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Tema 2 - Territórios políticos_ taxionomia das relações de poder

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13/03/2024, 16:54 Territórios políticos: taxionomia das relações de poder
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04609/index.html# 1/66
Territórios políticos: taxionomia das relações de
poder
Prof. Fernando Luz Brancoli
false
Descrição
Relação das dimensões de poder e principais correntes teóricas das
Relações Internacionais.
Propósito
Compreender as diferentes conceituações de poder das Relações
Internacionais é central para a reflexão crítica sobre quais ferramentas
analíticas são necessárias para entender o cenário global.
Objetivos
Módulo 1
O poder como elemento em disputa
Identificar os principais elementos das teorias de poder e suas
modificações ao longo do tempo.
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https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04609/index.html# 2/66
Módulo 2
Escola Liberal e as possibilidades
da globalização
Analisar o papel de Estados e instituições internacionais nas teorias
de poder das Relações Internacionais.
Módulo 3
O poder das ideias e das
identidades por meio do
construtivismo
Listar as narrativas sobre os interesses estatais e o papel das nações
em temas sensíveis transnacionais.
13/03/2024, 16:54 Territórios políticos: taxionomia das relações de poder
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04609/index.html# 3/66
Introdução
Vamos tratar das formas de poder e da compreensão de que uma
dinâmica internacional é viva para todos aqueles que necessitam
de seu olhar. Sendo assim, é fundamental um exercício de
compreensão do Estado e do poder na sociedade atual.
Para isso, primeiramente, abordaremos os principais elementos
das teorias de poder e suas transformações ao longo do tempo.
Em seguida, analisaremos o papel de Estados e instituições
internacionais nas teorias de poder das RIs. Por fim, trataremos
das narrativas sobre os interesses estatais e o papel das nações
em temas sensíveis transnacionais.
1 - O poder como elemento em disputa
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os principais
elementos das teorias de poder e suas modi�cações ao longo do tempo.

13/03/2024, 16:54 Territórios políticos: taxionomia das relações de poder
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04609/index.html# 4/66
Realismo e in�uência na
política internacional
Poder nas dinâmicas
internacionais
Acompanhe um bate-papo sobre o poder nas dinâmicas internacionais.
A estreita relação que existe entre a escola realista e o conceito de
poder decorre de sua percepção básica: conflito e competição são
intrínsecos à prática da política internacional. Assim, a aquisição e
gestão do poder é a característica central da política entre as nações.
Embora os realistas estejam de acordo quanto a isso, há uma variação
em como entendem o conceito:

Para os realistas
clássicos, a luta
permanente pelo poder
decorre de impulso
humano fundamental
(Morgenthau, 1948).

Para os estruturais ou
neorrealistas, é a
arquitetura do sistema
internacional que força
os Estados a buscar o
poder e maximizar sua
posição de força
(Mearsheimer; Glenn,
2001).


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Além disso, há divergências sobre como o poder deve ser concebido e
medido.
A primeira expressão analítica sobre o poder e o realismo se encontra
nas considerações sobre o “equilíbrio de poder”, expressão identificada
nas reflexões do filósofo grego Tucídides, em V a.C., para explicar o
início da Guerra do Peloponeso. A reflexão reforça que a política de
poder funciona como uma espécie de lei do comportamento humano.
Guerra do Peloponeso: Esparta e a Liga do Peloponeso em rosa, Atenas e seus aliados em
amarelo.
O comportamento do Estado como um ator egoísta é entendido como
um reflexo das características das pessoas que compõem o Estado. De
acordo com os realistas clássicos, a natureza humana explica por que a
política internacional é necessariamente uma política de poder. Essa
redução da força motriz por trás da política internacional a uma
condição de natureza humana é uma das características definidoras do
realismo clássico e é mais famosamente representada em Morgenthau
(1948).
Morgenthau sustentou que a política é governada por leis objetivas que
têm suas raízes na natureza humana. Era importante para Morgenthau
reconhecer que essas leis existem e elaborar políticas consistentes com
o fato de que os seres humanos possuem uma vontade de poder
inerente.
Tanto para Tucídides quanto para Morgenthau, a
continuidade essencial do comportamento dos
Estados é sua busca pelo poder, que está enraizada
nos impulsos biológicos dos seres humanos.
Essas discussões são relevantes ao pensarmos nas dimensões de
Balança de Poder. O termo implica que mudanças no poder político
relativo podem ser observadas e medidas, principalmente ao analisar
como diferentes potências lidam com rivais.

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A dinâmica de Balança de Poder está pautada em duas considerações:

O sistema internacional é considerado anárquico, sem que nenhuma
autoridade de todo o sistema seja formalmente imposta a seus agentes.

As grandes potências têm vários mecanismos para restaurar o
equilíbrio, incluindo o acúmulo militar interno, sendo a riqueza
econômica convertida em poder militar e formação de alianças.
Como não existe um “governo mundial” para proteger os Estados uns
dos outros, cada um tem que confiar em seus próprios recursos e
estratégias para evitar ser conquistado, coagido ou ameaçado de outra
forma.
Ao enfrentar uma nação poderosa, um país pode
mobilizar mais recursos próprios ou buscar uma
aliança com outros Estados que enfrentam o mesmo
perigo, a fim de mudar a balança mais a seu favor.
Aqui, o poder é um elemento que confere liberdade ao Estado para
buscar sua sobrevivência – o objetivo final de qualquer país. Elementos
morais e direitos humanos podem ser considerações importantes, mas
são subsidiárias da busca por poder e sobrevivência.
Em casos extremos, formar uma coalizão de equilíbrio pode exigir que
um Estado lute ao lado de outro país que antes considerava inimigo ou
entendesse que seria rival no futuro. Assim, os Estados Unidos e a Grã-
Bretanha se aliaram à União Soviética durante a Segunda Guerra
Mundial, porque derrotar a Alemanha nazista tinha precedência sobre
suas preocupações de longo prazo com o comunismo.
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Alianças dos países aliados durante a Segunda Guerra Mundial.
Considerações clássicas sobre
poder no realismo
Um dos principais obstáculos na tentativa de fazer do poder o foco em
relações internacionais (RI) é a dificuldade de consenso sobre a forma
mais adequada de definir e mensurar um conceito tão evasivo.
Poder significa coisas bem diferentes para pessoas diferentes. Segundo
Baldwin (2012), existem duas tradições dominantes de análise de poder
em RI:

A abordagem de poder nacional, que retrata o poder como propriedade
dos Estados.

A abordagem de poder relacional, que retrata o poder como uma relação
real ou potencial.
Poder nacional
Os proponentes dos elementos da abordagem do poder nacional
associam o poder à posse de recursos específicos. Todos os recursos
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importantes que um Estado possui são normalmente combinados para
determinar seu poder agregado geral.
Recursos indicadores do poder nacional são o nível de gastos militares,
o tamanho das forças armadas, o produto nacional bruto, o tamanho do
território e a população, por exemplo.
Dados acercada população brasileira, segundo o IBGE e Global Fire
Uma das dificuldades com os elementos da abordagem do poder
nacional é a questão da conversão, que é:
A capacidade de transformar o
poder potencial, medido pelos
recursos, em poder realizado,
medido pela mudança de
comportamento dos outros.
(NYE, 2002, p. 31)
Não é a mera posse de recursos de poder que importa, mas a
capacidade de convertê-los em influência real.
Pode-se argumentar que com a abordagem de controle sobre recursos:
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Poder relacional
A abordagem de poder relacional foi defendida como alternativa à
abordagem do poder nacional. É fundamental para a concepção
relacional de poder a capacidade de demonstrar uma mudança nos
resultados dependendo dos atores que estão envolvidos.
Nesse sentido, mais importante que o acúmulo de poder – por exemplo,
quantos soldados determinado país possui disponível – é a relação
desse número com outras nações.
Dados acerca da população brasileira e portuguesa, segundo o IBGE e Global Fire.
 Nem sempre é certo que os atores serão capazes
de usar elementos que estão nominalmente sob
seu controle.
 Alguns tipos de recursos são extremamente difíceis
de medir.
 O foco no poder nacional exclui a consideração do
papel dos atores não estatais e as questões de
interdependência, coalizões e ação coletiva.
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A abordagem de poder relacional provavelmente parecerá muito
efêmera para políticos e líderes. A ideia de poder como posse de
recursos tem mais apelo para os formuladores de políticas porque faz o
poder parecer mais concreto, mensurável e previsível do que a definição
relacional.
Tais questões reforçam que a política internacional
para realistas clássicos é essencialmente uma luta
interminável por poder.
Morgenthau (1948) proclamou que a política internacional é uma luta
pelo poder, e o poder é sempre o objetivo imediato.
Ele parece ter endossado tanto a abordagem relacional quanto os
elementos da abordagem do poder nacional. Além disso, define o poder
político como uma relação psicológica entre aqueles que o exercem e
aqueles sobre quem é exercido.
Morgenthau (1948) se compromete a demonstrar como um ator político,
seja um indivíduo ou um Estado, é capaz de induzir uma mudança de
resultado favorável àquele que exerce o poder.
No entanto, distingue poder político e força física, argumentando que há
uma diferença fundamental entre ameaçar o uso da violência para
alcançar determinado resultado e seu uso real; o último, para ele,
representa uma abdicação do poder político em favor do poder militar.
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Morgenthau transfere a suposição fundamental do desejo inerente do
homem pelo poder para descrever o comportamento dos Estados.
Morgenthau comparou os três padrões básicos da luta pelo poder entre
os Estados ao desejo do homem pelo poder que se manifesta no
“desejo de manter o alcance do poder”.
Os três padrões básicos da luta pelo poder entre os Estados são:
Conforme essa visão, a política internacional é uma luta contínua entre o
status quo e os poderes revisionistas. Deixados por conta própria, cada
Estado tende a estender poder sobre uma esfera tão ampla quanto
possível. Mas a busca pelo poder não ocorre no vácuo. A tentativa de
cada estado de agir em termos de interesse definido como poder
influencia diretamente as ações de outros estados.
Embora reconhecendo a importância do instrumento militar, Morgenthau
(1948) advertiu contra a tendência de se concentrar em um único
componente do poder em detrimento de todos os outros. Sustentou que
uma das tarefas mais complicadas da política externa era avaliar como
os elementos individuais do poder contribuíam para o poder geral da
própria nação.
 Manter o poder
Status quo
 Aumentar o poder
Imperialismo
 Demonstrar o poder
Prestígio
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De acordo com Morgenthau, a capacidade de diferenciar entre um status
quo e uma política imperialista, bem como a busca bem-sucedida do
equilíbrio de poder, depende de uma avaliação precisa do poder
nacional. De fato, o sistema de poder só atinge um estado de equilíbrio
quando o poder de cada Estado está em seu nível ótimo.
Re�exões contemporâneas
Os chamados realistas estruturais concordam com os realistas
clássicos que o domínio da política internacional é uma luta contínua
pelo poder, mas não endossam a suposição clássica de que isso é
atribuível a certas propensões encontradas na natureza do homem.
Para Waltz:
A política
internacional é o reino
do poder, da luta e da
acomodação
(WALTZ. 2010, p. 23)
Em vez de explicar a busca contínua pelo poder no âmbito internacional
com base na natureza humana, os realistas estruturais substituem o mal
pela tragédia. Os realistas estruturais deslocam o lócus da luta pelo
poder da natureza humana para o ambiente anárquico que os Estados
habitam.
Waltz explica que:
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Do ponto de vista da teoria
neorrealista, a competição e o
conflito entre Estados derivam
diretamente dos fatos duplos da
vida sob condições de anarquia:
Estados em uma ordem anárquica
devem prover sua própria
segurança, e ameaças ou aparentes
ameaças à sua segurança são
abundantes.
(WALTZ. 2010, p. 155)
Na ausência de uma autoridade superior, os realistas estruturais
argumentam que a autoajuda é necessariamente o princípio da ação.
Em uma sociedade internacional anárquica, cada Estado individual
continua a depender apenas de si para sua própria existência, tanto
quanto para o gozo de seus direitos e a proteção de seus interesses.
Devido à possibilidade de que a força possa a qualquer momento ser
usada por um Estado contra outro, todos os Estados devem tomar as
medidas apropriadas para garantir sua própria sobrevivência. Os
realistas estruturais argumentam que a medida mais importante que um
Estado pode tomar nesse sentido é acumular uma quantidade suficiente
de poder.
O realismo ofensivo, uma subdivisão do realismo estrutural, diferencia-
se tanto do realismo de Morgenthau quanto do neorrealismo de Waltz.
Morgenthau e Mearsheimer retratam os Estados se esforçando para
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maximizar seu poder, mas o primeiro atribui isso a um “desejo de poder”,
enquanto o segundo a uma consequência necessária do sistema
internacional anárquico.
Para Mearsheimer (2001, p. 17), os cálculos sobre poder estão no cerne
de como os Estados pensam sobre o mundo ao seu redor: “o poder é a
moeda da política das grandes potências, e os Estados competem por
ele entre si. O que o dinheiro é para a economia, o poder é para as
relações internacionais”. Como outros realistas, Mearsheimer vê o poder
principalmente em termos militares. Ao contrário deles, porém, sua
ênfase na força militar é bastante explícita:
Na política internacional, o poder
efetivo de um Estado é, em última
análise, uma função de suas forças
militares. O equilíbrio de poder é
amplamente sinônimo de equilíbrio
de poder militar. Eu defino o poder
em grande parte em termos
militares porque o realismo ofensivo
enfatiza que a força é a última
racionalidade da política
internacional.
(MEARSHEIMER, 2001, p. 55-56)
Nessa lógica, não é apenas o poder militar que importa para o realismo
ofensivo, é o “poder terrestre”.Os exércitos importam mais do que as
marinhas ou as forças aéreas por sua capacidade superior de
conquistar e controlar a terra, que é o objetivo político supremo em um
mundo de estados territoriais.
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Nessa teoria, a estrutura do sistema internacional obriga os Estados a
maximizarem sua posição de poder relativo. O ambiente que os Estados
habitam é responsável pela competição onipresente pelo poder, que leva
os Estados a buscar oportunidades para aumentar seu poder graças aos
rivais.
Mearsheimer (2001) articula cinco suposições básicas sobre o sistema
internacional:
 É anárquico.
 Todas as grandes potências
possuem alguma capacidade
militar ofensiva.
 Os Estados nunca podem ter
certeza sobre as intenções de
outros Estados.
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Apreensivos sobre as intenções finais de outros Estados e cientes de
que operam em um sistema de autoajuda, os países rapidamente
entendem que a melhor maneira de garantir sua sobrevivência é ser o
Estado mais poderoso do sistema.
O poder é o conceito-chave do realismo ofensivo de Mearsheimer, que
considera que somente definindo claramente o poder podemos entender
o comportamento das grandes potências. Mearsheimer endossa os
elementos da abordagem do poder nacional e define o poder como bens
específicos ou recursos materiais que estão disponíveis para um
Estado.
Vivências do século XXI
A atual guerra entre Rússia e Ucrânia é exemplo de como elementos de
poder se configuram nas RI atuais. A violência entre os dois países, na
modernidade, pode ser rastreada até 2014 e até bem antes da virada do
século XXI.
Conflito Ucrânia e Rússia.
 A sobrevivência é o objetivo
principal dos Estados.
 Os Estados são atores racionais.
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A invasão da Ucrânia sob a liderança do presidente russo, Vladimir Putin,
colocou a Europa Oriental no centro do cenário geopolítico. Líderes de
todo o mundo são forçados a seguir estratégias distintas e
continuamente a alterar seu apoio entre a independência da Ucrânia e o
reconhecimento dos desejos e motivações que impulsionam a agressiva
campanha russa para o oeste. Mearsheimer e Walt estudaram e apoiam
uma perspectiva realista no contexto geopolítico moderno, que será
aplicada ao conflito que se desenrola na Ucrânia.
Kyivan Rus. Ano 1054.
O realismo na política tenta resolver crises e conflitos internacionais
implementando contramedidas que protejam suas fronteiras e a “esfera
de influência” geral nos países vizinhos.
Ucrânia e Rússia têm uma história complexa e extremamente
entrelaçada, que existe há centenas de anos, aos conquistadores
nórdicos vikings e Kyivan Rus durante as eras medievais antes de
finalmente se fundir com o povo eslavo.
A Ucrânia luta para manter sua independência por séculos, conseguindo
plena soberania após o colapso da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS) em 1991. Levou apenas alguns anos até que o
governo norte-americano de Bill Clinton começasse a expandir a
administração da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e
de seus Estados-membros.
Esse conceito liberal de “alargamento” era muito popular há 25 anos e
continua a ser um ideal fundamental embutido nas democracias
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ocidentais. No entanto, colide com a perspectiva realista preferida por
Putin, que tem se manifestado contra a expansão da União Europeia
(UE) e a ampliação da OTAN desde que chegou ao poder em 1999.
Otan x Rússia
Mearsheimer é um dos mais famosos críticos da política externa
americana desde o fim da Guerra Fria, sendo um proponente da política
de grandes potências – uma escola de RI realistas que assume que, em
uma tentativa egoísta de preservar segurança nacional, os Estados
agirão preventivamente em antecipação aos adversários.
Nessa concepção, os EUA, ao pressionarem para expandir a Otan para o
leste e estabelecerem relações amistosas com a Ucrânia, aumentaram a
probabilidade de guerra entre potências com armas nucleares e
lançaram as bases para a posição agressiva de Putin em relação à
Ucrânia.
Em 2014, depois que a Rússia anexou a Crimeia, Mearsheimer escreveu
que “os Estados Unidos e seus aliados europeus compartilham a maior
parte da responsabilidade por esta crise” (MEARSHEIMER, 2014, n. p.).
O realismo aponta, nessa lógica, que as raízes da crise atual têm suas
origens em 2008, quando a Otan concordou em admitir a Geórgia e a
Ucrânia. Os russos deixaram claro que viam isso como uma ameaça
existencial. No mesmo ano, a Rússia invadiu a Geórgia e ocupou as
regiões da Abkhazia e da Ossétia do Sul. Os esforços da União Europeia
(UE) para integrar a Ucrânia em seu coletivo perturbaram a Rússia, que
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vê a perspectiva de uma “democracia liberal pró-americana” à sua porta
como uma grave ameaça à segurança.
Guerra Russo-Gorgiana em 2008.
A Ucrânia não tem uma economia forte e possui índices de corrupção e
administração pública bastante ruins. Outros países têm interesse no
território por sua localização, mas nenhum se sente mais forte do que a
Rússia. Putin não quer que as democracias ocidentais absorvam a
Ucrânia pela OTAN ou UE por várias razões:

Putin vê isso como uma questão de segurança e defesa nacional.

A Ucrânia tem áreas separatistas pró-Rússia, que Putin já usou como
justificativa para iniciar a invasão em um esforço para reunir os
territórios da antiga União Soviética.

O forte nacionalismo justifica a preservação da cultura, dos valores e
dos costumes de uma Rússia imperial nos próximos anos. Kiev foi uma
das três grandes cidades do antigo Império Russo do século XIX ao lado
de Moscou e Petersburgo.
Defender fronteiras e alarmar com a invasão de países estrangeiros é a
mesma prática espelhada pelos EUA. Para ser o país mais poderoso do
mundo, uma perspectiva realista é necessária para formar estratégias
de defesa militar bem-sucedidas. No entanto, a ampliação da OTAN e a
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retórica cada vez mais inflamatória dos EUA e de outras nações da
Europa Ocidental estão apenas provocando discursos bélicos em
Moscou.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky (esquerda) e o presidente russo Vladimir Putin no
Palácio do Eliseu, em Paris.
Apesar de toda a cobertura em torno das ações agressivas tomadas por
Putin e os militares russos na Ucrânia, há conversas em andamento
entre o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e Putin para chegar a
um acordo de cessar-fogo e parar o bombardeio de artilharia e o cerco
de cidades ucranianas.
Novas alegações de russos perdendo cidades menores e ficando sem
combustível e comida também começaram a circular. Putin pode ter
subestimado a força dos batalhões militares da Ucrânia e sua vontade
de lutar por sua soberania. O financiamento da OTAN para países
vizinhos, como a Polônia, também reforça a confiança da Ucrânia.
Do ponto de vista das dimensões de poder, uma possível solução para o
conflito precisa ser gradual e incorporar a Rússia em um novo tipo de
pacto ou “ordem de segurança” ao lado da OTAN e da UE, reconhecendo
a soberania ucraniana, aumentando a estabilidade econômica europeia
e, mais importante, impedindo que a China use sua influência cada vez
mais poderosa para apoiar Putin.
ARússia está em um nível nitidamente mais baixo do que os EUA no
cenário mundial. Sua economia é frágil e sua população está
envelhecendo.
As duas forças mais dominantes na geopolítica
atualmente são China e Estados Unidos.
Estudiosos realistas argumentam que optar por investir em um conflito
de séculos na Europa Oriental enfraquecerá os EUA e fortalecerá a China
como a superpotência proeminente do mundo nos próximos anos.
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Abandonar as estratégias de alargamento e incluir a Rússia em uma
reconstrução alternativa da economia europeia será um desafio, mas o
caminho atual é muito mais perigoso. Ao atender a esse aviso, o mundo
pode reduzir drasticamente suas chances de suportar uma guerra
termonuclear no século XXI.
Vamos entender melhor?
Ouça as principais provocações sobre o realismo e as formas do poder.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
O realismo ofensivo se concentra no poder militar como elemento
de influência dos Estados modernos. Porém, essa escola analítica
também enfatiza
A
o poder terrestre, já que reforça a necessidade de se
ocupar espaços e territórios para garantir influência.
B
o poder cultural, já que a influência sutil teria efeitos
duradouros para além da força de exércitos.
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Parabéns! A alternativa A está correta.
Não é apenas o poder militar que importa para o realismo ofensivo,
é o “poder terrestre”. O objetivo político supremo em um mundo de
estados territoriais é conquistar e controlar a terra, e os exércitos
têm mais essa capacidade que as marinhas ou as forças aéreas.
Questão 2
Existem duas tradições de análise de poder das Relações
Internacionais com foco no realismo,
C
a estrutura internacional, ou seja, o fato de existirem
normas e regras transnacionais que moldam o
comportamento das lideranças faz mandatários
serem impelidos a tomar decisões semelhantes.
D
a cooperação, de forma racional, promove a
integração dos Estados, fazendo as nações se
comportarem de forma semelhante ao longo do
tempo.
E
o poder marítimo, já que é necessário projetar poder
através da capacidade naval no século XXI.
A o poder nacional e o poder militar.
B os elementos de poder econômico e cultural.
C o poder marítimo e o poder terrestre.
D o poder militar e o poder econômico.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
A abordagem de poder nacional retrata o poder como propriedade
dos Estados, e a abordagem de poder relacional retrata o poder
como uma relação real ou potencial.
2 - Escola Liberal e as possibilidades da
globalização
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar o papel de Estados e
instituições internacionais nas teorias de poder das Relações
Internacionais.
O liberalismo como elemento
de poder
O liberalismo, como uma coleção de conceitos, deriva das ideias de
filósofos como Immanuel Kant, John Locke e Jeremy Bentham nos
séculos XVII e XVIII.
E o poder nacional e o poder relacional.
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Immanuel Kant.
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John Locke.
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Jeremy Bentham.
No século XX, foi desenvolvido pelos chamados idealistas (como
Woodrow Wilson), que, após a Primeira Guerra Mundial, estavam
determinados a mudar o sistema internacional para evitar que tal
devastação acontecesse novamente no futuro. Apesar de ter sido muito
difamado durante os anos da Guerra Fria, o liberalismo recentemente
recebeu um impulso do fim da Guerra Fria, e foi suplementado pelo
"neoliberalismo" (DOYLE, 2018).
Um tema central do liberalismo é que os indivíduos são
livres para fazer suas próprias escolhas.
Portanto, as ações de pessoas e dos Estados não são necessariamente
ditadas por um sistema anárquico, mas podem cooperar cuidando dos
interesses uns dos outros para trazer segurança para todos.
Na questão específica do poder, liberalistas tendem a se concentrar no
indivíduo e nos atores que não o Estado-nação em suas análises do
sistema internacional. Um corolário disso é que eles não consideram o
poder militar necessariamente a fonte mais importante de influência.
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No mundo contemporâneo, os liberalistas se concentram no:
O poder econômico é exercido por atores que possuem ou controlam
recursos financeiros. Se essa visão de poder for focalizada, o poder do
Estado é imediatamente reduzido em comparação à visão realista.
Embora o Estado-nação possa controlar nominalmente mais poder
econômico do que qualquer outra instituição, a maioria de seus recursos
está vinculada a compromissos de longo prazo com seus cidadãos, na
forma de pagamentos de dívidas, bem-estar e outras funções sociais
legítimas.
Portanto, a quantidade de recursos econômicos disponível para
mobilizar e usar para influenciar o sistema internacional de várias
maneiras é comparável a grandes empresas transnacionais, instituições
internacionais e outros atores internacionais não estatais.
Essa visão das RI é, no entanto, altamente enviesada para democracias
industrializadas e economicamente desenvolvidas, entre as quais
alguma liberdade de comércio e movimento foi alcançada. Portanto, é
 Poder econômico
 Poder consensual (que leva à
cooperação)
 Poder institucional
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difícil considerar as teorias liberais aplicáveis a todas as áreas ao redor
do mundo.
Com base nas circunstâncias de seus próprios tempos e países. Nesse
sentido, as dimensões sobre “correto” e “evoluído” estão baseadas em
interpretações específicas e devem ser entendidas nesse contexto.
Continuando, o liberalismo também reforça as questões envolvendo o
poder do consenso, que é baseado na livre escolha dos indivíduos para
cooperar uns com os outros. É interessante apontar que isso não é
incompatível com a ideia de competição: todo poder deriva do consenso
de um grupo; mesmo em um Estado totalitário, o ditador detentor do
poder só pode controlar esse poder com a cooperação de sua
administração e seus militares (ARENDT, 1986).
Organização Mundial do Comércio, Suíça.
O liberalismo também foca suas análises no poder das instituições
internacionais, baseando essa visão na prerrogativa de que tais
organizações têm influência significativa no sistema internacional. Elas
podem incluir órgãos como as Nações Unidas, a Organização Mundial
do Comércio, o Fundo Monetário Internacional e outros organismos que
são formados basicamente devido à colaboração entre governos
nacionais.
No entanto, eles também incluem organismos internacionais que podem
ter sido formados por empresas globais, ou mesmo grupos de
indivíduos interessados.
Exemplos disso incluem órgãos de padrões técnicos, como Internet
Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN), que administra
sistemas que determinam como os nomes de domínio são indexados
na internet,ou consórcios de empresas que decidem sobre protocolos
de telefonia móvel.
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A capacidade dos atores de controlar ou influenciar as ações desses
órgãos é vista como poder institucional. Mais uma vez, no entanto, esta
fonte de poder pode não estar disponível onde há poucas instituições
internacionais estáveis operando, como na África Subsaariana e em
outras regiões pobres do mundo – áreas que os liberalistas, muitas
vezes, não levam em conta nas suas análises.
A última prerrogativa de poder na visão liberal é a interdependência. As
interações entre indivíduos, atores subestatais, Estados e organizações
internacionais no sistema internacional podem ser, dentro dessa lógica,
uma fonte de poder.
União Europeia
Outros atores além dos Estados têm crescido em importância, levando a
uma rede de interações entre atores acima e abaixo do nível estadual.
São organizações não governamentais, empresas transnacionais, outras
organizações internacionais ou supranacionais, como a União Europeia,
e também autoridades subnacionais ou regionais, que, em muitos
casos, começaram a atuar internacionalmente, como governos
estaduais e prefeituras.
Essa visão dos atores internacionais parte da ideia de que o indivíduo e
outros atores subestatais têm poder político no sistema internacional e
a ideia de poder da interdependência prevê que Estados, instituições e
outros atores estejam ligados por suas relações e transações. Essas
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transações incluem fluxos de dinheiro, pessoas, informações e outros
bens e serviços.
O valor dessas transações cresceu a um ponto em que atores e Estados
são mutuamente dependentes; isso significa que essa interdependência
se tornou uma fonte potencial de poder, em particular para atores que
são menos dependentes de uma transação do que outros.
Exemplo
Durante a pandemia de covid-19, pudemos observar como a China
ganhou influência ao ser um dos centros de insumos de vacinas para
todo o mundo. Ao depender de Pequim para a produção de
medicamentos em meio a uma crise sanitária, o país asiático se
posicionou como uma potência que estabelece ajuda e auxilia a todos.
Conforme explicado, um ator internacional, como um Estado, ganhará
poder institucional em virtude de sua posição dentro de uma instituição.
Ele ganha essa posição negociando com os outros Estados do sistema,
de modo a manobrar-se gradualmente para uma posição mais forte.
Isso pode ser feito por meio de contribuições econômicas para a
instituição e dedicando atenção a ser politicamente proativo e, assim,
aumentar seu perfil dentro do organismo.
Fundação da União Europeia e adesão de novos Estados-membros
É provável que um país tenha uma posição mais forte por ser um
membro-fundador da instituição, do que se aderir mais tarde. Isso pode
ser visto no caso da União Europeia, onde os membros-fundadores
mantiveram um poder político desproporcional na burocracia da UE
muito depois de outros membros terem entrado, em parte devido à
inércia causada pela natureza de mudança das grandes burocracias,
mas também devido aos representantes dos Estados-membros originais
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na burocracia inclinarem-se para a seleção de seus próprios candidatos
preferidos para posições.
Nessa lógica, um ator pode usar essa posição para afetar o resultado
das negociações internacionais. Se um Estado-nação se engajar em
negociações que levarão ao estabelecimento de um tratado
internacional ou outro conjunto de regras, ele pode exercer seu poder
institucional para garantir que as regras lhe sejam favoráveis.
Da mesma forma, uma empresa pode usar sua posição dentro de um
consórcio internacional para garantir que suas necessidades sejam
atendidas quando o coletivo decidir sobre um padrão internacional. Os
liberais acreditam que os Estados podem, por meio de instituições,
engajar-se na cooperação para benefício mútuo. A essência de órgãos
internacionais, como as Nações Unidas, é que a segurança internacional
é melhor salvaguardada por alguma forma de cooperação e consenso
internacional, em vez de ações unilaterais.
Consequências das
perspectivas de poder na
lógica liberal e neoliberal
As ideias dos liberalistas sobre as relações de poder levam à crença de
que os Estados podem cooperar no sistema internacional e que a
anarquia não é a situação básica. As teorias liberais baseadas na visão
individualista das relações de poder esboçadas acima, mas também
baseadas na ideia de cooperação, levam logicamente à formação de
instituições internacionais.
As ideias de Kant são frequentemente evocadas em representações do
liberalismo (ONUF; JOHNSON 1995). Kant acreditava que, apesar das
dificuldades que levam a guerras, revoluções e assim por diante, no final,
a natureza incentiva as pessoas a cooperar para garantir sua
sobrevivência, à medida que aprendem as lições da guerra e do conflito.
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Países europeus que receberam ajuda do Plano Marshall.
Os regimes liberais não travavam uma guerra
entre si desde o �nal do século XVIII.
À medida que adquiriram governos amplamente representativos, esses
Estados evitaram a guerra como meio de resolver disputas entre si em
favor da negociação. Essas observações fornecem evidências
poderosas em apoio ao liberalismo kantiano e, portanto, à ideia de que o
poder coercitivo não é necessariamente a fonte de poder mais
importante, como sugerem os realistas.
As teorias e ideias de Kant incorporam a visão liberalista das relações
de poder explicada anteriormente. Há forte ênfase no poder político do
indivíduo sendo a base de um estado republicano.
A ideia de que os indivíduos podem negociar livremente com outros,
mesmo com estrangeiros, vem da ênfase na importância do poder
econômico do indivíduo (e de outros atores não estatais). Finalmente, as
ideias da zona liberal de paz refletem as visões dos liberalistas sobre
cooperação e o poder das instituições internacionais, como tratados e
organizações.
A zona de paz liberal é uma ideia que foi adotada por muitos liberalistas
que tentam contrariar os argumentos realistas da anarquia universal.
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Pode-se dizer que essa zona de paz surgiu devido à realização do
liberalismo kantiano. Nas democracias liberais, os indivíduos são livres
para expressar seu poder político e econômico e, pelo menos em
relação a outras democracias, o fizeram optando pela paz. A
competição econômica ainda prospera, mas o elemento do poder
consensual pode ser visto no fato de que a verdadeira competição
econômica só pode ocorrer em um sistema com certas regras básicas,
como leis ou práticas internacionais.
A visão liberalista das RI de poder atingiu um ponto alto de influência
após a Primeira Guerra Mundial, quando líderes e outros políticos
começaram a ver que um sistema de cooperação internacional
abrangente e forte era a única maneira de evitar mais desastres.
Proeminente entre os defensores de tal sistema foi Woodrow Wilson,
presidente dos Estados Unidos entre os anos 1913-1921. Sua ideia se
materializou na Liga das Nações, um sistema baseado no poder
institucional e no poder de consenso, que promoveria ideias liberalistas
de RI.
Sessão plenária da Comissão Internacional de Cooperação Intelectual, com a presença de
figuras conhecidas da cultura e da ciência, entre elas Albert Einstein. Genebra,na década de
1920.
A organização, infelizmente, estava condenada desde o início, com a
recusa do Congresso em ratificar o acordo e a ascensão de líderes
autoritários na Europa, como Hitler, Stalin e Mussolini. Os liberais
daquela época foram rotulados como idealistas, que não foram capazes
de ver as realidades de como o poder estava sendo usado no sistema
internacional na época.
No entanto, os ideais de Wilson sobreviveram com o desenvolvimento
das Nações Unidas, especialmente após o fim da Guerra Fria, e o
desenvolvimento de teorias do institucionalismo liberal.
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Fundação das Nações Unidas.
Essa era uma linha de pensamento perseguida por pesquisadores que
acreditavam que a única maneira de garantir a paz e difundir a
democracia liberal era por meio do uso de instituições internacionais
fortes.
No período após a Segunda Guerra Mundial, teóricos liberalistas
argumentaram que as instituições poderiam ser desenvolvidas
inicialmente incentivando os governos a cooperar em certas esferas da
política, como o comércio.
Isso influenciou o desenvolvimento de agrupamentos continentais e
regionais, como:
UE
União Europeia.
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NAFTA
Acordo de livre-comércio da América do Norte.
ASEAN
Associação das Nações do Sudeste Asiático.
Esse novo liberalismo, ou neoliberalismo, toma ideias de Kant, Wilson e
seus contemporâneos, mas também responde aos argumentos dos
realistas, enfatizando o poder institucional internacional como meio de
controlar um sistema internacional anárquico.
Economia política
internacional
A noção liberal da importância do poder econômico, do poder do
consenso e do poder institucional, que incentiva o comércio e os
vínculos econômicos entre Estados e países, voltou gradualmente à
tona, com o advento da crescente globalização.
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A pesquisa dessa rede de vínculos entre Estados e organizações não
estatais passou a ser conhecida como economia política internacional
(EPI). A EPI tradicionalmente consiste em teorias que são dependentes
de uma visão liberal do mundo, embora em tempos mais recentes
alguns realistas tenham tentado desenvolver teorias que combinam o
desejo de poder dos Estados com suas políticas econômicas.
É difícil existir uma economia política internacional sem, até certo ponto,
ter relações militares estáveis entre os países que dela participam.
Portanto, um Estado de anarquia internacional não seria propício para a
formação de tal EPI. Por outro lado, o crescimento da importância dessa
forma de poder é justamente levar a um mundo mais liberal.
O processo de globalização, o desenvolvimento de estruturas
internacionais e a crescente interdependência aumentaram a
importância da ideia de poder econômico. Embora tal conceito tenha
sido muito relevante nos séculos XVIII e XIX, com os grandes volumes
de comércio global da época, tornou-se quase irrelevante pelo sistema
global bipolar que surgiu após a Segunda Guerra Mundial.
Durante a Guerra Fria, as relações comerciais foram regidas em grande
parte pelas necessidades de segurança, com o mundo dividido em
esferas de influência dominadas pelos EUA e União Soviética. O eventual
fim da Guerra Fria permitiu que uma infinidade de vínculos e padrões
comerciais ressurgissem. Esse desenvolvimento foi muito amplificado
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pela explosão de novas tecnologias de comunicação que permitiram
que a informação e o capital cruzassem o globo em segundos.
A teoria da EPI enfatiza a relação entre política e economia ao
considerar a interação do Estado. À medida que aumenta o volume de
comércio e fluxos de capital entre os países economicamente liberais,
também aumenta a importância do comércio na política internacional.
A ideia de que as relações entre os Estados são impulsionadas pelo
comércio (poder econômico) e não pelo poder militar é um desafio ao
realismo clássico. Um desafio igualmente importante para as visões
realistas das relações de poder é o fato de que o aumento da
importância do comércio internacional também aumentou a importância
dos atores não estatais (STRANGE, 1996).
Um ponto importante levantado pelas teorias por trás da EPI e da visão
liberalista das relações de poder é que os Estados não são
necessariamente os atores mais importantes no sistema internacional.
Em particular, as empresas transnacionais são consideradas
importantes detentoras de poder econômico e institucional dentro do
sistema internacional.
Outro conceito derivado das visões liberalistas de poder é mostrado na
ideia de interdependência no sistema global, entre Estados e atores não
estatais. Keohane e Nye (2001, p. 8), os proponentes originais dessas
ideias, distinguem interdependência de interconexão: “onde há efeitos
dispendiosos recíprocos (embora não necessariamente simétricos) das
transações, há interdependência. Onde as interações não têm efeitos
custosos significativos, há simplesmente interconexão”.
De acordo com Keohane e Nye (2001): a dependência é mensurável
considerando a sensibilidade e a vulnerabilidade de um país às
mudanças políticas de outros países.
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Eles usam o exemplo das relações de poder entre os EUA e o Canadá,
pois não há chance de entrarem em guerra, devido a seus laços militares
seguros, o que, portanto, anula a vasta superioridade militar dos EUA
sobre o Canadá.
O volume de comércio e a quantidade de outras transações entre os
dois países também é muito alto. Portanto, questões de
interdependência tornam-se muito importantes quando se considera
como esses países tomam decisões sobre o uso do poder entre eles.
Strange (1996) também comentou vários aspectos das visões liberais
do poder, como a divisão entre poder relacional e poder estrutural.
O poder relacional é o poder usado por um Estado
sobre outro, por meios como ação militar, pressão
econômica ou diplomática. Em outras palavras, o
poder relacional é usado diretamente entre Estados ou
grupos de Estados.
Por exemplo, geralmente a forma de os governos dos EUA e da Coreia
do Norte lidarem um com o outro é direta, usando formas de poder
relacional que cada um pudesse exercer: Washington com sanções
econômicas e presenças militares na região, e a Coreia do Norte com
sua suposta defesa nuclear e outras ameaças militares.
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O poder estrutural é mais indireto, usado por um país para manipular e
controlar estruturas internacionais que surgiram da interdependência,
incluindo regimes financeiros e comerciais e arranjos políticos
internacionais. Strange (1996) cita o exemplo do US Oil Pollution Act,
aprovado após o derramamento de óleo do Exxon Valdez em 1992.
Superfície da água em Prince William Sound após o derramamento de óleo do Exxon Valdez.
A lei estipulava que todos os navios-tanque que entrassem nos portos
americanos deveriam fornecer garantias financeiras de que poderiam
aceitar responsabilidade ilimitada pelos custos dos derramamentos de
óleo. Isso, portanto, aumentou o preço da importação de petróleo para
os EUA e impediu os operadores menores que não podiam arcar com a
despesa.
Assim, a estrutura do sistema de comércio de petróleo foi afetada por
um movimento unilateral dos EUA, mostrando o poderestrutural
americano.
Comentário
Esse tipo de poder, uma vez estabelecido, pode ser mais duradouro do
que o uso de poder relacional pontual. Um tipo de poder estrutural é
aquele incorporado pelas instituições internacionais.
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As instituições internacionais criadas originalmente após a Segunda
Guerra Mundial são exemplo disso, refletindo o poder relacional dos
Estados naquele período. O Reino Unido mantém um poder estrutural
muito maior do que seu atual poder relacional reduzido sugeriria. Sua
presença permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e a
forte posição nas instituições financeiras de Bretton Woods, que
resultaram de estar do lado vitorioso na Segunda Guerra Mundial, ainda
lhe permitem influenciar os acontecimentos mundiais de forma
desproporcional ao seu tamanho econômico e população. Pelas
mesmas razões, a França mantém um poder estrutural igualmente
desproporcional no sistema internacional.
Possessões do império britânico, em vermelho, e francês, em azul.
Em contraste, os países derrotados da Segunda Guerra Mundial tiveram
muito mais dificuldade em tentar influenciar os regimes internacionais
incorporados nessas instituições. Japão e Alemanha tiveram que passar
muitas décadas tentando aumentar sua influência dentro do FMI e do
Banco Mundial, até que estivessem no mesmo nível de seu tamanho
econômico. Esses países ainda não têm influência proporcional nas
estruturas de segurança das Nações Unidas, quando se considera sua
importância política e econômica. O mesmo vale para potências
econômicas emergentes, como Brasil e Índia.
O poder “brando”
O poder brando ou soft power é, muitas vezes, considerado um conceito
evasivo. O uso da palavra soft para descrever uma forma de poder
parece ser uma contradição em termos. No entanto, a ideia abrange
uma ampla gama de atividades influentes no âmbito da política e
economia internacionais.
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Soft power
Assista ao vídeo e entenda melhor o que é soft power.
Soft power é o poder que tem o consentimento de todas as partes que o
efetuam ou são afetadas por ele. Portanto, fundamenta-se na ideia de
cooperação nas relações entre as partes. Outra forma de o definir seria
contrastá-lo com seu corolário natural: hard power, que consiste em
atividades coercitivas, sendo as mais óbvias, as atividades militares.
O uso da força ou coerção para obter um resultado é a base tradicional
da ideia de poder; a ideia de poder foi assumida como coercitiva pelos
realistas ao longo dos tempos e não foi feita uma distinção entre soft
power e hard power.
Militares em posição coercitiva.
O hard power coercitivo pode ser caracterizado pelo uso ou ameaça de
uso de soldados, armas e outros equipamentos militares para forçar um
oponente a se comportar de determinada maneira por meio da
subjugação. Mesmo que a força militar não seja utilizada diretamente, o
posicionamento de meios militares perto de um país, ou o
direcionamento de sistemas de armas sobre ele, força o país-alvo a se
comportar de maneira diferente.

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O comportamento dos países com capacidade nuclear (em particular,
EUA e União Soviética) durante os anos da Guerra Fria foi um excelente
exemplo disso; o medo de ser exposto a uma potencial coerção militar
levou ao acúmulo de vastas reservas de armas nucleares em ambos os
lados, a fim de impedir seu uso.
Pode-se entender de forma mais qualificada o emprego do soft power
pela chamada “Grande estratégia” da China no continente africano. O
objetivo primordial da Grande Estratégia da China é restaurar-se como
uma grande potência, buscando desenvolver e expandir seu alcance
financeiro além de suas fronteiras, por meio de maiores investimentos
de entidades públicas e privadas.
A iniciativa multibilionária “A Nova Rota da Seda”, que visa fortalecer as
ligações de infraestrutura, comércio e desenvolvimento entre China,
África, países do Golfo, Ásia e Europa, é central para esse esforço.
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A China vê a África desempenhando um papel fundamental na
realização desses objetivos. O continente é reconhecido como um
mercado emergente com altos dividendos, apesar dos altos riscos. A
China, além disso, vê a África como um parceiro disposto, em sua
capacidade de influenciar e moldar a tomada de decisões
internacionais. A África fornece o maior bloco de votos na Assembleia
Geral da ONU, e os membros de suas organizações regionais participam
de uma variedade de instituições internacionais que a China procura
influenciar no avanço de sua agenda internacional.
Ganhar uma vantagem competitiva em ambientes políticos e
econômicos menos seguros permite que diplomatas e industriais
apoiados pelo Estado chinês cultivem laços pessoais e negociem
acordos fora das instituições formais. Essa é uma ideia central na
cultura chinesa que é conhecida como guanxi. Refere-se a um sistema
de redes sociais e relacionamentos influentes que facilitam negócios
comerciais e negócios políticos por meio de laços pessoais, favores e
hierarquias.
Sede da União Africana em Addis Ababa, Etiópia.
O crescente papel da China na África foi amplamente bem recebido
pelos africanos. Em 2008, a União Africana (UA) estabeleceu o diálogo
estratégico China-UA para fortalecer os laços.
Três anos depois, a UA inaugurou sua sede na Etiópia, totalmente
financiada pela China como um “presente”. A pesquisa Afrobarometer,
de 2016, realizada em 36 países africanos, descobriu que 63% dos
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entrevistados achavam que a influência econômica e política da China
era positiva.
Pequim não hesitou em ultrapassar os limites na identificação de novas
áreas de engajamento para informar e influenciar debates políticos
relevantes para a política externa chinesa, como seus investimentos no
Novo Banco de Desenvolvimento com sede em Xangai, que foi criado
como um mecanismo de financiamento alternativo ao Banco Mundial e
Fundo Monetário Internacional.
Em 2011, após anos de deliberação com governos africanos, o Fórum de
Centros de Pesquisa China-África (CATTF) foi estabelecido. Financiado
pelo Banco de Desenvolvimento da China, o fórum promove pesquisa
política conjunta e treinamento entre os principais think tanks privados e
governamentais chineses e africanos.
Think tanks
São instituições que desempenham um papel de advocacia para políticas
públicas.
Além disso, a Academia Chinesa de Ciências Sociais supervisiona vários
acordos institucionais entre centros de pesquisa chineses e africanos
como parte de um esforço maior para gerar amplo apoio africano para
as posições políticas chinesas. Essas parcerias de pesquisa cobrem
tópicos como cooperação de segurança chinesa, relações comerciais,
reforma das Nações Unidas e governança.
Edifício da Academia Chinesa de Ciências Sociais
A pesquisa é usada para formular políticas governamentais chinesas e
influenciar as africanas.
Em 2019, a China aumentou o número de bolsas anuais
concedidas a líderes governamentais africanos de 200
para 1.000. Seu treinamento de liderança agora inclui
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parlamentos, governos locais, grupos politicamente
neutros e até partidos da oposição.
Organizado pela Escola Central do PartidoComunista Chinês, os
treinamentos abrangem a teoria e a prática da construção do partido,
técnicas de propaganda, treinamento e desenvolvimento de quadros e
gerenciamento de interações entre o partido, o governo e os militares.
Mentorias em instituições chinesas fazem parte desses programas, e os
participantes fazem viagens de campo para obter conhecimento em
primeira mão de como os quadros do partido resolvem os problemas
locais. Líderes de alto escalão são normalmente treinados em Pequim,
enquanto funcionários de nível médio e subalternos são enviados para
escritórios provinciais e locais do partido.
O apoio à Nyerere Academy, na Tanzânia, pode representar uma nova
abordagem para esse treinamento de liderança. Os programas são
replicados para as ligas juvenis do partido no poder por meio do Fórum
de Jovens Líderes China-África. Em 2018, foi realizado na província de
Guangdong para 70 jovens líderes africanos de mais de 40 partidos do
governo. O Festival da Juventude China-África, a versão de Pequim da
Iniciativa de Jovens Líderes Africanos dos Estados Unidos, inclui jovens
líderes da sociedade civil, empresas, mídia e estudantes. Seu terceiro
fórum foi realizado em Pequim, em junho de 2018.
Vamos entender melhor?
Ouça e ligue os pontos do que você aprendeu neste módulo.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Sobre as definições de poder institucional (PI) e poder de consenso
(PC), centrais para as dinâmicas de influência na lógica liberal,
podemos definir:
Parabéns! A alternativa B está correta.
A capacidade dos atores de controlar ou influenciar as ações em
órgãos internacionais pode ser entendida como poder institucional.
Por outro lado, questões envolvendo o poder do consenso se
A
PI como o poder de expulsar países rivais de
instituições, enquanto PC está centrado nas
premissas de livre escolha dos indivíduos.
B
PI como a capacidade de estabelecer agenda para
os objetivos de instituições, enquanto PC como a
aglutinação de objetivos por meio da livre escolha.
C
PI e PC como práticas idênticas, usadas para
descrever como Estados controlam instituições
para garantir seus próprios interesses.
D
PI com dinâmicas de poder brando, enquanto PC
foca lógicas culturais e econômicas.
E
PI como a capacidade de estabelecer agenda aos
objetivos de instituições e PC como dinâmicas de
poder militar.
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materializam na conformação de objetivos, que são baseados na
livre escolha dos indivíduos para cooperar uns com os outros.
Questão 2
Qual a melhor forma de definir a teoria de poder relacionada à
Economia Política Internacional?
Parabéns! A alternativa A está correta.
A noção liberal da importância do poder econômico, do poder do
consenso e do poder institucional, que incentiva o comércio e os
vínculos econômicos entre Estados e países, voltou gradualmente à
tona, com o advento da crescente globalização. A pesquisa dessa
rede de vínculos entre Estados e organizações não estatais passou
a ser conhecida como economia política internacional (EPI).
A
Uma teoria que enfatiza a relação entre política e
economia ao considerar a interação do Estado com
esses elementos.
B
Uma perspectiva teórica que enfatiza a primazia do
poder econômico sobre o poder cultural e militar.
C
Uma teoria que reforça que o crescimento de países
do Norte global passa necessariamente pela
exploração de países do chamado Sul global.
D
Uma teoria que assinala exclusivamente que países
democráticos, por terem liberdade econômica, não
realizam guerras uns com os outros.
E
Uma teoria que reforça o papel do poder militar e
econômico no desenvolvimento de nações do Sul
global.
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3 - O poder das ideias e das identidades por meio
do construtivismo
Ao �nal deste módulo, você será capaz de listar as narrativas sobre os
interesses estatais e o papel das nações em temas sensíveis transnacionais.
Construtivismo e o poder
Construtivismo
O construtivismo é um conceito relativamente recente, que tenta
introduzir perspectivas da filosofia, sociologia e psicologia sobre como
ideias, interesses e identidades das pessoas afetam as RI de poder
(WENDT, 1999).
Essa escola sugere que o sistema de RI não é inerentemente anárquico,
como supõem realistas, neorrealistas e neoliberalistas. De fato, o
sistema internacional, assim como os sistemas domésticos, são
definidos pelas ideias e formas de pensar dos atores neles envolvidos.
Portanto, se os atores-chaves dentro de um sistema acreditam
fortemente que ele é anárquico, então ele será. Os Estados são
constituídos por pessoas e, portanto, os próprios Estados são
construídos a partir de ideias e modos de pensar. A teoria do
construtivismo social está centrada na produção de ferramentas
analíticas para entender as RI de poder de forma mais difusa.
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Questões decoloniais em uma
provocação construtivista em
RI
Acompanhe um debate sobre as questões decoloniais em uma
provocação construtivista em RI.
O poder como elemento elusivo
A fonte mais importante de poder, de acordo com os construtivistas,
deriva de identidades, ideias e interesses das pessoas (WENDT, 1999).
Portanto, se um Estado estiver inclinado ao expansionismo territorial, o
poder militar será importante para ele, enquanto se um Estado estiver
inclinado à construção de riqueza, o poder econômico terá precedência.
Portanto, fontes de poder também podem ser consideradas forças que
moldam essas ideias e normas. Essas forças controlam a disseminação
da informação e do conhecimento; especificamente, incluem estruturas
e agentes como o sistema educacional, a mídia de massa e, em certa
medida, agências nos governos estaduais que as regulam, entre muitos
outros atores.

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No entanto, além dessa ênfase em identidades, interesses, a maioria
dos construtivistas também reforçam a importância de fontes de poder
que foram identificadas por realistas e liberalistas, como poder
coercitivo, poder institucional e poder estrutural. Essas formas de poder
são frequentemente consideradas em relatos construtivistas, mas
explicadas e definidas em termos de linguagem própria. Esse caráter
abrangente do construtivismo o torna um conjunto de ferramentas mais
prático do que o realismo ou o liberalismo.
O construtivismo vê a capacidade de afetar ou mudar as ideias e
interesses das pessoas como uma das faces modernas do emprego do
poder. A ideias das pessoas podem ser alteradas por fatores coercitivos
ou consensuais. O uso da força ou sanções por um Estado contra outro
mudaria as ideias de ambos os países um sobre o outro.
Mudanças no currículo educacional de um país para influenciar o
conhecimento de seu cidadão sobre outro país constituem o uso do
poder; esse tipo de uso de poder é visto em todo o mundo, em que as
nações desejam promover o nacionalismo entre seus povos, ou certas
visões preconcebidas de outros países.
O fato de os Estados terem políticas diferentes entre si, dependendo de
suas crenças sobre outros países, mostra que o realismo não se aplica a
todas as situações. Por exemplo, França e Alemanha dentro da UE nãoesperam entrar em guerra entre si no futuro previsível; não houve
acúmulo de poder militar dirigido um ao outro desde a Segunda Guerra
Mundial.
O poder das identidades e dos
princípios
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Como observa Reus-Smit:
O fim da Guerra Fria minou as
pretensões explicativas dos
neorrealistas e neoliberais, nenhum
dos quais havia previsto, nem
poderia compreender
adequadamente, as transformações
sistemáticas que remodelam a
ordem global.
(REUS-SMIT, 2001, p. 216)
Parecia que o estudo dos Estados e dos interesses dos Estados não
podia mais explicar adequadamente a política internacional. Em vez
disso, o foco mudou de identidades fixas e interesses materiais
estreitos para um que enfatizava o poder das normas e ideias.
Para o construtivismo, não apenas a distribuição do poder era
importante, mas também a “distribuição do conhecimento”, os
entendimentos intersubjetivos que constituem a concepção do Estado
sobre si mesmo e seus interesses.
Exemplo
Ter um vizinho poderoso como os Estados Unidos significa algo
diferente para Canadá e para Cuba. Em vez de poder material, as
concepções subjetivas que eram importantes, portanto, Estados Unidos
e União Soviética decidindo que não são mais inimigos finaliza a Guerra
Fria (WENDT, 1999).
De uma perspectiva construtivista, o fim da Guerra Fria poderia ser visto
como um produto da mudança de identidade, interesses e interesses
soviéticos.
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Malabarismo no muro em 16 de novembro de 1989.
Em um contexto fluido, no qual identidades e interesses não são mais
limitados por divisões materiais, as ideias se tornam mais importantes.
Se as identidades não são mais vistas como fixas ou dadas, então, há
muito menos barreira para uma perspectiva moral global.
Se as ideias são mais importantes do que o poder militar ou econômico,
então, agências e atores morais, como ONGs internacionais, serão
capazes de ter uma grande influência meramente por meio do “poder de
persuasão” (KOREY 1999).
Enquanto as teorias materialistas enfatizam as condições ou os
interesses econômicos ou militares como determinantes do impacto
das ideias na política internacional e doméstica, os construtivistas
enfatizam que ideias e processos comunicativos definem quais fatores
materiais são percebidos como relevantes e como eles influenciam a
compreensão dos interesses.
Nessa dinâmica, a teoria construtivista do poder foi estendida para dar
um papel central aos atores não estatais. É nesse ponto que entra o
conceito de relações transnacionais ou globais, em distinção às RI, ou
seja, relações entre Estados. A esfera internacional não é mais vista
como aquela em que os Estados projetam seus interesses nacionais,
mas o processo se inverte, pela participação nas relações internacionais
e transnacionais, os interesses nacionais dos Estados são constituídos.
O crescimento das normas internacionais de direitos humanos na última
década é considerado o principal exemplo que demonstra a força das
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abordagens construtivistas. A suposição de que as normas de direitos
humanos desafiam os interesses do Estado-nação implica, portanto,
que as mudanças de normas devem derivar principalmente da influência
de atores não estatais transnacionais.
Exemplo
Na política externa dos EUA, o governo de Ronald Reagan, na década de
1980, assumiu uma posição de princípios em favor da democratização,
mas empregou essa ideia de forma instrumental como um veículo para
uma afirmação agressiva dos interesses dos EUA contra regimes de
esquerda, como URSS, Nicarágua e Cuba.
No entanto, o poder estabelecido dos EUA não podia usar a questão de
princípios puramente dessa forma, porque era obrigado a uma
consistência mínima, e acabou incentivando ativamente a democracia
em regimes autoritários que eram aliados leais dos EUA, como Chile e
Uruguai. Os interesses dos EUA mudaram à medida que a “questão de
princípios” venceu a tentativa do Estado de usar a questão
instrumentalmente. Dessa forma, os teóricos construtivistas escrevem
sobre o “poder dos princípios” para superar os propósitos
instrumentalistas por trás de sua adoção inicial.
No mundo globalizado de hoje, com o surgimento de
ligações transnacionais, ativistas transnacionais são
considerados capazes de mudar a identidade e,
portanto, os interesses dos Estados.
O que é crucial para essa tese é a identidade socialmente construída do
ator estatal, e não as supostas restrições estruturais, nas quais as ideias
são entendidas como meramente um reflexo de interesses materiais
pré-dados.
A constituição de uma comunidade internacional capaz de estabelecer
normas internacionais de princípios não depende de ideias flutuantes,
mas do impacto de atores não estatais, que operam transnacionalmente
e difundem ideias. O “poder dos princípios” seria resultado do
crescimento de uma esfera internacional com forte influência da
sociedade civil, na qual a criação de identidade é impulsionada pelo
desenvolvimento de normas e valores internacionais. Os teóricos
construtivistas postulam a existência de um círculo virtuoso pelo qual a
interconexão global estabelece uma nova esfera ou novo espaço para
políticas não instrumentais, que potencialmente transformam os atores
engajados nela.
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Organizações internacionais
não governamentais
A legitimidade é um ativo fundamental para os atores da política global,
especialmente para as organizações internacionais não governamentais
(OINGs), que ainda estão amplamente baseadas em nações mais ricas
do Norte global.
Em comparação com corporações ou Estados, as OINGs têm menos
meios coercitivos (sem recursos militares ou financeiros significativos)
e, como geralmente não têm status formal em assuntos globais,
raramente podem afirmar autoridade sem alguma forma de legitimação
conferida a elas por outros (KOPPELL, 2008). As OINGs normalmente
obtêm autoridade convencendo vários públicos de que agem
adequadamente, promovem o interesse do público e são guiadas por
princípios morais.
O navio Arctic Sunrise.
Embora muitas OINGs, como a Anistia Internacional ou o Greenpeace,
tenham se tornado grandes marcas ao longo do tempo, elas também
enfrentam desafios crescentes, individualmente e como setor, à sua
legitimidade. Alguns desses desafios surgiram externamente, incluindo
mudanças tecnológicas (mídias sociais, inteligência artificial) ou a
ascensão de governos populistas, restringindo os espaços da sociedade
civil. Por várias razões, as ONGs tradicionais não são mais os
intermediários inquestionáveis entre doadores ricos e receptores de
ajuda pobres.
A primeira dinâmica subjacente aos recentes debates sobre a
legitimidade das OINGs é impulsionada pela evolução dos objetivos e
estratégias do setor. Para as OINGs, uma importante fonte de
legitimidade tem sido tradicionalmente seu papel único na caridade
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destinada a lidar com o sofrimento humano. Embora a caridade
continue sendo um curso de ação importante, as OINGs se envolveram
em décadas de inovação tática e estratégica para demonstrar sua
capacidade de resolver, não apenas trazer alívio temporário para a
pobreza, violações dos direitos humanos e destruição ambiental.
Exemplo
A Anistia Internacional (AI) mudou na década de 1990 de uma ênfase na
redação de cartas para prisioneiros de consciênciaindividuais para uma
abordagem mais abrangente para erradicar a tortura, desaparecimentos
e outras violações dentro de seu mandato em expansão.
A AI não é a única OING que passa por profundas mudanças
organizacionais e estratégicas regularmente. Muitas ONGs de
desenvolvimento, incluindo ActionAid, Oxfam e Plan International,
começaram na década de 1990 a adotar uma abordagem baseada em
direitos humanos para suas atividades.
À medida que os direitos humanos legitimam o trabalho das OINGs de
desenvolvimento, vinculando-o aos direitos humanos universalmente
reconhecidos, também muda fundamentalmente o que as ONGs
internacionais fazem, gerando uma ênfase maior na defesa e
organização da comunidade.
Mudanças estratégicas adotadas por muitas OINGs mudaram os
fundamentos sobre os quais as partes interessadas são solicitadas a
avaliar pragmaticamente sua satisfação com o setor. Como resultado,
novos públicos podem aparecer, enquanto os já existentes (por exemplo,
doadores) podem reconsiderar o que essas mudanças significam para
eles.
Com mandatos e ambições cada vez maiores, as
OINGs mudaram a estrutura moral de suas ações e
aumentaram o número de públicos com os quais se
envolvem. Em vez de prestar contas apenas aos
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doadores e ao público em seus países de origem, hoje
aspiram ouvir quem elas servem e atuar por diferentes
tradições culturais.
Além disso, as mudanças tecnológicas multiplicam as oportunidades
para diferentes públicos desafiarem mais diretamente as OINGs e suas
práticas.
Como parte da inovação estratégica contínua, essas organizações dão
cada vez mais controle dos serviços e campanhas aos apoiadores.
Esses esforços podem ser projetados para ampliar a participação
alcançando novos públicos, ou podem se concentrar no
aprofundamento da participação, aproximando os apoiadores existentes
da organização.
Isso muda as expectativas normativas de legitimidade para OINGs
porque a natureza da participação dos apoiadores se expande de ser um
doador para se engajar em atividades mais significativas, como
identificar tópicos de campanha, contribuir com narrativas ou liderar um
esforço específico de defesa.
Outra grande mudança no poder moral ocorre quando as OINGs
transferem suas atividades do Sul global para seus países de origem.
Quando trabalhavam principalmente no exterior, a maioria de seus
doadores ficava satisfeita ao saber regularmente o que foi feito. Os
relatórios anuais eram brilhantes e cheios de histórias comoventes que
justificavam mais doações. Porém, cada vez mais, elas são mais ativas
“em casa”, porque seguem as causas básicas dos principais problemas
globais para os países ricos.
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Campo de refugiados na ilha de Samos, Grécia.
À medida que as OINGs se envolvem mais diretamente na política de
seus países de origem, sua legitimidade normativa está sujeita a um
maior escrutínio. Embora no passado operassem longe daqueles
capazes de examinar seu trabalho, agora correm muito risco de serem
percebidas como operando fora do quadro normativo e regulatório
estabelecido pelas expectativas públicas, bem como pelas leis e
regulamentos sem fins lucrativos.
Mudanças profundas na forma como as OINGs operam e estruturam
suas ações transformaram fundamentalmente as percepções de sua
legitimidade. Para alguns críticos, mudaram demais e não fazem mais o
que era seu propósito original. Para outros, não se moveram rápido o
suficiente para adotar novas estratégias e funções. Como resultado, as
OINGs enfrentam a perda do tipo de certeza que fornece a base mais
básica para sua legitimidade.
Para muitos doadores, concorrentes digitais como change.org ou
GiveDirectly tornaram-se alternativas credíveis para ONGs físicas,
especialmente porque prometem um uso mais eficiente de recursos e
cortar os intermediários.
O desafio que muitas ONGs
enfrentam é que sua atitude de
princípios expressa em missões
grandiosas regularmente colide com
as pressões internas e externas em
jogo quando a organização tenta
implementar sua missão.
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(OSSEWAARDE; NIJHOF; HEYSE, 2008)
Embora no passado as ONGs humanitárias e de direitos humanos
tenham sido principalmente reativas na resposta a necessidades, crises
ou violações, suas ambições de eliminar proativamente as causas
básicas agora evoluíram além das expectativas públicas de longa data
de enfrentar o que ninguém mais quer ver ou endereçar. O que definiu o
sucesso das OINGs no passado foi, muitas vezes, o simples
compromisso de enfrentar grandes questões globais sem
necessariamente resolvê-las.
Vários críticos do setor querem que as OINGs voltem a um foco de
caridade e se tornem autênticas novamente e menos corporativas. Tal
movimento resolveria muitos dos atuais desafios de legitimidade, mas
também exigiria que as organizações diminuíssem suas ambições e
ficassem muito aquém de qualquer capacidade de lidar com problemas
globais com credibilidade.
Vamos entender um pouco sobre as formas
construtivistas e as relações de poder.
Ouça e ligue os pontos do que você aprendeu neste módulo.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Os construtivistas apontam que a realidade está sempre em
construção, o que abre a perspectiva de mudança. Sobre essa
afirmação, podemos apontar que
A
os significados das dinâmicas internacionais não
são fixos, podendo mudar ao longo do tempo,
dependendo das ideias e crenças dos atores.
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Parabéns! A alternativa A está correta.
O construtivismo, apesar de ser um guarda-chuva de múltiplas
interpretações sobre o cenário internacional, tem como elemento
essencial a mudança das dinâmicas internacionais – além do foco
em como as ideias podem ser exploradas e produzidas por uma
miríade de atores.
Questão 2
Como o construtivismo ofereceu uma nova visão para o estudo das
relações internacionais?
B
o Direito Internacional é praticamente inútil, pois não
existem valores compartilhados por todos os
Estados no mundo.
C
as mudanças apontadas pelos construtivistas
acontecem, principalmente, pelo uso da força e pelo
emprego do poderio militar.
D
a construção da realidade apontada pelos
construtivistas é uma mera abstração analítica, não
tendo, portanto, impacto na política real.
E
o construtivismo está intimamente ligado às
instituições internacionais, já que elas
exclusivamente são capazes de promover a
mudança de ideologias.
A
Concentrou-se nos tomadores de decisão e em suas
origens.
B
Examinou como são construídas as instituições
diplomáticas.
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Parabéns! A alternativa C está correta.
O construtivismo reforça o papel das ideias como elemento central
para a compreensão de como as práticas de poder são constituídas
no Sistema Internacional. Além disso, aponta como essas
dimensões podem ser alteradas ao longo do tempo.
Considerações �nais
O poder é um conceito amplo e relevante para o estudo das Relações
Internacionais. Diferentes escolas teóricas apresentam as distintas
ferramentas que nos auxiliam a compreender fatos contemporâneos
sobre o poder e as capacidades dos atores internacionais. Sempre
olhamos para o mundo, conscientemente

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