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11 Nathália da Costa Sousa PEDIATRIA IV INTRODUÇÃO À NEONATOLOGIA 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO À NEONATOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 2. Fisiologia fetal e transição feto-neonatal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 2.1. Desenvolvimento pulmonar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 2.2. Sistema cardiovascular fetal e transição feto-neonatal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 3. Classificação do recém-nascido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 3.1. Idade gestacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Mapa mental 1 . Métodos de avaliação clínica da idade gestacional . . . . . . . . . . 13 3.2. Avaliação do crescimento intrauterino e do peso ao nascer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Mapa mental 2 . Classificação do recém-nascido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 Bibliografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 Questões comentadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 3 INTRODUÇÃO À NEONATOLOGIA O QUE VOCÊ PRECISA SABER? u Modificações da vida intrauterina para a vida extrauterina. u Classificação do recém-nascido de acordo com o peso de nascimento, idade gestacional e adequação do peso de nascimento para idade gestacional. 1. INTRODUÇÃO Antes de começarmos a falar da Neonatologia em si, é importante que você conheça as diferentes ter- minologias utilizadas para denominar as diferentes fases desse começo de vida: u Período perinatal: da 28ª semana de gestação até o 7º dia após o nascimento. u Período neonatal: do nascimento até o 28º dia de vida. Podendo ser subdividido ainda em: W Muito precoce ou muito inicial: primeiras 24 horas de vida. W Precoce: primeiros 6 dias de vida. W Tardio: de 7 dias até 28 dias de vida. Essa subdivisão é especialmente importante quando analisamos dados epidemiológicos, como a mor- talidade infantil, por exemplo. Lembre-se de que a mortalidade infantil é calculada dividindo-se o número de óbitos em menores de 1 ano pelo número de nascidos-vivos daquela região e período e mul- tiplicando-se o resultado por 1.000. O principal componente da mortalidade infantil em países em desenvolvimento é a mortalidade pós-neonatal (de 28 a 364 dias de vida), relacionada à desnutrição e às doenças infecciosas, condições que refletem o ambiente socioeconômico. Já em países desen- volvidos a mortalidade neonatal é o componente mais importante, relacionada com situações de risco neonatal como a prematuridade e as ano- malias congênitas, além de refletir a qualidade da assistência neonatal. DIA A DIA MÉDICO Dados brasileiros de 2019 mostram que a mortalidade neonatal foi responsável por 52% dos óbitos em menores de 1 ano, sendo que a maior parte dos óbitos ocorre no primeiros dia de vida (71%), associada à prematuridade e à asfixia perinatal. Para reduzir esses números precisamos assegurar uma boa assistência pré-natal, o tratamento adequado das complicações obstétricas, instituir preco- cemente os procedimentos de reanimação neonatal e investir em tecnologia de assistência intensiva neonatal. 2. FISIOLOGIA FETAL E TRANSIÇÃO FETO-NEONATAL 2 .1 . DESENVOLVIMENTO PULMONAR BASES DA MEDICINA Os órgãos respiratórios inferiores (laringe, traqueia, brônquios e pulmões) começam a se formar durante a quarta semana de gestação. O sistema respiratório é iniciado como um crescimento mediano – o sulco importância/prevalência Introdução à neonatologia Neonatologia 4 laringotraqueal – que aparece no assoalho da extre- midade caudal da faringe primitiva. No final da quarta semana, o sulco laringotraqueal se projeta para formar o divertículo laringotraqueal (broto pulmonar) saculi- forme, que está localizado na porção ventral da região caudal do intestino anterior. O broto respiratório (broto pulmonar) logo se divide em dois – brotos brônquicos primários. Posteriormente, os brotos brônquicos secun- dários e terciários se formam e crescem lateralmente nos canais pericardioperitoneais. Juntamente com o mesoderma esplâncnico circundante, os brotos brônqui- cos se diferenciam nos brônquios e suas ramificações nos pulmões (Figura 1). Figura 1. Desenvolvimento embrionário do pulmão. Aos 26 dias de vida embrionária, o pulmão aparece primeiro como uma protrusão do intestino anterior. Aos 33 dias o broto pulmonar se ramifica e, por volta dos 37 dias, os brônquios principais futuros penetram no mesênquima. Já as vias aéreas, para os brônquios lobar e segmentar inicial, iniciam sua formação aos 42 dias de gestação. Fonte: Acervo Sanar. O desenvolvimento pulmonar pode ser dividido em 5 estágios (Quadro 1), mas é importante que você entenda que o crescimento das vias aéreas é dependente de três fatores: presença de líquido pulmonar (derivado do líquido amniótico), espaço adequado na caixa torácica (comprometido na hérnia diafragmática congênita, por exemplo) e presença de movimentos respiratórios fetais. Os primeiros estágios do desenvolvimento pulmonar são o embrionário (quando ocorre formação dos brônquios “rudimentares”) e o pseudoglandular (divisão do brônquio principal em dois). Durante o estágio canalicular (entre 16 e 26 semanas de gesta- ção) o pulmão se torna viável para a realização das trocas gasosas, com a formação dos bronquíolos respiratórios (Figura 2) e ocorre o início da forma- ção da barreira hemato-aérea. No estágio sacular aparecem os ácinos, ocorre a diferenciação epitelial em pneumócitos tipo I e II ocorre o aumento da pro- dução do surfactante. Já a alveolarização pulmonar (estágio alveolar) inicia-se na 36ª semana a partir do ducto alveolar, com surgimento progressivo dos alvéolos, aumentando o volume gasoso potencial do pulmão e a área de superfície das trocas gasosas. Sabemos que a alveolarização progride até a idade adulta, mas ela é mais intensa da 36ª semana de gestação até os primeiros meses após o parto. Alguns fatores podem interferir na alveolarização normal como a ventilação mecânica, hiperóxia, corioamnionite e a nutrição inadequada. Introdução à neonatologia 5 Quadro 1. Estágios do desenvolvimento pulmonar. Período Estágio Idade gestacional Principais eventos Embrionário 4 a 7 semanas • Diferenciação do intestino anterior • Formação do broto do intestino anterior • Formação dos brônquios principais Fetal Pseudoglandular 5 a 17 semanas • Ramificação dicotômica dos brônquios • Diferenciação entre a via aérea distal e proximal Canalicular 16 a 26 semanas • Aparecimento dos ductos alveolares e alvéolos primordiais • Início da formação da barreira hematoaérea • Início da produção de surfactante Sacular 24 a 38 semanas • Formação dos ácinos • Diferenciação das células epiteliais alveolares • Produção de surfactante em maior quantidade Pós-natal Alveolar 36 semanas até a vida adulta • Formação dos alvéolos • Deposição de elastina na matriz • Remodelamento dos capilares Fonte: Schittny1. Figura 2. Desenvolvimento das vias aéreas nos diferentes estágios. Fonte: Blaisdell et al.2 DICA Apesar do surfactante ser produ- zido já desde a 20ª semana de gestação pelospneumócitos tipo II, é apenas por volta da 35ª semana que ele está presen- te em quantidade suficiente na superfície alveolar. O surfactante pulmonar é o composto que reveste os alvéolos e tem a função de reduzir sua tensão superficial, isto é, reduzir a “força” com que as molé- culas se atraem para fechar o alvéolo ao final de cada expiração, diminuindo assim a pressão neces- sária para manter o alvéolo aberto e aumentando Introdução à neonatologia Neonatologia 6 sua estabilidade, evitando o colabamento ao final do ciclo respiratório (expiração). É composto por proteínas (10-15%) e lipídeos (85-90%), sendo apro- ximadamente 85% da porção lipídica formada por fosfolipídeos, principalmente dipalmitoil fosfatidi- lcolina. Apesar da produção do surfactante pelos pneumócitos tipo II começar entre 20 e 22 semanas de idade gestacional, apenas por volta de 35 sema- nas é que ele é produzido em boa quantidade e qualidade, com maior quantidade de fosfatidilcolina. Por causa da deficiência do surfactante é que recém- -nascidos prematuros, principalmente aqueles com idade gestacional inferior a 28 semanas, apresentam desconforto respiratório ao nascimento (desconforto este causado pela imensa dificuldade em abrir o alvéolo que tende a permanecer fechado pela defi- ciência/ausência do surfactante pulmonar). Alguns fatores podem acelerar a maturação pulmonar (isto é, antecipar a formação de surfactante), como, por exemplo, infecções crônicas, corioamnionite ou o uso materno antenatal de corticoide sistêmico. DIA A DIA MÉDICO A disfunção do surfactante é uma doença pulmonar difusa da infância que se manifesta ainda no período neonatal como uma insuficiência respiratória hipoxêmica associada à hipertensão pulmonar. Clinicamente, é muito semelhante à síndrome do desconforto respiratório (secundária à deficiência na produção do surfactante), mas pode ocorrer em recém-nascidos a termo e apresenta maior gravidade, com rápida progressão sem melhora com a reposição de surfactante exógeno. Decorre de mutações nos genes que codificam as proteínas do surfactante (proteína B ou C) ou o transportador ABCA3, que é responsável por transportar a fosfatidilcolina para dentro dos corpos lamelares dos pneumócitos tipo II. O prognóstico dessa doença é variável e tem relação com o tipo de mutação, podendo ir desde quadros rapidamente progressivos para morte até formas mais leves. 2 .2 . SISTEMA CARDIOVASCULAR FETAL E TRANSIÇÃO FETO-NEONATAL BASES DA MEDICINA Os primórdios do coração são identificados como áreas cardíacas bilateralmente simétricas, derivadas da placa mesodérmica lateral. Esses primórdios migram através da linha primitiva, entre as camadas da ectoderme e da endoderme, e se fundem cranialmente para formar uma estrutura tubular que compreende uma camada interior de endocárdio, uma camada espessa de matriz extracelular e uma camada exterior de miocárdio. Esse tubo começa a se contrair ritmicamente e cresce, originando dilatações (futuras câmaras cardíacas) e constrições (futuras divi- sórias entre as câmaras). A câmara atrial divide-se em duas câmaras pelo crescimento de uma crista a partir da parede anterodorsal, que se funde com os coxins dorsais e ventrais do endocárdio. Antes de o septo atrial primário se fechar completamente, aparecem perfurações no primeiro óstio e se aglutinam na porção dorsal do septo para formar uma única abertura: o segundo óstio (mais tarde chamado de forame oval). Posteriormente, um segundo septo atrial cresce à direita do septo primário e, em conjunto com ele, forma uma valva unidirecional entre os dois átrios. O septo ventricular resulta do crescimento e da remodelação das lâminas trabeculares, continua com a expansão das câmaras ventriculares e termina com a fusão de vários tecidos, incluindo os coxins endocárdicos e o septo muscular para formar o septo interventricular membranoso e muscular. O coração humano completa os principais processos morfogênicos oito semanas após a fertilização, e o que se segue é a conclusão da maturação das estruturas, o crescimento, o acúmulo de junções celulares nos discos intercalares, os ajustes bioquímicos e a compensação para as mudanças nos padrões de fluxo sanguíneo após o nascimento. No feto, a placenta é responsável pela oxigenação sanguínea, estando o pulmão praticamente excluído devido a sua elevada resistência vascular. A circula- ção placentária, por sua vez, representa a resistên- cia sistêmica fetal, a qual possui baixa resistência vascular. Saindo da placenta, o sangue oxigenado percorre a veia umbilical até o ducto venoso, onde é desviado para a veia cava inferior. Em seguida, o sangue adentra o átrio direito e, através da válvula de Eustáquio, é direcionado para o forame oval, que permite que o sangue rico em oxigênio chegue preferencialmente ao átrio esquerdo do feto. Este fluxo direita-esquerda é suportado justamente pela elevada resistência pulmonar fetal em comparação com a baixa resistência sistêmica (Figura 3) – lem- bre-se: o sangue sempre tende a fluir do local de alta pressão (resistência) para o de baixa pressão. Ao chegar no átrio esquerdo, o sangue mais oxigenado é ejetado para a aorta ascendente e direcionado predominantemente para o sistema nervoso cen- tral. O sangue desoxigenado flui do cérebro fetal Introdução à neonatologia 7 através da veia cava superior e drena para o átrio direito, seguindo pelo ventrículo direito e pelo tronco da artéria pulmonar. No entanto, ao tentar avançar para os pulmões (que apresentam resistência vas- cular elevada), o sangue encontra uma “válvula de escape” para a circulação sistêmica – que seria o canal arterial. Desse modo, através do canal arterial, o sangue flui para a aorta descendente, retornando pelas artérias umbilicais para a placenta, para ser oxigenado novamente (Figura 4). O canal arterial (também chamado de ducto arterioso) é, portanto, uma “ponte” entre a artéria pulmonar e a aorta descendente, através da qual o sangue venoso que retorna ao coração direito é desviado diretamente para a placenta para a reoxigenação. Figura 3. Fluxo unidirecional direita-esquerda pelo forame oval durante o período fetal. AD: átrio direito. AE: átrio esquerdo. Fonte: Acervo Sanar. Figura 4. Circulação sanguínea fetal. Fonte: Acervo Sanar. Introdução à neonatologia Neonatologia 8 Ao nascimento, a insuflação e oxigenação pulmo- nar aumentam a pressão arterial de O2 causando vasodilatação pulmonar, o que resulta em uma rápida queda da resistência vascular pulmonar. Além disso, a remoção da placenta leva ao aumento da resistência vascular sistêmica, o que permite o estabelecimento da circulação pós-natal (Figura 5). Agora, o débito do ventrículo direito flui totalmente para a artéria pulmonar, sendo oxigenado nos pul- mões e depois direcionado para o átrio esquerdo. Esse fluxo sanguíneo aumenta o volume e a pressão do átrio esquerdo de forma a fechar, inicialmente de maneira funcional, a membrana do oval que, na vida intrauterina, era responsável pelo desvio de sangue do átrio direito para o átrio esquerdo. Em alguns casos, o forame pode permanecer patente durante vários anos, geralmente sem repercussão clínica. Já o shunt, através do canal arterial, reverte e se torna da esquerda para a direita (porque agora o lado direito, representado pelos pulmões, é que apresenta menor pressão). No recém-nascido a termo o canal arterial se contrai logo após o nascimento, devido à elevação da pressão arte- rial de O2, que gera uma contração sustentada da camada muscular do canal arterial. Essa res- posta é potencializada pelo rápido declínio dos níveis de prostaglandinas, as quais são produzidas principalmente pela placenta e atuam intraútero como um potente relaxante para o músculo liso ductal, mantendo o canal arterial aberto no feto. O fechamento funcional dinâmico do canal arterial geralmente se completa nos primeiros quatro dias de vida, mas a obliteraçãoanatômica é alcançada após a primeira semana de vida, dando origem ao ligamento arterioso. Figura 5. Circulação sanguínea neonatal. Fonte: Acervo Sanar. DIA A DIA MÉDICO Em recém-nascidos prematuros, o canal arterial pode permanecer patente nas primeiras semanas de vida devido à imaturidade e hipóxia. Nesses casos, geralmente ocorre o fechamento espontâneo posterior. Já recém-nascidos a termo que persistem com o canal arterial patente fre- quentemente apresentam uma alteração estrutural do canal, com alteração nas camadas endotelial e média, raramente apresentando fechamento espontâneo. Não podemos nos esquecer também que o canal arterial pode permanecer patente em algumas cardiopatias congênitas, desempenhando um papel crítico na manutenção do fluxo sanguíneo pulmonar e sistêmico, como na atresia pulmonar e na coartação de aorta crítica. 3. CLASSIFICAÇÃO DO RECÉM-NASCIDO Ao nascimento, o recém-nascido pode ser classifi- cado, conforme Quadro 2, quanto a: u Idade gestacional; u Peso de nascimento; u Adequação do peso de nascimento para idade gestacional. Introdução à neonatologia 9 Quadro 2. Classificação do recém-nascido. Quanto à idade gestacional Recém-nascido a termo 37 semanas a 41 semanas e 6 dias Recém-nascido pós-termo ≥ 42 semanas Recém-nascido pré-termo ≤ 36 semanas e 6 dias Recém-nascido pré- termo tardio 34 semanas a 36 semanas e 6 dias Recém-nascido pré- termo moderado 32 semanas a 33 semanas e 6 dias Recém-nascido muito pré-termo 28 semanas a 31 semanas e 6 dias Recém-nascido pré- termo extremo < 28 semanas Quanto ao peso de nascimento Peso normal 2500 a 3500 g Baixo peso ao nascer 1500 a 2500 g Muito baixo peso ao nascer 1000 a 1500 g Extremo baixo peso ao nascer < 1000 g Macrossômico ≥ 4000 g Quanto à adequação do peso para idade gestacional Adequado para idade gestacional (AIG) Entre os percentis 10 e 90 Pequeno para idade gestacional (PIG) Abaixo do percentil 10 Grande para idade gestacional (GIG) Acima do percentil 90 Fonte: Elaborado pelo autor. DIA A DIA MÉDICO O peso ao nascer tem uma implicação importante na morbimortalidade. Nos Estados Unidos da América, os recém-nascidos de muito baixo peso correspondem à metade dos casos de morte neonatal e a sobrevida está diretamente relacionada ao peso de nascimento. Apenas 20% dos recém-nascidos com peso de nascimento de 500 g a 600 g sobrevivem, em comparação a 90% daque- les nascidos com peso entre 1250 g e 1500 g. Da mesma forma, o muito baixo peso também está associado a diferentes morbidades, como a síndrome do desconforto respiratório, que ocorre em 80% dos recém-nascidos com peso de nascimento entre 500 g e 750 g e em apenas 25% daqueles com peso de 1250 g a 1500 g. 3 .1 . IDADE GESTACIONAL A idade gestacional é a duração da gestação esti- mada a partir do 1º dia da última menstruação, de acordo com a regra de Naegele, que calcula a data provável do parto considerando o termo como 40 semanas completas. Se a data da última menstrua- ção for desconhecida, a idade gestacional pode ser estimada pela ultrassonografia obstétrica, sendo a forma mais fidedigna a avaliação do comprimento cabeça-nádega no 1º trimestre de gestação. A idade gestacional também pode ser estimada pelo exame clínico do recém-nascido utilizando escalas que avaliam sinais de maturidade física e neurológica. Em 1970, Dubowitz desenvolveu uma escala com 11 critérios somáticos e 10 critérios neu- rológicos utilizados para estimar a idade gestacional ao nascimento. Apesar de ter uma boa acurácia, a escala é complexa, limitando a sua aplicação na prática clínica. Por isso surgiram outras escalas clínicas, simplificadas, que contêm apenas algu- mas das características originalmente avaliadas por Dubowitz, que são os métodos de Capurro e de New Ballard, os mais utilizados entre os pediatras. 3 .1 .1 . Método de Capurro O método de Capurro somático analisa cinco carac- terísticas somáticas do recém-nascido, às quais se atribuem pontos que são somados à constante de 204 e divididos pelo número 7 (1 semana completa corresponde a 7 dias), para obter a idade gestacional aproximada em semanas (Figura 6). Já o método de Capurro somatoneurológico analisa quatro carac- terísticas somáticas (formato da orelha, glândula mamária, textura da pele e pregas plantares) e duas características neurológicas (Figura 7), também atribuindo pontos para cada uma delas, que serão somados à constante de 200 (também dividindo o valor total por 7), para obter a idade gestacional aproximada em semanas. Idealmente, o método de Capurro deve ser aplicado nas primeiras 6 horas de vida, mas não é fidedigno para recém-nascidos prematuros. Nesses casos, prefere-se o método de New Ballard. Introdução à neonatologia Neonatologia 10 Figura 6. Pontuação das características somáticas avaliadas pelo método de Capurro somático. Fonte: Acervo Sanar. Figura 7. Pontuação das características neurológicas avaliadas pelo método de Capurro somatoneurológico. Fonte: Acervo Sanar. Introdução à neonatologia 11 3 .1 .2 . Método de New Ballard O método de New Ballard é mais preciso e pode ser aplicado em até 96 horas de vida, inclusive em recém-nascidos prematuros extremos. Esse método avalia seis características somáticas (Tabela 1) e seis características neurológicas (Figura 8), atribuindo uma pontuação a cada uma delas, que pode ser, inclusive, negativa. A soma final dos pon- tos deve ser correlacionada com duas tabelas de interpretação para a obtenção da idade gestacional estimada (Tabela 2). Tabela 1. Pontuação das características somáticas avaliadas pelo método de New Ballard. Sinal Contagem −1 0 1 2 3 4 5 Pele Pegajoso, Friável, Transparente Gelatinoso, Vermelho, translúcido Veias cor de rosa, visíveis lisas Rash descascando, superficial ou poucas veias Descamação grosseira, áreas de palidez, raras veias Apergaminhada, fissuras profundas, sem vasos Coriácea fissuras profundas enrugadas Lanugo Nenhum Escasso Abundante Diluir Áreas sem pelos Praticamente ausente Superfície plantar 40−50mm: −1 <40mm: −2 > 50 mm, pouco perceptível Marcas tênues Marcas na superfície anterior Marcas nos 2/3 anteriores Marcas cobre toda a superfície plantar Peito Imperceptível Pouco perceptível Aréola lisa sem glândula Aréola parcialmente elevada, glândula 1−2 mm Aréola elevada, glândula 3−4 mm Borda elevada, glândula 5−10 mm Olho/ orelha Pálpebras ocluídas: levemente: −1 firmemente: −2 Pálpebras abertas, pavilhão auricular plano e dobrado Pavilhão auricular parcialmente encurvado, mole com recolhimento lento Pavilhão auricular completamente encurvado, mole com recolhimento rápido Pavilhão auricular completamente encurvado, firme com recolhimento instantâneo Cartilagem grossa com orelha firme Genital (mas- culino) Escroto plano, liso Testículo fora da bolsa escrotal, sem rugas Testículo no canal superior, rugas raras Testículo descendo, poucas rugas Testículo na bolsa escrotal, rugas bem visíveis Bolsa escrotal em pêndulo, rugas profundas Genital (feminino) Clitóris proeminente, lábios planos Clitóris proeminentes, lábios menores pequenos Clitóris proeminentes, pequenos lábios evidentes Lábios menores e maiores igualmente proeminentes Lábios maiores grandes e menores pequenos Lábios maiores recobrem o clitóris e lábios menores Fonte: Margotto3. Introdução à neonatologia Neonatologia 12 Figura 8. Pontuação das características neurológicas avaliadas pelo método de New Ballard. Fonte: Acervo Sanar. Tabela 2. Idade gestacional estimada pelo método de New Ballard. Pontuação Idade gestacional – 10 20 semanas – 5 22 semanas 0 24 semanas 5 26 semanas 10 28 semanas 15 30 semanas 20 32 semanas 25 34 semanas 30 36 semanas 35 38 semanas 40 40 semanas 45 42 semanas 50 44 semanas Fonte: Margotto3. Introdução à neonatologia13 Mapa mental 1. Métodos de avaliação clínica da idade gestacional Capurro somático Maturidade física Maturidade neuromuscular Postura Janela quadrada Retração do braço Ângulo poplíteo Sinal do cachecol Manobra calcanhar- orelha Olhos/orelhas Glândula mamária Genitália Pele Lanugo Pregas plantares Posição da cabeça ao levantar o RN Sinal do cachecol Orelha Glândula mamária Pele Mamilo Pregas plantares Método de Capurro Método de New Ballard Glândula mamária Orelha Pregas plantares Pele Capurro somatoneurológico Introdução à neonatologia Neonatologia 14 3 .2 . AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO INTRAUTERINO E DO PESO AO NASCER O crescimento intrauterino é considerado adequado quando o peso para determinada idade gestacional se situa entre os percentis 10 e 90 da curva utilizada. Dois tipos de curvas de crescimento podem ser uti- lizados, as curvas de referência e as curvas padrão, construídas a partir do crescimento intrauterino e/ ou pós-natal. As curvas de referência apenas des- crevem o crescimento de uma amostra de crianças, sem caracterizar o que seria o normal. Como exem- plo, temos as curvas de Fenton, construídas em 2013 a partir de uma revisão sistemática e metanálise de valores de peso, perímetro cefálico e comprimento de recém-nascidos de países desenvolvidos (Figuras 9 e 10). Já as curvas padrão indicam o padrão de crescimento normal de uma população e, portanto, um modelo a ser seguido. Como exemplo, temos as curvas do Intergrowth 21st, um projeto multicêntrico internacional que produziu curvas longitudinais de crescimento de recém-nascidos prematuros a partir de 27 semanas avaliados por ultrassonografia e após o nascimento. Atualmente, as curvas mais utilizadas para avaliação do crescimento intraútero e pós-natal, principalmente em recém-nascidos pré-termo, são as curvas do Intergrowth 21st, que podem ser obtidas no site: https://intergrowth21. tghn.org/articles/new--intergrowth-21st-internatio- nal-postnatal-growth-standards-charts-available. Figura 9. Curva de Fenton para meninas. Fonte: Fenton Preterm Growth Charts4. Introdução à neonatologia 15 Figura 10. Curva de Fenton para meninos. Fonte: Fenton Preterm Growth Charts4. Considera-se restrição do crescimento intrauterino quando o feto se afasta do crescimento intrauterino esperado para sua idade gestacional, decorrente de um processo patológico intrauterino que pode ser materno, placentário ou fetal. O recém-nascido com restrição do crescimento intrauterino apresenta uma morbidade elevada, com maior risco de asfixia perinatal, desordens metabólicas e hipotermia, por exemplo. A restrição do crescimento intrauterino pode ser classificada em dois tipos, de acordo com o momento em que ocorreu o agravo: u Simétrico: quando a patologia atua sobre o feto desde o início da gravidez, comprometendo por completo o crescimento fetal (peso, comprimen- to e perímetro cefálico). Como exemplo temos as anomalias cromossômicas e as infecções congênitas. Introdução à neonatologia Neonatologia 16 u Assimétrico: quando a patologia é mais tardia, ocorrendo, em geral, no 3º trimestre de gesta- ção, fase em que o feto deveria estar ganhando peso. Nesses casos, ocorre comprometimento principalmente do peso, com preservação do perímetro cefálico e do comprimento. Como exemplo temos as doenças que causam insufi- ciência placentária, como a doença hipertensiva específica da gravidez. DIA A DIA MÉDICO O parto prematuro de recém-nascidos cujo peso de nasci- mento está adequado à idade gestacional está associado a condições clínicas caracterizadas pela incapacidade do útero em reter o feto, como ruptura prematura de mem- branas ovulares, descolamento prematuro de placenta e gestação múltipla. No entanto, o parto prematuro também pode ocorrer porque o útero se tornou um ambiente ina- dequado, com privação nutricional e de oxigênio, dando origem a um recém-nascido que, além de ser prematuro, também apresenta restrição do crescimento intrauterino. Introdução à neonatologia 17 Mapa mental 2. Classificação do recém-nascido Classificação do recém-nascido Idade gestacional Adequação do peso para idade gestacional Curvas de Fenton ou do Intergrowth 21st AIG: entre p10 e p90 Termo: 37 semanas a 41 semanas e 6 dias Pós-termo: ≥ 42 semanas Pré-termo: < 37 semanas Peso de nascimento Normal: 2500 g a 3500g Baixo peso: 1500 g a 2500g Muito baixo peso: 1000 g a 1500g Extremo baixo peso: < 1000 g Macrossômico: ≥ 4000 g PIG: < p10 GIG: > p90 Pré-termo tardio: 34 semanas e 36 semanas e 6 dias Pré-termo moderado: 32 semanas a 33 semanas e 6 dias Muito pré-termo: 28 semanas a 31 semanas e 6 dias Pré-termo extremo: < 28 semanas AIG: adequado para idade gestacional. PIG: pequeno para idade gestacional. GIG: grande para idade gestacional. Introdução à neonatologia Neonatologia 18 REFERÊNCIAS 1. Schittny JC. Development of the lung. Cell Tissue Res. 2017;367:427-44. 2. Blaisdell CJ, Gail DB, Nabel EG. National Heart, Lung, and Blood Institute perspective: lung progenitor and stem cells-gaps in knowledge and future opportunities. Stem Cells. 2009 Sep;27(9):2263-70. DOI: 10.1002/stem.148. PMID: 19522010; PMCID: PMC2962803. 3. Margotto PR. Avaliação da idade gestacional pelo método novo de Ballard (new Ballard score (NBS)). [s.d.] [citado em 19 jul. 2022]. DocPlayer [Internet]. [S.l.]: DocPlayer; 2022. Disponível em: https://docplayer.com.br/24678076-Ava- liacao-da-idade-gestacional-pelo-metodo-novo-de-ballar- d-new-ballard-score-nbs-paulo-r-margotto-chefe-da-uni- dade-de-neonatologia-hras.html. 4. Fenton Preterm Growth Charts [Internet]. 2022 [citado em 19 jul. 2022]. Calgary: University of Calgary; 2022. Disponível em: https://ucalgary.ca/resource/preterm-gro- wth-chart/preterm-growth-chart. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA Kliegman RM, Behrman RE, Jenson HB. Nelson. Tratado de Pediatria. 20. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2018. Martin RJ, Fanaroff AA, Walsh MC. Fanaroff e Martin Medicina Neonatal e Perinatal: doenças do feto e do neonato. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2017. Ministério da Saúde (BR), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Manual AIDPI Neonatal. 3. ed. Brasília: Minis- tério da Saúde; 2012. Postnatal Growth of Preterm Infants. 2022 [citado em 19 jul. 2022]. In: The Global Health Network. Intergrowth-21st [Internet]. [S.l.]: The Global Health Network; 2022. Disponível em: https://intergrowth21.tghn.org/postnatal-growth-pre- term-infants/. Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Departamento Cientí- fico de Neonatologia. Documento científico: Monitoramento do crescimento de RN pré-termos. Rio de Janeiro: SBP; fev. 2017. Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Departamento Cien- tífico de Neonatologia. Documento científico: Prevenção da prematuridade – uma intervenção da gestão e da assistência. Rio de Janeiro: SBP; nov. 2017. Introdução à neonatologia 19 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP – 2022) Você está diante de um recém-nascido a termo que acabou de nascer de parto vaginal sem intercorrências. Esse bebê apresenta choro vigoroso e, com cerca de 2 minutos, o obstetra realiza o clampeamento do cor- dão umbilical. Assinale a alternativa com a melhor descrição das alterações cardiorrespiratórias que estão ocorrendo nesse momento. ⮦ O clampeamento do cordão aumenta o shunt di- reito esquerdo pelo canal arterial e forame oval. ⮧ O clampeamento do cordão aumenta o retorno venoso para as câmaras esquerdas. ⮨ O choro vigoroso auxilia na reabsorção do líquido pulmonar e faz com que a resistência vascular pulmonar diminua. ⮩ O choro vigoroso mantém o forame oval aberto para garantir o débito do ventrículo esquerdo. Questão 2 (PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – AL – 2020) Menino, 8 meses de idade, é levado à consulta de puericultura na UBS, para iniciar acompanhamento. Foi amamentado exclusivamente com leite materno até os5 me- ses de idade. Atualmente usa leite integral de vaca e outros alimentos introduzidos na mesma época. A caderneta da criança demonstra que nasceu com idade gestacional de 37 semanas e 3 dias; Apgar 7 e 9; sem intercorrências; Peso: 2.980 g; Comprimento: 49 cm. Não há registro de dados antropométricos posteriores. Os Testes de Triagem Neonatal não apresentaram alterações. Ao exame físico, ativo, hidra- tado, bom estado geral, mucosas hipocoradas +/4. Há 2 dentes incisivos inferiores e os superiores em processo de eclosão. Auscultas cardíaca e pulmonar sem anormalidades. Sem alterações em abdome, em genitália e em extremidades. No momento, Peso: 6.030 g; Comprimento 69 cm. Considerando os grá- ficos antropométricos, adotados pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde, informe a classificação dessa criança quanto ao Peso e Comprimento no nascimento: Introdução à neonatologia Neonatologia 20 ⮦ Ambos adequados para a idade gestacional. ⮧ Ambos inadequados para a idade gestacional. ⮨ Peso adequado e comprimento inferior ao esperado para a idade gestacional. ⮩ Peso inferior ao esperado e comprimento adequado para a idade gestacional. Introdução à neonatologia 21 Questão 3 (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE LIMEIRA – SP – 2020) Criança nasceu com 34 semanas de gestação, com peso de 2.750 g e comprimento de 47 cm. De acordo com as curvas Intergrowth, o peso ao nascer é posicio- nado entre P90-P95. O diagnóstico dessa criança é: ⮦ Grande para Idade Gestacional. ⮧ Adequado para Idade Gestacional. ⮨ Baixo Peso ao Nascer. ⮩ Peso Adequado ao Nascer. Questão 4 (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE RIBEIRÃO PRETO – SP – 2020) Menina nasceu com 36 semanas de gestação, Peso 3.400 g. Estatura 49,5 cm; Perímetro cefálico (PC) 35 cm. Curva de crescimento intrauterino no percentil 90-97. Aos 3 meses de idade, sem anormalidades ao exame físico, apresenta Peso 7.200 g (Percen- til:81); Estatura: 63,5 cm (Percentil:78); PC: 41 cm (Percentil 62); IMC: 17,9 kg/m2 (Percentil:73). Quais os diagnósticos dessa criança? ⮦ Prematuridade; Adequado para Idade Gestacio- nal; Eutrofia. ⮧ Prematuridade; Grande para Idade Gestacional; Sobrepeso. ⮨ Prematuridade; Grande para Idade Gestacional; Eutrofia. ⮩ Prematuridade; Adequado para Idade Gestacio- nal; Sobrepeso. Questão 5 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE – PB – 2020) Re- cém-nascido de parto cesárea de urgência devido a descolamento prematuro de placenta na 24ª se- mana de gestação pesando 840 g (peso acima do percentil 10 na curva de Lubchenco) é classificado corretamente como: ⮦ RNPT AIG baixo peso. ⮧ RNPT PIG muito baixo peso. ⮨ RNPT PIG extremo baixo peso. ⮩ RNPT AIG extremo baixo peso. ⮪ RNPT GIG baixo peso. Questão 6 (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – RJ – 2020) Duran- te a vida fetal, o sangue arterial pulmonar se comu- nica através de shunt direita-esquerda com a aorta: ⮦ Pelo forame oval. ⮧ Pelo ducto arterioso. ⮨ Pela comunicação interatrial. ⮩ Pela comunicação interventricular. Questão 7 (HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP – 2018) A classifi- cação de um recém-nascido com idade gestacional de 36 semanas e 4/7, com peso abaixo do percentil 3, e altura e perímetro cefálico no percentil 50 das curvas de referência, é: ⮦ Termo, pequeno para a idade gestacional, do tipo proporcionado. ⮧ Pré-termo, pequeno para a idade gestacional, do tipo desproporcionado. ⮨ Pré-termo, adequado para a idade gestacional, do tipo desproporcionado. ⮩ Termo, pequeno para a idade gestacional, do tipo desproporcionado. ⮪ Termo, adequado para a idade gestacional, do tipo proporcionado. Questão 8 (SECRETARIA MUNICIPAL DE ADMINISTRAÇÃO DE VOLTA RE- DONDA – RJ – 2017) Assinale a alternativa correta so- bre os recém-nascidos (RN) pequenos para idade gestacional (PIG): ⮦ São classificados aqueles que têm peso de nas- cimento inferior a 2.500 gramas. ⮧ São classicamente definidos como tendo um peso ao nascer acima de dois desvios-padrão abaixo da média ou abaixo do percentil 10 de uma população específica, quando relacionados o peso ao nascer e a idade gestacional. ⮨ São todos os RN que têm idade gestacional calculada pelo método New Ballard ou Capurro inferior a 37 semanas. Introdução à neonatologia Neonatologia 22 ⮩ São sempre resultado de um crescimento anor- mal, não fazendo parte desse grupo as crianças constitucionalmente pequenas, mas normais, cujos pais ou parentes mais distantes são pe- quenos. ⮪ Os RN PIG podem ser classificados como tendo retardo de crescimento intrauterino simétrico ou assimétrico. A restrição assimétrica do cresci- mento desenvolve-se precocemente durante a vida intrauterina, enquanto a restrição simétrica indica que houve um prejuízo no crescimento a partir do terceiro trimestre de gestação. Questão 9 (SELEÇÃO UNIFICADA PARA RES. MED. ESTADO DO CEARÁ – CE – 2012) Que características físicas somatoneurológicas são avaliadas pelo método de Capurro? ⮦ Postura, sinal do xale, sulcos plantares, mamas, genitália, pele, olhos e orelhas. ⮧ Opacidade da pele, edema, lanugem, genitália, reflexos primários, postura, flexão do punho. ⮨ Cor da pele, glândula mamária, ângulo cérvico torácico, suspensão ventral, manobra calcanhar- -orelha, retração de braços, ângulo do punho. ⮩ Textura da pele, pregas plantares, formação do mamilo, glândulas mamárias e formato da orelha, sinal do cachecol, posição da cabeça ao levantar o recém-nascido. Questão 10 (HOSPITAL DA POLÍCIA MILITAR – MG – 2010) Em relação à fisiologia da circulação fetal, é correto afirmar: ⮦ O átrio esquerdo não recebe sangue oxigenado, pois não existe oxigenação proveniente dos pul- mões do feto. ⮧ O ventrículo direito possui comunicação fisioló- gica com o ventrículo esquerdo. Essa comunica- ção recebe o nome de forame oval e irá fechar-se após o nascimento. ⮨ No feto, como no adulto, não existe comunicação entre a Aorta e a Artéria Pulmonar. ⮩ O átrio esquerdo recebe grande quantidade de sangue oxigenado. Esse sangue chega ao cora- ção através da veia cava inferior e atinge o átrio esquerdo através do forame oval. Introdução à neonatologia 23 GABARITO E COMENTÁRIOS Questão 1 dificuldade: Y Dica do professor: Questão que cobra puramente a fisiologia da transição cardiovascular do período fetal para neonatal. Alternativa A: INCORRETA. O clampeamento do cor- dão umbilical faz com que haja aumento da resis- tência vascular sistêmica (aumento da pressão no coração esquerdo) e, concomitantemente, o choro e a aeração pulmonar provocam redução da resis- tência vascular pulmonar (diminuição da pressão no coração direito. Portanto, o que ocorre é justa- mente o oposto, o clampeamento do cordão levará à REDUÇÃO do shunt direita-esquerda, visto que o sangue tende a “fugir” de áreas com alta resistên- cia/pressão. Alternativa B: INCORRETA. Na verdade, o que aumenta o retorno venoso para as câmaras esquerdas não é o clampeamento do cordão e a redução da pres- são pulmonar. Alternativa C: CORRETA. Ao chorar após o nascimen- to, o RN enche o pulmão de ar pela primeira vez, aumentando a concentração arterial de oxigênio (PaO2) e óxido nítrico, que é também um vasodila- tador dos vasos pulmonares, gerando assim queda da resistência vascular pulmonar (a qual era bastan- te elevada no período intrauterino) e estimulando a reabsorção do líquido pulmonar. Alternativa D: INCORRETA. O choro vigoroso faz com que ocorra aeração pulmonar e, consequentemente, redução da pressão pulmonar, que diminui o shunt direita-esquerda pelo forame oval, favorecendo seu fechamento. ✔ resposta: ⮨ Questão 2 dificuldade: Y Dica do professor: A avaliação física do recém-nas- cido é geralmente realizada dentro das primeiras 24 horas de vida e consiste em: avaliação da aparência do bebê em relação à posição do corpo em repouso, cor, esforço respiratório, movimentos corporais; a realização de medidas corporais; exame dos órgãos e partes individuais do corpo. As medidascorporais dizem respeito a aferição do peso, comprimento e perímetro cefálico, as quais vão ser em seguida plotadas em curvas de crescimento padrão para determinar o percentil de acordo com a idade ges- tacional em adequado, superior ou inferior, possi- bilitando assim avaliar como se deu o crescimen- to intrauterino desse RN. No caso em questão, ao analisar de acordo com o gráfico fornecido, nosso paciente nasceu com um peso entre o escore Z 0 a +1 e com o comprimento ao nascimento dentro do intervalo de 0 a +1, sendo ambos considerados medidas adequadas para a idade gestacional. ✔ resposta: ⮦ Questão 3 dificuldade: Y Dica do professor: Questão tranquila, que aborda um tema frequentemente perguntado em prova: a classificação do recém-nascido conforme o peso e idade gestacional. Relembrando a classificação do peso de acordo com a idade gestacional (IG): AIG: peso adequado para a idade gestacional (entre p10 e p90). PIG: pequeno para a idade gestacional (<p10). GIG: grande para a idade gestacional (>p90). Em relação ao peso ao nascer, temos: Peso adequado: 2.500-3.500 g. Introdução à neonatologia Neonatologia 24 Baixo peso: 1.500-2.500 g. Muito baixo peso: 1000-1500g Extremo baixo peso: <1.000 g. A questão cita um RN com peso entre os percentis 90 e 95: isto é, GIG. Repare que ser GIG é diferente de ser macrossômico (maior que 4 kg), pois é uma correlação com a idade gestacional e o peso espe- rado para ela. ✔ resposta: ⮦ Questão 4 dificuldade: Y Dica do professor: Ao nascimento podemos clas- sificar o recém-nascido com relação a: idade ges- tacional, peso de nascimento e adequação do peso para idade gestacional. O recém-nascido é consi- derado termo se entre 37 e 41 semanas e 6 dias, pré-termo se abaixo de 37 semanas e pós-termo a partir de 42 semanas. Já com relação ao peso ao nascer, temos: peso adequado de 2.500 a 3.500 g, baixo peso de 1.500 a 2.500 g, muito baixo peso de 1000 a 1.500 g e extremo baixo peso se inferior a 1.000 g. Nota-se que a criança foi prematura com peso adequado e, quando classificada na curva da adequação do peso para idade gestacional si- tuou-se entre os percentis 90 e 97, equivalentes ao grande para idade gestacional (GIG). O recém-nas- cido é considerado pequeno para idade gestacio- nal (PIG) se abaixo do percentil 10 e adequado para idade gestacional (AIG) se entre os percentis 10 e 90. Agora, aos 3 meses de vida a criança tem IMC no percentil 73, classificando-se como eutrofia (de p3/p5 até p85). ✔ resposta: ⮨ Questão 5 dificuldade: Y Dica do professor: Qualquer dos métodos usados para obter a idade gestacional permite classificar os RN em: • Prematuros: idade gestacional inferior a 37 semanas. • A termo: idade gestacional entre 37 e 41 sema- nas e 6 dias. • Pós-termo: idade gestacional igual ou maior que 42 semanas. Quando associamos o peso à idade gestacional, o RN é classificado segundo o seu crescimento em peso intrauterino: • RN grande para a idade gestacional: peso acima do percentil 90 - GIG. • RN adequado para a idade gestacional: peso entre o percentil 10 e 90 - AIG. • RN pequeno para a idade gestacional: peso abaixo do percentil 10 - PIG. No que diz respeito ao peso, o RN que nasce com peso abaixo de 1.000 g é classificado como recém- -nascido extremo baixo peso; os que nascem com peso de 1.000 g a 1.449 g são classificados como recém-nascidos de muito baixo peso e os recém- -nascidos com 1.500 g à 2.500 g são classificados como recém-nascidos de baixo peso. Alternativa A: INCORRETA. Peso de nascimento me- nos que 1.000 g - extremo baixo peso. Alternativa B: INCORRETA. Peso está acima do p10 para IG - AIG. Além disso, com relação ao peso, ele é extremo baixo peso porque peso é < 1.000 g. Alternativa C: INCORRETA. Peso está acima do p10 para IG – AIG. Alternativa D: CORRETA. RN prematuro, peso no per- centil maior que 10 - adequado para idade gestacio- nal e peso menor que 1.000 g, extremo baixo peso. Alternativa E: INCORRETA. GIG é quando o peso está acima do p90 para IG. ✔ resposta: ⮩ Questão 6 dificuldade: Y Dica do professor: Existem três estruturas vascu- lares importantes na transição da circulação fetal para a neonatal: ducto venoso, forame oval e duc- to arterial. Na circulação fetal o sangue oxigenado chega da placenta através da veia umbilical. Ao se aproximar do fígado o sangue passa diretamente para o ducto venoso, um vaso fetal que comunica a veia umbilical com a veia cava inferior. Percorrendo a veia cava inferior, o sangue chega no átrio direito e é direcionado através do forame oval para o átrio esquerdo. Assim, neste compartimento o sangue com alto teor de oxigênio vindo da veia cava se mistura com o sangue pouco oxigenado vindo das Introdução à neonatologia 25 veias pulmonares, já que os pulmões extraem oxi- gênio e não o fornece. O ducto arterial, ao desviar o sangue da artéria pulmonar para a artéria aorta, protege os pulmões da sobrecarga e permite que o ventrículo direito se fortaleça para a sua total ca- pacidade funcional ao nascimento. Alternativa A: INCORRETA. Através do forame oval ocorre comunicação do sangue do átrio direito para o átrio esquerdo. Alternativa B: CORRETA. Através do ducto arterial ocorre desvio do sangue da artéria pulmonar para a aorta. Alternativa C: INCORRETA. A comunicação interatrial é o forame oval. Alternativa D: INCORRETA. A comunicação interven- tricular comunica sangue do ventrículo direito com o esquerdo. ✔ resposta: ⮧ Questão 7 dificuldade: Y Dica do professor: Os recém-nascidos podem ser classificados com relação à idade gestacional, ao peso de nascimento a à adequação do peso para idade gestacional. Com relação à classificação do recém-nascido quanto à idade gestacional, temos: a) pré-termo: menores de 37 semanas (pré-termo extremo sendo inferior a 28 semanas e pré-termo tardio entre 34 e 36 semanas e 6 dias); b) termo: entre 37 e 41 semanas e 6 dias; c) pós-termo: nas- cido com 42 semanas ou mais. Em relação ao peso de nascimento, temos: a) baixo peso: entre 1.500 e 2.500 gramas; b) muito baixo peso: entre 1.500 e 1.000 gramas e c) extremo baixo peso: abaixo de 1.000 gramas. Para classificar quanto à adequação do peso para idade gestacional devem-se utilizar as curvas de Fenton ou do Intergrowth, sendo: a) peso adequado para a idade: peso entre os percentis 10 e 90; b) peso pequeno para a idade gestacional (PIG): abaixo do percentil 10; c) peso grande para a idade gestacional (GIG): acima do percentil 90. Os recém-nascidos pequenos para idade gestacio- nal apresentam o que chamamos de restrição do crescimento intrauterino (RCIU), decorrente de um processo patológico que pode ser materno, placen- tário ou fetal. O PIG pode ser classificado em dois tipos de acordo com os aspectos clínicos do RN e o provável momento em que o agravo ocorreu: a) simétrico ou proporcionado: quando o agravo ocor- re desde o início da gestação, comprometendo por completo o crescimento fetal (peso, comprimento e perímetro cefálico), como ocorre nas anomalias cromossômicas e nas infecções congênitas; b) as- simétrico ou desproporcionado: quando o agravo ocorre no final da gestação (como nas doenças que causam insuficiência placentária, como DHEG) com comprometimento do peso mas preservação do perímetro cefálico e do crescimento. Note que a questão traz um recém-nascido de 36 semanas e 4/7, portanto pré-termo tardio, que apresenta peso abaixo do percentil 3, portanto pequeno para idade gestacional (PIG), mas altura e perímetro cefálico no percentil 50, o que caracteriza o PIG despropor- cionado ou assimétrico. ✔ resposta: ⮧ Questão 8 dificuldade: Y Dica do professor: Questão que aborda diversos aspectos da classificação do recém-nascido quanto a idade gestacional, peso de nascimento e adequa- ção da idade gestacional para o peso de nascimen- to. Vamos às alternativas: Alternativa A: INCORRETA. Recém-nascidos com peso inferior a 2.500 g são consideradosbaixo peso. Alternativa B: CORRETA. O RN PIG é aquele que apre- senta peso ao nascer inferior a dois desvios-padrão abaixo da média ou inferior ao percentil 10 para a sua idade gestacional. Alternativa C: INCORRETA. O RN nascido com idade gestacional abaixo de 37 semanas é considerado RN pré-termo. Alternativa D: INCORRETA. Importante lembrar que o crescimento do feto intrauterino é dependente da nutrição, apesar de sabermos que também pode haver componente genético. Alternativa E: INCORRETA. A restrição simétrica é aquela que se desenvolve desde o início da vida intrauterina, comprometendo de forma equivalente o peso, o comprimento e o perímetro cefálico. Já na restrição assimétrica o agravo ocorre apenas no 3º trimestre de gestação, quando há predomínio Introdução à neonatologia Neonatologia 26 do ganho ponderal, ocorrendo comprometimento apenas do peso. ✔ resposta: ⮧ Questão 9 dificuldade: Y Dica do professor: A idade gestacional pode ser estimada pelo exame clínico do recém-nascido uti- lizando escalas que avaliam sinais de maturidade física e neurológica, os dois métodos mais usa- dos pelos pediatras são os métodos de Capurro e de New Ballard. No método do Capurro somático, avaliamos os aspectos físicos da criança: forma da orelha, textura da pele, glândula mamária, for- mação do mamilo e pregas plantares. Na avaliação pelo Capurro somatoneurológico, avaliam-se ape- nas quatro características somáticas (formato da orelha, glândula mamária, textura da pele e pregas plantares) associadas a duas características neu- rológicas (sinal do xale ou do cachecol e a posição da cabeça ao levantar o recém-nascido). São atri- buídos pontos a cada uma dessas características, que são posteriormente somados à uma constante (204 se Capurro somático e 200 se Capurro soma- toneurológico) e divididos por 7 para obter a idade gestacional aproximada em semanas. Idealmente, o método de Capurro deve ser aplicado nas primei- ras 6 horas de vida, mas ele não é fidedigno para recém-nascidos prematuros. Nesses casos, prefe- re-se o método de New Ballard. ✔ resposta: ⮩ Questão 10 dificuldade: Y Dica do professor: questão que aborda aspectos importantes da circulação sanguínea fetal, vamos analisar as alternativas: Alternativa A: INCORRETA. O feto recebe o sangue oxigenado da placenta pela veia umbilical. Esse sangue oxigenado chega à cava inferior e deságua no átrio direito, indo, preferencialmente, para o átrio esquerdo pelo forame oval. Esse sangue oxigena- do é então transferido para o ventrículo esquerdo, que encaminha para a aorta para irrigar preferen- cialmente o sistema nervoso central. Alternativa B: INCORRETA. O forame oval é um orifí- cio que interliga os dois átrios, e não os ventrículos, como descrito na alternativa. Alternativa C: INCORRETA. Na circulação fetal, o san- gue proveniente da cava superior segue, preferencial- mente, para o ventrículo direito, de onde é ejetado para a artéria pulmonar. A maior parte do sangue que chega à artéria pulmonar é desviada para a aorta, pelo canal arterial. Além disso, no adulto, não esperamos que exista essa ligação entre as artérias citadas. Alternativa D: CORRETA. Conforme comentário da alternativa A. ✔ resposta ⮩ Introdução à neonatologia 1. �Introdução 2. �Fisiologia fetal e transição feto-neonatal 2.1. �Desenvolvimento pulmonar 2.2. �Sistema cardiovascular fetal e transição feto-neonatal 3. �Classificação do recém-nascido 3.1. �Idade gestacional Mapa mental 1. Métodos de avaliação clínica da idade gestacional 3.2. �Avaliação do crescimento intrauterino e do peso ao nascer Mapa mental 2. Classificação do recém-nascido Referências Bibliografia consultada Questões comentadas