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Pensamento Cientifico18

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NÃO PODE FALTAR
QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DO CONHECIMENTO
CIENTÍFICO?
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira
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PRATICAR PARA APRENDER
Provavelmente, você já se perguntou o que torna o conhecimento científico
diferenciado em comparação com outras formas de conhecimento, razão pela qual
diversas grandes potências reservam uma parcela de seu PIB para investir em
ciência e tecnologia, mas não encontrou nenhuma explicação dentro de um contexto
histórico apropriado que detalhasse as principais características do conhecimento
científico.
Sem um contexto adequado é impossível discutir o que é conhecimento científico,
bem como explicar quais seriam suas características e o porquê desse tipo de
conhecimento ser único em sua espécie. Por causa dessa dificuldade de
entendimento da ciência, você, em alguma parte de sua vida, perguntou: “Por que os
cientistas estudam planetas distantes em vez de concentrarem seus esforços em
problemas sociais vigentes, como a desigualdade social, a extrema pobreza e a
desnutrição?” ou “Por que investir milhões de dólares em pesquisas básicas?”
Com um pouco de tratamento filosófico e história da ciência, seria possível
responder que diversos esforços coletivos promovidos dentro do contexto da história
da Era Espacial contribuíram direta e indiretamente para o surgimento de
tecnologias usadas no dia a dia, como travesseiros, painéis solares, satélites
artificiais, detectores de fumaça e muitos outros. Poderia também ser respondido
que uma compreensão profunda da genética levou ao desenvolvimento de alimentos
Fonte: Shutterstock.
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Áudio disponível no material digital.
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transgênicos, que são ricos em proteínas, contribuem para a redução do uso de
agrotóxicos e auxiliam diretamente no combate à desnutrição em países do
continente africano.
Explicar a origem de todo esse processo de construção de conhecimento enriquece a
cultura à medida que revela como as características do conhecimento científico
auxiliam no progresso tecnológico, principalmente na produção de vacinas em
contextos de pandemias, como a da Gripe Espanhola e do novo coronavírus (SARS-
CoV-2).
Em uma sala de aula, um professor de Filosofia da Ciência escolhe três alunos com o
objetivo de atribuir a cada escolhido uma disciplina que alegue o status de ciência: a
primeira disciplina é a Astronomia (atribuída ao aluno A), a segunda disciplina é a
Sociologia (atribuída ao aluno B) e a terceira disciplina é a Psicanálise (atribuída ao
aluno C).
Em seguida, os alunos são convidados a aplicar o ceticismo científico na disciplina
atribuída a eles para avaliar suas hipóteses e teorias, bem como questionar suas
bases analisando a possível compatibilidade com os resultados da ciência.
Supondo que os alunos tiveram êxito no trabalho proposto, considere o resultado a
que cada aluno chegou:
a. A astronomia é uma ciência porque suas teorias são compatíveis com os dados
disponíveis das melhores agências espaciais.
b. A sociologia é uma ciência porque suas teorias são baseadas em evidências. Além
disso, a sociologia consegue, com base no uso de modelagem computacional,
realizar predições sobre fenômenos sociais com alto nível de acurácia.
c. A psicanálise não parece ser uma ciência, ou talvez seja uma pseudociência,
porque suas principais hipóteses não constituem uma teoria científica. Mais
ainda, algumas alegações sobre possíveis entidades ou objetos não podem ser
testadas ou demonstradas empiricamente. Ela também tem outro ponto falho,
que consiste na ausência de uma formalização lógica adequada da qual seja
possível a extração objetiva do significado de um conceito central no campo.
Normalmente, o próprio aluno C poderia indagar sobre o motivo pelo qual a
psicanálise ainda mantém um local prestigiado em universidades públicas e
particulares, sendo que ela falha em cumprir os requisitos mínimos esperados de um
campo que alega produzir conhecimento científico.
Quais seriam os possíveis indicadores que revelariam o porquê de certas
pseudociências, como a psicanálise, ainda manterem algum prestígio na academia,
mesmo não cumprindo requisitos esperados de uma atividade que preza pela
verdade?
CONCEITO-CHAVE
A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética
de interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos
aptos a fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é
verdade, e sermos céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do
próximo charlatão político ou religioso que aparecer.
— Carl Sagan, entrevista de 1996.
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CONHECIMENTO CIENTÍFICO: SISTEMATICIDADE,
FALIBILIDADE E QUESTIONABILIDADE
Algumas características essenciais do conhecimento científico mostram como ele é
um conhecimento único em sua espécie, trazendo maior nível de confiabilidade em
comparação com outros tipos de saberes no mundo contemporâneo. Um aspecto
central é seu princípio de sistematização, que é basicamente a forma como seus
enunciados são estruturados logicamente, evitando confusões da linguagem
ordinária, como contradições lógicas e polissemia.
A sistematização do conhecimento científico permite que seus enunciados não
entrem em contradição ao longo de uma explicação a respeito de algum fenômeno
da realidade, evitando a utilização de jargões desnecessários e, por vezes,
incompreensíveis, como sentenças que fazem parte de muitos sistemas filosóficos
dos chamados filósofos do irracionalismo, como Friedrich Hegel e Martin Heidegger.
A adoção de uma estrutura lógica dentro de enunciados científicos permitiu que
qualquer discurso ou método dialéticos fosse extirpado do conhecimento científico,
contrariando a crença popular de que a dialética é um elemento indispensável na
atividade científica. Isso ocorre desde o surgimento da ciência moderna, admitindo
tacitamente o Princípio da Não Contradição de Aristóteles, que assegura que
afirmações contraditórias não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Portanto, a
ciência evita o uso de proposições contraditórias, como “esse círculo é quadrado”,
“toda verdade é uma mentira” e “tudo é relativo”.
A dialética é um conceito problemático desde Heráclito, significando em seus
primórdios a ideia de que existe um Princípio da Unidade dos Contrários, ou seja, a
ideia de que todas as coisas que existem possuem uma contraparte ou uma entidade
oposta (por exemplo, partículas e antipartículas). Muitos séculos depois, o filósofo
Hegel buscou desenvolver a dialética dentro de seu sistema filosófico, admitindo
alguns pressupostos da tese original, como a ideia de que existe uma unidade dos
opostos e a noção segundo a qual todas as coisas mudam. No entanto, Hegel foi
muito pouco claro sobre o que ele queria dizer com “dialética”, de modo que até hoje
não existe um consenso entre filósofos sobre o que ela é: uma lógica não clássica,
que romperia com o Princípio da Não Contradição da ciência moderna; uma
ontologia das coisas; ou simplesmente ambas. Apesar do extenso debate filosófico
sobre a dialética, ela não conseguiu ganhar espaço em nenhuma ciência natural,
social ou biossocial – nem mesmo na ciência formal, com a lógica e a matemática.
Outro aspecto central do conhecimento científico é a falibilidade, que significa que
todo discurso científico é passível de correção, evitando assim qualquer tipo de
dogmatismo, como a estagnação de uma hipótese científica e o culto à autoridade.
Esse conceito está presente na tese do filósofo da ciência Karl Popper (2013), que
estipulou que a falseabilidade ou refutabilidade é a condição para refinar cada vez
mais hipóteses e teorias científicas.
Esse princípio de falseabilidade é importante para a estruturação de hipóteses
iniciais ou primitivas, por polir afirmações destituídas de evidências científicas, mas
não é um critério de demarcação satisfatório para produzir conhecimentocientífico.
Na verdade, mesmo que alguns cientistas considerem que a ciência siga o modelo
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popperiano, nenhum filósofo da ciência considera-o como um critério satisfatório –
especialmente porque a pseudociência também mantém um nível de conciliação
com o respectivo critério de demarcação.
A falibilidade permite que a ciência progrida com novos dados e evidências, fazendo
também com que as teorias sejam cada vez mais (re)ajustadas à realidade,
produzindo um conhecimento diferenciado em comparação com os outros, sendo
então mais profundo e verdadeiro. Essa posição também é admitida por filósofos
científicos – ou seja, filósofos que estão em dia com os resultados da ciência e
tecnologia –, que assumem que a ciência produz um tipo de conhecimento mais
profundo e verdadeiro.
A ciência também mantém em seu núcleo um aspecto de questionabilidade ou
ceticismo, que significa dúvida metodológica e consiste na adoção do ceticismo
científico, que é o princípio segundo o qual todas as hipóteses e teorias devem ser
questionadas de forma metódica, responsável e cientificamente orientada. Isso
significa que a ciência não adota um tipo de ceticismo conhecido como radical, em
que tudo deve ser questionado, que advoga por um questionamento absoluto,
irresponsável, descontrolado e, portanto, dogmático. A questionabilidade promovida
na ciência é a que submete alegações e hipóteses destituídas de evidências razoáveis
à crítica de outros cientistas, promovendo um diálogo construtivo, sadio e útil para o
desenvolvimento da ciência.
O ceticismo científico não deve ser confundido com o negacionismo da ciência, que é
a posição que defende a rejeição completa ou parcial do conhecimento científico. O
negacionismo da ciência está atrelado a posições ideológicas de seus praticantes,
entrando em cena quando a ciência revela um fato em relação ao qual a pessoa está
em desacordo por alguma razão política, religiosa ou cultural. Alguns exemplos de
negacionismo da ciência incluem a negação de efetividade das vacinas, a rejeição da
circunferência da Terra, a depreciação das consequências das mudanças climáticas e
a resistência em aceitar a evolução biológica das espécies através do processo de
seleção natural.
OBJETIVIDADE, POSITIVIDADE, RACIONALIDADE E
EXPLICABILIDADE
No contexto do conhecimento científico, o conceito de objetividade não deve ser
confundido com objetivismo, que é doutrina ideológica e pseudofilosófica de Ayn
Rand. A objetividade se refere à pretensão clara e objetiva na formulação de
enunciados científicos, evitando o subjetivismo interpretativo, que é a noção
segundo a qual é possível a extração de diversas interpretações e múltiplos
significados de um determinado texto. Por conta de a linguagem científica ser
diferente da linguagem ordinária, principalmente pela sua construção lógica e
sistematização, o subjetivismo não faz parte das proposições científicas.
A objetividade é atrelada a uma concepção positiva de ciência, cujo papel é o
acúmulo gradual de conhecimento por meio da confirmação empírica, em vez de
uma estrutura desordenada que desmorona a cada nova revolução científica, como
defendeu de forma irresponsável o filósofo e historiador da ciência Thomas Kuhn.
Segundo Kuhn (2017), a ciência muda como a moda, de modo que o objetivo da
ciência não seria mais a verdade. No entanto, essa concepção ignora que todas as
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revoluções científicas são sempre parciais, que elas nunca rompem totalmente com
o conhecimento anterior, como é o caso da mecânica clássica de Newton, que,
mesmo após o surgimento da teoria da relatividade geral e da mecânica quântica,
ainda permanece válida para calcular a trajetória de objetos terrestres e continua
sendo usada para enviar foguetes ao espaço.
A teoria da evolução de Charles Darwin também é outro exemplo dessa
característica positiva da ciência, pois ela foi atualizada com os dados da genética e
da biologia molecular, revelando um panorama ainda mais abrangente sobre a
evolução das espécies, explicando até a origem de certos traços comportamentais
nos seres humanos modernos. No entanto, a ciência não progride apenas com base
em experimentos, ela precisa de racionalidade.
A racionalidade presente no conhecimento científico pode ser explicada de duas
formas, pelo menos: a ideia de que todo discurso científico é debatível de forma
organizada (com o exercício do uso da razão) ou a ideia de que o raciocínio formal é
um alicerce na construção do conhecimento científico. A primeira ideia pressupõe
tacitamente características anteriormente explicadas, como as noções de
sistematização e de objetividade, de modo que apenas com uma linguagem
compreensível, logicamente e objetivamente coerente, é possível discutir
racionalmente conhecimentos e problemas científicos, enquanto a segunda exprime
a ideia de que a construção de conceitos lógicos e formais serve para representar
objetos que possuem existência concreta, material e real na realidade, como campos,
partículas e cérebros.
De acordo com a última definição, sem o raciocínio formal, o qual consiste na ciência
formal da lógica e da matemática, nenhum conhecimento seria possível, pois são
necessários sempre símbolos e expressões matemáticas não apenas para representar
objetos, mas também para quantificar os dados oriundos da investigação científica.
Até mesmo a filosofia contemporânea, como a filosofia analítica e a filosofia
científica, trata o raciocínio lógico-matemático como essencial para a produção de
conhecimento filosófico. No entanto, o conhecimento científico busca trabalhar com
o raciocínio formal visando fornecer uma explicação mais adequada com base nos
dados e nas evidências da investigação científica, de modo que não é um mero
exercício lógico destituído de valor empírico.
A pretensão de elaborar cada vez mais proposições e teorias ajustadas à realidade
revela o aspecto de explicabilidade da ciência. Sem a pretensão de explicar a
realidade, ou algum de seus níveis em particular (físico, químico, biológico,
psicológico, social, artificial, etc.), os cientistas não teriam qualquer motivo para
investigar o mundo e produzir conhecimento científico. A explicabilidade, portanto,
refere-se simplesmente ao papel da ciência em investigar o mundo e prover
conhecimentos cada vez mais profundos sobre as coisas.
ASSIMILE 
1. O conhecimento científico advoga pelo princípio de racionalidade, de
modo que seu discurso é universalmente compreensível.
2. O aspecto corretivo do conhecimento científico é sempre guiado pelas
evidências da realidade.
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3. Toda a atividade científica cultiva o questionamento cético moderado ou
razoável, que é orientado pela evidência.
REVISIBILIDADADE, AUTONOMIA, ACUMULABILIDADE E
VERIFICABILIDADE
O conhecimento científico é justamente difícil de definir por conta de suas diversas
características. Em comparação com o conhecimento religioso, por exemplo, apenas
o conhecimento científico tem como preocupação a revisibilidade de seus conceitos e
teorias mediante a investigação científica. Enquanto o conhecimento religioso
admite múltiplas interpretações de um texto como igualmente válidas, o que
importa no conhecimento científico é a compatibilidade de seu corpo de
conhecimento com as evidências, independente do que um cientista pensa a
respeito. Pelo mesmo motivo, a ciência não deve ser comparada com a política, pois
seu conhecimento não é decidido como verdadeiro mediante uma votação por
decreto ou escolha da população. O conhecimento científico é tratado como
verdadeiro quando os resultados de uma investigação apontam numa determinada
direção.
Já a autonomia existente na ciência pode se referir ao âmbito individual e coletivo,
como quando um cientista tem liberdade para investigar - seguindo os protocolos
éticos da pesquisa científica - e quando a ciência tem liberdade para investigar
problemas que contradizem anseios políticos.Por exemplo, quando os cientistas
sociais podem estudar livremente os impactos das desigualdades sociais nas
populações de baixa renda, ou quando o objeto de estudo são os efeitos sistêmicos
das mudanças climáticas, que, normalmente, contradizem interesses privados de
empresas ou políticos. Contraexemplo: quando os cientistas são impedidos de
investigar por conta de sua nacionalidade ou etnia, como ocorreu com os físicos
judeus durante a emergência do nazismo na Alemanha, ou quando os pesquisadores
são perseguidos pelo governo com a desculpa de serem infiltrados de uma potência
mundial rival ou advogarem por uma suposta ideologia contrária à aceita pelo
Estado, como aconteceu no caso dos geneticistas de plantas na antiga União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Mesmo com todas as dificuldades que a história da ciência revela sobre o processo
de construção do conhecimento científico ao longo dos séculos, toda a experiência
passada é traduzida em conhecimento sociológico, revelando que a ciência e a
política, embora sejam atividades completamente distintas, dependem de uma
relação amigável para prosperarem, seja para promover a investigação científica
fornecendo recursos financeiros do Estado, seja para usar os resultados científicos
na elaboração de políticas públicas mais justas.
A acumulabilidade do conhecimento científico é o que justifica seu aspecto de
progresso, justamente porque exemplos de experimentos malsucedidos são
considerados, não apenas para refletir sobre os desafios metodológicos e
epistemológicos da ciência, mas também para aumentar o rigor necessário durante a
avaliação dos trabalhos que são submetidos para revistas científicas. Mais ainda, os
resultados negativos na ciência, com base no olhar sociológico, podem revelar
aspectos que foram negligenciados sistemicamente durante a época de aceitação ou
implementação de uma ideia. Por exemplo, a aplicação política de ideias
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pseudocientíficas, que já não eram muito bem aceitas, no início do século XX, como a
eugenia e o darwinismo social, levou ao extermínio de judeus, negros, pobres e
pessoas com deficiência, sob o pretexto de “busca pela pureza genética”.
A elucidação da pseudociência só foi possível graças ao princípio de verificabilidade
da ciência, que é a ideia segundo a qual um enunciado, uma hipótese ou uma teoria
deve ser passível de ser colocada à prova. No entanto, o conceito de verificabilidade
requer um contexto adequado por conta de sua polissemia.
A noção mais forte de verificabilidade foi apresentada pelo lógico Rudolph Carnap,
durante a emergência do positivismo lógico do Círculo de Viena. Esse círculo era
formado por um grupo de cientistas e filósofos interessados nos problemas
filosóficos, históricos e sociológicos da ciência. A despeito dos mitos que circulam
sobre o círculo, eles defendiam teses bastantes heterogêneas, tinham preocupações
políticas e sociais sobre a atividade científica, não eram ingênuos e nem
reducionistas (não reduziam todo o conhecimento às ciências naturais) e buscavam
uma linguagem universal para a ciência. No entanto, a tese de Carnap ficou
imensamente conhecida ao ponto de ser tratada equivocadamente como
representativa de todo o círculo.
A tese verificacionista de Carnap postulava que uma proposição tem sentido se, e
somente se, existir alguma circunstância que permita sua verificação. Se não
existisse alguma possibilidade de verificação, a proposição seria considerada como
destituída de sentido e significado e, portanto, ela não faria outra coisa a não ser
trazer pseudoproblemas. Essa tese foi duramente golpeada, justamente por outro
filósofo que era simpatizante do círculo, mas que não fazia parte dele: Karl Popper.
Karl Popper enfatizou que a tese não era suficiente como um critério para
proposições, além de diversos outros problemas enumerados em sua obra A Lógica
da Pesquisa Científica (2013), argumentando que a condição de verificabilidade não
é suficiente para que uma proposição ou teoria seja considerada científica, mas
simplesmente a condição de sua possível refutação. Para Popper, uma teoria é
científica se, e somente se, existir alguma circunstância que permita sua refutação.
Se não existir nenhuma circunstância passível de refutação, a teoria não é
considerada científica. Com isso, Popper lançou as bases de sua hoje conhecida tese:
o falseacionismo.
REFLITA
1. Dado o sucesso do conhecimento científico na explicação de diversos
fenômenos da realidade, o que torna a ciência um campo confiável?
2. Dado o contexto de negacionismo anticientífico na sociedade
contemporânea, por que é importante adotar o ceticismo científico?
3. Por que a lógica é um elemento indispensável dentro do conhecimento
científico?
FACTUALIDADE, ANALITICIDADE E COMUNICABILIDADE
A ciência não se resume a uma atividade puramente empírica. Ela também
contempla disciplinas que lidam com aspectos formais do método científico, que
usam seu aspecto de racionalidade para investigar problemas matemáticos, lógicos e
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semânticos. Para clarificar essa abrangência, é necessária uma distinção rápida
sobre esses dois tipos de ciências: a ciência fática (ou factual) e a ciência formal.
Como explica o filósofo Mario Bunge em seu livro La Ciencia, su Método y su
Filosofía (2014), a ciência fática lida com entes concretos ou materiais (como campos,
partículas, animais, pessoas), adequa-se aos fatos e possui consistência empírica
(como a física, a química, a biologia, a psicologia, a sociologia), enquanto a ciência
formal lida com entes ideais (como números, conceitos, axiomas), adequa-se a um
conjunto de regras e possui consistência racional (como a lógica e matemática). No
entanto, tanto a ciência fática como a ciência formal normalmente se cruzam em um
processo de enriquecimento contínuo.
A ciência formal fornece à fática a analiticidade essencial para sua sistematização,
formalização e objetividade. Com esse tratamento analítico, o conhecimento
científico se torna mais exato, porque evita-se a ambiguidade e a armadilha da
linguagem ordinária. Desse modo, justifica-se a definição de Bunge (2014) da ciência
como um tipo de conhecimento sistemático, racional, exato, verificável e, portanto,
falível, sendo a melhor reconstrução conceitual do mundo do qual fazemos uso.
Finalmente, a ciência preza pela comunicabilidade, ou seja, os resultados científicos
são passíveis de serem comunicáveis de forma objetiva para quaisquer
pesquisadores ao redor do mundo. Mais ainda, os resultados podem ser traduzidos
na linguagem ordinária com o objetivo de visar à popularização da ciência e ao
enriquecimento cultural através da atividade de divulgação científica.
EXEMPLIFICANDO
1. O conhecimento científico tem uma estrutura lógica ordenada, a qual
permite a extração de proposições objetivas.
2. O conhecimento científico visa explicar a realidade em sua totalidade,
adequando sua metodologia científica para o estudo de cada nível (físico,
químico, biológico, psicológico, social e artificial).
3. O conhecimento científico progride ao longo do tempo, ajustando suas
teorias às evidências, corrigindo imprecisões e mantendo seu aspecto
questionador frente a uma gama de hipóteses sobre o mundo.
Devido à natureza peculiar do conhecimento científico, suas diversas características
revelam o porquê de ele poder ser considerado como um tipo de conhecimento mais
profundo, verdadeiro e confiável. Embora muitos argumentem que o aspecto
autocorretivo seja uma sentença de risco, o que levaria a duvidarmos cada vez mais
do nível de verdade e profundidade desse tipo de conhecimento, ignora-se que a
requerida compatibilidade das teorias com as evidências é o que aproxima a ciência
da descrição mais precisa o possível da realidade.
FAÇA VALER A PENA
Questão 1
O ceticismo científico é uma das características fundamentais da ciência e de toda a
atividade intelectual. O astrônomo e divulgador científicoCarl Sagan escreveu uma
obra chamada O Mundo Assombrado Pelos Demônios (2006), em que ele descreve
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exemplos de aplicação do ceticismo científico na vida cotidiana. O ceticismo,
argumenta Sagan, é uma ferramenta indispensável para não deixar enganar a nós
mesmos.
Qual é a definição de ceticismo científico?
a. Uma abordagem filosófica que adota a suspensão de juízo pela impossibilidade de provar algum
fenômeno.
b.  Uma abordagem niilista que considera a ciência isenta de valores. 
c.  A negação absoluta do conhecimento científico. 
d.  Uma abordagem que consiste na dúvida metódica ou razoável aplicada a situações e afirmações
destituídas de boas evidências. 
e.  A crença religiosa no poder da ciência.  
Questão 2
A verificabilidade é a noção que advoga a preocupação com o teste experimental. No
entanto, essa posição não pode ser confundida com o verificacionismo do Círculo de
Viena e nem com o falseacionismo do filósofo da ciência Karl Popper.
O que significa verificacionismo?
a. Um critério de demarcação entre ciência e pseudociência.
b.  Um critério para verificar através da observação se certos enunciados são significativos. 
c.  Um critério ético para a ciência. 
d.  Um axioma matemático. 
e.  Uma lógica não clássica.  
Questão 3
A lógica é uma ciência formal, embora possa ser aplicada na ciência fática com o
objetivo de proporcionar melhor clareza e objetividade para os enunciados
científicos. Seu uso evita a ambiguidade da linguagem ordinária, facilita o
entendimento conceitual e impede a contradição no conhecimento científico. A
dialética, por outro lado, tolera contradições e ambiguidades da linguagem
ordinária. No entanto, ela ainda é considerada por muitos como uma ferramenta
essencial para a ciência, os quais acabam ignorando suas implicações com o
Princípio da Não Contradição de Aristóteles e defendendo que ela serve como uma
técnica de comparabilidade entre ideias aparentemente distintas, a partir da qual, de
alguma forma, seria possível a extração de uma nova ideia ou hipótese.
Historicamente, qual pensador é considerado o pai da dialética?
a.  Friedrich Hegel.
b.  Friedrich Nietzsche. 
c.  Martin Heidegger.
d.  Aristóteles. 
e.  Heráclito.  
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