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Psicologia Judiciária Aula 2 - Psicologia e Direito. Teorias em Psicologia: uma visão abrangente INTRODUÇÃO Nesta aula, lembraremos uma das possíveis de�nições de Psicologia que pode ser entendida como “o estudo do comportamento humano e dos processos mentais a ele associados, com o objetivo de entender por que as pessoas pensam, sentem e agem da maneira que o fazem” (MYERS,1999, p.4). O comportamento seria aquilo que caracteriza as nossas ações, como falar, andar, escrever, ler, entre outras. Os processos mentais seriam experiências internas, como sentimentos, pensamentos, lembranças, afetos, desejos e sonhos. A Psicologia tem se preocupado em manter um status de cienti�cidade, estabelecendo grande importância para as evidências empíricas, a partir de um pensamento crítico e inovador. É habitual nos referirmos a diversas áreas da Psicologia, mas a Ciência Psicológica é uma só, possuindo várias abordagens e com expressão através de diferentes linguagens. Essas abordagens vão constituir o que chamamos de Teorias da Psicologia. As principais teorias da Psicologia serão apresentadas, selecionando aquelas abordagens que, em geral, podem contribuir para um papel e�caz do mediador. As questões abordadas por meio do estudo dessas áreas serão destacadas, enfatizando os seus pontos de encontros e a transversalidade que faz parte das relações entre os diferentes conhecimentos. Analisaremos as Teorias da Psicologia em função de como os seus autores e seguidores entendem o comportamento humano quanto aos fatores que os originam, mantêm e modi�cam, sem levar em conta a organização histórica que marcou cada estudo. OBJETIVOS Identi�car as relações estabelecidas entre a Psicologia e o Direito. Analisar as teorias em Psicologia. Relacionar as diferentes abordagens teóricas. PSICOLOGIA E DIREITO Como foi possível perceber, a Psicologia tem um longo passado, mas uma curta história. É uma disciplina jovem, que possui muitas abordagens, diferentes línguas, com divergentes compreensões entre suas escolas e referenciais teóricos. No entanto, apesar das particularidades da Psicologia, ela e o Direito possuem um destino comum: o comportamento humano. magic pictures / Shutterstock, IhorZigor / Shutterstock e Vlada Young / Shutterstock Atenção , É importante compreender que o comportamento humano é um objeto de estudo apropriado por vários saberes ao mesmo tempo, a partir de diferentes perspectivas, sem que esses saberes se esgotem, pois todos convergem para a pessoa e, de certa forma, se complementam e são transversais. Não há uma hierarquia entre os saberes. É preciso interligar os conhecimentos e fazer conexões, não esquecendo que a ciência na Pós-modernidade se produz a partir de ligações e não pelo isolamento. Observe o quadro comparativo entre algumas características da Lei, do Direito e da Justiça e algumas características da Psicologia, exposto por Trindade (2004, p.28). Trindade (2004), a�rma que, além das diferenças estabelecidas entre as duas ciências, existem questões de base que, muitas vezes, podem di�cultar o encontro da Psicologia com o Direito. Vamos observar a nova tabela (p.28-9). Fonte da Imagem: Zita / Shutterstock e Panptys / Shutterstock Apesar das di�culdades existentes entre as duas ciências percebemos que a Psicologia é importante não apenas para o Direito, mas, também, para a Justiça. A aproximação entre o Direito e a Psicologia, assim como a criação de um território transdisciplinar, segundo Trindade (2004), é uma questão de Justiça. TEORIAS EM PSICOLOGIA A complexidade do comportamento humano fez com que surgissem várias escolas de Psicologia. Cada uma delas aborda o comportamento humano de maneira diferente quanto à sua origem e às possibilidades de trabalhar com ele. Todas essas teorias possuem pontos em comum e se complementam. Por isso, encontramos psicólogos usando diferentes bases teóricas e técnicas. VOCÊ SABIA? A Psicologia delimita o seu estudo nos fenômenos relacionados ao funcionamento do indivíduo e grupos. Sua ação estende-se a crianças, adolescentes, idosos, famílias e organizações, a partir de diferentes abordagens. Além disso, os conhecimentos da Psicologia são de grande importância para a compreensão dos mecanismos mentais que estão presentes nos con�itos interpessoais e, desta forma, estabelecem um interesse primordial para a mediação e para o Direito. ABORDAGENS PSICODINÂMICAS Nestas abordagens, encontramos o comportamento humano impulsionado pelas forças dos mecanismos psíquicos, relacionados entre o consciente e o inconsciente. Sigmund Freud, pai da Psicanálise, conceituou a existência do inconsciente, compreendeu sua força e a forma como ele se expressa, que são fundamentais para o comportamento humano. Alguns aspectos quanto aos seus estudos e de seus seguidores devem ser destacados: • “Nada ocorre ao acaso e muito menos os processos mentais” (FADIMAN; FRAGER, 1986, p.7); • “Há conexões entre todos os processos mentais” (FADIMAN; FRAGER, 1986, p.7); • Existem processos mentais conscientes e inconscientes, mas a maior parte é inconsciente (FREUD, 1974); • No inconsciente não existe o conceito de tempo, de certo e errado, não há contradição (FREUD, 1974). Esses aspectos sugerem que os comportamentos considerados inaceitáveis podem ser consequência das forças do inconsciente, de quais o indivíduo não tem percepção. Outra contribuição teórica de Freud foi o modelo de aparelho psíquico, que é composto por: Id, Ego e Superego. Acompanhe as três de�nições na animação abaixo: kates_illustrations / Shutterstock O comportamento, nesta abordagem, é o produto de uma interação entre os sistemas: Id, Ego e Superego, que trabalham inter-relacionados. O Id, como busca sempre a satisfação imediata, não conhece juízo de valor e atua segundo o princípio do Prazer. O Ego age de acordo com o Princípio da Realidade, conciliando as exigências entre o Id e o Superego. Você já assistiu ao �lme O Senhor dos Anéis? Nele, os personagens Frodo, Sam e Gollum podem representar perfeitamente as três estruturas do aparelho mental. Assista a esse pequeno trecho com os três personagens: VÍDEO Você é capaz de identi�car qual personagem representa cada estrutura psíquica? Con�ra: MECANISMOS DE DEFESA Outro importante estudo dessa abordagem é a análise dos mecanismos de defesa, que são manifestações do Ego em relação às exigências das outras instâncias psíquicas, Id e Superego. Eles são utilizados por todos nós para nos adaptarmos a uma situação geradora de con�itos, sejam eles reais ou não. Para que você tenha uma ideia do que estamos falando, vamos ao exemplo de alguns deles: Fonte: //www.projetopsique.com.br Negação A pessoa recusa-se a reconhecer os fatos reais e os substitui por outros imaginários. Racionalização Consiste em buscar um motivo lógico para determinado comportamento ou sentimento inaceitável. Projeção Consiste em atribuir a outra pessoa, ao grupo ou até ao mundo, algo que é dela mesma. Sublimação Consiste em desviar a energia para algo socialmente aceito, facilitando a adaptação social. SÍMBOLO Nessa abordagem, temos Carl Gustav Jung, que idealizou a Psicologia Analítica, e que trouxe o importante conceito de símbolo. Podemos conceituar símbolo como algo natural, espontâneo, que signi�ca sempre mais do que o seu signi�cado imediato e óbvio. As pessoas costumam carregar os seus símbolos, e estar atento a esta situação é uma forma de conhecer as pessoas e o valor que estes possuem para elas. Determinados bens podem ter uma simbologia muito diferente do que a sua real signi�cação. Observe: Como você pôde constatar, em algumas situações, como a partilha de bens, determinados objetos tornam-se difíceis de resolução entre as partes. Fonte: hvostik / Shuttertock, venimo / Shuttertock, Miceking / Shuttertock e Grimgram / Shuttertock Atenção , Um último nome a ser citado, nesta abordagem, é Alfred Adler, que baseava sua teoria na importância do meio ambiente como o aspecto mais fundamental da vida. Sendo assim, o ser humano era dirigido pelaluta pela superioridade. O indivíduo saudável era aquele que lutava construtivamente pela superioridade, com forte interesse social e cooperação. Adler destacou, também, que os problemas psicológicos não devem ser tratados de forma isolada, pensando o indivíduo como um ser integral: mente, corpo e espírito. ABORDAGENS COGNITIVAS Essas abordagens se propõem em estudar como as pessoas são capazes de perceber, aprender, lembrar e pensar sobre determinadas situações da vida. Frederick Perls destacou a importância da análise da estrutura da percepção e da situação da pessoa no presente. Nessa teoria, a noção de indivíduo como um todo é central. Sua abordagem terapêutica é fundamentada em três conceitos: Outro teórico, Aaron Beck, considera que as interpretações que um indivíduo faz do mundo estruturam-se progressivamente, durante seu desenvolvimento, constituindo suas regras ou esquemas de pensamento. / Shutterstock Fonte da Imagem: Buntoon Rodseng / Shutterstock Por exemplo, ao percebermos o sinal vermelho, automaticamente acionamos o freio. Seria difícil se a cada mudança de cor do sinal, os motoristas tivessem de gastar um tempo pensando o que deveriam de fazer. Os esquemas rígidos de pensamento fazem com que as pessoas se tornem incapazes de enxergar outros pontos de vista e negam-se a tomar conhecimento de novos conceitos. A seguir, apresentamos o fenômeno da cognição como um todo: Exemplo , Pessoas que dizem que querem se separar, mas não querem abrir mão de algumas facilidades que o casamento proporciona; funcionários que querem sair da empresa recebendo uma indenização, mas não querem se afastar dos amigos de trabalho. ABORDAGEM COMPORTAMENTAL A base teórica desta abordagem é o behaviorismo. Edward L. Thorndike e John Watson foram os precursores dessa linha teórica. Thorndike Thorndike a�rmava que o comportamento de todo animal, inclusive do homem, tendia a se repetir, se fosse recompensado (reforço positivo) ou se fosse capaz de eliminar um estímulo aversivo (reforço negativo) no momento em que emitisse o comportamento. Entretanto, o comportamento tenderia a não acontecer, se o organismo fosse castigado (punição) após sua ocorrência. Por meio da lei do reforço, a pessoa associará essas situações com outras semelhantes, generalizando essa aprendizagem para um contexto mais amplo. Watson Watson considerou apenas eventos observáveis e físicos para análise, descartando comportamentos encobertos, dentro do modelo Estímulo-Resposta (S -> R). Ele acreditava que a Psicologia só atingiria um grau de con�abilidade se restringisse o seu estudo ao comportamento observável. Suas proposições teóricas atualmente servem apenas como fundamentos para a história da Psicologia. Skinner Outro teórico dessa abordagem foi B. F. Skinner, o fundador de uma das �loso�as que embasam a análise experimental do comportamento, o behaviorismo radical. Skinner a�rmava que o organismo teria em seu comportamento três tipos comportamentos: • Padrão Fixo de Ação - P.D.A.; • Comportamento respondente (100% inatos); • Operantes (100% aprendidos). Segundo Skinner, o homem será in�uenciado por fatores �logenéticos, ontogenéticos e culturais, tendo como parâmetro teórico o Selecionismo de Charles Darwin. ABORDAGEM MOTIVACIONAL A motivação é considerada por vários estudiosos como uma das forças fundamentais que leva o indivíduo a apresentar determinados comportamentos. Essa abordagem entende que o indivíduo é movido por forças que têm origem em seu psiquismo e vão além da relação estímulo-resposta, estabelecida pela abordagem comportamental. hunthomas / Shutterstock O psicólogo americano David McClelland realizou um estudo no qual identi�cou três tipos de motivação que impulsionam o ser humano: REALIZAÇÃO Fonte da Imagem: Pessoas que se sentem motivadas em alcançar o máximo em suas atividades e querem conquistar seus objetivos por seus próprios méritos. Ficam estimuladas quando conseguem realizar seus projetos, sentindo-se competentes e capazes. AFILIAÇÃO Fonte da Imagem: Pessoas que se sentem motivadas por a�liação são aquelas que priorizam os relacionamentos interpessoais. Um meio agradável é fundamental para seu bem-estar, e sua principal necessidade é se sentir aceito e estabelecer uma relação com os outros. PODER Fonte da Imagem: Rashad Ashurov / Shutterstock, Nobelus / Shutterstock e RedlineVector / Shutterstock Pessoas motivadas por poder, existem dois tipos de in�uência: o poder pessoal, são aquelas que gostam de determinar as regras dentro de seus ciclos sociais, geralmente possuem um per�l dominante e se sentem incomodadas em permitir que o próximo expresse sua opinião individual; e o poder institucional, em que apresentam habilidade de organização e delegação, e sempre se colocam prontas para instruir e orientar com a �nalidade de que o objetivo do grupo seja alcançado. Segundo McClelland, todas as pessoas são afetadas pelos três tipos de motivação, mas em diferentes níveis de intensidade. A Hierarquia das necessidades é um modelo de motivação proposto por Maslow e bastante utilizado, principalmente, nas Organizações. Maslow a�rmava que todas as necessidades do indivíduo não podem ser manifestadas de uma só vez, elas tendem a ter alguma prioridade na qual encontram expressão. Divide as necessidades em duas ordens, as de ordem inferior e as de ordem superior, organizando em forma de pirâmide, conforme mostra a �gura a seguir. Atenção , Segundo essa abordagem, as pessoas são dominadas por necessidades diferentes em épocas e circunstâncias diferentes. Pode-se motivar uma pessoa quando se sabe o que ela necessita neste lugar e no momento especí�co., , Ao veri�carmos a aplicação da pirâmide de Maslow, notamos que as necessidades de ordem inferior são facilmente detectadas, mas as de ordem superior dependem da avaliação direta. ABORDAGEM SISTÊMICA Os conceitos dessa abordagem são úteis para o estudo, a análise e a interpretação de inúmeras situações. Nessa teoria, os integrantes de um conjunto de pessoas unem-se por laços que possuem componentes pragmáticos e afetivos. Na abordagem sistêmica, as pessoas são vistas como partes de uma rede de relações, em que cada membro in�uencia e é in�uenciado pelo outro. As mudanças devem ser enfrentadas, no sistema, a partir de uma certa �exibilidade, que deve ser capaz para reorganizar o sistema diante de diferentes demandas e exigências que surgem no dia a dia. Alvaro Cabrera Jimenez / Shutterstock Em um sistema, tudo o que acontece com qualquer integrante afeta todos os outros e o comportamento do sistema é analisado como um todo e, não apenas uma das partes. Em se tratando de mediação, temos como uma das bases teóricas deste procedimento a abordagem sistêmica. Atenção , Todo sistema é composto de subsistemas, que são organizações internas com o objetivo de aumentar a e�ciência do sistema e ajudar na sua estabilidade. Os subsistemas compõem-se dos mesmos elementos que constituem os sistemas. Os subsistemas são especializações internas indispensáveis para os sistemas, cada um com objetivos, metas, independência e cultura particulares. Os elementos, no sistema, apresentam alianças e coalizões. As alianças são aquelas realizadas pelas identidades de interesses, simpatias e afetos entre as pessoas. As coalizões ocorrem quando as pessoas se unem por oposição a outras. Um advogado, por exemplo, deve estar atento às alianças e coalizões dos seus clientes nos seus subsistemas, porque elas afetam diretamente o comportamento das pessoas. O sistema para lidar com os desa�os desenvolve padrões de funcionamento. Dois tipos de mudanças podem ocorrer de forma contínua: ATIVIDADE (TRT- MG- Analista judiciário – Psicologia – 2009) Sigmund Freud propôs três componentes básicos estruturais da psique. A parte do aparelho psíquico que está em contato com a realidade externa e tem a tarefa de garantir a saúde, segurança e sanidade da personalidade é o: Ego. Id. Superego. Alterego. Consciente pessoal. Justi�cativa Glossário SKINNER Na teoria de Skinner,os fatores culturais atuam como modi�cadores do comportamento, em uma relação funcional do indivíduo com o ambiente através do comportamento verbal. O condicionamento é observável em situações de con�ito, em que podemos encontrar determinadas palavras ou gestos de um litigante desencadeando palavras ou gestos condicionados no outro. Muitas vezes, uma pessoa não chega a um acordo porque está condicionada ao passado. O poder do condicionamento está manifestado em vários momentos da vida. Condicionar, na verdade, consiste em criar esquemas rígidos de pensamento e produzir pensamentos automáticos, para poupar o trabalho do psiquismo. FATORES FILOGENÉTICOS Fatores da evolução de uma espécie ou grupo hierarquicamente reconhecido. Disponível em: //portfolio-psi- 12.blogspot.com.br/2011/12/os-processos-de-desenvolvimento.html (//portfolio-psi-12.blogspot.com.br/2011/12/os-processos- de-desenvolvimento.html) FATORES ONTOGENÉTICOS https://portfolio-psi-12.blogspot.com.br/2011/12/os-processos-de-desenvolvimento.html https://portfolio-psi-12.blogspot.com.br/2011/12/os-processos-de-desenvolvimento.html https://portfolio-psi-12.blogspot.com.br/2011/12/os-processos-de-desenvolvimento.html https://portfolio-psi-12.blogspot.com.br/2011/12/os-processos-de-desenvolvimento.html Conjunto de transformações embrionárias e pós-embrionárias pelas quais passa um organismo vertebrado, desde a fase do ovo até à fase adulta. Disponível em: //portfolio-psi-12.blogspot.com.br/2011/12/os-processos-de-desenvolvimento.html (//portfolio- psi-12.blogspot.com.br/2011/12/os-processos-de-desenvolvimento.html) SELECIONISMO DE CHARLES DARWIN Para Darwin, a seleção natural se constitui um processo de eliminação. Serão preservados os indivíduos cujas características (fenotípicas) favorecerem sua sobrevivência no ambiente onde estão inseridos. https://portfolio-psi-12.blogspot.com.br/2011/12/os-processos-de-desenvolvimento.html https://portfolio-psi-12.blogspot.com.br/2011/12/os-processos-de-desenvolvimento.html https://portfolio-psi-12.blogspot.com.br/2011/12/os-processos-de-desenvolvimento.html