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25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDXn… 1/19 FUNDAMENTOS DAS ARTES VISUAIS UNIDADE 1 - FUNDAMENTOS DA LINGUAGEM VISUAL Mariana da Silva Buôgo 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDXn… 2/19 Introdução Você já se perguntou o que o faz compreender o mundo e as mensagens transmitidas? Como lemos as imagens e os símbolos ao nosso redor? Aliás, como repassamos nossas ideias e nos fazemos compreender pelo outro? Comunicar-se é uma necessidade humana, essencial para que haja socialização, desenvolvimento e troca de informações. Toda essa comunicação é realizada por meio de um sistema simbólico que é transmitido entre os integrantes de uma sociedade, ao qual damos o nome de “linguagem”. O estudo da linguagem visual trabalha o olhar do interpretante, daquele que faz a leitura da imagem, observando-a como um signo novo, a partir do reconhecimento dos elementos estruturais visuais que se relacionam, a fim de compor com singularidade a nova imagem. A esse sistema de comunicação chamamos de “alfabetismo visual”, que é constituído de um sistema sígnico, articulado por uma sintaxe própria e construída pela percepção do mundo, pela visualidade e pela imaginação, que fornece a capacidade de criar. Ao longo desta unidade, entenderemos um pouco melhor a respeito desses assuntos. Como facilitador na compreensão desses sistemas, utilizaremos a Semiótica, fundamentada por Charles Sanders Peirce, que a funde em uma tríade interpretativa (signo, objeto e interpretante). Assim, para nos aprofundarmos a respeito da comunicação via imagens, nesta unidade, iniciaremos o estudo da leitura em artes visuais, conhecendo seus fundamentos. Bons estudos! 1.1 Leitura de imagens As imagens são lidas pelo processo ótico. Neste, a luz é refletida ou emitida pelos objetos, os olhos projetam essas imagens — que são captadas pelas retinas — e, posteriormente, são transmitidas ao cérebro. O enxergar, porém, vai além do registro passivo dessas imagens, pois perceber as formas é uma ação ativa. Arnheim (2005) nos explica que a captação de imagens, portanto, diz respeito à conscientizar determinadas características marcantes dos objetos estudados. Tal processo de percepção na identificação de um item se dá pela relação com um padrão preexistente. Munari (1997), por sua vez, menciona que a percepção está intimamente ligada ao acervo de imagens que um indivíduo formou ao longo de sua vida, sejam elas conscientes, sejam elas inconscientes. Podem ser imagens do passado ou mais recentes, muitas relacionadas e conectadas a emoções. Mesmo que essa construção de repertório seja algo individual, é a partir das emoções e imagens subjetivas que se constrói um repertório comum, de imagens objetivas. Estas são caracterizadas por formas, cores e representações que serão melhor comunicadas para determinado público. Assim, quanto maior o repertório e o contato com o conhecimento abarcado pela linguagem visual, maior será a possibilidade de apreender sobre o mundo que nos envolve. Ainda de acordo com Munari (1997, p. 11), conhecer “[…] as imagens que nos circundam significa, também, alargar as possibilidades de contato com a realidade; significa ver mais e perceber mais”. Desse modo, o ver e o perceber estão correlacionados aos processos que ocorrem tanto no setor visual do sistema nervoso — referindo-se ao sentido elementar da visão — quanto às atividades do raciocínio. Com isso, pode-se considerar a visão uma atividade criadora da mente. 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDXn… 3/19 A percepção realiza ao nível sensório o que no domínio do raciocínio se conhece como entendimento. O ato de ver de todo homem antecipa de um modo modesto a capacidade, tão admirada no artista, de produzir padrões que validamente interpretam a experiência por meio da forma organizada. O ver é compreender. (ARHEIM, 2005, p. 39) A expressão e recepção de imagens visuais, segundo Dondis (2007), pode se dar em três níveis distintos: representacional, abstrato e simbólico. Representacional É o que vemos e identificamos a partir da experiência e do meio em que vivemos. Abstrato Refere-se à qualidade cinestésica de algo visto, porém reduzido a componentes visuais básicos, enfatizando os meios mais diretos, emocionais e primitivos na criação da mensagem. Simbólico Os sistemas de signos codificados pelo ser humano os criaram e atribuíram significados a eles. 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDXn… 4/19 Temos, ainda, que a transmissão de uma mensagem visual pode ser específica, a fim de suprir a necessidade de identificar, reproduzir ou registrar lugares, pessoas, objetos e sentimentos. Assim como em mensagens verbais, à visual também cabe informar, portanto, faz-se necessário o conhecimento desses símbolos, que formam o alfabetismo visual (DONDIS, 2007). Um claro exemplo de leitura de imagens em nosso cotidiano são os sinais de trânsito, que organizam a nossa sociedade e, portanto, devem ser compreendidos tanto por aqueles que dirigem um automóvel quanto pelos pedestres. #PraCegoVer: na figura, temos uma fotografia de um sinal de trânsito à direita. Trata-se de uma placa de pedestre amarela, com duas representações humanas (criança e adulto), atravessando a rua. Ao fundo, que está desfocado, temos duas motos e uma rua. O alfabetismo visual, da mesma forma que a linguagem escrita, deve funcionar como um sistema de comunicação e compreensão entre todas as pessoas, e não somente entre aquelas que receberam um treinamento para isso. Ainda que seja menos logicamente organizado e preciso que o verbal, há uma sintaxe visual complexa, sendo que essas Figura 1 - Os sinais de trânsito são exemplos de leitura de imagens diárias Fonte: Tonktiti, Shutterstock, 2020. 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDXn… 5/19 mensagens visuais podem ter caráter funcional de comunicação ou, até mesmo, servir como expressão artística (DONDIS, 2007). 1.1.1 Semiótica nas artes visuais A linguagem se dá por diversos meios entre o verbal e o não verbal, como a música, as expressões faciais, os gestos corporais, o tato, o visual e a escrita, em que há imagens gráficas, sinais, setas, números etc. Nesse sentido, Santaella (1983, p. 13) traz a definição de Semiótica como “[…] a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido”. Conforme a autora, foi Charles Sanders Peirce, filósofo norte-americano (1839-1914), quem formalizou a Teoria Geral dos Signos (SANTAELLA, 1983). O filósofo trouxe três categorias do conhecimento a partir de sua análise dos fenômenos tal e qual se apresentam à consciência: Primeiridade (quali-signo): refere-se ao primeiro sentimento, à primeira apreensão que ocorre imediatamente à consciência, como um quase-signo, ainda vago e impreciso. Secundidade (sin-signo): tem relação com a existência, com o existir, de fato, do objeto e de sua corporificação. Terceiridade (legi-signo): é o signo, que se refere ao aprendizado, à cognição e à lei como convenção. • • • VOCÊ O CONHECE? Charles Sanders Peirce foi um grande filósofo e cientista, dedicando-se a áreas diversas, como Matemática, Física e Astronomia. Ele desenvolveu a Teoria Geral dos Signos, também conhecida como Semiótica, que surgiu devido à sua análise sobre como é concebida aexperiência do real e de que forma isso transforma as relações sociais. Entre seus postulados, considera o signo o modo de transmitir conceitos, e a comunicação a forma de ação do signo. Contudo, não considerava o signo como algo pronto e fechado, mas em constante transformação, assim como a própria sociedade. Para ele, a estética é quem fundamenta a ética, sendo que, juntas, fornecem a base para a lógica (ROMANINI, 2016). Leandro Lima Leandro Lima 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDXn… 6/19 Peirce compreendia que o processo de interpretação não ocorre somente na mente, e que a inteligência emerge de uma interpretação contínua dos signos no mundo. Para explicar como é feita a comunicação de algo por meio de signos, o filósofo introduziu a ideia de commens ou co-mente, que seriam as mentes que trocam informações, pressupondo-se que o signo pode transmitir a forma do objeto ao seu interpretante. Assim, faz-se a tríade em que se funde signo, objeto e interpretante. No caso, o objeto é emissor, o interpretante é receptor e o signo é o meio e a mensagem a ser transmitida (ROMANINI, 2016). Essa tríade, à qual chamamos de Tríade de Peirce, é composta pelo signo, que é algo que representa outro algo, ou seja, o objeto. No entanto, vale mencionar que só será considerado signo se conseguir representar ou substituir esse outro objeto diferente dele, pois ele não é o objeto em si. Dessa forma, o signo representará o objeto para um intérprete, na mente do qual se produzirá outro algo, um signo ou quase-signo, que também está relacionado ao objeto, porém não diretamente, mas mediado pelo signo. O interpretante, por outro lado, é o objeto relacional que se cria na mente do intérprete a partir da relação mantida entre signo e objeto. Na figura a seguir, podemos observar que o objeto dinâmico é aquele que será representado pelo signo, ao passo que o objeto imediato é a forma como o objeto dinâmico está representado no signo, enquanto desenho ou escrita, por exemplo. Já o interpretante imediato se refere à aptidão do signo de ser interpretado, não como individualidade, mas se é traduzido como sentimento, ação ou de outra maneira (SANTAELLA, 1983). #PraCegoVer: na figura, temos a representação da Tríade de Peirce, em que há três extremidades compostas pelo objeto dinâmico, o signo e o interpretante em si. No centro, um círculo traz o objeto imediato do lado esquerdo, o interpretante imediato do lado direito e o fundamento abaixo, separados por uma espécie de triângulo. Na ponta direita, na parte de baixo do triângulo, temos o interpretante em si. Acima dele, encontramos o interpretante dinâmico (intérprete). Já na ponta esquerda, na parte de baixo, temos o objeto dinâmico. Figura 2 - Tríade de Peirce Fonte: Elaborado pela autora, baseada em SANTAELLA, 1983. 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDXn… 7/19 Segundo Marques (2004), Peirce relaciona seu sistema de reconhecimento à capacidade de um artista representar um fenômeno exatamente como é, sem substituir a realidade por interpretações. Essa afirmação peirceana está ligada diretamente aos postulados impressionistas de representar o que o olho capta, sem ideias pré-concebidas. Entretanto, o olhar do artista é dotado de método estilístico e outras convenções que pressupõem um olhar humano sobre a obra. Trata-se do ver pela mente do artista, considerando-se como exprimiu seu propósito na obra, para produzir prazer retiniano, significado ou aprendizado, por exemplo. Portanto, para o artista, é importante garantir que a experiência almejada seja reproduzida em seu público, uma vez que a obra é fruto de um pensamento e, consequentemente, pode ser compreendida (MARQUES, 2004). Na figura a seguir, temos uma das pinturas de série “The Pyramides at Port-Coton, Rough Sea”, de Claude Monet. Nela, são representadas as rochas da costa francesa Belle-Île-en-Mer a partir da técnica de pinceladas dos impressionistas, a qual retrata cores, luzes e sombras conforme a observação do artista. #PraCegoVer: na figura, temos uma pintura em que estão representadas rochas no mar. Uma maior está em primeiro plano e no centro da figura, enquanto outras menores parecem se afastar, em perspectiva. Há duas do lado direito da pintura, uma mais acima, outra mais abaixo, quase no centro. Os tons variam entre o marrom das rochas e o azul do mar e do céu. As bases definidas por Peirce nas categorias abordadas anteriormente, auxiliam na compreensão da obra de arte e na leitura de uma pintura histórica, com base na reflexão de suas questões estéticas. Conforme a abordagem peirceana, a obra de arte é tratada com um signo, não como um objeto. Uma pintura histórica figurativa, como “Primeira Missa no Brasil”, de 1861, do pintor Victor Meirelles (1832- 1903), traz a relação entre o signo e seu objeto, originando o que conhecemos como “ícone”. A cena pintada, apesar de histórica, é construída a partir de um registro imagético até então inexistente, criando-se uma memória. Na obra de Victor Meirelles, há a intenção de se representar tanto os portugueses quanto os povos originários à sombra da cruz, como uma forma de inspirar o povo brasileiro para fazê-lo acreditar em uma narrativa, mesmo que não factual, a começar pela memória construída intencionalmente. Figura 3 - Exemplo de uma obra impressionista do pintor Claude Monet Fonte: Neveshkin Nikolay, Shutterstock, 2020. 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDXn… 8/19 Moimaz e Molina (2009) nos trazem que a contemplação estética dessa ou de outras obras é feita com base nas três categorias de Peirce, que se mesclam pelo sentir, pela interpretação do objeto e pela intenção de compreender os signos. Os signos podem desencadear processos interpretativos complexos a partir dos quais o receptor, aquele que contempla uma pintura, pode atingir a terceiridade. Tomando como exemplo a análise da pintura “Primeira Missa no Brasil”, se o receptor compreender a intenção do artista, isto é, se analisar o contexto histórico em que a obra foi criada e compreender a ideia que se deseja transmitir, índios e portugueses como ancestrais da nação, terá alcançado a terceiridade. Todavia, dependendo do receptor, o interpretante pode permanecer apenas no nível da primeiridade, envolvendo-se num sentimento não- cognitivo. (MOIMAZ; MOLINA, 2009, p. 583, grifos nossos) Podemos pegar como exemplo para figura abstrata para melhor compreendermos a relação entre signo e objeto, originando um ícone, que se dá na categoria de primeiridade, ou seja, ao nível de quali-signo, como uma possibilidade do efeito que será produzido ao estimular o sentido da visão. Desconsiderando a pintura como objeto — mas pelo que nela se está representando, como formas, cores, linhas, texturas e outros elementos visuais —, podemos entendê-la como um ícone, já que não está representando outra coisa, sugerindo apenas possibilidades de interpretação. Santaella (1983) nos faz lembrar, contudo, que se difere do hipoícone, o qual se assemelha ao seu objeto na representação. Ele também pode ser classificado em três categorias: imagem, diagrama e metáfora. VOCÊ QUER VER? Pensando no contexto em que foi produzida a obra de Victor Meirelles, Lilia Schwarcz, historiadora e antropóloga, traz à reflexão a dimensão simbólica do poder político na criação da pintura no vídeo “Primeira Missa no Brasil”. Financiada pelo Império de Pedro II, a pintura retrata o contato dos povos originários com os portugueses de maneira pacífica e subalterna, orientando para um entendimento de poderio ao Estado e à Igreja. Sabendo-se que o contato não se deu dessa maneira, entendemos que a obra tem o poder de recriar e alterara memória. Para entender melhor, assista ao vídeo completo em: https://www.youtube.com/watch?v=El3nhTDreyw (https://www.youtube.com/watch? v=El3nhTDreyw). https://www.youtube.com/watch?v=El3nhTDreyw 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDXn… 9/19 Em relação à secundidade, temos o índice como indício do objeto, marcas deixadas por ele ou, no caso de uma obra de arte, os materiais e as técnicas utilizados na sua construção (SANTAELLA, 1983). Já quanto ao nível de terceiridade, temos o símbolo, que, por convenção ou pacto coletivo, extrai do signo a representação do objeto (SANTAELLA, 1983). Imagem (primeiro nível) Quando a aparência da representação é semelhante ao objeto representado. Diagrama (segundo nível) Quando se discrimina as partes do objeto, determinando as relações análogas de suas partes. O diagrama é utilizado para explicações didáticas, a exemplo de um infográfico. Metáfora (terceiro nível) Quando há uma justaposição entre duas palavras ou expressões, criando uma intersecção entre elas, como em "olhos oceânicos", em que temos uma relação de semelhança. CASO O Teste de Rorschach, desenvolvido pelo psiquiatra Hermann Rorschach (1884-1922 partir da investigação de tipos de personalidades, consiste em mostrar formas ao pacien que dará respostas interpretativas, relacionando as imagens a objetos, sentimentos memórias, a partir de evocações psíquicas do avaliado. A simetria é usada para estimular que a interpretação do borrão se dê em apenas uma ce Pela visão semiótica do teste, é possível distinguir dois momentos: a interpretação paciente pela apresentação da lâmina e a interpretação do avaliador acerca da resposta da pelo examinado. As sensações evocadas pelas qualidades do borrão — às quais o avaliado relaciona a objeto — podem se caracterizar como ícone, no nível de primeiridade. O nível secundidade (índice) é dado pela interpretação do examinador, ao relacionar as respos como indícios de traços de personalidade do indivíduo. Por fim, em nível simbólico terceiridade, temos a convenção classificatória do teste dentro de um pad preestabelecido (MANGABEIRA, 2011). 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDX… 10/19 Assim sendo, durante a interpretação de um signo, inicia-se a semiose, que é justamente a produção de um interpretante pela ação do signo. No processo, a imagem é percebida, informando e comunicando os códigos a ela incorporados. A representação imagética advém de uma realidade física (secundidade) para a sensação (primeiridade), sendo mediada pela representação cultural (terceiridade) (NETTO; PERASSI, FIALHO, 2013). 1.1.2 Imagem como mensagem A Semiótica enquanto ciência estuda a linguagem e oferece ferramentas relevantes para a leitura de imagens. Nesse sentido, partindo de estudos semióticos, Netto, Perassi e Fialho (2013) relacionam os seguintes códigos para a leitura imagética: espacial: se refere ao ponto de vista, à localização do observador em relação ao objeto; gestual e cenográfico: se refere às sensações produzidas pelos componentes da imagem; lumínico: relacionado à luz e sombra, que produzem variações de forma e volume; simbólico: se refere às convenções culturais; gráfico: se refere à ilustração em si; relacionais: propõe identificar a imagem por si própria, sem relacioná-la ao que representa. No entanto, também propõe identificá-la ao que representa e aos modos de relação entre imagem e seus representantes (interpretações de fato ou potenciais). Netto, Perassi e Fialho (2013) nos trazem como exemplo a análise de uma obra de Pieter Bruegel (1525-1569), intitulada “O Combate Entre O Carnaval e A Quaresma”, publicada em 1559. Analisando-a pela teoria peirceana, a fotografia da obra é um signo que representa um objeto (a obra). Além disso, ela simboliza situações cotidianas contrastantes entre música e bebidas do carnaval, bem como preparação e os louvores da quaresma, dado o recorte histórico da época medieval. • • • • • • 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDX… 11/19 #PraCegoVer: na figura, temos uma pintura com a representação de pessoas em situações diversas. Do lado esquerdo, encontramos atitudes que remetem ao gozo, com pessoas bebendo. Do lado direito, temos a igreja, que remete à retidão de comportamento religioso. Ao centro, o poço retrata a aproximação dos dois mundos. Da visão da fotografia da obra e das sensações causadas por suas cores e luzes, cria-se a secundidade, categoria da qual surgem as reflexões para a análise seguinte, que originará a terceiridade. Esta, por sua vez, refere-se ao conjunto de pessoas em diversas ações de festa ou oração, como um fenômeno imaginativo-cognitivo. À primeiridade, relaciona-se a técnica de representação. Netto, Perassi e Fialho (2013, p. 262) descrevem a obra como […] uma sucessão de imagens, cíclica e ilimitada, que causa estímulos através do lúdico e da curiosidade provocada. O cenário é constituído por elementos paradoxais: aldeia rural presumivelmente existente na época que, por suas características fixam uma data ou período e elementos humanos e objetos que podem ser identificados por qualquer um, sem necessariamente representar um vínculo histórico específico. Figura 4 - Pieter Bruegel em “O Combate entre O Carnaval e A Quaresma” Fonte: jorisvo, Shutterstock, 2020. 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDX… 12/19 A linguagem visual nasce do desejo do ser humano em organizar o mundo, valendo-se de percepções e intepretações. Desse modo, o externo é interpretado pela mente, que vai ampliando e desenvolvendo o contato com a realidade. A criação de imagens se dá pela habilidade humana em ter memória e capacidade de tomar decisões. Mesmo nos primeiros registros artísticos encontrados em cavernas, supõe-se que havia um sistema de signos que materializavam as experiências sociais, os rituais, as crenças e as danças, criado pela relação do indivíduo com o mundo. Assim, a arte é uma das primeiras manifestações que se tem conhecimento como linguagem, interpretação e representação do mundo (BUORO, 1996). Enquanto forma privilegiada dos processos de representação humana, é instrumento essencial para o desenvolvimento da consciência, pois propicia ao homem contato consigo mesmo e com o universo. Por isso a arte é uma forma de o homem entender o contexto ao seu redor e relacionar-se com ele. O conhecimento do meio é básico para a sobrevivência, e representá-lo faz parte do próprio processo pelo qual o ser humano amplia seu saber. (BUORO, 1996, p. 20) A criação de imagens está ligada à capacidade humana de abstrair a visão do mundo para representá-lo em outra linguagem, seja pelas artes, seja pela lógica ou ciência. Na representação artística, a abstração é uma maneira de interpretar a realidade caótica, organizá-la e manifestá-la por meio da forma, transformando-a em objeto de seu conhecimento e signo que pode ser representado e interpretado. Buoro (1996) cita que, por essa razão, a realidade social é refletida na arte, pois ela também evidencia o momento histórico, partindo da mesma necessidade de compreensão do ser humano primitivo: a representação para a sobrevivência. No entanto, a imagem representativa da realidade não é a realidade em si. Mesmo que figurativa, sempre haverá uma escolha do artista. VOCÊ SABIA? Muito antes do surgimento das histórias em quadrinhos — caracterizada por arte visual sequencial —, na Idade Média já eram narradas histórias a partir única pintura. Refletindo sobre tempo e espaço, a narrativa existe no tempo, e a no espaço.Nessas obras medievais, há uma incorporação do tempo nos limite representação pictórica bidimensional, em que o mesmo personagem aparec vezes, em uma única paisagem, porém representado em diversas situações, con vista avança pelo enredo da pintura. Tais formas de representar foram suprimida estudo formal da perspectiva no Renascimento, que congelou a narrativa da ob único momento (MANGUEL, 2001). 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDX… 13/19 Um dos exemplos emblemáticos é a pintura “Madame Matisse”, de 1905, na qual Henri Matisse (1869-1954) pintou um retrato de sua esposa com uma lista verde no rosto. Ao ser questionado sobre essa particularidade, respondeu que a pintura não se tratava de sua esposa na realidade, mas de uma pintura resolvida por um artista, que é quem decide como ela deve ser feita (BUORO, 1996). É possível pensar, também, na representação do objeto e na perda de sua função utilitária. René Magritte (1898- 1967), em seu icônico quadro “Isto Não é Um Cachimbo”, de 1929, traz o elemento à reflexão. Ao representar o objeto (cachimbo), por mais realista e figurativa que fosse essa representação, ela ainda seria uma traição da imagem, mas nunca o objeto em si. Na representação, abaixo do cachimbo, Magritte reafirma que aquilo não é um cachimbo, mas uma pintura que o representa enquanto signo. Sobre a obra, o artista divaga: "[…] o famoso cachimbo... Como fui censurado por isso! E, entretanto... Vocês podem encher de fumo o meu cachimbo? Não, não é mesmo? Ele é apenas uma representação. Portanto, se eu tivesse escrito em meu quadro 'isto é um cachimbo', eu estaria mentindo" (FOUCAULT, 1988, [s. p.] apud FIGUEIREDO, 2020, p. 447). VOCÊ SABIA? Na Grécia Antiga, nos tempos de Homero (928-898 a.C.), atribuía-se a represent um rosto a propriedades mágicas, pois se considerava que ela abrigava a alma pessoa. Dessa forma, as representações eram feitas de perfil, para que reduzi poder. Nas peças gregas, muitas máscaras eram representadas com rostos na visão tendo por objetivo assustar o público. Mesmo em tempos posteriores, as m utilizadas em peças teatrais eram tidas como sagradas, especialmente as represe de deuses míticos. Após seu uso, eram consagradas em cerimônias ao deus simb permanecendo no teatro para não levar a alteridade desse deus ao mundo (MANGUEL, 2001). 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDX… 14/19 #PraCegoVer: na figura, temos a representação de um cachimbo de maneira figurativa, no centro. Abaixo do objeto, está escrito “c'est n'est pas une pipe”, que significa “isto não é um cachimbo”. A arte conceitual, que teve seu início em meados dos anos 1960, trouxe à discussão o significado da arte. Entre tantas abordagens para tal questionamento, alguns artistas trouxeram a linguagem como material de suas obras. Levando à literalidade dos conceitos semióticos, determinadas obras eram expressas somente a partir de orientações escritas, como as realizadas por Lawrence Weiner, com “Um Marcador Normal de Corante Atirado ao Mar”, de 1968; e “Uma Remoção de 36x36 Polegadas de Uma Parede até O Ripado ou O Tapume de Sustentação de Gesso ou Folha de Revestimento”, de 1968. Segundo o artista, uma obra pode ser apresentada somente como linguagem escrita, uma vez que se trata de uma apresentação, e não de imposição. A questão do intérprete passa a significar a informação dada, e não mais se questionar sobre o que o artista quer dizer (ARCHER, 2001). Figura 5 - A obra “Isto Não é Um Cachimbo” traz a ideia de representação Fonte: WIKIMEDIA COMMONS, [s. d.]. 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDX… 15/19 Pensando no processo mental de um artista ao criar uma obra, devemos considerar que há, de início, a construção de duas imagens diferentes: a criada na mente do artista e aquela que, de fato, será representada. Para a criação de uma imagem representada, existem os mecanismos de conhecimento do mundo, mas, para transformar em uma obra, necessita-se da realidade imaginativa. Assim, o artista se vale de elementos simbólicos que conversam com a cultura, mesclando com sua capacidade de inventar e criar usos inesperados desses símbolos (BUORO, 1996). Joan Miró (1893-1983), por exemplo, dizia observar manchas de umidade nas paredes, pedras irregulares ou outras superfícies, considerando-as como um ponto de partida para a criação de suas figuras abstratas. Nesse caso, o artista não tinha a pretensão da representação como imitação (BUORO, 1996). VOCÊ QUER LER? Joseph Kosuth, artista contemporâneo, traz à reflexão a questão da representação na série intitulada “Uma e Três Cadeiras”, publicada em 1965. Em uma das obras, há uma cadeira de madeira, uma fotografia em preto e branco dela e uma fotocópia da definição de “cadeira” do dicionário, relacionando-a à tríade semiótica de realidade (objeto dinâmico), representação (signo) e ideia (interpretante). Para se aprofundar nos conceitos de arte e linguagem de Kosuth, sugerimos a leitura do artigo “Arte e Conceito em Joseph Kosuth”, de José D’Assunção Barros, disponível em: http://www.revista.art.br/site-numero- 10/trabalhos/32.htm (http://www.revista.art.br/site-numero-10/trabalhos/32.htm). http://www.revista.art.br/site-numero-10/trabalhos/32.htm 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDX… 16/19 #PraCegoVer: na figura, temos três formas principais. À esquerda, uma espécie de círculo não tão perfeito em vermelho. À direita, uma mancha amarela com uma espécie de gota laranja no meio e um círculo preto dentro dessa gota. Abaixo das duas formas, temos um retângulo parecido com um barco, em preto. Sobre a arte abstrata, Plaza (1987, p. 24-25 apud BUORO, 1996, p. 116) nos explica que [...] dado que o signo não é idêntico à coisa significada, mas dela difere sob alguns aspectos, deve naturalmente possuir algumas características que nada têm a ver com a função representativa. Chamarei a essas características qualidades materiais do signo. [...]. Se o signo estético oblitera a referência a um objeto fora dele, então ele constrói esse objeto a partir de suas qualidades materiais como signo, pois que ele foge à representação, uma vez que esta função representativa não está na qualidade material, mas na relação de um signo com um pensamento. [...]. O signo estético não quer comunicar algo que está fora dele, nem “distrair-se de si” pela remessa a um outro signo, mas colocar-se ele mesmo como objeto. Com a apreciação de uma obra de arte, podemos inserir em seu significado o contexto de sua produção, quem é o autor e em que momento histórico viveu e produziu a arte. Também é possível reconhecer suas influências ou o movimento artístico ao qual participou. Contudo, o que enxergamos, de fato, é a obra que se traduz nos termos de nossa própria experiência, lendo as imagens para as quais temos repertório para criar um interpretante, semelhante à ação de ler uma língua que só reconhecemos o significado pelo conhecimento de sua sintaxe. Entretanto, de acordo com Manguel (2001), diferentemente da escrita — em que os significados dos signos são estabelecidos antes de seu uso —, o código de leitura de imagens é formado após a constituição da figura, de maneira semelhante ao que significamos o mundo em si. Assim, a natureza e os acontecimentos dados ao acaso podem ser retransmitidos, traduzidos e interpretados por meio de um vocabulário criado pelo ser humano, simbolicamente construído por um espelhamento dessa natureza. Portanto, a partir desse mundo simbólico, nos tornamos capazes de reconhecer a experiência no mundo Figura 6- Joan Miró retratava a imaginação em suas obras Fonte: rook76, Shutterstock, 2020. 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDX… 17/19 (MANGUEL, 2001). VAMOS PRATICAR?Agora que você já teve contato com os princípios da Semiótica, eleja um ob represente nas categorias propostas por Peirce, como uma flor. Ao n primeiridade, represente-a enquanto imagem (desenho ou foto), d (discriminação e identificação das partes) e metáfora (união da imagem à expressão metafórica, como “menina-flor”). Ao nível de secundidade, obtenha (perfume, cores, pétalas etc.). Por fim, quanto à terceiridade, crie um símbolo, escrita da flor. Vamos tentar? Conclusão Chegamos ao final da primeira unidade da disciplina de Fundamentos das Artes Visuais. Aqui, pudemos entrar em contato com os conceitos semióticos de Pierce e suas categorias, apreendendo a possibilidade de relacionar essa ciência da linguagem às artes visuais, bem como refletir sobre a forma de representar e a maneira de interpretar as imagens. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: conhecer o conceito de Semiótica; aprender sobre a Teoria Semiótica de Peirce; entender como a ciência da Semiótica pode ser aplicada na leitura de imagens e obras artísticas; refletir sobre o processo de criação de imagens pelo artista e pelo intérprete de suas obras. • • • • 25/02/2022 16:14 Fundamentos das Artes Visuais https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=BFG9NSzN2QGxDJOXN%2bQhCg%3d%3d&l=TioUjZwAli27ibQMpBmdoQ%3d%3d&cd=d95NgDX… 18/19 Bibliografia ARCHER, M. Arte Contemporânea: Uma História Concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001. ARNHEIM, R. Arte e Percepção Visual: Uma Psicologia da Visão Criadora. São Paulo: Pioneira; Editora da Universidade de São Paulo, 2005. 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