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Tema 2 - Os novos modelos econômicos e a territorialidade

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13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade
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Os novos modelos econômicos e a territorialidade
Prof. Leandro Almeida
Descrição
Este conteúdo se propõe a abordar e discutir a geografia econômica
contemporânea à luz da atual ordem mundial, das novas
territorialidades e das transformações socioespaciais em curso.
Propósito
Apresentar de que modo os territórios do Brasil e de outros países têm
sido influenciados pelas mudanças na geopolítica, pela evolução
tecnológica, pelo surgimento de novos modelos de produção e pelo
neoliberalismo.
Objetivos
Módulo 1
O território, as redes geográ�cas e o
espaço em transformação
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Reconhecer de que modo o espaço, as redes e o território efetuam
relações entre si.
Módulo 2
Os novos modelos econômicos e os
rearranjos no cenário globalizado
Identificar as transformações territoriais ocorridas em função da
disseminação dos novos modelos produtivos e econômicos.
Módulo 3
O neoliberalismo – entre a
ideologia e a realidade
Comparar a atuação dos Estados nacionais, das empresas privadas e
dos indivíduos sob a égide do neoliberalismo.
Módulo 4
A ordem mundial contemporânea e
a mobilidade do capital
Avaliar os efeitos globais da ordem geopolítica atual sobre a
mobilidade do capital.
Introdução

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A expressiva evolução tecnológica iniciada na segunda metade
do século XX foi a indutora de profundas mudanças
socioespaciais e territoriais. Com efeito, a informática, a robótica,
a eletrônica e a inteligência artificial oriundas da Terceira
Revolução Industrial permitiram uma complexificação no sistema
produtivo e no capitalismo – o qual, por excelência, é um modelo
econômico extremamente adaptável.
Com isso, temos vivenciado significativas transformações nos
territórios, o que inclui novas lógicas geográficas industriais e
transformações das relações de trabalho e nos modos de
produção, bem como alterações na forma de atuação dos
Estados nacionais. Porém, para compreendermos
adequadamente esse cenário, é preciso fazer um exercício de
análise teórico-conceitual.
Por isso, ao decorrer deste conteúdo, realizaremos uma
discussão a respeito do conceito de território e de sua relação
com as redes geográficas. A partir disso, será possível
compreender melhor o funcionamento, as características e as
consequências do modelo produtivo toyotista, do neoliberalismo
e da geopolítica contemporânea, os quais serão abordados de
modo mais específico depois.
Por agora, sugerimos que você se atenha ao texto, buscando
sempre estabelecer alguma correlação entre os fenômenos aqui
descritos. Afinal, o mundo não pode ser compreendido apenas
pela soma de suas partes: é preciso também considerar as
relações entre elas.
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1 - O território, as redes geográ�cas e o espaço em
transformação
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer de que modo o
espaço, as redes e o território efetuam relações entre si.
Vamos começar!
O espaço geográ�co
Neste vídeo, você conhecerá mais sobre os debates sobre espaço
geográfico e suas abordagens.
O espaço geográ�co e os

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objetos arti�ciais
Grande parte dos seres humanos que habitam a Terra consegue
perceber, com alguma facilidade, que o mundo em que vivemos está
constantemente em transformação. Isso ocorre em função de diversos
fatores, que, aliás, mereceriam muitas páginas de texto e análise.
Porém, em síntese, é possível dizer que tais mudanças ocorrem graças
a ações do homem e da natureza – e, é claro, da interação entre ambos.
Veja alguns exemplos:
Ação da natureza
A formação de uma grande cadeia de montanhas é um processo
natural.
Ação do homem
A criação de uma cidade é fruto da ação humana.
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Ação entre ambos
A retirada de recursos naturais de uma montanha para a
construção da cidade é interação entre ambos.
O exemplo da retirada dos recursos naturais presentes em uma
montanha para a construção de cidades é apenas um, entre infinitos
exemplos, de que o homem está interagindo com a natureza o tempo
inteiro.
Agora reflita um pouco sobre a sua vida e a sua rotina:
Re�exão
Quantos dos objetos que você utiliza existem na natureza e quantos
deles são o resultado da ação humana? Pense ainda na comida que
você compra no supermercado. Ela é industrializada ou in natura? E tudo
aquilo que está dentro da sua casa e ao seu redor nesse momento?
Trata-se de objetos naturais, ou seja, encontrados “prontos” na natureza,
ou são produtos que utilizaram matéria-prima e foram transformados
em mercadorias?
Acredite, essa reflexão proposta não é à toa: seu objetivo é fazer com
que você perceba que nossa vida é cada vez mais marcada pela
presença e pelo uso de objetos artificiais, isto é, mercadorias
produzidas por meio da ação do homem sobre a natureza. Nesse
sentido, aquilo que um dia era apenas “natureza” acaba se
transformando em recurso natural, uma vez que passa a ter valor
comercial.
Tal análise já foi realizada por diversos intelectuais, como o geógrafo
brasileiro Milton Santos. Segundo ele, a relação do homem com a
natureza ocorre por meio das técnicas, que são o conjunto de
instrumentos e relações com os quais os seres humanos realizam suas
atividades e, ao mesmo tempo, criam e transformam o espaço
geográfico.
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Como cada sociedade constrói e transforma o espaço
de acordo com as suas necessidades, valores e
técnicas disponíveis, é possível afirmar que o espaço
também revela o grau de desenvolvimento dos meios
técnicos de cada sociedade.
Além disso, Santos pontuou que, ao longo do tempo, o homem passou a
dispor de cada vez mais técnicas, e com isso, desenvolveu a capacidade
de transformar a natureza em um ritmo muito mais acelerado.
As técnicas e as redes
geográ�cas
Um importante marco histórico da mudança nas relações entre o
homem e a natureza foi a Revolução Industrial do século XVIII, ainda
que antes dela já existissem algumas técnicas nas quais as máquinas
agissem sobre a natureza. Contudo, foi esse o momento em que a
dependência do homem em relação ao uso de instrumentos mecânico-
artificiais se intensificou e a velocidade de produção e substituição de
objetos técnicos também cresceu, ainda que de forma muito desigual,
pelos diferentes locais do mundo.
Para entender melhor esse assunto, vamos conhecer três grandes
nomes da Geografia:
Milton Santos
Um dos grandes nomes da renovação da geografia em sua
dimensão humana e social, sendo referência no Brasil e no
mundo.
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David Harvey
Um dos grandes nomes das novas linhas de geografia urbana,
área na qual o britânico se torna um dos cientistas humanos mais
citados no mundo.
Rogério Haesbaert
Geógrafo humano que introduziu dinâmicas de território e região
em práticas humanas.
Segundo a visão deles e de tantos outros geógrafos de renome, o
momento no qual as transformações espaciais definitivamente
passaram a acontecer em uma velocidade extremamente rápida se deu
no contexto da grande onda de inovações tecnológicasocorrida entre os
anos 1960 e 1970. Afinal, em virtude do surgimento da informática, da
robótica e da fibra ótica, assim como do desenvolvimento de novos
materiais, foi possível acelerar de maneira brutal o fenômeno da
globalização por meio da intensificação dos fluxos de mercadorias,
capitais, pessoas e informações. Com isso, as transformações
espaciais puderam ocorrer em uma velocidade cada vez maior.
No momento atual, os avanços tecnológicos ocorrem e produzem
objetos artificiais cada vez mais eficazes; ao mesmo tempo, esses
mesmos objetos se tornam ultrapassados e são descartados
rapidamente graças ao surgimento de novas tecnologias. Em função
disso, o consumo de recursos naturais, a produção de resíduos e a
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transformação do espaço geográfico se dão em uma velocidade jamais
vista.
Essa transformação inclui a expansão das redes geográficas, isto é, as
redes de transportes, urbanas e digitais, entre outras. Tais redes
técnicas são capazes de aproximar lugares de diferentes escalas
geográficas, sejam elas globais, regionais ou locais.
Tais conexões permitem não apenas o fluxo de produtos, pessoas e
capitais, mas também de conhecimento, valores culturais e ideologias.
Com a globalização, pode-se afirmar que as redes geográficas
ganharam um alcance mundial, mesmo que elas sejam desigualmente
utilizadas.
Exemplo
Alguém com carro próprio pode se deslocar muito mais facilmente do
que aqueles que não possuem veículo ou que vivam em locais inóspitos,
distantes dos grandes centros urbanos. Do mesmo modo, quem possui
acesso a celulares ou computadores com internet de alta velocidade
tem à sua disposição muito mais instrumentos para se integrar a essas
redes do que os que são marginalizados digitalmente.
Em suma, o acesso e o poder de difusão dessas redes dependem das
diferentes hierarquias nas sociedades, constituídas, por sua vez, pelo
poder econômico ou político. Assim, quem possui mais recursos ou
poder tem uma maior possibilidade de usufruir da estrutura das redes
geográficas.
O território e o poder
Por fim, mas não menos importante, todo esse cenário de avanços
tecnológicos e de mudanças na sociedade tem promovido uma
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profunda transformação na lógica dos territórios, seja na escala
nacional ou global. Para compreender isso, é preciso ter clareza a
respeito do que se trata efetivamente um território.
Comentário
De acordo com uma definição geral elaborada pelo geógrafo Marcelo
Lopes de Souza, o território pode ser compreendido como parte do
espaço geográfico definida e delimitada por e a partir de relações de
poder. Nesse sentido, para compreender um território, é importante
analisar quem domina, governa ou influencia esse espaço – e como isso
é realizado.
Por muito tempo, o território foi tratado como a porção do espaço sobre
a qual o Estado exerce ou busca exercer sua soberania. E é verdade que
essa dominação pode ser realizada pelas ações de um governo
representante de um espaço. Pensemos em alguns exemplos.
Como representante do Estado nacional, o governo de um país é
a autoridade com a prerrogativa de permitir ou não a entrada de
determinadas mercadorias no território nacional. Sempre que
alguém chega do exterior, é preciso passar por áreas de
fiscalização alfandegária e checagem de documentos, as quais
são normalmente realizadas pela Polícia Federal. Outra situação
em que fica claro o poder de um governo sobre seu território é a
impossibilidade de aviões estrangeiros sobrevoarem um país
sem a autorização para que isso ocorra – do contrário, uma
situação do tipo pode acabar em um conflito bélico.
Contudo, ainda que haja muita discussão a respeito das definições
sobre o conceito de território, é inegável que o governo não é o único a
exercer poder sobre porções do espaço geográfico. Aliás, esse controle
sobre os territórios tem sido cada vez mais realizado pela força de
corporações ou influências estrangeiras.
De modo corriqueiro, as grandes empresas transnacionais
pressionam os governos a aprovar leis nacionais que as
beneficiam. Também é comum haver empresas patrocinando
Governo 
Grandes empresas 
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ações militares em outros países desde que isso as favoreça
econômica ou comercialmente.
Por isso, o poder de um agente privado sobre o território pode ser
exercido não só pela violência e pela força bruta ou bélica, mas também
pelo poder do dinheiro e da influência política. Tal poder ainda pode ser
exercido localmente ou à distância por intermédio de modernas
tecnologias de comunicação e informação.
Um e-mail ou qualquer outra mensagem rápida enviada por um alto
executivo de uma grande corporação transnacional situada nos Estados
Unidos pode determinar às dezenas de filiais espalhadas pelo mundo
que aumentem ou reduzam a produção, o que, por sua vez, pode
implicar o corte de milhares de funcionários e o fim abrupto da renda de
milhares de pessoas – o que vai trazer impactos diretos e indiretos à
economia e à sociedade de localidades espalhadas pelo mundo inteiro.
No entanto, a discussão que fizemos até agora pode criar a impressão
de que as transformações territoriais ocorrem apenas na escala macro,
ou seja, por meio de decisões de grandes agentes da sociedade. Mas
isso não é verdade.
O que ocorre é o seguinte: na prática, o território funciona como um
tabuleiro de xadrez onde algumas peças de fato têm mais poder e mais
importância, embora, em alguma medida, todas as peças possam
promover transformações no cenário do jogo, ainda que elas pareçam
pequenas.
Exemplo
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Ao fazer um vídeo de protesto contra uma lei criada por um governo, um
indivíduo consegue fazer a mensagem chegar a milhões de pessoas por
meio de uma rede social. Essa mensagem é capaz de gerar reações
diversas e um apoio maciço que faça com que o governo reveja a lei.
Outro caso que podemos citar é o de facções criminosas, sejam elas de
traficantes varejistas de drogas ou de milicianos. Essas pessoas
efetuam o comando de pequenos territórios (do ponto de vista da escala
geográfica); no entanto, juntas, elas se mostram capazes de ter um
grande efeito sobre a circulação e o cotidiano de quem mora nesses
locais.
O território, portanto, precisa ser analisado a partir de múltiplos
aspectos. Essa multiplicidade inclui:
Territorialidades e
desterritorialização
De todo modo, o território acaba por ser inegavelmente uma projeção
espacial das relações de poder. Essas relações, contudo, não são fixas.
Pelo contrário: elas podem ser extremamente voláteis. Vamos ver um
exemplo?
 A ação do poder público e do poder
privado.
 As ações legais e ilegais.
 As mais variadas escalas
geográ�cas, desde a local até a
global.
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Grupos de traficantes invadem uma comunidade e tomam o
poder que antes pertencia a outra facção. Quando isso ocorre, o
território muda de mãos e o poder passa a ser exercido por
outros. Nesse momento, é possível que você esteja imaginando
que nada mudará; afinal, o local seguirá dominado por
traficantes. Contudo, a realidade não é essa.
O novo grupo criminoso pode estabelecer outro conjunto de
regras para os moradores locais, como uma permissão ou não
para a visita de pessoas que morem em locais dominados por
facções rivais e a autorização ou não para a circulação em
alguns espaços depois de determinadohorário. A proibição a
roubos na comunidade e a existência de um “tribunal” próprio
para julgamento de crimes também é algo recorrente.
O exemplo citado revela muito mais do que uma mera mudança a
respeito de quem exerce o poder. Na prática, o que aconteceria no caso
hipotético apresentado seria:
Reterritorialização
Corresponde à
reconstrução da lógica
territorial. Assim, por
exemplo, quando da
chegada dos novos
Desterritorialização
Ocorre quando
determinados grupos
são obrigados a ir
embora com a chegada
dos novos “donos do
Exemplo 

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grupos de poder novas
regras sociais são
aplicadas ao território.
poder”, perdendo,
portanto, o direito a
utilizar um território que
antes era seu.
Nesse momento, seria interessante que você fizesse um esforço para
imaginar de que modo os processos de territorialização e
desterritorialização poderiam ocorrer em outras escalas e por meio de
outros agentes. No passado, um exemplo de desterritorialização a ser
citado envolve o destino das populações ameríndias, cujos indivíduos
remanescentes hoje se encontram confinados em reservas ou até
realocados centenas de quilômetros longe de suas áreas tradicionais.
Na atualidade, o mesmo fenômeno de desterritorialização ocorre com
povos originários em território brasileiro, cujas terras frequentemente
são objeto do interesse de mineradores, grileiros e outros grupos
dominantes. Remoções de favelas, despejo de famílias sem teto e
expulsão de vendedores ambulantes são mais alguns dos muitos
exemplos de desterritorialização.
Atenção!
Pode-se falar na desterritorialização como um fenômeno em que se
promove o desenraizamento de indivíduos e de grupos sociais inteiros
ou até mesmo a privação do acesso a recursos e riquezas antes
disponíveis a eles.
Façamos agora um exercício importante de reflexão a partir de um
exemplo relativamente comum: a remoção de uma comunidade carente
em uma área central de uma grande metrópole brasileira. Nesse caso,
nos parece evidente que a população despejada será aquela a sofrer
com a desterritorialização. Contudo, isso não explica o processo inteiro.
Quem seria o responsável por esse processo?
Uma análise apressada poderia nos fazer imaginar que a
responsabilidade seja do Estado. Sim, essa é uma verdade parcial, pois,
nesses casos, em geral, é o governo (municipal, estadual ou federal) que
determina a derrubada dos imóveis e a retirada dos moradores.
Mas é importante ir além e lançar as seguintes questões:

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Qual será a nova utilização do
imóvel?

Quem se bene�ciará com a
construção do novo
empreendimento?

A quais interesses o despejo dos
moradores atende?
Seria leviano oferecer respostas conclusivas, já que se trata de um
exemplo hipotético. Porém, em grande parte das situações em que um
caso semelhante ocorre, a análise dos agentes produtores do espaço
envolvidos nos mostra que existe um interesse de múltiplos atores,
como empreendedores imobiliários, proprietários fundiários e grandes
corporações – muitas delas, estrangeiras.
Nesses casos, a decisão pela remoção da favela não é fruto exclusivo
da ação de um Estado Nacional. Muitas vezes, o que ocorre, na verdade,
é uma transformação espacial influenciada por agentes muito mais
poderosos e que atuam em escala global.
Comentário
Trata-se de empresas ou indivíduos que, situados em grandes
metrópoles globais, fazem valer seus interesses no mundo inteiro,
levando essa mensagem para os governos locais por meio de reuniões
on-line ou mensagens à distância – ambas possíveis em virtude do
avanço tecnológico.
Aliás, para a geógrafa Sandra Lencioni, essa é a lógica que explica em
grande parte o porquê de existir um ritmo mais acelerado da criação de
infraestruturas voltadas para servir diretamente à reprodução do capital
(como rodovias e redes de fibra ótica) do que de escolas, hospitais e
saneamento básico.
Desse modo, nota-se que a produção do espaço e do território ocorre
não somente em função de interesses e decisões locais. Quase sempre,
há também decisões verticais, ou seja, oriundas de instâncias
superiores, como grandes empresas transnacionais, bilionários do
mercado financeiro ou organizações supranacionais (caso do FMI).
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Nesse sentido, é fundamental enfatizar que, para que tal fenômeno
passasse a ocorrer com a intensidade que se vê hoje em dia, o avanço
técnico foi essencial. Com isso, aprofundaram-se a internacionalização
das cidades e as decisões sobre elas.
Muitas das decisões sobre o que ocorre no espaço urbano
contemporâneo, portanto, não buscam necessariamente atender aos
interesses locais ou nacionais, e sim aos anseios daqueles que
possuem grande poder e influência sobre os territórios nacionais, ainda
que não estejam neles. Com efeito, processos como a gentrificação e a
consequente desterritorialização dos mais pobres acabam se
agravando, enfraquecendo as relações horizontais de poder
anteriormente existentes.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Os conceitos geográficos são instrumentos importantes para a
compreensão da realidade. O conceito que trata da ação estatal e
de sua soberania, bem como das políticas de planejamento e da
projeção geográfica do poder político dentro de um Estado-nação, é
o de
A região
B rede
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Parabéns! A alternativa C está correta.
Território é o conceito que remete ao espaço de poder e domínio.
Os demais conceitos são outras categorias de análise: região é um
recorte do espaço; rede, a interação do espaço. Já o espaço é
formado de fixos e fluxos, sendo definido pela interação da
sociedade humana com o meio, enquanto o lugar é uma fração do
espaço marcada pelas relações de afetividade e pertencimento.
Questão 2
(Unicamp, 2020 – adaptada) “A sociedade em rede se caracteriza
pela rapidez do amento da densidade de fluxos e da escala de
circulação. Seu surgimento está relacionado ao desenvolvimento
dos meios de transporte, das comunicações e da transmissão de
energia, característica essencial da organização espacial da
sociedade moderna – uma sociedade umbilicalmente ligada à
evolução da técnica, à aceleração das interligações e da
movimentação das pessoas, de objetos e de capitais sobre os
territórios.”
MOREIRA, R. Da região à rede e ao lugar: a nova realidade e o novo
olhar geográfico sobre o mundo. Etc... espaço, tempo e crítica. n. 1.
v. 3. 2007. p. 57.
No mundo contemporâneo, as redes configuram uma nova forma
de organização geográfica das sociedades, porque:
C território
D espaço
E lugar
A
padronizam regiões periféricas e centrais em virtude
da difusão das tecnologias para sociedades antes
pouco integradas geograficamente.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
Não há homogeneização dos espaços, assim como não se anula a
importância dos territórios ou das fronteiras. As redes são sistemas
controlados pelo poder. O meio técnico-científico informacional
constrói as bases da globalização, gerando a sociedade em rede, a
economia informacional e a cultura da virtualidade, todas bases
para a gênese de um novo mundo. Dessa forma, as redes
constroem uma paisagem compreendidacomo materialidade
resultante desse processo histórico.
B colocam todos os lugares em conexão, garantem
fluidez ao processo global de produção e
homogeneízam os espaços.
C
anulam a importância dos territórios e fronteiras
nacionais na articulação da geopolítica mundial,
reconfigurando a geografia do poder.
D
constituem sistemas usados livremente pelas
sociedades em busca de projetos emancipatórios,
ampliando os conflitos e as disputas políticas.
E
sobrepõem-se, na escala mundo, às configurações
regionais do passado, impondo um novo
funcionamento reticular e hierárquico aos territórios.
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2 - Novos modelos econômicos e rearranjos no
cenário globalizado
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as transformações
territoriais ocorridas em função da disseminação dos novos modelos
produtivos e econômicos.
Antes de entrar nos modos de produção tem um conceito visto no
módulo anterior que serão importantes para compreender os debates
que você verá. Vamos entender, com ajuda do professor Leandro sobre
território e territorialização.
Territorialização e
desterritorialização
Flexibilização do trabalho e a
geogra�a

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É diante desse processo que passamos a lidar como a economia entre
em movimento, e por isso vamos a modos de produção fordistas e
toyotistas.
Do modo de produção
fordista ao toyotista
As décadas de 1950 e 1960 foram intituladas como um “período de
ouro” para o capitalismo em virtude das significativas taxas de
expansão média da economia global. No entanto, o que se viu a seguir
foi uma grande mudança do contexto.
Em parte, tais mudanças foram resultado das próprias características
do modelo industrial dominante até a época, o fordista, que estava
baseado na fabricação de mercadorias padronizadas e com longos
ciclos de vida, o que tende a desestimular o consumo no médio prazo.
Além disso, as pressões proletárias e sindicais resultavam em uma
progressiva expansão salarial.
Por um lado, isso era importante por garantir, talvez pela primeira vez na
história, um momento de melhorias substanciais nas condições de vida
dos trabalhadores. Entretanto, gerava uma ameaça aos lucros dos
capitalistas, o que se concretizou efetivamente com a crise do petróleo
de 1973. Afinal, a subida dos preços dele fez com que os custos com a
produção e os estoques se tornassem rapidamente muito maiores.
“Bombas de gasolina fechadas” – um posto de gasolina americano fechado durante o embargo
ao petróleo em 1973.
Nesse contexto, houve um movimento em prol da adoção de mudanças
na forma de produção, fazendo com que, entre as décadas de 1960 e
1970, se expandisse pelo mundo um modelo de produção criado no
Japão e que ficaria conhecido como toyotismo. Também chamado de
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pós-fordismo, esse novo sistema produtivo buscava reduzir os custos
da produção em geral, focando principalmente a:
Porém, para analisar melhor essas mudanças, é importante entender
adequadamente como os modelos de produção fordista e toyotista se
diferenciam. Uma comparação possível entre os dois modelos
produtivos pode ser feita com o uso de duas palavras: rigidez e
flexibilidade.
A rigidez fordista se manifesta no:

Processo produtivo em si com a produção de mercadorias
padronizadas, a manutenção de grandes estoques e a realização de
atividades laborais repetitivas.

Campo espacial em virtude da lógica de concentração territorial das
indústrias, cujo padrão de localização é conhecido como economia de
aglomeração.
Ter a produção industrial em uma área geograficamente limitada se
tratava, afinal, de uma forma de reduzir custos logísticos e aumentar a
lucratividade, considerando que, à época, os transportes ainda não eram
tão rápidos e eficazes.
 Eliminação de estoques
 Diminuição dos aluguéis
 Redução dos gastos com salários
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Por outro lado, a flexibilidade é uma palavra-chave para compreender o
pós-fordismo, pois tal aspecto se manifesta por meio de:
 Mundo do trabalho
 Lógica espacial (graças a processos
como a desconcentração industrial
e a fragmentação produtiva)
 Próprios produtos (diversi�cados
em vez de padronizados)
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Por isso, cabe investigar melhor de que modo o atual modelo de
produção toyotista tem provocado transformações territoriais que
afetam a produção e o mercado de trabalho. Falaremos mais sobre isso
na próxima seção.
Flexibilização da produção e
da localização espacial
Uma das diferenças mais marcantes entre o modo de produção fordista
e o modo flexível está no abandono da ideia de padronização das
mercadorias, a qual deu lugar ao conceito de produção personalizada.
Apoiada nos avanços tecnológicos da época, a indústria passou a
ampliar as opções de modelos e cores de produtos, além de fazer
lançamentos de novas mercadorias com intervalos de tempo mais
curtos.
Loja da Apple em Nova Iorque, EUA.
Essa estratégia induz ao que se chama de obsolescência perceptiva, ou
seja, incentiva-se o consumidor a desejar novas mercadorias o tempo
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inteiro, o que o leva a trocar um produto ainda em condições de uso por
um novo. Outra marca da indústria atual é a tentativa de diminuição
controlada do tempo útil de vida das mercadorias, estratégia
denominada obsolescência programada.
Isso gera uma equação complexa:
É preciso fabricar uma mercadoria que seja durável o
bastante para que o consumidor não perca a confiança
nela, mas que quebre rápido o bastante para que ele
compre outra a seguir.
Entre essas transformações espaciais, podemos afirmar que a evolução
dos transportes materiais e imateriais permitiu uma ampliação da
fluidez e do dinamismo nos deslocamentos. Com isso, as indústrias
ganharam novas possibilidades geográficas, sem haver a necessidade
de elas se manterem presas à velha dinâmica metropolitana.
O resultado disso é que muitos antigos distritos industriais entraram em
decadência, já que fábricas situadas nessas áreas migraram em busca
de vantagens comparativas rumo a regiões sem tradição fabril e, por
isso mesmo, sem mão de obra organizada nem estruturas sindicais.
Outra importante transformação nos territórios se deu em virtude do
aprofundamento da fragmentação produtiva: com ela, as empresas
deixaram de concentrar a fabricação de produtos em um só espaço,
passando a “dividir” suas empresas em setores espacialmente
separados.
Criava-se, desse modo, o conceito de “fábrica global”, cuja produção
industrial é fragmentada por diferentes países e integrada por meio de
redes técnico-geográficas. Nessa lógica atual, os setores responsáveis
pelo desenvolvimento de alta tecnologia se situam em regiões centrais.
Exemplo
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Tecnopolos presentes em áreas dos Estados Unidos e em países
europeus.
Nesses espaços, a presença de centros de pesquisa e universidades
garante a vantagem comparativa da mão de obra qualificada, que é
responsável pela produção de tecnologia. Já os segmentos de produção
que ainda exigem grandes contingentes de trabalhadores são
deslocados para países onde o custo da mão de obra é baixo, como é o
casode Bangladesh, Vietnã e outros territórios situados entre o Sul e o
Sudeste Asiático. Nesses países, além dos baixos salários pagos, as
empresas costumam economizar com incentivos fiscais e leis
ambientais pouco rígidas.
Trabalhadores em fábrica de roupa em Gazipur, Bangladesh.
Como apontamos, outra importante característica da flexibilidade do
modelo toyotista envolve abandonar a produção em massa e realizar
uma produção por demanda e diversificada, com mais variedade de
modelos de mercadorias disponíveis ao consumidor.
Graças a isso, a necessidade de grandes espaços para estoques deixou
de ser uma questão fundamental e a produção passou a ser baseada no
just in time, em que a matéria-prima só chega ao local de produção na
hora de ser utilizada no processo produtivo. Não há mais, portanto, a
necessidade de grandes fábricas, o que permite uma redução de custos
com terrenos, aluguéis e impostos. Ademais, pode-se utilizar menos
mão de obra e ter mais flexibilidade na hora de escolher o local de
instalação da fábrica.
Em virtude disso, o rígido controle feito pelos governos de
características keynesianas deixou de ser possível. Tais governos
seriam, dali em diante, pressionados a abandonar a visão
desenvolvimentista e a adotar práticas neoliberais.
Comentário
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Podemos dizer que os Estados nacionais passaram a ser emparedados
pelos interesses privados, que os obrigavam a intervir menos, sob a
pena de sofrer com a desterritorialização de suas indústrias nacionais,
as quais agora poderiam migrar para outros países. Discutiremos isso
de forma mais desenvolvida nas próximas seções.
Com efeito, a desconcentração industrial se tornou um fenômeno cada
vez mais comum, incentivando, como consequência dela, a expansão de
outro processo: a transnacionalização de empresas. Nesse processo, as
filiais e os produtos se prestam não apenas a levar lucros para a matriz,
mas também a escoar os valores culturais e a ampliar a dominação dos
países hegemônicos sobre aqueles de menor desenvolvimento
tecnológico.
Flexibilização do trabalho
Entre os anos 1950 e 1960, durante o auge do período fordista, a
expansão das atividades industriais, atrelada à necessidade de
utilização de muitos trabalhadores nas fábricas, promoveu o surgimento
de uma “sociedade de pleno emprego”. Afinal, o baixo grau de
automação fabril e a especialização dos trabalhadores em uma ou
poucas tarefas, somados à produção em massa de mercadorias,
acabavam por exigir grandes contingentes de mão de obra.
Comentário
Na época, as taxas de desempregos eram baixas, o que reduziu o
exército industrial de reserva e permitiu o aumento da capacidade de
negociação de trabalhadores e sindicatos com os patrões. Nesse
contexto, o proletariado vivenciou uma fase de elevação no padrão
salarial e ganhos trabalhistas.
Contudo, a elevação dos custos médios de produção entre os anos 1960
e 1970 fez com que, dentro de uma lógica capitalista, houvesse a
criação de estratégias para reduzir os custos com a mão de obra e
garantir a manutenção dos lucros.
Com o avanço tecnológico, houve uma automação do processo
produtivo, o que reduziu a demanda por trabalhadores e criou um tipo de
desemprego conhecido como estrutural. Resultado: as vagas de
emprego restantes passaram a ser disputadas por uma quantidade
maior de indivíduos.
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Desse modo, as empresas ficavam em uma posição ainda mais
privilegiada quanto à seleção de seus funcionários. Não se tratava mais
somente de uma questão relacionada à assimetria de poder político e
econômico entre patrões e empregados. A questão numérica passou a
ser ainda mais relevante: havia poucos empregos para muitos
trabalhadores.
Em virtude dessa posição privilegiada (e da necessidade, em algumas
situações, de uma mão de obra capaz de operar máquinas modernas),
crescia a exigência por trabalhadores cada vez mais qualificados e que
efetuassem múltiplas tarefas, mesmo que isso não implicasse
aumentos salariais. Ou seja, passou a ocorrer uma flexibilização das
relações trabalhistas.
Comentário
Segundo análises mais otimistas, podemos entender que o modelo
toyotista criou novas possibilidades para o trabalhador, dando a ele a
oportunidade de atuar sem horários rígidos ou amarras trabalhistas – e,
de certo modo, existe alguma verdade nessa argumentação. Isso é
válido especialmente para alguns poucos segmentos de trabalhadores
mais qualificados, que passaram a ganhar flexibilidade e autonomia no
serviço, podendo até optar por abrir mão de vínculos trabalhistas
convencionais.
Contudo, o fato é que houve uma precarização das condições médias de
trabalho, especialmente para a grande maioria dos trabalhadores de
baixo grau de qualificação. Esse grupo perdeu garantias trabalhistas,
ficando mais vulnerável ao desemprego, à informalidade e à
superexploração.
Por isso mesmo, é possível dizer que há uma crise no mundo do
trabalho em curso desde os anos 1980. Essa crise passa pela grande
transformação ocorrida no próprio mercado: até meados do século XX,
havia o predomínio do emprego formal e a força da representação
sindical e das negociações setoriais, além da associação entre a
identidade dos cidadãos e sua ocupação profissional.
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Há décadas, porém, a evolução tecnológica tem feito aumentar o
desemprego estrutural, provocando o lento fim dos empregos
tradicionais e o esvaecimento das fronteiras entre o trabalho e o não
trabalho. Além disso, os dispositivos tecnológicos e as redes técnicas
vêm propiciando o surgimento de novos modelos de trabalho e de
exploração de serviços, o que pode provocar uma nova onda de
eliminação de empregos e de fragilização nas relações trabalhistas.
Entregador de comida de aplicativo.
Parte dessa nova lógica tem sido chamada de uberização, que consiste
no trabalho por demanda, em que não há vínculo empregatício e direitos
trabalhistas. Afinal, as empresas se apresentam apenas como
fornecedoras da tecnologia de intermediação de serviços, não
assumindo, com isso, nenhuma responsabilidade trabalhista em relação
aos trabalhadores – chamados não de funcionários, e sim de
colaboradores ou parceiros.
No médio prazo, espera-se que um número crescente de profissões seja
facilmente substituído por algoritmos, robôs e outras tecnologias
digitais. A tendência disso é eliminar especialmente os empregos de
média qualificação, fazendo com que o mercado de trabalho seja
dominado por dois segmentos extremos:

Os trabalhadores altamente
quali�cados

Os trabalhadores de baixa
quali�cação
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Em países com alto desemprego, como o Brasil, por exemplo, a tábua de
salvação de milhões de pessoas no mercado de trabalho tem sido esta:
atuar como motorista de aplicativo. Porém, como frisamos há pouco,
aplicativos de transporte geridos por algoritmos têm um modelo de
negócio em que os motoristas sequer são seus funcionários.
Por um lado...
...existe, com isso, a
liberdade aparente de
se trabalhar quando e
quanto quiser.
Por outro lado...
...tal fator muitas vezes
se materializa em
jornadas intermináveis
e em uma virtual
ausência absoluta de
direitos trabalhistas em
casos de acidentes,
doenças, incapacidades
e outros problemas.
Desse modo, podemos dizer que a uberização é marcada não somente
pela ultraflexibilização do trabalho, mas também pela possibilidade
concreta de precarização das condições trabalhistas.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
O modelo de produção industrial denominado toyotismo passou a
ser dominante ao longo das últimas décadas, modificando
profundamente a estrutura da indústria global. Uma de suas
características mais importantes é a (o):
A linha de produção padronizada.
B desterritorialização da produção.
C uso de um sistema de estoques.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
O toyotismo prioriza a produção conforme a demanda do mercado
consumidor, a não formação de estoques excessivos, funcionários
trabalhando em equipe e produtos com melhor qualidade e em
estágios mais sofisticados, além da personalização dos produtos
conforme o desejo do cliente. Como resultado da diminuição das
fábricas e das novas possibilidades ofertadas pelas tecnologias, a
desterritorialização produtiva se tornou uma realidade.
Questão 2
“No evento ‘O Regresso da Indústria’, ocorrido no último dia 24 de
março, especialistas e decisores do setor foram unânimes quanto a
uma inevitável escalada de preços dos produtos, fruto da crise
energética e dos obstáculos nas cadeias de abastecimento.
‘Incerteza’ e (novamente) ‘resiliência’ serão as palavras de ordem
para este ano no setor. Para Raúl Magalhães, presidente da APLOG,
são previsíveis três impactos na indústria: ‘a crise energética, que
trará pressão na produção das matérias-primas, levando a uma
inevitável escalada de preços’; e, por fim, ‘as consequências que
estão a derivar do isolamento de zonas geográficas e que têm
obrigado à alteração de rotas marítimas e aéreas’. Por tudo isso, o
executivo considera que é imperativo uma mudança de
mentalidade. ‘Mais do que pensar no just in time, é mais importante
adotar uma mentalidade de just in case’, ou seja, ‘ter stocks, hoje, é
uma segurança e faz todo o sentido termos planos alternativos no
nível de stocking’.”
COSTA, A. Indústria enfrenta contexto de incerteza. “Mais do que
pensar no ‘just in time’, é importante adotar uma mentalidade de
‘just in case’”. Hipersuper. Publicado em: 1. abr. 2022.
Em tempos de dificuldade de circulação de fluxos globais em
virtude do cenário pandêmico, a lógica da eliminação de estoques e
da fábrica global é afetada. Sobre esse tema, identifique a seguir o
modelo de produção e o respectivo contexto em que o sistema just
in time surgiu.
D automação e aumento da mão de obra.
E utilização de distritos industriais tradicionais.
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Parabéns! A alternativa C está correta.
O just in time é uma modalidade de produção historicamente
recente que surgiu após a Terceira Revolução Industrial. Ele
costuma ser adotado por empresas de alta tecnologia do setor
industrial de serviços e comércio, a exemplo do setor de softwares
para computadores, sendo caracterizado pela formação de baixos
estoques de mercadorias, pela produção conforme a demanda e
por uma elevada personalização dos produtos. No just in time, os
trabalhadores costumam ser mais qualificados e flexíveis, isto é,
executam variadas funções, sendo o oposto das regras do
taylorismo. A transnacional japonesa Toyota foi a precursora do
toyotismo, no qual se adotam menos estoques de produtos que o
fordismo e a produção é realizada por equipes de trabalhadores que
dominam a totalidade da fabricação de determinado produto. O
resultado disso é a criação de produtos com melhor qualidade e
competitividade no mercado externo.
A Fordismo – pós-Segunda Guerra Mundial.
B Taylorismo – Terceira Revolução Industrial.
C Toyotismo – Terceira Revolução Industrial.
D Volvismo – meio científico-informacional.
E Neoliberalismo – Quarta Revolução Industrial.
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3 - O neoliberalismo – entre a ideologia e a
realidade
Ao �nal deste módulo, você será capaz de comparar a atuação dos Estados
nacionais, das empresas privadas e dos indivíduos sob a égide do
neoliberalismo.
O avanço tecnológico e a
mobilidade geográ�ca
Como comentamos anteriormente, a evolução tecnológica espetacular
iniciada na segunda metade do século XX foi a indutora de profundas
transformações socioespaciais e territoriais. E o que queremos enfatizar
nesse momento é o quanto a relação entre os Estados nacionais e os
seus respectivos territórios foi alterada em virtude do progresso da
tecnologia.
Entre tais transformações mais significativas, destaca-se a mudança na
concepção do Estado em relação ao seu modo de agir, fator que ocorreu
em função de:

Pressões ideológicas

Realidade concreta
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Tratemos dessas duas questões a seguir.
Em primeiro lugar, deve ficar claro que, com o avanço dos transportes e
das telecomunicações, as empresas ganharam muito mais mobilidade
geográfica e opções de locais para se instalar. Até então, uma
organização era induzida a se instalar nas proximidades de suas fontes
de matéria-prima ou de seu mercado consumidor.
Exemplo
Uma empresa cujo objetivo fosse produzir mercadorias para vender aos
habitantes dos Estados Unidos teria muitas dificuldades logísticas caso
instalasse sua unidade de produção em território chinês. Assim, por
mais que houvesse na China e em outros países do mundo periférico
mão de obra barata e custos menores em geral, o deslocamento
geográfico das mercadorias seria caro e lento demais.
Contudo, o entrave técnico desse exemplo praticamente deixou de
existir desde as últimas décadas do século XX. Há algum tempo, já é
possível instalar unidades de produção em locais distantes e comandar
o que se fabrica por lá à distância, utilizando, para tal, os modernos
sistemas de telecomunicações.
Do mesmo modo, pode-se comprar mercadorias fabricadas na China e
recebê-las no Brasil em pouco tempo e a um custo acessível graças ao
excepcional progresso dos sistemas de transportes. Com isso, as
empresas – e, em especial, as grandes corporações, com muito mais
dinheiro e produção em escala – passaram a poder escolher em quais
territórios iriam instalar suas unidades de produção para aproveitar as
vantagens oferecidas.
Consequentemente, passou a haver um verdadeiro “leilão”: as
corporações submetem os Estados nacionais a uma “guerra fiscal” e,
com isso, conseguem isenção de impostos, doações de terrenos e uma
série de outras vantagens locacionais. Isso tudo tem promovido uma
grande desconcentração industrial ao longo das últimas décadas,
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fazendo com que os tradicionais espaços fabris vejam suas antigas
fábricas fecharem ou migrarem para países periféricos ou emergentes.
Comentário
O resultado disso é a ocorrência de uma profunda reterritorialização
produtiva, o que impacta diretamente a arrecadação de impostos dos
países, o mercado de trabalho nacional, a estrutura social e diversas
outras lógicas no espaço geográfico. Essa é a realidade concreta.
A tal realidade, como apontamos, soma-se a questão ideológica,
marcada pelo fortalecimento do discurso em defesa daquilo que é
comumente chamado de neoliberalismo. Trataremos dele na próxima
seção.
As ideias e as práticas
neoliberais
Inicialmente, cabe destacar que há uma longa batalha semântica e
acadêmica em torno da expressão “neoliberalismo”. De modo geral,
podemos dizer que se trata de uma corrente do pensamento ideológico
econômico que se contrapõe a outras, comoa keynesiana e a
desenvolvimentista, dominantes entre os anos 1930 e 1960 em parte
significativa do mundo ocidental. No entanto, o neoliberalismo, como
alguns podem imaginar, não é apenas uma repetição de antigos
preceitos liberais.
Para compreender isso, é necessário fazer uma pequena digressão
histórico-econômica. Até a crise de 1929, as ideias liberais eram
predominantes no mundo capitalista: acreditava-se que o livre comércio
e as forças do mercado seriam capazes de, por conta própria, promover
um maior crescimento da economia e um desenvolvimento.
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Fila de desempregados da Grande Depressão americana de 1929.
Contudo, a depressão americana resultante da quebra da Bolsa de
Valores de Nova York deu início a uma época em que os governos
passaram a intervir intensamente na economia, seguindo um conjunto
de práticas recomendadas pela doutrina econômica do keynesianismo.
De acordo com os keynesianos e os desenvolvimentistas, o Estado deve
assumir papel central na coordenação da política econômica do país,
atuando como um indutor do crescimento.
Essa indução pode ser feita por meio de:
Não se trata, portanto, de uma defesa de um controle absoluto dos
meios de produção por parte do Estado, e sim de uma perspectiva que o
compreende como um importante agente econômico para estimular o
capitalismo de maneira planejada e evitar crises.
Exemplo
No Brasil, podemos dizer que governos, como, por exemplo, os de
Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, além da própria ditadura militar,
efetuaram predominantemente políticas desenvolvimentistas no campo
da economia, usando o capital estatal como indutor do processo de
 Injeção de dinheiro público em obras a fim de gerar
empregos e estimular outras atividades
econômicas de forma direta.
 Criação de indústrias e empresas estatais em
setores estratégicos, como mineração e energia, os
quais geralmente exigem pesados investimentos e
demoram a dar lucro, o que por si só costuma
afugentar investidores privados.
 Lançamento de políticas sociais de combate à
pobreza e à desigualdade, garantindo, assim, um
bem-estar social para a maioria dos indivíduos.
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industrialização no país entre os anos 1930 e 1980. Porém, a partir da
década de 1990, o país e as políticas públicas nacionais passaram a ser
cada vez mais influenciados pelas concepções neoliberais, assim como
grande parte do mundo ocidental.
Em linhas gerais, o neoliberalismo é uma releitura da doutrina
econômica liberal, segundo a qual o mercado deve servir de base para a
organização da sociedade. Essa ideologia nasce como uma crítica
teórica e política às ideias keynesianas e aos defensores da intervenção
do Estado na economia.
Um dos textos precursores da ideologia neoliberal foi publicado por
Friedrich Hayek, que, em 1944, escreveu O caminho da servidão, livro
com fortes críticas ao Partido Trabalhista inglês. Entretanto, a
disseminação das ideias neoliberais se fortaleceu apenas a partir dos
anos 1970 por meio dos textos do economista Milton Friedman e dos
demais teóricos da Escola Monetarista de Chicago, que defendiam o
livre funcionamento do mercado sem controles inibidores do Estado.
Alegava-se que esse era o caminho para superar a crise de 1973.
Segundo esses teóricos, tais medidas promoveriam o aumento da
produção e a geração de emprego e de renda, proporcionando efeitos
socioeconômicos positivos.
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Livro O Caminho da Servidão de Friedrich Hayek.
Crise de 1973
Ano no qual os preços do petróleo dispararam, o que afetou intensamente a
economia global.
O neoliberalismo propõe uma valorização da competição entre pessoas
e da liberdade de comércio, ao mesmo tempo que defende a
desregulamentação da economia (controles públicos menos rígidos das
atividades econômicas) e a privatização das empresas estatais.
Comumente, observa-se em países com política neoliberal a
privatização de:
 Usinas de energia
 Indústrias de base
 Construção e administração de
estradas
 Administração de portos
 Parte de setores de fundamental
interesse público, como saúde e
educação
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Para os neoliberais, tais medidas são necessárias, pois, ao enxugar os
gastos sociais e outros investimentos públicos, o governo tende a
diminuir impostos e estimular atividades produtivas.
As contradições do
neoliberalismo
Inicialmente, a política econômica neoliberal foi aplicada, a partir dos
anos 1970 e 1980, pelo governo ditatorial de Augusto Pinochet (Chile) e
pelos governos democráticos de Margareth Thatcher (Reino Unido) e
Ronald Reagan (Estados Unidos), tendo se tornado uma tendência
global a partir dos anos 1990. Entretanto, as ideias neoliberais têm
sofrido fortes críticas de diversos teóricos de outras correntes do
pensamento social e econômico – dentre as quais, se destacam as
realizadas por economistas neokeynesianos, como:
Paul Samuelson
Joseph Stiglitz
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Paul Krugman
Para tais economistas, a economia de mercado tem se caracterizado
pelo alto grau de imperfeições, sendo incapaz de resolver por si só
todos os problemas que afetam uma sociedade, especialmente pela
existência de uma assimetria de informações e oportunidades. Dessa
forma, os neokeynesianos defendem que a economia de mercado seja
regulada pelo estado a fim de minimizar as contradições presentes no
sistema capitalista.
Mesmo assim, o discurso dominante em grande parte dos países na
atualidade postula o seguinte:
Para usufruir dos efeitos positivos da globalização, é
necessário promover uma abertura completa dos
mercados nacionais por meio de práticas, como a
desregulamentação econômica e financeira dos
territórios.
Tal discurso alega que, mesmo nos países periféricos, essas medidas
viriam a trazer modernidade e avanço na qualidade de vida.
Em suma, a ideologia neoliberal defende que os governos renunciem à
sua capacidade de ação como investidores, deixando de exercer a
função de coordenação da economia. Ela lhes sugere que realizem
apenas tarefas, como, por exemplo, administrar serviços públicos,
executar programas de renda mínima e criar condições ideais para o
capital financeiro e produtivo internacional. Entretanto, algumas
reflexões são necessárias a respeito desse discurso.
Atenção!
Ainda que vivamos sob um cenário de forte globalização das
informações, não se pode afirmar que as condições reais para
empreender ou produzir são globalizadas ou sequer que elas sejam
minimamente semelhantes entre as diferentes regiões e países.
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O discurso neoliberal é, em geral, propagado predominantemente por
países que já possuem elevado desenvolvimento tecnológico e que
afirmam que a abertura dos territórios nacionais à influência externa e
ao capital estrangeiro (produtivo e especulativo) será uma indutora
espontânea de riqueza nacional. Afinal, a competição com produtos e
empresas estrangeiras mais eficientes estimularia o aumento da
competitividade com aqueles de cariz nacional.
Comentário
Ao Estado bastaria a missão de reduzir a regulação, os impostos e
outros tributos a fim de melhorar o ambiente de negócios para os
empreendedores privados nacionais. No entanto, essa afirmação soa
ingênua e pouco realista, pois ignoraque as grandes corporações
estrangeiras já possuem um patamar tecnológico muito mais avançado,
além de maior capacidade de produção e melhores condições de
financiamento.
Segundo Gomes (2020), três elementos centrais tornam essa
competição extremamente desigual:
Atualmente, existem países cujas taxas de juros são
extremamente baixas ou negativas, como é o caso do Japão. Por
lá, um empresário que tomar um empréstimo precisará arcar
com um custo muito menor que o de um empreendedor
brasileiro, uma vez que o Brasil habitualmente costuma ter taxas
de juros muito elevadas.
Com isso, a livre concorrência entre esses dois empreendedores
não será possível, já que o empresário estrangeiro tem custos de
capital muito mais baixos.
A situação descrita acima só piora quando se analisa a questão
da escala de produção. Afinal, um país ou uma empresa que já
possua estrutura de produção em larga escala consegue reduzir
expressivamente seus custos.
Comparemos o caso do Paraguai, país pequeno, pouco populoso
e com baixo grau de desenvolvimento tecnológico e industrial,
O custo de capital 
A escala 
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com a situação da Índia, uma gigante territorial cujo contingente
demográfico soma mais de um bilhão de pessoas e que já
possui importante estrutura industrial, além de já ter um
destaque tecnológico em alguns segmentos. Nesse exemplo, é
extremamente difícil para certos países, como é o caso do
Paraguai, desenvolver condições de competir abertamente em
igualdade com gigantes como a Índia.
É notório que, com o passar do tempo, os ciclos de
desenvolvimento tecnológico se tornaram cada vez mais curtos.
Durante as duas primeiras revoluções industriais, uma tecnologia
demorava muitas décadas até ser substituída por outra.
Até o período imediatamente posterior à 2ª Guerra Mundial, ou
seja, até as décadas de 1950 e 1960, era viável que um país
retardatário em termos de tecnologia pudesse alcançar outros
mais avançados, a exemplo do que foi feito pela Coreia do Sul.
Contudo, as últimas décadas – especialmente a partir da Quarta
Revolução Industrial, atualmente em curso – têm sido marcadas
por uma substituição extremamente veloz das tecnologias. Com
isso, hoje é praticamente impossível que um país atrasado
tecnologicamente consiga alcançar outro que disponha de
tecnologia de ponta.
O neoliberalismo e os
teóricos da geogra�a
Vamos aprofundar neste vídeo algumas questões sobre neoliberalismo,
apontando suas contradições.
A tecnologia 

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Algumas críticas e re�exões
sobre o neoliberalismo
Os argumentos trazidos anteriormente compõem apenas alguns dos
diversos aspectos que levam teóricos, como o coreano Ha-Joon Chang,
a afirmar que, na realidade, as políticas neoliberais não possuem
condições de levar países periféricos ao desenvolvimento econômico
prometido. Na verdade, o que essas políticas costumeiramente
promovem neles é uma desnacionalização da economia, que passa a
ser dominada por corporações e capitais estrangeiros, cujas ações
começam a orientar as transformações territoriais, incluindo os
investimentos do Estado e a legislação nacional.
Outras consequências seriam o agravamento das desigualdades sociais
e o enfraquecimento de políticas de combate à pobreza, à medida que a
arrecadação do governo tenderia a diminuir.
Chang afirma que a abertura irrestrita de uma economia nacional não
costuma gerar o aumento da produtividade, e sim uma quebra
generalizada do setor secundário, o que se reflete em um processo de
desindustrialização, ou seja, de diminuição da importância da atividade
econômica no PIB e na geração de empregos qualificados.
Ainda de acordo com o autor coreano, sequer existe efetivamente um
livre mercado, uma vez que todo mercado possui regras construídas por
certos arranjos políticos e que servem aos interesses de grupos
específicos, levando ao favorecimento de uns em detrimento de outros.
Por isso mesmo, Chang alega que, na maior parte das vezes, é essencial
haver algum tipo de ação estatal quanto ao planejamento da economia
a fim de que se encontre um ponto ideal relativo ao câmbio e às tarifas
alfandegárias, além de se efetuar uma política de comércio exterior.
Comentário
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É interessante perceber que é exatamente isso que foi feito no início do
desenvolvimento industrial da maioria absoluta dos países que hoje são
referência em produção tecnológica, como Estados Unidos, Grã-
Bretanha, França e Japão. Todos eles, em suma, efetuaram políticas
protecionistas e de concessão de subsídios – exatamente aquilo que o
neoliberalismo atualmente afirma não funcionar para os países
periféricos!
Chang diz até que tal situação pode ser encarada como um “chute na
escada”. Explicamos: os países atualmente ricos teriam trilhado um
caminho – ou seja, “subido uma escada” – rumo ao desenvolvimento
econômico, industrial e tecnológico por meio de políticas que eles
atualmente alegam não funcionar.
Dica
Os países centrais estariam induzindo os periféricos a utilizar uma
ideologia econômica de caráter liberal que não foi usada por eles para
promover seu próprio crescimento.
Esse “chute na escada” seria um instrumento proposital a fim de impedir
que os países periféricos pudessem se desenvolver a ponto de
representar uma concorrência real do ponto de vista tecnológico. Com
isso, o mundo desenvolvido conseguiria continuar drenando parte
significativa dos recursos do periférico para os seus próprios territórios
por meio da lógica da divisão internacional do trabalho.
Lógica da divisão internacional do trabalho
A periferia global ocupa genericamente um papel de fornecedora de
matérias-primas, commodities e produtos industriais de baixa tecnologia,
ao passo que o mundo industrializado tradicional, composto por América
Anglo-Saxônica, Europa Ocidental, Japão e alguns outros territórios,
seguiria concentrando a maior parte da lucratividade.
Outro aspecto interessante nessa discussão tem a ver com o fato de
que, em determinadas situações, os países centrais deixam de lado a
defesa das ideias neoliberais e do livre comércio quando isso lhes é
conveniente. Um exemplo disso tem sido visto nos últimos tempos,
especialmente na relação comercial entre Estados Unidos e China.
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Como os chineses avançam expressivamente em escala de produção e
quanto a termos tecnológicos em áreas antes dominadas pelos norte-
americanos, isso promove uma perda de competitividade para a
indústria dos EUA. O resultado disso é que as recentes administrações
dos Estados Unidos têm promovido estratégias protecionistas com o
objetivo de barrar a entrada de produtos chineses em território norte-
americano, alegando que existe uma competição desleal por parte da
China.
Nota-se, com isso, que o discurso ideológico-econômico pode ser
elástico a depender do contexto:
Neoliberalismo e livre mercado
Para os setores nos quais o país seja competitivo.
Protecionismo
Em áreas cuja produção estrangeira ameace a produção nacional.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
É uma doutrina do capitalismo que defende a ideia do Estado
mínimo, ou seja, a menor regulação do Estado sobre a economia.
Devido às suas características, produz uma crise permanente,
porque, ao desregulamentar o mercado, a economia passaa
privilegiar o setor financeiro em detrimento das questões sociais,
alimentando um abismo de exclusão social.
O texto anterior trata da doutrina do capitalismo conhecida como:
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Parabéns! A alternativa E está correta.
O neoliberalismo é uma política econômica baseada na diminuição
do papel do Estado na economia. Portanto, essa política apregoa a
privatização das empresas estatais e uma maior abertura da
economia para importações e exportações, além da menor
regulação estatal do sistema financeiro. Ela também defende a
flexibilização da legislação trabalhista.
Questão 2
No caso brasileiro, a perda de importância da indústria de
transformação, especialmente ao longo da última década de 2010,
é um fato. Ao mesmo tempo, o país tem voltado a depender cada
vez mais da exportação de commodities primárias, e isso ocorre
em meio à redução da coordenação estatal sobre as indústrias que
desenvolvem alta tecnologia.
O processo apontado no texto pode ser definido como:
A mercantilismo
B liberalismo
C keynesianismo
D desenvolvimentismo
E neoliberalismo
A desconcentração industrial
B desindustrialização
C descentralização econômica
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Parabéns! A alternativa B está correta.
Nas últimas décadas, o Brasil atravessou um processo de
desindustrialização causado por múltiplos fatores. Entre eles,
destaca-se o Custo Brasil (composto por alta carga tributária,
burocracia, deficiência na infraestrutura de transportes e juros
elevados). As indústrias brasileiras também apresentam
dificuldades para competir com os produtos importados no
mercado interno, assim como passam por problemas nas
exportações devido à competição com outros países, como, por
exemplo, China. A moeda muito valorizada durante longos períodos,
como as décadas de 1990 e 2000, tampouco favoreceu as
exportações de manufaturados. O Brasil tornou-se cada vez mais
dependente de exportações de commodities agrícolas e minerais.
Com isso, observa-se a falta de uma política industrial eficaz que
avalie os setores industriais a serem incentivados pelo Estado por
meio de protecionismo, investimento tecnológico, ampliação do
mercado interno e busca de mercados externos.
4 - A ordem mundial contemporânea e a
mobilidade do capital
D acumulação primitiva
E reversão da polarização
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Ao �nal deste módulo, você será capaz de avaliar os efeitos globais da
ordem geopolítica atual sobre a mobilidade do capital.
Vamos começar!
Uma nova ordem
contemporânea?
Neste vídeo, vamos aprofundar o conhecimento sobre as características
da nova ordem mundial.
Da Guerra Fria à Nova Ordem
Mundial
Já demonstramos anteriormente que o desenvolvimento tecnológico
que nos leva à atual dinâmica econômica e espacial remonta aos
avanços surgidos no bojo da Terceira Revolução Industrial, ainda na
segunda metade do século XX. Contudo, transformações espaciais não
ocorrem apenas por conta das técnicas: é preciso que haja condições
políticas para isso.
Do ponto de vista geopolítico, ou seja, de acordo com
as relações políticas entre os países, um momento-
chave para a compreensão das atuais transformações
no território ocorreu entre o fim da década de 1980 e o
início dos anos 1990, com o fim da Guerra Fria.

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Afinal, até os anos 1980, ainda que houvesse condições técnicas para
promover a difusão de fluxos globais, as redes geográficas ainda não
eram plenamente integradas a uma porção relativamente grande do
planeta: o antigo bloco socialista, composto pela União Soviética e seus
aliados.
Cortina de Ferro dividindo a URSS e aliados do restante dos países.
Naquela porção do mundo, o capital encontrava uma barreira que o
impedia de se reproduzir e se multiplicar em virtude da presença daquilo
que se convencionou chamar de “Cortina de Ferro”. Entretanto, a
fragmentação da antiga URSS abriu espaço para que o capitalismo
passasse a ser praticamente o único sistema político-econômico em
vigor no mundo.
Naturalmente, como sistema flexível e adaptável que é, o capitalismo
aplicado em cada país e em cada momento da história guarda uma
série de peculiaridades. Ainda assim, mesmo em países como Cuba e
Coreia do Norte é possível vislumbrar atualmente alguns elementos
característicos de uma economia de mercado.
Desse modo, a última década do século XX trouxe consigo a
emergência de uma ordem mundial diferente da que havíamos visto nas
décadas anteriores. Em lugar da velha ordem geopolítica da Guerra Fria,
marcada por uma disputa ideológica entre norte-americanos e
soviéticos, surgia um mundo em que o conflito entre capitalismo e
socialismo deixaria de existir.
Comentário
Essa nova ordem geopolítica trouxe como novidade a emergência dos
Estados Unidos como superpotência aparentemente imbatível do ponto
de vista bélico-militar. Com isso, formava-se aos olhos de muitos
analistas uma unipolaridade política corroborada pelo domínio
estadunidense em outros campos, como o cultural.
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Por outro lado, ao olhar para a dinâmica da economia global, verifica-se
que a realidade era outra. Para além dos Estados Unidos, a maior
economia do mundo, era notório que outras potências se destacavam
quanto à produção de tecnologia, mercadorias e riqueza. Entre elas, se
sobressaíam a Alemanha e o Japão, os quais também se posicionavam
como destaques no comércio exterior.
Dessa maneira, o que se construía era uma ordem econômica
multipolar com a presença de múltiplos atores com destaque – ao
menos regional. Esse cenário simultaneamente influenciou e foi
influenciado pelas redes geográficas, que permitiam a difusão de fluxos
e uma integração global como jamais antes vista.
Com isso, o capital pôde ganhar uma mobilidade notável, se difundindo
pelo planeta – ainda que de maneira assimétrica – em busca de
maiores taxas de lucro.
As contradições do capital
É importante enfatizar: toda a dinâmica descrita anteriormente está
longe de ser homogênea e coesa. Aliás, o que ocorre é justamente o
contrário, e essa é apenas uma das muitas contradições do capital.
Vamos explicar uma delas: para que o capital circule livremente no
espaço, as infraestruturas físicas e os ambientes construídos precisam
ser fixos. Ou seja, para realizar trocas financeiras entre países, é
necessário existir uma estrutura de cabos de fibra ótica e internet que
seja fixa.
Do mesmo modo, para haver uma circulação de mercadorias pelo
mundo, é preciso que exista uma infraestrutura portuária
complementada por outros sistemas de transporte. Logo, para que haja
fluxos, é preciso que existam ambientes fixos.
Comentário
Quando, em determinado momento, essas infraestruturas físicas
atingem um nível de excelência, isso cria um problema grave: sem haver
a necessidade de construir novas infraestruturas, o ciclo da geração de
riqueza se vê ameaçado, já que, em tese, não existiria a necessidade de
obras, o que não geraria empregos, não criaria renda nem movimentaria
a economia, seja de forma direta ou indireta.
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Eis aí uma das grandes contradições do capital apontada pelo britânico
David Harvey:
Quando uma infraestrutura física atinge um nível de
excelência, ou ela se desloca e deixa um legado de
destruição, ou permaneceimóvel sem obter a
lucratividade que deseja.
Isso explica um pouco o motivo de o capital se deslocar periodicamente
de um espaço para outro, assim como ajuda a justificar os processos de
industrialização tardios em países periféricos.
Da mesma forma, vamos pensar, por qual motivo acontece a
desindustrialização em alguns territórios e ocorre de modo simultâneo à
industrialização de outros?
Resposta
Trata-se do deslocamento geográfico do capital em busca de territórios
férteis para novas possibilidades de lucro. Para Harvey, isso seria uma
prova de que desenvolvimentos geográficos desiguais acabam por
esconder os problemas do sistema capitalista.
Diante desse cenário, uma reflexão possível é a de que o capital não
resolve as suas falhas sistêmicas. Na verdade, ele segue se
reproduzindo, pois as desloca geograficamente através das redes a fim
de sempre extrair o máximo de lucratividade de algum território.
Mas resta uma dúvida: para que necessitamos dessa análise teórica?
Entre outras razões, temos:
 Primeiro
A teoria nos permite compreender a lógica
geográfico-econômica que sustenta o movimento
de grandes empresas transnacionais de países
desenvolvidos ao instalar suas filiais em países
subdesenvolvidos, onde elas passaram a produzir
um elenco cada vez maior de produtos.
 Segundo
A t i i d it fl ti it d
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Esses temas e outros tantos assuntos aparentemente segmentados
podem fazer parte de uma mesma lógica que envolve a interação entre
o território, o capital e os interesses político-econômicos dos atores a
eles associados.
A teoria ainda nos permite refletir a respeito de
como a Nova Ordem Mundial aprofundou a
complexificação da divisão internacional do
trabalho, já que muitos países deixam de ser meros
fornecedores de alimentos e matérias-primas para
o mercado internacional, tornando-se produtores e
até mesmo exportadores de produtos
industrializados – como é o caso do Brasil. É
possível também raciocinar melhor a respeito da
assimetria técnica e econômica entre as nações e
de que modo isso influencia nos movimentos
migratórios entre países.
 Terceiro
A teoria pode até mesmo nos permitir entender que
a economia internacional não é global. Sim, é isso
mesmo que você leu: para muitos autores, como é
o caso do sociólogo espanhol Manuel Castells, até
os maiores mercados e empresas não são
totalmente integrados, possuindo fluxos de capital
limitados por regulamentos monetários e
bancários. Mais evidente ainda é a contradição
entre um mundo cada vez mais tecnológico e a
presença crescente de barreiras nas fronteiras de
países, dificultando o acesso de migrantes, os
quais, por sua vez, muitas vezes foram
desterritorializados à força pelas guerras, pela
pobreza ou pela fome em seus respectivos espaços
de origem.
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Novas perspectivas
geoterritoriais e a Cooperação
Sul-Sul
Ao longo dos últimos séculos, as relações internacionais foram
construídas fundamentalmente por meio de diálogos, cooperação,
vínculos políticos e atividades comerciais entre países do Norte e do
Sul. Tal dinâmica se mostrou evidente, por exemplo, por meio da divisão
internacional do trabalho, em que metrópoles estabeleceram uma
relação de comércio assimétrica com suas antigas colônias.
Com o passar do tempo e a independência desses territórios, houve
algumas mudanças nessa relação. Sua essência, porém, se manteve,
colaborando para uma contínua drenagem de recursos naturais e de
capitais dos países periféricos em direção aos centrais.
Entretanto, ao longo das últimas décadas, tem havido um movimento no
qual países de baixo grau de desenvolvimento socioeconômico
passaram a tentar estreitar os laços entre si. Essa nova estratégia
geopolítica é coerente com os dilemas semelhantes que muitos deles
enfrentam:

Dívidas elevadas

Di�culdade de produzir tecnologia
avançada

Baixos índices de escolaridade

Baixos índices de produtividade
industrial
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Por isso, fóruns de discussão entre essas nações para a troca de
experiências e a construção de políticas de financiamento acabam
sendo mecanismos utilizados para reduzir a dependência em relação
aos capitais oriundos dos países do Norte. Pode-se dizer que o
nascimento da Cooperação Sul-Sul (CSS) se deu por volta dos anos
1950, quando houve uma aproximação dos países recém-independentes
do entorno asiático, a exemplo da Índia e de países próximos.
Em 1955, a Conferência de Bandung reuniu 29 países africanos e
asiáticos. Ela foi um marco da aproximação de países do Terceiro
Mundo, especialmente em virtude de ter contado apenas com nações
periféricas e em desenvolvimento.
Na conferência, os países:
No caso brasileiro, houve movimentos descontínuos no sentido de
construir relações mais fortes com outros países da periferia e da
semiperiferia global desde meados do século XX. Contudo, um período
em que tais relações Sul-Sul foram estimuladas de maneira mais
duradoura ocorreu entre 1994 e 2014, quando a política externa
 Discutiram a necessidade de
superar a lógica bipolar da
geopolítica da época.
 Denunciaram o colonialismo e o
neocolonialismo como formas de
dominação intelectual e
econômica.
 Criaram estratégias e documentos
em prol do fortalecimento dos
vínculos políticos e comerciais
entre si.
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brasileira visou a ampliar os laços com países do Oriente Médio, da
África e da América do Sul – nesse caso, especialmente por meio do
fortalecimento do Mercosul e da construção da Unasul.
Outro sintoma dessas novas relações pôde ser observado pelo
estreitamento de laços entre grupos de países emergentes, o que se
materializou por meio do aumento da importância de fóruns de
discussão, como, por exemplo, o G-20 e a cooperação entre os BRICS
(bloco formado pelos países Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Essa geopolítica meridionalista ocorre em um cenário no qual a Nova
Ordem Mundial, como demonstramos anteriormente, se transforma
cada vez mais. Afinal, entre o início da década de 1990 e os anos 2020,
o contexto geopolítico já sofreu profundas transformações. Entre elas,
podemos citar especialmente o aumento da multipolaridade e a
extensão da influência política e econômica dos países emergentes,
com destaque para o papel de potências emergentes, como, por
exemplo, a China.
Marcadas pela emergência de novas potências
regionais-globais, essas novas geografias do poder
representam a possibilidade de novas territorialidades,
já que redirecionam fluxos de capitais, pessoas e
mercadorias entre países tradicionalmente
marginalizados na economia global.
O que se entende por CSS, assim, emerge como uma forma de
diversificação de acordos com foco em países do Sul Global, o que pode
ser interpretado como uma ação contra-hegemônica frente às
tradicionais relações Norte-Norte e Norte-Sul contidas no sistema
mundial.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
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Questão 1
Desde o fim da década de 1980 e o início dos anos 1990, vive-se
uma nova ordem geopolítica global. A atual ordem mundial se
diferencia da ordem anterior, entre outras razões, pelo fato de que
Parabéns! A alternativa C está correta.

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