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© 2019 Milton Cordeiro Farias Filho Elaboração de Projeto de Pesquisa: um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado. Série Produção Científica - Volume 4. Todos os direitos são reservados de acordo com as Normas de Leis e das Convenções Internacionais. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito do autor. ISBN 978-85-53047-98-7 F224e. Farias Filho, Milton Cordeiro. Elaboração de Projeto de Pesquisa: um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado. Série Produção Científica - Volume 4. Editora Motres, 2019. 74p. 23cm. CDU 300 CDD 001.4-001.42 3Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado Apresentação Este livro tem o objetivo de auxiliar na elaboração de projeto de pesquisa para seleção e qualiicação de mestrado e doutorado nas áreas de ciências sociais, sociais aplicadas e humanidades. Também pode ser usado como guia para revisão de projeto já elaborado, na correção de falhas de concepção e redação. Os que estão em fase de elaborar projetos para concorrer a bolsa de iniciação cientíica, em fase de concluir a graduação ou a pós-graduação lato sensu também encontrarão orientações úteis. Neste livro aproveito parte do conteúdo revisado e reelaborado, já tratado em outros livros que publiquei sobre pesquisa e publicação cientíica que compõem a Série Produção Cientíica. Ele está direcionado para orientar na elaboração de projetos de pesquisas para diferentes cursos, dentro da grande área que trato como ciências sociais. Não é um manual de projeto, nem de método de pesquisa, e sim um guia prático. A divisão dos capítulos e as orientações aqui presentes estão baseadas em minhas experiências, como professor de disciplinas metodológicas e de outras exclusivas para elaboração de projeto de pesquisa (por mais de 15 anos) em diferentes cursos das ciências sociais. Também aproveitei minha experiência na elaboração e avaliação de projetos para instituições de fomento à pesquisa, orientação de estudantes de graduação e pós-graduação lato sensu (nestes últimos participei de seleção e banca de defesa, algo já extinto hoje). A oportunidade de participar de bancas de seleção e qualiicação de mestrado e doutorado me foi útil neste momento. Foram mais de 250 bancas de seleção e qualiicação em três programas de mestrado e doutorado que participei como docente nos últimos 12 anos. Meus orientandos também contribuíram com meu aprendizado e a busca constante pela atualização para ajudá-los. Quando os oriento, sempre guardo algo para ensinar aos próximos. Alguns registros de minhas orientações e aulas gravadas ajudaram no conteúdo deste livro. 4 Elaboração de Projeto de Pesquisa Minhas aulas sobre este tema ajudaram a chegar ao ponto mais importante que considero ser a contribuição do livro: orientar na concepção e redação de um projeto para cursos nas áreas de ciências sociais. Também me proponho a orientar sobre detalhes que confundem muitos estudantes, desde verbos do objetivo até o plágio. Em algumas partes exponho conteúdos baseados em minha experiência como avaliador de artigos para 32 revistas e cinco eventos cientíicos, nas mais variadas áreas das ciências sociais. Minha atuação na graduação me revelou as principais limitações dos estudantes no momento de elaborar projetos de pesquisa. Listo aqui algumas: i) eles (estudantes) estudam pouco o assunto (trata-se de um “assunto chato”); ii) não aprendem o suiciente por motivos ligados a disciplina, professor ou instituição que estudaram; iii) disciplinas metodológicas (seja qual for o nome) passaram para modalidade EAD. Esta mudança causou muitos dos erros de concepção, conteúdo e redação que encontrei. Muitas dessas deiciências já constatei em sala de aula, em bancas de seleção e qualiicação. Tive a oportunidade de ler o conteúdo de alguns dos programas de disciplinas em EAD, além de seus conteúdos em plataformas online. A surpresa negativa e mais estes fatores listados serviram como incentivos para escrever este livro. O ensino em EAD que conheci tem me provocado reações e questões. Algumas delas: i) iquei preocupado: o que será do futuro desses estudantes? ii) iquei triste (por me dedicar tanto tempo a esta área): um conteúdo tão sério sendo tratado assim! iii) pensando no futuro encontrar com alguém (que saiu dessa “formação”): quantos eu encontrarei querendo mais orientações ou tirar dúvidas? Outras situações que enfrentei ao longo da carreira em sala de aula e/ou em bancas de seleção e qualiicação, nem vou colocar aqui porque são tantas! Vou icar devendo. Por todos estes motivos tenho a pretensão de ensinar de forma prática, rápida, útil e coerente aos que têm interesse em superar suas diiculdades na elaboração de projeto de pesquisa. Aos que tiveram boa formação, este livro servirá para revisar e atualizar seus conhecimentos e, quem sabe, ajudar a escrever outro mais completo. 5Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado Sumário APRESENTAÇÃO 3 CAPÍTULO 1 - CONTEXTO DA PESQUISA E QUESTÕES 7 1.1. CONSIDERAÇÕES SOBRE PROJETO DE PESQUISA 7 1.2. INICIANDO A REDAÇÃO DO CONTEXTO DA PESQUISA 13 CAPÍTULO 2 - JUSTIFICATIVA 19 2.1. POR QUE JUSTIFICAR UMA PESQUISA? 19 2.2. SEQUÊNCIA DA REDAÇÃO 19 CAPÍTULO 3 - OBJETIVOS 24 CAPÍTULO 4 - REVISÃO DA LITERATURA 29 4.1. O QUE É E QUAL SUA FUNÇÃO NO PROJETO? 29 4.2. PROCESSO DE BUSCA POR TRABALHOS PUBLICADOS 30 4.3. ELABORAÇÃO DA REDAÇÃO 32 CAPÍTULO 5 - REFERENCIAL TEÓRICO E HIPÓTESE 37 5.1. CONCEPÇÃO E FUNÇÃO DE UMA TEORIA NO PROJETO 37 5.2. HIPÓTESE 42 CAPÍTULO 6 - MÉTODO E PROCEDIMENTO DE PESQUISA 44 CAPÍTULO 7 - ORIENTAÇÕES ADICIONAIS 52 7.1. TÍTULO DO PROJETO 52 7.2. PALAVRAS-CHAVE 53 7.3. RESUMO DO PROJETO 54 CAPÍTULO 8 - REFERÊNCIAS, CITAÇÃO E REDAÇÃO 56 8.1. REFERÊNCIAS 56 8.2. CITAÇÃO 56 8.3. REDAÇÃO 61 APÊNDICE 1 - ILUSTRAÇÃO: QUANDO E COMO USAR 69 APÊNDICE 2 - EXEMPLOS DE ILUSTRAÇÕES 71 REFERÊNCIAS 72 7Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado CAPÍTULO 1 Contexto da Pesquisa e Questões 1.1. CONSIDERAÇÕES SOBRE PROJETO DE PESQUISA Um projeto de pesquisa é um planejamento de atividades que você se propõe a desenvolver em um momento futuro. São procedimentos sistemáticos orientados pelos parâmetros das ciências (no caso deste livro um grupo de áreas que trato como ciências sociais, sociais aplicadas e humanidades). Você não projeta algo para dar errado. Pelo contrário: espera sempre que tudo dê certo, ainda que suas experiências mostrem que nem tudo ocorrerá como planejado. No entanto, faz isso para reduzir a ocorrência de surpresas ou do acaso. É muito difícil em ciências sociais prever, por isso a diiculdade em elaborar hipóteses coniáveis. Na maioria das vezes você tem suposições e estas vêm de teorias, que são modelos generalizantes, baseadas em observações empíricas de experiências distantes da sua realidade. Então, como estabelecer hipóteses tendo como parâmetro realidades diferentes? Basta pensar que você elabora uma hipótese partindo de um fenômeno. Algo real que se manifesta em um determinado objeto (“local” em que ocorre o fenômeno). Teorias nascem de observações sistemáticas (aqui o termo “observação” tem o sentido genérico) da manifestação de fenômenos e não de objetos. Quando inicia um projeto de pesquisa em ciências sociais, você busca garantir que um conjunto de dados e/ou informações venha gerar evidências. Estas devem ser suicientes para sustentar que um problema (questão inicial de pesquisa) sobre determinado fato (fenômeno social) terá respostas consistentes e coerentes com seu objeto. Então, você estuda um fenômeno ou sua manifestação em um objeto. Consistência em produção/geração de evidência signiica que métodos, técnicas, instrumentos de coleta e procedimentos foram cercados de cuidados para evitar distorção(viés). Esse cuidado dará aos resultados (conjunto de dados e informações) a coniança necessária para que sua pesquisa tenha 8 Elaboração de Projeto de Pesquisa validade e status cientíico. Mas, como coniar se os resultados passaram pelo controle de viés? A ciência vem aprimorando isso em cada pesquisa publicada e aceita por “praticantes” da área. Por isso você deve consultar as publicações nacionais e internacionais reconhecidas na área de pesquisa que se dedica. Um projeto de pesquisa pode variar de tamanho, complexidade, estrutura, sequência dos itens, abrangência, etc. Porém deve garantir que é um projeto de pesquisa cientíica. As ciências sociais também obedecem aos requisitos universais e parâmetros das outras ciências. Há séculos garantiu o status de ciência. O que tem de especíico na ciência social é que ela se volta para fenômenos sociais, portanto, baseados em comportamentos e percepções no momento de gerar evidências. Isso exige que o pesquisador se comporte com o cuidado orientado por Kida (2007) em sua mensagem geral: “não acredite em tudo que você pensa”. Mesmo com tamanha variação de estrutura e formato, escopo e foco, um projeto de pesquisa deve: i) identiicar um problema, descrever um contexto mais geral em que ele se situa e, a partir daí, elaborar uma pergunta que tenha viabilidade de ser respondida; ii) justiicar os motivos (relevância para área/ tema) para pesquisar tal fenômeno social; iii) demonstrar que a evolução das pesquisas sobre o fenômeno tem deixado lacunas (pontos especíicos) que merecem ser melhor investigadas ou desvendadas; iv) se há espaços vazios a serem preenchidos sobre determinado fenômeno social, alguma hipótese (ou suposição inicial de resposta) pode ser elaborada para orientar a pesquisa; v) métodos, técnicas, instrumentos de coleta e procedimentos devem ser adequados à forma como se pretende investigar tal fenômeno. Aqui se prevê fontes e dados, informações e informantes, testes, controles, critérios, etc. Sem isso é difícil considerar que se trata de um projeto de pesquisa cientíica. Quando tudo estiver claramente pensado, iniciam as leituras para esclarecer melhor o que se pretende pesquisar. Depois vem o processo lógico de construção de uma pesquisa (Figura 1). É neste momento que o pesquisador iniciante (candidato e/ou estudante de mestrado ou doutorado) deve ter um “mapa mental” de como vai planejar uma pesquisa até a publicação de seus resultados. 9Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado Programas de pós-graduação e instituições de fomento à pesquisa querem ter a certeza de que estão fazendo um “investimento” com retorno. Este (retorno) é medido em publicações dos resultados da pesquisa, especialmente quando estes resultados publicados são “aceitos” por aqueles que se interessam pelo tema pesquisado, por meio de citações do trabalho publicado. Por isso se pensa a pesquisa do contexto inicial até a publicação de seus resultados, ainda na fase de projeto. Projetar algo que não vai dar resultado efetivo é desperdício de tempo e recursos. Alcançar bons resultados, válidos e relevantes, sem publicá-los é mais desperdício ainda. Figura 1 – Fluxo da ideia do projeto à publicação dos resultados da pesquisa Observe na Figura 1 que o objeto de pesquisa está ligado com linhas pontilhadas (o que indica a possibilidade de uma relação direta) aos outros elementos essenciais de um projeto. Isso acontece porque não se faz uma pesquisa apenas para descobrir algo especíico que esteja restrito a um determinado objeto. Não se pesquisa objeto e sim o fenômeno presente nele. Ideia Livros e Artigos (revistas, coletâneas, eventos) Bases de Textos Argumentos, Teses, Conclusões (A,B, C, n) Critérios de Seleção Literatura (A, B, C, n) Fase de Levantamento • Exploração do objeto • Fontes (seleção) • Critérios (definição) • Dados (que tipo?) • Abrangência (tempo, espaço, população) • Procedimentos Fe nô m en o Teoria Premissas HipótesesQuestão, Objetivo e Justificativa Métodos • Manual ou com software • Principais conceitos presentes • Forma de apresentação Resultados, Evidências, Argumentos Di sc us sã o Qual a novidade? Fase de Análise Conclusão Variados motivos (acadêmicos ou não) Objeto 10 Elaboração de Projeto de Pesquisa Um fenômeno não está solto no tempo e no espaço. Ele está situado em um determinado objeto. Não fazemos uma deinição prévia do objeto porque o fenômeno é mais importante e este pode se manifestar em diferentes objetos e não naquele especíico que foi previsto. Por isso a linha pontilhada (que signiica possibilidade). O objeto inicial no planejamento da pesquisa é apenas uma possibilidade. Esta é a mensagem inicial: é possível que este fenômeno (que se pretende pesquisar) esteja se manifestando neste objeto. Nas ciências sociais, ainda que as evidências sejam resultado de observações, comportamentos e percepções, espera-se que elas gerem possibilidade de previsão de manifestação de um mesmo fenômeno em outros objetos semelhantes, independentemente do método adotado e do tipo de pesquisa. Não estou falando de generalização e sim de possibilidade de ocorrência. Uma pesquisa social sobre determinado fenômeno tem seus resultados mais amplos e não restritos aos objetos estudados. Embora não se possa generalizar sempre, espera-se que uma pesquisa pelo menos gere algum padrão de comportamento. Aliás, por isso usamos teorias como base analítica de nossos resultados. Elas são resultados de pesquisas com certo grau de continuidade e por isso foram capazes de produzir enunciados gerais (padrão de comportamento). Do contrário, cada pesquisa só teria validade para o caso especíico. Por isso as pesquisas sociais precisam atender aos três “R” da produção cientíica (Figura 2), porque elas não são diferentes, em sua essência, das demais ciências. O que chamo de três “R” é uma forma de fazer e comunicar resultados de pesquisa cientíica. 11Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado Figura 2 – Três “R” da produção cientíica. 1º R: Relevância Cientiica. A primeira exigência é a relevância cientíica. O que é relevante depende de quem avalia a pesquisa. Esta avaliação nas áreas para as quais este livro está direcionado é muito subjetiva. Por isso recorro a um texto interessante sobre o que é relevante em ciências sociais aplicadas. Mascarenhas, Zambaldi e Moraes (2011, p.267), debatem o assunto ao tratarem de publicação cientíica, e entre as abordagens tem uma que considero a mais adequada para os ins deste livro. Relevante então deve ser uma pesquisa que consiga: “i) originar novos entendimentos; ii) atrair a atenção de audiências na comunidade; iii) surpreender, criticar, ou contestar suposições anteriores”. A ideia presente nos três requisitos é uma resposta para a pergunta: qual a contribuição de sua pesquisa? Essa relevância só pode ser demonstrada quando se faz um levantamento bem abrangente dos trabalhos recentes (últimos cinco anos) publicados sobre o tema/fenômeno. Estes trabalhos são publicados em periódicos cientíicos e em alguns “anais” de eventos cientíicos da área em estudo. Essas publicações são parâmetros de relevância de sua pesquisa, pois é a partir dela que você se Rigor Relevância Redação Método e procedimentos inquestionáveis Literatura consolidada, focada no tema e no fenômeno, atualizada Teoria adequada, atualizada, abordagem coerente Contexto da pesquisa revela algo novo Abordagem com contribuição para área de estudo Sequencial, argumentativa e discursiva Frases simples com clareza e precisão. Revisada 2ª Exigência1ª Exigência 3ª Exigência Por quê? Isto é ciência! Por quê? É assim que a ciência avança! Por quê? É mais fácil de ser entendido! 12Elaboração de Projeto de Pesquisa propõe a apresentar algo que atenda aos três requisitos citados anteriormente. Também não se trata de algo que ninguém tenha pesquisado, e sim de uma nova forma de abordar (observar, estudar) um problema real (fenômeno) de sua área de estudos. Esta constatação é muito importante para justiicar uma pesquisa cientíica. Não basta escolher um tema/fenômeno, é necessário mostrar uma possível novidade ou se irá revelar uma nova forma de compreender o que já foi pesquisado por outros. 2º R: Rigor Cientíico. Para isso projete os detalhes metodológicos e teóricos que atendam aos rigores das ciências sociais. Não se trata de uma pesquisa técnica ou “pesquisa de preço” feita por consumidores. Isso porque ainda há uma confusão entre princípios de ciência e alguns procedimentos técnicos, muitas vezes não oriundos da ciência. Para ter rigor, uma pesquisa deve seguir os critérios gerais da ciência, adotar métodos, análises teóricas e confrontar os resultados com a literatura cientíica da área para demonstrar seu avanço. O rigor não está apenas no meio (método); deve estar também no im (resultados) e na possibilidade de extrapolar para outros objetos. Já ouvi e presenciei situações com airmações aberrantes de que tanto de rigor quanto relevância podem ser constatados já nos verbos dos objetivos do projeto de pesquisa. Essas e outras pérolas são reais! 3º R: Redação. É a parte inal de uma pesquisa, que ainda em fase de projeto deve ser também pensada. Ao im de sua pesquisa terá que fazer o relatório, indicando o quê, como, onde, com quem, quantos, de que forma, quais critérios, etc. Neste também apresenta resultados, discussão e conclusão. Sem uma redação eiciente todo esforço será em vão. A redação cientíica é uma forma simples de comunicar os resultados de uma pesquisa. O autor tem que ser capaz (eiciente) de fazer com que qualquer pessoa consiga compreender sua mensagem. Tratarei disso no último capítulo deste livro. 13Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado 1.2. INICIANDO A REDAÇÃO DO CONTEXTO DA PESQUISA Antes de iniciar, quero registrar um alerta para os termos comuns usados no título deste item do projeto: “contexto da pesquisa”, “problematização” ou “situação problemática” foram, durante muito tempo, termos usados como item de abertura de um projeto de pesquisa. Qual é o título mais adequado para abrir a redação do item que apresenta a pergunta de pesquisa? Aqui utilizo o termo “contexto da pesquisa” por opção. Não tem um termo certo ou errado. Cada autor ou orientador indica sua preferência. O que interessa é sua essência, seu conteúdo e sua função no todo (projeto). Recentemente comecei a ver o termo “introdução” para cumprir esta função. Não concordo com este termo por entender que a introdução tem outro caráter, que é de forma mais ampla, apresentar todo o conteúdo de um trabalho. No caso do projeto, o item inicial só apresenta o contexto, um problema e uma pergunta. Introdução em ciências sociais (ou em seus trabalhos acadêmicos) sempre teve outra função, que era (e ainda é) de apresentação geral do que trata o trabalho, em todas as suas partes. Aliás, até esta função não há consenso, porque já vi vários trabalhos acadêmicos em que constavam na introdução, destacados em negrito, os elementos de um projeto, mas isso já é exagero! Nas demais ciências a introdução tem outra função. Esta parte inicial do projeto é o local onde o avaliador precisa compreender o que o autor do projeto pretende pesquisar. Então, devem icar bem explícitos fenômeno e objeto da pesquisa. Isso signiica que a concepção e elaboração das partes de um projeto têm momentos diferentes. Apresento isso na ilustração a seguir (Figura 3) para mostrar que conceber, elaborar e redigir cada parte de um projeto tem momentos diferentes. Na concepção de um projeto, vários itens são elaborados de forma provisória. Depois o projeto passa por revisão e ajustes. Um item depende do outro (veja a Figura 10, no Capítulo 8). Quando se elabora a redação do contexto da pesquisa, a pergunta de pesquisa (ou as perguntas) já deve ter passado por revisão de todo o projeto. A deinição da pergunta depende das 14 Elaboração de Projeto de Pesquisa outras partes do projeto. O ideal é que a elaboração seja bem planejada, depois redigida de forma separada em arquivos separados no processador de texto, após isso passar por várias revisões e por último juntados na sequência em que foi solicitada pela banca de seleção, pelo orientador ou pela coordenação do programa de pós- graduação ou pela instituição de fomento à pesquisa, para casos de projetos que buscam inanciamento. A sequência que proponho (Figura 3) é a mais lógica que encontrei e a que mais ajuda na revisão e correção de erros e inconsistências. Figura 3 – Itens e sequência da redação de um projeto Em projetos de pesquisa é comum esta parte vir em primeiro (como neste capítulo), mas sua redação é elaborada depois que o fenômeno estiver bem deinido, revisão da literatura e referencial teórico com o texto pronto. Então, para a redação do item “Contexto da Pesquisa” faça assim: 1º. Comece com um parágrafo introdutório, apresentando em uma frase, de forma direta, o que pretende pesquisar. Não inicie com objetivo (já vi muito isso). Este parágrafo inicial se apresenta como uma descrição ou um “cenário” Etapas Itens do Projeto Redação 1º (provisório) Tema, Fenômeno 1º (final) 8º (provisório) Título, Resumo, Palavras-chave 8º 4º (roteiro) Contexto da Pesquisa e Questões 4º 7º (roteiro) Justificativa 7º 5º Objetivo, Suposição, Hipótese 5º 3º (matriz) Referencial Teórico 3º 2º (matriz) Revisão da Literatura 2º 6º (roteiro) Método, Procedimentos, Cronograma 6º 9º Apêndice, Anexo 9º 10º Referências 10º 15Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado em que um fenômeno da vida real, da sociedade mais ampla é apresentado, por isso “ciências sociais”. Problematização ou problemática (ação de apresentar um problema) é diferente de pergunta de pesquisa. Um problema (ou situação problemática) é uma forma de direcionar algo mais amplo que chega a algo mais especíico: a pergunta de pesquisa. Esta se volta para o fenômeno (ponto especíico do problema). 2º. Em seguida, construa um segundo parágrafo apresentando uma ou mais referências de obras que sustentem o argumento da existência de um fenômeno. Para isso, é necessária a apresentação de um contexto geral da pesquisa. É neste que o fenômeno se insere. Você já apresentou a situação problemática, agora vem o fenômeno. Pense em uma cena: uma confusão na rua, muitas pessoas aglomeradas, em meio a esta confusão alguém grita que sumiu sua carteira, você foca sua câmera de celular, registrando a confusão. Sua intenção não foi a de buscar registrar alguém pegando a carteira de outro. Após saber que ocorreu este fato durante a confusão, vem uma pergunta: quem pegou a carteira? O contexto de uma pesquisa nesta situação é o cenário maior em que ocorreu um fato (a cena); um fenômeno ocorreu neste determinado ambiente (a rua); você busca resposta para causas e/ou consequências do fenômeno, de que forma ocorreu, quem é o responsável, etc. Um fenômeno social ocorreu e ele gera várias outras questões a serem investigadas. 3º. Um terceiro parágrafo deve destacar os principais trabalhos. Aqui é coerente destacar trabalhos que tratem do mesmo tema da pesquisa a ser desenvolvida e foco do projeto. Respondendo: O que os outros autores pesquisaram sobre isso? Que resultados encontraram? O que isso tem a ver com o problema que apresento? Apresente informações de fontes coniáveis que tratem do fenômeno, para demonstrar a relevância da pesquisa. São dados e informações adicionais de instituições de credibilidade nacional e/ou internacional. Os argumentos consistentessão para mostrar que se trata de uma pesquisa relevante (bastam 16 Elaboração de Projeto de Pesquisa dois ou três parágrafos, mas isso depende de quem cobra o projeto). Sempre que você estiver com dúvidas quanto à relevância, leia atentamente os dois parágrafos posteriores à Figura 2 ou consulte a obra indicada. Exemplo 1: Dados sobre educação básica podem vir do Unicef e MEC; sobre educação superior, podem vir da OCDE, INEP, MEC; sobre população, emprego e renda podem vir do IBGE, FIPE, Dieese, Caged; sobre negócios podem vir da Ibovespa, Exame, Sebrae, etc. 4º. Os dados a serem apresentados devem ser sempre de pesquisas recentes, de fontes coniáveis e reconhecidas. O leitor deve entender que a pergunta de pesquisa a ser apresentada (no inal do texto) tem relação com os argumentos construídos nestes primeiros parágrafos. Aqui se faz referência a alguns artigos da revisão da literatura (que tratam do tema). Um artigo de revisão é o ideal, porém deve ser um recente (publicado nos últimos três anos). O contexto de uma pesquisa cientíica é um texto com argumentos consistentes, com redação simples e sequência lógica das ideias. Para isso é necessário mostrar o que Kida (2007) propõe: a) a realidade tem uma ordem (como as coisas acontecem); b) esta ordem pode ser parcialmente compreendida (ninguém consegue explicar tudo!); c) uma vez compreendida, esta ordem pode ser comunicada aos outros. Uma pesquisa busca também encontrar respostas em forma de “mapas imperfeitos dessa realidade” ou dessa ordem que você estuda (fenômeno) e não de verdades e crenças. 5º. Em seguida apresente os conceitos mais importantes. São os que têm relação direta com o fenômeno. A teoria selecionada é a base disso. Os conceitos a serem utilizados nos instrumentos de pesquisa (questionário, roteiro de entrevistas, etc.) deverão constar nesta parte. Sempre citando as referências (autor, ano). Aqui não pode ser um texto puramente descritivo. Trata-se de uma construção argumentativa para expor o uso desses conceitos e convencer o leitor da coerência destes e sua função na pesquisa. Se as categorias teóricas são muito importantes para esclarecer o leitor do contexto, então apresente 17Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado aqui e explique melhor, porém de forma direta, objetiva e resumida porque a parte para expor melhor é no referencial teórico. 6º. Após alguns parágrafos com uso de dados, exposição e argumentação dos conceitos e todo o contexto bem construído, apresente as perguntas de pesquisa. Esse contexto tem o tamanho variado. Depende do tamanho de projeto que está apresentando (mestrado ou doutorado). Número de páginas, sequência dos itens, presença de ilustrações, entre outros, seu guia é o orientador ou o edital de seleção, ou ainda o manual do programa de pós-graduação. Para dúvidas sobre os tipos de ilustrações mais adequado ao projeto consulte os apêndices 1 e 2 no inal do livro. Quando se trata de qualiicação de mestrado, a sequência lógica é de acordo com cada área escolhida. No doutorado esta é mais complexa, exigindo mais obras de periódicos cientíicos de prestígio, artigos muito citados e publicados em periódicos cientíicos internacionais. As bases para a construção dos argumentos da hipótese (pesquisa quantitativa) ou suposição (pesquisa qualitativa) vêm de obras consagradas e contexto bem explicado. 7º. Quando o “enredo” que situa o leitor na pesquisa e no contexto que envolve o fenômeno estiver pronto, chega o momento de apresentar a pergunta geral e as eventuais perguntas especíicas. Estas devem ser destacadas em negrito, pois isso ajudará o avaliador do projeto na relação entre pergunta e contexto. Este é um recurso visual que auxilia na avaliação. A pergunta deve ser curta, clara, direta, porém com sentido completo de uma frase compreensível. O leitor tem que entender o que você propõe fazer na pesquisa: buscar resposta para a pergunta que está destacada. Aqui aproveito para minha deinição operacional de pesquisa: esforço sistemático em busca de resposta para perguntas previamente elaboradas. Você elabora pergunta; busca resposta e para isso faz um planejamento, mas tem uma hipótese inicial; procura parâmetros na literatura sobre o tema, porém com uma base em uma teoria social ou comportamental. Tenha atenção para não usar palavras inadequadas nas perguntas, pois elas comprometem a coerência: pode, mais, menos, muito, pouco, bom, mau, importante. 18 Elaboração de Projeto de Pesquisa O problema com essas palavras é que elas, de alguma forma, já antecipam resultados que é o que se pretende com a pesquisa ou o que tratamos como “juízo de valor”. Elas podem ser mais apropriadas para hipóteses, porque estas pressupõem teste ou veriicação. Cuidado com o uso de alguns termos comuns, mas que muitas vezes são empregados com signiicado cientíico equivocado. Já vi muitas vezes estes termos/conceitos fora do sentido que eles realmente têm. Apresento alguns destes com seus signiicados cientíicos adequados em um texto cientíico. Muitas vezes me deparei com erros em seus signiicados. São eles: i) Abordagem = forma de observar ou descrever um fenômeno. ii) Postulado (ou Axioma) = proposições não passíveis de prova, justiicáveis por consequências lógicas. iii) Pressuposto = ideia em que se baseia uma airmação. iv) Premissa = airmações de base teórica, uma assunção lógica. v) Inferência = conclusão derivada de dados ou de premissas. vi) Conjectura = ideia nova ou não explorada; uma suposição. vii) Fenômeno = descrição de um fato sem levar em conta seus mecanismos subjacentes. viii) Análise = quebra de todos seus componentes e suas mútuas relações. (BUNGER, 2002). 8º. Quando a redação estiver concluída, serão necessárias várias revisões. Perguntas devem ser confrontadas com o método e procedimentos, com justiicativa e objetivo, com o referencial teórico e revisão da literatura. Isso é para veriicar falhas de coerência e lógica do projeto. No Capítulo 8 apresento uma ilustração para isso (Figura 10). Ao inal da redação desta parte, leia todo o projeto iniciando pela última parte (método) e conclua na primeira parte (contexto), ou do im para o começo. Todas as partes devem ter relação direta uma com as outras. Esta é a melhor forma de checar erros de coerência entre ideias e argumentos, relação entre conceitos e ideias e relação entre as partes do projeto. 19Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado CAPÍTULO 2 Justificativa 2.1. POR QUE JUSTIFICAR UMA PESQUISA? Esta parte tem o propósito de mostrar ao leitor e/ou avaliador de seu projeto que a pesquisa é relevante para a área de estudo e pretende revelar alguma novidade. Você justiica a pesquisa e não seu projeto. Há várias justiicativas para uma pesquisa. Aqui tratarei das mais usuais. Instituições de fomento esperam que os resultados de uma pesquisa cientíica sejam publicados, para isso o autor do projeto deve logo indicar quais os veículos de comunicação cientíica (eventos e periódicos) são mais interessados no tipo de pesquisa que você projeta. Aliás, não só este tipo de instituição espera isso. Os programas de pós- graduação sobrevivem disso. O lema importado “publicar ou morrer” já indica isso e tem sido o guia do desespero de acadêmicos em geral. Aliás, tal desespero revelou comportamentos e interesses que atentam contra a “boa” ciência. 2.2. SEQUÊNCIA DA REDAÇÃO O projeto é como a planta baixa e a “maquete” de um edifício: devem ser capazes de mostrar todos os detalhes da obra inal. Sabemos que nem tudo que planejamos sai integralmente da forma como foi planejado. Então exponha os argumentos sustentados em dados, informações e publicações, da seguinte forma: 1º. Primeiro parágrafo abre informando do que trata a pesquisa (mais ênfase no fenômeno)com apenas uma frase. Não se apresenta objetivo da pesquisa (um erro comum). A primeira frase é uma justiicativa geral da pesquisa (sem referências). É seu argumento principal para desenvolver a pesquisa. As demais frases do mesmo parágrafo são os argumentos secundários. Estes argumentos secundários devem ter referência (autor, ano). Aqui podem ser usadas referências de obras não acadêmicas ou dados e informações de 20 Elaboração de Projeto de Pesquisa outras fontes, porém fontes coniáveis. Um alerta: não recorra desesperadamente a “buscas soltas” no Google para inserir dados e informações, sem checar a credibilidade. Lembre-se das fake news. 2º. Os próximos parágrafos têm uma sequência lógica para explicação do fenômeno a ser pesquisado. É uma redação que busca responder as seguintes perguntas: O que os trabalhos sobre o tema têm mostrado de novidade? Inicie com os trabalhos mais antigos (inserindo os mais citados). As respostas para estas perguntas só estarão prontas quando a revisão de literatura icar completa em forma de matriz. A ideia que sustenta essa justiicativa é: este contexto mostra que ainda tem fatores não explicados e que interferem de alguma forma neste fenômeno; minha pesquisa revelará estes fatores. As publicações mais recentes servem para construir argumentos que mostrem as novidades esperadas com a pesquisa. Este é o ponto de partida para justiicar a pesquisa. Inserir referências (autor, ano) para sustentar o argumento de cada airmação. 3º. Em seguida continue a redação buscando responder: O fenômeno é relevante para a sua área de estudo? De que forma? Responda indicando que a área de estudo está sem explicação para o fenômeno, a partir dos fatores que pretende pesquisar ou que as explicações, até então publicadas, não conseguem responder a pergunta que você apresentou no “Contexto da Pesquisa”. Aqui siga literalmente os requisitos de relevância citados por Mascarenhas, Zambaldi e Moraes (2011, p.267) que indiquei no Capítulo 1 (item 1.1.). Isso justiica a abordagem planejada na parte de método (que você já concluiu). Dados e informações mostram a relevância de se estudar o fenômeno da forma como você propõe. Pode inserir aqui dados de variadas fontes coniáveis e recentes para que seus argumentos sejam consistentes, como nos exemplos a seguir: 21Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado Exemplo 1: Dados da ONU revelam que o número de pessoas refugiadas no mundo tem aumentado.... (apresente os dados e indique a fonte). Exemplo 2: O número de empresas que surgiram por meio de incubadoras é de.... (apresente os dados e indique a fonte). Exemplo 3: O mercado de escolas profissionalizantes voltadas para a era digital tem crescido com mais velocidade do que as escolas tradicionais... (apresente os dados e indique a fonte). 4º. Na sequência, responda a seguinte pergunta, de forma objetiva: O que o estudo pretende mostrar de novo? Os argumentos são baseados nas conclusões de pesquisas recentes consultadas na literatura (a matriz revelará isso). Como nos exemplos a seguir: Exemplo 4: Estudos recentes (autores, ano) têm revelado que deputados preferem indicar pessoas para cargos com maior poder de decisão sobre recursos. A pesquisa propõe apresentar que tipo de recurso desperta maior interesse, por cargo objeto da indicação. Exemplo 5: Estudos recentes (autores, ano) têm revelado uma baixa taxa de ocupação formal de pessoas com diploma de ensino superior. Esta pesquisa busca evidências de que esta taxa é maior em egressos de cursos de IES com elevada nota no ENADE. Recomendo o uso de matriz de resumos para melhor relacionar ideias, argumentos e conclusões de pesquisas recentes, evolução dos temas de interesse dos pesquisadores da área de estudos. Só quando os principais trabalhos estiverem resumidos é que respostas poderão ser dadas de forma coerente, consistente e segura. As perguntas anteriores devem ser respondidas em parágrafos separados e organizados em sequência para a construção dos 22 Elaboração de Projeto de Pesquisa argumentos que justiiquem o objetivo da pesquisa. 5º. Continue o texto para responder o seguinte: Qual a abrangência da pesquisa (espacial, temporal, etc.)? Quais os motivos para essa abrangência? Quais organizações, cidades, pessoas, site, etc., irão fazer parte dela? Quais motivos explicam a seleção? (foco, parte do todo). Responda sempre argumentando a coerência desta escolha. Essa coerência tem como parâmetro dados, informações, principais conclusões dos trabalhos de pesquisa recentemente publicados, formas de como o fenômeno se manifesta (o contexto da pesquisa deve mostrar isso), situação e peril do objeto, ambiente em que este se situa. Esta parte varia muito. Pesquisas que exigem (o parâmetro são as outras pesquisas) maior abrangência na coleta de dados/informações deve ter uma justiicativa bastante coerente e convincente, seja ela espacial ou temporal. Seleção com muitas ou poucas unidades, maior ou menor que os estudos recentes também merecem explicação. 6º. Na sequência, uma nova pergunta precisa de resposta: Quais os critérios deinidos para o recorte adotado na pesquisa (foco)? Não confundir as duas perguntas anteriores (motivos [5º] e critérios [6º]). Esta resposta depende do método a ser adotado. Então após a parte metodológica ser concluída, esta pergunta deve ser respondida. Observe que o texto da justiicativa depende de outras partes. Você justiica a pesquisa em diferentes perspectivas. O texto vem no início, mas sua elaboração é desenvolvida no inal (veja as etapas na Figura 3). A justiicativa é para seu objetivo, já que ele é o escopo de sua pesquisa. 7º. Toda pesquisa tem limites e eles são comuns, já que o pesquisador se volta para buscar respostas apenas para uma parte da realidade. Critérios de “recorte” dessa realidade mais ampla são os maiores limitadores e geradores de distorção (viés). Então responda: Quais os limites da pesquisa e por que tem tais limites? Esta resposta também deve icar pronta somente após a conclusão da revisão da literatura. O que os outros pesquisadores fazem serve de parâmetro para o que você pretende fazer. Os limites de sua pesquisa só serão apontados no momento em 23Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado que confrontar o que está projetando com o que os outros já izeram. Logo, deixe bem evidente o que a pesquisa buscará revelar. O que não conseguir será por causa do foco dado à pesquisa, do método adotado, do referencial teórico selecionado como mais adequado. Esses são os procedimentos básicos para observar a parte da realidade. São eles (foco, método, teoria) que poderão indicar os limites da pesquisa e não por falta de esforços, de recursos ou outros alheios aos procedimentos cientíicos. O estudo se volta para uma parte da realidade e, por isso, alguns fatos estão próximos do que você pretende pesquisar, mas não dará conta com o método e a abordagem proposta. Isso é um limite. Este limite não deve tirar da pesquisa sua relevância. Pesquisas relevantes também apresentam limites, pois é com base nestes que a ciência avança. Esta nunca estará acabada. A pesquisa tem um foco e, mesmo que outros fatores estejam associados a ele (foco) ou algum indício de inluência exista, tais fatores icarão para outra pesquisa. No entanto, isso deve ser explicado de forma direta e objetiva, clara e simples, para que não haja dupla interpretação. 24 Elaboração de Projeto de Pesquisa CAPÍTULO 3 Objetivos Esta é a parte que está no centro da pesquisa. Trata-se do guia principal e que move a pesquisa. Coerência, atenção com as palavras certas e bem empregadas, uso do verbo mais indicado para a ação que pretende realizar no futuro são os principaiscuidados que se deve ter na elaboração dos objetivos de pesquisa. Também é importante diferenciar objetivos de pesquisa de objetivos metodológicos (Figura 4) que são ações parciais que pretendem levar a um estágio inal (objetivo de pesquisa). Já presenciei várias vezes situações em que os objetivos eram coerentes e consistentes com o que o autor do projeto pretendia fazer na pesquisa, porém foi mal interpretado por duas razões. Situo aqui os principais motivos dessa “má interpretação”: i) no objetivo constavam termos ambíguos ou verbos inadequados (estudante não preparado); ii) os objetivos estavam bem elaborados, sem problemas lógicos e conceituais, porém seus avaliadores não conheciam a lógica de construção de objetivos (professores despreparados); iii) os dois problemas estavam presentes (uma tragédia acadêmica). Infelizmente são problemas gerados pelo que trato de “arrogância metodológica de senso comum”. Estas, muitas vezes, são motivadas pelas experiências próprias e limitadas de quem avalia o projeto, pela forma enviesada com um avaliador aprendeu ou pela ideologia que molda a pseudociência que fazem. Quando isso vem de quem deveria ensinar é grave. Quando vem de quem ainda está no estágio inicial de se preparar para ensinar, é gravíssimo, mas ainda tem solução. Muitas vezes este tipo de avaliador se comporta como “torcedores” que se sentem como “técnicos de futebol” em época de Copa do Mundo. Cada “torcedor” tem sua “escalação” preferida, mas esquece de que o “time” tem outro técnico, o que signiica que o autor do projeto é quem sabem o que pretende (objetivo). Para evitar que esses comportamentos inadequados se manifestem, deixe 25Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado bem claro o que pretende fazer em sua pesquisa, o que pretende alcançar de resultados. Elabore seus objetivos em, no máximo, duas linhas cada e não insira muitas palavras. Seja objetivo, direto, preciso, com frases de sentido completo e voz ativa. 1º. Leia atentamente o texto da justiicativa e assim que concluir o projeto compare com seus objetivos. Isso é um teste de coerência. Faça os ajustes necessários. Algumas vezes uma palavra, preposição, artigo, acento, crase, etc., mudam o sentido e a ação do que pretende alcançar ao inal da pesquisa, que se manifesta no verbo mais adequado ao que você se propõe. 2º. Cada objetivo deve ser redigido de forma direta, sem chances de apresentar uma dupla interpretação. Esta é a parte mais polêmica em avaliação em bancas de seleção, qualiicação e defesa na pós-graduação. Então, no primeiro momento observe muito bem os diferentes signiicados que tem o verbo, para que coloque em prática a precisão (palavra mais indicada para o que pretende comunicar). No caso do objetivo, o verbo mais indicado para a ação futura que pretende. 3º. Na elaboração dos objetivos não pode sobrar nem faltar palavras. Elabore um objetivo geral e dois ou três especíicos. Cuidado: quanto mais objetivos, mais trabalho a ser feito. Lembre-se sempre que um objetivo é uma ação. Para cada verbo corresponde uma ação. Porém, é necessário compreender que objetivo geral e objetivos especíicos são mais uma tradição do que uma obrigação. É apenas uma forma mais direta de mostrar o que pretende. Tradição não é obrigação. A vontade dos outros não é a sua. A pesquisa é sua. Objetivos especíicos são apenas detalhamentos da ação maior que pretende com a pesquisa. Os objetivos de pesquisa são seus e a pesquisa é sua, porém devem ser bem elaborados. Se os objetivos especíicos fossem obrigatórios em pesquisa, todos os artigos publicados nas melhores revistas do mundo trariam isso bem destacado. Isso não acontece. Os objetivos especíicos ajudam a direcionar melhor o que você pretende, porém, quando elaborar, cuidado para não transformar objetivos especíicos de pesquisa em objetivos metodológicos da 26 Elaboração de Projeto de Pesquisa pesquisa. São coisas diferentes. Cuidado com a elaboração de objetivos para não cometer os seguintes erros descritos nos exemplos a seguir: Exemplo 1: Uma pesquisa exploratória não pode usar os verbos explicar, analisar (isso é incoerente). Exemplo 2: Não elabore objetivos metodológicos (mapear a literatura sobre; selecionar banco de dados). Objetivos de pesquisa são diferentes de objetivos metodológicos. Ainda que seja comum que um objetivo especíico tenha relação direta com ações metodológicas, exigindo um objetivo metodológico, este ica descrito no item especíico (procedimentos metodológicos) e não como objetivo de pesquisa. Objetivos metodológicos são meios e não ins. Por isso existe a parte metodológica em um projeto, que é formada por várias ações futuras com verbo no ininitivo. Atenção primordial às ações dos verbos a serem utilizados, pois eles revelarão a relevância da pesquisa em uma ação que pretende produzir resultados cientíicos. Exemplo 3: (objetivos de pesquisa): - Identificar e descrever o perfil de estudantes que utilizam o financiamento estudantil em cursos de áreas sociais e suas expectativas em relação à empregabilidade. Veja que uma pesquisa com este objetivo do Exemplo 3 não é do tipo explicativa nem experimental. Também cuidado com este verbo (experimentar). Ele tem subjacente a ideia de teste, grupo de intervenção e grupo de controle. Veja que no Exemplo 3 que a pesquisa pode ter dois objetivos (geral e especíico). Não é regra e sim coerência. São dois verbos com ações amplas, o que exigirá outras ações complementares mais especíicas (objetivos especíicos), que serão executadas com ações mais pontuais (objetivos metodológicos). 27Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado Se você deixar a frase do objetivo com duplo sentido ou se usar verbos inadequados ao tipo de pesquisa que pretende, um “curioso” pode querer dar “sugestões” para sua pesquisa, distante do que você pretende (lembre-se da miopia). Um avaliador pode querer mudar o que você pretende fazer, caso ele não compreenda o que você quer. A culpa pode ser sua se não deixar claro o que pretende ou pode querer fazer uma pesquisa cujo tempo, recursos e/ou fontes disponíveis não permitirá e um bom avaliador saberá identiicar e propor mudança. No entanto, pode também ocorrer de um avaliador simplesmente propor mudança (isso é comum) apenas tendo como parâmetro sua visão de ciência a partir de suas pesquisas (alto grau de miopia). Compare o Exemplo 3 com o Exemplo 4 e perceberá que os objetivos metodológicos icarão na parte do projeto que trata de procedimentos metodológicos (método). Nesta parte você descreve as ações que levarão você aos objetivos de pesquisa. No Exemplo 3, expresso com dois verbos e duas ações: “identiicar” e “descrever”. O Exemplo 3 tem os verbos com ações menores para atividades que isoladamente não fazem o pesquisador chegar ao objetivo do Exemplo 3. O conjunto de ações descritas em três verbos no Exemplo 4 é que levarão você a alcançar o que está descrito no Exemplo 3. Exemplo 4: (objetivos metodológicos): - Identificar e mapear as IES com cursos da grande área de ciências sociais. - Identificar e classificar os estudantes desses cursos nas IES selecionadas. A pesquisa cientíica tem parâmetros para objetivos: i) o que você pretende pesquisar deve ser expresso de forma clara, com uso de verbos adequados para cada ação desejada e tipo de pesquisa. ii) isso deve ter relevância para a área de ciência que está direcionando sua pesquisa. iii) você só consegue mostrar isso se contextualizar bem o fenômeno e mapear a literatura. iv) na apresentação 28 Elaboração de Projeto de Pesquisa (pública ou escrita) de seus objetivos tente construir um luxograma com a relação direta entre objetivos, métodos, técnicas, instrumentos e procedimentos de pesquisa. Diagramase outras ilustrações ajudam a demonstrar com mais objetividade seus objetivos de pesquisa e metodológicos. Isso também limita a ânsia incontida dos “técnicos de futebol”, de quererem “escalar seus times” no seu “campo” ou interferirem na sua “escalação”. Observe na Figura 4 essas situações e para melhor compreensão observe também a Figura 9 do capítulo de método e procedimento. Figura 4 – Objetivos de pesquisa e objetivos metodológicos Compreender (se) os dados.. Discutir (se) os resultados... Interpretar (se) as evidências.... Verificar a relação.... Descrever os.... Relacionar a presença.... Objetivo de Pesquisa Objetivos Metodológicos Organizar os dados Comparar os resultados Criticar, debater a literatura Aplicar teste Construir mapas Usar software - O Se muda a ação (meio), exigindo uma ação complementar (fim) e outro verbo. - Sem o Se a ação é final e o objetivo é metodológico. - Objetivos metodológicos são ações (meio) para se chegar a resultados. - Objetivos de pesquisa são mais amplos que seus resultados. O problema não é o verbo. - Nem sempre precisa de geral e específico. - A ação do verbo (e não o verbo) faz toda a diferença. Pesquisa 29Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado CAPÍTULO 4 Revisão da Literatura 4.1. O QUE É E QUAL SUA FUNÇÃO NO PROJETO? Esta é a parte do projeto destinada a apresentar ao leitor um levantamento completo e coerente de trabalhos publicados sobre o tema, focado no fenômeno da pesquisa. A revisão da literatura é um texto que informa e discute, argumenta e circunscreve algo que está sendo estudado (tema) e direcionar o leitor para o que você pretende que é pesquisar um determinado fenômeno delimitado no interior da produção cientíica maior que tratamos como tema. Aqui você descreve resultados de outras pesquisas dos últimos cinco anos (este é o período mais usado). É o que os mais tradicionais chamam ainda de pesquisa bibliográica ou estado da arte. A revisão da literatura é um termo ainda pouco usado nas ciências sociais. Pereira (2011, p.47) deine revisão da literatura como “avaliação criteriosa ou a opinião qualiicada sobre um tema, os quais são essenciais para manter o leitor atualizado”. Tema é um conjunto de abordagens (forma de ver problemas de pesquisa) que direcionam um estudo para que seja apresentado o que comumente tratamos como “foco” da pesquisa. É comum chamar de “recorte”, o que signiica deixar clara (recortada) a parte de uma realidade mais ampla para ser estudada, devido nossa incapacidade de estudar o todo. Após utilizar o tema como delimitador do que pretende estudar, chega a hora de identiicar o fenômeno. Depois da busca por mais informações sobre ele, você começa planejar a busca por publicações cientíicas que tratam exatamente do que pretende pesquisar. Hoje, já há procedimentos padronizados na maioria das áreas. Geralmente se usa a bibliometria. Esta inicia com levantamentos em bases de textos. São várias as existentes (nacionais e internacionais). Cada área tem as mais comuns e também as que são usadas por todas as áreas. A Figura 5 ilustra como se inicia o processo de deinição do fenômeno até a matriz de resumos. 30 Elaboração de Projeto de Pesquisa Figura 5 – Processo de deinição do fenômeno até a elaboração de matriz 4.2. PROCESSO DE BUSCA POR TRABALHOS PUBLICADOS O processo de busca inicia com a escolha de palavras-chave, seleção das bases de texto, uso de operadores lógicos booleanos (and, or, not), procedimento de inclusão-exclusão e inalmente a seleção dos que serão consultados. Para melhor compreensão do processo operacional, com uso de software especíico indico o trabalho de Arese et al., (2016). Apresento uma síntese do processo de busca de textos publicados: i) deinição de palavras-chave (máximo cinco) de acordo com tema/fenômeno; ii) seleção das bases (nacionais internacionais) mais usadas; iii) deinição de critérios de exclusão (textos repetidos, fora da área, outro foco de pesquisa, etc.); iv) organização dos trabalhos (planilha ou software) para controle de seleção; v) leitura dos resumos e exclusão dos que não se enquadram no tema; vi) seleção de trabalhos para leitura completa; vii) elaboração de matriz de resumos. Um método já consagrado para este tipo de seleção é o Modelo Prisma (MOHER et al., 2009), do qual iz uma adaptação para a Figura 6 a seguir. Este método tem algumas vantagens: i) evita o viés na seleção de trabalhos; ii) auxilia o leitor a compreender melhor o objetivo do autor; iii) demonstra os passos para que outros pesquisadores venham dar continuidade à pesquisa. Objetivo Palavras -chave Bases Justificativa Título e Resumo ArtigoFenômeno Resultados Discussão Conclusão LeituraMatriz Critérios de Exclusão Texto final: argumentos que mostrem o status do tema e tópicos não explorados. Sua pesquisa deve completar o que falta. 31Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado Figura 6 – Fluxo do Modelo Prima para identiicação e seleção de textos Uma vez concluída esta etapa de busca e seleção de textos que serão o fundamento da revisão da literatura, inicia o processo de leitura. Para esta etapa indico a elaboração de uma matriz de resumo das leituras (Quadro 1). Na revisão de literatura deve ser dada preferência para artigos publicados nas principais revistas cientíicas da área em estudo, nos últimos cinco anos, e aos trabalhos apresentados nos principais eventos cientíicos internacionais de sua área/curso. Em meu livro (FARIAS FILHO, 2018) apresento os seguintes argumentos para se fazer uma matriz de resumo, antes de preparar a redação: a) resumir mais rapidamente a leitura; b) selecionar apenas os conteúdos que interessam ser discutidos; c) evitar o que chamo de “plágio involuntário” ou “plágio acidental”; d) preparar a redação inal e facilitar a leitura do texto dissertativo e argumentativo; e) evitar que o autor cometa um erro crucial: ênfase na obra e não ao conteúdo (citação em primeiro plano); e) sistematizar a leitura e ter um “banco” de conteúdo que poderá ser atualizado para outros trabalhos (artigos futuros). Registros Identificados em Bases de Textos (n = ) Se leç ão In clu sã o Id en tif ica çã o Registros Adicionais de Outras Fontes (n = ) Registros Duplicados Excluidos (n = ) Registros Selecionados (n = ) Registros Excluídos e Justificados (n = ) Artigos Completos Avaliados para Seleção (n = ) Artigos Completos Excluídos e Justificado (n = ) Estudos Incluídos na Síntese Qualitativa (n = ) Obs.: na Meta-análise o método de análise é Quantitativo 32 Elaboração de Projeto de Pesquisa Quadro 1 – Matriz de resumo de leituras para revisão da literatura Referência Resumo Comentário Obra A De cada leitura se retiram os principais resultados, os argu- mentos base da discussão e a conclusão. Também pode reti- rar trechos para citar no texto. Pode selecionar os conteúdos e classiicá-los a partir de suas semelhanças ou diferenças. Daqui saem os comentários e confrontação entre as ideias. Nesta parte já pode treinar a redação inal. Obra B Obra C Obra D Obra n Fonte: Farias Filho (2018) Na seleção dos artigos recentes, priorize os publicados em revistas consolidadas (já conhecidas na área/tema) e com muitas citações (acesse o Google Scholar e veja o Índice H5). Quando você insere o título do artigo nesta base, logo abaixo vem uma indicação: “Citado por: número”. Aparece o número de citações que o artigo recebeu. Tente alcançar a meta de 50% de artigos publicados nos últimos cinco anos em revistas cientíicas com a mediana de Fator de Impacto de sua área ou pelo menos classiicados como Qualis A. 4.3. ELABORAÇÃO DA REDAÇÃO Ler e resumir utilizando uma matriz para inserir o conteúdo da leitura é o mais indicado para sistematizar a redação.É uma forma de conseguir fazer um texto com encadeamento das ideias, dar sequência aos argumentos, evitando o plágio involuntário e outras formas que deixam a redação sem estilo cientíico e com outros problemas de compreensão. Então pode começar assim: 1º. O texto inicia com um pequeno parágrafo “livre” (sem referências), apresentando a ideia central da pesquisa. Não repita o objetivo da pesquisa (isso é um erro comum). Depois, no próximo parágrafo, comece a entrar no tema com os trabalhos mais antigos, porém relevantes para a discussão do fenômeno que se propõe a pesquisar. É comum neste início se contar uma “história” do fenômeno a ser estudado. Cuidado para não inserir muitas referências desnecessárias. 33Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado Um dos critérios de relevância para seleção dos principais trabalhos que iniciam o texto é usar os mais citados (dentre os que você consultou) ou os “clássicos” trabalhos sobre o tema. O princípio é referenciar obras que tenham relação direta com o argumento a ser apresentado. Referência de uma obra em um texto é semelhante a uma situação de referência pessoal. 2º. O texto deve ser uma confrontação das ideias (debate). Este texto não é um catálogo cronológico de todas as fontes que você consultou nem uma coleção e paráfrases de leituras que fez (BENTO, 2012). É um texto interpretativo (o que você compreendeu deles), crítico (um serve de base para criticar o outro e você promove a crítica) e argumentativo (usados para sustentar suas ideias e os motivos para fazer sua pesquisa). Apresento alguns exemplos de redação da revisão da literatura para que você não faça apenas descrição do que foi lido. Você leu e está construindo argumentos para o contexto empírico e teórico da sua pesquisa. Exemplo de redação descritiva: Bené (2010) disse isso... Zé (2009) sustenta que... Mundica (2011) afirmou isso... Xico (2002) sugeriu isso… [e daí? Qual sua conclusão?]. 3º. O texto da revisão tem a função de mostrar que a pesquisa é inédita, que ela tem algo de novo. Não é um assunto novo e sim uma nova forma de abordar este assunto, veriicando um fenômeno não estudado ou uma nova forma (método, abordagem) de estudá-lo. Os trabalhos dos outros pesquisadores são referências para o seu. Na redação, cada parágrafo tem uma sequência lógica de como os fatos e as pesquisas foram se desenvolvendo, como elas avançam e em que direção. 4º. Faça primeiro um roteiro de itens, temas, ideias e obras a serem trabalhados. Depois elabore a redação por parte, para que ique com sequência de argumentos. O inal de um parágrafo deve ter encadeamento com o início do próximo, porém isso só nas revisões é que se consegue fazer. 34 Elaboração de Projeto de Pesquisa 5º. Se necessário, apresente um quadro conceitual (conceito, autor). Isso é comum em muitos projetos, para deixar bem explícito o que se pretende pesquisar do ponto de vista micro, conceitual (ajuda leitores e avaliadores a compreenderem bem seu projeto). Deixe bem claro os conceitos que serão trabalhados nos instrumentos de pesquisa (questionário, roteiro de entrevista, de observação) e que serão veriicados no objeto de pesquisa (empresa, ambiente, pessoas). As pesquisas empíricas publicadas mostram quadros ou tabelas com as questões ou palavras-chave do que foi questionado ou levantado no objeto. Isso serve para montar os instrumentos de pesquisa. Às vezes os instrumentos de pesquisas são publicados junto com os trabalhos (em relatório, dissertação, tese). Procure para auxiliar no uso de conceitos em sua revisão. 6º. Utilize o máximo de artigos publicados, a partir dos seguintes critérios: a) artigos publicados em revistas cientíicas de prestígio em sua área; b) artigos publicados nos últimos cinco anos; c) artigos com foco especíico no que está estudando. Não há um número máximo nem mínimo, isso depende de quem cobra (orientador, inanciador, banca, etc.) ou do esgotamento por repetição. Na fase de levantamento de artigos selecione o máximo possível, depois promova a exclusão. O mais importante é seguir o processo de seleção de trabalhos publicados com base no Modelo Prisma e consultar o artigo de Arese et al. (2016). Sugiro consultar este trabalho na íntegra, pois ele mostra o passo a passo de levantamento da literatura sobre um tema e organização dos trabalhos. Há exigências comuns em qualquer área para fazer levantamento da literatura (rankings de periódicos nacionais e internacionais). Há também cobranças incomuns (publicações do orientador, dos professores do grupo de pesquisa que, na maioria das vezes, chega ao exagero), outros que são mais mito (trabalhos em língua inglesa. Língua não é critério de qualidade ou de coerência) e outros critérios bizarros (político-partidários e de membros das “igrejinhas”). 7º. No texto da revisão da literatura também é necessário informar qual 35Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado teoria é mais usada e quais métodos também são os mais usados. Pelo menos este é o sentido de se fazer pesquisa cientíica. Mensagem principal do texto de revisão da literatura é: tudo que se publicou sobre este tema parou aqui (final do texto de revisão). A continuação desta “história” vem na discussão dos resultados da pesquisa que está sendo planejada aqui. A conclusão da pesquisa vai completar a literatura sobre o tema, assim que for publicada, até que outra pesquisa dê continuidade. 8º. Caso queira deixar bem explícito, para leitor e avaliador, como evoluíram as pesquisas sobre o tema, uma forma mais trabalhosa, porém bem didática, porque explora a visão integrada e completa, é usar os recursos visuais como luxogramas, mapas conceituais, esquemas interpretativos ou outras ilustrações (veja apêndices 1 e 2). São recursos úteis quando inseridos no inal das exposições textuais. Ilustrações bem pensadas, planejadas, com nitidez suiciente deixarão o texto mais compreensível. Tente desenhar e depois busque o recurso mais adequado (consulte apêndices 1 e 2). A seguir apresento um diagrama que tem a função de mostrar graicamente como se deve raciocinar a revisão da literatura para em seguida transformar em texto (Figura 7). 36 Elaboração de Projeto de Pesquisa Figura 7 – Diagrama lógico da revisão de literatura Dado A Dado B Dado C Evidência 1 Ted (2010) Ivo (2011) Bill (2016) Dado Y Dado X Dado Z Evidência 2 Argumento Argumento Lya (2015) Sá (2016) Ken (2016) Argumento Argumento Conclusão 1 Conclusão 2 Resultados e Evidências Discussão Literatura e Teoria Lee (2017) 37Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado CAPÍTULO 5 Referencial Teórico e Hipótese 5.1. CONCEPÇÃO E FUNÇÃO DE UMA TEORIA NO PROJETO A opção teórica não é aleatória quando se inicia uma pesquisa. A seleção se dá ainda no início de um projeto. Termos como “quadro”, “modelo”, “embasamento” e “referencial” teórico são formas de se referir a uma determinada teoria que servirá para análise dos resultados da pesquisa. Utilizo o termo “referencial teórico” porque é o mais usado. Apenas uma opção. Teorias sociais são estruturas analíticas baseadas em evidências empíricas desenvolvidas para interpretar fenômenos reais. São princípios fundamentados, testados, validados e amplamente aceitos para explicar aspectos do mundo real. Têm enunciados gerais, complexos, difíceis de entender e de explicar. O texto do referencial teórico pode ser previamente preparado de forma esquemática em uma matriz de resumos da forma como proponho (Quadro 2), para em seguida desenvolver a redação. Isso ajuda a veriicar as adequações a sua pesquisa, os limites da teoria a serem trabalhados. Quadro 2 - Matriz de resumo de leituras da teoria R e fe rê n c ia s 1. Qual a origem da teoria? 2. Como ela se desenvolveu(as áreas)? 3. Quem são os principais autores e quais contribuições deram para a área em estudo? 4. Qual a ideia central da teoria e seus principais argumentos? 5. Quais as premissas (princípios) e os principais conceitos? 6. Quais as variáveis analíticas (pontos, unidades para estudo)? 7. Quais os limites dessa teoria (o que dizem os seus críticos)? 8. Quais outras teorias se aproximam dela? - Procure as respostas em cada obra consultada. Responda cada questão e conira ao inal. - Cada pergunta deve ter sua res- posta confrontada entre os traba- lhos consultados. - Conceitos e variáveis que são as bases dos instrumentos de pes- quisa e da discussão dos resulta- dos. 38 Elaboração de Projeto de Pesquisa Proponho uma sequência para o desenvolvimento da redação do item do Referencial Teórico, a partir de respostas para as perguntas que constam na proposta de matriz de resumo (Quadro 2) das obras consultadas: 1º. Respondendo à primeira pergunta do roteiro: qual a origem da teoria? Apresento uma ilustração (Figura 8) que ajuda na compreensão de como responder a esta pergunta. No exemplo da ilustração uma teoria evoluiu para duas principais abordagens (X, Y) e cada abordagem se desenvolveu para outras (X1, X2, Y1, Y2). No caso da teoria selecionada para seu projeto você deve “mapear” esta evolução. Quando estudar bem a teoria, compreenderá bem isso. Essa evolução não necessita ser totalmente exposta. Quando necessária a exposição, ela pode ser descrita para demonstrar melhor as abordagens e indicar a mais coerente para as análises dos resultados de sua pesquisa. Então explane a teoria como um todo e depois faça um zoom na abordagem que pode ser mais adequada para “observar” o fenômeno que pretende explicar (veja a parte pontilhada na Figura 8). É comum se tratar a teoria como “lente teórica” ou “olhar teórico”. Trata-se de mostrar a função de uma teoria que é “olhar” melhor a realidade (fenômeno) e interpretá-la. A teoria é uma forma abstrata de explicar essa dada realidade. Cada abordagem surge em um ambiente empírico com pretensões generalizantes. O que você propõe no seu projeto é compreender o fenômeno a partir da teoria. 39Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado Figura 8 – Origem e evolução de uma teoria social 2º. Depois vem outro parágrafo citando obras respondendo a pergunta: como essa teoria se desenvolveu? Nesta parte, cuidado para não descrever uma “história” cansativa. A evolução da teoria é apenas para mostrar o caminho da abordagem que mais se aplica para interpretar os dados de sua pesquisa e que você projeta. Isso mostra a coerência de selecionar apenas uma das abordagens da teoria. 3º. Em seguida responda: em quais áreas de estudo esta teoria foi aplicada? Isso é para mostrar novamente a adequação da teoria para as análises dos resultados que pretende alcançar. Neste caso, por “aplicação” quero dizer forma de compreender uma dada realidade social (por isso ciências sociais) a partir de enunciados gerais sobre realidades com fenômenos semelhantes. 4º. Depois responda: quem são os principais autores? Complementando com: quais contribuições eles deram para a área em estudo com essa teoria? O que conhecemos como “autores clássicos” são os que deram origem e/ou os que mais se destacaram no início e no desenvolvimento de uma determinada teoria. Eles são referências importantes. As contribuições são as que você busca para mostrar de que forma pretende desenvolver suas análises. Abordagem X Abordagem Y Abordagem X2 Abordagem X1 Abordagem Y1 Abordagem Y2 Teoria: Origem Cada abordagem é uma nova forma de explicação da teoria. Expor essa evolução ajuda o leitor a entender sua opção por uma das abordagens. 40 Elaboração de Projeto de Pesquisa 5º. A base de uma teoria é sua ideia central. Toda teoria tem uma mensagem central, então apresente claramente. É esta que sustenta o estudo de qualquer fenômeno. Por isso tenha bastante atenção ao responder: qual a ideia central da teoria? Um conceito se forma a partir de algumas variáveis e os conceitos formam categorias que sustentam a ideia central de uma teoria. Exemplo 1: A ideia central de uma abordagem (uma forma de “usar” a teoria) da Teoria de Capital Social, sugerida por Granovetter (1973), é que as relações se baseiam na confiança (conceito confiança). Esta se manifesta ao longo do tempo (variável tempo) e a origem da relação de confiança é a troca de recursos (variável recurso) entre as partes (pessoas). 6º. Na sequência responda: quais as premissas (princípios) e os principais conceitos? Observe o que são premissas e conceitos, a partir destes exemplos: Exemplo 2: A Teoria dos Grupos Sociais de Olson (1998) apresenta modelos econômicos para interpretar comportamentos individuais em grupos sociais, por meio de quatro premissas: a) agir de forma individual para obter benefícios individuais; b) agir de forma individual para alcançar benefícios coletivos; c) agir de forma coletiva para almejar benefícios individuais; d) agir de forma coletiva e buscar benefícios coletivos. 7º. Em seguida responda: quais as variáveis analíticas (pontos, unidades para estudo)? Toda teoria tem variáveis analíticas, que são pontos, unidades de análise que se usa para veriicar empiricamente de que forma o fenômeno se manifesta no objeto de estudo. Mostre quais são essas variáveis, esses pontos que podem ser observados (bastam dois ou três parágrafos). Os conceitos e variáveis são para veriicar 41Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado se no campo (local do estudo) eles estão presentes nos fenômenos a serem estudados. 8º. Como toda teoria tem limites e geralmente estes são apresentados pelos seus críticos, então procure trabalhos que criticam a teoria. Busque resposta para a pergunta: quais os limites dessa teoria (o que dizem os seus críticos)? Você já tem um parâmetro para mostrar coerentemente os limites da teoria e de que forma eles podem comprometer sua análise. Caso seja necessário, você já pode informar que a pesquisa terá uma limitação de ordem teórica. Estes já foram indicados pelas obras que você cita. Isso signiica que alguma forma de análise não será possível fazer. O que não invalida a teoria. 9º. Como uma teoria gera muitas interpretações, é possível que o fenômeno possa ser explicado por outras teorias. Por isso informe quais outras teorias se aproximam da que foi selecionada, para mostrar que realmente esta é a mais adequada. Então busque responder: quais outras teorias se aproximam dela? Este texto deve ser bem didático, porque uma teoria não é fácil de entender e é difícil de explicar. Dica: a) dê preferência a textos originais. b) valorize os clássicos, mas atualize-os com ensaios teóricos publicados em periódicos de elevada qualidade (são artigos com a inalidade de discutir teorias e seus avanços). c) evite o apud (citação da citação). d) não use citações literais (trechos copiados) sem uma função no texto. Quando for necessário, use trechos com no máximo duas linhas e insira no corpo do parágrafo. e) se necessário, usar quadros, iguras ou diagramas para melhor explicar. Elabore, reelabore, modiique, atualize, crie, mas nunca copie (mesmo citando a fonte). Aqui vale a mesma orientação da parte de revisão da literatura. Tente melhorar a explicação com uso de ilustrações. Estas melhoram a compreensão por parte de leitores e avaliadores de seu projeto. Após redigir esta parte do projeto faça uma revisão relacionando o conteúdo do texto com as demais partes do projeto, já que todas as partes do projeto se relacionam diretamente (Figura 10). 42 Elaboração de Projeto de Pesquisa 5.2. HIPÓTESE Hipótese é uma proposta de explicação para um fenômeno quequeremos compreender melhor e para o qual elaboramos uma ou mais perguntas. Quando se trata de hipótese cientíica ela pressupõe que será testada por procedimento cientíico (método) validado na área em que está sendo estudada. Podemos dizer que uma hipótese inicial no projeto de pesquisa é uma hipótese de trabalho ou uma exploração. Esta é provisoriamente aceita como base para pesquisas futuras. Ela (hipótese) deve ser coerente com as outras partes do projeto e é sempre difícil de elaborar. Também é uma ideia provisória que requer uma avaliação de consistência ou coerência, dado que é uma airmação (negativa ou positiva) que pode ser rejeitada (o mais comum) ou ser apenas uma possibilidade de resposta para a pergunta. Ela tem subjacente o princípio de que você conhece um pouco do fenômeno que será pesquisado ou que tem conhecimento da teoria que pretende utilizar nas interpretações dos seus resultados e tal teoria leva você a formular uma resposta provisória que será testada ou veriicada. Ainda que a teoria apresentada seja uma referência para suas ações, teorias também falham. Neste caso uma hipótese é construída como uma declaração de expectativas. Embora não haja uma regra para sua elaboração e nem em que parte do projeto se insere uma hipótese, apresento orientações para hipótese após o referencial teórico e antes da parte metodológica por questões de coerência. Se você parte de uma pergunta para buscar reposta (processo de pesquisa), a hipótese representa um resposta provisória. Ela pode ser inteiramente sustentada em enunciados teóricos ou não. Sem uma base teórica é difícil se estabelecer uma hipótese cientíica. Uma hipótese é geralmente um enunciado que se faz de forma airmativa ou negativa. Não se parece com a questão de pesquisa (uma interrogação), nem com o objetivo (cujo verbo é no ininitivo). Ela é um enunciado prévio de algo que se espera encontrar no futuro, a partir dos resultados e evidências (uma descoberta cientíica). Trata-se de uma “declaração que abrange mais do 43Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado que os dados que a sugerem ou a conirmam” (BUNGE, 2002, p.172). Na maioria das vezes, uma hipótese elaborada em um projeto de pesquisa social é conectada a conceitos que especiicam as relações esperadas entre proposições anunciadas. Quando um conjunto de hipótese está organizado em uma estrutura conceitual e incorpora uma relação de causalidade ou uma explicação, o conjunto está relacionado a uma teoria. Isso é comum em pesquisas sociais quando se elabora várias hipóteses relacionadas entre si. Hipótese tem caráter conjectural, porque é baseada em informação incompleta e ainda não foi provada. Seu enunciado é uma frase curta, lógica e objetiva, sem a possibilidade de dupla interpretação e sujeita a teste ou veriicação. Pode ter sustentação em uma base teórica ou na realidade estudada. Neste caso, a parte teórica deve icar bem esclarecida. É comum que uma hipótese tenha sua argumentação baseada em premissas teóricas. Por isso é razoável inserir a hipótese após o referencial teórico do projeto, porque a teoria já foi exposta antes. Também é importante veriicar o tipo de hipótese (antrópica, nula, alternativa, indicadora, ad hoc) mais adequada ao método e procedimento de pesquisa. Hipótese tem relação direta com todas as partes do projeto (Figura 10). 44 Elaboração de Projeto de Pesquisa CAPÍTULO 6 Método e Procedimento de Pesquisa Aqui não vou ensinar como usar método, técnica, instrumentos e procedimentos de pesquisa nem tratar de conceitos comuns em metodologia cientíica. Para isso você deve consultar livros introdutórios em métodos, técnicas e instrumentos de pesquisa. Sugiro um bem simples, prático e voltado para a elaboração de projeto de pesquisa: Farias Filho e Arruda Filho (2013). Também é interessante consultar manuais especíicos sobre métodos e técnicas que pretende adotar na pesquisa. Meu objetivo neste capítulo é orientá-lo de forma prática a desenvolver e redigir seu projeto e nesta parte descrever como será sua pesquisa. A parte de método (e não metodologia) é para descrever os procedimentos metodológicos de sua pesquisa. Aproveito para uma explicação: em projeto de pesquisa você pode usar o termo “método” apenas quando tiver que explicar o “modelo” sistemático para desenvolver sua pesquisa (um método). Neste caso use o termo “método”. Também alerto que o uso do termo “metodologia” é utilizado de forma equivocada em projetos e relatórios de pesquisa. Metodologia signiica o “estudo de métodos”. Em raríssimos casos o termo “metodologia” é indicado e adequado. Por exemplo: a “Análise de Redes Sociais” é uma “metodologia” de pesquisa muito usada nas ciências sociais. Não é um método apenas, porque enquanto método deu origem a variadas teorias, técnicas e instrumento de coleta de dados. Podemos dizer que se originou como um método depois passou a incorporar esquemas gráicos interpretativos (sociogramas) e modelos explicativos (teoria) a partir da evolução dos esquemas interpretativos e técnicas variadas. Isso deu origem a novas teorias e estas novas técnicas e instrumentos (questionários, por exemplo). Depois disso ela ganha o status de metodologia (algo que tem estudo sobre si mesmo). 45Um guia para seleção e qualificação de mestrado e doutorado Por isso, o mais adequado é usar o termo “procedimentos metodológicos” porque é isso que se faz na maioria das vezes. Também pode usar o termo “método e procedimentos” quando se tem um método claro a ser usado e bem reconhecido como tal, além dos procedimentos para sua operacionalização (técnicas, instrumentos e procedimentos). No caso da metodologia ARS que citei, não signiica que quem for utilizar este método em seu projeto deve inserir o termo “metodologia”. Isso depende se a pesquisa é para tratar exclusivamente dessa metodologia. Se for apenas uma pesquisa empírica, com o “uso” da ARS, então deve optar pelo termo “método e procedimento”. O que signiica que o método está claro e que os procedimentos de coleta de dados obedecerão aos requisitos desta metodologia, que quando usado em pesquisa empírica (no projeto ou no relatório) se escreve o termo “método” (aplicação de metodologia). Não é comum se usar o termo “método” em projetos de pesquisa nas áreas para as quais este livro está direcionado, porque é um termo que pressupõe um único caminho para o desenvolvimento da pesquisa, o que não acontece na maioria das pesquisas em ciências sociais. Entretanto, não é um erro usar e sim que não é comum. Para isso é importante compreender a diferença entre método, técnica, instrumento e procedimento. Por isso é imprescindível consultar livros especíicos de métodos de pesquisa e não de metodologia cientíica. Primeiro compreenda o que precisa fazer (pesquisa) para depois informar como vai fazer (esta parte que se descreve no projeto). Nesta parte é que você tem que provar que sua pesquisa é cientíica. Então indique: i) o que será estudado? ii) quando, onde o estudo será feito? (local e tempo são fatores importantes). iii) em estudos de campo quais as características do objeto? (onde se espera encontrar a manifestação do fenômeno). Isso ajuda o leitor a se situar na pesquisa e nos seus procedimentos, das diiculdades e possibilidade de viés. Aqui é necessário desfazer algumas interpretações equivocadas sobre a existência de uma “questão” ou “rivalidade” entre pesquisa quantitativa e qualitativa. Creswell (1994), esclarece que na pesquisa quantitativa a 46 Elaboração de Projeto de Pesquisa natureza da realidade estudada é objetiva e o pesquisador busca se distanciar do objeto de estudo. Busca encontrar uma relação de causa-efeito, em um processo dedutivo. Tenta generalizações que levem a predições, com acurácia
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