigir esta parte do 
projeto faça uma revisão relacionando o conteúdo do texto com as demais 
partes do projeto, já que todas as partes do projeto se relacionam diretamente 
(Figura 10).
42 Elaboração de Projeto de Pesquisa
5.2. HIPÓTESE
Hipótese é uma proposta de explicação para um fenômeno quequeremos 
compreender melhor e para o qual elaboramos uma ou mais perguntas. Quando 
se trata de hipótese cientíica ela pressupõe que será testada por procedimento 
cientíico (método) validado na área em que está sendo estudada. Podemos 
dizer que uma hipótese inicial no projeto de pesquisa é uma hipótese de 
trabalho ou uma exploração. Esta é provisoriamente aceita como base para 
pesquisas futuras. 
Ela (hipótese) deve ser coerente com as outras partes do projeto e é sempre 
difícil de elaborar. Também é uma ideia provisória que requer uma avaliação 
de consistência ou coerência, dado que é uma airmação (negativa ou positiva) 
que pode ser rejeitada (o mais comum) ou ser apenas uma possibilidade de 
resposta para a pergunta. Ela tem subjacente o princípio de que você conhece 
um pouco do fenômeno que será pesquisado ou que tem conhecimento da 
teoria que pretende utilizar nas interpretações dos seus resultados e tal teoria 
leva você a formular uma resposta provisória que será testada ou veriicada. 
Ainda que a teoria apresentada seja uma referência para suas ações, teorias 
também falham. Neste caso uma hipótese é construída como uma declaração 
de expectativas.
Embora não haja uma regra para sua elaboração e nem em que parte do 
projeto se insere uma hipótese, apresento orientações para hipótese após o 
referencial teórico e antes da parte metodológica por questões de coerência. 
Se você parte de uma pergunta para buscar reposta (processo de pesquisa), 
a hipótese representa um resposta provisória. Ela pode ser inteiramente 
sustentada em enunciados teóricos ou não. Sem uma base teórica é difícil se 
estabelecer uma hipótese cientíica. 
Uma hipótese é geralmente um enunciado que se faz de forma airmativa 
ou negativa. Não se parece com a questão de pesquisa (uma interrogação), 
nem com o objetivo (cujo verbo é no ininitivo). Ela é um enunciado prévio 
de algo que se espera encontrar no futuro, a partir dos resultados e evidências 
(uma descoberta cientíica). Trata-se de uma “declaração que abrange mais do 
43Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
que os dados que a sugerem ou a conirmam” (BUNGE, 2002, p.172).
Na maioria das vezes, uma hipótese elaborada em um projeto de pesquisa 
social é conectada a conceitos que especiicam as relações esperadas entre 
proposições anunciadas. Quando um conjunto de hipótese está organizado 
em uma estrutura conceitual e incorpora uma relação de causalidade ou 
uma explicação, o conjunto está relacionado a uma teoria. Isso é comum em 
pesquisas sociais quando se elabora várias hipóteses relacionadas entre si.
Hipótese tem caráter conjectural, porque é baseada em informação 
incompleta e ainda não foi provada. Seu enunciado é uma frase curta, lógica 
e objetiva, sem a possibilidade de dupla interpretação e sujeita a teste ou 
veriicação. Pode ter sustentação em uma base teórica ou na realidade estudada. 
Neste caso, a parte teórica deve icar bem esclarecida. 
É comum que uma hipótese tenha sua argumentação baseada em 
premissas teóricas. Por isso é razoável inserir a hipótese após o referencial 
teórico do projeto, porque a teoria já foi exposta antes. Também é importante 
veriicar o tipo de hipótese (antrópica, nula, alternativa, indicadora, ad hoc) 
mais adequada ao método e procedimento de pesquisa. Hipótese tem relação 
direta com todas as partes do projeto (Figura 10).
44 Elaboração de Projeto de Pesquisa
CAPÍTULO 6
Método e Procedimento de Pesquisa
Aqui não vou ensinar como usar método, técnica, instrumentos e 
procedimentos de pesquisa nem tratar de conceitos comuns em metodologia 
cientíica. Para isso você deve consultar livros introdutórios em métodos, 
técnicas e instrumentos de pesquisa. Sugiro um bem simples, prático e voltado 
para a elaboração de projeto de pesquisa: Farias Filho e Arruda Filho (2013). 
Também é interessante consultar manuais especíicos sobre métodos e técnicas 
que pretende adotar na pesquisa. 
Meu objetivo neste capítulo é orientá-lo de forma prática a desenvolver e 
redigir seu projeto e nesta parte descrever como será sua pesquisa. A parte de 
método (e não metodologia) é para descrever os procedimentos metodológicos 
de sua pesquisa.
Aproveito para uma explicação: em projeto de pesquisa você pode usar 
o termo “método” apenas quando tiver que explicar o “modelo” sistemático 
para desenvolver sua pesquisa (um método). Neste caso use o termo “método”. 
Também alerto que o uso do termo “metodologia” é utilizado de forma 
equivocada em projetos e relatórios de pesquisa. Metodologia signiica o 
“estudo de métodos”. Em raríssimos casos o termo “metodologia” é indicado 
e adequado. 
Por exemplo: a “Análise de Redes Sociais” é uma “metodologia” de 
pesquisa muito usada nas ciências sociais. Não é um método apenas, porque 
enquanto método deu origem a variadas teorias, técnicas e instrumento de 
coleta de dados. Podemos dizer que se originou como um método depois 
passou a incorporar esquemas gráicos interpretativos (sociogramas) e modelos 
explicativos (teoria) a partir da evolução dos esquemas interpretativos e 
técnicas variadas. Isso deu origem a novas teorias e estas novas técnicas e 
instrumentos (questionários, por exemplo). Depois disso ela ganha o status de 
metodologia (algo que tem estudo sobre si mesmo). 
45Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado
Por isso, o mais adequado é usar o termo “procedimentos metodológicos” 
porque é isso que se faz na maioria das vezes. Também pode usar o termo 
“método e procedimentos” quando se tem um método claro a ser usado e bem 
reconhecido como tal, além dos procedimentos para sua operacionalização 
(técnicas, instrumentos e procedimentos).
No caso da metodologia ARS que citei, não signiica que quem for 
utilizar este método em seu projeto deve inserir o termo “metodologia”. Isso 
depende se a pesquisa é para tratar exclusivamente dessa metodologia. Se for 
apenas uma pesquisa empírica, com o “uso” da ARS, então deve optar pelo 
termo “método e procedimento”. O que signiica que o método está claro 
e que os procedimentos de coleta de dados obedecerão aos requisitos desta 
metodologia, que quando usado em pesquisa empírica (no projeto ou no 
relatório) se escreve o termo “método” (aplicação de metodologia).
Não é comum se usar o termo “método” em projetos de pesquisa nas áreas 
para as quais este livro está direcionado, porque é um termo que pressupõe 
um único caminho para o desenvolvimento da pesquisa, o que não acontece 
na maioria das pesquisas em ciências sociais. Entretanto, não é um erro usar 
e sim que não é comum. Para isso é importante compreender a diferença 
entre método, técnica, instrumento e procedimento. Por isso é imprescindível 
consultar livros especíicos de métodos de pesquisa e não de metodologia 
cientíica. Primeiro compreenda o que precisa fazer (pesquisa) para depois 
informar como vai fazer (esta parte que se descreve no projeto). 
Nesta parte é que você tem que provar que sua pesquisa é cientíica. Então 
indique: i) o que será estudado? ii) quando, onde o estudo será feito? (local e tempo 
são fatores importantes). iii) em estudos de campo quais as características do 
objeto? (onde se espera encontrar a manifestação do fenômeno). Isso ajuda 
o leitor a se situar na pesquisa e nos seus procedimentos, das diiculdades e 
possibilidade de viés.
Aqui é necessário desfazer algumas interpretações equivocadas sobre 
a existência de uma “questão” ou “rivalidade” entre pesquisa quantitativa 
e qualitativa. Creswell (1994), esclarece que na pesquisa quantitativa a 
46 Elaboração de Projeto de Pesquisa
natureza da realidade estudada é objetiva e o pesquisador busca se distanciar 
do objeto de estudo. Busca encontrar uma relação de causa-efeito, em um 
processo dedutivo. Tenta generalizações que levem a predições, com acurácia

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