Tema 1 - Geografia política e geopolítica

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Geogra�a política e geopolítica
Prof. João Rafael Gualberto de Souza Morais
Descrição
Compreensão da geografia política e da geopolítica como áreas de
análise das relações humanas organizadas em função e em relação
com os espaços, e os significados e funções que a territorialidade
assume.
Propósito
Os fundamentos teóricos da geografia política e geopolítica. A
compreensão das relações humanas em toda sua dimensão política
com o espaço físico e outros espaços – econômico, estratégico, militar
– marcados por contingências que limitam opções políticas e moldam
culturas. A relação entre os Estados sob a perspectiva dos espaços de
poder.
Objetivos
Módulo 1
Geopolítica
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Definir o conceito de geopolítica.
Módulo 2
Geogra�a política
Identificar os conceitos relacionados à geografia política.
Módulo 3
Geopolítica e geogra�a política: abordagem
comparada e exemplos
Comparar abordagens da geopolítica e da geografia política a partir
dos Estados e da dinâmica do espaço internacional.
Introdução
As relações humanas se dão na temporalidade e no espaço. Isso
significa que elas estão inseridas em duas dimensões que, em
conjunto, constituem a história. Tempo e espaço, segundo a
própria física, compõem a totalidade que molda a existência do
cosmos e, portanto, não poderiam deixar de ser também a esfera
que engloba nossa vida e ações.
A relação entre os indivíduos e as sociedades que compõem o
espaço é o marco central da geopolítica e da geografia política,
enquanto a história se dedica à variável temporal com especial
dedicação. O espaço constitui uma estrutura com limites físicos
– distâncias, clima, recursos, população, dentre outros – para as
possibilidades da organização coletiva humana, sendo fator
crucial em qualquer análise e discussão sobre uma civilização
e/ou sociedade, ou qualquer coletividade.

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1 - Geopolítica
Ao �nal deste módulo, você será capaz de de�nir o conceito de Geopolítica.
A proximidade entre as áreas
Geopolítica e geografia política são áreas siamesas, que compartilham
fundamentos, mas também se distanciam. Veremos a geopolítica pela
precedência histórica em relação à geografia política, que nasce,
inclusive, como reação e crítica à geopolítica. Esta última surge como
instrumento político orientado para a maximização do poder dos
Estados, ou seja, como elemento importante para a práxis na alta
política, aquela feita pelos Estados nacionais.
Atenção!
A geopolítica associa-se, portanto, ao terreno da estratégia e das
disputas pelo poder, enquanto a geografia política procura dar maior
ênfase a diversas outras dimensões das relações entre a política e o
espaço das relações humanas, para além da alta política e dos
interesses estratégico-militares dos Estados.
Para fins de sistematização, o campo geral de análise da geografia
associada à política foi dividido em três dimensões/recortes de análise,
que partem da geopolítica e orientarão todo o trabalho. Vejamos!
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Estado
Assume, em primeiro momento, o lugar central do campo, fundado sob
preocupações estratégicas – a geopolítica.

Ambiente Internacional
Acima dos Estados, está o nível sistêmico internacional, que incide nas
relações geoestratégicas e geoeconômicas entre as nações, como
também sua construção na realidade física.
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Sociedade
Abaixo do Estado, encontramos a geografia política das populações, que
estabelece o estudo dos processos, conflitos e das estratégias que
surgem dentro e entre as diversas comunidades locais.
Essas três “imagens” interagem dinamicamente e não existem
independentes. As duas primeiras estão abrigadas na política externa, o
espaço dos Estados em relação uns com os outros. A terceira refere-se
às dinâmicas internas do Estado, com toda a dimensão societária, que,
por sua vez, impacta também nas capacidades do Estado enquanto ator
internacional. Política interna e externa conectam e são indissociáveis
na análise.
Comentário
Assim, o estudo da geografia em seus contornos políticos, seja em qual
dimensão for, precisa se associar sempre às demais dimensões.
Começaremos pelo nível mais amplo em escala, aquele dos Estados no
ambiente internacional, que compreende a geopolítica stricto sensu.
Antes de mais nada, faz-se necessário entender o contexto histórico do
nascimento da geopolítica, isto é, as dinâmicas e contingências do
sistema internacional.
Nesta medida, compreendemos o exercício do poder, da governança,
como um processo de tomada de decisões sujeito, em primeiro lugar, às
condições do espaço, com todas as dinâmicas nele abrigadas –
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disputas de poder, contradições societárias etc. –, ou seja, não se
governa segundo unicamente impulsos internos do Estado ou
comunidade política, ou segundo os desígnios íntimos do Estadista,
mas, em primeiro lugar, segundo princípios pré-determinados pela
posição do Estado ou comunidade no espaço e pelas dinâmicas que
esse espaço produz. A isso chamamos geopolítica!
Em 1897, Friedrich RatzeI publicou Politisch Geographie, obra
considerada como o primeiro esforço de sistematização da disciplina
que trata das relações entre Estados nacionais em uma perspectiva
territorial/espacial. Na edição publicada em 1902, RatzeI acrescentou o
subtítulo “Uma geografia dos Estados, do comércio e da guerra”,
sinalizando mais explicitamente os direcionamentos da disciplina de
então. RatzeI, como outros autores nesse momento inicial, classificou a
disciplina como parte integrante das ciências políticas e dotada de
objetivos pragmáticos e/ou praxiológicos, ou seja, funcionais para a
prática da política no nível estatal.
Friedrich Ratzel (1844-1904), geógrafo e etnólogo alemão.
A orientação filosófico-política da nova disciplina, então batizada de
geopolítica pelo sueco Rudolph Kjellén, professor de Teoria do Estado,
não deixou dúvidas: a sobrevivência dos mais fortes, segundo a lógica
de um mundo imerso em “estado de natureza”, e a tendência de domínio
do mundo atlântico, anglo-germânico, sobre os demais territórios do
globo. Aqui, devemos enfatizar o contexto histórico.
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
Nesse momento,
transição do século XIX
para o XX, o Sistema
Internacional vivia um
intenso
“transbordamento” das
fronteiras da Europa
para o restante do
mundo, segundo os
fluxos do segundo
movimento imperialista,
principalmente sobre a
África e a Ásia.

Além disso, o
surgimento dos EUA e
do Japão como
potências extra
europeias também
elevava a escala do
Sistema Internacional
para fora das fronteiras
entre os Estados-nação
europeus.
A relação centro e periferia entre essas potências, que agora incluíam
Japão e EUA, se intensificam sobre uma profunda assimetria, legada
pelas relações coloniais.
Curiosidade
Era a época do auge das teorias do “racismo científico”, que davam
legitimidade à noção, amplamente difundida entre os povos de origem
europeia – inclusive os recém-independentes norte-americanos –, de
que os povos não brancos seriam inferiores e incapazes de prosperar,
devendo, portanto, ser dominados e conduzidos pelos povos
nórdicos/caucasianos.
É nesse contexto que a geopolítica surge como ferramenta dos Estados
europeus para pensar suas disputas entre si e consolidar seu domínio
sobre as outras regiões do planeta, então alvo de disputasentre eles.
Conceitualmente, Backheuser (1942) assevera a importância de atentar
para o termo geopolítica a partir de similares que se utilizam do prefixo
“geo” – que traduz alguma relação com a terra ou elementos do solo,
território, tais como geologia, geociências, geoquímica, geomorfologia
etc. Apoiando-se na etimologia da palavra, entendemos que geopolítica
se trata da política feita em decorrência das condições geográficas, não
sendo, assim, parte da geografia, mas da ciência política, totalmente
conectada às questões da tomada de decisões no nível dos Estados.
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Dimensão
Backheuser (1942), baseando-se em Kjellén, acentua que a política
desborda o Estado em cinco dimensões de análise básicas:
 Geopolítica
Esta dimensão tem por função a investigação do
país, ou seja, o “solo” político.
 Demopolítica
Esta dimensão estuda o povo e as raças e suas
relações políticas enquanto nação.
 Ecopolítica
E t di ã t d l ã d
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De todas essas dimensões, a que nos interessa neste estudo,
obviamente, é a geopolítica. Essa sistematização serve para
percebermos a função política do termo, sujeita às dinâmicas da
ontologia política dos Estados, que divide com as demais secções
acima.
“Solo” político assume um significado metafísico,
porém objetivo aqui. Como salientamos, as
características físicas de um espaço são apropriadas
pela política, tornando os atores políticos sujeitos elas.
Vamos exemplificar!
Exemplo
Uma nação pobre em petróleo, mas igualmente dotada de veículos
automotivos movidos à gasolina, irá precisar comprar petróleo no
mercado, estando sujeita às flutuações políticas desse produto e aos
impactos políticos dessa dependência, que podem ser diversos. Há
ainda uma dependência das características e dos interesses dos
respectivos países exportadores, que ganham um poder de barganha
garantido pela abundância ou mesmo a relativa posse desse recurso,
que para outras nações é escasso. Do mesmo modo, uma nação com
Esta dimensão estuda a exploração dos recursos
do país pela nação visando ao desenvolvimento
econômico.
 Sociopolítica
Esta dimensão estuda a sociedade dentro da
nação.
 Cratopolítica
Esta dimensão tem por função estudar as questões
de governo e administração, ou melhor, o regime
político e as manifestações da soberania.
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grande população, como Índia e China, possuem um grande potencial de
mercado consumidor, abrindo uma série de possibilidades de
investimento e desenvolvimento afastadas de nações menores em
população.
Na geopolítica, como vimos por meio desses dois exemplos, os espaços
e territórios são decisivos nas disputas pelo poder, pois é a eles que a
musculatura de cada Estado irá, irredutivelmente, corresponder.
Desbordando a geopolítica: conceitos
fundamentais
Associada diretamente à política no mais elevado nível – o dos Estados
–, a geopolítica se mescla a conceitos políticos fundamentais.
Analisaremos, agora, alguns desses conceitos e sua relação com a
questão do território. Basicamente, compondo um todo orgânico, esses
conceitos são:
Política
Estado
Soberania
Estratégia
Poder
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Nós os analisaremos a começar pela política, o centro de gravidade da
vida humana. Em uma referência a Aristóteles, lembremos que o homem
é, por definição, um animal político.
A definição de política mais basilar consiste em forma de organização e
mediação de interesses e conflitos/disputas em torno do processo de
tomada de decisões de uma comunidade. Uma comunidade é composta
por pessoas que precisam mediar seus interesses, que, invariavelmente,
entram em choque.
A ideia de “contrato social”, que lastreia toda a filosofia política
moderna, nasce da reflexão sobre o problema da soberania, essencial à
política. Segundo essa ideia, que encontra sua expressão primeiro em
Hobbes, os indivíduos, para escaparem da condição de sujeição ao
“estado de natureza”, se organizam e entregam sua liberdade aos
cuidados de um soberano, que centraliza o poder instituindo um governo
de leis sustentadas por instrumentos de coerção.
Essa definição de política nos leva à fundação do Direito e do Estado
que, com seu maquinário administrativo e instituições detentoras do
monopólio da violência, o consubstancia. A partir do momento
contratual, a soberania passa ao nível estatal, de modo que os príncipes
– Estados Soberanos – estão em estado de natureza uns em relação
aos outros, todos acima de seus respectivos contratos.
Guerra
Segurança
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Por soberania, entendemos a capacidade de promover os próprios
interesses de maneira autônoma e segura em relação aos demais
interesses que coexistem no espaço geopolítico. A política aqui,
portanto, é discutida em seu nível internacional, como força motriz do
processo de centralização política que erradica o estado de natureza
dentro das fronteiras dos Estados e produz um outro, fora delas. Disso,
resulta uma orientação necessariamente estratégica para esses atores,
que precisam, nessas condições, manter a prontidão frente às ameaças
de uma ordem anárquica que não oferece garantias sólidas de proteção
ao Direito Internacional.
Re�exão
O espaço da política internacional é aquele da ameaça permanente de
violência (guerra), o que leva a política a orientar-se pelas contingências
de natureza estratégica para garantir a segurança dos Estados.
Estratégia é a política enquanto planejamento para emprego de ações
dentro do âmbito da geopolítica, ou seja, a política dos Estados no
ambiente internacional em suas disputas em torno do poder.
Uma estratégia é uma hipótese de ação planejada
sempre a partir de uma disputa, um antagonismo de
vontades/interesses sobre um mesmo objetivo.
Em outras palavras, uma ação demanda uma estratégia quando enfrenta
alguma resistência impossível de desprezar. A capacidade de promover
os interesses e objetivos políticos de um Estado demanda poder, que se
expressa de muitas formas, além das mais intuitivas, ou seja, aquelas
ligadas à coerção.
Seguindo a definição de Hans Morgenthau, poder é a capacidade de
dobrar alguém à sua vontade, o que não se esgota na ideia de
dominação, como também compreende a capacidade de influenciar
esse alguém a cumprir sua vontade com menos custos.
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Daí a ideia de soft power (NYE), segundo a qual o poder exercido a partir
da capacidade de influenciar e de valores comuns, tem não só menos
custos do que o hard power (poder bruto, em tradução literal), como
também é mais eficaz.
Hard power x Soft power em
geopolítica
Veja agora um pouco mais sobre a distinção geopolítica de soft power e
hard power.
Compreendidas as dimensões, intrinsicamente associadas, da política,
do Estado, da soberania, da estratégia e do poder, resta entender o que
há para além desses limites, ou seja, a zona mais distante das fronteiras
do contrato social e responsável pela orientação estratégica da
geopolítica.
A guerra, como afirmou Clausewitz (2010), não é nada além do que a
política continuada por outros meios. Em um ambiente de anarquia
sistêmica, o poder bruto tende a ser o último fiador da soberania dos
Estados, sendo, inevitavelmente, um recurso a ser utilizado. Nesse
sentido, a guerra ocupa o espaço da política internacional – da
geopolítica – quando os Estados, ao pacificarem o interiorde suas
fronteiras, projetam suas armas para fora, a fim de garantirem sua
soberania. Essa garantia promove o que entendemos por segurança,

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isto é, um estado de coisas sempre volátil às contingências do ambiente
internacional e que requer permanente prontidão por meio de meios de
defesa com capacidade de dissuasão e emprego pronto.
Resumindo
A geopolítica compõe-se dos elementos elencados e brevemente
descritos acima, sendo o resultado da interação, cumpre repetir,
orgânica entre eles, nunca de um ou dois isoladamente. Em uma visão
holística, segundo a qual podemos dizer que o todo é maior que a soma
das partes, a geopolítica se torna, em si, um ambiente próprio e dotado
de suas próprias dinâmicas, produzidas a partir da soma de todas essas
partes.
Do mesmo modo, podemos compreender o ambiente internacional. Ele
é mais que apenas a soma dos Estados: é, em si, um agente
condicionante, que ganha vida a partir da soma das partes. Dito de outra
forma, as relações entre os Estados, pela configuração anárquica do
Sistema Internacional, os compelem a tomar medidas pela garantia de
sua segurança. Tais medidas produzem um ambiente de insegurança,
na medida em que é impossível confiar plenamente nos demais e é
necessário, portanto, estar sempre pronto para a guerra. Essa
conjuntura promove tensão e fortalece o viés de competição, que, cedo
ou tarde, resulta em conflitos.
Dessa forma, o espaço internacional, aquele habitado pela geopolítica, é
composto por Estados e pelas interações entre eles, que produzem
dilemas de segurança típicos de um estado de natureza, ou seja,
situações em que os atores não conflitam por quaisquer animosidades
prévias, mas pelo simples fato de dividirem um mesmo espaço que,
muitas vezes, é pequeno demais para assegurar todos os interesses que
o preenchem.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
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Questão 1
Reconhecer os elementos centrais de um conceito é vital para
geopolítica. Marque a alternativa que contém elementos
fundamentais da geopolítica.
Parabéns! A alternativa E está correta.
Esses elementos são centrais à geopolítica, que se organiza em
torno das questões centrais ao Estado, sua sobrevivência e
segurança. Para isso, Estados precisam de uma atuação
estrategicamente orientada em um mundo marcado pela
insegurança e pela guerra.
Questão 2
A geopolítica tem, fundamentalmente, a ver com o Estado e suas
relações com outros Estados. Essa relação é sempre estratégica,
pois:
A Estratégia, democracia, política e história.
B História, política e economia.
C Geografia, política, forças armadas e segurança.
D Diplomacia, forças armadas e história.
E Política, estratégia, Estado e soberania.
A
No ambiente internacional, as tendências à
cooperação superam as rivalidades e competições.
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Parabéns! A alternativa C está correta.
O Sistema Internacional, em uma visão holística, é maior que
apenas a soma dos Estados que o compõem. Ele possui forças que
emergem dessas interações e produzem dilemas de segurança
além da escolha dos atores políticos envolvidos. Isso exige uma
condição da política sempre dentro do nível estratégico, diferente
da política conduzida dentro da pacificação do Estado.
B As relações internacionais são marcadas pelo ódio
entre os Estados, que buscam destruir uns aos
outros em suas disputas pelo poder.
C
O mundo é regido por uma estrutura semelhante a
um “estado de natureza” hobbesiano, carecendo de
centralização e pacificação, o que coloca os
Estados em condição de permanente insegurança
uns em relação aos outros.
D
A arena internacional tem forças competitivas que
fazem da ONU um grande instrumento para a
promoção de guerras totais, que geram insegurança
desde a Primeira Guerra Mundial.
E
A insegurança é um elemento permanente desde a
unificação alemã, que eliminou as garantias de paz
anteriores.
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2 - Geogra�a política
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os conceitos relacionados à geogra�a
política.
Contexto, questões primordiais e
origens do campo
A geografia política é uma subdisciplina da geografia humana e constitui
o campo do conhecimento que busca analisar e compreender as
relações entre a política e o espaço físico (geográfico). Ela contém
basicamente os mesmos elementos da geopolítica no que concerne ao
Estado enquanto estrutura, com suas potencialidades e seus limites,
sua formação e expansão, enfim, tudo que diz respeito à dimensão da
relação da política com o meio físico que a cerca e é operado por ela, e
sobre ela influi.
A principal diferença é a dimensão internacional, que diz respeito
especificamente à geopolítica, como vimos, e o enfoque científico
acadêmico da geografia política em oposição crítica, pode-se dizer até
engajada, ao praxismo da geopolítica, comprometida com a formulação
estratégica dos interesses dos Estados.
A política consiste no conjunto de ações humanas
coletivas, com objetivo de proporcionar ordem e
mediação dos conflitos em torno do poder.
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O governo de uma sociedade, seja de qual tipo for – cidade-estado,
tribo, império ou o contemporâneo Estado, dentre outras possibilidades
dispostas pela complexa e longa linha do tempo histórico –,
corresponde à tarefa primordial de oferecer estabilidade e segurança
para que uma comunidade de pessoas possa se desenvolver e
prosperar. Uma comunidade, por sua vez, pressupõe um grau mínimo de
solidariedade baseado em uma língua e valores comuns, que irão
compor um tecido social capaz de interagir política, social e
economicamente.
Esse conjunto de relações se dá, pois, em um espaço delimitado em
primeiro lugar pela natureza, um espaço físico do planeta Terra, porém,
uma vez emancipados do “estado de natureza”, adotamos a capacidade
de alterar o espaço físico à nossa volta e modelá-lo para atender às
nossas necessidades.
Essa capacidade já observada em muitos dos nossos ancestrais e até
em outras espécies animais, porém de forma muito mais limitada.
A construção de abrigos é a saga humana, remetendo à busca por uma
“caverna” no sentido prático, para oferecer abrigo dos problemas do
mundo físico, e também platônico, para viabilizar a construção de um
mundo marcado por abstrações, ritualizado, que pavimentará as
estruturas religiosas, a cultura de modo geral e as instituições políticas.
São esses elementos que formarão as primeiras vilas e, depois, as
primeiras cidades.
A cidade de Roma antiga é exemplo de centralidade dos espaços urbanos para a formação das
civilizações.
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A construção de cidades é observada há mais de 10 mil anos, e obedece
a alguns critérios essenciais, como a presença de um solo fértil para
plantar alimentos, bem irrigado pela proximidade com cursos de água
doce (rios) e fácil acesso a recursos. Todas essas características
compõem limites espaciais que são determinantes para definir a
ocupação dos espaços e as características sociais/culturais de uma
comunidade. Nesse sentido, o espaço contribui decisivamente para
orientar a economia de uma sociedade – seus recursos disponíveis e,
em alguns casos, abundantes para o consumoe geração de excedentes
para o comércio – e a molda politicamente a partir da configuração do
terreno – se mais ou menos acessível e protegido de outras
comunidades, por exemplo.
Comentário
Em suma, as relações humanas não se dão no abstrato, e sim na
realidade material e concreta, que obedece, em primeiro lugar, a limites
físicos, geográficos. Por isso, a política e a geografia têm, juntas, muito
o que nos dizer. A primeira atua sobre a segunda, ao mesmo tempo em
que é limitada por ela.
A geografia tem se debruçado sobre diversos temas relativos à
produção e organização do espaço. O ser humano detém a capacidade
de modelar e construir o seu próprio espaço, a partir das suas
necessidades e interesses, como nenhuma outra criatura que habita ou
já habitou este planeta. Entre os temas principais do campo, destaca-se
aquele que analisa as relações entre a política e o território, que
compõem os fundamentos do processo histórico e de formação das
sociedades. “Neste sentido, podemos indicar que é na relação entre a
política – expressão e modo de controle dos conflitos sociais – e o
território – base material e simbólica da sociedade – que se define o
campo da geografia política.” (CASTRO, 2005, p. 15-16)
Historicamente, a geografia política se institucionalizou a partir da
institucionalização da geografia, estabelecida como disciplina
acadêmica nas universidades ocidentais, entre o final do século XIX e o
começo do século XX, institucionalização que se origina na Europa e se
expande para outras partes.
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O termo geografia política, cunhado pelo estadista francês Turgot no
século XVIII e consolidado pelo geógrafo alemão Friedrich Ratzel (1897),
emergiu como uma nova dimensão de análise político-geográfica. Em
suas primeiras manifestações, o campo estava condicionado pela
perspectiva estadocêntrica que deu corpo à geopolítica.
A geografia política surge como um movimento de
ruptura com essa perspectiva, de modo a virar a
atenção em direção a diversos outros dilemas e
escalas societárias que não se esgotam nas
preocupações da grande política.
Desse modo, a geografia política nasce com espírito crítico e vocação
mais acadêmica que sua antecessora, a geopolítica, que, como vimos,
associava-se mais à práxis política no nível da grande estratégia.
De Turgot ao determinismo
geográ�co: uma breve história da
geogra�a política
Confira agora como historicamente se consolida a geografia política.

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No decorrer da metade final do século XIX, os termos geografia, que
designava uma área de conhecimento preocupada com o estudo do
espaço físico em seus atributos naturais (rios, rochas, montanhas, solos
etc.), e política, orientado para a análise de questões relativas ao Estado,
passaram a ser incorporados pelas mais diversas discussões na
sociedade e no ambiente acadêmico.
A partir da obra de Ratzel, que colocou a sociedade no
centro do debate da geografia, o conceito de geografia
política passou a ser orientado para o centro de
gravidade do conhecimento geográfico.
Até esse momento, a geografia, por meio da geopolítica, vinha
atendendo a propósitos de projetos imperialistas e de construção de
nações, segundo a lógica da grande estratégia que mobilizou os
recursos dos Estados em sistemas de equilíbrio de poder dinâmicos e
voláteis, durante os primeiros séculos da formação do Estado moderno.
Isso também demandava explicações para as ações dos Estados e de
suas elites políticas, a partir de suas localizações e de seus recursos
naturais, que levam historicamente a disputas políticas em diferentes
escalas, sempre com consequências na direção de mais centralização e
securitização da vida humana.
Desde então, muito se avançou nesse debate, a partir do qual podemos
falar de uma história da geografia política. Nela devemos incluir a
geopolítica, oriunda das relações entre os Estados promovidas por
líderes políticos (estadistas), teóricos da política (politólogos),
diplomatas, militares e todos aqueles que detêm influência nos círculos
do poder, o que inclui geógrafos. A importância dos geógrafos estava
associada sobretudo à cartografia, essencial para o controle territorial e
o planejamento da defesa e das guerras.
O campo da geografia política surgiu em contraste com a geopolítica,
fundada em 1897 pela obra de Ratzel. Também nesse mesmo ano foi
lançada a primeira edição da revista Hérodote, cujo subtítulo, Revista de
Geografia e de Geopolítica, traduz a concepção de Yves Lacoste,
conhecido geógrafo francês. A associação dos dois termos traduz a
relação umbilical que tinham durante o momento fundacional de ambos
os campos.
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Capa da Revista Hérodote.
Yves Lacoste, geógrafo e geopolítico francês.
Lacoste havia rompido com o partido comunista francês durante a
guerra travada pela Argélia para se libertar da França, e se converteu em
um militante engajado pelas causas do terceiro mundo. A escola
francesa de geografia política considerou sempre a geopolítica como
uma filosofia vulgar, agressiva, racista. Em suma, a ideologia dos
imperialismos europeus.
A geografia política francesa, gradativamente, foi também convertendo-
se em um campo de aproximação entre a geografia e a dimensão social,
aproximando-se da sociologia de Durkheim, das questões urbanas e da
diversidade dos meios sociogeográficos. O objetivo era decantar a
análise das relações entre a sociedade e seu espaço para além das
demandas da política bélica dos Estados, em direção ao nível do
interesse cotidiano das relações sociais, de classe, raciais, dentre outras
inseridas na complexa dinâmica social. A ideia de sociedade inclui a
relação meio-trabalho-família, como argumentava a escola francesa.
Atenção!
Após a Segunda Guerra Mundial, diversos autores, como Max Sorre,
Pierre George, dentre outros, passam a sistematizar esse campo
articulado entre a Sociologia e a Geografia, de fundamental suporte para
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a geografia política, denominado Geografia Social, introduzindo a análise
socioeconômica nos problemas espaciais.
Categorias fundamentais da
geogra�a política
O objeto de análise da geografia política são os fenômenos políticos em
seu aspecto territorial. Esses fenômenos recortam espaços
significativos e impactam nas vivências sociais, nos interesses da
sociedade, conflitos, controle, dominação e solidariedade.
Dentro do arsenal conceitual da geografia política, esses espaços
aparecem identificados como fronteiras, centro, periferia, unidades
políticas, dentre outros. Em que pesem as diferenças entre a geopolítica
e a geografia política, ambas compartilham uma mesma panaceia
conceitual, composta por conceitos, como:
 Espaço
 Território
 Fronteiras
 Estado-nação
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Analisaremos, agora, os principais temas desse vernáculo conceitual
sob a perspectiva da geografia política.
Espaço
Segundo Corrêa (2000), o conceito de espaço refere-se, em primeiro
lugar, a um recorte da superfície física da Terra, mas também é
empregado como o resultado das vivências e relações humanas, que
deixam as suas marcas nesse espaço ou, ainda, como uma referência à
mera localização. O vocábulo “espaço” tem o seu uso em diferentes
escalas, seja um cômodo seja uma nação. Na ciência geográfica, muito
heterogênea em abordagens, o conceito é tratado de diferentes
maneiras, a depender da corrente teórica.
Território
A noção de território tem, fundamentalmente,orientação política.
Territorialidade tem a ver com domínio, mesmo na natureza. Portanto,
território é o espaço politicamente significado.
Re�exão
Assim, a primeira questão que se coloca é: quem domina ou exerce
influência em um dado espaço, tornando seu território? A pergunta nos
leva a concluir que o território é um instrumento de poder. Isso nos leva
à outra pergunta: como esse instrumento é operado para atender aos
interesses políticos dominantes e territorializados?
A compreensão do conceito de território passa pelos conceitos de
política e soberania. Em um mundo organizado em fronteiras estatais
nacionais, as territorialidades também se encontram organizadas dessa
forma. Isso não significa dizer que o Estado é a única vertente da
territorialidade, e sim que é a principal, segundo a organização político-
social contemporânea.
 Região
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Uma outra maneira de se tratar a
questão do território, mais
abrangente e mais crítica,
pressupõe uma flexibilização da
visão do que seja esse conceito: e
não propriamente um descolamento
entre as ideias políticas e culturais
da sociedade. Sob esse ponto de
vista, o território é um campo de
forças, uma teia ou rede de relações
sociais que, considerando toda a
sua complexidade, Fundamentos da
geografia política define,
simultaneamente, um limite, que é a
diferença entre “nós” (membros da
coletividade — insider) e os “outros”
(os de fora, outsiders).
(SOUZA, 2000, p. 78)
Fronteira
A reflexão sobre o conceito de “território” suscita alguns outros, de
matriz essencialmente política.
A ideia de soberania corresponde à institucionalização de uma
autoridade política territorializada, com limites claros e invioláveis. Essa
noção foi mais bem demarcada pela primeira vez, em sua acepção
moderna, no Tratado de Westiphalia (1648), que, como vimos, instituiu o
Sistema Internacional moderno como consequência às definições e aos
contornos mais nítidos do Estado.
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A soberania, ao presumir uma autoridade sobre um território, precisa,
em primeiro lugar, que esse território tenha limites claramente
estabelecidos e tangíveis, de modo que se possa defendê-los. O
Sistema Internacional nasce da soma dessas partes, os Estados, que
precisam ter muito claramente demarcados seus limites entre si, para
que possam zelar por suas respectivas soberanias.
O conceito de “fronteira”, portanto, é uma decorrência
da territorialidade, que pressupõe um domínio político,
que, por sua vez, só pode ser garantido pela instituição
de uma autoridade legítima – soberana – sobre um
território específico e defensável.
A noção de fronteira, associada à noção de território, é fundamental
para demarcar a soberania interna, estabelecendo com nitidez o limite
entre dentro e fora do Estado, limite essencial para pensar a política
externa, que precisa dar conta de separar, por exemplo, os conceitos de
segurança pública e Defesa. Confira!
Segurança pública
É voltada para dentro, estando, portanto, sujeita aos limites
constitucionais do Direito operador do Estado, e é conseguinte à
pacificação.
Defesa
É voltada para fora, para o ambiente internacional, regrada por um
estado de natureza e, portanto, sujeita à ameaça permanente de guerra.
Como vimos, é por isso que a segurança pública está condicionada por
meios mais comedidos de violência em relação à Defesa, que é o
terreno da guerra, que deve ser operada por meios militares.
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Esses conceitos são de suma importância para as definições sobre o
mundo em que vivemos, pois é por meio deles que somos capazes de
recortar a realidade, tão complexa, em frações tangíveis que possam ser
operadas pela política na busca, identificação e solução de problemas.
Na geografia política clássica os
elementos primordiais para
delimitar os espaços domésticos e
internacionais são os limites e
fronteiras. Os limites delimitam
formalmente a extensão territorial
do Estado, indicando até onde vai a
soberania do Estado. As fronteiras,
por sua vez, se confundem com os
limites, uma vez que, apesar de
serem o marco divisor entre duas ou
mais entidades políticas, apontam
para um horizonte expansionista. As
nações podem ser compreendidas
como grupos de cidadãos que são
ligados por fatores culturais, por
senso de identidade, religião ou
território compartilhado.
(SANTOS, 2021, p. 22)
Estado-nação
O Estado é um resultado histórico de um processo complexo de
centralização política que resulta na organização territorial de um povo
dotado de solidariedade a partir da comunhão e do compartilhamento
de valores, língua e outros atributos. Nesse sentido, o Estado-nação “é o
resultado da convergência entre um povo que está imbuído de
identidade nacional para um território organizado, politicamente, por um
Estado próprio, que constitui uma entidade legal e política que exerce
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poder soberano dentro de seu próprio território” (SANTOS, 2021, p. 22). É
preciso relembrar a separação entre os conceitos de “Estado” e “nação”.
Vejamos!
Estado
Antecede à nação,
centralizado por uma
autoridade política régia
e soberana segundo os
contornos da
organização social
feudal, sustentada por
uma sociedade
estamental e de baixa
solidariedade, sendo,
portanto, antagônica ao
princípio fundamental
de uma comunidade
nacional.
Nação
Emerge de
transformações sociais
que diluem os
estamentos em forças
comunitárias capazes
de desenvolver
solidariedade, o que é
francamente
estimulado pelas
sucessivas guerras
pelas quais passou o
processo de formação
dos primeiros Estados
na Europa (CENTENO,
2002).
Em casos extraeuropeus, a formação do Estado-nação obedeceu a
processos distintos, nos quais a nação, ou seus elementos
constitutivos, precedem o Estado.
Para além disso, cumpre lembrar que há casos de uma mesma nação
dividida em mais de um Estado, como foi, por muito tempo, o caso
alemão. Há também casos de um Estado para muitas nações, como a
moderna Bolívia ou os antigos impérios multinacionais, que perduraram
até a primeira metade do séc. XX.
Muitas vezes, pode-se reduzir o
Estado a uma mera forma de
organização política. Quando se
investiga o período que compreende
o fim do século XIX até meados do
século XX, encontra-se uma época
na qual povoava o globo terrestre

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uma variedade de formas de
organização política, entre elas a
Estatal. Cidades-estados, impérios e
colônias, que foram dando espaço,
gradativamente, no século XX, ao
Estado como forma de comunidade
política predominante.
(SANTOS, 2021, p. 21)
Segundo Bresser-Pereira (2017), o Estado-nação consiste em um tipo de
sociedade político-territorial soberana, formada por uma nação, um
Estado e um território. Esse modelo de organização se tornou
hegemônico, em substituição aos antigos impérios e Estados
principescos (absolutistas) do Antigo Regime, a partir das revoluções
liberais que produziram cidades de massas, com a migração do campo
para as cidades. Assim nasceu uma classe trabalhadora que produziu
as sociedades de massas contemporâneas, que demandam um alto
nível e solidariedade para mitigar suas contradições e fricções sociais –
de classe, étnicas, dentre outras. Esse alto grau de coesão e
solidariedade foi possível dentro do Estado-nação.
Região
A palavra região vem da necessidade, a partir da formação e das
unidades políticas cada vez maiores segundo o processo de expansão
de fronteiras, quando surge o problema da relação entreuma autoridade
central – soberana – e localidades sujeitas a esse domínio, mas, ao
mesmo tempo, distantes dele espacialmente e culturalmente. A noção
de regionalismo corresponde à relação entre extensão e localização.
É a combinação de um aparente paradoxo: um território
pertencente, porém distante.
Nesse sentido, a ideia de região se aplica para traduzir espaços
marcados por diferentes unidos por algum elemento central
compartilhado. A América do Sul, por exemplo, é uma região que
compartilha elementos políticos, sociais, linguísticos e culturais
comuns, embora seja marcada por diferentes soberanias. A proximidade
geográfica produz, nesse caso, uma relação geopolítica, dando origem à
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região sul-americana, uma zona que é decorrência da relação entre as
nações sul-americanas. Aqui, como em outros conceitos importantes,
geografia política e geopolítica se encontram, tendo limites fluídos, mas,
em alguma medida, visíveis entre os limites entre o Estado e suas
relações exteriores.
A noção de região serve para decompor a realidade da geopolítica
internacional em seções, esferas, que juntas, em uma visão holística,
produzem o todo orgânico que entendemos como Relações
Internacionais e têm suas próprias dinâmicas respectivas.
Nessas dinâmicas, há nações que assumem maior relevância em suas
respectivas regiões, como o Brasil, a Índia ou a África do Sul, dentre
muitas outras, as chamadas “potências regionais”. São nações que
tendem a capitanear regimes de integração regional e assumir o
protagonismo político e econômico em suas vizinhanças imediatas,
ainda que não tenham a relevância de uma potência em termos globais.
Caso emblemático é o da África do Sul, considerada uma gigante na
geopolítica africana, principal porta de entrada de investimentos
ocidentais – até em função do legado de aproximação com as nações
europeias que implementaram um projeto civilizatório naquele país
relativamente diferente da colonização noutras partes do continente – e
portadora de uma economia que se sobressai na África. Contudo, a
África do Sul não é relevante no somatório da distribuição de poder
global.
Outros aspectos da geografia política se relacionam com todas as
dimensões da vida humana que estejam na esfera da política. Nessa
medida, problemas sociais, como desigualdade social, violência urbana,
pobreza/miséria, dentre outros, são profundamente abordados pelos
estudos da área, que buscam a conexão entre esses problemas e suas
causas conexas com outras variáveis no espaço político.
Exemplo
A fome é um problema não decorrente da falta de alimentos, mas de
sua má distribuição, o que significa que há uma razão política associada
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à disputa por recursos.
A geografia política tem em sua essência a politização dos problemas
societários, tomando como referência as disputas e os fluxos de poder
para entender como as demandas sociais surgem e se desenvolvem nas
vivências das pessoas.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A geografia política guarda muitas semelhanças com a geopolítica.
Ambas nasceram próximas e compartilham conceitos
fundamentais, porém possuem uma diferença elementar. Estamos
falando de:
A
Visão sobre o Estado. Para a geografia política, o
Estado é o modelo de organização principal das
territorialidades, ao passo que, para a geopolítica, é
a cidade.
B
Função. Para a geografia política, o conhecimento
deve ser pautado pela cientificidade, enquanto, para
a geopolítica, o conhecimento tem função prática na
condução da política dos Estados.
C
Origem. Enquanto a geografia política surge no
século XIX, a geopolítica é fruto das guerras
mundiais do século XX.
D
Conceitos centrais, que, para a geografia política
são Estado e território, e para a geopolítica são
Estado e Sistema Internacional.
E
Imperialismo, que foi central na orientação da
geografia política, diferente da geopolítica, mais
pautada pelo pensamento crítico.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
A geopolítica surgiu orientada pela necessidade de expansão e
sobrevivência dos Estados, e por isso esteve associada, desde os
seus primórdios, com a práxis política.
Questão 2
Marque a alternativa que contém a melhor definição sobre território.
Parabéns! A alternativa A está correta.
A noção de territorialidade passa necessariamente por algum
domínio do espaço demarcado que constitui o território.
A
Espaço marcado pela política a partir da instituição
de uma soberania claramente demarcada e bem
defendida.
B
Espaço geográfico composto por limites físicos
impostos por objetos naturais, como rios e
montanhas.
C
Espaço de poder que pode conter uma ou mais
autoridades políticas em disputa e soberanas.
D
Espaço delimitado pela soberania do Estado
moderno.
E
Localização ao mesmo tempo distante e integrada a
uma mesma soberania política.
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3 - Geopolítica e geogra�a política: abordagem comparada e
exemplos
Ao �nal deste módulo, você será capaz de comparar as abordagens da geopolítica e da
geogra�a política a partir dos Estados e da dinâmica do espaço internacional.
Em busca da comparação
Iniciaremos agora uma abordagem comparada entre a geopolítica e a
geografia política. Destacaremos os aspectos mais relevantes para uma
abordagem comparativa, que serão ilustrados com casos históricos. As
duas áreas lidam com fenômenos comuns, diferindo sobretudo na
perspectiva de análise. Vejamos!
Geogra�a política
Esta área é voltada para
a fenomenologia
societária, para as
relações da sociedade
com o espaço e a
territorialidade política
que produz, tomando
como recorte analítico
as diversas dimensões
do território até a
fronteira do Estado-
nação contemporâneo,
Geopolítica
Esta área transcende as
fronteiras nacionais
para lançar luz sobre os
movimentos e as
dinâmicas do Estado no
ambiente internacional,
para fora das relações
sociais e políticas que
fundaram a centralidade
política que a veste de
autoridade soberana.
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sua formação e
consolidação.
Como vimos, ao mesmo tempo, ainda que guardem essa diferença
territorial – uma mais para dentro e a outra para fora –, as duas áreas
acadêmicas compartilham um grande e rico vernáculo conceitual e
analítico.
Comentário
Passaremos, agora, à discussão de alguns desses conceitos sob a
perspectiva comparada e, depois, à análise de alguns casos empíricos –
históricos – para entender melhor como operam na realidade. Para uma
compreensão mais profunda, trataremos da geopolítica norte-
americana, para entender melhor como certas características da
configuração territorial podem ser vantajosas para uma nação projetar
seu poder.
Trataremos, também, das razões geopolíticas do conflito entre Rússia e
Ucrânia, para demonstrar como o contexto geopolítico pode ser
complexo e combinar diversos interesses e atores aparentemente
ausentes do conflito. Depois, para melhorar a compreensão sobre os
fatores da geografia política, faremos uma discussão sobre a formação
do Estado em abordagem comparada tomando os casos europeus,
onde ocorreu o processo em primeiro lugar e, por isso, corresponde ao
modelo “clássico” de Estado moderno nacional. Também veremos os
casos latino-americanos, cujo processo guardaimensas diferenças a
partir do processo histórico particular das nações latino-americanas sob
o lastro de seu passado colonial.
Geopolítica e geogra�a política: uma
abordagem comparada
A geopolítica e geografia política se confundem, se contrapõem e se
complementam, pois ambas têm diversas semelhanças conceituais e
compartilham, fundamentalmente, o mesmo problema, qual seja: a
relação do homem político – a sociedade e seus processos de
formação de unidades politicamente centralizadas – e o espaço, que é,
então, dotado pelos seres humanos de atributos políticos e societários
que irão compor o objeto de estudo que fundamenta esses campos,
com seus limites ontológicos internos e externos.
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Fundamentalmente, as duas compartilham os interstícios entre a
política e a geografia, e compreendê-las historicamente significa
entender o problema das sociedades e suas relações entre si, sejam
quais forem suas organizações políticas, bem como o processo de
formação dessas organizações em seus diferentes espaços.
Desse modo, ambas têm um papel importante no debate sobre a
formação do Estado, tomando-o a partir de suas determinações
geográficas, “o que, por sua vez, aumenta os escopos da análise sobre
os rumos e as definições do Estado-nação, a partir dos conceitos de
fronteiras, limites, soberania, poder mundial e as estruturas e disputas
hegemônicas” (SANTOS, 2021, p. 8).
Re�exão
A geopolítica e a geografia política têm importante papel no
planejamento de políticas públicas para diversas áreas e para o
conhecimento sobre a relação entre os fatores de produção e os
recursos naturais. Sobre esse ponto em particular, ressaltamos a
necessidade cada vez mais urgente de elevarmos, enquanto cidadãos
do planeta Terra, nossa atenção e nosso cuidado com o espaço físico e
seus limites, que vêm sendo duramente impactados pela ação humana.
Além disso, a geografia política contribui decisivamente para o
entendimento das organizações políticas, dos processos de integração
regional, e de usos e circulação do território, enquanto a geopolítica
contribui para o entendimento das variáveis internacionais que orientam
os Estados em ambiente internacional, uns em relação aos outros.
A geografia política consiste em uma ciência básica, fundamental,
dedicada aos pilares da relação humana com o espaço. Por isso,
dedica-se ao estudo da formação das territorialidades, fronteiras e
regiões humanas, sempre com a perspectiva política que dá corpo e
sentido à polis, cujo sentido mais simplificado pode ser definido como
comunidade politicamente organizada. A geografia política prima pela
cientificidade, pelo viés analítico e desinteressado. A geopolítica, por
outro lado, é uma ciência prática e aplicada, preocupada com o
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interesse da comunidade nacional e como ele pode ser expresso e
melhor defendido pela política externa.
Epistemologicamente, o desenvolvimento da geografia
política enquanto um conjunto de teorias fundamentais
e, até certo ponto, universais, sempre se deu por um
distanciamento crítico e uma busca por relativa
autonomia em face dos objetivos mais pragmáticos.
Aqui, precisamos fazer mais uma distinção, a partir da obra de Karl
Haushofer, famoso geógrafo alemão do final do século XIX e início do
XX, para quem a geopolítica é a
[...] ciência que estuda as formas da
vida política nos espaços vitais
naturais, compreendidos em sua
vinculação ao solo e à dependência
dos movimentos históricos. Por sua
vez, Geografia Política é a ciência da
distribuição do poder do Estado, por
meio dos ‘espaços’ da superfície da
Terra e na dependência da
morfologia, clima e revestimento
florestal deles. Apesar de trazer
significados diferentes, a íntima
relação entre a Geografia Política e a
Geopolítica pode ser explicada pela
preocupação dos geógrafos com a
análise do território, com as
fronteiras e com o espaço
geográfico.
(SANTOS, 2021, p. 12)
Essas categorias constituíam as mais importantes unidades de análise
para a geografia quando esta se preocupava mais com os fenômenos
em torno da política e do poder, na medida em que a preocupação
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humana com a geografia se relacionava mais com as vantagens
estratégicas que o conhecimento do espaço físico (TEIXEIRA JÚNIOR,
2017).
Outros autores, sobretudo do campo da ciência política, muito ligada à
análise das questões internacionais e, portanto, à geopolítica, em
especial o polonês Zbigniew Brzezinski, afirmam que a geopolítica é a
combinação de fatores geográficos e políticos que determinam a
condição de algum Estado ou região, enfatizando o impacto da
geografia sobre a política.
Zbigniew Brzezinski (1928-2017), conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos.
Para Meira Mattos (1913-2007), um dos nomes mais proeminentes da
geopolítica brasileira, há uma diferenciação entre a geografia política e a
geopolítica que se baseia nos próprios métodos de análise:
Geogra�a política
Analisa seus objetos
como fotografia, algo
estático.
Geopolítica
Analisa o seu objeto
como sendo um filme.
Para esse autor, a geopolítica é o resultado da interação dinâmica entre
três fatores, que são a política, a geografia e a história, e que conduz à
uma análise das possibilidades de acontecimentos do Estado (TEIXEIRA
JÚNIOR, 2017).
A compreensão da geografia enquanto ciência social ilumina a
possibilidade dos homens de se adaptarem ao meio e constituírem
relações que incidem sobre o espaço e o moldam, constituindo
territórios. Esses territórios quando se centralizam produzem uma
soberania, que sempre observa algum limite externo, algum horizonte
inalcançável. Esse horizonte situa-se, por definição, no Sistema
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Internacional, onde os Estados encontram-se uns com os outros e estão
todos nivelados enquanto atores dotados de soberania, em um nível
abstrato, porém organizados, na realidade historicamente dada,
segundo hierarquia e dinâmicas de poder.
Geografia política e geopolítica se encontram nesses
limites entre o processo de formação do Estado e seu
amadurecimento para voltar-se para o exterior.
Outra questão relevante para a geografia política é que os aspectos
econômicos não podem ser mais importantes que os aspectos
políticos. Ou seja, o político não pode estar subordinado de forma
determinante ao econômico na medida em que “o valor político dos
solos não decorre necessariamente de seu valor econômico imediato;
os territórios possuem também um valor intrinsecamente político”
(CASTRO, 2000, p. 47).
Da perspectiva da geopolítica, também podemos inferir que o espaço
internacional, aqui referido como Sistema Internacional, também é um
espaço politicamente determinado, pois surge do encontro entre as
fronteiras nacionais soberanas que produzem, independentemente da
vontade política de seus líderes e comunidades, tensões e dilemas em
torno do poder e da hegemonia.
Um espaço humano é significado politicamente por uma comunidade
organizada. Essas comunidades são delimitadas por fronteias que
guardam, internamente, territórios politicamente dominados por alguma
autoridade centralizada e soberana.
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Esses territórios, por sua vez, estão inseridos em um espaço exterior,
que seria, em termos físicos, alguma seção de um dos continentes ou
ilhas do planeta Terra, que compartilham com outras comunidades
políticas soberanas. Essa vizinhança produz tendências de cooperação
e competição dinâmicas e imersasem imprevisibilidade, que é sinônimo
de insegurança.
A territorialidade, associada à ideia de “domínio”, transmite segurança,
por meio de instituições políticas organizadas em torno do Direito (leis,
princípios) e da coerção (monopólio da violência legítima através das
polícias e forças armadas). Esse aparato burocrático e militar produz
mais estabilidade, previsibilidade, criando um ambiente onde outras
dimensões da vida – artes, comércio, dentre outras – podem prosperar.
Os limites bem demarcados dessa comunidade garantem a sua defesa
e a confrontam as incertezas que pairam no ambiente exterior, o
Sistema Internacional. Esse espaço é o terreno de estudo da geopolítica,
e também é um espaço territorializados, embora não por uma
comunidade análoga àquela garantida pelo Estado e seu contrato social
respaldado pelo monopólio da violência legítima.
Trata-se de um espaço politicamente determinado,
porém em fase pré-contratual, seguindo a analogia
hobbesiana para o estado de natureza, ou seja, esse
ambiente é composto por diversas soberanias que não
dispõem de uma soberania supranacional para
organizá-las e pacificá-las.
As instituições internacionais criadas dentro do sistema ONU foram
desenvolvidas para atender a essa velha demanda, mas ainda não
conseguiram eliminar o problema da anarquia sistêmica, que não
consiste em um objeto tangível que possa ser contornado ou lancetado
da realidade internacional, mas, sim, em um produto da mesma, que se
forma a partir das relações diretas entre os Estados, sem uma mediação
dotada de poder bruto que garanta o Direito Internacional.
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Atenção!
Assim, a geopolítica e a geografia física encontram-se, invariavelmente,
na intersecção entre as fronteiras do Estado e o ambiente internacional
que o determina. A título de comparação, o fundamental é compreender
a vocação da geografia política para um olhar mais atento e científico
para o Estado em seus pilares formadores e naquilo que sustenta a
comunidade territorializada nele, um processo sempre político.
A geopolítica, por sua vez, oferece um engajamento maior para a
percepção de que esse Estado, ou essa comunidade, tem do mundo à
sua volta, desde sua vizinhança imediata até os limites mais distantes
tangíveis do Sistema Internacional que habita, independentemente de
sua extensão real e física. Essa percepção se conecta com a geografia
política, pois depende da constituição deste Estado em seus muitos
atributos, recursos etc. e é geopoliticamente determinada pelos limites
desse horizonte internacional, que pode observar diversas
configurações.
Estudos de caso
Agora, atentemos para casos empíricos, como a Guerra do Peloponeso,
que possam lançar mais luz sobre como os conceitos tratados podem
ser aplicados e operados na realidade histórica.
 Primeiro, abordaremos a formação dos EUA,
partindo de uma análise da formação do Estado –
âmbito da geografia política – até a expansão dos
interesses e da formação daquela nação enquanto
ator hegemônico no Sistema Internacional – âmbito
geopolítico.
 Depois, falaremos sobre a guerra entre Rússia e
Ucrânia, que corresponde a diversas variáveis do
território geopolítico envolvendo a Europa a Ásia,
mais imediatamente, e as relações internacionais
globais, sobretudo o eixo entre EUA e Europa,
conhecido como “atlântico”.
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Geopolítica dos EUA
A geopolítica dos EUA é um bom exemplo para entender o processo de
formação e expansão de um Estado, da fundação do poder constituído
que funda a soberania até a posição de grande potência. No caso em
questão, estamos falando da maior potência da história, única
superpotência a assumir uma hegemonia global. Veremos a nação
estadunidense ganhar forma aos poucos e, por meio desse processo,
perceberemos com maior nitidez os aspectos político-geográficos e
geopolíticos da formação de um Estado.
Uma breve história da geopolítica dos
EUA
Confira agora o contexto que nos leva à geopolítica dos EUA.
Após a sua independência, os EUA passam a ter um projeto de
expansão. Como vimos, Estados se expandem para aumentarem seu
poder e, consequentemente, sua segurança e riqueza. Experientes da
guerra de independência, que levou à formação de um exército de alto
 Por fim, teremos uma breve discussão sobre a
formação do Estado na América Latina, de modo a
compreender como esse modelo assume aderência
à realidade política e social local, não
correspondendo a uma categoria abstrata.

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padrão, os estadunidenses deram início ao segundo passo de sua
expansão territorial: a conquista do Oeste aos indígenas e mexicanos.
Também efetuaram compras de territórios pertencentes aos espanhóis,
franceses e também ingleses, como a Louisiana (comprada dos
franceses em 1803, e que hoje abrange uma área composta por
diversos estados norte-americanos na região central do país), a Flórida
(comprada da Espanha, em 1819), além de territórios tomados dos
ingleses no bojo da guerra de independência, tais como a região do
meio Leste e o Oregon, no Noroeste. A Califórnia, o Novo México (1848)
e o Texas (1845) foram anexados mediante a vitória em guerras na
metade do século XIX.
Vamos dar uma olhadinha no mapa?
Expansão territorial dos EUA.
Em diversos desses territórios, havia sociedades indígenas, como os
Navajo, que habitavam as regiões onde hoje situam-se o Arizona, o Novo
México e Utah; os Sioux, na região onde hoje encontram-se a Dakota do
Sul e Dakota do Norte; os Apaches e Cheyennes, na Louisiana, dentre
outros, como podemos ver no mapa abaixo:
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Configuração político-geográfica da América do Norte na pré-formação do Estado norte-americano.
Em meio à consolidação territorial que ligaria os oceanos Atlântico e
Pacífico, o jovem Estado-nação norte-americano também passaria a
olhar para o continente americano como um todo e para o Oceano
Pacífico. Aqui, temos a geopolítica dos EUA em continuidade com a sua
geografia política, tornando visíveis os contornos da vocação de
potência.
Comentário
A geopolítica dos EUA é especialmente favorável, principalmente
quando comparada à das potências europeias. Isolado a Leste e a Oeste
por dois oceanos, e de grande extensão após todos os acréscimos
obtidos pela conquista aos indígenas e mexicanos, o território norte-
americano parece inexpugnável a uma invasão.
Além disso, as fronteiras Norte e Sul encontram-se resguardadas em
relativa paz, ocupadas por duas nações impotentes frente ao poder
norte-americano. O Canadá, uma nação amiga, sem qualquer tensão
com seu vizinho; o México, mesmo com todo ressentimento natural pelo
histórico de perdas para os EUA – que anexaram mais da metade de seu
território original –, não tem a capacidade para desafiar seu poderoso
vizinho.
Os EUA reforçam o argumento sobre a força de um Estado talhada em
meio ao conflito. A nação surgiu após uma longa guerra com a então
maior potência militar do mundo e dessa experiência forjou a robustez
burocrática e militar típicas de um Estado forte. Disso resultou uma
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vocação para a conquista e expansão, contra as quais nenhum
oponente foi capaz de objetar significativamente. A consolidação
territorial terminaria com a aquisição do Alasca dos russos, no final do
século XIX, além de alguns territórios ultramarinos de espanhóis e
ingleses, como as Filipinas, conquistadas em 1898.
Vamos para mais um mapa?
Configuração moderna dos EUA.Com o território consolidado, os EUA foram se tornando uma nação
poderosa e industrializada. Os “Pais Fundadores” articularam, desde o
início, um audacioso projeto de nação, com intensa condução do
Estado, que estimulou a indústria nacional estratégica, dotando o país
de autonomia para garantir sua soberania.
No famoso Relatório sobre as Manufaturas, Alexander Hamilton estipula
metas para o crescimento industrial dos EUA, por meio da taxação alta
de produtos estrangeiros considerados estratégicos, como aqueles
necessários à indústria pesada e bélica.
Somados a esse planejamento e à condução por parte da inteligência
política – Estado –, os incríveis recursos naturais de um território
imenso e naturalmente resguardado por dois oceanos e dois vizinhos
pacíficos deram aos EUA uma forte base logística para projetarem-se no
mundo. Esses aspectos pertencem à geografia política, pois inserem-se
no processo de formação da nação, como veremos a seguir:
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Expansão da geopolítica norte-americana: América Central e Pacífico.
Dotados desse potencial, que podemos chamar de forte base
geopolítica, pois dotou o país de excelente ponto de partida para as
disputas internacionais, os EUA iniciaram seu próprio projeto
expansionista intra e intercontinental. Primeiro, começaram pelas
Américas. A hegemonia sobre o continente foi considerada fundamental
pelos fundadores dos EUA, que lançaram, em 1823, a conhecida
Doutrina Monroe, segundo a qual as potências do Velho Mundo não
mais deveriam intervir e gerenciar nos territórios americanos, que
seriam agora área de influência dos EUA. “América para os americanos”
era o lema, que traz implicitamente “americanos do norte” em seu final.
Paralelamente, a expansão pelo Pacífico os levou a forçar a abertura do
até então isolado Japão feudal, em 1854. Também participaram da
colonização da China ao lado da Inglaterra e de outras nações europeias
no lastro das Guerras do Ópio.
No início do século XX, os EUA seriam uma nação poderosa, uma das
mais industrializadas do mundo, ao lado da Alemanha, Inglaterra e
França, rumando para a dianteira na produção de aço e outros produtos
fundamentais da modernidade. Vejamos!
Bases dos EUA pelo mundo: a tradução militar das fronteiras geopolíticas do país.
Com as duas guerras mundiais, que demandaram a participação norte-
americana para deter o projeto expansionista alemão, os EUA levariam a
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sua geopolítica ao nível global, hoje contando com mais de 800 bases
pelo mundo. Sendo uma potência, os EUA possuem fronteiras
geopolíticas globais. O Estado nacional norte-americano pode ser
delimitado conforme o mapa acima. Suas fronteiras são delimitadas
pelos oceanos Atlântico, Pacífico e por Canadá e México. No entanto, a
projeção política e econômica (além de social, cultural etc.) dos EUA
atinge todo o globo, configurando fronteiras geopolíticas de fato globais.
Os interesses dos EUA não reconhecem os seus limites territoriais ou
mesmo continentais, no que nos serve como um ótimo exemplo para
auferir a distinção entre os processos da geografia política (formação
do território) e da geopolítica (expansão política e estratégica).
Con�ito russo-ucraniano: geopolítica
de uma guerra
A guerra na Ucrânia tem chamado a atenção do mundo para algo que o
pós-Guerra Fria parecia ter enterrado: um conflito entre Estados. A era
que emergiu do conflito bipolar parecia sinalizar novos tempos, uma
nova ordem mundial, como era chamada, ou globalização.
Isso não significa dizer que o mundo tenha ficado mais pacífico. Muitas
guerras têm ocorrido, em diversas regiões. No entanto, são conflitos de
menor intensidade, travados entre grupos não estatais ou entre Estados
e grupos não estatais (conflitos assimétricos), como os conflitos que se
tornaram o padrão desde a Guerra Fria.
Exemplo
Guerra do Vietnã, diversas guerras de libertação colonial pela Ásia e pela
África, conflitos transnacionais turvando os limites entre a guerra –
Defesa – e a segurança pública – ordem interna –, guerras travadas
pelos EUA (Iraque e Afeganistão, fora diversas outras intervenções
menores), invasão soviética do Afeganistão, dentre outros.
A proliferação da violência segundo uma matriz não estatal, ou seja,
protagonizada entre atores políticos menores, não estatais, ou entre
estes e Estados, foi uma consequência da dinâmica da Guerra Fria, que
tornava inviável um conflito entre as grandes potências devido à
dissuasão nuclear. A garantia de destruição mútua (MAD – mutual
assured destruction) tornou a guerra entre grandes Estados,
nuclearizados, uma impossibilidade, ou uma improbabilidade, na medida
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em que é razoável supor que um conflito que pode escalar até o
emprego de armamentos de natureza tão aniquiladora deve ser evitado.
As grandes potências, sobretudo EUA e URSS, travaram
suas disputas instrumentalizando outros atores no
terreno, as chamadas “guerras por procuração”, para
tentar penetrar seus respectivos interesses e minar os
do inimigo ao redor do mundo. Essa foi,
resumidamente, a dinâmica da Guerra Fria.
Esses conflitos mais irregulares e assimétricos, ainda que violentos e
causadores de muitas mortes nas últimas décadas desde 1945, não
têm o mesmo potencial destrutivo que conflitos interestatais. Estes
conflitos são os causadores dos maiores morticínios da história, mais
bem exemplificados nas duas guerras mundiais que, juntas, mataram
algo em torno de cem milhões de pessoas. Vejamos!
?
1945
Quando se encerra a Segunda Guerra Mundial com o lançamento de duas
bombas atômicas pelos EUA contra as indefesas cidades japonesas de
Hiroshima e Nagasaki.
Expansão territorial do Império russo.
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O fim da Guerra Fria mergulhou boa parte dos líderes políticos,
diplomatas, militares e especialistas acadêmicos, além do público em
geral, em uma atmosfera otimista quanto ao problema da guerra e da
paz. A hegemonia dos EUA, triunfante após o colapso soviético no final
dos anos 1980, fez do mundo uma pax americana, entre as décadas de
1990 e os anos 2000, impedindo conflitos muito desestabilizadores – a
não ser aqueles promovidos em interesse dos próprios norte-
americanos. Entretanto, essa hegemonia está em decadência. O
desgaste da influência dos EUA após a incursão de Bush no Iraque em
2003, que passou por cima de uma resolução do Conselho de
Segurança da ONU, e a emergência de fortes atores regionais, como
Índia, China, Rússia e Brasil, se tornaram fatores desafiadores para a até
então inquestionável hegemonia dos EUA.
Um dos movimentos que mais preocupam os norte-americanos é a
recuperação russa, após duas décadas de crises e isolamento.
A Rússia tem sido, historicamente, uma grande potência por séculos.
Desde sua entrada nas disputas europeias, ainda no século XVII, o então
Império russo era um importante fator para o equilíbrio europeu, tendo
sido fundamental nas derrotas de Napoleão e Hitler, as duas maiores
ameaças de conquista hegemônica da história moderna europeia.
Palácio em São Petersburgo, Rússia.
Principalmente durante a Segunda Guerra Mundial, foi o sacrifício de 27
milhões de vidas russas, 107 vezes o número de mortes norte-
americanas.
Exemplo
Pouco mais de 400 mil mortes, o principal óbice ao projeto
expansionista alemão, que fracassou nas estepes russas, onde
pereceram ¾ da máquina de guerra nazista.
Em 1945, os russos, cujas fronteiras políticas eram a União Soviética,
emergiram como grande potência, integrando uma ordem global bipolar,
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em disputa com os EUA. A queda da União Soviética, em 1991, encerrou
esse período da história, após alguns momentos de muita tensão e
ameaça de destruição da humanidade em um conflito nuclear.
O pós-Guerra Fria, assim, foi marcado pela superação da ideia de um
conflito nuclear, que ameaça muito além dos seus eventuais
protagonistas, mas ao mundo como um todo.
Ocorre que os arsenais nucleares jamais foram extintos e,
nesse momento, eles estão em crescimento.
Outros atores nucleares surgiram desde a década de 1940, quando EUA
e URSS testaram (e usaram, no caso dos EUA) suas bombas, produzindo
um cenário de proliferação horizontal – entre mais atores – que
constitui mais ameaça contra a paz mundial.
Com o aumento do poder das potências regionais, sobretudo aquelas
dotadas de poder nuclear, como China e Rússia, além de Índia, as
tensões internacionais têm observado uma escalada, sobretudo entre a
aliança ocidental – EUA e aliados da OTAN – e as grandes potências
eurasianas, Rússia e China, também articuladas com um poderoso ator
no Oriente Médio, e histórico antagonista dos interesses americanos, o
Irã.
Nesse contexto, a recuperação russa foi motivo de especial tensão.
Após a chegada de Putin, em 2000, o país iniciou uma forte recuperação
econômica. No período anterior, a Rússia adotou as reformas propostas
pelo Ocidente, abandonou os territórios ocupados pela agora extinta
União Soviética – ocupados durante a expansão pela Europa Oriental na
Segunda Guerra –, e enfrentou um processo de enfraquecimento na
economia e política internacional. Putin chegou ao poder decidido a
reverter isso e estatizou de volta alguns recursos estratégicos
privatizados pelo governo anterior, de Yeltsin, como petróleo, gás, além
de bancos e canais de rádio e televisão, dando início a um projeto para
recolocar a Rússia nos trilhos de uma grande potência. Vejamos!
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Expansão soviética e fronteiras da Guerra.
A geopolítica russa, portanto, passava a assumir novamente sua curva
histórica, a de uma grande potência, o que a levou ao choque de
interesses com os EUA e seus aliados ocidentais. A OTAN, criada como
principal instrumento militar da Doutrina da Contenção da Guerra Fria,
seguira existindo após o fim da Guerra Fria e, a despeito de promessas
feitas aos russos, expandiu-se para territórios outrora integrantes da
URSS, alguns deles zonas históricas da influência do Estado russo,
mesmo antes de 1917. Esse movimento da OTAN gerou sucessivos
protestos dos russos, que se sentem ameaçados. A geopolítica europeia
passa a observar novamente uma fricção entre grandes potências,
levando países que vinham, por muito tempo, reduzindo seus
orçamentos de Defesa a novamente incrementarem seus gastos
militares. Na Ásia, por razões semelhantes, uma corrida armamentista
toma parte neste momento, tornando ainda mais complexo o cenário
global.
Na Europa, os protestos russos foram acompanhados de investimentos
crescentes no setor militar e no aumento e modernização dos arsenais
nucleares. Além disso, a Rússia controla e tem expandido sua malha de
gasodutos, dos quais os europeus são dependentes, elevando sua
influência econômica e sua projeção geopolítica sobre o continente.
Gasodutos russos.
Tudo isso pode exemplificar bem a geopolítica em ambiente de
conturbação. A geopolítica russa busca retomar espaços perdidos de
influência. A geopolítica europeia se encontra em uma situação onde as
nações da Europa Ocidental, historicamente alinhadas aos EUA, passam
a entrar em rota de colisão com a Rússia, revigorada como potência. Um
dilema de segurança começa a emergir no mapa da Europa com a
presença cada vez mais ostensiva da OTAN sobre territórios
historicamente alinhados à esfera de influência russa, fronteiriços com a
Rússia e armados com mísseis nucleares americanos.
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Os protestos de Putin afirmam que tais movimentos
expansionistas, além de traírem a confiança russa nos
acordos do final da Guerra Fria, representam severas
ameaças à soberania e segurança russas.
A situação escalou ainda mais quando a Ucrânia entrou no radar da
expansão da OTAN, fornecendo aos russos a motivação para uma ação
militar com alto custo na atual ordem internacional. Ação que produziu
uma guerra interestatal de alta intensidade como há muito tempo não se
via, sobretudo na Europa. Não obstante a assimetria entre as duas
forças em contenda, trata-se de dois atores convencionais, munidos dos
seguintes arsenais:
Aviação so�sticada
Marinha
Artilharia pesada e tropas
regulares e treinadas
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Como vimos, as batalhas são travadas com uma intensidade que supera
os conflitos irregulares que têm se tornado frequentes na paisagem
internacional nas últimas décadas. Vejamos!
O avanço das fronteiras da OTAN em direção à Rússia.
Não compete a este conteúdo qualquer julgamento de valor sobre os
dois lados em conflito, mas apenas demonstrar como os movimentos
dos Estados formam um tabuleiro complexo, que, grosso modo, é o que
entendemos por geopolítica regional.
A guerra é a continuação da política, e a situação pela qual passam os
ucranianos, vítimas de uma invasão que levou a uma guerra de alta
intensidade para dentro das fronteiras de seu país, deve servir de
lembrete sobre os reais contornos do Sistema Internacional, onde a
ameaça de guerra permanece como um fator central da geopolítica dos
Estados. Trata-se de um fenômeno mais complexo que a vontade
pessoal de autoridades civis e militares. A guerra passa pelos
constrangimentos e interesses relativos aos Estados como entes
dotados de sentido, interesses.
Comentário
A ontologia do Estado é, essencialmente, sua autoridade soberana que
tende a buscar a sobrevivência e aumentar seu poder. Em um ambiente
composto por dois ou mais atores dessa natureza com disputas, a
guerra tende a permanecer no horizonte e será acionada quando a
diplomacia fracassar. Para algumas disputas, nem sempre há saídas
diplomáticas, essa tem sido a lição da história até aqui.
Outro aspecto importante a ser analisado nessa guerra, sob a
perspectiva da geopolítica, é a capacidade de retaliação dos EUA com
meios econômicos, na forma de sanções. Esse dado é revelador do
poder da geopolítica norte-americana, cuja moeda estrutura ainda a
maior parte das transações internacionais e cuja economia é a mais
presente no mundo, acompanhada de intensa presença militar. Esse
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dado é revelador do poder da geopolítica norte-americana, cuja moeda
estrutura ainda a maior parte das transações internacionais e cuja
economia é a mais presente no mundo, acompanhada de intensa
presença militar.
A Rússia, por outro lado, possui seu poder muito próximo de suas
fronteiras reais, que compõem um cenário geopolítico que levou Halford
Mackinder, talvez a mais canônica referência da geopolítica ocidental, a
afirmar que o território russo seria o heartland, o centro de poder
mundial.
Halford John Mackinder (1861-1947).
Quem o detivesse teria as bases para uma projeção global. Ainda que
não tenha conseguido se projetar globalmente, como os EUA o fizeram
por exemplo, a Rússia se mostrou inexpugnável a conquistas e foram
muitas tentativas. Mackinder pensou o heartland como o encerramento
da era das potências navais como o Império britânico. A teoria do
heartland reforçava a importância do controle dos territórios para a
dominação política de um Estado, contrariando princípios geopolíticos