Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Eduarda de Alencar – Odontologia 2019.2 Cirurgia dos Dentes Inclusos Introdução - Existem várias definições para dente incluso resumidamente, trata-se de um elemento que depois de passado o tempo de erupção – perdeu seu potencial de erupção – permanece alojado na maxila ou na mandíbula, podendo também ter erupcionado parcialmente, recoberto por osso ou mucosa; - Assim como as definições, existem também vários sinônimos para dente incluso, como dente impactado, dente mal posicionado, dente não erupcionados, dente retido, dente não irrompido e dente semi-incluso; • Etiologia - Filogenética: Redução funcional no tamanho da maxila e da mandíbula e no número de dentes, miscigenação de raças – caucasianos tendem a ter os dentes mais compridos, já pessoas negras tendem a ter os dentes mais largos; - Fatores Locais: Deficiência no desenvolvimento maxilar ou mandibular associada ao tamanho dos dentes originando a falta de espaço na arcada, condensação óssea, limitando o movimento de erupção, fibromucosa espessa, anquilose dos dentes temporários, alterando a cronologia de erupção, presença de dentes supranumerários, entre outros; - Fatores Gerais: Acredita-se que doenças como anemia, distúrbios endócrinos e nutricionais favorecem as inclusões dentárias por agirem sobre o desenvolvimento ósseo – influenciando no metabolismo do cálcio; - Fatores Diversos: Parto com fórceps, promovendo traumatismo da face, e hábitos alimentares com dieta menos consistente, proporcionando menor desenvolvimento dos maxilares; • Incidência das Inclusões - Segundo a maioria dos autores, a incidência das inclusões é terceiros molares superiores e inferiores, caninos superiores e pré-molares inferiores; • Classificação das Inclusões - Inclusão Óssea: É caracterizado pela inclusão completa do dente no interior do tecido ósseo que o cerca de todos os lados; - Inclusão Subgengival: Ocorre quando um dente está no interior do tecido ósseo, exceto uma parte da coroa recoberto pela fibromucosa – gengiva; - Semi-Incluso: Ocorre quando o dente já rompeu a gengiva que o recobria, mas não terminou sua erupção; - Impactado: O elemento tem como obstáculo um outro elemento dentário. Indicações e Contraindicações • Indicações - Etiologia de infecções severas; - Causa de problemas periodontais; - Quando interfere na adaptação protética; - Quando desencadeia a reabsorção da(s) raiz(es) de um elemento; - Quando o elemento incluso gera apinhamento dental; - Quando está pressionando alguma estrutura nervosa – se gerar dor, e for possível fazer o procedimento sem gerar grandes problemas pós- operatórios para o paciente; - Quando está provocando cárie no 2° molar; - Provoca danos a gengiva – pericoronarite; • Contraindicações - Pacientes mais velhos quando o dente incluso não causa nenhum desconforto e não apresenta sinais ou sintomas de patologias; - Pacientes debilitados que não suportem o procedimento cirúrgico; - Quando os riscos da cirurgia superam os benefícios; - Quando há expectativa de erupção e função; - Quando o dente incluso está pressionando alguma estrutura nervosa. Diagnóstico dos Dentes Inclusos - O diagnóstico dos dentes inclusos é realizado por meio de anamnese, exame clínico e exame de imagem; • Anamnese - Por meio da anamnese, o cirurgião avalia a queixa do paciente e obtém sinais e sintomas que um dente incluso pode provocar; • Exame Clínico - O exame clínico deve ser realizado com muita atenção, de forma minuciosa e muito criteriosa, podendo-se usar de artifícios como a inspeção na palpação. O sinal mais significativo que leva a suspeita de inclusão é a ausência do dente na arcada dental, mas também a presença de infecções que acompanham a erupção dos terceiros molares, como pericoronarite, abscessos e trismos. À palpação pode-se constar, às vezes, saliência vestibular ou palatina; OBS.: Porque se pede para extrair o 1° pré- molar ao invés do 2° quando se deseja abrir espaço para movimentação ortodôntica? Pois é mais simples se fazer o tracionamento do 2° PM, uma vez que ele tem apenas 1 raiz, além disso, como o apinhamento geralmente é nos dentes anteriores, é mais fácil resolver o apinhamento retirando o 1° pré-molar. !!! Exames Complementares: Laboratoriais – hemograma, coagulograma, glicemia em jejum ou hemoglobina glicada – e imaginológicos; • Exames de Imagem - Pode-se solicitar exames como: Radiografia periapical, radiografia panorâmica dos maxilares, radiografia oclusal, tomografia computadorizada; - Os objetivos dos exames de imagem são avaliar a relação do dente incluso → com as raízes dos dentes vizinhos, com a fossa nasal e o seio maxilar, a natureza do osso envolvente, a profundidade do dente incluso no osso, a relação do dente incluso com o canal mandibular, a presença de processos patológicos, como cistos, osteítes e pericoronarite, verificar a posição vestibular ou palatina/lingual do dente incluso – técnica de Clark; OBS.: Controle de infecção → Um bom controle de infecção é essencial e para isso a correta paramentação cirúrgica e organização da mesa cirúrgica para otimização do tempo cirúrgico. Diagnóstico dos Dentes Inclusos - É muito similar ao de uma exodontia, a diferença é que numa exodontia simples, nem sempre é necessária uma osteotomia, já nos casos de dentes inclusos intraósseos – submucoso apenas faz-se a incisão – é sempre necessário a realização de uma osteotomia seguida de uma ostectomia; 1° Anestesia: A técnica varia de acordo com a região que se deseja anestesiar; 2° Incisão: Feita de acordo com a situação clínica; 3° Osteotomia e ostectomia – quando for necessária – para remoção do osso; 4° Remoção do dente; 5° Sutura; - Nas cirurgias para remoção de dente incluso, algumas considerações devem ser feitas: A cicatrização varia de paciente para paciente – alguns quadros clínicos e hábitos podem interferir – o edema é muito comum após a cirurgia – procedimento mais demorado e manipulação de uma área ampla – hematomas podem ocorrer na área afetada, os cantos da boca podem ficar ressecados – pode-se passar lubrificante ou anestésico tópico antes do procedimento – e outros dentes podem ficar temporariamente sensíveis. Cirurgia Dos Terceiros Molares Inclusos • Classificação - Existem duas classificações principais, a de Winter e a de Pell e Gregory. Elas são muito importantes, pois facilitam o planejamento, a comunicação e padronizam estudos; !!! Winter (1926): Angulação, analisa o longo eixo do dente incluso em relação ao segundo molar; - Inclusão Vertical: 38% na mandíbula e 63% na maxila. É aquela em que o molar incluso está paralelo ao longo eixo do segundo molar. De forma geral, são essas inclusões as mais fáceis de serem executadas; - Inclusão Mesioangular: 43% na mandíbula e 12% na maxila. Ocorre quando o terceiro molar está voltado para a mesial; - Inclusão Distoangular: 25% na maxila. É aquela em que o dente está voltado para distal em relação ao segundo molar; - Inclusão Horizontal: 3% na mandíbula e menos de 1% na maxila. O dente está totalmente deitado com a face oclusal, voltado para o segundo molar, estando suas raízes para distal; - Inclusão Vestibuloangular: Quando o dente está deitado, mas com sua face oclusal voltada para vestibular. Trata se de uma variação da classificação horizontal, modificando se apenas o eixo do elemento incluso, por isso, também é chamada de impactação horizontal vestibular; - Inclusão Linguoangular: Quando o dente também está deitado, mas com sua face oclusal voltada para a lingual/palatina; - Inclusão Invertida: Quando o dente incluso está de cabeça para baixo; - Inclusão Rara - fora do processo alveolar; !!! Pell e Gregory (1933): Plano Oclusal e Ramo Mandibular. Analisam a relação do dente incluso com a borda anterior do ramo ascendente mandibular e com o plano oclusal -Classe I: O diâmetro mesiodistal da coroa está completamente à frente da borda anterior do ramo mandibular. Presença de espaço; - Classe II: O diâmetro mesiodistal da coroa está cerca de sua metade coberta pelo ramo mandibular. Presença de espaço, mas ele é insuficiente; - Classe III: O diâmetro mesiodistal da coroa está localizado completamente dentro do ramo mandibular. Inexistência de espaço; - Posição A: Quando a face oclusal do dente incluso está quase ou na mesma altura da face oclusal do segundo molar; - Posição B: Quando a face oclusal do dente incluso está entre o plano oclusal e a linha cervical do segundo molar; - Posição C: Quando a face oclusal do dente incluso está abaixo da linha cervical do segundo molar; • Fatores que Dificultam a Remoção - Morfologia radicular: Comprimento da raiz, raízes separadas, curvatura da raiz; - Tamanho do folículo dentário: Existem folículos mais grossos; - Densidade do osso subjacente: Se o osso é mais ou menos calcificado; - Contato com o segundo molar inferior e ou superior; - Relação com o nervo alveolar inferior; - Natureza do Tecido de Revestimento: Tecido mole, impactação óssea parcial, impactação óssea completa. Quanto maior for o envolvimento do dente com o tecido ósseo, mais complicado é o procedimento; • Procedimento Pré-operatório - Lavagem das mãos; - Paramentação cirúrgica; - Organização da mesa cirúrgica; - Antissepsia do leito operatório; - Aposição dos campos; • Procedimento Cirúrgico - Anestesia; - Incisão tecidual e deslocamento do retalho mucoperiostal; - Osteotomia e ostectomia; - Odontossecção; - Exérese do dente impactado; - Curetagem e regularização das bordas ósseas; - Toalete da região cirúrgica – remoção do saco pericoronário e de espículas ósseas ou de dentes. Realiza irrigação farta com soro fisiológico estéril; - Sutura; !!! Há necessidade de receitar medicação pré- operatória? No geral não há, apenas em alguns casos, como pacientes com patologias cardíacas, pericoronarite, transplantados. Pode-se receitar corticoides – decadron – antibióticos; • Transtornos e Prejuízos à Saúde do Paciente - Cárie, doença periodontal, pericoronarite, reabsorção radicular do dente adjacente, cistos e tumores, razões protéticas, estar próximo ou na área que receberá radioterapia – se for indicado, deve-se remover antes do início da radioterapia, falta de espaço para erupção, falta de oclusão, razões ortodônticas para preparo de cirurgia ortognática e dor de origem desconhecida. Tratamento • Proservação - Manutenção do dente, com acompanhamento do caso para observar se ele continua sem gerar problemas para o paciente; • Tracionamento - Reposicionamento ortodôntico do dente; • Transplante - Remoção do dente incluso seguida do transplante – no lugar do 1° molar que o paciente perdeu, por exemplo; • Exodontia - Quando não há como manter o dente ou fazer outra técnica, deve-se realizar a exodontia. Segundo alguns autores, a época ideal é quando já se tem 2/3 a 3/4 radiculares formados, ou 1/3, pois isso facilita/possibilita a apreensão. Osteotomia e Odontossecção • Vertical - Inicia-se a osteotomia no sentido vertical até expor a maior convexidade do terceiro molar, podendo-se realizar ou não a odontossecção; • Distoangular - A remoção inicia-se na face vestibular, oclusal e distolingual. A odontossecção pode ser feita no sentido vertical ou removendo-se toda a coroa; • Mesioangular - Inicia no sentido vertical paralelo a raiz distal do segundo molar, segue na vestibular e distal abaixo da cervical para expor a coroa. A odontossecção é feita na porção distal ou toda coroa; • Horizontal - Corte ósseo vertical profundo para expor o colo, em seguida separar a coroa da raiz ou dividir as raízes em duas partes distintas; GERMECTOMIA E CORONECTOMIA - Germectomia: Extração do germe após os 13- 15 anos; - Coronectomia: Indicada em casos de íntimo, contato com o nervo alveolar inferior – NAI – os critérios de exclusão são → dentes com mobilidade ou com infecção ativa. Para realizar a cirurgia, é necessário se fazer um raio-x pré- operatório. Deve-se fazer a remoção da coroa do terceiro molar + 1/3 superior das raízes para que elas fiquem 3 mm abaixo das tábuas ósseas, assim ocorrerá a formação óssea acima das raízes. É necessário um raio-x no após a cirurgia e outro 6 meses após o procedimento. Complicações • Transoperatório - Deslocamento do dente para espaços tissulares ou seio maxilar; - Hemorragia imediata; - Lesão de tecidos moles, vasos, nervos e ductos salivares; - Fratura do túber, da mandíbula, ou do processo alveolar; - Fratura de dentes adjacentes, restaurações, próteses ou do instrumental; • Pós-Operatório - Equimose periorbitária; - Hemorragia tardia; - Edema e dor na região da cirurgia; - Trismo; - Infecções; - Parestesias. Cuidados Pós-Operatórios - Fazer compressas geladas sobre o local operado durante 10 minutos, com intervalos de meia hora, nos dois primeiros dias após o procedimento; - Manter uma boa higiene bucal – escovar os dentes normalmente e utilizar clorexidina 0,12%, conforme a orientação do dentista – repouso relativo nos primeiros três dias; - Alimentação líquida ou pastosa, morna ou fria por pelo menos três dias; - Evitar a exposição solar excessiva; - Manter a cabeça elevada quando deitado, e em caso de sangramento, morder uma gaze estéril por 10 minutos e trocá-la, se necessário; - Tomar os remédios conforme a prescrição e orientação e não ingerir bebidas alcoólicas, nem fumar após a cirurgia, por pelo menos três dias.
Compartilhar