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FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA SAÚDE Aula 1: A Psicologia da Saúde: definição e contextualização O estudo da Psicologia é dividido em várias áreas, cada uma indicando um campo conceitual e uma área de aplicação específica. Psicólogos especializam-se, de acordo com o objeto de estudo, e atuam na saúde, na pesquisa social, no contexto hospitalar, na área jurídica, na clínica, entre outras. Antes de estudarmos os diversos desdobramentos de um dos campos da Psicologia, é fundamental compreender seus fundamentos. Nesse sentido, começamos a abordagem da Psicologia da Saúde explicando o significado deste termo, abordando seu desenvolvimento histórico e demarcando esta área de atuação em relação a outras que são relacionadas a ela A Psicologia da Saúde tem por objetivo a promoção e manutenção da saúde e a prevenção da doença. Trata-se de um campo multidisciplinar interligado a outras áreas da Psicologia, tais como: Psicologia Comunitária, Clínica e Hospitalar. Ao mesmo tempo em que ressaltamos esta interseção, afirmamos a necessidade de diferenciar a Psicologia da Saúde e caracterizar seu campo de atuação, que abrange toda a reflexão e atuação nos diversos setores da saúde. Nesse sentido, o psicólogo que atua no contexto hospitalar, por exemplo, está atuando na área da saúde. Mas a Psicologia da Saúde não se restringe à Psicologia aplicada a este contexto. A Psicologia Preventiva Comunitária, o atendimento a doentes terminais, o acompanhamento de pacientes com distúrbios alimentares são exercícios diferentes que também estão inseridos no objeto do nosso estudo. ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO. COMO ALGUNS TEÓRICOS ABORDAM A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA ÁREA DA SAÚDE: Para Matarazzo, a Psicologia da Saúde agrega conhecimentos que permitem ao psicólogo atuar: “Na promoção e na manutenção da saúde, na prevenção e no tratamento da doença, na identificação da etiologia e no diagnóstico relacionados à saúde, à doença e às disfunções, bem como no aperfeiçoamento do sistema de política da saúde” (MATARAZZO apud ANGERAMI, 2002, p.13). Angerami ressalta que as noções de saúde e doença englobam uma complexa interação entre aspectos físicos, psicológicos, sociais e ambientais. É fundamental que as diversas abordagens dentro do campo da saúde possam se harmonizar “no sentido de promoverem uma compreensão que não deixe de fora nenhum dos aspectos desse processo” (ANGERAMI, 2002, p.12). A atuação do psicólogo no campo da saúde é, desta forma, orientada para uma prática multidisciplinar. Para isso, é importante assinalar que a formação do psicólogo deve contemplar conhecimentos que englobem as bases biológicas, sociais e psicológicas da saúde e da doença. Breve histórico da Psicologia da Saúde A Associação Brasileira de Psicologia da Saúde (ABPSA) foi fundada em 2006. É uma associação com propósitos científicos e educacionais, que, além de incentivar a pesquisa, visa “facilitar a troca de informação, conhecimento e experiência entre seus membros, estimulando iniciativas que viabilizem redes de apoio mútuo” (ABPSA, 2012). Percebemos que é recente a preocupação em formalizar, dentro da Psicologia, um campo específico para estudos e intervenção no setor da saúde. Talvez por isso ainda haja certa dificuldade de definir estritamente o campo da Psicologia da Saúde, sem confundi-lo com outros afins. Apesar de recente do ponto de vista formal, o crescimento dessa área, no Brasil, é expressivo. Nos últimos vinte anos, aproximadamente, o setor de saúde pública foi o que mais absorveu psicólogos. Entretanto, a produção científica ainda é insuficiente, o que torna ainda mais instigante a pesquisa, ressaltando a importância de investigar e definir cuidadosamente os conceitos e práticas relativos à Psicologia da Saúde. Psicologia da Saúde e sua relação com a Psicologia Hospitalar e a Psicologia Comunitária Vimos até aqui que atuar no campo da Psicologia da Saúde demanda uma visão multidisciplinar, que implica a intercessão entre diferentes abordagens sobre os fenômenos da saúde. Mas, além de estar preparado para atuar em uma equipe interdisciplinar, é importante que o psicólogo conheça outros campos da Psicologia que fazem interface com a Psicologia da Saúde. Nesse sentido, a seguir, faremos uma breve apresentação de duas que balizam a Psicologia da Saúde: a Psicologia Hospitalar e a Psicologia Comunitária. Essas duas áreas cresceram muito nos últimos anos, recebendo destaque na pesquisa teórica e social (de levantamento). PSICOLOGIA HOSPITALAR: PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: Para finalizar essa exposição introdutória sobre a Psicologia da Saúde, vamos ressaltar alguns aspectos importantes da formação do psicólogo para a atuação na área de saúde. Uma das preocupações do psicólogo da saúde é compreender como intervir levando em conta as demandas individuais, o sistema de saúde e os aspectos sociais. É comum o pensamento de que o psicólogo clínico, que pretende atender em consultório particular, não precisa compreender o funcionamento do sistema público de saúde no qual está inserida a sua prática. Entretanto, no contexto brasileiro contemporâneo, poucos são os psicólogos que trabalham apenas dentro dos consultórios. E, mesmo para os têm apenas essa prática, é fundamental o conhecimento mais amplo da carreira que escolheu. A formação do psicólogo, mais especificamente do psicólogo que pretende atuar na área da saúde, deve contemplar conhecimentos de bases biológicas, sociais e psicológicas da saúde (ARRUDA, 2003). Neste sentido, é importante: • Estudo das bases orgânicas do comportamento; • Ter uma boa noção de Psicologia Social e trabalho com grupos; • Conhecimento da realidade brasileira; • Entender sobre a política de saúde pública. De fato, se a Psicologia da Saúde está inserida numa abordagem multidisciplinar da saúde e da doença, é fundamental que o psicólogo tenha conhecimentos básicos das áreas com as quais vai dialogar. A CRIAÇÃO DO SUS E ATUAÇÃO DOS PSICÓLOGOS: Quanto ao conhecimento do funcionamento e regulamentação da saúde pública, ressaltamos que a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) fez nascer um panorama diversificado para a atuação dos psicólogos, a partir da política dos níveis de atenção e da organização, acolhimento e classificação de risco. Para a inserção nesse contexto, que se afirma cada vez mais como mercado de trabalho para o psicólogo, é importante conhecer sua proposta, limites e facilidades proporcionados ao saber psicológico. Assim, afirma-se a importância de uma formação que se desloca da ênfase na clínica tradicional e contempla a saúde em seus diversos aspectos: biológico, psicológico e social. O psicólogo está dentro de um campo maior do que os limites da Psicologia, mas deve atuar a partir de sua formação específica. Desta forma, não se trata de suprimir a formação clínica, mas de valorizar, na formação do psicólogo, a diversidade do conhecimento, preparando o profissional para o contexto multidisciplinar contemporâneo. EXERCÍCIO: A concepção contemporânea de saúde e doença engloba a interação entre aspectos físicos, sociais e psicológicos. É fundamental, dentro desse contexto, o trabalho das equipes interdisciplinares. Nesse sentido, a formação do psicólogo deve contemplar a saúde em seus diversos aspectos (biológico, psicológico e social). O caso narrado exemplifica a demanda por atendimento interdisciplinar. A partir dos sintomas apresentados na ocasião da internação, a paciente precisou de cuidados médicos, acompanhamento de nutricionista, tratamento psicológico e fisioterapêutico (por exemplo). Um caso como este evidencia a importância da formação do psicólogo orientada para uma prática interdisciplinar. AULA 02 – CRIAÇÃO E FUNCIONAMENTO DO SUS A SAÚDE NO Brasil até 1987: Antes do Sistema Único de Saúde (SUS) ser criado no Brasil, em 1988, o cenário da saúde brasileira era o seguinte: A Lei 8.080/90 de19.09.90 O SUS é definido pelo artigo 198 da Constituição Federal Brasileira (1988) e regulamentado pela Lei 8080 promulgada em 19 de setembro de 1990. A lei estabelece a integração das ações e serviços de saúde, substituindo um sistema regionalizado e hierarquizado. A saúde é assegurada, na Constituição Brasileira, como um dever do Estado. Mas nesse contexto, o Estado não diz respeito apenas ao governo federal. O Poder Público, no que diz respeito à saúde, abrange a União, os Estados e os municípios. A implementação do SUS implica a integração das obrigações de todas as esferas do governo e a construção de políticas setoriais, adequadas às diferentes realidades regionais. A lei Orgânica da Saúde regulamenta as ações do SUS em todo o território nacional, estabelecendo diretrizes e detalhando as competências de cada esfera governamental. A lei: “Determina como competência do SUS a definição de critérios, valores e qualidade dos serviços. Trata da gestão financeira, define o Plano Municipal de Saúde como base das atividades e da programação de cada nível de direção do SUS e garante a gratuidade das ações e dos serviços nos atendimentos públicos” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). Na lei 8.080/1990 estão formuladas a estrutura do SUS e as bases para o seu funcionamento. Faz parte da legislação que ampliou a definição de saúde, considerando-a também a partir de aspectos sociais, dentro da noção de qualidade de vida. Assim, são levados em conta diversos fatores determinantes, como: alimentação, moradia, saneamento básico, trabalho, educação, lazer e acesso a bens e serviços essenciais. A Lei 8. 142/90 trata do papel e participação da comunidade na gestão do SUS e da transferência de recursos financeiros entre União, estados e municípios. Fica estabelecida a participação da comunidade, que deve ser concretizada através dos Conselhos de Saúde. O Conselho Nacional de Saúde (CNS) institui um espaço de participação social na administração do Sistema Público. O Conselho Nacional consolida o controle social por intermédio dos Conselhos Estaduais e Municipais. “O CNS é uma instância coletiva, com poder de decisão. Ligado ao Poder executivo, é composto por 50% de usuários, 25% de trabalhadores de saúde e 5% de prestadores de serviços. Representantes do governo, profissionais de saúde e usuários estão entre os participantes e o número de conselheiros varia entre 10 e 20 membros. O Presidente é eleito entre os membros e a representação depende da realidade existente em cada área, preservando-se o princípio da paridade em relação aos usuários” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). Quanto ao funcionamento, as reuniões ordinárias do CNS ocorrem uma vez por mês, podendo haver reuniões extraordinárias por convocação do Presidente do Conselho ou por deliberação do plenário (fóruns deliberativos). Ente as atribuições dos Conselhos de Saúde, destacam-se: • Propor a adoção de critérios que definam qualidade e melhor funcionamento do sistema de saúde; • Fiscalizar a movimentação de recursos; • Propor critérios para a execução financeira e orçamentária do Fundo de Saúde; • Examinar propostas e denúncias; • Estimular a participação social na administração do SUS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). Novas premissas As leis 8.080/90 e 8.142/90 preveem os princípios de funcionamento do SUS, baseados em premissas que modificam a concepção de saúde e, consequentemente, o modelo de assistência: “O Sistema Único de Saúde é, por definição constitucional, um sistema público, nacional e de caráter universal, baseado na concepção de saúde como direito de cidadania e nas diretrizes organizativas de: descentralização, com comando único em cada esfera de governo; integralidade do atendimento; e participação da comunidade. A implantação do SUS não é facultativa e as respectivas responsabilidades de seus gestores – federal, estaduais e municipais – não podem ser delegadas. O SUS é uma obrigação legalmente estabelecida” (CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE, 2012). A POLÍTICA QUE REGE O SUS DETERMINA: A descentralização (os estados e municípios passam a fornecer atendimento conforme as necessidades locais). A integralidade do atendimento (disponível a todos os cidadãos). A participação da comunidade nas decisões importantes relativas à saúde pública. OS PRINCÍPIOS DO SUS: Universalidade A saúde passa a ser vista como um direito de todos, como afirma a Constituição Federal de 1988. Promover e garantir a atenção à saúde para toda a população brasileira, sem distinção, torna-se obrigação do Estado. Esta foi a principal reivindicação do movimento sanitarista, que impulsionou a reformulação da política púbica no setor de saúde e a criação do SUS. Descentralização político-administrativa O processo de descentralização, como já foi visto, consiste na redistribuição do poder, estabelecendo uma nova relação entre os três níveis (esferas) do governo – federal, estadual e municipal. Desta forma, cada uma das esferas tem atribuições próprias. Os municípios têm assumido papel cada vez mais importante no gerenciamento dos próprios recursos e demandas específicas da população. Integralidade A partir da criação do SUS, a atenção à saúde inclui tanto o tratamento quanto a prevenção da doença, englobando os meios individuais e os coletivos. As necessidades de saúde das pessoas ou de grupos devem ser levadas em conta. Cabe ressaltar que, dentro da visão ampliada de saúde, a qualidade do serviço oferecido também é valorizada, e não apenas o número de atendimentos. Equidade O princípio da equidade refere-se à igualdade de oportunidades. Todos devem ter acesso ao sistema de saúde. Leva-se em conta a desigualdade de condições socioeconômicas que caracteriza o Brasil. A partir das disparidades regionais, que englobam fatores sociais e econômicos, as necessidades da população variam no que diz respeito à saúde. Porém, de acordo com a Lei Orgânica da Saúde, Participação da comunidade Esse princípio também é chamado de controle social. É regulado pela lei nº 8.142, que garante o direito de participação dos usuários na gestão do SUS. Essa participação se dá através dos Conselhos de Saúde, que são órgãos colegiados organizados em todos os níveis (nacional, estadual e municipal) e também através das Conferências de Saúde, que acontecem a cada quatro anos. Trata-se de dispositivos que visam à democratização das decisões no campo da saúde, dando à população papel ativo na gestão e fiscalização da política pública da saúde. Esses princípios são elementos que fundamentam a proposta do SUS, de atenção à saúde de forma global – da prevenção ao restabelecimento –, promovendo a aproximação dos cidadãos às instâncias político-administrativas, com o objetivo de garantir a universalidade do acesso à saúde. O SUS E A CIDADANIA: O movimento que culminou na criação do SUS representa um avanço no que diz respeito à valorização da cidadania. Paim (2011) observa que, mesmo sendo visível a distância entre a formalização e a garantia concreta, a implementação do SUS representa um avanço e uma iniciativa que vai ao encontro do direito à cidadania. Segundo o autor, é um desafio manter uma gestão descentralizada num país com uma dimensão territorial do Brasil. A gestão descentralizada é um tema que demanda reflexão constante por parte dos envolvidos no setor da saúde, assim como fiscalização e tomadas de decisão que avaliem a situação local e as especificidades de cada região. Ressaltamos, ao finalizar esta aula, a importância da difusão da informação, com o objetivo de promover para a população a consciência do direito à saúde. A educação em saúde é um tema fundamental, que pode ser compreendido como: “Processo que objetiva promover, junto à sociedade civil, a educação em saúde, baseada nos princípios da reflexão crítica e em metodologias dialógicas (ou seja, que tenham como base o diálogo). É instrumento para a formação de atores sociais que participemna formulação, implementação e controle social da política de saúde e na produção de conhecimentos sobre a gestão das políticas públicas de saúde, o direito à saúde, os princípios do SUS, a organização do sistema, a gestão estratégica e participativa e os deveres das três esferas de gestão do SUS” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Dentro da concepção ampliada de saúde, a educação é contemplada como um dos fatores condicionantes. A educação em saúde, especificamente, faz parte da preocupação com a prevenção da saúde, seja levando informações sobre doenças e cuidados essenciais, seja propagando os direitos do cidadão assegurados pela política pública vigente. A conscientização é o primeiro passo para a participação efetiva dos usuários na gestão do SUS. Aula 3: A Política Nacional de Atenção Básica – PNAB A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) foi aprovada pela Portaria 648/GM, em 2006, pelo Ministério da Saúde. Ela direciona o olhar para a porta de entrada do SUS através da organização da atenção básica, ressaltando a importância do PSF – Programa de Saúde da Família – e do Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS). O modelo de atenção básica utilizado no Brasil leva em consideração a regionalização, ou seja, cada município oferece serviços de atenção básica conforme as necessidades da sua população local. Os serviços da atenção básica são direcionados para crianças, adolescentes, mulheres, adultos, idosos e famílias. O objetivo é atender as prioridades que dizem respeito a cada público específico. DEFINIÇÃO E PRINCÍPIOS DA ATENÇÃO BÁSICA: O conjunto de ações – coletivas ou individuais – que engloba a prevenção de doenças, a promoção e a proteção da saúde denomina-se Atenção Básica. Suas características estendem-se também ao diagnóstico, tratamento, reabilitação, manutenção e tudo o que diz respeito à saúde que se relacione diretamente com os serviços oferecidos no que se denomina atenção primária. É relevante considerar que: FATORES SOCIAIS DO PROCESSO SAÚDE/DOENÇA: A principal estratégia da atenção básica é o Programa da Saúde da Família, que conta com uma equipe de profissionais que atuam em conjunto para avaliar as necessidades de saúde da comunidade em que a Unidade Básica de Saúde (UBS) que lhe dá suporte está inserida. Alguns pontos que o PSF utiliza como base de atuação são: O Programa Nacional de Atenção Básica (PNAB), do Ministério da Saúde, ressalta que são fundamentos da Atenção Básica: I - Possibilitar o acesso da população a serviços de saúde de qualidade em um território adscrito1 ; II - Efetivar a integralidade em seus vários aspectos: integração de ações; articulação das ações de promoção à saúde, prevenção de agravos, vigilância à saúde, tratamento e reabilitação, trabalho de forma interdisciplinar e em equipe e coordenação do cuidado na rede de serviços; III - Desenvolver relações de vínculo e responsabilização entre as equipes e a população adscrita, garantindo a continuidade das ações de saúde e do cuidado2 ; IV - Valorizar os profissionais de saúde por meio do estímulo e do acompanhamento constante de sua formação e capacitação; V - Realizar avaliação e acompanhamento sistemático dos resultados alcançados, como parte do processo de planejamento e programação; VI - Estimular a participação popular e o controle social. Alguns programas têm diretrizes nacionalizadas pelo Ministério da Saúde, como por exemplo, os direcionados para: Hanseníase• Tuberculose• Hipertensão arterial• Diabetes• Desnutrição infantil• 2 Saúde da criança• Saúde da mulher• Saúde do idoso• Saúde bucal• Promoção da saúde• Fonte: Livro Política Nacional de Atenção Básica. Ministério da Saúde, 2006. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_atencao_basica_2006.pdf. 1 Território adscrito diz respeito às regiões em que vive a população adscrita – ou seja, a população residente na área de atuação de uma equipe de Saúde da Família ou serviço de saúde –, de forma a permitir o planejamento e a programação descentralizada, em consonância com o princípio da equidade. 2 Na continuidade do cuidado, a pessoa atendida mantém seu vínculo com o serviço ao longo do tempo, de forma que, quando surge uma nova demanda, esta seja atendida de forma mais eficiente; essa característica também é chamada de longitudinalidade. DIRETRIZES DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE: Há diretrizes preconizadas para as Unidades Básicas de Saúde no que diz respeito a: Equipe profissional Composta por: médico, enfermeiro, cirurgião-dentista, auxiliar de consultório dentário ou técnico de higiene dental, auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde. Outros profissionais, como assistente social, psicólogo, fisioterapeuta, podem ser incluídos na equipe conforme a necessidade local. Espaço adequado Espaço para o atendimento à população pelos profissionais de saúde: consultórios específicos e apropriados para a prática profissional. Importante! A implantação de uma Unidade Básica de Saúde se dá conforme o número de habitantes, então, em grandes centros urbanos, é recomendado uma unidade de UBS sem o Programa de Saúde da Família para cada 30 mil habitantes. Já as Unidades Básicas de Saúde com o PSF devem ter como referência 12 mil habitantes cada. Organização do espaço Recepção, local para arquivos, sala para enfermagem, sala de vacinas, banheiros, equipamentos e materiais necessários à prática profissional de cada agente de saúde que atua no programa. TRABALHO DAS EQUIPES DE ATENÇÃO BÁSICA: Conheça agora algumas características do trabalho das equipes de atenção básica: 1. TERRITÓRIO DE ATUAÇÃO: O trabalho das equipes de atenção básica deve ter como referência seu território de atuação, ou seja, a população adscrita. Se uma unidade de saúde, que conta com os profissionais atuando no Programa de Saúde da Família, oferece serviços de saúde básicos, o esperado é que os problemas de saúde sejam atendidos com prioridade, conforme a demanda existente na comunidade. 2. GRUPOS DE RISCO: As ações voltadas para os grupos de risco também são muito valorizadas, pois fatores comportamentais, alimentares, ambientais, hábitos de higiene, podem prevenir ou acelerar o aparecimento de doenças. Para tal, se faz necessário a utilização de parcerias com outras secretarias do Município que possam contribuir para uma educação sanitária, para a prática de exercícios físicos, para hábitos saudáveis que permitam uma saúde biopsicossocial. 3. EDUCADORES: Os agentes de saúde são também educadores, pois todo o processo de promoção de saúde e prevenção de doenças passa pelo desenvolvimento de ações educativas que devem envolver a comunidade de forma participativa na construção da qualidade de vida. 4. ASSISTÊNCIA INTEGRAL: É importante ressaltar que as ações do SUS, incluindo aqui a atenção básica, devem estar pautadas em uma assistência integral que garanta acesso aos outros níveis de atenção à saúde. O atendimento humanizado, preconizado pelo HumanizaSUS , deve ser uma referência para atuação dos gestores e agentes de saúde. 5. É na Unidade Básica de Saúde que deve ser realizado o primeiro atendimento à urgência odontológica e médica e, dependendo da gravidade do caso, pode haver encaminhamentos diversos. 6. PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO: As equipes devem participar do planejamento e avaliação das ações voltadas para as demandas existentes, ressaltando a promoção de saúde através de ações que envolvam diversos setores, integrando projetos que estejam diretamente relacionados com o desenvolvimento da saúde biopsicossocial. DIRETRIZES DOS PACTOS: 1. O Pacto pela Vida reforça esses preceitos e ressalta a movimentação no sentido de uma gestão pública de referência em qualidade. A Portaria GM/MS n° 325, de fevereiro de 2008, valida o Pacto pela Vida. Leia a portaria na íntegra em aqui Conheça alguns objetivos emetas do Pacto pela Vida: • Atenção à saúde do idoso; • Controle do câncer de colo de útero e de mama; • Redução da mortalidade infantil e materna; • Fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e endemias, com • ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária, influenza, hepatite, AIDS; • Fortalecimento da atenção básica; • Saúde mental; • Atenção integral às pessoas em situação ou risco de violência; 2. O Pacto em Defesa do SUS tem como principais características: • Valorizar compromissos entre gestores da saúde com a reforma sanitária; • Articular ações que qualifiquem o SUS enquanto política pública. 3. O Pacto de Gestão do SUS define responsabilidades dos gestores e ressalta as relações solidárias entre aqueles que estão à frente da gestão de cada unidade de saúde. Segundo o Ministério da Saúde, são eixos estruturantes do Pacto de Gestão do SUS (disponível em Pacto de Gestão: garantindo saúde para todos - http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pacto_gestao.pdf): • Regionalização solidária – cooperativa; • Planejamento; • Programação pactuada e integrada; • Regulação, controle, auditoria e avaliação; • Financiamento; • Participação social e controle público. Fonte: Pacto de Gestão: garantindo saúde para todos. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pacto_gestao.pdf. OS NÍVEIS DE ATENÇÃO E O PAPEL DO PSICÓLOGO: A saúde pública é dividida em três níveis de atenção à saúde: PRIMÁRIO: SECUNDÁRIO: TERCIÁRIO: EXERCÍCIO: Todas essas respostas são válidas: • Atenção à saúde do idoso; • Controle do câncer de colo de útero e de mama; • Redução da mortalidade infantil e materna; • Fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária, influenza, hepatite, AIDS; • Promoção da saúde; • Fortalecimento da atenção básica; • Saúde do trabalhador; • Saúde mental; • Fortalecimento da capacidade de resposta do sistema de saúde às pessoas com deficiência; • Atenção integral às pessoas em situação ou risco de violência; • Saúde do homem. A PSICOLOGIA HOSPITALAR BRASILEIRA ATUALMENTE É INCLUÍDA NA ÁREA DA PSICOLOGIA DA SAÚDE! AULA 04 - ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NOS PROGRAMAS DE DST/AIDS Dimensão ético-política do atendimento a pessoas com DST, HIV e AIDS. A AIDS surgiu, no Brasil, no início da década de 1980, no exato momento em que o país sofria transformações político-sociais importantes para o direcionamento das ações políticas no campo da saúde e, no caso em particular, da AIDS. Nesta ocasião, podemos ressaltar o surgimento de alguns marcos históricos na área de saúde do país: a reforma sanitária, a Conferência Nacional de Saúde, a criação do SUS e todas as conquistas do movimento de saúde na elaboração da Constituição Federal Brasileira, de forma a garantir que o direito dos cidadãos brasileiros à saúde fosse assegurado, como citado no Art. 196: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988). Eixos da Política Nacional do programa brasileiro: Com o intuito de dar respostas políticas ao momento de epidemia do HIV/AIDS, a Política Nacional do programa brasileiro compreende três eixos principais, para que venham a funcionar de forma integrada e com base nos princípios do SUS: - Promoção à saúde, proteção dos direitos fundamentais das pessoas vivendo com HIV e AIDS e prevenção da transmissão das DSTs, do HIV/AIDS e do uso indevido de drogas. - Diagnótico e assistência. - Desenvolvimento Institucional e gestão do programa. ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NOS PROGRAMAS DE DST/AIDS: CAPACITAÇÃO DO PSICÓLOGO: O psicólogo deve ter como referência a epidemiologia e os programas de saúde (federal, estaduais e municipais), pois essas informações fornecerão elementos para decidir quais serão as áreas prioritárias e as demandas da população. Três itens devem ser observados na capacitação de um psicólogo para este ambiente: 1. Conhecimento teórico e prático sobre DST, HIV, AIDS e hepatites, além de informações básicas na área de saúde em geral e capacidade de controle de grupos. 2. Conhecimento específico do conteúdo programático do sistema. 3. Conhecimento sobre suporte pessoal, ou seja, como cuidar daquele que também cuida. A forma como o sujeito reage a condição de portador determina maior ou menor propensão a instabilidades emocionais, e a forma de reação não é apenas individual: é também coletiva – tanto social como institucional. Um serviço que não oferece suporte emocional aos portadores de HIV pode estar corroborando para o aumento da fragilidade emocional dos usuários ali cadastrados. SISTEMA DE PREVENÇÃO DE SAÚDE: De acordo com a lógica de atenção proposta pelo SUS, além de desenvolver as noções de campo, núcleo e vulnerabilidade, as ações deverão estar organizadas em atividades de prevenção, promoção e assistência. O sistema de prevenção de saúde é divido em três níveis de complexidade: O PSICÓLOGO NO SISTEMA DE PREVENÇÃO DE SAÚDE: O psicólogo, no sistema de prevenção de saúde, pode atuar nos três níveis! As necessidades de saúde que não podem ser resolvidas no nível da atenção básica são encaminhadas à atenção especializada, no nível de média complexidade ou atenção secundária. Os serviços de alta complexidade – atenção terciária – estão no mais alto nível de recursos tecnológicos para o atendimento à necessidade de saúde do usuário, como, por exemplo, no serviço de transplante de órgãos ou nas unidades de tratamentos intensivos. De acordo com o documento do CREPOP, as linhas estratégicas para as ações de prevenção às DST/AIDS na atenção básica são: 1. Adoção de práticas mais seguras, por meio do acesso à informação e dos insumos de prevenção; 2. Estabelecimento de modelos de intervenção, considerando aspectos culturais, sociais e valores relacionados aos segmentos populacionais envolvidos; 3. Priorização de intervenções realizadas por pares, que promovam mudanças de práticas, atitudes, valores e crenças em relação às DST/ AIDS; 4. Fortalecimento das redes sociais/populares, com a implementação de alternativas para o enfrentamento do problema. Na atenção básica, vê-se a necessidade de o profissional de Psicologia contribuir para a capacitação e o treinamento das equipes básicas de saúde, inclusive dos agentes comunitários de saúde, garantindo à população a qualidade das seguintes ações: • Acolhimento; • Ações de educação em saúde para as DST/AIDS em sala de espera; • Aconselhamento; • Comunicação dos parceiros sexuais; • Formas de utilização dos insumos de prevenção. No caso do(a) psicólogo(a), as principais intervenções na atenção secundária são: • Grupos operativos; • Escuta psicológica; 2 • Aconselhamento e monitoramento da condição emocional; • Acompanhamento terapêutico; • Acompanhamento psicoterápico individual ou grupal; • Reabilitação psicossocial com inserção no mercado; • Atendimento a famílias e comunicantes; • Avaliação psicodiagnóstica; • Assistência e acompanhamento psicológico a familiares; • Assistência domiciliar terapêutica; • Resgate terapêutico; • Participação nas discussões da equipe multiprofissional apresentando a dimensão subjetiva do(a) usuário(a); • Trabalho de interconsulta; • Grupos de adesão ao tratamento; • Participação na elaboração do Plano Terapêutico Individual (PTI); • Assistência em cuidados paliativos. As quatro últimas ações citadas são interdisciplinares e multiprofissionais por sua própria natureza. As principais atribuições do(a) psicólogo(a) na atenção terciária são: • Atuar junto à equipe interdisciplinar, acompanhando processos de acolhimento e reflexão sobre a tarefa assistencial dentro do projetoe especificidade de atuação; • Realizar observação, avaliação e acompanhamento dos(as) usuários(as) e familiares dentro de uma rotina de atendimento; • Registrar o histórico, a evolução e as intervenções em prontuário único; • Acolher, preparar e acompanhar os familiares para que participem do processo de cuidados junto à equipe; • Coordenar grupos com os familiares; 3 • Acompanhar as informações médicas/equipes, buscando facilitar o processo de comunicação/compreensão desde a rotina de admissão até o encaminhamento para atendimento em enfermaria ou domiciliar, pós-UTI ou OS; • Atuar junto à equipe no sentido de promover discussões, reflexões e ações sobre o cuidado/humanização; • Aplicar questionários periódicos, visando a avaliar os cuidados/humanização da assistência; • Viabilizar campo para estágio, contribuindo para a formação de novos profissionais; • Desenvolver estudos e pesquisas partindo da avaliação de protocolos assistenciais. O acompanhamento psicológico se faz altamente necessário nesse momento em que o limite entre a vida e a morte se torna muito presente, e, por isso, pode constituir-se em um tempo muito fértil de reflexão e produção subjetiva. GESTÃO DO TRABALHO NOS PROGRAMAS DE DST/AIDS: No trabalho de gestão no ambiente DST/AIDS, o trabalho do profissional psicólogo deve observar três pontos como principais: PRINCIPIO DA INTEGRALIDADE: • Ações na comunidade – palestras, oficinas, treinamentos; • Aconselhamento pré e pós-teste; • Aconselhamento coletivo; • Escuta psicológica; • Aconselhamento individual e monitoramento da condição subjetiva; • Intervenções na comunidade para enfrentamento do preconceito e discriminação; • Reabilitação psicossocial com reinserção no mercado ou na comunidade; • Atendimento a família e comunicantes; • Construção de rede de apoio social. AULA 05 – SAÚDE MENTAL E OS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS) A saúde mental equivale ao nível de qualidade de vida psíquica, que engloba a interação mente, corpo e vida em sociedade. Sabemos que a saúde não é apenas a ausência de doença, mas um equilíbrio entre os diversos setores da vida que implicam na qualidade da saúde e na capacidade do indivíduo de ser resiliente, ou seja, de se adaptar e/ou superar as situações de crises da vida. Os valores culturais e a subjetividade humana afetam diretamente o modo como a saúde mental é entendida. A interpretação dos fatos e as cobranças sociais afetam diretamente o modo como as pessoas lidam com as mais diversas situações cotidianas. A desospitalização e a inclusão social do doente mental: Conheça agora como aconteceu a inclusão social do doente mental no Brasil: Década de 70 - No final da década de 70 surge a Reforma Psiquiátrica, mobilizada através de forças que reuniram os profissionais da saúde mental, a divulgação da violência em hospitais psiquiátricos e a comercialização da loucura. Década de 80 - Na década de 80, em São Paulo, foi criado o 1º Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Na década de 90 foram implantadas as primeiras normas para a regulamentação da atenção diária em saúde mental. Década de 90 - A Declaração de Caracas, aprovada em 1990, ressalta que o hospital psiquiátrico, como única modalidade assistencial: • Isola o doente em seu meio, gerando maior incapacidade social; • Cria condições desfavoráveis que põem em perigo os direitos humanos e civis do enfermo. Ano de 1999 - A Legislação Federal – Lei 9.867, de 10 de novembro de 1999 - dispõe sobre a criação e funcionamento de Cooperativas Sociais, visando à integração social dos cidadãos. A finalidade das Cooperativas é inserir pessoas em desvantagem no mercado econômico, por meio do trabalho. Ano de 2001 - A Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001 (Lei Paulo Delgado), dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, ressaltando a não discriminação. O QUE SÃO OS CAPS? DE ACORDO COM O MINISTÉRIO PÚBLICO: CARACTERÍSTICA: DIRETRIZES E PRINCÍPIOS: Principais objetivos dos CAPS De acordo com o Ministério da Saúde, os principais objetivos do CAPS consistem em: oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. É função dos CAPS: 1. Prestar atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando as internações em hospitais psiquiátricos.; 2. Acolher e atender as pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, procurando preservar e fortalecer os laços sociais do usuário em seu território.; 3. Promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais por meio de ações intersetoriais.; 4. Regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de atuação.; 5. Dar suporte a atenção à saúde mental na rede básica; 6. Articular estrategicamente a rede e a política de saúde mental num determinado território, como por exemplo organizar a rede de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios.; 7. Promover a reinserção social do indivíduo através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Atividades Terapêuticas: De acordo com as diretrizes do SUS para a saúde mental, as atividades oferecidas pelos CAPS podem ser: 1. tratamento medicamentoso; 2. Atendimento à grupos de familiares: 3. orientação; 4. atendimento psicoterápico; 5. atividades de suporte social: projetos de inserção no trabalho, articulação com serviços residenciais terapêuticos, atividades de lazer, encaminhamentos para a entrada na rede de ensino e para a obtenção de documentos; 6. oficinas culturais; 7. visitas domiciliares; 8. desintoxicação ambulatorial: conjunto de procedimentos destinados ao tratamento da desintoxicação/abstinência decorrente do uso abusivo de álcool e outras drogas. Formas de Atividades Terapêuticas: Os CAPS oferecem diversos tipos de atividades terapêuticas: 1. INDIVIDUAL: O atendimento individual se dá através de psicoterapia, orientação e prescrição de medicamentos; 2. GRUPO: O atendimento em grupo ocorre através de diversas oficinas (geração de renda, alfabetização, musicalidade, esportivas, ocupacionais e etc); 3. FAMILIAR: O atendimento familiar é voltado para o acolhimento failiar, atividades de ensino, lazer, cultura e outras que possam contribuir para a valorização da família no processoo de tratamento da saúde mental; 4. COMUNIDADE: As ativiades comunitárias visam às trocas socioculturais e a integração do paciente da saúde mental com sua família e a comunidade da qual faz parte. Alguns exemplos de atividades: festas comunitárias, formação de grupos de interesse e etc. DIFERENTES TIPOS DE CAPS E IMPLEMENTAÇÃO: O Ministério da Saúde dividiu os Centros de Atenção Psicossocial em cinco modalidades diferentes, conforme a clientela específica. CAPS I - CAPS II - CAPS III - CAPSi - CAPSad - Para sua implantação, deve-se primeiro observar o critério populacional, cujos parâmetros são definidos da seguinte forma (ref.: Portaria GM nº. 336, de 19/02/02): A composição das equipes e oficinas terapêuticas: As equipes dos CAPS são multiprofissionais, com a presença obrigatória de: ENFERMEIRO, PSIQUIATRA, PSICÓLOGO E ASSISTENTE SOCIAL O enfoque é o tratamento terapêutico, com direcionamento para a reinserção social. Por isso, temos CAPS que possuem profissionais das áreas de pedagogia, terapia ocupacional, professor de educação física, arteterapia, dentre outros. As oficinas terapêuticas visam promover novos modos de agir social, de interação com o meio e com a cultura na qual cada usuário está inserido. A promoção de saúde também se dá pela via da reinserção sociocultural, como por exemplo, oficinas: • de música; • de poesia; • de bijuteria; • deartes; • de dança; • literária etc. A relação dos CAPS com a Rede de Saúde Básica: Por sua proximidade com famílias e comunidades, as equipes da atenção básica são um recurso estratégico para o enfrentamento de agravos vinculados ao uso abusivo de álcool, drogas e diversas formas de sofrimento psíquico (Ministério da Saúde, 2003). A realidade das equipes de atenção básica demonstra que, cotidianamente, elas se deparam com problemas de saúde mental: as equipes de saúde da família estão sempre se deparando com questões de saúde mental e acabam por realizar ações nesta área. A relação dos CAPS com a comunidade: Se a história da loucura revela que os considerados doentes mentais viviam em reclusão e exclusão completa da sociedade em outra época, atualmente, a comunidade valoriza as unidades de CAPS como um recurso valioso para cuidar das pessoas com desestruturação mental. Os CAPS são territorializados, atendem a uma população adscrita, que está ao seu entorno e deve ser um espaço para a convivência social, a discussão de temas relevantes para a saúde mental da população, a construção de projetos que promovam cidadania e inserção social. A comunidade na qual o CAPS está inserido deve ser convidada a integrar seus espaços físicos e construídos socialmente através de ações para além de suas portas. A saúde mental é uma questão biopsicossocial e deve ser abordada em todos os seus aspectos. AULA 6: PSICOLOGIA DA SAÚDE E PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: A SAÚDE PÚBLICA E O ESFORÇO DA PREVENÇÃO A PSICOLOGIA DA SAÚDE: A Psicologia da Saúde é uma junção de conhecimentos, atuando desde a promoção e manutenção da saúde até à prevenção da doença. Ela surge da integração de diferentes áreas da Psicologia: Desta forma, chamamos de Psicologia da Saúde o espectro desta ciência que trabalha a visão biopsicossocial da população, sempre buscando uma melhoria na qualidade de vida, seja montando campanhas de informação ou atuando diretamente no indivíduo, na prevenção das doenças mentais e/ou psicopatologias. O trabalho pode ser percebido como vitorioso a partir do momento em que a população consegue ganhos como diminuição de internações e utilização medicamentosa, ou seja, uma utilização mais criteriosa dos recursos dos serviços do sistema de saúde pública. PROBLEMAS ESTUDADOS: No livro “Psicologia hospitalar: teoria, aplicações e casos clínicos” de Makilim Nunes e Rosana Righetto, encontramos nas páginas 18 e 19 alguns dos problemas estudados pelos psicólogos clínicos da saúde: 1. Condições psicológicas derivadas da doença (ex.: depressão pós-infarto do miocárdio e sequelas psicológicas de derrame cerebral); 2. Representações somáticas de disfunções psicológicas (dor no peito em ataques de pânico); 3. Desordens psicofisiológicas (dor de cabeça em decorrência de tensão); 4. Sintomas físicos em decorrência de intervenções comportamentais (incontinência fecal, náuseas antecipatórias); 5. Complicações somáticas associadas a fatores comportamentais (gerenciamento inadequado do diabetes, falha em adesão medicamentosa do hipertensivo); 6. Consequências psicológicas de problemas orgânicos, como depressão associada ao hipotireoidismo e psicose induzida por esteroides; 7. Prevenção de complicações físicas e psicológicas em consequência de procedimentos médicos estressantes, como cateterismo cardíaco e cirurgias; 8. Fatores de risco comportamental em decorrência de doença ou incapacidade (fumo, peso excessivo); 9. Problemas decorrentes de planos de saúde, como relacionamento profissional-paciente ou burnout (espécie de esgotamento do sujeito no trabalho) da equipe de saúde. PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: A Psicologia Comunitária é a atuação da Psicologia da Saúde focada nas comunidades, promovendo o bem-estar e respeitando os grupos em suas origens, cultura e costumes, ou seja, trabalhando a prevenção e a manutenção da saúde sem perturbar a ordem cultural onde cada grupo social está inserido. Dentre as formas de ação, podemos destacar: 1. CAMPANHAS EDUCATIVAS; 2. SÉRIE DE PALESTRAS SOBRE PREVENÇÃO; 3. AÇÕES DE PORTA EM PORTA 4. PARTICIPAÇÃO DE PROJETOS MULTIDISCIPLINARES DO SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICA PARA COMUNIDADES CARENTES. A PSICOLOGIA DA SAÚDE AO REDOR DO MUNDO: 1. No Brasil, já em 1987, esta área da saúde pública já estava em desenvolvimento. Embora fosse uma fase inicial e sem a denominação específica, o Ministério da Saúde já lançava programas de prevenção em campanhas voltadas para o trânsito, alcoolismo, câncer etc. 2. Na Espanha, a Psicologia da Saúde começa a ter força e destaque a partir dos anos 80. Nesta década, ela começa a ser reconhecida por ter características próprias para atuação em um campo altamente diferenciado.Em 1987, várias universidades criaram um departamento exclusivo para a Psicologia da Saúde. Em 1990, surge uma revista especializada na área: Revista de Psicologia de La Salud. 3. Na Alemanha, a Psicologia da Saúde é formalmente estabelecida em 1992. 4. Neste mesmo período, a Áustria também estabeleceu a Psicologia da Saúde como uma área especializada da Psicologia Científica. 5. Nos EUA podemos obter relatos sobre o tema em 1982 em revistas especializadas. A PESQUISA COMO PONTO DE PARTIDA OU CHEGADA: QUALIDADE DE VIDA E PROMOÇÃO DA SAÚDE: No quesito qualidade de vida e promoção da saúde, o Brasil tem diretrizes estipuladas pelo Ministério da Saúde na política nacional de prevenção à saúde, que são aplicadas nas três instâncias onde o SUS atua. Clique no ícone e conheça os objetivos específicos do documento do Ministério da Saúde, em Política Nacional de Promoção da Saúde - anexo 1: Política Nacional de Promoção da Saúde Criar e colocar em prática ações que promovam a saúde, dando maior• atenção à básica; Aumentar a capacidade de autogerência e a corresponsabilidade de• sujeitos e coletividades, inclusive as instituições públicas, como estados e municípios, com atenção geral à saúde; Possibilitar a diminuição ou extinção completa das desigualdades de toda e• qualquer ordem (étnica, racial, social, regional, de gênero, de orientação/opção sexual, dentre outras); Ampliar, através de campanhas específicas, o entendimento da concepção• ampliada de saúde, entre os trabalhadores em saúde, tanto das atividadesmeio como os da atividade-fim; Contribuir para o aumento da resolubilidade do sistema, garantindo• qualidade, eficácia, eficiência e segurança das ações de promoção da saúde; Estimular alternativas inovadoras e socialmente inclusivas/ contributivas• no âmbito das ações de promoção da saúde; Valorizar e otimizar o uso dos espaços públicos de convivência e de• produção de saúde para o desenvolvimento das ações de promoção da saúde; Favorecer a preservação do meio ambiente e a promoção de ambientes• mais seguros e saudáveis; Contribuir para a elaboração e implantação de políticas públicas• integradas que visem à melhoria da qualidade de vida no planejamento de espaços urbanos e rurais; Ampliar os processos de integração baseados na cooperação, solidariedade• e gestão democrática; Prevenir fatores determinantes e/ou condicionantes de doenças e agravos• à saúde; 2 Estimular a adoção de modos de viver não violentos e o desenvolvimento• de uma cultura de paz no país; Valorizar e ampliar a cooperação do setor da saúde com outras áreas de• governos, setores e atores sociais para a gestão de políticas públicas e a criação e/ou o fortalecimento de iniciativas que signifiquem redução das situações de desigualdade. SAÚDE DA FAMÍLIA: UBS – MAIS CONHECIDOS COMO POSTINHOS Atuação do psicólogo no CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) O CRAS é um programa criado pelo Governo Federal e implantado pelos estados e municípios com o objetivo de desenvolver serviços socioassistenciais. Sua localização incide em áreas de vulnerabilidade e risco social. É chamado de Casa da Família, pois sua ação visa combater a misériae oferecer a proteção básica através da política de assistência social. Dentre as ações do CRAS, estão: • Acolhimento das famílias e seus membros; • Acompanhamento das famílias a partir de serviços socioeducativos; • Espaço de convivência; • Ações socioassistenciais; • Articulação e fortalecimento da rede de proteção social básica local; • Prevenção das situações de risco; • Apoio às demandas sociais; • Promoção do fortalecimento dos vínculos familiares; • Acessibilidade aos direitos de cidadania. O CRAS está vinculado ao PAIF (PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL À FAMÍLIA). O número de unidades do CRAS em cada município depende do número de habitantes e de famílias em situação de risco social. O funcionamento do CRAS deve ser de no mínimo cinco dias na semana, oito horas diárias, totalizando 40 horas semanais. A equipe do CRAS é composta minimamente por um coordenador, dois técnicos de nível superior – assistente social e psicólogo – e dois técnicos de nível médio. ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO CRAS: As ações do CRAS podem envolver a organização e desenvolvimento de grupos com objetivos específicos, como grupo de apoio a gestantes, grupo de adolescentes para inserção no mercado de trabalho, grupo de mulheres com foco em geração de renda, dentre outros. A atuação do psicólogo deve estar voltada para: 1. contrução de cidadania; 2. emancipação social das famílias; 3. potencializar a dimensão subjetiva dos sujeitos; 4. desenvolvimento de autonomia; 5. compreender e intervir nos processos e recursos psicossociais; 6. valorização dos aspectos histórico-sociais, que constituem a base da interação e do comportamento humano; 7. promoção de recursos que valorizem a família e as afastem de situações de risco social como vulnerabilidade a doenças, grogas e etc AULA 07 – A PSICOLOGIA E A SAÚDE DO TRABALHADOR ASPECTOS ESSENCIAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR: O trabalho, as obrigações, as máquinas manuseadas e os ruídos frequentes, dentre outros fatores, são situações constantes para os trabalhadores de fábricas, instituições, organizações e outros espaços do trabalho, que lhes causam doenças. Com o passar do tempo, e com as discussões estabelecidas em Congressos e encontros de profissionais da área da saúde, percebeu-se a necessidade de criar políticas públicas que viessem a amparar o trabalhador nas suas atividades laborais e de sobrevivência. Clique aqui e saiba mais! A partir de então, a saúde do trabalhador não passa a ser apenas uma atenção, mas sim uma obrigação do estado e dos municípios com aqueles que exercem suas funções diariamente. LEI ORGÂNICA DA SAÚDE: A Lei Orgânica da Saúde (nº 8080/90), no seu parágrafo 3°, regulamenta a saúde do trabalhador da seguinte forma: “Entende-se por Saúde do Trabalhador, para fins desta lei, o conjunto de atividades que se destina, através de ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho” (CREPOP, 2008, p.21). Lei nº 8080/90 Portanto, a Lei nº 8080/90 abrange: I - Assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de doença profissional e do trabalho; II - Participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde, em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho; III - Participação, no âmbito de competência do SUS, da normatização, fiscalização e controle das condições de produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador; IV - Avaliação do impacto que as tecnologias provocam na saúde; V - Informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como sobre os resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional; VI - Participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas; VII - Revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das entidades sindicais; VIII - A garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão competente a interdição de máquina, de setor de serviço ou de todo o ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores (BRASIL, 1990 apud CREPOP, 2008, pp.21-22). Hoje, a preocupação não é somente com o atendimento a esses trabalhadores. Os órgãos estaduais e municipais preocupam-se em dar assistência e vigilância aos trabalhadores em atividade. O Ministério da Saúde criou em 2002 a Rede Nacional de Atenção Integrada à Saúde do Trabalhador , que integra a rede de serviços SUS. Depois disso, foi possível criar, com a ajuda dos municípios, os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador , “que devem desempenhar a função de suporte técnico, de coordenação de projetos e de educação em saúde para a rede do SUS da sua área de abrangência” (CREPOP, 2008, p.22). Os únicos profissionais considerados obrigatórios nos CERESTs são médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem, sendo o restante de contratação facultativa. Sabe-se, no entanto, que apenas com os profissionais determinados obrigatórios pela lei não se pode oferecer um serviço de qualidade. Desta forma, deve haver uma conscientização nos líderes desses centros para um trabalho que traga de fato a saúde para o trabalhador. Apesar de o psicólogo não ser um profissional obrigatório nos CERESTs, muitos destes têm contrato, pois consideram a saúde mental como primordial ao bem-estar do trabalhador. QUAL A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM SAÚDE DO TRABALHADOR? Pode parecer que o psicólogo que trabalha com saúde do trabalhador se posicione somente dentro das organizações, vinculados ao processo de seleção, treinamento, avaliação de desempenho, dentre outras funções. Mas esta não é uma verdade, além de ser pouco esclarecida aos alunos. Em diversos contextos de atuação, o psicólogo se deparará com problemas voltados à saúde do trabalhador. No ambulatório, poderá chegar um paciente em surto devido ao alto estresse no trabalho; na saúde coletiva, você pode atender uma comunidade que sofre dos mesmos problemas devido ao mercado que movimenta o capital daquela cidade, e assim por diante. O psicólogo voltado para a saúde do trabalhador pode atuar nas unidades de atenção básica, ambulatórios de especialidades, CAPS, hospitais e serviços de vigilância em saúde. Portanto, saúde do trabalhador não está vinculada ao psicólogo que quer trabalhar com Psicologia Organizacional, mas sim àquele que quer trabalhar com saúde. Então, pode-se dizer que está vinculada à ciência psicológica como um todo. Ainda se deve ressaltar que “a atuação do psicólogo nesse âmbito pode estar delimitada por determinações legais (como no caso da vigilância) e pode subsidiar a concessão de benefícios previdenciários (auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, por exemplo) e trabalhistas (direito à reintegração)” (CREPOP, 2008, p.29). “Para classificar sintomas de doenças no âmbito do trabalho, o Ministério da Saúde publicou em 2001 o Manual de doenças relacionadas ao trabalho, que no capítulo 10, fala dos transtornos mentais e comportamentais relacionados ao trabalho, e da Portaria nº 777/GM, de 28 de abril de 2004, que institui a notificação” (CREPOP, 2008). É importante destacar que o psicólogo deve estar preocupado com a saúde do paciente como um todo, mas que, para facilitar o atendimento, têm-se agrupado pacientes conforme suas queixas para atendimentos grupais. Essas queixas podem ser porestresse, LER (lesão por esforço repetitivo), DORT (distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho), lombalgia, dentre outras. “Em tais atividades, são adotadas diversas perspectivas teóricas. De modo geral, os grupos têm caráter informativo-terapêutico, valorizam o conhecimento e a subjetividade dos trabalhadores e visam à ressignificação do processo de adoecimento, além de legitimar o seu discurso, estimular a sua participação e autonomia em relação ao tratamento, o que propicia o autoconhecimento” (CREPOP, 2008, p.31). O PSICÓLOGO E A VIGILÂNCIA EM SAÚDE: Outro trabalho desenvolvido pelo psicólogo que trabalha com a saúde do trabalhador é o de vigilância com a saúde. Ele consiste em conhecer os procedimentos técnicos e científicos de algumas atividades e identificar quais podem causar mais danos aos trabalhadores. Promove, assim, um trabalho de conscientização e fiscalização, com o intuito de saber se as práticas saudáveis e de prevenção estão sendo cumpridas. Pode-se citar ainda que o psicólogo tem o dever de promover a educação desses trabalhadores, por meio de palestras, simpósios, encontros e congressos. Nesses encontros, deve esclarecer dúvidas sobre a saúde mental e física desses que desempenham atividades cotidianamente. A partir das queixas e dos dados obtidos nos seus atendimentos e encontros, o psicólogo deve publicar manuais, artigos e periódicos, dentre outros materiais científicos, com a intenção de produzir conhecimento e tornar as informações mais acessíveis à população que trabalha. ASPECTOS ÉTICOS DO PSICÓLOGO: Quanto aos aspectos éticos do psicólogo que trabalha com a saúde do trabalhador, este deve priorizar o bem-estar dos seus pacientes, denunciando organizações e instituições que não forneçam condições dignas para o funcionário exercer suas funções. Nestas denúncias, não devem ser privilegiados os interesses políticos e dos empregadores. O psicólogo deve respeitar seu código de ética e zelar pela integridade biopsicossocial dos trabalhadores. FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO: Para o psicólogo que queira ter formação e preparo para este tipo de atuação, é muito importante que procure cursos de especialização ou de extensão, reconhecidos pelo CFP, que abordem os seguintes assuntos: 1) A criação de disciplinas que tematizem adequadamente a relação subjetividade/objetividade, evitando dicotomias ou vieses que impeçam a visão adequada de como se efetiva tal relação e, sobretudo, o lugar ocupado pelo trabalho na integração sujeito/objeto; 2) O enfoque nos processos de individuação, levando sempre em conta o seu caráter histórico e processual; 3) O enfoque nas diferentes possibilidades de atuação do psicólogo do trabalho, superando a visão estreita de uma atuação restrita ao contexto das organizações empresariais; 4) A ênfase na formação interdisciplinar, possibilitando ao profissional o acesso a conhecimentos proporcionados por disciplinas afins, tais como a Ergonomia, a Sociologia, a Filosofia, a Epidemiologia Social, a Antropologia, a Saúde Coletiva, a Economia etc.; 5) A criação de instrumentos que permitam a melhor compreensão das vivências subjetivas no trabalho, conciliando a clínica com a análise da atividade (CLOT, 2006); 6) O desenvolvimento de habilidades que permitam ao profissional apreender as reais necessidades dos trabalhadores, ao assumir o compromisso com a preservação da saúde nos contextos laborais; 7) O conhecimento de políticas públicas, sobretudo aquelas voltadas para a saúde; 8) A aquisição de noções/conceitos sobre o mundo do trabalho (inserção no trabalho, relações de trabalho, processo, organização e condições); 9) A ênfase em pesquisas, "visando ao avanço da disciplina e à resposta mais adequada às demandas sociais em torno da saúde do trabalhador, propondo um psicólogo como investigador prático, e não como mero aplicador de técnicas (CREPOP, 2008, pp.45-46). Percebe-se, portanto que a formação nesta área não é tão simples como se pode pensar. Os currículos da graduação apenas oferecem um conhecimento sobre esta área de atuação, mas não preparam o aluno para se tornarem futuros profissionais capacitados para esta área. Para isso, é preciso ter conhecimento das legislações, da ética e das obrigações do psicólogo que escolhe atuar nesta área. QUEIXAS E DOENÇAS ADVINDAS DO TRABALHO: AULA 08 - A PSICOLOGIA HOSPITALAR E O ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR Inserção do psicólogo no âmbito hospitalar: Vamos iniciar esta aula com um breve histórico do cenário hospitalar no século XVII. MEADOS DO SÉCULO XVIII - Até meados do século XVIII, o psicólogo era visto no hospital como um profissional que “tratava os loucos”, focado apenas nas psicopatologias e em intervenções em pacientes psiquiátricos que apresentavam casos graves. Nesta mesma época, os hospitais eram interpretados como depósitos de insanos nas suas mais diferentes patologias. Todos aqueles que tinham um comportamento considerado desviante da norma eram inseridos nos hospitais como forma de serem excluídos da sociedade e não contaminarem os “saudáveis”. Então, eram inseridos ali leprosos junto com idosos, loucos, tuberculosos etc APÓS O SÉCULO XVIII - Após o século XVIII, o hospital passou a ser interpretado como um espaço de assistência, separação, pois cada patologia ou comportamento anormal tinha seu espaço separado. Mas por outro lado, os doentes permaneciam isolados, pois esta medida não tinha a intenção de inseri-los novamente na sociedade. Medicina e hospital, então, tinham funções diferentes. O médico não tinha seu espaço no hospital para tratar o paciente e promover-lhe a cura. Mudança de postura A mudança ocorrida no século XVIII foi tornando os hospitais superlotados, havendo a necessidade de criar uma medida que interviesse neste problema. Foi preciso então começar a mudar a postura dos profissionais neste espaço. Sobre isto, Salto (2007, p.12) afirma que: A partir do momento em que o hospital foi concebido como um instrumento de cura, e que a distribuição do espaço tornou-se terapêutica, o médico passou a ser o principal responsável pela organização do local. Aparece assim o personagem do médico de hospital. EQUIPE MULTIDISCIPLINAR: Além do médico no hospital, surgiu toda uma equipe multidisciplinar para prestar atendimento ao paciente na sua totalidade, tais como médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, entre outros. A resistência dos outros profissionais da saúde, principalmente dos médicos, para com o trabalho do psicólogo foi muito grande no começo. Não se sabe se por receio, desconhecimento ou por não acreditar nos resultados, mas isto já tem sido vencido com os grandes resultados que a Psicologia tem trazido aos hospitais. De acordo com Laloni e Fernandes (in: BAPTISTA, 2010, p.105): “na década de 1960, quando a Psicologia Clínica entrou nos hospitais, o psicólogo fazia o papel de avaliador, como provedor de serviços de psicometria, tanto em nível clínico como de pesquisa, e sua atenção era exclusivamente às doenças mentais”. Ou seja, apesar de entrar no hospital, o psicólogo ainda enfrentou muitas barreiras quanto à sua atuação neste contexto. ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA CLÍNICA NOS HOSPITAIS: A Psicologia Clínica tem uma vasta atuação no ambiente hospitalar. Ela procura, entre outras funções: 1. conscientizar pacientes quanto ao uso de cigarros e bebidas alcoólicas E SEUS RISCOS À SAÚDE; 2. ajudar o médico na identificação de doenças sem diagnóstico clínico, conhecidas como psicossomáticas; 3. fazer levantamentos sobre atendimentos no ambiente hospitalar; 4. prestar resultados para melhorar as medidas de intervenção de todos os profissionais que trabalham nesse espaço. Percebe-se, portanto, que “o psicólogo no ambiente hospitalar trabalha com o direito do ser humano que lhe foi tirado, sendo este a saúde. Ainda aborda as aceitações do paciente em relação às agressões recebidas pelo ambiente da saúde” (Salto, 2007). ANALISANDOO COMPORTAMENTO DE PACIENTES COM PATOLOGIAS FÍSICAS QUE NÃO SÃO VISTAS EM EXAMES: 1. comportamentos que, direta ou indiretamente, diminuem ou aumentam a probabilidade de contrair uma nova doença; 2. comportamentos que aumentam o risco de contrair uma doença ou de agravar um estado patológico já existente; 3. comportamentos que reduzem o risco de contrair uma doença ou ajudam no seu tratamento e podem até contribuir par a uma remissão total; 4. comportamentos que podem produzir patologias direta ou indiretamente; 5. comportamentos diretamente relacionados a uma doença são aqueles que produzem contato direto com o agente patogênico (acidentes, contato com agente infeccioso, contato agentes tóxicos) 6. comportamento indiretos são comportamentos que não produzem contato direto, mas aumentam a vulnerabilidade do organismo (abuso de automedicação, fumar, beber, dietas exageradamente restritivas ou abusivas, excesso de exercícios físicos) 7. ausência de comportamentos de autoproteção, comportamentos de redução de exposição do organismos a agentes ou contingentes. A atuação do psicólogo hospitalar não deixa de ser uma atuação da saúde, mas tem obrigações diferentes de outros espaços também voltados para o bem-estar do paciente. Castro (2004) define dois campos da psicologia (e consequentemente o tipo de atuação em cada uma delas): ASSISTENCIA INTEGRAL AO PACIENTE: Castro (2004) afirma que o objetivo da Psicologia Hospitalar é melhorar a assistência integral do paciente que se encontra hospitalizado, com controle dos sintomas que causam o mal-estar. A Psicologia Hospitalar surge com o intuito de prestar uma atenção ao paciente que se encontra na situação de doença. Ouvi-lo, ouvir sua família, comunicar-se com os outros profissionais para que as necessidades básicas sejam atendidas, são algumas das ajudas prestadas pelo psicólogo. TAREFAS DO PSICÓLOGO NO HOSPITAL: Rodriguez-Marín (2003 apud Castro, 2004, p.51) apresenta seis tarefas básicas do psicólogo que trabalha em hospital, que poderão ser entendidas a seguir: 1. Coordenação: relativa às atividades com os funcionários do hospital; 2. Ajuda à adaptação: em que o psicólogo intervém na qualidade do processo de adaptação e recuperação do paciente internado; 3. Interconsulta: atua como consultor, ajudando outros profissionais a lidarem com o paciente; 4. Enlace: intervenção, através do delineamento e execução de programas junto com outros profissionais, para modificar ou instalar comportamentos adequados dos pacientes; 5. Função assistencial direta: atua diretamente com o paciente; 6. Gestão de recursos humanos: 7. para aprimorar os serviços dos profissionais da organização. HUMANIZAÇAO NO AMBIENTE HOSPITALAR: A humanização no espaço hospitalar tem buscado trazer uma maior proximidade entre as equipes de saúde e os pacientes. Visa um atendimento de qualidade, não focando somente nas doenças, mas nas necessidades do cliente e da equipe de saúde de maneira ampla, de forma que todos se sintam assistidos com a devida atenção. De acordo com Romano (1999 apud Dias, Coloniesi, Moreira e Radomile, 2007, p.31): “Humanizar abarca uma noção de atendimento individualizado, voltado às necessidades particulares e individuais de cada sujeito envolvido neste contexto. Assim, humanizar o atendimento é estar atento e disponível às necessidades do outro, e, neste contexto, insere-se a necessidade de tornar também mais humana as condições de trabalho da equipe de saúde. Humanizar envolve mudanças importantes na cultura institucional e, como consequência, nos relacionamentos interpessoais estabelecidos dentro do hospital.” PREOCUPAÇÃO COM A MENTE DO INDIVÍDUO: O médico não deve ficar restrito apenas às teorias sobre o funcionamento do corpo humano. Ele deve preocupar-se com o funcionamento da mente e procurar entender sobre os diferentes tipos de personalidade. Várias são as pesquisas no campo da humanização hospitalar, com o intuito de tornar este ato mais constante dentro dos hospitais e comprovar que um atendimento mais voltado para as necessidades do outro traz resultados satisfatórios ao tratamento. AULA 9: A IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA NO TRATAMENTO INTERDISCIPLINAR DO CÂNCER O TEMOR DO CÂNCER: Sabe-se que o câncer assusta a maioria das pessoas. Ele nos remete à perda, morte, sofrimento e angústia. É uma doença que preocupa a Organização Mundial da Saúde quanto ao seu desencadeamento, evolução e cura. Muitos tipos de câncer ainda são incuráveis, mas boa parte da população se nega a fazer os exames periódicos por medo do diagnóstico. O que se sabe é que a Medicina tem procurando evoluir no tratamento e na prevenção da doença. Além disso, quando descoberta no começo, existem grandes probabilidades do controle ou mesmo de sua cura. TUMORES E CÂNCER: De acordo com Straub (2005, p.354), os tumores malignos, considerados cancerosos, “consistem de células renegadas que não respondem aos controles genéticos do corpo no que diz respeito a seu crescimento e divisão”. Isto significa que nem todos os tumores são considerados malignos. Para ter certeza é preciso fazer exames, tais como ressonância, ultrassonografia e biópsia, a fim de obter um dado preciso sobre a patologia. Caso seja maligno, os tratamentos podem ser por meio de quimioterapia, radioterapia ou cirurgia, dependendo do tipo do câncer. O que o câncer tem de pior é que ele envia, muitas vezes, células malignas a outras partes do corpo, propagando ainda mais a doença. Chama-se a isto de metástase. Tipos de câncer mais comuns: 1. Linfomas, são formados no sistema linfático; 2. Carcinomas, atacam as células epiteliais que recobrem as superfícies internas e externas do corpo. Eles incluem o câncer de mama, de próstata, de colo, de pulmão, de pâncreas e de pele. 3. Sarcomas, são malignidades de células de músculo, de ossos e de cartilagens 4. Leucemias, atacam os tecidos sanguíneos e formadores de sangue, como a medula óssea. FATORES DE RISCO PARA O CÂNCER: Não existem pesquisas que afirmem tais fatores. Atividade física Existem pesquisas que relatam sobre a falta de atividade física e o desenvolvimento do câncer. Segundo Vena e Cols (1995 apud Straub, 2005, p.367), “um estudo prospectivo de homens com câncer de cólon, homens com câncer retal e homens saudáveis verificou que quanto mais sedentário for o trabalho e quanto mais tempo permanecer no trabalho, maior será o risco de câncer de cólon”. O sedentarismo, a falta de atividade física e a ausência de exercícios cerebrais com atividades fora do emprego podem ajudar a desenvolver o câncer. História familiar Apesar de a hereditariedade parecer ser um fator forte para o desenvolvimento do câncer, os resultados de pesquisas apresentam que apenas 5% dessa doença são devidas ao fator herança. Já a predisposição genética é relativamente representativa para o câncer de mama. Mas Stratton, Buckley, Lowe e Ponder (1999 apud Straub, 2005, p. 368) relatam que “apenas uma pequena porcentagem de todos os casos de câncer de mama é hereditária. A vasta maioria (por volta de 95%) está ligada a uma combinação de fatores de risco genéticos e não genéticos”. PREVENÇÃO: 1. Alho: Pó, cravos e suplementos. 2. Flavonoides: Vinho tinto, uva, maçãs, tomates, pimentas vermelhas, melancia. 3. Betacatoreno: Frutas amarelas, alaranjadas e escuras, vegetais. 4. Selênio: Fígado, cogumelos, alhos e peixes. 5. Isoflavonas indol: Vagens, grãos, produtos de soja. PSICO-ONCOLOGIA: A Psico-oncologia busca abordar os pacientes com câncer e seus familiares, com a intenção de minimizar seu sofrimento, esclarecer suas dúvidas e ajudá-los a encontrar estratégias para enfrentar a angústia de estar com a doença. Costa Junior (2001) define a Psico-oncologia como “um campo interdisciplinar da saúde que estuda a influência de fatores psicológicos sobre o desenvolvimento, o tratamento e a reabilitação de pacientes com câncer”.O autor ainda apresenta como objetivos da área da Psico-oncologia “a identificação de variáveis psicossociais e contextos ambientais em que a intervenção psicológica possa auxiliar o processo de enfrentamento da doença, incluindo quaisquer situações potencialmente estressantes a que pacientes e familiares são submetidos”. (COSTA JUNIOR, 2011). A Psico-oncologia busca promover qualidade de vida por meio do enfretamento da doença, redução do estresse, controle das oscilações de humor, conscientização sobre a importância da motivação para uma resposta positiva ao tratamento do câncer. TRATAMENTO DA PESSOA COM CÂNCER: O tratamento da pessoa com câncer é um processo muito doloroso. Começa desde o momento em que se descobre a doença. No primeiro momento, o paciente nega-se a entender e enfrentar o que está acontecendo com ele e reage como se fosse uma doença qualquer. Depois vem o medo da morte e a insegurança quanto ao processo de tratamento. Quando o tratamento é por meio da quimioterapia, na maioria das vezes há perda dos cabelos, as unhas ficam fracas, há emagrecimento, perda de apetite, enjoos, tontura, dentre outros efeitos colaterais. Neste momento o paciente sente a doença tomando conta da sua mente e do seu corpo. É preciso acreditar na recuperação, lutar para viver e expor seus sentimentos, suas angústias e suas dúvidas, para que assim, os profissionais preparados para trabalhar com estes pacientes possam ajudá-los. Veja alguns dos fatores psicossociais apresentados pelos pacientes com câncer: Adaptação comportamental e ajuste emocional do paciente ao tratamento, estratégias de enfrentamento em contextos estressantes, indicadores de qualidade de vida, efeitos psicossociais do tratamento do câncer em longo prazo e modalidades de intervenção psicológica junto ao paciente e familiares ainda serão, por exemplo, alvo de estudos científicos e assunto de discussão pelos próximos anos. (COSTA JUNIOR, 2001, p.37) ATENDIMENTO AOS FAMILIARES: No processo de atendimento aos familiares do paciente terminal, é muito importante que estes tenham espaço para expor suas angústias, aflições e necessidades de falar algo ao paciente quando lhe falta coragem. O objetivo é eliminar todas as possibilidades de remorso quanto à morte do paciente, pois isto será muito mais difícil quando o luto de fato chegar. Cada pessoa reagirá ao risco de morte ou ao luto de uma maneira. Uns ficarão depressivos, outros agitados, outros apáticos. Enfim, são diversas as reações, e o psicólogo deve estar preparado para todas. É importante baixar os níveis de ansiedade decorrentes das fantasias que poderão surgir, geralmente em torno das culpas, dos deveres ou das responsabilidades. Isso nem sempre é fácil para o profissional, mas pode ser feito, estando-se atento ao discurso do familiar enlutado, pontuando onde e como ele coloca elementos a mais, do que realmente está acontecendo. PROPOSTA DA TERAPIA: A terapia neste momento não tem o objetivo de promover solução para nenhuma questão mal elaborada ao longo da vida. A proposta é apenas minimizar o sofrimento, trabalhar a culpa e ajudar os familiares a enxergarem possibilidades de vida sem a presença do ente querido. Com este pensamento, Pincus (1989, p. 230 apud SILVA, 2003, p. 6) afirma que: A segunda característica importante de toda terapia breve sobre o trabalho da perda é a forte ênfase na crise de perda. Não estamos tratando de uma doença ou tentando interferir em distúrbios de personalidade, embora seja imperativo compreender que problemas de personalidade e do seu padrão de relações foram intensificados pela crise. Eles não podem ser resolvidos numa terapia breve, mas o problema específico que cada pessoa introduz na crise da perda tem de ser apreendido pelo terapeuta e pelo próprio enlutado. ETAPAS DA TERAPIA: 1. Por meio de pesquisas e investigações sobre o atendimento aos familiares enlutados, Silva (2003, pp. 7-8) relata algumas etapas que devem ser seguidas para que o psicólogo possa proporcionar um bom suporte. 2. Acolher as fantasias dos parentes, como raivas, culpas, temores etc., aceitando sem grandes contradições no momento (até porque não se sabe ainda o quanto é fantasia e o quanto é realidade), mas também sem dar maiores reforços ao discurso 3. Falar sempre a verdade em relação ao prognóstico do paciente. 4. Descobrir a existência de alguém que possa resolver os problemas práticos da situação. Nesse momento, pessoas que não sejam tão ligadas ao paciente podem ser importantes, principalmente para dar apoio aos familiares (namorados, amigos, vizinhos, parentes distantes etc.). 5. Poupar a família do excesso de ajuda externa. Aqui o psicólogo deve controlar sua própria ansiedade no ímpeto de querer ajudar. O excesso de estímulos vindos do exterior do núcleo familiar pode ser estressante. Cada família tem sua dinâmica, tempo e forma para “digerir” seus processos. Isto deve ser respeitado. 6. Evitar a criação de fantasias de cura milagrosa (isso não significa resignação ao diagnóstico; pode- se buscar uma segunda opinião ou até outras formas de tratamento). A realidade deve ser encarada, sob pena de uma frustração maior posteriormente. 7. Incentivar a família a respeitar e vivenciar junto com o paciente o tempo que resta, respeitando seus limites e as vontades. Isto, no entanto, não significa se submeter a qualquer imposição vinda do paciente, sob o fantasma de um futuro remorso ou culpa. 8. Esclarecer aos familiares menos ligados ao paciente terminal que manifestações emocionais vindas daqueles que estão mais ligados ao paciente não devem ser entendidas como agressões pessoais. 9. É o momento de começar a contabilizar não só as perdas, mas, sobretudo, os ganhos da situação. Aqui, pode-se incentivar a família a fazer uma avaliação geral de como ela entrou, como está, e como sairá da situação. Também é o momento em que se pode realizar o encaminhamento para a psicoterapia, caso necessário. O QUE SE COSTUMA SENTIR QUANDO ESTÁ COM CÂNCER: AULA 10 - O PAPEL DO PSICÓLOGO NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES E DA OBESIDADE Os transtornos alimentares consistem em descontroles no comportamento da ingestão de alimentos, normalmente causados por uma crença distorcida acerca da imagem corporal. Atualmente, o Manual de Diagnóstico de Doenças Mentais (DSMIV) entende como transtornos alimentares a anorexia nervosa e a bulimia nervosa . Esses transtornos são ocasionados por uma distorção da própria imagem corporal e pela necessidade de obter um corpo perfeito. Este corpo é buscado, erroneamente, por meio de: • Privação de alimentos (AN); • Ingestão em grandes quantidades, acompanhados de vômitos (BN). Nesta aula, vamos abordar os principais conceitos sobre a AN e BN, os tratamentos clínicos disponíveis e esclarecimentos sobre a compulsão alimentar e a obesidade. A preocupação com os transtornos alimentares é grande, pois se eles não receberem a devida atenção, podem levar à morte. A obesidade é preocupante para a OMS, pois indivíduos obesos desenvolvem depressão. Esta condição pode causar problemas respiratórios, vasculares, cardiovasculares e levar também à morte. ANOREXIA NERVOSA: A anorexia nervosa (AN) é um transtorno alimentar em que o indivíduo passa a ingerir uma taxa muito baixa de calorias por dia, tentando alcançar o corpo perfeito que nunca obtém. Praticam ainda exercícios físicos em quantidade abusiva, podendo provocar o desmaio devido à fraqueza. As pessoas com AN sentem uma culpa enorme quando comem e têm a impressão de que engordaram muito com o alimento ingerido. De acordo com Russell (1970, apud Claudino e Borges, 2002, p.9), “diversos critérios operacionais foram propostos para a AN, a maioria deles englobando basicamente: • Comportamentos visando à perda de peso e sua manutenção abaixo do normal; • Medo de engordar; • Distúrbio de imagem corporal; • Distúrbio endócrino (ex.: amenorreia).DETECÇÃO DA ANOREXIA: Para avaliar se o paciente tem ou não anorexia, o dado mais simples seria a grande perda de peso, mas nem sempre o emagrecimento é sinônimo de anorexia. Portanto, alguns critérios de padronização foram criados, tais como: • Índice de massa corporal (IMC = peso/altura ao quadrado) abaixo de 17,5 (critério utilizado pela CID-10); • Percentual de adequação de peso inferior a 85% (critério utilizado pelo DSM-IV). A anorexia é muito perigosa e pode levar o paciente à morte. Familiares, amigos e pessoas próximas devem estar atentos às reações desses pacientes e incentivá-los a buscar um tratamento o quanto antes. TRATAMENTO DA ANOREXIA: O tratamento não tem o único intuito de trabalhar os processos mentais, mas também os processos fisiológicos, pois o paciente anoréxico não consegue ingerir alimentos e, quando ingere, muitas vezes passa mal, pois seu organismo não está acostumado. A AN envolve também uma disfunção endócrina, especialmente do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal, identificada pela amenorreia (mulheres) e perda do interesse e potência sexual (homens). Em pré- púberes, há retardo no desenvolvimento das características sexuais secundárias (Claudino e Borges, 2002, p.9). BULIMIA NERVOSA: A bulimia nervosa se difere da anorexia em relação ao comportamento. Na BN, ocorre a ingestão de alimentos em grandes quantidades, num intervalo curto de tempo e de altas calorias, seguida de arrependimento. Na tentativa de eliminar o alimento do corpo, essas pessoas provocam vômitos ou tomam laxantes. Russell (1979 apud Claudino e Borges, 2002, p.10), em artigo clássico, foi o primeiro a definir e distinguir a BN como categoria independente da AN, propondo três critérios básicos: 1. Impulso irresistível de comer excessivamente; 2. Medo mórbido de engordar; 3. Indução de vômitos e/ou abuso de purgativos na tentativa de evitar os efeitos “de engordar” da comida. PERSONALIDADE DOS PACIENTES COM NA E BN: Diante dos dois transtornos alimentares estudados, conclui-se que: Traços como obsessividade, perfeccionismo, passividade e introversão são comuns em pacientes com anorexia nervosa e permanecem estáveis mesmo após a recuperação do peso. As características de personalidade da bulimia nervosa são diferentes: • Sociabilidade; • Comportamento gregário; • Comportamentos de risco e impulsividade. (MORGAN, Vecchiatti e NEGRÃO, 2002, p. 19). OBESIDADE: A obesidade é um tipo de compulsão alimentar em que normalmente o indivíduo perde o controle sobre a quantidade de alimento ingerido, levando a um sobrepeso que ameaça sua saúde e lhe acarreta uma série de problemas fisiológicos, tais como diabetes, riscos cardiovasculares, problemas na coluna e nos joelhos, fadiga, falta de ar, entre outros. Mas nem sempre o obeso come muito mais do que um magro. Portanto, a compulsão alimentar não é a única causa da obesidade; existem os fatores biológicos, sociais e psicológicos. No que diz respeito aos fatores biológicos, pode prevalecer a hereditariedade, o descontrole hormonal e o funcionamento do cérebro. Caso a pessoa não tenha o núcleo hipotalâmico ventromedial (responsável pela saciedade da fome) funcionando de maneira equilibrada, sentirá fome constantemente. O comportamento alimentar pode ser determinado por dois fatores: Fatores sociais: Pessoas inseridas numa cultura onde é costume ingerir alimentos gordurosos e não saudáveis como fast food são mais propensas a ser obesas, como é o caso dos americanos. Fatores psicológicos: Os fatores psicológicos podem ser a ansiedade, a compulsão e a depressão, que facilitam o exagero na ingestão dos alimentos ou, às vezes, a perda de apetite. TRATAMENTO DA OBESIDADE: Os tratamentos contra a obesidade podem ser tão variados como: 1. DIETAS ASSOCIADAS À ATIVIDADE FÍSICA; 2. PILULAS PARA EMAGRECER; 3. CIRURGIAS; 4. TRATAMENTO PSICOLÓGICO. CIRURGIA BARIÁTRICA E OBESIDADE: A cirurgia bariátrica é uma das medidas para o tratamento do indivíduo obeso quando este se encontra no sobrepeso há muito tempo, com histórico de várias tentativas para emagrecer sem sucesso. Entenda como ela funciona: • Parte do estômago é grampeado, reduzindo o espaço para o alimento; • O desvio intestinal causa um aumento de hormônios que promovem a saciedade, diminuindo assim a fome. Essa somatória entre menor ingestão de alimentos e aumento da saciedade é o que leva ao emagrecimento, além de controlar o diabetes e outras doenças, como a hipertensão arterial. Para que este procedimento seja realizado, é fundamental que o paciente seja atendido por uma equipe multidisciplinar. O psicólogo, nesta equipe, tem a função de avaliar o quanto o paciente está comprometido e disponível para a cirurgia e informá-lo sobre as responsabilidades que ele deverá desenvolver no pós- cirúrgico. Esse tipo de medida mais invasiva requer um preparo psicológico muito grande. Oliveira e Yoshida (2009) ressaltam que é preciso haver uma investigação por parte do psicólogo, anteriormente à cirurgia, sobre o comprometimento deste paciente com a perda de peso após o procedimento. EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NA CIRURGIA BARIÁTRICA: O preparo para cirurgia bariátrica envolve uma equipe multidisciplinar, tais como: 1. MÉDICO: esclarece os procedimentos cirúrgicos e as possíveis complicações; 2. FISIOTERAPEUTA: explica a estimulação da musculatura do estômago e dos pulmões, antes e após a cirurgia; 3. NUTRICIONISTA: explica quais alimentos poderá ingerir e como deverão ser ingeridos; 4. PSICÓLOGO: entrevista o paciente antes da cirúrgia e o aacompanha após. MELHORA DO QUADRO EMOCIONAL: Apesar de os resultados sobre o trabalho do psicólogo, diante dos pacientes que já realizaram a cirurgia bariátrica, serem escassos, alguns apontam que: “Em relação aos indivíduos já submetidos à cirurgia, apesar de também não haver unanimidade, a maioria dos estudos indica uma melhora no quadro emocional, principalmente nos primeiros meses, se estendendo até por dois anos” (Dixon et al., 2003; Dymek et al., 2002; Malone & Mayer-Alger, 2004; Mello, 2001; Peixoto & Geloneze, 2006, apud Oliveira e Yoshida, 2009, p.13 ). Alguns pacientes se sentem deprimidos após a cirurgia, pois não conseguem mais depositar suas angústias e ansiedades na alimentação. O organismo passa a não aceitar o mesmo padrão de antes e o corpo rejeita quando é ingerida uma quantidade maior de alimento. Esta questão requer um trabalho psicológico contínuo de aceitação ao novo corpo e ao novo comportamento alimentar, fazendo com que o indivíduo consiga enxergar novos prazeres.