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MORFOSSINTAXE I Patrícia Hoff Conceitos e interfaces: sintaxe e morfologia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer os conceitos de sintaxe e morfologia. � Identificar os procedimentos metodológicos na interface. � Avaliar a importância da conexão entre sintaxe e morfologia. Introdução Livro é um substantivo, certo? Sim, é. E livro também pode ser sujeito ou objeto direto, por exemplo. No primeiro caso, a classificação é mor- fológica; no segundo, é sintática. Esse tipo de análise é possível porque a língua é um sistema complexo e pode ser estudada a partir de diferentes abordagens e variados enfoques de investigação. O objetivo, no entanto, é sempre o mesmo: estudar as funcionalidades da língua. Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de sintaxe e morfolo- gia, duas ciências que propõem, respectivamente, a análise da função sintática e da classe gramatical dos termos de uma oração como forma de estabelecer conexões e significados no texto. Você também vai en- tender como se dá o funcionamento da formação de palavras, base da morfologia, que serve de ferramenta para adaptar palavras em relação ao significado que queremos comunicar. Morfologia vs. sintaxe Morfologia é a parte da gramática que estuda as palavras de acordo com a classe gramatical a que elas pertencem. As classes gramaticais são: substan- tivos, artigos, pronomes, verbos, adjetivos, conjunções, interjeições, prepo- sições, advérbios e numerais. Já a sintaxe estuda a função que as palavras desempenham dentro da oração, isto é: sujeito, adjunto adverbial, objeto direto e indireto, complemento nominal, aposto, vocativo, predicado, entre outros. O filho obedece aos pais. Análise morfológica � O: artigo definido masculino singular. � Filho: substantivo comum, simples, concreto, masculino singular. � Obedece: verbo obedecer, segunda conjugação. � Aos: combinação (a – preposição + os – artigo definido masculino plural). � Pais: substantivo simples, comum, plural. Análise sintática � O: adjunto adnominal. � O filho: sujeito simples. � Filho: núcleo do sujeito simples. � Obedece aos pais: predicado verbal. � Aos pais: objeto indireto. O filho tem obediência aos pais. Análise morfológica � O: artigo definido masculino singular. � Filho: substantivo comum, simples, concreto, masculino singular. � Tem: verbo ter, segunda conjugação. � Obediência: substantivo abstrato. � Aos: combinação (a – preposição + os – artigo definido masculino plural). � Pais: substantivo simples, comum, plural. Análise sintática � O: adjunto adnominal. � O filho: sujeito simples. � Filho: núcleo do sujeito simples. � Tem obediência aos pais: predicado verbal. � Obediência: objeto direto. � Aos pais: complemento nominal. Quando se trata de análise morfológica, os termos da oração são analisados isoladamente. Já na análise sintática, eles são analisados de acordo com a sua posição, ou seja, de acordo com a função desempenhada. Conceitos e interfaces: sintaxe e morfologia2 Tradicionalmente, a morfologia estuda os domínios da palavra, enquanto a sintaxe estuda os domínios da frase, da oração e do período. De acordo com o apresentado pelas gramáticas modernas, você deve consi- derar que a definição de palavra é uma unidade de som composta por vogais, consoantes, semivogais, sílabas e acentos que compõem enunciados, além de possuírem classificação morfológica. Já a frase trata-se do enunciado em si, com capacidade de comunicar, e é analisada sintaticamente. Estrutura morfológica Quanto à estrutura, você precisa conhecer alguns elementos importantes na formação das palavras: Morfema: unidade mínima de caráter significativo na palavra. Considere a palavra “mesinhas”: mes — elementos básicos da palavra, radical que a identifica. inh — indica que a palavra está no diminutivo. a — indica que a palavra é feminina. s — indica que a palavra é plural. Raiz ou radical: é a unidade irredutível da palavra, que concentra o seu significado. Considere a palavra “casa”, cujo radical é cas: casinha casebre casarão A partir do radical, você pode constituir várias palavras, acrescentado outros elementos. 3Conceitos e interfaces: sintaxe e morfologia Desinência: é a unidade responsável por caracterizar as flexões. Pode ser nominal (indicando gênero e número) ou verbal (indicando modo e tempo). Desinência nominal — menina, menino, criança, crianças. Desinência verbal — corri, correu, corremos, correram, correrias, correrá. Prefixos: são morfemas inseridos antes da palavra, modificando seu sentido. Atemporal Contraindicação Desconfigurado Refeito Sufixos: são elementos acrescentados ao final da palavra, também dando um novo significado. Panfletagem Casamento Rinite Perfeccionismo A frase no discurso Forma e função O debate da prioridade da forma sobre a função ou da função sobre a forma é antigo, e não se limita somente à área da linguística. Porém, a disposição em contrariar as abordagens que privilegiam uma ou outra tem sido forte na linguística moderna. Na abordagem funcionalista, a sintaxe é vista como o reflexo das funções comunicativas veiculadas pela frase. A partir desse ponto de vista, forma e uso não podem ser divididos em partes na explicação dos fenômenos na área da sintaxe. Na abordagem da Teoria da Gramática Gerativa desenvolvida por Chomsky, ao contrário, a sintaxe é um componente independente, com princípios próprios que independem do uso. Todavia, mesmo nessa aborda- gem, a questão da relação entre forma e função, entre gramática e uso, entre Conceitos e interfaces: sintaxe e morfologia4 estrutura e interpretação semântica, constitui-se uma questão central nas diversas formulações do modelo ao longo dos anos. Não faz sentido estudar a morfologia se ela não for aplicada ao enunciado. Por exemplo, palavras que isoladamente têm determinado sentido, no texto, podem apresentar outro sentido — uma vez que não trabalhamos sem levar em consideração o contexto em que as formas e funções estão inseridas. Veja um exemplo muito difundido: Ele não sabia que a aula terminaria mais cedo naquele dia. O sabiá nem sempre se aproxima das pessoas. Ele agora está são. São duas horas agora. Hoje é dia de São Jorge. ABAURRE, M. L.; PONTARA, M. N.; FADEL, T. Português: língua, literatura, produção de texto. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004. BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006. CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. 6. ed. Rio de Ja- neiro: Lexikon Editorial, 2013. FIORIN, J. L. Sintaxe. São Paulo: Contexto, 2009. ORLANDI, E. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 4. ed. Campinas: Pontes Editores, 2006. 5Conceitos e interfaces: sintaxe e morfologia Conteúdo:
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