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13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 1/63 Os novos modelos econômicos e a territorialidade Prof. Leandro Almeida Descrição Este conteúdo se propõe a abordar e discutir a geografia econômica contemporânea à luz da atual ordem mundial, das novas territorialidades e das transformações socioespaciais em curso. Propósito Apresentar de que modo os territórios do Brasil e de outros países têm sido influenciados pelas mudanças na geopolítica, pela evolução tecnológica, pelo surgimento de novos modelos de produção e pelo neoliberalismo. Objetivos Módulo 1 O território, as redes geográ�cas e o espaço em transformação 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 2/63 Reconhecer de que modo o espaço, as redes e o território efetuam relações entre si. Módulo 2 Os novos modelos econômicos e os rearranjos no cenário globalizado Identificar as transformações territoriais ocorridas em função da disseminação dos novos modelos produtivos e econômicos. Módulo 3 O neoliberalismo – entre a ideologia e a realidade Comparar a atuação dos Estados nacionais, das empresas privadas e dos indivíduos sob a égide do neoliberalismo. Módulo 4 A ordem mundial contemporânea e a mobilidade do capital Avaliar os efeitos globais da ordem geopolítica atual sobre a mobilidade do capital. Introdução 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 3/63 A expressiva evolução tecnológica iniciada na segunda metade do século XX foi a indutora de profundas mudanças socioespaciais e territoriais. Com efeito, a informática, a robótica, a eletrônica e a inteligência artificial oriundas da Terceira Revolução Industrial permitiram uma complexificação no sistema produtivo e no capitalismo – o qual, por excelência, é um modelo econômico extremamente adaptável. Com isso, temos vivenciado significativas transformações nos territórios, o que inclui novas lógicas geográficas industriais e transformações das relações de trabalho e nos modos de produção, bem como alterações na forma de atuação dos Estados nacionais. Porém, para compreendermos adequadamente esse cenário, é preciso fazer um exercício de análise teórico-conceitual. Por isso, ao decorrer deste conteúdo, realizaremos uma discussão a respeito do conceito de território e de sua relação com as redes geográficas. A partir disso, será possível compreender melhor o funcionamento, as características e as consequências do modelo produtivo toyotista, do neoliberalismo e da geopolítica contemporânea, os quais serão abordados de modo mais específico depois. Por agora, sugerimos que você se atenha ao texto, buscando sempre estabelecer alguma correlação entre os fenômenos aqui descritos. Afinal, o mundo não pode ser compreendido apenas pela soma de suas partes: é preciso também considerar as relações entre elas. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 4/63 1 - O território, as redes geográ�cas e o espaço em transformação Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer de que modo o espaço, as redes e o território efetuam relações entre si. Vamos começar! O espaço geográ�co Neste vídeo, você conhecerá mais sobre os debates sobre espaço geográfico e suas abordagens. O espaço geográ�co e os 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 5/63 objetos arti�ciais Grande parte dos seres humanos que habitam a Terra consegue perceber, com alguma facilidade, que o mundo em que vivemos está constantemente em transformação. Isso ocorre em função de diversos fatores, que, aliás, mereceriam muitas páginas de texto e análise. Porém, em síntese, é possível dizer que tais mudanças ocorrem graças a ações do homem e da natureza – e, é claro, da interação entre ambos. Veja alguns exemplos: Ação da natureza A formação de uma grande cadeia de montanhas é um processo natural. Ação do homem A criação de uma cidade é fruto da ação humana. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 6/63 Ação entre ambos A retirada de recursos naturais de uma montanha para a construção da cidade é interação entre ambos. O exemplo da retirada dos recursos naturais presentes em uma montanha para a construção de cidades é apenas um, entre infinitos exemplos, de que o homem está interagindo com a natureza o tempo inteiro. Agora reflita um pouco sobre a sua vida e a sua rotina: Re�exão Quantos dos objetos que você utiliza existem na natureza e quantos deles são o resultado da ação humana? Pense ainda na comida que você compra no supermercado. Ela é industrializada ou in natura? E tudo aquilo que está dentro da sua casa e ao seu redor nesse momento? Trata-se de objetos naturais, ou seja, encontrados “prontos” na natureza, ou são produtos que utilizaram matéria-prima e foram transformados em mercadorias? Acredite, essa reflexão proposta não é à toa: seu objetivo é fazer com que você perceba que nossa vida é cada vez mais marcada pela presença e pelo uso de objetos artificiais, isto é, mercadorias produzidas por meio da ação do homem sobre a natureza. Nesse sentido, aquilo que um dia era apenas “natureza” acaba se transformando em recurso natural, uma vez que passa a ter valor comercial. Tal análise já foi realizada por diversos intelectuais, como o geógrafo brasileiro Milton Santos. Segundo ele, a relação do homem com a natureza ocorre por meio das técnicas, que são o conjunto de instrumentos e relações com os quais os seres humanos realizam suas atividades e, ao mesmo tempo, criam e transformam o espaço geográfico. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 7/63 Como cada sociedade constrói e transforma o espaço de acordo com as suas necessidades, valores e técnicas disponíveis, é possível afirmar que o espaço também revela o grau de desenvolvimento dos meios técnicos de cada sociedade. Além disso, Santos pontuou que, ao longo do tempo, o homem passou a dispor de cada vez mais técnicas, e com isso, desenvolveu a capacidade de transformar a natureza em um ritmo muito mais acelerado. As técnicas e as redes geográ�cas Um importante marco histórico da mudança nas relações entre o homem e a natureza foi a Revolução Industrial do século XVIII, ainda que antes dela já existissem algumas técnicas nas quais as máquinas agissem sobre a natureza. Contudo, foi esse o momento em que a dependência do homem em relação ao uso de instrumentos mecânico- artificiais se intensificou e a velocidade de produção e substituição de objetos técnicos também cresceu, ainda que de forma muito desigual, pelos diferentes locais do mundo. Para entender melhor esse assunto, vamos conhecer três grandes nomes da Geografia: Milton Santos Um dos grandes nomes da renovação da geografia em sua dimensão humana e social, sendo referência no Brasil e no mundo. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 8/63 David Harvey Um dos grandes nomes das novas linhas de geografia urbana, área na qual o britânico se torna um dos cientistas humanos mais citados no mundo. Rogério Haesbaert Geógrafo humano que introduziu dinâmicas de território e região em práticas humanas. Segundo a visão deles e de tantos outros geógrafos de renome, o momento no qual as transformações espaciais definitivamente passaram a acontecer em uma velocidade extremamente rápida se deu no contexto da grande onda de inovações tecnológicasocorrida entre os anos 1960 e 1970. Afinal, em virtude do surgimento da informática, da robótica e da fibra ótica, assim como do desenvolvimento de novos materiais, foi possível acelerar de maneira brutal o fenômeno da globalização por meio da intensificação dos fluxos de mercadorias, capitais, pessoas e informações. Com isso, as transformações espaciais puderam ocorrer em uma velocidade cada vez maior. No momento atual, os avanços tecnológicos ocorrem e produzem objetos artificiais cada vez mais eficazes; ao mesmo tempo, esses mesmos objetos se tornam ultrapassados e são descartados rapidamente graças ao surgimento de novas tecnologias. Em função disso, o consumo de recursos naturais, a produção de resíduos e a 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 9/63 transformação do espaço geográfico se dão em uma velocidade jamais vista. Essa transformação inclui a expansão das redes geográficas, isto é, as redes de transportes, urbanas e digitais, entre outras. Tais redes técnicas são capazes de aproximar lugares de diferentes escalas geográficas, sejam elas globais, regionais ou locais. Tais conexões permitem não apenas o fluxo de produtos, pessoas e capitais, mas também de conhecimento, valores culturais e ideologias. Com a globalização, pode-se afirmar que as redes geográficas ganharam um alcance mundial, mesmo que elas sejam desigualmente utilizadas. Exemplo Alguém com carro próprio pode se deslocar muito mais facilmente do que aqueles que não possuem veículo ou que vivam em locais inóspitos, distantes dos grandes centros urbanos. Do mesmo modo, quem possui acesso a celulares ou computadores com internet de alta velocidade tem à sua disposição muito mais instrumentos para se integrar a essas redes do que os que são marginalizados digitalmente. Em suma, o acesso e o poder de difusão dessas redes dependem das diferentes hierarquias nas sociedades, constituídas, por sua vez, pelo poder econômico ou político. Assim, quem possui mais recursos ou poder tem uma maior possibilidade de usufruir da estrutura das redes geográficas. O território e o poder Por fim, mas não menos importante, todo esse cenário de avanços tecnológicos e de mudanças na sociedade tem promovido uma 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 10/63 profunda transformação na lógica dos territórios, seja na escala nacional ou global. Para compreender isso, é preciso ter clareza a respeito do que se trata efetivamente um território. Comentário De acordo com uma definição geral elaborada pelo geógrafo Marcelo Lopes de Souza, o território pode ser compreendido como parte do espaço geográfico definida e delimitada por e a partir de relações de poder. Nesse sentido, para compreender um território, é importante analisar quem domina, governa ou influencia esse espaço – e como isso é realizado. Por muito tempo, o território foi tratado como a porção do espaço sobre a qual o Estado exerce ou busca exercer sua soberania. E é verdade que essa dominação pode ser realizada pelas ações de um governo representante de um espaço. Pensemos em alguns exemplos. Como representante do Estado nacional, o governo de um país é a autoridade com a prerrogativa de permitir ou não a entrada de determinadas mercadorias no território nacional. Sempre que alguém chega do exterior, é preciso passar por áreas de fiscalização alfandegária e checagem de documentos, as quais são normalmente realizadas pela Polícia Federal. Outra situação em que fica claro o poder de um governo sobre seu território é a impossibilidade de aviões estrangeiros sobrevoarem um país sem a autorização para que isso ocorra – do contrário, uma situação do tipo pode acabar em um conflito bélico. Contudo, ainda que haja muita discussão a respeito das definições sobre o conceito de território, é inegável que o governo não é o único a exercer poder sobre porções do espaço geográfico. Aliás, esse controle sobre os territórios tem sido cada vez mais realizado pela força de corporações ou influências estrangeiras. De modo corriqueiro, as grandes empresas transnacionais pressionam os governos a aprovar leis nacionais que as beneficiam. Também é comum haver empresas patrocinando Governo Grandes empresas 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 11/63 ações militares em outros países desde que isso as favoreça econômica ou comercialmente. Por isso, o poder de um agente privado sobre o território pode ser exercido não só pela violência e pela força bruta ou bélica, mas também pelo poder do dinheiro e da influência política. Tal poder ainda pode ser exercido localmente ou à distância por intermédio de modernas tecnologias de comunicação e informação. Um e-mail ou qualquer outra mensagem rápida enviada por um alto executivo de uma grande corporação transnacional situada nos Estados Unidos pode determinar às dezenas de filiais espalhadas pelo mundo que aumentem ou reduzam a produção, o que, por sua vez, pode implicar o corte de milhares de funcionários e o fim abrupto da renda de milhares de pessoas – o que vai trazer impactos diretos e indiretos à economia e à sociedade de localidades espalhadas pelo mundo inteiro. No entanto, a discussão que fizemos até agora pode criar a impressão de que as transformações territoriais ocorrem apenas na escala macro, ou seja, por meio de decisões de grandes agentes da sociedade. Mas isso não é verdade. O que ocorre é o seguinte: na prática, o território funciona como um tabuleiro de xadrez onde algumas peças de fato têm mais poder e mais importância, embora, em alguma medida, todas as peças possam promover transformações no cenário do jogo, ainda que elas pareçam pequenas. Exemplo 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 12/63 Ao fazer um vídeo de protesto contra uma lei criada por um governo, um indivíduo consegue fazer a mensagem chegar a milhões de pessoas por meio de uma rede social. Essa mensagem é capaz de gerar reações diversas e um apoio maciço que faça com que o governo reveja a lei. Outro caso que podemos citar é o de facções criminosas, sejam elas de traficantes varejistas de drogas ou de milicianos. Essas pessoas efetuam o comando de pequenos territórios (do ponto de vista da escala geográfica); no entanto, juntas, elas se mostram capazes de ter um grande efeito sobre a circulação e o cotidiano de quem mora nesses locais. O território, portanto, precisa ser analisado a partir de múltiplos aspectos. Essa multiplicidade inclui: Territorialidades e desterritorialização De todo modo, o território acaba por ser inegavelmente uma projeção espacial das relações de poder. Essas relações, contudo, não são fixas. Pelo contrário: elas podem ser extremamente voláteis. Vamos ver um exemplo? A ação do poder público e do poder privado. As ações legais e ilegais. As mais variadas escalas geográ�cas, desde a local até a global. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 13/63 Grupos de traficantes invadem uma comunidade e tomam o poder que antes pertencia a outra facção. Quando isso ocorre, o território muda de mãos e o poder passa a ser exercido por outros. Nesse momento, é possível que você esteja imaginando que nada mudará; afinal, o local seguirá dominado por traficantes. Contudo, a realidade não é essa. O novo grupo criminoso pode estabelecer outro conjunto de regras para os moradores locais, como uma permissão ou não para a visita de pessoas que morem em locais dominados por facções rivais e a autorização ou não para a circulação em alguns espaços depois de determinadohorário. A proibição a roubos na comunidade e a existência de um “tribunal” próprio para julgamento de crimes também é algo recorrente. O exemplo citado revela muito mais do que uma mera mudança a respeito de quem exerce o poder. Na prática, o que aconteceria no caso hipotético apresentado seria: Reterritorialização Corresponde à reconstrução da lógica territorial. Assim, por exemplo, quando da chegada dos novos Desterritorialização Ocorre quando determinados grupos são obrigados a ir embora com a chegada dos novos “donos do Exemplo 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 14/63 grupos de poder novas regras sociais são aplicadas ao território. poder”, perdendo, portanto, o direito a utilizar um território que antes era seu. Nesse momento, seria interessante que você fizesse um esforço para imaginar de que modo os processos de territorialização e desterritorialização poderiam ocorrer em outras escalas e por meio de outros agentes. No passado, um exemplo de desterritorialização a ser citado envolve o destino das populações ameríndias, cujos indivíduos remanescentes hoje se encontram confinados em reservas ou até realocados centenas de quilômetros longe de suas áreas tradicionais. Na atualidade, o mesmo fenômeno de desterritorialização ocorre com povos originários em território brasileiro, cujas terras frequentemente são objeto do interesse de mineradores, grileiros e outros grupos dominantes. Remoções de favelas, despejo de famílias sem teto e expulsão de vendedores ambulantes são mais alguns dos muitos exemplos de desterritorialização. Atenção! Pode-se falar na desterritorialização como um fenômeno em que se promove o desenraizamento de indivíduos e de grupos sociais inteiros ou até mesmo a privação do acesso a recursos e riquezas antes disponíveis a eles. Façamos agora um exercício importante de reflexão a partir de um exemplo relativamente comum: a remoção de uma comunidade carente em uma área central de uma grande metrópole brasileira. Nesse caso, nos parece evidente que a população despejada será aquela a sofrer com a desterritorialização. Contudo, isso não explica o processo inteiro. Quem seria o responsável por esse processo? Uma análise apressada poderia nos fazer imaginar que a responsabilidade seja do Estado. Sim, essa é uma verdade parcial, pois, nesses casos, em geral, é o governo (municipal, estadual ou federal) que determina a derrubada dos imóveis e a retirada dos moradores. Mas é importante ir além e lançar as seguintes questões: 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 15/63 Qual será a nova utilização do imóvel? Quem se bene�ciará com a construção do novo empreendimento? A quais interesses o despejo dos moradores atende? Seria leviano oferecer respostas conclusivas, já que se trata de um exemplo hipotético. Porém, em grande parte das situações em que um caso semelhante ocorre, a análise dos agentes produtores do espaço envolvidos nos mostra que existe um interesse de múltiplos atores, como empreendedores imobiliários, proprietários fundiários e grandes corporações – muitas delas, estrangeiras. Nesses casos, a decisão pela remoção da favela não é fruto exclusivo da ação de um Estado Nacional. Muitas vezes, o que ocorre, na verdade, é uma transformação espacial influenciada por agentes muito mais poderosos e que atuam em escala global. Comentário Trata-se de empresas ou indivíduos que, situados em grandes metrópoles globais, fazem valer seus interesses no mundo inteiro, levando essa mensagem para os governos locais por meio de reuniões on-line ou mensagens à distância – ambas possíveis em virtude do avanço tecnológico. Aliás, para a geógrafa Sandra Lencioni, essa é a lógica que explica em grande parte o porquê de existir um ritmo mais acelerado da criação de infraestruturas voltadas para servir diretamente à reprodução do capital (como rodovias e redes de fibra ótica) do que de escolas, hospitais e saneamento básico. Desse modo, nota-se que a produção do espaço e do território ocorre não somente em função de interesses e decisões locais. Quase sempre, há também decisões verticais, ou seja, oriundas de instâncias superiores, como grandes empresas transnacionais, bilionários do mercado financeiro ou organizações supranacionais (caso do FMI). 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 16/63 Nesse sentido, é fundamental enfatizar que, para que tal fenômeno passasse a ocorrer com a intensidade que se vê hoje em dia, o avanço técnico foi essencial. Com isso, aprofundaram-se a internacionalização das cidades e as decisões sobre elas. Muitas das decisões sobre o que ocorre no espaço urbano contemporâneo, portanto, não buscam necessariamente atender aos interesses locais ou nacionais, e sim aos anseios daqueles que possuem grande poder e influência sobre os territórios nacionais, ainda que não estejam neles. Com efeito, processos como a gentrificação e a consequente desterritorialização dos mais pobres acabam se agravando, enfraquecendo as relações horizontais de poder anteriormente existentes. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 17/63 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Os conceitos geográficos são instrumentos importantes para a compreensão da realidade. O conceito que trata da ação estatal e de sua soberania, bem como das políticas de planejamento e da projeção geográfica do poder político dentro de um Estado-nação, é o de A região B rede 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 18/63 Parabéns! A alternativa C está correta. Território é o conceito que remete ao espaço de poder e domínio. Os demais conceitos são outras categorias de análise: região é um recorte do espaço; rede, a interação do espaço. Já o espaço é formado de fixos e fluxos, sendo definido pela interação da sociedade humana com o meio, enquanto o lugar é uma fração do espaço marcada pelas relações de afetividade e pertencimento. Questão 2 (Unicamp, 2020 – adaptada) “A sociedade em rede se caracteriza pela rapidez do amento da densidade de fluxos e da escala de circulação. Seu surgimento está relacionado ao desenvolvimento dos meios de transporte, das comunicações e da transmissão de energia, característica essencial da organização espacial da sociedade moderna – uma sociedade umbilicalmente ligada à evolução da técnica, à aceleração das interligações e da movimentação das pessoas, de objetos e de capitais sobre os territórios.” MOREIRA, R. Da região à rede e ao lugar: a nova realidade e o novo olhar geográfico sobre o mundo. Etc... espaço, tempo e crítica. n. 1. v. 3. 2007. p. 57. No mundo contemporâneo, as redes configuram uma nova forma de organização geográfica das sociedades, porque: C território D espaço E lugar A padronizam regiões periféricas e centrais em virtude da difusão das tecnologias para sociedades antes pouco integradas geograficamente. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 19/63 Parabéns! A alternativa E está correta. Não há homogeneização dos espaços, assim como não se anula a importância dos territórios ou das fronteiras. As redes são sistemas controlados pelo poder. O meio técnico-científico informacional constrói as bases da globalização, gerando a sociedade em rede, a economia informacional e a cultura da virtualidade, todas bases para a gênese de um novo mundo. Dessa forma, as redes constroem uma paisagem compreendidacomo materialidade resultante desse processo histórico. B colocam todos os lugares em conexão, garantem fluidez ao processo global de produção e homogeneízam os espaços. C anulam a importância dos territórios e fronteiras nacionais na articulação da geopolítica mundial, reconfigurando a geografia do poder. D constituem sistemas usados livremente pelas sociedades em busca de projetos emancipatórios, ampliando os conflitos e as disputas políticas. E sobrepõem-se, na escala mundo, às configurações regionais do passado, impondo um novo funcionamento reticular e hierárquico aos territórios. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 20/63 2 - Novos modelos econômicos e rearranjos no cenário globalizado Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as transformações territoriais ocorridas em função da disseminação dos novos modelos produtivos e econômicos. Antes de entrar nos modos de produção tem um conceito visto no módulo anterior que serão importantes para compreender os debates que você verá. Vamos entender, com ajuda do professor Leandro sobre território e territorialização. Territorialização e desterritorialização Flexibilização do trabalho e a geogra�a 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 21/63 É diante desse processo que passamos a lidar como a economia entre em movimento, e por isso vamos a modos de produção fordistas e toyotistas. Do modo de produção fordista ao toyotista As décadas de 1950 e 1960 foram intituladas como um “período de ouro” para o capitalismo em virtude das significativas taxas de expansão média da economia global. No entanto, o que se viu a seguir foi uma grande mudança do contexto. Em parte, tais mudanças foram resultado das próprias características do modelo industrial dominante até a época, o fordista, que estava baseado na fabricação de mercadorias padronizadas e com longos ciclos de vida, o que tende a desestimular o consumo no médio prazo. Além disso, as pressões proletárias e sindicais resultavam em uma progressiva expansão salarial. Por um lado, isso era importante por garantir, talvez pela primeira vez na história, um momento de melhorias substanciais nas condições de vida dos trabalhadores. Entretanto, gerava uma ameaça aos lucros dos capitalistas, o que se concretizou efetivamente com a crise do petróleo de 1973. Afinal, a subida dos preços dele fez com que os custos com a produção e os estoques se tornassem rapidamente muito maiores. “Bombas de gasolina fechadas” – um posto de gasolina americano fechado durante o embargo ao petróleo em 1973. Nesse contexto, houve um movimento em prol da adoção de mudanças na forma de produção, fazendo com que, entre as décadas de 1960 e 1970, se expandisse pelo mundo um modelo de produção criado no Japão e que ficaria conhecido como toyotismo. Também chamado de 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 22/63 pós-fordismo, esse novo sistema produtivo buscava reduzir os custos da produção em geral, focando principalmente a: Porém, para analisar melhor essas mudanças, é importante entender adequadamente como os modelos de produção fordista e toyotista se diferenciam. Uma comparação possível entre os dois modelos produtivos pode ser feita com o uso de duas palavras: rigidez e flexibilidade. A rigidez fordista se manifesta no: Processo produtivo em si com a produção de mercadorias padronizadas, a manutenção de grandes estoques e a realização de atividades laborais repetitivas. Campo espacial em virtude da lógica de concentração territorial das indústrias, cujo padrão de localização é conhecido como economia de aglomeração. Ter a produção industrial em uma área geograficamente limitada se tratava, afinal, de uma forma de reduzir custos logísticos e aumentar a lucratividade, considerando que, à época, os transportes ainda não eram tão rápidos e eficazes. Eliminação de estoques Diminuição dos aluguéis Redução dos gastos com salários 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 23/63 Por outro lado, a flexibilidade é uma palavra-chave para compreender o pós-fordismo, pois tal aspecto se manifesta por meio de: Mundo do trabalho Lógica espacial (graças a processos como a desconcentração industrial e a fragmentação produtiva) Próprios produtos (diversi�cados em vez de padronizados) 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 24/63 Por isso, cabe investigar melhor de que modo o atual modelo de produção toyotista tem provocado transformações territoriais que afetam a produção e o mercado de trabalho. Falaremos mais sobre isso na próxima seção. Flexibilização da produção e da localização espacial Uma das diferenças mais marcantes entre o modo de produção fordista e o modo flexível está no abandono da ideia de padronização das mercadorias, a qual deu lugar ao conceito de produção personalizada. Apoiada nos avanços tecnológicos da época, a indústria passou a ampliar as opções de modelos e cores de produtos, além de fazer lançamentos de novas mercadorias com intervalos de tempo mais curtos. Loja da Apple em Nova Iorque, EUA. Essa estratégia induz ao que se chama de obsolescência perceptiva, ou seja, incentiva-se o consumidor a desejar novas mercadorias o tempo 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 25/63 inteiro, o que o leva a trocar um produto ainda em condições de uso por um novo. Outra marca da indústria atual é a tentativa de diminuição controlada do tempo útil de vida das mercadorias, estratégia denominada obsolescência programada. Isso gera uma equação complexa: É preciso fabricar uma mercadoria que seja durável o bastante para que o consumidor não perca a confiança nela, mas que quebre rápido o bastante para que ele compre outra a seguir. Entre essas transformações espaciais, podemos afirmar que a evolução dos transportes materiais e imateriais permitiu uma ampliação da fluidez e do dinamismo nos deslocamentos. Com isso, as indústrias ganharam novas possibilidades geográficas, sem haver a necessidade de elas se manterem presas à velha dinâmica metropolitana. O resultado disso é que muitos antigos distritos industriais entraram em decadência, já que fábricas situadas nessas áreas migraram em busca de vantagens comparativas rumo a regiões sem tradição fabril e, por isso mesmo, sem mão de obra organizada nem estruturas sindicais. Outra importante transformação nos territórios se deu em virtude do aprofundamento da fragmentação produtiva: com ela, as empresas deixaram de concentrar a fabricação de produtos em um só espaço, passando a “dividir” suas empresas em setores espacialmente separados. Criava-se, desse modo, o conceito de “fábrica global”, cuja produção industrial é fragmentada por diferentes países e integrada por meio de redes técnico-geográficas. Nessa lógica atual, os setores responsáveis pelo desenvolvimento de alta tecnologia se situam em regiões centrais. Exemplo 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 26/63 Tecnopolos presentes em áreas dos Estados Unidos e em países europeus. Nesses espaços, a presença de centros de pesquisa e universidades garante a vantagem comparativa da mão de obra qualificada, que é responsável pela produção de tecnologia. Já os segmentos de produção que ainda exigem grandes contingentes de trabalhadores são deslocados para países onde o custo da mão de obra é baixo, como é o casode Bangladesh, Vietnã e outros territórios situados entre o Sul e o Sudeste Asiático. Nesses países, além dos baixos salários pagos, as empresas costumam economizar com incentivos fiscais e leis ambientais pouco rígidas. Trabalhadores em fábrica de roupa em Gazipur, Bangladesh. Como apontamos, outra importante característica da flexibilidade do modelo toyotista envolve abandonar a produção em massa e realizar uma produção por demanda e diversificada, com mais variedade de modelos de mercadorias disponíveis ao consumidor. Graças a isso, a necessidade de grandes espaços para estoques deixou de ser uma questão fundamental e a produção passou a ser baseada no just in time, em que a matéria-prima só chega ao local de produção na hora de ser utilizada no processo produtivo. Não há mais, portanto, a necessidade de grandes fábricas, o que permite uma redução de custos com terrenos, aluguéis e impostos. Ademais, pode-se utilizar menos mão de obra e ter mais flexibilidade na hora de escolher o local de instalação da fábrica. Em virtude disso, o rígido controle feito pelos governos de características keynesianas deixou de ser possível. Tais governos seriam, dali em diante, pressionados a abandonar a visão desenvolvimentista e a adotar práticas neoliberais. Comentário 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 27/63 Podemos dizer que os Estados nacionais passaram a ser emparedados pelos interesses privados, que os obrigavam a intervir menos, sob a pena de sofrer com a desterritorialização de suas indústrias nacionais, as quais agora poderiam migrar para outros países. Discutiremos isso de forma mais desenvolvida nas próximas seções. Com efeito, a desconcentração industrial se tornou um fenômeno cada vez mais comum, incentivando, como consequência dela, a expansão de outro processo: a transnacionalização de empresas. Nesse processo, as filiais e os produtos se prestam não apenas a levar lucros para a matriz, mas também a escoar os valores culturais e a ampliar a dominação dos países hegemônicos sobre aqueles de menor desenvolvimento tecnológico. Flexibilização do trabalho Entre os anos 1950 e 1960, durante o auge do período fordista, a expansão das atividades industriais, atrelada à necessidade de utilização de muitos trabalhadores nas fábricas, promoveu o surgimento de uma “sociedade de pleno emprego”. Afinal, o baixo grau de automação fabril e a especialização dos trabalhadores em uma ou poucas tarefas, somados à produção em massa de mercadorias, acabavam por exigir grandes contingentes de mão de obra. Comentário Na época, as taxas de desempregos eram baixas, o que reduziu o exército industrial de reserva e permitiu o aumento da capacidade de negociação de trabalhadores e sindicatos com os patrões. Nesse contexto, o proletariado vivenciou uma fase de elevação no padrão salarial e ganhos trabalhistas. Contudo, a elevação dos custos médios de produção entre os anos 1960 e 1970 fez com que, dentro de uma lógica capitalista, houvesse a criação de estratégias para reduzir os custos com a mão de obra e garantir a manutenção dos lucros. Com o avanço tecnológico, houve uma automação do processo produtivo, o que reduziu a demanda por trabalhadores e criou um tipo de desemprego conhecido como estrutural. Resultado: as vagas de emprego restantes passaram a ser disputadas por uma quantidade maior de indivíduos. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 28/63 Desse modo, as empresas ficavam em uma posição ainda mais privilegiada quanto à seleção de seus funcionários. Não se tratava mais somente de uma questão relacionada à assimetria de poder político e econômico entre patrões e empregados. A questão numérica passou a ser ainda mais relevante: havia poucos empregos para muitos trabalhadores. Em virtude dessa posição privilegiada (e da necessidade, em algumas situações, de uma mão de obra capaz de operar máquinas modernas), crescia a exigência por trabalhadores cada vez mais qualificados e que efetuassem múltiplas tarefas, mesmo que isso não implicasse aumentos salariais. Ou seja, passou a ocorrer uma flexibilização das relações trabalhistas. Comentário Segundo análises mais otimistas, podemos entender que o modelo toyotista criou novas possibilidades para o trabalhador, dando a ele a oportunidade de atuar sem horários rígidos ou amarras trabalhistas – e, de certo modo, existe alguma verdade nessa argumentação. Isso é válido especialmente para alguns poucos segmentos de trabalhadores mais qualificados, que passaram a ganhar flexibilidade e autonomia no serviço, podendo até optar por abrir mão de vínculos trabalhistas convencionais. Contudo, o fato é que houve uma precarização das condições médias de trabalho, especialmente para a grande maioria dos trabalhadores de baixo grau de qualificação. Esse grupo perdeu garantias trabalhistas, ficando mais vulnerável ao desemprego, à informalidade e à superexploração. Por isso mesmo, é possível dizer que há uma crise no mundo do trabalho em curso desde os anos 1980. Essa crise passa pela grande transformação ocorrida no próprio mercado: até meados do século XX, havia o predomínio do emprego formal e a força da representação sindical e das negociações setoriais, além da associação entre a identidade dos cidadãos e sua ocupação profissional. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 29/63 Há décadas, porém, a evolução tecnológica tem feito aumentar o desemprego estrutural, provocando o lento fim dos empregos tradicionais e o esvaecimento das fronteiras entre o trabalho e o não trabalho. Além disso, os dispositivos tecnológicos e as redes técnicas vêm propiciando o surgimento de novos modelos de trabalho e de exploração de serviços, o que pode provocar uma nova onda de eliminação de empregos e de fragilização nas relações trabalhistas. Entregador de comida de aplicativo. Parte dessa nova lógica tem sido chamada de uberização, que consiste no trabalho por demanda, em que não há vínculo empregatício e direitos trabalhistas. Afinal, as empresas se apresentam apenas como fornecedoras da tecnologia de intermediação de serviços, não assumindo, com isso, nenhuma responsabilidade trabalhista em relação aos trabalhadores – chamados não de funcionários, e sim de colaboradores ou parceiros. No médio prazo, espera-se que um número crescente de profissões seja facilmente substituído por algoritmos, robôs e outras tecnologias digitais. A tendência disso é eliminar especialmente os empregos de média qualificação, fazendo com que o mercado de trabalho seja dominado por dois segmentos extremos: Os trabalhadores altamente quali�cados Os trabalhadores de baixa quali�cação 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 30/63 Em países com alto desemprego, como o Brasil, por exemplo, a tábua de salvação de milhões de pessoas no mercado de trabalho tem sido esta: atuar como motorista de aplicativo. Porém, como frisamos há pouco, aplicativos de transporte geridos por algoritmos têm um modelo de negócio em que os motoristas sequer são seus funcionários. Por um lado... ...existe, com isso, a liberdade aparente de se trabalhar quando e quanto quiser. Por outro lado... ...tal fator muitas vezes se materializa em jornadas intermináveis e em uma virtual ausência absoluta de direitos trabalhistas em casos de acidentes, doenças, incapacidades e outros problemas. Desse modo, podemos dizer que a uberização é marcada não somente pela ultraflexibilização do trabalho, mas também pela possibilidade concreta de precarização das condições trabalhistas. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidadehttps://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 31/63 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O modelo de produção industrial denominado toyotismo passou a ser dominante ao longo das últimas décadas, modificando profundamente a estrutura da indústria global. Uma de suas características mais importantes é a (o): A linha de produção padronizada. B desterritorialização da produção. C uso de um sistema de estoques. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 32/63 Parabéns! A alternativa B está correta. O toyotismo prioriza a produção conforme a demanda do mercado consumidor, a não formação de estoques excessivos, funcionários trabalhando em equipe e produtos com melhor qualidade e em estágios mais sofisticados, além da personalização dos produtos conforme o desejo do cliente. Como resultado da diminuição das fábricas e das novas possibilidades ofertadas pelas tecnologias, a desterritorialização produtiva se tornou uma realidade. Questão 2 “No evento ‘O Regresso da Indústria’, ocorrido no último dia 24 de março, especialistas e decisores do setor foram unânimes quanto a uma inevitável escalada de preços dos produtos, fruto da crise energética e dos obstáculos nas cadeias de abastecimento. ‘Incerteza’ e (novamente) ‘resiliência’ serão as palavras de ordem para este ano no setor. Para Raúl Magalhães, presidente da APLOG, são previsíveis três impactos na indústria: ‘a crise energética, que trará pressão na produção das matérias-primas, levando a uma inevitável escalada de preços’; e, por fim, ‘as consequências que estão a derivar do isolamento de zonas geográficas e que têm obrigado à alteração de rotas marítimas e aéreas’. Por tudo isso, o executivo considera que é imperativo uma mudança de mentalidade. ‘Mais do que pensar no just in time, é mais importante adotar uma mentalidade de just in case’, ou seja, ‘ter stocks, hoje, é uma segurança e faz todo o sentido termos planos alternativos no nível de stocking’.” COSTA, A. Indústria enfrenta contexto de incerteza. “Mais do que pensar no ‘just in time’, é importante adotar uma mentalidade de ‘just in case’”. Hipersuper. Publicado em: 1. abr. 2022. Em tempos de dificuldade de circulação de fluxos globais em virtude do cenário pandêmico, a lógica da eliminação de estoques e da fábrica global é afetada. Sobre esse tema, identifique a seguir o modelo de produção e o respectivo contexto em que o sistema just in time surgiu. D automação e aumento da mão de obra. E utilização de distritos industriais tradicionais. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 33/63 Parabéns! A alternativa C está correta. O just in time é uma modalidade de produção historicamente recente que surgiu após a Terceira Revolução Industrial. Ele costuma ser adotado por empresas de alta tecnologia do setor industrial de serviços e comércio, a exemplo do setor de softwares para computadores, sendo caracterizado pela formação de baixos estoques de mercadorias, pela produção conforme a demanda e por uma elevada personalização dos produtos. No just in time, os trabalhadores costumam ser mais qualificados e flexíveis, isto é, executam variadas funções, sendo o oposto das regras do taylorismo. A transnacional japonesa Toyota foi a precursora do toyotismo, no qual se adotam menos estoques de produtos que o fordismo e a produção é realizada por equipes de trabalhadores que dominam a totalidade da fabricação de determinado produto. O resultado disso é a criação de produtos com melhor qualidade e competitividade no mercado externo. A Fordismo – pós-Segunda Guerra Mundial. B Taylorismo – Terceira Revolução Industrial. C Toyotismo – Terceira Revolução Industrial. D Volvismo – meio científico-informacional. E Neoliberalismo – Quarta Revolução Industrial. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 34/63 3 - O neoliberalismo – entre a ideologia e a realidade Ao �nal deste módulo, você será capaz de comparar a atuação dos Estados nacionais, das empresas privadas e dos indivíduos sob a égide do neoliberalismo. O avanço tecnológico e a mobilidade geográ�ca Como comentamos anteriormente, a evolução tecnológica espetacular iniciada na segunda metade do século XX foi a indutora de profundas transformações socioespaciais e territoriais. E o que queremos enfatizar nesse momento é o quanto a relação entre os Estados nacionais e os seus respectivos territórios foi alterada em virtude do progresso da tecnologia. Entre tais transformações mais significativas, destaca-se a mudança na concepção do Estado em relação ao seu modo de agir, fator que ocorreu em função de: Pressões ideológicas Realidade concreta 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 35/63 Tratemos dessas duas questões a seguir. Em primeiro lugar, deve ficar claro que, com o avanço dos transportes e das telecomunicações, as empresas ganharam muito mais mobilidade geográfica e opções de locais para se instalar. Até então, uma organização era induzida a se instalar nas proximidades de suas fontes de matéria-prima ou de seu mercado consumidor. Exemplo Uma empresa cujo objetivo fosse produzir mercadorias para vender aos habitantes dos Estados Unidos teria muitas dificuldades logísticas caso instalasse sua unidade de produção em território chinês. Assim, por mais que houvesse na China e em outros países do mundo periférico mão de obra barata e custos menores em geral, o deslocamento geográfico das mercadorias seria caro e lento demais. Contudo, o entrave técnico desse exemplo praticamente deixou de existir desde as últimas décadas do século XX. Há algum tempo, já é possível instalar unidades de produção em locais distantes e comandar o que se fabrica por lá à distância, utilizando, para tal, os modernos sistemas de telecomunicações. Do mesmo modo, pode-se comprar mercadorias fabricadas na China e recebê-las no Brasil em pouco tempo e a um custo acessível graças ao excepcional progresso dos sistemas de transportes. Com isso, as empresas – e, em especial, as grandes corporações, com muito mais dinheiro e produção em escala – passaram a poder escolher em quais territórios iriam instalar suas unidades de produção para aproveitar as vantagens oferecidas. Consequentemente, passou a haver um verdadeiro “leilão”: as corporações submetem os Estados nacionais a uma “guerra fiscal” e, com isso, conseguem isenção de impostos, doações de terrenos e uma série de outras vantagens locacionais. Isso tudo tem promovido uma grande desconcentração industrial ao longo das últimas décadas, 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 36/63 fazendo com que os tradicionais espaços fabris vejam suas antigas fábricas fecharem ou migrarem para países periféricos ou emergentes. Comentário O resultado disso é a ocorrência de uma profunda reterritorialização produtiva, o que impacta diretamente a arrecadação de impostos dos países, o mercado de trabalho nacional, a estrutura social e diversas outras lógicas no espaço geográfico. Essa é a realidade concreta. A tal realidade, como apontamos, soma-se a questão ideológica, marcada pelo fortalecimento do discurso em defesa daquilo que é comumente chamado de neoliberalismo. Trataremos dele na próxima seção. As ideias e as práticas neoliberais Inicialmente, cabe destacar que há uma longa batalha semântica e acadêmica em torno da expressão “neoliberalismo”. De modo geral, podemos dizer que se trata de uma corrente do pensamento ideológico econômico que se contrapõe a outras, comoa keynesiana e a desenvolvimentista, dominantes entre os anos 1930 e 1960 em parte significativa do mundo ocidental. No entanto, o neoliberalismo, como alguns podem imaginar, não é apenas uma repetição de antigos preceitos liberais. Para compreender isso, é necessário fazer uma pequena digressão histórico-econômica. Até a crise de 1929, as ideias liberais eram predominantes no mundo capitalista: acreditava-se que o livre comércio e as forças do mercado seriam capazes de, por conta própria, promover um maior crescimento da economia e um desenvolvimento. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 37/63 Fila de desempregados da Grande Depressão americana de 1929. Contudo, a depressão americana resultante da quebra da Bolsa de Valores de Nova York deu início a uma época em que os governos passaram a intervir intensamente na economia, seguindo um conjunto de práticas recomendadas pela doutrina econômica do keynesianismo. De acordo com os keynesianos e os desenvolvimentistas, o Estado deve assumir papel central na coordenação da política econômica do país, atuando como um indutor do crescimento. Essa indução pode ser feita por meio de: Não se trata, portanto, de uma defesa de um controle absoluto dos meios de produção por parte do Estado, e sim de uma perspectiva que o compreende como um importante agente econômico para estimular o capitalismo de maneira planejada e evitar crises. Exemplo No Brasil, podemos dizer que governos, como, por exemplo, os de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, além da própria ditadura militar, efetuaram predominantemente políticas desenvolvimentistas no campo da economia, usando o capital estatal como indutor do processo de Injeção de dinheiro público em obras a fim de gerar empregos e estimular outras atividades econômicas de forma direta. Criação de indústrias e empresas estatais em setores estratégicos, como mineração e energia, os quais geralmente exigem pesados investimentos e demoram a dar lucro, o que por si só costuma afugentar investidores privados. Lançamento de políticas sociais de combate à pobreza e à desigualdade, garantindo, assim, um bem-estar social para a maioria dos indivíduos. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 38/63 industrialização no país entre os anos 1930 e 1980. Porém, a partir da década de 1990, o país e as políticas públicas nacionais passaram a ser cada vez mais influenciados pelas concepções neoliberais, assim como grande parte do mundo ocidental. Em linhas gerais, o neoliberalismo é uma releitura da doutrina econômica liberal, segundo a qual o mercado deve servir de base para a organização da sociedade. Essa ideologia nasce como uma crítica teórica e política às ideias keynesianas e aos defensores da intervenção do Estado na economia. Um dos textos precursores da ideologia neoliberal foi publicado por Friedrich Hayek, que, em 1944, escreveu O caminho da servidão, livro com fortes críticas ao Partido Trabalhista inglês. Entretanto, a disseminação das ideias neoliberais se fortaleceu apenas a partir dos anos 1970 por meio dos textos do economista Milton Friedman e dos demais teóricos da Escola Monetarista de Chicago, que defendiam o livre funcionamento do mercado sem controles inibidores do Estado. Alegava-se que esse era o caminho para superar a crise de 1973. Segundo esses teóricos, tais medidas promoveriam o aumento da produção e a geração de emprego e de renda, proporcionando efeitos socioeconômicos positivos. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 39/63 Livro O Caminho da Servidão de Friedrich Hayek. Crise de 1973 Ano no qual os preços do petróleo dispararam, o que afetou intensamente a economia global. O neoliberalismo propõe uma valorização da competição entre pessoas e da liberdade de comércio, ao mesmo tempo que defende a desregulamentação da economia (controles públicos menos rígidos das atividades econômicas) e a privatização das empresas estatais. Comumente, observa-se em países com política neoliberal a privatização de: Usinas de energia Indústrias de base Construção e administração de estradas Administração de portos Parte de setores de fundamental interesse público, como saúde e educação 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 40/63 Para os neoliberais, tais medidas são necessárias, pois, ao enxugar os gastos sociais e outros investimentos públicos, o governo tende a diminuir impostos e estimular atividades produtivas. As contradições do neoliberalismo Inicialmente, a política econômica neoliberal foi aplicada, a partir dos anos 1970 e 1980, pelo governo ditatorial de Augusto Pinochet (Chile) e pelos governos democráticos de Margareth Thatcher (Reino Unido) e Ronald Reagan (Estados Unidos), tendo se tornado uma tendência global a partir dos anos 1990. Entretanto, as ideias neoliberais têm sofrido fortes críticas de diversos teóricos de outras correntes do pensamento social e econômico – dentre as quais, se destacam as realizadas por economistas neokeynesianos, como: Paul Samuelson Joseph Stiglitz 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 41/63 Paul Krugman Para tais economistas, a economia de mercado tem se caracterizado pelo alto grau de imperfeições, sendo incapaz de resolver por si só todos os problemas que afetam uma sociedade, especialmente pela existência de uma assimetria de informações e oportunidades. Dessa forma, os neokeynesianos defendem que a economia de mercado seja regulada pelo estado a fim de minimizar as contradições presentes no sistema capitalista. Mesmo assim, o discurso dominante em grande parte dos países na atualidade postula o seguinte: Para usufruir dos efeitos positivos da globalização, é necessário promover uma abertura completa dos mercados nacionais por meio de práticas, como a desregulamentação econômica e financeira dos territórios. Tal discurso alega que, mesmo nos países periféricos, essas medidas viriam a trazer modernidade e avanço na qualidade de vida. Em suma, a ideologia neoliberal defende que os governos renunciem à sua capacidade de ação como investidores, deixando de exercer a função de coordenação da economia. Ela lhes sugere que realizem apenas tarefas, como, por exemplo, administrar serviços públicos, executar programas de renda mínima e criar condições ideais para o capital financeiro e produtivo internacional. Entretanto, algumas reflexões são necessárias a respeito desse discurso. Atenção! Ainda que vivamos sob um cenário de forte globalização das informações, não se pode afirmar que as condições reais para empreender ou produzir são globalizadas ou sequer que elas sejam minimamente semelhantes entre as diferentes regiões e países. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 42/63 O discurso neoliberal é, em geral, propagado predominantemente por países que já possuem elevado desenvolvimento tecnológico e que afirmam que a abertura dos territórios nacionais à influência externa e ao capital estrangeiro (produtivo e especulativo) será uma indutora espontânea de riqueza nacional. Afinal, a competição com produtos e empresas estrangeiras mais eficientes estimularia o aumento da competitividade com aqueles de cariz nacional. Comentário Ao Estado bastaria a missão de reduzir a regulação, os impostos e outros tributos a fim de melhorar o ambiente de negócios para os empreendedores privados nacionais. No entanto, essa afirmação soa ingênua e pouco realista, pois ignoraque as grandes corporações estrangeiras já possuem um patamar tecnológico muito mais avançado, além de maior capacidade de produção e melhores condições de financiamento. Segundo Gomes (2020), três elementos centrais tornam essa competição extremamente desigual: Atualmente, existem países cujas taxas de juros são extremamente baixas ou negativas, como é o caso do Japão. Por lá, um empresário que tomar um empréstimo precisará arcar com um custo muito menor que o de um empreendedor brasileiro, uma vez que o Brasil habitualmente costuma ter taxas de juros muito elevadas. Com isso, a livre concorrência entre esses dois empreendedores não será possível, já que o empresário estrangeiro tem custos de capital muito mais baixos. A situação descrita acima só piora quando se analisa a questão da escala de produção. Afinal, um país ou uma empresa que já possua estrutura de produção em larga escala consegue reduzir expressivamente seus custos. Comparemos o caso do Paraguai, país pequeno, pouco populoso e com baixo grau de desenvolvimento tecnológico e industrial, O custo de capital A escala 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 43/63 com a situação da Índia, uma gigante territorial cujo contingente demográfico soma mais de um bilhão de pessoas e que já possui importante estrutura industrial, além de já ter um destaque tecnológico em alguns segmentos. Nesse exemplo, é extremamente difícil para certos países, como é o caso do Paraguai, desenvolver condições de competir abertamente em igualdade com gigantes como a Índia. É notório que, com o passar do tempo, os ciclos de desenvolvimento tecnológico se tornaram cada vez mais curtos. Durante as duas primeiras revoluções industriais, uma tecnologia demorava muitas décadas até ser substituída por outra. Até o período imediatamente posterior à 2ª Guerra Mundial, ou seja, até as décadas de 1950 e 1960, era viável que um país retardatário em termos de tecnologia pudesse alcançar outros mais avançados, a exemplo do que foi feito pela Coreia do Sul. Contudo, as últimas décadas – especialmente a partir da Quarta Revolução Industrial, atualmente em curso – têm sido marcadas por uma substituição extremamente veloz das tecnologias. Com isso, hoje é praticamente impossível que um país atrasado tecnologicamente consiga alcançar outro que disponha de tecnologia de ponta. O neoliberalismo e os teóricos da geogra�a Vamos aprofundar neste vídeo algumas questões sobre neoliberalismo, apontando suas contradições. A tecnologia 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 44/63 Algumas críticas e re�exões sobre o neoliberalismo Os argumentos trazidos anteriormente compõem apenas alguns dos diversos aspectos que levam teóricos, como o coreano Ha-Joon Chang, a afirmar que, na realidade, as políticas neoliberais não possuem condições de levar países periféricos ao desenvolvimento econômico prometido. Na verdade, o que essas políticas costumeiramente promovem neles é uma desnacionalização da economia, que passa a ser dominada por corporações e capitais estrangeiros, cujas ações começam a orientar as transformações territoriais, incluindo os investimentos do Estado e a legislação nacional. Outras consequências seriam o agravamento das desigualdades sociais e o enfraquecimento de políticas de combate à pobreza, à medida que a arrecadação do governo tenderia a diminuir. Chang afirma que a abertura irrestrita de uma economia nacional não costuma gerar o aumento da produtividade, e sim uma quebra generalizada do setor secundário, o que se reflete em um processo de desindustrialização, ou seja, de diminuição da importância da atividade econômica no PIB e na geração de empregos qualificados. Ainda de acordo com o autor coreano, sequer existe efetivamente um livre mercado, uma vez que todo mercado possui regras construídas por certos arranjos políticos e que servem aos interesses de grupos específicos, levando ao favorecimento de uns em detrimento de outros. Por isso mesmo, Chang alega que, na maior parte das vezes, é essencial haver algum tipo de ação estatal quanto ao planejamento da economia a fim de que se encontre um ponto ideal relativo ao câmbio e às tarifas alfandegárias, além de se efetuar uma política de comércio exterior. Comentário 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 45/63 É interessante perceber que é exatamente isso que foi feito no início do desenvolvimento industrial da maioria absoluta dos países que hoje são referência em produção tecnológica, como Estados Unidos, Grã- Bretanha, França e Japão. Todos eles, em suma, efetuaram políticas protecionistas e de concessão de subsídios – exatamente aquilo que o neoliberalismo atualmente afirma não funcionar para os países periféricos! Chang diz até que tal situação pode ser encarada como um “chute na escada”. Explicamos: os países atualmente ricos teriam trilhado um caminho – ou seja, “subido uma escada” – rumo ao desenvolvimento econômico, industrial e tecnológico por meio de políticas que eles atualmente alegam não funcionar. Dica Os países centrais estariam induzindo os periféricos a utilizar uma ideologia econômica de caráter liberal que não foi usada por eles para promover seu próprio crescimento. Esse “chute na escada” seria um instrumento proposital a fim de impedir que os países periféricos pudessem se desenvolver a ponto de representar uma concorrência real do ponto de vista tecnológico. Com isso, o mundo desenvolvido conseguiria continuar drenando parte significativa dos recursos do periférico para os seus próprios territórios por meio da lógica da divisão internacional do trabalho. Lógica da divisão internacional do trabalho A periferia global ocupa genericamente um papel de fornecedora de matérias-primas, commodities e produtos industriais de baixa tecnologia, ao passo que o mundo industrializado tradicional, composto por América Anglo-Saxônica, Europa Ocidental, Japão e alguns outros territórios, seguiria concentrando a maior parte da lucratividade. Outro aspecto interessante nessa discussão tem a ver com o fato de que, em determinadas situações, os países centrais deixam de lado a defesa das ideias neoliberais e do livre comércio quando isso lhes é conveniente. Um exemplo disso tem sido visto nos últimos tempos, especialmente na relação comercial entre Estados Unidos e China. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 46/63 Como os chineses avançam expressivamente em escala de produção e quanto a termos tecnológicos em áreas antes dominadas pelos norte- americanos, isso promove uma perda de competitividade para a indústria dos EUA. O resultado disso é que as recentes administrações dos Estados Unidos têm promovido estratégias protecionistas com o objetivo de barrar a entrada de produtos chineses em território norte- americano, alegando que existe uma competição desleal por parte da China. Nota-se, com isso, que o discurso ideológico-econômico pode ser elástico a depender do contexto: Neoliberalismo e livre mercado Para os setores nos quais o país seja competitivo. Protecionismo Em áreas cuja produção estrangeira ameace a produção nacional. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 47/63 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 É uma doutrina do capitalismo que defende a ideia do Estado mínimo, ou seja, a menor regulação do Estado sobre a economia. Devido às suas características, produz uma crise permanente, porque, ao desregulamentar o mercado, a economia passaa privilegiar o setor financeiro em detrimento das questões sociais, alimentando um abismo de exclusão social. O texto anterior trata da doutrina do capitalismo conhecida como: 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 48/63 Parabéns! A alternativa E está correta. O neoliberalismo é uma política econômica baseada na diminuição do papel do Estado na economia. Portanto, essa política apregoa a privatização das empresas estatais e uma maior abertura da economia para importações e exportações, além da menor regulação estatal do sistema financeiro. Ela também defende a flexibilização da legislação trabalhista. Questão 2 No caso brasileiro, a perda de importância da indústria de transformação, especialmente ao longo da última década de 2010, é um fato. Ao mesmo tempo, o país tem voltado a depender cada vez mais da exportação de commodities primárias, e isso ocorre em meio à redução da coordenação estatal sobre as indústrias que desenvolvem alta tecnologia. O processo apontado no texto pode ser definido como: A mercantilismo B liberalismo C keynesianismo D desenvolvimentismo E neoliberalismo A desconcentração industrial B desindustrialização C descentralização econômica 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 49/63 Parabéns! A alternativa B está correta. Nas últimas décadas, o Brasil atravessou um processo de desindustrialização causado por múltiplos fatores. Entre eles, destaca-se o Custo Brasil (composto por alta carga tributária, burocracia, deficiência na infraestrutura de transportes e juros elevados). As indústrias brasileiras também apresentam dificuldades para competir com os produtos importados no mercado interno, assim como passam por problemas nas exportações devido à competição com outros países, como, por exemplo, China. A moeda muito valorizada durante longos períodos, como as décadas de 1990 e 2000, tampouco favoreceu as exportações de manufaturados. O Brasil tornou-se cada vez mais dependente de exportações de commodities agrícolas e minerais. Com isso, observa-se a falta de uma política industrial eficaz que avalie os setores industriais a serem incentivados pelo Estado por meio de protecionismo, investimento tecnológico, ampliação do mercado interno e busca de mercados externos. 4 - A ordem mundial contemporânea e a mobilidade do capital D acumulação primitiva E reversão da polarização 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 50/63 Ao �nal deste módulo, você será capaz de avaliar os efeitos globais da ordem geopolítica atual sobre a mobilidade do capital. Vamos começar! Uma nova ordem contemporânea? Neste vídeo, vamos aprofundar o conhecimento sobre as características da nova ordem mundial. Da Guerra Fria à Nova Ordem Mundial Já demonstramos anteriormente que o desenvolvimento tecnológico que nos leva à atual dinâmica econômica e espacial remonta aos avanços surgidos no bojo da Terceira Revolução Industrial, ainda na segunda metade do século XX. Contudo, transformações espaciais não ocorrem apenas por conta das técnicas: é preciso que haja condições políticas para isso. Do ponto de vista geopolítico, ou seja, de acordo com as relações políticas entre os países, um momento- chave para a compreensão das atuais transformações no território ocorreu entre o fim da década de 1980 e o início dos anos 1990, com o fim da Guerra Fria. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 51/63 Afinal, até os anos 1980, ainda que houvesse condições técnicas para promover a difusão de fluxos globais, as redes geográficas ainda não eram plenamente integradas a uma porção relativamente grande do planeta: o antigo bloco socialista, composto pela União Soviética e seus aliados. Cortina de Ferro dividindo a URSS e aliados do restante dos países. Naquela porção do mundo, o capital encontrava uma barreira que o impedia de se reproduzir e se multiplicar em virtude da presença daquilo que se convencionou chamar de “Cortina de Ferro”. Entretanto, a fragmentação da antiga URSS abriu espaço para que o capitalismo passasse a ser praticamente o único sistema político-econômico em vigor no mundo. Naturalmente, como sistema flexível e adaptável que é, o capitalismo aplicado em cada país e em cada momento da história guarda uma série de peculiaridades. Ainda assim, mesmo em países como Cuba e Coreia do Norte é possível vislumbrar atualmente alguns elementos característicos de uma economia de mercado. Desse modo, a última década do século XX trouxe consigo a emergência de uma ordem mundial diferente da que havíamos visto nas décadas anteriores. Em lugar da velha ordem geopolítica da Guerra Fria, marcada por uma disputa ideológica entre norte-americanos e soviéticos, surgia um mundo em que o conflito entre capitalismo e socialismo deixaria de existir. Comentário Essa nova ordem geopolítica trouxe como novidade a emergência dos Estados Unidos como superpotência aparentemente imbatível do ponto de vista bélico-militar. Com isso, formava-se aos olhos de muitos analistas uma unipolaridade política corroborada pelo domínio estadunidense em outros campos, como o cultural. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 52/63 Por outro lado, ao olhar para a dinâmica da economia global, verifica-se que a realidade era outra. Para além dos Estados Unidos, a maior economia do mundo, era notório que outras potências se destacavam quanto à produção de tecnologia, mercadorias e riqueza. Entre elas, se sobressaíam a Alemanha e o Japão, os quais também se posicionavam como destaques no comércio exterior. Dessa maneira, o que se construía era uma ordem econômica multipolar com a presença de múltiplos atores com destaque – ao menos regional. Esse cenário simultaneamente influenciou e foi influenciado pelas redes geográficas, que permitiam a difusão de fluxos e uma integração global como jamais antes vista. Com isso, o capital pôde ganhar uma mobilidade notável, se difundindo pelo planeta – ainda que de maneira assimétrica – em busca de maiores taxas de lucro. As contradições do capital É importante enfatizar: toda a dinâmica descrita anteriormente está longe de ser homogênea e coesa. Aliás, o que ocorre é justamente o contrário, e essa é apenas uma das muitas contradições do capital. Vamos explicar uma delas: para que o capital circule livremente no espaço, as infraestruturas físicas e os ambientes construídos precisam ser fixos. Ou seja, para realizar trocas financeiras entre países, é necessário existir uma estrutura de cabos de fibra ótica e internet que seja fixa. Do mesmo modo, para haver uma circulação de mercadorias pelo mundo, é preciso que exista uma infraestrutura portuária complementada por outros sistemas de transporte. Logo, para que haja fluxos, é preciso que existam ambientes fixos. Comentário Quando, em determinado momento, essas infraestruturas físicas atingem um nível de excelência, isso cria um problema grave: sem haver a necessidade de construir novas infraestruturas, o ciclo da geração de riqueza se vê ameaçado, já que, em tese, não existiria a necessidade de obras, o que não geraria empregos, não criaria renda nem movimentaria a economia, seja de forma direta ou indireta. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 53/63 Eis aí uma das grandes contradições do capital apontada pelo britânico David Harvey: Quando uma infraestrutura física atinge um nível de excelência, ou ela se desloca e deixa um legado de destruição, ou permaneceimóvel sem obter a lucratividade que deseja. Isso explica um pouco o motivo de o capital se deslocar periodicamente de um espaço para outro, assim como ajuda a justificar os processos de industrialização tardios em países periféricos. Da mesma forma, vamos pensar, por qual motivo acontece a desindustrialização em alguns territórios e ocorre de modo simultâneo à industrialização de outros? Resposta Trata-se do deslocamento geográfico do capital em busca de territórios férteis para novas possibilidades de lucro. Para Harvey, isso seria uma prova de que desenvolvimentos geográficos desiguais acabam por esconder os problemas do sistema capitalista. Diante desse cenário, uma reflexão possível é a de que o capital não resolve as suas falhas sistêmicas. Na verdade, ele segue se reproduzindo, pois as desloca geograficamente através das redes a fim de sempre extrair o máximo de lucratividade de algum território. Mas resta uma dúvida: para que necessitamos dessa análise teórica? Entre outras razões, temos: Primeiro A teoria nos permite compreender a lógica geográfico-econômica que sustenta o movimento de grandes empresas transnacionais de países desenvolvidos ao instalar suas filiais em países subdesenvolvidos, onde elas passaram a produzir um elenco cada vez maior de produtos. Segundo A t i i d it fl ti it d 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 54/63 Esses temas e outros tantos assuntos aparentemente segmentados podem fazer parte de uma mesma lógica que envolve a interação entre o território, o capital e os interesses político-econômicos dos atores a eles associados. A teoria ainda nos permite refletir a respeito de como a Nova Ordem Mundial aprofundou a complexificação da divisão internacional do trabalho, já que muitos países deixam de ser meros fornecedores de alimentos e matérias-primas para o mercado internacional, tornando-se produtores e até mesmo exportadores de produtos industrializados – como é o caso do Brasil. É possível também raciocinar melhor a respeito da assimetria técnica e econômica entre as nações e de que modo isso influencia nos movimentos migratórios entre países. Terceiro A teoria pode até mesmo nos permitir entender que a economia internacional não é global. Sim, é isso mesmo que você leu: para muitos autores, como é o caso do sociólogo espanhol Manuel Castells, até os maiores mercados e empresas não são totalmente integrados, possuindo fluxos de capital limitados por regulamentos monetários e bancários. Mais evidente ainda é a contradição entre um mundo cada vez mais tecnológico e a presença crescente de barreiras nas fronteiras de países, dificultando o acesso de migrantes, os quais, por sua vez, muitas vezes foram desterritorializados à força pelas guerras, pela pobreza ou pela fome em seus respectivos espaços de origem. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 55/63 Novas perspectivas geoterritoriais e a Cooperação Sul-Sul Ao longo dos últimos séculos, as relações internacionais foram construídas fundamentalmente por meio de diálogos, cooperação, vínculos políticos e atividades comerciais entre países do Norte e do Sul. Tal dinâmica se mostrou evidente, por exemplo, por meio da divisão internacional do trabalho, em que metrópoles estabeleceram uma relação de comércio assimétrica com suas antigas colônias. Com o passar do tempo e a independência desses territórios, houve algumas mudanças nessa relação. Sua essência, porém, se manteve, colaborando para uma contínua drenagem de recursos naturais e de capitais dos países periféricos em direção aos centrais. Entretanto, ao longo das últimas décadas, tem havido um movimento no qual países de baixo grau de desenvolvimento socioeconômico passaram a tentar estreitar os laços entre si. Essa nova estratégia geopolítica é coerente com os dilemas semelhantes que muitos deles enfrentam: Dívidas elevadas Di�culdade de produzir tecnologia avançada Baixos índices de escolaridade Baixos índices de produtividade industrial 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 56/63 Por isso, fóruns de discussão entre essas nações para a troca de experiências e a construção de políticas de financiamento acabam sendo mecanismos utilizados para reduzir a dependência em relação aos capitais oriundos dos países do Norte. Pode-se dizer que o nascimento da Cooperação Sul-Sul (CSS) se deu por volta dos anos 1950, quando houve uma aproximação dos países recém-independentes do entorno asiático, a exemplo da Índia e de países próximos. Em 1955, a Conferência de Bandung reuniu 29 países africanos e asiáticos. Ela foi um marco da aproximação de países do Terceiro Mundo, especialmente em virtude de ter contado apenas com nações periféricas e em desenvolvimento. Na conferência, os países: No caso brasileiro, houve movimentos descontínuos no sentido de construir relações mais fortes com outros países da periferia e da semiperiferia global desde meados do século XX. Contudo, um período em que tais relações Sul-Sul foram estimuladas de maneira mais duradoura ocorreu entre 1994 e 2014, quando a política externa Discutiram a necessidade de superar a lógica bipolar da geopolítica da época. Denunciaram o colonialismo e o neocolonialismo como formas de dominação intelectual e econômica. Criaram estratégias e documentos em prol do fortalecimento dos vínculos políticos e comerciais entre si. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 57/63 brasileira visou a ampliar os laços com países do Oriente Médio, da África e da América do Sul – nesse caso, especialmente por meio do fortalecimento do Mercosul e da construção da Unasul. Outro sintoma dessas novas relações pôde ser observado pelo estreitamento de laços entre grupos de países emergentes, o que se materializou por meio do aumento da importância de fóruns de discussão, como, por exemplo, o G-20 e a cooperação entre os BRICS (bloco formado pelos países Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Essa geopolítica meridionalista ocorre em um cenário no qual a Nova Ordem Mundial, como demonstramos anteriormente, se transforma cada vez mais. Afinal, entre o início da década de 1990 e os anos 2020, o contexto geopolítico já sofreu profundas transformações. Entre elas, podemos citar especialmente o aumento da multipolaridade e a extensão da influência política e econômica dos países emergentes, com destaque para o papel de potências emergentes, como, por exemplo, a China. Marcadas pela emergência de novas potências regionais-globais, essas novas geografias do poder representam a possibilidade de novas territorialidades, já que redirecionam fluxos de capitais, pessoas e mercadorias entre países tradicionalmente marginalizados na economia global. O que se entende por CSS, assim, emerge como uma forma de diversificação de acordos com foco em países do Sul Global, o que pode ser interpretado como uma ação contra-hegemônica frente às tradicionais relações Norte-Norte e Norte-Sul contidas no sistema mundial. 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 58/63 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? 13/03/2024, 16:50 Os novos modelos econômicos e a territorialidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04413/index.html# 59/63 Questão 1 Desde o fim da década de 1980 e o início dos anos 1990, vive-se uma nova ordem geopolítica global. A atual ordem mundial se diferencia da ordem anterior, entre outras razões, pelo fato de que Parabéns! A alternativa C está correta.
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